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RESUMO Nº 3 - DP I 1 LEI EXCEPCIONAL OU TEMPORÁRIA Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência. Leis auto-revogáveis são também chamadas de lei de vigência temporária. Comportam duas espécies, a lei excepcional e a lei temporária. Leis penais temporárias são aquelas que possuem vigência previamente fixada pelo legislador. Este determina que a lei tenha vigência até certa data. Leis penais excepcionais são aquelas promulgadas em casos de calamidade pública, guerras, revoluções, cataclismos, epidemias etc. Têm vigência enquanto durar a situação de anormalidade. As leis penais temporárias e excepcionais são denominadas como leis auto-revogáveis, não derrogam o princípio da reserva legal, pois não se aplicam a fatos ocorridos antes de sua vigência . São ultra-ativas, no sentido de continuarem a ser aplicadas aos fatos praticados durante sua vigência, mesmo depois de sua auto-revogação. Assim, mesmo que o fato, praticado sob a vigência de uma lei temporária ou excepcional, seja julgado após a auto-revogação destas, já sob a vigência de uma lei comum mais benéfica que tenha recobrado sua eficácia, esta não poderá retroagir, haja vista o mandamento do art. 3º, do Código Penal. Exemplos: “Durante período de violenta estiagem, entrou em vigor lei considerando contravenção penal o desperdício de água (lavação de veículos, irrigação de jardins). Quatro meses depois, cessada a calamidade, a lei perdeu sua eficácia.” “Para prevenir a extinção de determinada espécie marinha, 1 Por Paulo Calgaro de Carvalho – Mestrando da UNISUL. 1

3° RESUMO DE DIREITO PENAL

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RESUMO Nº 3 - DP I 1

LEI EXCEPCIONAL OU TEMPORÁRIAArt. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência.

Leis auto-revogáveis são também chamadas de lei de vigência temporária. Comportam duas espécies, a lei excepcional e a lei temporária.

Leis penais temporárias são aquelas que possuem vigência previamente fixada pelo legislador. Este determina que a lei tenha vigência até certa data.

Leis penais excepcionais são aquelas promulgadas em casos de calamidade pública, guerras, revoluções, cataclismos, epidemias etc. Têm vigência enquanto durar a situação de anormalidade.

As leis penais temporárias e excepcionais são denominadas como leis auto-revogáveis, não derrogam o princípio da reserva legal, pois não se aplicam a fatos ocorridos antes de sua vigência.

São ultra-ativas, no sentido de continuarem a ser aplicadas aos fatos praticados durante sua vigência, mesmo depois de sua auto-revogação. Assim, mesmo que o fato, praticado sob a vigência de uma lei temporária ou excepcional, seja julgado após a auto-revogação destas, já sob a vigência de uma lei comum mais benéfica que tenha recobrado sua eficácia, esta não poderá retroagir, haja vista o mandamento do art. 3º, do Código Penal.

Exemplos:“Durante período de violenta estiagem, entrou em vigor lei considerando contravenção penal o desperdício de água (lavação de veículos, irrigação de jardins). Quatro meses depois, cessada a calamidade, a lei perdeu sua eficácia.”

“Para prevenir a extinção de determinada espécie marinha, foi promulgada lei, com prazo de vigência fixado em dois anos, considerando crime a sua pesca.”2

TEMPO DO CRIMEArt. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.

Tempo do crime – momento em que se considera praticado o delito.Existem três teorias a respeito:a) teoria da atividade – segundo a qual se considera praticado o delito no

momento da ação ou omissão, aplicando-se ao fato a lei em vigor nessa oportunidade;

1 Por Paulo Calgaro de Carvalho – Mestrando da UNISUL.2 BASTOS JÚNIOR, Edmundo José de. Código Penal em Exemplos Práticos. Florianópolis: Ed.

Terceiro Milênio. 1998. p. 18

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b) Teoria do resultado – segundo a qual se considera praticado o delito no momento da produção do resultado, aplicando-se ao fato a lei em vigor nessa oportunidade;

c) teoria mista ou da ubiqüidade, segundo a qual o tempo do crime é indiferentemente o momento da ação ou do resultado, aplicando-se qualquer uma das leis em vigor nessas oportunidades.

Nosso código adotou a teoria da atividade, nos termos do artigo 4º.

Exemplo: um menor de 17 anos e 11 meses esfaqueia uma senhora, que vem a falecer, em conseqüência desses golpes, 03 meses depois. Não responde pelo crime, pois era inimputável à época da infração. No caso de crime permanente, como a conduta se prolonga no tempo, o agente responderia pelo delito. (CAPEZ, 2004. p. 66)

Observação: em matéria de prescrição, o Código Penal adotou a teoria do resultado. Ou seja, o lapso temporal começa a correr a partir da consumação, e não do dia em que se deu a ação delituosa. (Art. 111, I, do CP).

Princípios relativos à lei penal no tempo

Tais princípios são aplicados quando se estabelece um conflito entre duas ou mais normas aparentemente aplicáveis ao mesmo fato. Há conflito porque mais de uma norma pretende regular o fato de forma aparente.

Elementos:a) Unidade de fato (há somente uma infração penal);b) Pluralidade de normas (duas ou mais normas pretendendo regulá-lo);c) Aparente aplicação de todas as normas à espécie (aparente incidência de

todas)d) Efetiva aplicação de apenas uma delas.

Solução de tais conflitos pelos princípios:a) Especialidade;b) Subsidiariedade;c) Consunçãod) Alternatividade.

Especialidade – a lei especial prevalece sobre a geral, a qual deixa de incidir naquela hipótese.

Exemplos:a) A norma do artigo 123 do Código Penal, que trata do infanticídio prevalece

sobre o artigo 121, que cuida do homicídio, porque possui além dos elementos genéricos deste último, os seguintes especializantes: “próprio filho”, “durante o parto ou logo após”, “sob influência do estado puerperal.” (CAPEZ, 2004. p. 68).

b) Importar cocaína, aparentemente há duas normas que se aplicam no caso, quais sejam – do artigo 334 do Código Penal (contrabando) e artigo 12, da Lei 6.368/76 (tráfico de drogas). O tipo penal de tráfico de drogas é especial em relação ao contrabando e, por isso, aplicável ao caso.

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(CAPEZ, 2004. p. 68)c) O tipo fundamental também é excluído pela forma privilegiada ou

qualificada. Assim, o furto privilegiado (Art. 155, § 2º, do Código Penal) e o qualificado (Art. 155, § 4º, do Código Penal) prevalecem sobre o furto simples (Art. 155, caput, do Código Penal).

Subsidiariedade – subsidiária é aquela que descreve um grau menor de violação de um mesmo bem jurídico, isto é, um fato menos amplo e menos grave, o qual, embora definido como delito autônomo, encontra-se também compreendido em outro tipo penal como fase normal de execução de crime mais grave. Na expressão de Nélson Hungria a norma subsidiária funciona como um soldado de reserva. Ou seja, tenta-se aplicar a norma primária, e somente quando isso não se ajustar ao fato concreto, recorre-se subsidiariamente à norma menos ampla. Ou seja, a subsidiariedade verifica-se nas hipóteses em que diferentes normas protegem o mesmo bem jurídico em diferentes fases.

A norma (o dispositivo legal) abrange um fato menos grave. Desta forma, não sendo possível aplicar a norma (ou dispositivo legal) por inteiro, aplica-se o menos grave. OU SEJA, O TIPO PENAL ABRANGE OUTROS TIPOS MENORES (crime complexo).

