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Centro Universitário UNA Faculdade de Ciências Biológicas e Saúde Curso de Psicologia Beatriz Salvador de Oliveira Bruno Dionizio Vieira de Castro Cristiane Gomes dos Santos Débora Priscila de Araújo Silva Fernando Alves de Abreu Geiscislaine Laís Martins Isa Nara Ribeiro Barros Jean Pablo Alves Esteves Jeane Oliveira Santos Luiza Duarte do Rosário Raquel Vieira Catharino Talita Garcia Trindade POLÍTICAS PÚBLICAS PARA AS MULHERES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA NO BRASIL

Trabalho Interdiciplinar Dirigido I - TIDIR - Políticas Públicas para as Mulheres em Situação de Violência no Brasil

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Em primeiro lugar gostaria de agradecer a Deus e a todo que ajudaram para a construção e elaboração deste trabalho! Trabalho elaborado pelos alunos integrantes do Curso de Psicologia no Centro Universitário Una para apresentação no evento "EXPOUNA" realizado no Expominas (MINAS GERAIS - Belo Horizonte) para a aprovação na matéria (TIDIR I) Professora orientadora: Simone Francisca de Oliveira e todos os professores do 1º modulo no ano de 2013. 1. Escolhemos este tema, pois é um fenômeno cada vez mais presente no nosso dia-a-dia e interessa-nos analisar o processo de enfrentamento implementado pelo Governo Federal. 2. Os caminhos para a escolha deste tema estão relacionados em apresentar de forma informativa este problema social como o mesmo pode ser enfrentado, uma vez que existe uma dificuldade no enfrentamento por diversas razões, como a identificação do problema e até mesmo a falta de informações sobre os pactos governamentais do enfrentamento.

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Centro Universitário UNAFaculdade de Ciências Biológicas e Saúde

Curso de Psicologia

Beatriz Salvador de OliveiraBruno Dionizio Vieira de Castro

Cristiane Gomes dos SantosDébora Priscila de Araújo Silva

Fernando Alves de AbreuGeiscislaine Laís MartinsIsa Nara Ribeiro Barros

Jean Pablo Alves EstevesJeane Oliveira Santos

Luiza Duarte do RosárioRaquel Vieira CatharinoTalita Garcia Trindade

POLÍTICAS PÚBLICAS PARA AS MULHERES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA NO BRASIL

Belo Horizonte2013

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Beatriz Salvador de OliveiraBruno Dionizio Vieira de Castro

Cristiane Gomes dos SantosDébora Priscila de Araújo Silva

Fernando Alves de AbreuGeiscislaine Laís MartinsIsa Nara Ribeiro Barros

Jean Pablo Alves EstevesJeane Oliveira Santos

Luiza Duarte do RosárioRaquel Vieira CatharinoTalita Garcia Trindade

POLÍTICAS PÚBLICAS PARA AS MULHERES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA NO BRASIL

Trabalho acadêmico apresentado ao Curso de Psicologia do Centro Universitário UNA como requisito parcial para aprovação na disciplina Trabalho Interdisciplinar Dirigido I.

Prof.: Simone Francisca de Oliveira

Belo Horizonte2013

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RESUMO

A violência contra a mulher é uma realidade vivenciada no Brasil produto da forma

com a qual as relações de gênero se estabelecem em nossa cultura. Em busca da

equidade de gênero o movimento feminista contribui com as propostas e demandas

voltadas aos direitos da mulher. Ao longo dos anos de luta o movimento feminista no

Brasil, auxiliou na conquista de diversas políticas públicas voltadas a prevenção à

violência e atendimento as mulheres em situação de violência. O objetivo deste trabalho

é apresentar as situações de violência no Brasil, proporcionar uma divulgação destas

políticas e enfatizar a necessidade de que esta divulgação ocorra em escalas maiores,

podendo assim atingir a massa populacional.