Exemplos: a) O crime de ameaça (Art. 147, do CP) cabe no de constrangimento

ilegal mediante ameaça (art. 146, do CP), o qual, por sua vez, cabe dentro da extorsão (art. 158, do CP);

b) O seqüestro (art. 148 do CP) no de extorsão mediante seqüestro (art. 159, do CP).

c) O disparo de arma de fogo (Art. 15 da Lei nº 10.826/2003) cabe no homicídio cometido mediante disparo de arma de fogo (Art. 121, do CP).

Consunção – é o princípio segundo o qual um fato mais amplo e mais grave consome, isto é, absorve outros fatos menos amplos e graves, que funcionam como fase normal de preparação ou execução (CAPEZ, 2004. p. 71). Exemplo: para consumar homicídio (art. 121 do CP) com uma marreta é necessário causar lesões corporais (art. 129 do CP) na vítima. Neste caso, a norma (dispositivo legal) não abrange o tipo penal menos grave. Portanto, há consunção quando um crime é meio necessário ou fase normal de preparação ou de execução de outro crime.

Alternatividade – ocorre quando a norma descreve várias formas de realização da figura típica, em que a realização de uma ou de todas configura um único crime. São chamados de crimes de ação múltipla. Exemplo: artigo 12 da Lei de Tóxico3 que descreve dezoito formas de prática do tráfico ilícito de entorpecentes, mas tanto a realização de uma quanto a de várias modalidades configurará sempre um único crime.

3 Art. 12. Importar ou exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda ou oferecer, fornecer ainda que gratuitamente, ter em depósito, transportar, trazer consigo guardar, prescrever, ministrar ou entregar, de qualquer forma, a consumo substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar; Pena - Reclusão, de 3 (três) a 15 (quinze) anos, e pagamento de 50 (cinqüenta) a 360 (trezentos e sessenta) dias-multa.

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TERRITORIALIDADEArt. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional.§ 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em vôo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil.

A eficácia da lei penal no espaço vem regulada pelo art. 5º, caput, do Código Penal. Tal princípio tem sua importância na medida em que um crime viole interesses de dois ou mais países, ou porque a conduta foi praticada no território nacional e o resultado ocorreu no exterior, ou porque a conduta foi praticada no exterior e o resultado ocorreu no território nacional.

Princípios relativos à lei penal no espaço

Há cinco princípios mais importantes acerca da matéria:a) princípio da territorialidade, segundo a o qual se aplica a lei nacional

ao fato praticado no território do próprio país. Ou seja, a lei penal só tem aplicação no território do Estado que editou, pouco importando a nacionalidade do sujeito ativo ou passivo;

b) princípio da nacionalidade, também chamado de princípio da personalidade, segundo o qual a lei penal de um país é aplicável ao seu cidadão, independentemente de onde se encontre;

c) princípio da defesa (princípio real ou princípio da proteção) segundo o qual a lei do país é aplicada em razão do bem jurídico lesado, independentemente do local ou da nacionalidade do agente;

d) princípio da justiça universal (princípio da justiça penal universal, princípio universal, princípio da universalidade da justiça, princípio da competência universal, princípio da justiça cosmopolita e princípio da universalidade do direito de punir), segundo o qual a lei do país onde esteja, independentemente de sua nacionalidade, do local ou da nacionalidade do bem jurídico lesado;

e) princípio da representação, segundo o qual o crime praticado no estrangeiro deve ser punido por determinado país, quando cometido em embarcações e aeronaves privadas de sua nacionalidade, desde que não tenha sido punido no país onde se encontrava.

Princípio adotado pelo Brasil

O Brasil adotou o princípio da territorialidade como regra e os demais princípios como exceção, da seguinte forma:

- Regra: princípio da territorialidade – art. 5º, do Código Penal;

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- 1ª exceção: princípio da defesa – art. 7º, I, § 3º, do Código Penal.4

- 2ª exceção: princípio da justiça universal – art. 7º, II, a, do Código Penal.5 - 3ª exceção: princípio da nacionalidade – art. 7º, II, b, do Código Penal.6

- 4ª exceção: princípio da representação – art. 7º, II, c do Código Penal.7

Assim sendo, o princípio adotado pelo Brasil denomina-se princípio da territorialidade temperada, uma vez que a regra da territorialidade prevista no artigo 5º não é absoluta,8 havendo exceções nos casos previstos em lei e em convenções, tratados e regras de direito internacional.

Território – é todo espaço terrestre, fluvial, marítimo e aéreo onde é exercida a soberania nacional.

a) espaço terrestre – as fronteiras territoriais;b) espaço fluvial – relaciona aos rios que pertencem ao território nacional e

que o integram dentro dos limites reconhecidos.c) Espaço marítimo – é composto pelo mar territorial que compreende uma

faixa de doze milhas marítimas de largura, medida a partir da linha baixa-mar do litoral continental e insular brasileiro, tal como indicada nas cartas náuticas de grande escala, reconhecidas oficialmente no Brasil. Art. 1º, caput, da Lei 8.617, de 4 de janeiro de 1993.

d) Espaço aéreo - é adotado no Brasil a teoria da soberania sobre a coluna atmosférica, prevista, no artigo 2ª da Lei 7.565, de 19 de dezembro de 1986 (Código Brasileiro de Aeronáutica)

e) Espaço cósmico – conforme os artigos 1º e 2º do Decreto Legislativo nº 41/68 e ratificado pelo Decreto nº 64.362/69,9 o espaço cósmico poderá ser explorado e utilizado livremente por todos os Estados, em condições de igualdade e sem discriminação, não sendo objeto de apropriação nacional por proclamação de soberania, por uso ou ocupação, nem por qualquer meio.

Também são consideradas como extensão territorial as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.

4 Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: I - os crimes: a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil; (...) § 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: a) não foi pedida ou foi negada a extradição; b) houve requisição do Ministro da Justiça.

5 Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: II - os crimes:a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir;

6 Art. 7º (...) II - os crimes: (...) b) praticados por brasileiro;7 Art. 7º (...) II – os crimes: ((...) c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes

ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados.8 Territorialidade absoluta – só a lei brasileira é aplicável aos crimes cometidos no território nacional9 O Brasil subscreveu o Tratado sobre Exploração e Uso do Espaço Cósmico, aprovado pela

Assembléia Geral das Nações Unidas, em 1967.

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Observações:a) Crime cometido a bordo de navio mercante estrangeiro – crime

cometido em águas territoriais do Brasil a bordo de navio mercante de outra nacionalidade se aplica a lei penal brasileira, tanto mais quando os países de nacionalidade do autor e vítima e da bandeira do navio não são signatários da Convenção de Havana de 1928. (STJ, RT, 665/353).

b) Crimes cometidos a bordo de navios – competência da justiça federal (STJ, 3ª Seção, DJU 11-12-1995).

c) Crime cometido a bordo de aeronave brasileira no espaço aéreo correspondente ao alto-mar – competência da Justiça Federal brasileira do Estado-Membro em cujo aeroporto primeiro pousar o avião. (TFR, RJTF, 51/46).

d) Aeronave estrangeira sobrevoando território pátrio – se nele não pousou, aplica-se a lei brasileira ao crime nela praticado, em face do disposto no art. 5º, § 2º, do Código Penal.

e) Asilo – pode ser concedido ao indivíduo que o procura em navio nacional, em caso de crime político.

Exemplos:

“Em um navio mercante sueco atracado no porto de São Francisco do Sul, um tripulante mata outro, ambos naturais do país da embarcação”.10 Aplica-se a lei brasileira.

“A bordo de embarcação brasileira de propriedade privada, em alto-mar, um estrangeiro pratica crime contra brasileiro”.11 Aplica-se a lei brasileira.

“A bordo de um avião comercial brasileiro, procedente de Buenos Aires, com destino a Florianópolis, mas ainda em espaço aéreo argentino, ocorre um crime, sendo autor e vítima naturais do país vizinho”.12 A lei brasileira não é aplicável, uma vez que a aeronave brasileira de propriedade privada, em espaço aéreo estrangeiro, não é extensão de nosso território.

“Um tripulante de navio de guerra brasileiro, ancorado no porto de Amsterdã, desce à terra a serviço da embarcação, e aí acaba praticando crime contra cidadão dinamarquês”. 13 O autor do crime está sujeito à lei brasileira.

“Um marinheiro de navio de guerra estrangeiro, atracado no porto de Itajaí, aproveita a folga para vir a terra e divertir-se a acaba cometendo crime contra companheiro de tripulação”. 14 O autor do crime está sujeito à lei brasileira.

IMUNIDADES PARLAMENTARES

10 BASTOS JÚNIOR, Edmundo José de. Código Penal em Exemplos Práticos. Florianópolis: Ed. Terceiro Milênio. 1998.

11 Idem.12 Ibid.13 Ibid.14 Ibid.

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As imunidades parlamentares dizem respeito a determinadas prerrogativas conferidas por lei ao Poder Legislativo, com a finalidade de assegurar o livre exercício de suas funções de representantes da sociedade. As imunidades parlamentares vêm reguladas pelo artigo 53 da Constituição Federal e podem ser absolutas e relativas:

a) Deputados e Senadores: têm imunidade absoluta por suas opiniões, palavras e votos (Art. 53, caput, da Constituição Federal, com redação dada pela Emenda Constitucional nº 35, de 20 de dezembro de 200115). Assim, não respondem os parlamentares por delitos contra a honra, de incitação ao crime, de apologia de crime ou criminoso, etc., bem como, pelos ilícitos definidos na Lei de Imprensa, na Lei de Segurança Nacional etc.16 A imunidade absoluta ou material17 é irrenunciável, não se podendo instaurar inquérito policial ou ação penal, mesmo que o parlamentar autorize. Contudo, tal imunidade absoluta não atinge o co-réu, conforme Súmula 245, do Supremo Tribunal Federal, in verbis: “A imunidade parlamentar não se estende ao co-réu sem essa prerrogativa.” O período tem início com a DIPLOMAÇÃO e término com o fim do mandato.

b) Imunidade relativa ou formal refere-se à prisão, ao processo, às

prerrogativas de foro e para servir como testemunha – Art. 53, §§ 1º ao 8º, da Constituição Federal (com redação dada pela Emenda Constitucional nº 35, de 20 de dezembro de 2001)18. Nos crimes afiançáveis jamais

15 “Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos.”

16 Não importa para fixação da competência do Supremo Tribunal Federal, se o agente está licenciado para exercer outro cargo, pois a proteção decorre da função exercida na época do cometimento do crime (STF, no Inq O 777-TO, Rel Min. Moreira Alves, RTJ 153/760).

17 Imunidade Parlamentar e Nexo de Causalidade - A garantia de imunidade parlamentar, em sentido material, prevista no art. 53, caput, da CF, com a redação dada pela EC 35/2001, visa a assegurar a liberdade de opinião, palavras e votos dos parlamentares federais, em qualquer local, mesmo que fora do recinto da respectiva Casa Legislativa, desde que suas manifestações sejam proferidas no exercício do mandato ou em razão dele (“Os deputados e senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos”). Com base nesse entendimento, a Turma manteve acórdão de tribunal de justiça local que condenara o recorrente, deputado federal à época, ao pagamento de indenização por dano moral, por entender inexistente nexo causal entre sua atividade de parlamentar e as declarações proferidas contra o recorrido, no sentido de que este seria incompetente, vagabundo e dado a orgias. Precedentes citados: RE 210917/RJ (DJU 18.6.2001); RE 220687/MG (DJU de 28.5.99); Inq 874 AgR/BA (DJU de 26.5.95); Inq 1710/SP (DJU de 28.6.2002).RE 226643/SP, rel. Min. Carlos Velloso, 3.8.2004. (RE-226643)

18 “§ 1º Os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal. § 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão. § 3º Recebida a denúncia contra Senador ou Deputado, por crime ocorrido após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa respectiva, que, por iniciativa de partido político nela representado e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o andamento da ação. § 4º O pedido de sustação será apreciado pela Casa respectiva no prazo improrrogável de quarenta e cinco dias do seu recebimento pela Mesa Diretora. § 5º A sustação do processo suspende a prescrição, enquanto durar o mandato. § 6º Os Deputados e Senadores não serão obrigados a testemunhar sobre informações recebidas ou prestadas em razão do exercício do mandato, nem sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles receberam informações. § 7º A incorporação às Forças Armadas de Deputados e Senadores, embora militares e ainda que em tempo de guerra, dependerá de prévia

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poderão ser presos. Nos inafiançáveis – efetuada a prisão e lavrado o auto de prisão em flagrante, a autoridade (policial ou judicial) deve comunicar o fato à Câmara ou ao Senado Federal (Assembléia Legislativa Estadual), que por maioria de seus membros irá resolver sobre a prisão. Os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal.19 Uma vez recebida a peça acusatória, o STF, em se tratando de Senadores e Deputados Federais o Tribunal de Justiça, ou Tribunal Regional Eleitoral ou Tribunal Regional Federal (RTJ 91/59), cuidando-se de Deputado Estadual (RT 659/312) será obrigado a dar ciência à Câmara, Senado ou Assembléia Legislativa (conforme o caso) que, "por iniciativa de partido político nela representado e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o andamento da ação"...tal como dispõe o § 3º do art. 53 da CF. Desta forma, houve um avanço, pois antes da E/C nº. 35, não havia prazo para a Câmara, Senado ou Assembléia Legislativa pronunciarem-se sobre a "licença" para a instauração do processo. Agora, há um prazo de 45 dias para a Casa (Câmara, Senado ou Assembléia) apreciar o "pedido de sustação do processo".

c) Deputados Estaduais – Art. 27, § 1º, da Constituição Federal. Contudo,

tais imunidades ficam restritas à Justiça do Estado-Membro, nos termos da Súmula 3, do Supremo Tribunal Federal: “A imunidade concedida a deputados estaduais é restrita a justiça do estado.” Quanto à prerrogativa de foro, os Deputados Estaduais respondem:

- perante o Tribunal de Justiça, conforme Art. 83, XI, letra

licença da Casa respectiva. § 8º As imunidades de Deputados ou Senadores subsistirão durante o estado de sítio, só podendo ser suspensas mediante o voto de dois terços dos membros da Casa respectiva, nos casos de atos praticados fora do recinto do Congresso Nacional, que sejam incompatíveis com a execução da medida.”