Palavras-chave: Violência Contra Mulher. Feminismo. Políticas Públicas.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO..............................................................................................................................1

2. METODOLOGIA...........................................................................................................................2

3. VIOLÊNCIA...................................................................................................................................3

4. GÊNERO.........................................................................................................................................3

5. TIPOS DE VIOLÊNCIA................................................................................................................4

6. MOVIMENTO FEMINISTA........................................................................................................6

7. POLÍTICAS PÚBLICAS PARA AS MULHERES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA NO BRASIL.....................................................................................................................................6

7.1 SECRETARIA DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES (SPM).............................................7

7.2 A POLÍTICA NACIONAL DE ENFRENTAMENTO Á VIOLENCIA CONTRA Á MULHER.........................................................................................................................................7

7.3 REDE DE ENFRENTAMENTO E REDE ATENDIMENTO À VIOLÊNCIA CONTRA Á MULHER..................................................................................................................8

7.4 PACTO NACIONAL DE ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA CONTRA Á MULHER.......................................................................................................................................11

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................................12

REFERÊNCIAS....................................................................................................................................13

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1. INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como propósito apresentar as Políticas Públicas para as

Mulheres em situação de Violência no Brasil. Não temos a pretensão de abranger todas

as questões relacionadas ao tema visto. Partindo do pressuposto que a vitimização da

mulher ocorre nas relações sociais de gênero, tivemos o cuidado de esclarecer o que é

violência, gênero e tipos de violência. Diante de tal objetivo, apresentamos também o

Movimento Feminista, onde há atuação das demandas de Políticas Públicas para as

mulheres em situação de violência. Considerando a Promoção da Saúde e Políticas

Públicas para o enfrentamento da violência contra a mulher, podemos verificar que o

Estado/Governo tem diversos programas para proteger, tratar as mulheres em situação

de violência no Brasil e punir os agressores perante a lei. 

A proposta deste trabalho é apresentar de forma informativa este problema social

como o mesmo pode ser enfrentado, uma vez que existe uma dificuldade no

enfrentamento por diversas razões, como a identificação do problema e até mesmo a

falta de informações sobre os pactos governamentais do enfrentamento.

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2. METODOLOGIA

A metodologia utilizada para a elaboração deste trabalho foi de pesquisas

bibliográficas em livros e artigos científicos nas bases de dados científicas BVS-psi,

utilizando os seguintes descritores para busca dos artigos: Violência, Gênero, Tipos de

Violência contra a Mulher, Movimentos Sociais, Feminismo e Políticas Públicas.

Todavia, para a construção da interdisciplinaridade o tema foi discutido entre o

grupo de alunos na qual foi elaborada a sistematização do tema a ser apresentado com

os professores do módulo.

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3. VIOLÊNCIA

De acordo com o Dicionário Aurélio Online (2008) violência é, “Qualidade ou

caráter de violento. / Ação violenta: cometer violências. / Ato ou efeito de violentar. /

Opressão, tirania: regime de violência. / Direito Constrangimento físico ou moral

exercido sobre alguém”.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) violência seria

imposição de um grau significativo de dor e sofrimento. Mas os especialistas afirmam que o conceito é muito mais amplo e ambíguo do que essa mera constatação de que a violência é a imposição de dor, a agressão cometida por uma pessoa contra outra (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2009).

Outra definição apresentada por Marilena Chauí (1985) relaciona o poder entre as

classes sociais e também entre as pessoas de uma mesma classe:

Entendemos por violência uma realização determinada das relações de forças tanto em termos de classes sociais quanto em termos interpessoais. Em lugar de tomarmos a violência como violação e transgressão de normas, regras e leis, preferimos considerá-la sob dois outros ângulos. Em primeiro lugar, como conversão de uma diferença e de uma assimetria numa relação hierárquica de desigualdade, com fins de dominação, de exploração e opressão. Isto é, a conversão dos diferentes em desiguais e a desigualdade em relação entre superior e inferior. Em segundo lugar, como a ação que trata um ser humano não como sujeito, mas como coisa. Esta se caracteriza pela inércia, pela passividade e pelo silencio de modo que, quando a atividade e a fala de outrem são impedidas ou anuladas, há violência (CHAUÍ, 1985, apud ARAÚJO, 1996, p. 8-9).

Violência é uma herança cultural e acumulativa entre gerações, e se apresenta de

diversas formas e em diferentes lugares, portanto, pode-se ser compreendida de diversas

maneiras. Em contexto a violência pode ser classificada como uma forma de vitimizar

um indivíduo, através de agressões físicas ou psicológicas, a fim de denegrir sua

integridade física ou moral.

4. GÊNERO

Por conseguinte, gênero pode ser considerado apenas uma diferença de seres

humanos, masculinos e femininos num contexto geral expressando-se como sinônimo

de sexo. Mas, o escopo principal é tratar o gênero, as diferenças sociais, as relações

entre homens e mulheres e o papel de cada um deles no meio que está inserido.

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Como previamente proferido existem diversas concepções, neste contexto, outra

definição plausível é a que apresenta, gênero como:

maneira de referir-se à organização social das relações entre os sexos, e para denominar uma categoria de análise histórica. Assim gênero foi descrito como um elemento constitutivo de relações sociais baseados nas diferenças de poder percebidas entre os sexos, e o gênero é a forma primeira de significar as relações de poder (PEREIRA apud SCOTT, 1989, p. 15).

De acordo com PEREIRA (2004) é possível ressaltar que

gênero não faz parte do capital genético, do individuo e sim de sua bagagem sociocultural, política e histórica. O gênero enfocado como uma categoria sociológica traz novas possibilidades para se pensar a questão do homem e da mulher, articulando as relações sujeito e sociedade (PEREIRA apud LOURO, 2004; CONNELL, 1995 p. 18).

Portanto, gênero é um conceito que vem para ajudar na compreensão das relações

sociais entre homem e mulher. Para melhor entendimento é necessário que se faça uma

distinção entre gênero e sexo. Assim, em contraposição ao conceito de gênero

quando falamos em sexo estamos nos referindo aos aspectos físicos, biológicos de macho e fêmea, aquelas diferenças que estão nos nossos corpos e que não mudam radicalmente, apenas se desenvolvem de acordo com as etapas das nossas vidas, desde que o mundo é mundo, as mulheres têm vagina e os homens têm pênis, e sabemos que depois de certa idade, as mulheres começam a menstruar e os homens a ter ejaculação; que somente depois de certa idade as mulheres e os homens começam a ter pelos, e que estes pelos se distribuem de modo diferente nos corpos de cada um. Sabemos ainda que a gravidez só acontece no corpo da mulher. Todas essas coisas são determinadas pelo sexo (CAMURÇA; GOUVEIA, 2004, p.12).

Assim vale ressaltar que as relações de gênero constituídas a partir das diferenças

sexuais não são naturais e sim naturalizadas, através do processo de socialização, ou

seja, são criações sociais, desta forma elas sempre variam de acordo com a cultura, o

contexto histórico, a política e diversos outros fatores (CAMURÇA; GOUVEIA, 2004).

5. TIPOS DE VIOLÊNCIA

É vasta a variedade e maneiras de se configurar violência doméstica e familiar

contra a mulher. Segundo a Lei Federal Maria da Penha (lei 11.340/06). Neste trabalho

adotaremos a definição da lei por ser o marco legal do processo de enfrentamento a

violência contra a mulher no Brasil atual:

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Art. 5º Para os efeitos desta Lei configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual.Art. 6º A violência doméstica e familiar contra a mulher constitui uma das formas de violação dos direitos humanos.Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:I- violência física: entendida como qualquer conduta que ofenda a sua integridade ou saúde corporal;II - violência psicológica: entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima Oe que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição, direito de ir vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo a saúde psicológica.III- violência sexual: entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça coação ou uso de força, que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos.IV- violência patrimonial: entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades.V- violência moral: entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria (BRASIL, 2006).