19 Exemplo: STF recebe Queixa-crime contra Eurico Miranda O Supremo Tribunal Federal recebeu, por unanimidade, a Queixa-crime (INQ 1344) formulada pela empresa Parmalat contra o deputado Eurico Miranda (PPB-RJ). Ele está sendo acusado de difamação, por ter declarado às rádios “Globo” e “Bandeirantes” que recebera denúncia ''de uma pessoa do Santos de que haveria um esquema da Parmalat, de (R$) 300 mil, para beneficiar o Palmeiras''. O esquema seria de suborno de árbitros de futebol. As afirmações foram feitas às vésperas da final do Campeonato Brasileiro de 1997 e também apresentadas formalmente ao presidente da Comissão de Arbitragem da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Armando Marques. O relator do processo, ministro Sepúlveda Pertence, entendeu que as declarações de Eurico Miranda, no caso, não estão abrangidas pela imunidade material parlamentar, prevista pelo artigo 53 da Constituição Federal, que garante a liberdade de expressão dos integrantes do Legislativo. Segundo o ministro, nesse caso, as palavras ofensivas não se relacionam com o mandato de deputado de Eurico, que agiu na qualidade de presidente do Clube de Regatas Vasco. A defesa do dirigente esportivo também tentou argumentar que ele não teve a intenção de difamar a empresa, pois ao ser entrevistado disse não acreditar na denúncia contra a Parmalat. Os advogados afirmaram que ele estaria apenas “cumprindo sua obrigação de avisar a CBF” sobre a informação que havia recebido. O argumento também foi refutado pelo ministro Sepúlveda. De acordo com o relator, não houve uma simples comunicação, mas também foi propagada uma informação não confirmada sobre a empresa. Os demais ministros seguiram o voto do relator, no sentido do recebimento da Queixa. Agora, o processo contra Eurico Miranda entra na fase de instrução, em que é feito interrogatório do acusado e diligências. O Inquérito encontra-se no Supremo desde 1997, mas o processo foi suspenso porque a Câmara dos Deputados negou a licença para que o deputado Eurico Miranda fosse processado. Porém, com o advento da Emenda Constitucional nº 35, os procedimentos criminais contra parlamentares voltaram a tramitar normalmente na corte.” In: Notícias do Supremo Tribunal Federal, sistema Pusch. Acesso em 12/08/02.

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“a”, da Constituição do Estado, pelo cometimento de crimes de competência da justiça estadual;

- perante o Tribunal Regional Eleitoral, pelo cometimento de crimes eleitorais (RTJ 91/59);

- perante o Tribunal Regional Federal, pelo cometimento de crimes federais (RT659/312)

d) Vereadores – Art. 29, VIII, da Constituição Federal, estão circunscritos ao Município: Inviolabilidade dos Vereadores por suas opiniões, palavras e votos no exercício do mandato e na circunscrição do Município. Trata-se de imunidade absoluta ou material.

e) O Presidente da República não possui imunidade absoluta, outorgando-se-lhe apenas prerrogativa de função. Ex: Art. 102, I,b, e Art. 86, ambos da Constituição Federal.

f) O Governador de Estado não possui imunidade absoluta, mas prerrogativa de função. Ex: Art. 105, inciso I, letra “a”.20 OBS: Entendeu o STJ que Não obstante o artigo 220 do Regimento Interno do STJ determine que ‘apresentada a denúncia ou a queixa ao Tribunal, far-se-á a notificação do acusado para oferecer resposta no prazo de quinze dias’, tal notificação só pode ocorrer após a licença da Assembléia Legislativa. (...) a instauração de ação penal contra o Governador de Estado deve ser precedida, necessariamente, da autorização da respectiva Assembléia Legislativa, ainda que a infração penal a ele imputada seja estranha ao exercício das funções governamentais, a fim de que o Poder Legislativo estadual exerça o controle político prévio de qualquer acusação penal apresentada contra o Governador. In: Processo APN 200 – Notícias do STJ, de 08/07/2002. Entendeu-se também que se o agente era Governador do Estado quando cometeu o crime, e depois foi nomeado Ministro de Estado, passando a competência para o Supremo, mas não se encontra mais no exercício dessa função pública, o Superior Tribunal de Justiça recuperara a competência para processá-lo e julgá-lo, originariamente.21

g) Prefeitos Municipais – no tocante aos Prefeitos Municipais, os crimes

20 “STJ arquiva inquérito por crime eleitoral contra governador do DF. O STJ (Superior Tribunal de Justiça) arquivou hoje (13/5) o inquérito que apurava crime eleitoral por parte do governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz (PMDB), acusado de distribuir panfleto prometendo favores a eleitores, em troca do voto. Roriz era acusado de distribuir, durante a campanha para o governo do DF, em 1998, panfletos da Abesma (Associação para o Bem-estar dos Moradores de Santa Maria), intitulados "veja como fazer para não pagar seu lote". De acordo com a Procuradoria Regional Eleitoral, que pediu a abertura do inquérito à Polícia Federal, Roriz poderia ser enquadrado no artigo 299 do Código Eleitoral. O artigo 299 caracteriza como crime eleitoral "dar, oferecer, prometer, solicitar ou receber, para si ou para outrem, dinheiro, dádiva ou qualquer outra vantagem, para obter ou dar voto e para conseguir ou prometer abstenção, ainda que a oferta não seja aceita". No entanto, o ministro Humberto Gomes de Barros, relator do caso, acatou parecer da Subprocuradoria-Geral da República de que não houve condicionamento no panfleto da "vantagem oferecida à promessa de voto". Boletim Síntese nº 436, disponível: www.sintese.com. Acesso em 14/05/02.

21 FERNANDES, Antônio Scarance. Processo Penal Constitucional. 3ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p.141.

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denominados como de responsabilidade pelo art. 1º, do Decreto-lei 201/67 são crimes comuns, julgados pelo Poder Judiciário (Tribunal de Justiça), sendo, na realidade, crimes de responsabilidade as infrações político-administrativas do art. 4º do referido Decreto, julgados pela Câmara de Vereadores e sancionados pela cassação do mandato.22

h) Juízes de Direito e representantes do Ministério Público – Não estão sujeitos à notificação de comparecimento, salvo se expedida por autoridade judiciária, tampouco serão presos senão por ordem escrita do Tribunal ou órgão Especial competente para o julgamento, salvo em flagrante de crime inafiançável. [Art. 33, II, da Lei Complementar n° 35, de 14/03/1979 (Lei Orgânica da Magistratura Nacional) e art. 40, III, da Lei n° 8.525, de 12/02/1993 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público)].

LUGAR DO CRIMEArt. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.

Uma vez esclarecido qual o território em que vigora a lei penal brasileira, cumpre investigar quando nele se deve considerar cometida a infração.

Há três teorias sobre o lugar do crime:a) Teoria da atividade – o local do crime é aquele onde é praticada a conduta

criminosa (ação ou omissão);b) Teoria do resultado – o local do crime é aquele onde ocorre o resultado;c) Teoria mista ou da ubiqüidade – ou teoria da unidade, segundo a qual o

local do crime é aquele onde ocorreu tanto a conduta quanto o resultado.

A teoria adotada no Brasil é a teoria mista ou da ubiqüidade, conforme disposto no artigo 6º.

Teoria adotadaa) No caso de um crime ser praticado em território nacional e o

resultado ser produzido no estrangeiro (crimes à distância ou despacho máximo): aplica-se a teoria da ubiqüidade, prevista no art. 6º do Código Penal, isto é, o foro competente será tanto o do lugar da ação ou omissão quando o local em que se produziu ou deveria produzir o resultado. Assim, o foro competente será o do lugar em que foi praticado o último ato de execução no Brasil (CPP, art. 70, § 1º) ou o local brasileiro onde se produziu o resultado. Exemplo: agente envia uma carta de Antrax para a vítima em Washington. O foro competente será tanto o de São Paulo quanto o da capital norte-americana.

- Nos crimes conexos – não se aplica a teoria da ubiqüidade, devendo cada crime ser julgado pelo país onde foi cometido, uma vez que não constitui propriamente uma unidade jurídica. Exemplo: furto praticado na Argentina e receptação no Brasil. Aqui será julgada a receptação.

22 Neste sentido decidiu o STF em sessão plenária no julgamento do Hábeas Corpus 71.991-1/MG, admitindo, quanto aos crimes do art. 1º, o processo criminal mesmo após a extinção do mandato (DJU 02.03.1994). Também essa orientação do STJ (DJU 02.02.1995).

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b) No caso de a conduta e o resultado ocorrerem dentro do território nacional, mas em locais diferentes (delito plurilocal): aplica-se a teoria do resultado, prevista no art. 70 do Código de Processo Penal: a competência será determinada pelo lugar em que se consumar a infração ou, no caso de tentativa, pelo local em que for praticado o último ato de execução. Exemplo: a vítima é lubridiada, mediante emprego de ardil, em Palhoça e, após ter sido induzida em erro, acaba entregando o dinheiro ao golpista na cidade vizinha de Florianópolis. Esta última será o foro competente para julgar o crime de estelionato, pois foi onde obtida a “vantagem ilícita”.23

c) No caso dos crimes de menor potencial ofensivo, sujeitos ao procedimento da Lei nº 9.099/95: foi adotada a teoria da atividade. Esta é a redação do art. 63 da lei: a competência do Juizado será determinada pelo lugar em foi praticada a infração.

d) Regras especiais – quando incerto o limite entre duas comarcas, se a infração ocorrer na divisa, a competência será firmada pela prevenção (CPP, art. 70, § 3º).

Exemplos:

“Em um ônibus que viajava de Florianópolis para Montevidéu, lotado com turistas uruguaios que retornavam ao seu país de origem, um passageiro ainda em território brasileiro, desferiu uma facada em outro, que morre quando o veículo já rodava em solo do país vizinho”. 24 Aplica-se a lei brasileira.

“Um avião da VARIG parte de New York em vôo direto para o Rio de Janeiro. Ainda em espaço aéreo americano, um passageiro, espanhol, fere outro, húngaro, com dolo de homicídio. O Vôo prossegue, e o húngaro morre quando a aeronave já sobrevoava alto-mar”.25 Aplica-se a lei brasileira.

“Dois bolivianos seqüestram, no Brasil, uma criança chilena, levando-a para Assunção, Paraguai, onde o resgate é pago”.26 Aplica-se a lei brasileira.

EXTRATERRITORIALIDADEArt. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro:I - os crimes:a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;

23 Na hipótese de crime doloso contra a vida (construção jurisprudencial), tendo em vista a impossibilidade de serem arroladas, para o plenário, as testemunhas que residam fora do local do júri, deve-se entender que o juízo competente será o do local da ação e não o do resultado, tendo em vista a conveniência na instrução dos fatos. Por exemplo: um briga de bar em Santo Amaro de Imperatriz, onde são deferidas golpes de faca contra a vítima (COM A INTENÇÃO DE TIRAR-LHE A VIDA), vindo esta falecer (três dias) depois no Hospital Regional de São José. O foro competente será o da comarca de Santo Amaro de Imperatriz. Isso porque, São José só haveria médicos e enfermeiros como testemunhas do moribundo. Nesse sentido, STJ, 3ª seção, Rel Min Anselmo Santiago, DJU, 17-8-1998, p. 16.

24 BASTOS JÚNIOR, Edmundo José de. Código Penal em Exemplos Práticos. Florianópolis: Ed. Terceiro Milênio. 1998.

25 Idem.26 Ibid.

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b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público;c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço;d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil;II - os crimes:a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir;b) praticados por brasileiro;c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados.§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro.§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições:a) entrar o agente no território nacional;b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição;d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena;e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável.§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior:a) não foi pedida ou foi negada a extradição;b) houve requisição do Ministro da Justiça.

São hipóteses em que a lei brasileira adotou como exceção ao princípio da territorialidade.

Princípio da extraterritorialidade – consiste na aplicação da lei brasileira aos crimes cometidos fora do Brasil. A jurisdição é territorial, na medida em que não pode ser exercida no território de outro Estado, salvo regras permissivas do direito internacional. Em respeito à Soberania um país não pode impor regras a outro. Contudo, nada impede que um Estado exerça em seu próprio território sua jurisdição, na hipótese de crime cometido no estrangeiro.

Formas de extraterritorialidade:a) Incondicionada;b) Condicionada.

Existem na lei hipóteses de extraterritorialidade incondicionada descritas no inciso I do artigo 7º e hipóteses de extraterritorialidade condicionada, previstas no artigo 7º, inciso II e § 3º.

Na extraterritorialidade incondicionada, a simples prática do delito no exterior já é suficiente para ensejar a aplicação da lei penal brasileira, independentemente de qualquer outro requisito. A lei brasileira não é subsidiária em relação a esses delitos. Ainda que tenha sido aplicada a lei penal estrangeira,

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impondo condenação ao criminoso, o Brasil dispõe de competência para julgar o agente.

Na extraterritorialidade condicionada, a lei penal brasileira é subsidiária, ou seja, os crimes praticados no estrangeiro e previstos no artigo 7º, II e § 3º somente poderão ser punidos pelo Brasil se presentes as seguintes condições:

a) Entrar o agente no território nacional;b) Ser o fato punível também no país em que foi praticado;c) Estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a

extradição;d) Não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a

pena;e) Não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não

estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável.

Princípios da extraterritorialidade, segundo Fernando Capez:a) Nacionalidade ou personalidade ativa – aplica-se a lei brasileira ao

crime cometido por brasileiro fora do Brasil (art. 7º, II, b). Não importa se o sujeito passivo é brasileiro ou se o bem jurídico afeta interesse nacional, pois o único critério levado em conta é o da nacionalidade do sujeito ativo.

b) Nacionalidade ou personalidade passiva – aplica-se a lei brasileira ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil (art. 7º, § 3º, do CP). O que interessa é a nacionalidade da vítima. Sendo brasileira, aplica-se a lei do nosso país, mesmo que o crime tenha sido realizado no exterior.

c) Real, da defesa ou proteção – aplica-se a lei brasileira ao crime cometido fora do Brasil, que afete interesse nacional (art. 7º, I, a, b e c, do CP). É o caso de crime cometido contra o Presidente da República, contra patrimônio das entidades da administração direta, indireta ou fundacional entre outras. Ora, se o interesse nacional foi afetado, justifica-se a incidência da legislação pátria.

d) Justiça universal – (art. 7º, I, d e II, a, do CP).27 Todo o Estado tem o direito de punir qualquer crime, seja qual for a nacionalidade do delinqüente e da vítima ou o local de sua prática, desde que o criminoso esteja dentro do seu território. É como se o planeta fosse constituído de um único território.

e) Da representação (art. 7º, II, c, do CP) – a lei penal brasileira também é aplicável aos delitos cometidos em aeronaves e embarcações privadas quando realizados no estrangeiro e aí não venham a ser julgados.

Em síntese: ARTIGO 7º, DO CÓDIGO PENAL.INCISO IAlínea “a” Princípio real, da defesa ou proteção.Alínea “b” Princípio real, da defesa ou proteção.Alínea “c” Princípio real, da defesa ou proteção.Alínea “d” Para alguns é princípio da

universalidade e para outros, princípio da nacionalidade ativa.

27 Conhecido também como princípio da universalidade, cosmopolita, da jurisdição universal, jurisdição mundial, da repressão universal ou da universalidade do direito de punir.