Ressalta-se, ainda, segunda a Lei Maria da Penha (2006) que as pessoas, com ou

sem vínculo familiar, ou na comunidade formada por indivíduos que são ou que se

consideram aparentados, unidos por laços sanguíneos, por afinidade ou por vontade

expressa ou ainda em qualquer relação de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha

convivido com a ofendida. Vale ressaltar ainda que essas relações podem estar atreladas

a questões conceituais referentes à distinção entre: poder e coação, vontade consciente e

impulso (BRASIL, Lei Nº 11340/06, 2006).

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6. MOVIMENTO FEMINISTA

O feminismo tem sua origem no século XIX, período em que os povos adotaram

cada vez mais a percepção em que as mulheres são oprimidas numa sociedade centrada

no homem, por meio do legado do patriarcado.

O movimento feminismo denúncia à ideia de que a sociedade é organizada de

forma patriarcal, em que o homem recebe vantagens sobre a mulher. Atualmente, o

feminismo é um Movimento Social que defende igualdade de direitos e status entre

homens e mulheres em todos os campos (ALVES, 1991, p.15).

De acordo com Warren (2006) “pode-se, portanto, concluir que esse projeto de

sociedade é a representado por vários níveis de interesses e de valores, como de

cidadania e associativismo” (WARREN, 2006, p.56). Os militantes desses movimentos

objetivam a organização da sociedade de ações em prol de políticas sociais e públicas.

Assim, ocorre no Movimento Feminista uma mediação que se dá na interlocução

entre as parcerias mais institucionalizadas, a Sociedade Civil e o Estado. Nota-se que

essas articulações se tornaram possíveis porque há meios técnicos que as viabilizam,

como: a internet e os e-mails são práticas cotidianas das redes do novo milênio. Assim,

observam-se as mobilizações na esfera pública que são fruto da articulação de atores

dos movimentos sociais localizados.

7. POLÍTICAS PÚBLICAS PARA AS MULHERES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA NO BRASIL

Em síntese a política é um procedimento que se direciona a resolução de conflitos

em torno dos interesses públicos.

Por consequente as políticas públicas, seria o resultado da efetivação da política

na busca de recursos e no fornecimento de serviços públicos (MAGALHÃES;

BOUCHARDET, 2009).

Deveras se entende Políticas Públicas como:

O conjunto de ações coletivas voltadas para a garantia dos direitos sociais, configurando um compromisso público que visa dar conta de determinada demanda, em diversas áreas. Expressa a transformação daquilo que é do âmbito privado em ações coletivas no espaço público (GUARESCHI; COMUNELLO; NARDINI; HOENISCH, 2004, p.180).

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Como descrito políticas públicas se referem, a um “conceito de política e da

administração que designa certo tipo de orientação para a tomada de decisões em

assuntos coletivos” (ÁVILA, 2011, p.110).

Contextualizando as Políticas Públicas são o resultado das demandas de diversos

movimentos sociais que conforme ressalta Gohn (2008, p.13) são “ações sociais

coletivas de caráter sociopolítico e cultural que viabilizam formas distintas de a

população se organizar e expressar suas demandas”.

Ao que se associa à defesa da transversalidade nas políticas públicas, segundo

Blay (2003, p. 96) “para enfrentar esta cultura machista (...) são necessárias políticas

públicas transversais que atuem modificando a discriminação e a incompreensão de que

os Direitos das Mulheres são Direitos Humanos”.

Com tal característica o Movimento Feminista proporcionou a conquista de

Políticas Públicas voltadas às Mulheres no Brasil. A seguir é possível observar algumas

das políticas públicas conquistadas pelas mulheres brasileiras.

7.1 SECRETARIA DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES (SPM)

Segundo a constituição brasileira Lei Nº 10.683, de 28 de maio de 2003 art.22° a

Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres busca ações para formulação de uma

sociedade igualitária entre homens e mulheres, atuando especialmente no atendimento

psicológico, jurídico e sociopolítico das mulheres em situação de violência,

promovendo politicas públicas voltadas as questões de gênero.