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INCISO II(Todas as hipóteses, letras “a” a “c” são de extraterritorialidade condicionada, uma vez que a lei brasileira só será aplicada ao crime cometido no estrangeiro se presentes as condições do § 2º)Alínea “a” Princípio da justiça universalAlínea “b” Princípio da nacionalidade ativaAlínea “c” Princípio da representaçãoPARÁGRAFO 2º(Esse parágrafo enumera algumas condições para início da persecução penal, aplicável nas três hipóteses do inciso II)Entrar em território nacional A lei não distingue se a entrada foi

extemporânea ou forçada, legal ou clandestina, ou se resultou simplesmente de passagem. A saída do agente não prejudicará o andamento da ação penal

Ser o fato punível também no país em que foi praticado

Caso assim não ocorra, é inaplicável a lei brasileira.

Estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição.

Na ausência dessa autorização é inaplicável a lei penal brasileira.

Não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a penaNão ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável.PARÁGRAFO 3º(Está sujeita à extraterritorialidade condicionada e aplica-se o princípio real, da defesa ou proteção)

EXTRADIÇÃO

Extradição – é o instrumento jurídico pelo qual um país envia uma pessoa que se encontra em seu território a outro Estado soberano, a fim de que neste seja julgada ou receba a imposição de uma pena já aplicada (CAPEZ, 2004. p. 90).

A extradição vem regulada na Lei 6.815, de 19 de agosto de 1980 (Estatuto do Estrangeiro) que reza:

Art. 76. A extradição poderá ser concedida quando o governo requerente se fundamentar em tratado ou quanto promoter ao Brasil a reciprocidade.Art. 77. Não se concederá a extradição quando:I – se tratar de brasileiro, salvo se a aquisição dessa nacionalidade verifica-se após o fato que motivar o pedido;II – o fato que motivar o pedido não for considerado crime no Brasil ou no Estado requerente;III – o Brasil for competente, segundo suas leis, para julgar o crime imputado

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ao extraditando;IV – a lei brasileira impuser ao crime a pena de prisão igual ou inferior a 01 (um) ano;V – o extraditando estiver a responder a processo ou já houver sido condenado ou absolvido no Brasil pelo mesmo fato em que se fundar o pedido;VI – estiver extinta a punibilidade pela prescrição segundo a lei brasileira ou a do Estado requerente;VII – o fato constituir crime político; eVIII – o extraditando houver de responder, no Estado requerente, perante tribunal ou juízo de exceção.”

Sobre a extradição reza a Constituição Federal de 1988:

Art. 5º ...LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei;LII - não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião;Art. 22 - Compete privativamente à União legislar sobre:

XV - emigração e imigração, entrada, extradição e expulsão de estrangeiros;

Exemplos de extradição

Supremo autoriza extradição de italiano condenado por tráfico de drogas - A pedido do governo da Itália, o Supremo Tribunal Federal (STF) concedeu, por unanimidade de votos, a Extradição (EXT 943) de Ciro Scognamiglio, italiano, condenado a 24 anos de prisão pelo Tribunal de Nápoles pelo crime de formação de quadrilha para o fim de tráfico de substâncias entorpecentes.O extraditando encontra-se atualmente preso no Centro de Detenção Provisória de Vila Independência, em São Paulo/SP. A defesa alegou que o italiano é casado com brasileira e que sua esposa está impedida de ingressar no território italiano por motivo de expulsão. Sendo assim, pediu para cumprir a pena no Brasil. O relator do processo, ministro Sepúlveda Pertence, decidiu pelo deferimento da extradição sustentando que o fato de o italiano ser casado com brasileira não constitui obstáculo legal à medida. Acrescentou que foi satisfeita a exigência da dupla tipicidade, ou seja, que o crime pelo qual foi fundamentado o pedido de extradição encontra correspondência na legislação penal brasileira.28

Supremo autoriza extradição de paraguaio acusado de seqüestro - O plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou, por unanimidade, a extradição do paraguaio Idelino Ramon Silvero, acusado em seu país pela prática do crime de extorsão mediante seqüestro. O pedido de Extradição (EXT 947) foi feito pelo Governo do Paraguai e desde 22 de agosto do ano passado ele estava preso, por determinação do relator da ação, Ministro Carlos Velloso. A defesa alegou que a

28 http://www.stf.gov.br/noticias/imprensa/ultimas/ler.asp?CODIGO=125446&tip=UM . Acessado 09/03/2005.

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ordem de prisão emitida pela Justiça do Paraguai corresponde a um pedido de prisão preventiva e que não existiam provas da participação de Ramon no seqüestro. Sustentou, ainda, que o extraditando tem filha brasileira sob sua guarda e dependência econômica, e que ele foi vítima de perseguição política, por ter denunciado em sua agência de notícias uma rede de corrupção que atuava no Paraguai. Em seu voto, o Ministro Carlos Velloso afastou a possibilidade de prescrição do crime e rejeitou todos os argumentos da defesa, acolhendo o parecer da Procuradoria-Geral da República. Registrou, ainda, que o pedido atende a todos os requisitos previstos no Estatuto do Estrangeiro (Lei n° 6.815/80), bem como no Tratado de Extradição entre os dois países, uma vez que o crime de seqüestro está tipificado tanto no Código Penal do Paraguai (artigo 126) como no Código Penal brasileiro (artigo 159). Ao concluir o seu voto, o Ministro Velloso ressalvou que o extraditando responde no Brasil pelo crime de falsidade ideológica e deixou a critério do governo brasileiro decidir, com base no Estatuto do Estrangeiro, se o extraditando deve primeiro cumprir pena por uso de documentos falsos no país.29

IMUNIDADES DIPLOMÁTICAS

Nesse contexto, cabe trazer alguns aspectos das imunidades diplomáticas, decorrente do princípio da territorialidade temperada, mencionada no artigo 5º, do Código Penal.

As imunidades diplomáticas são decorrentes de convenção internacional, e as imunidades parlamentares, decorrentes de regras internas previstas na Constituição Federal.

As imunidades diplomáticas têm fundamento na Convenção de Viena de 18 de abril de 1961, aprovada no Brasil pelo Decreto Legislativo nº 103, de 1964, e ratificada em 223 de fevereiro de 1965. Tais imunidades referem-se a qualquer delito e se estendem a todos os agentes diplomáticos (embaixador, secretários da embaixada, pessoal técnico e administrativo das representações), aos componentes da família deles e aos funcionários das organizações internacionais (ONU, OEA etc.) quando em serviço. Essas imunidades, ainda, alcançam o chefe de Estado estrangeiro que visita o país, bem como os membros de sua comitiva.30

Cônsul não tem imunidade diplomática, exceto se estiver em missão como preposto do diplomata.

EXEMPLOS DE EXTRATERRITORIALIDADE

a) Durante visita do Presidente da República a país estrangeiro, um nacional desse país tenta matá-lo. Aí é processado, condenado e cumpre a pena.31

b) Um estrangeiro, em seu país, comete crime contra o patrimônio de sociedade de economia mista brasileira. Lá é processado e absolvido.32 Nos dois casos acima, os agentes permaneceriam sujeitos à lei brasileira, segundo o Art. 7º, § 1º, do Código Penal

29 http://www.sintese.com/n-15042005-12.asp. Acesso em 15/04/05.30 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de Direito Penal: parte geral. São Paulo:Atlas, 2000. p. 82.31 BASTOS JÚNIOR, Edmundo José de. Código Penal em Exemplos Práticos. Florianópolis: Ed.

Terceiro Milênio. 1998.32 Idem.