As políticas públicas para as mulheres no Brasil através da SPM organizam-se

implicitamente e legalmente através dos seguintes dispositivos: Secretaria de

Enfretamento á Violência Contra á Mulher; Conselho Nacional dos Direitos da Mulher

(CNDM); Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (PNPM); A Política Nacional

de Enfrentamento á Violência Contra á Mulher.

7.2 A POLÍTICA NACIONAL DE ENFRENTAMENTO Á VIOLÊNCIA CONTRA Á MULHER

A Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres foi

organizada a partir do plano nacional de políticas públicas para as mulheres e apresenta

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o detalhamento dos fundamentos das políticas públicas formuladas pela Secretaria de

Políticas para as Mulheres (BRASIL, 2004).

A Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres tem como

objetivo: “estabelecer conceitos, princípios, diretrizes e ações de prevenção e combate à

violência contra as mulheres, assim como de assistência e garantia de direitos às

mulheres em situação de violência” (BRASIL, 2004).

As reações do governo brasileiro e dos organismos da sociedade em face da

violência de gênero têm alargado o campo de afirmação da cidadania feminina e dos

direitos humanos, sendo a Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as

Mulheres um marco nessas conquista da mulher por sua cidadania, pois se posiciona no

combate á violência contra a mulher, dando subsidio as mulheres que estão em situação

de violência, mas também atuam na prevenção da violência através da busca por

mudanças sociais e principalmente culturais referidas as relações de gênero.

7.3 REDE DE ENFRENTAMENTO E REDE ATENDIMENTO À VIOLÊNCIA CONTRA Á MULHER

A Rede de Enfretamento visa à prevenção e o combate à violência contra a

mulher, ou seja, são responsáveis por apresentar medidas que permitam um auxílio

preeminente as mulheres.

A Rede de Enfrentamento à violência contra as mulheres se refere á

atuação articulada entre as instituições/serviços governamentais, não governamentais e a comunidade, visando ao desenvolvimento de estratégias efetivas de prevenção; e de políticas que garantam o empoderamento das mulheres e seus direitos humanos, a responsabilização dos agressores e a assistência qualificada às mulheres em situação de violência (LOPES, 2011, p.8).

Para cumprimento desta proposta é necessário uma organização conjunta que

articule o poder do Estado e movimentos sociais. Desta forma, a Rede Enfrentamento é

integrada por agentes governamentais e não governamental formulador, fiscalizador e

executor de políticas voltadas para as mulheres, ONGs feministas, serviços e programas

voltados para a responsabilização dos agressores, órgãos federais, estaduais e

municipais responsáveis pela garantia de direitos sociais. E serviços especializados de

atendimento às mulheres em situação de violência que por sua vez compõem a rede de

atendimento às mulheres em situação de violência.

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A Rede de Atendimento se apresenta como um

conjunto de ações e serviços de diferentes setores (em especial, da assistência social, da justiça, da segurança pública e da saúde), que visam à ampliação e à melhoria da qualidade do atendimento, à identificação e ao encaminhamento adequado das mulheres em situação de violência e à integralidade e à humanização do atendimento (SECRETARIA DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA AS MULHERES, 2011, p.14).

A Rede de Atendimento à Mulher em Situação de Violência é formada por

diversos órgãos e serviços, destacando-se os seguintes:

- Centro de Referência Especializado no Atendimento à Mulher – CREAM: São

espaços de acolhimento/atendimento que visam promover a ruptura da situação de

violência e a construção da cidadania por meio de ações globais e de atendimento

interdisciplinar psicológico, social, jurídico, de orientação e informação à mulher em

situação de violência (BRASIL, 2012).

- Casas-Abrigo: São unidades residenciais que oferecem moradia protegida e

atendimento integral a mulheres em risco de vida iminente em razão da violência

doméstica, acompanhadas ou não de filhos, com o objetivo de promover, durante a

permanência da mulher na casa de abrigo, aptidões pessoais, profissionais e sociais,

tendo em vista a sua efetiva reinserção social. É um serviço de caráter sigiloso e

temporário onde o estado deve assegurar o anonimato das mesmas (MAGALHAES,

2011).

- Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher: As DEAMs têm

características preventivas e repressivas, devendo realizar ações de prevenção, apuração,

investigação e enquadramento legal. As DEAMs desempenham funções que incluem,

por exemplo, a expedição de medidas protetivas de urgência, além de indiciar o autor,

para que seja punido dentro da lei (MONTEIRO, 2012).

- Defensorias da Mulher: É um espaço de atendimento jurídico para mulher em

situação de violência, é responsável por prestar orientação jurídica e a defesa em juízo,

bem como o acompanhamento de seus processos. Para as cidadãs de baixa renda que

não possuem condições econômicas de ter advogado contratado por seus próprios meios

(NASCIMENTO, 2011).

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- Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180: É um serviço disponibilizado pelo

governo, que tem por objetivo orientar as mulheres em situação de violência sobre seus

direitos e informa endereços de centros e serviços de apoio. A central é acessada pelo

número de telefone 180, caracterizado como número de utilidade pública, podendo ser

acessado gratuitamente de qualquer terminal telefônico sendo o atendimento de caráter

sigiloso (BONETTI, 2008).

- Centros de Referência da Assistência Social (CRAS) e Centros de Referência

Especializada de Assistência Social (CREAS): Desenvolvem serviços básicos

continuados e ações de caráter preventivo para famílias em situação de vulnerabilidade

social. Os CREAS, por sua vez, são responsáveis pela proteção de famílias e indivíduos

que tenham seus direitos violados e que vivam em situações de risco pessoal e social.

Ambos atuam em conjunto na prevenção da violência contra a mulher através de

conscientização, palestras, cartilhas, entre outros métodos, atuam também na proteção e

auxilio para a família e a mulher em situação de violência, dando suporte psicológico e

subsidio social (BRASIL, 2011).

- Central de Abrigamento: É um serviço, que funciona vinculado ao disque180 que,

por meio de um sistema com dados sobre todos os serviços de abrigamento do país,

busca garantir o acolhimento e proteção de mulheres em situação de violência e sob

risco de morte (PORTO, 2008).

- Centro de Educação e Reabilitação do Agressor: São espaços destinados ao

atendimento e acompanhamento de homens autores de violência, geralmente

encaminhados pelos Juizados de Violência Doméstica contra a Mulher. Os Centros

visam reeducar os homens autores de violência aplicando a construção de novos

conceitos de masculino, a partir do conceito de gênero e de uma abordagem consciente

e responsável (MEDRADO, 2009).

- Núcleo da Mulher da Casa do Migrante: A Casa do Migrante constitui um serviço

ao migrante em trânsito nas fronteiras, que tem como papel principal prestar

informações quanto à obtenção de documentação, aos direitos e deveres do imigrante,

entre outros. O Núcleo da Mulher tem por função identificar casos de violência e tráfico

contra a mulher migrante, e encaminhá-las aos demais serviços de atendimento à mulher

em situação de violência (BRASIL, 2004).

- Ouvidoria da Secretaria de Políticas para as Mulheres: Esta Ouvidoria tem por

função prestar informação e orientação referentes às ações e políticas da SPM, direitos

da mulher, serviços da rede, denúncia de crime, sugestão de melhoria das políticas na

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temática de gênero, dentre outros. O atendimento na ouvidoria busca principalmente

fortalecer o papel proposto pela SPM de aproximar cada vez mais com o social (SPM,

2004).

7.4 PACTO NACIONAL DE ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA CONTRA Á MULHER

O Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência contra a Mulher foi apresentado

em agosto de 2007, faz parte da agenda social do governo. É um acordo estabelecido

entre o governo federal e os dos governos estatais, para estruturar medidas para

fortalecer a Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as mulheres em todo

país (BRASIL, 2011). 