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c) Uma brasileira se submete, no estrangeiro, a um aborto, licitamente, segundo as leis locais, e retorna em seguida para o Brasil.33 Não sendo o fato punível também no país em que foi praticado, falha um dos requisitos para imposição da lei brasileira (Art. 7º, § 2º, b).

d) A bordo de avião comercial brasileiro, em vôo sobre território da Bolívia, ocorre um crime, sendo o autor e vítima estrangeiros. A aeronave não faz escalas e prossegue direto para Guarulhos, São Paulo.34 O autor do crime está sujeito à lei brasileira nos termos do Art. 7º, II, letra “c”.

e) Um navio mercante brasileiro voltava da Holanda ao Brasil, quando, quase ao deixar o mar territorial holandês, ocorre um crime a bordo. Autor e vítima são estrangeiros. O comandante não retorna ao porto e prossegue viagem diretamente para o Rio de Janeiro.35 O autor do crime está sujeito à lei brasileira, tendo em vista o princípio da representação, disposto no artigo 7º, II, letra “c”.

EM SÍNTESE

TERRITORIALIDADE(Regra geral)

EXTRATERRITORIALIDADE(Exceções à territorialidade)

Princípio da nacionalidade Art. 7º, II, “b”

Princípio da justiça universal Art. 7º, II, “a”, e I, “d”

Princípio da defesa Art. 7º, I, “a”, “b”, “c”, § 3º

Princípio da representação Art. 7º, II, “c”

PENA CUMPRIDA NO ESTRANGEIROArt. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas.

Se o sujeito ativo de um crime já estiver cumprido pena no estrangeiro, esta será descontada na execução da pena eventualmente aplicada no Brasil (quando idênticas), ou servirá para atenuá-la (quando diversa).

Amenizando o rigor do § 1º do art. 7º, que declara o agente punível segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro, o art. 8º afasta a

33 BASTOS JÚNIOR, Edmundo José de. Código Penal em Exemplos Práticos. Florianópolis: Ed. Terceiro Milênio. 1998.

34 Idem.35 ibid

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possibilidade de bis in idem.

De acordo com a regra aí estabelecida, nos casos de extraterritorialidade incondicionada (art. 7º, I), tendo o agente cumprido pena privativa de liberdade em outro país, o tempo respectivo deverá ser computado na que lhe vier a ser imposta no Brasil pelo mesmo crime. Sendo de espécie diferente, a pena cumprida lá fora e a que deva ser aplicada em nosso país, a proporção a será fixada pelo juiz.36

Exemplo: Um estrangeiro, em seu país, comete o crime de falsificação de selo postal (contra a fé pública da União) e é aí condenado a dois anos de prisão, que cumpre. No Brasil, vem a ser condenado, pelo mesmo crime,37 a três anos de reclusão. O condenado no Brasil deverá cumprir apenas a diferença de 01 (um) ano. Se a pena no exterior tivesse sido de multa, o juiz brasileiro a levaria em conta como atenuante, em quantidade a seu critério. 38

EFICÁCIA DE SENTENÇA ESTRANGEIRAArt. 9º - A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na espécie as mesmas conseqüências, pode ser homologada no Brasil para:I - obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis;II - sujeitá-lo a medida de segurança.Parágrafo único - A homologação depende:a) para os efeitos previstos no inciso I, de pedido da parte interessada;b) para os outros efeitos, da existência de tratado de extradição com o país de cuja autoridade judiciária emanou a sentença, ou, na falta de tratado, de requisição do Ministro da Justiça.

O artigo 9º permite a homologação de sentença estrangeira, quando resultar da lei brasileira as mesmas conseqüências, unicamente para efeito de reparação do dano ou a restituição da coisa, ou ainda, imposição de medida de segurança.

A execução da pena é um ato de soberania de um país, razão pela qual, no Brasil, somente pode ser admitida a sentença estrangeira quando:

a) produza, na espécie, os mesmos efeitos da lei penal nacional;b) verificado o preenchimento dos requisitos constantes do art. 788 do

Código de Processo Penal39;c) Para obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros

efeitos civis;d) Para sujeitar o condenado a medida de segurança.

36 Ibid.37 Lei 6.538, de 22 de junho de 1978, art. 36.38 BASTOS JÚNIOR, Edmundo José de. Código Penal em Exemplos Práticos. Florianópolis: Ed.

Terceiro Milênio. 1998.39 Art. 788 - A sentença penal estrangeira será homologada, quando a aplicação da lei brasileira

produzir na espécie as mesmas conseqüências e concorrem os seguintes requisitos:I - estar revestida das formalidades externas necessárias, segundo a legislação do país de origem;II - haver sido proferida por juiz competente, mediante citação regular, segundo a mesma legislação;III - ter passado em julgado;IV - estar devidamente autenticada por cônsul brasileiro;V - estar acompanhada de tradução, feita por tradutor público.

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e) A homologação de sentença estrangeira é de competência do Superior Tribunal de Justiça, conforme a Constituição Federal, a saber:40

Art. 105 - Compete ao Superior Tribunal de Justiça:I - processar e julgar, originariamente(...)i) a homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de exequatur às cartas rogatórias

Observaçõesa) Nem toda a sentença estrangeira precisa ser homologada para produzir

efeitos no Brasil, mas tão-somente aquela que deva ser aqui executada;b) A homologação é obrigatória não apenas para a execução da pena imposta

na sentença criminal estrangeira, mas também para obrigar o condenado à reparação do dano, a restituição e a outros efeitos civis, consoante o art. 9, I, do CP.

c) Homologada a sentença estrangeira será remetida ao presidente do Tribunal de Justiça do Estado em que reside o condenado. Em seguida o presidente fará a remessa da carta de ordem ao juiz do lugar de residência do condenado, para aplicação da pena ou da medida de segurança. A execução processar-se-á pelos órgãos locais, sem interferência do Superior Tribunal de Justiça.

d) Não é necessário que uma decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos seja internalizada por meio de homologação de sentença estrangeira ou de concessão de exequatur a carta rogatória. As decisões da Corte têm eficácia e aplicabilidade imediata no ordenamento interno brasileiro. As afirmações foram feitas pelo ministro Gilson Dipp, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), durante palestra no Seminário "O Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos e o Brasil", proferida em maio de 2005, no auditório externo do Tribunal. "Os operadores do Direito não estão acostumados a trabalhar com tratados internacionais. Muitas vezes aqui no STJ tergiversamos quando a parte alega violação ao Pacto de San José", observa Dipp. Ele aponta que uma modificação importante – "um avanço reclamado pela doutrina" - foi trazida pela Emenda Constitucional n. 45, que trata da reforma do Poder Judiciário. "A emenda diz que os tratados internacionais sobre direitos humanos têm equivalência com as emendas constitucionais. Qualquer violação desses tratados é passível de recurso extraordinário perante o Supremo Tribunal Federal", diz o ministro. Ele critica a jurisprudência do Supremo em relação a esses tratados, que vinha negando eficácia imediata a eles. "A Emenda n. 45 deixa de lado a jurisprudência, a

40 Nesse sentido. HOMOLOGAÇÃO. SENTENÇA ESTRANGEIRA. CARTA ROGATÓRIA. O STF, que, antes do advento da EC n. 45/2004, detinha a competência para a homologação de sentença estrangeira, vinha indeferindo continuamente os pedidos que lhe eram dirigidos nos casos em que a citação de réus domiciliados no Brasil não houvesse sido realizada por meio de carta rogatória. No caso, a citação foi realizada por intermédio de autoridade consular portuguesa. Excetuando-se os meios adotados nas convenções das quais o Brasil participa, o único meio de citação internacional válida no Brasil é por meio da carta rogatória. A Corte Especial indeferiu o pedido de homologação de sentença estrangeira, condenando a requerente ao pagamento de custas e honorários no montante de dois mil reais. Sentença Estrangeira Contestada 861-EX, Rel. Min. Ari Pargendler, julgada em 4/5/2005.