Antes de existir o Pacto Nacional, uma grande conquista das mulheres brasileiras

foi a sanção da Lei Maria da Penha onde neste cenário de enfrentamento à violência

contra a mulher a Lei Nº 11.340 ou Lei Maria da Penha como popularmente conhecida,

foi inferida em sete de agosto de 2006. Segundo o Art.1° Título l - disposições

preliminares, a lei se caracteriza com objetivo de controlar e evitar a violência contra a

mulher.

A violência contra a mulher é um assunto muito complexo, desta forma houve

esta união entre estado, governo, e sociedade a fim de trabalharem para apoiar as

mulheres que vivenciam a violência no processo de reconstrução de suas vidas. Desta

forma são criadas ações nas mais diferentes esferas da vida social, por exemplo, na

educação, no mundo do trabalho, na saúde, na segurança pública, na assistência social,

entre outras. Assim esse pacto tem como finalidade, reduzir a violência, promover a

mudança cultural, e garantir e proteger os direitos da mulher em situação de violência.

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8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A violência contra a mulher no Brasil é um problema que atinge milhares de

mulheres e famílias, independente da classe social, raça/etnia, orientação sexual ou

religiosa. É necessário destacar que a violência contra mulher não é um fenômeno atual,

e sim historicamente vivenciado em nossa sociedade.

Vale ressaltar que esforços empreendidos pelo movimento feminista ao longo dos

anos, que através de suas lutas, conseguiram tornar pública a discriminação e obter o

reconhecimento de suas demandas, criando, assim, uma institucionalidade estatal para o

combate à violência contra mulher e a equidade de gênero. Visto que a violência contra

a mulher é um fenômeno multidimensional e que, para seu enfrentamento, exige um

combinado de ações do governo e da sociedade. Assim para o enfrentamento dessas

questões são necessárias políticas públicas que permitam atuação contextualizada, a fim

de combater o problema em suas múltiplas determinações.

Investir em políticas públicas para as mulheres tem sido um fator de grande valor

como conjunto de ações que objetiva erradicar as desigualdades de gênero. Logo

ressaltamos que apesar da grande atenção direcionada às políticas públicas faz-se

necessário uma maior divulgação das mesmas, pois, é por meio delas que se possibilita

a implementação dos direitos previstos no ordenamento jurídico do país.

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REFERÊNCIAS

ARAÚJO, Maria de Fátima; MATTIOLI, Olga Ceciliato. Gênero e violência. 113. ed. São Paulo: Arte & Ciência, 2004.

ÁVILA, Mônica. Educação escolher e direitos humanos no âmbito das escolas das políticas públicas: O papel do pedagogo. 2011. Texto disponível em: Educação Escolar e Direitos Humanos no Âmbito das Políticas Públicas: O Papel do Pedagogo. Disponível em: http://www.u sf.edu. br/itatiba/mestrado/educacao/uploadAddress/RH_Educação%20Escolar%20e%20Direitos%20Humanos[17312].pdf. Acesso 05/05/2013. Acesso: 08/05/2013.

AZERÊDO, Sandra Maria da Mata. O significado da violência de gênero e a questão da demanda na Delegacia de mulheres de Belo Horizonte. Caderno de Debates Plural, Belo Horizonte: FUMEC, nº 15, pp 81-106, 2001.

BLAY, Eva Alterman "Direitos humanos e homicídio de mulheres". Projeto de Pesquisa Integrada apoiada pelo CNPq. 2003.

BONETTI, Aline. Violência contra as mulheres e Direitos Humanos no Brasil: uma abordagem: a partir do Ligue 180. Minas Gerais, 2008.p.2-5.

BRASIL 2003 Presidência da República, Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos, Secretaria de Políticas para as Mulheres, LEI No 10.683. Brasília, 28 de maio de 2003; 182o da Independência e 115o da República. Disponível em: http://www.spm.gov.br/sobre. Acesso: 08/05/2013.

BRASIL 2006 Presidência da República, Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos, LEI Nº 11.340. Brasília, 7de agosto de 2006, 185o da Independência e 118o da República. Sítio eletrônico: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ato 2004-2006/2006/lei/l11340.htm. Acesso: 07/05/2013.

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