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meu ver, ultrapassada do Supremo".41

CONTAGEM DE PRAZOArt. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum.

O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo penal, sendo os dias, os meses e os anos contados pelo calendário comum.

O mês é contado não pelo número real de dias (28, 29, 30 ou 31) e sim de determinados dia à véspera do mesmo dia do mês subseqüente. Da mesma forma, um ano é contado de certo dia do mês à véspera do dia idêntico daquele mês no ano seguinte. Estará cumprida a pena de um mês de detenção, por exemplo, entre os dias 20 de fevereiro e 19 de março, ou a de um ano entre os dias 20 de fevereiro a 19 de fevereiro do ano seguinte, pouco importando se se trata ou não de ano bissexto.42

Assim, se a pena começou a ser cumprida às 23 horas e 50 minutos são contados como um dia inteiro. Mesmo modo, não importa se o prazo começou no domingo ou feriado, computando-se um como o outro como primeiro dia.43

Prazos processuais – diferentemente do prazo do Código Penal, os prazos processuais contam-se de acordo com a regra do artigo 798, § 1º do CPP,44 exclui-se o dia do começo. De acordo com a Súmula 310 do STF,45 se o dia do começo for domingo ou feriado, o início do prazo será o dia útil subseqüente.

Contagem de mês e ano: são contados como período que compreendem um número determinado de dias, pouco importando quantos sejam os dias de cada mês. Exemplo: 6 meses a partir de abril; terminará o prazo em setembro, não importando se o mês tem 30 ou 31 dias.

Exemplo: o agente começa a cumprir a pena às 19 horas e 27 minutos do dia 05 de agosto de 2003. Tem 6 anos, 9 meses e 23 dias de pena a cumprir. A data do término será 28 de maio de 2010, SENÃO VEJAMOS:

DIA MÊS ANO5 AGOSTO 2003

+ 06 ANOS5 AGOSTO 2009

+ 09 MESES

41 In http://www.stj.gov.br/webstj/Noticias/detalhes_noticias.asp?seq_noticia=14018&pag=np&si=22164. Acesso em 18/05/05

42 MIRABETE, op. cit., 92. 43 Prescrição e decadência – os prazos são contados de acordo com a regra do artigo 10 do Código

Penal.44 Art. 798 - Todos os prazos correrão em cartório e serão contínuos e peremptórios, não se

interrompendo por férias, domingo ou dia feriado. § 1º - Não se computará no prazo o dia do começo, incluindo-se, porém, o do vencimento.

45 Súmula 310 do STF - Quando a intimação tiver lugar na sexta-feira, ou a publicação com efeito de intimação for feita nesse dia, o prazo judicial terá início na segunda-feira imediata, salvo se não houver expediente, caso em que começará no primeiro dia útil que se seguir.

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5 MAIO 2010+ 23 DIAS28 MAIO 2010(-1) COMPUTANDO-SE DIA DO COMEÇO27 MAIO 2010

OBS: não esquecer que depois da operação deve-se diminuir sempre um dia, já que, pela regra, o dia do começo deve ser computado. Assim, a pena estará cumprida em: 27 DE MAIO DE 2010

FRAÇÕES NÃO COMPUTÁVEIS DA PENAArt. 11 - Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas restritivas de direitos, as frações de dia, e, na pena de multa, as frações de cruzeiro.

Nas penas privativas de liberdade e restritivas de direitos, devem ser desprezadas as frações de dia, ou seja, não devem ser computadas as horas.

Na pena de multa devem ser desprezadas as frações de cruzeiro (moeda da época), ou seja, não devem ser computados os centavos. Essa regra aplica-se aos dias atuais, mesmo com a modificação da moeda.

Exemplo: ao calcular uma pena de detenção, o juiz chegou ao quantum de 01 (um) ano e 15 (quinze) dias, que deve ser reduzido à metade. A metade de 01 (um) ano e 15 (quinze) dias é exatamente 06 (seis) meses, sete dias e doze horas. Desprezada a fração de dia, a pena definitiva ficará em seis meses e sete dias.

LEGISLAÇÃO ESPECIALArt. 12 - As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de modo diverso.

Existem outras infrações penais descritas em leis extravagantes, as quais integram a chamada legislação penal especial. Caso a lei especial contenha dispositivo próprio a respeito de determinada infração penal, este deve prevalecer sobre a regra geral do Código Penal.

Exemplos:a) Na Lei de Contravenções Penais não é punível a tentativa (Art. 4º, da Lei

de Contravenções Penais – Decreto-Lei 3.688/41);46

b) Na Lei de Crimes Hediondos (Lei 8.072/90) que não permite a liberdade provisória;

BIBLIOGRAFIA

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MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de Direito Penal: parte geral. São Paulo:Atlas, 2000. p. 82.

46 Art. 4° - Não é punível a tentativa de contravenção.

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PLÁCIDO E SILVA. Vocabulário Jurídico. 15ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 558

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ANDRADE, Vera Regina. Introdução Crítica ao Estudo do Sistema Penal: elementos para compreensão da atividade repressiva do Estado. Florianópolis: Diploma Legal, 1999. p. 23

_____. A ilusão de Segurança Jurídica. Do controle da violência à violência do controle penal. Porto Alegre: Livraria do Advogado. 2004.

LEMGRUBER, Julita. 2053: Uma população atrás das grades. In: http://www.cesec.ucam.edu.br/artigos/Midia_body_JL10.htm. Acesso em 04/01/03.

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SIRVINSKAS, Luiz Paulo. Introdução ao estudo do direito penal. São Paulo: Saraiva, 2003. p.32.

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THOMPSON, Augusto. Escorço histórico do direito criminal luso-brasileiro: a inconfidência mineira, vol. VII, p. 194. Apud. DOTTI, René Ariel. Bases e alternativas para o sistema de penas. São Paulo: RT. p. 48

GRINOVER, Ada Pellegrini e outros, Teoria Geral do Processo. São Paulo: Saraiva, 1997. p. 100.

MATERIAL DE APOIO

A REMIÇÃO DA PENA PELO ESTUDO –UMA INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA E SENSATA47

A remição disposta no art. 126, §1º, da Lei nº 7.210/84, ressalta o efeito de

47 VIEIRA NETO, João; FRANÇA, Hélcio. A remição da pena pelo estudo – uma interpretação extensiva e sensata Disponível na internet: www.ibccrim.org.br, 05.01.2005

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quitação, ou seja, readquirir os dias apenados por meio de esforço laboral, na proporção de cada três dias trabalhados a diminuição de um da pena, contudo, vislumbra-se, com essa ação, não apenas a quebra da ociosidade do condenado, mas, principalmente, a sua ressocialização, fazendo com que disponha de meios suficientes de aprendizado e instrução, com o objetivo de reinseri-lo à sociedade, e qual outro meio de tamanha eficácia senão o estudo para a consecução de tal finalidade.

Ademais, o Estado tem por obrigação a disponibilidade de meios necessários para obter a ressocialização do aprisionado ou egresso, colocando o reeducando no caminho da busca do seu reencontro com o convívio comum social, pois a pena não tem o fim único de punir, mas, sobretudo, e aí se infere o artigo 1º da Lei 7.210/84, fazer com que aquele praticante do delito seja trazido novamente à sociedade, reintegrando-o de forma harmoniosa e capacitada, evitando que ele retorne ao cenário marginal e criminoso.

A Exposição de Motivos da Lei de Execução Penal, também explicitando a necessária e importante reinserção social, em seu capítulo "Do Objeto e da Aplicação da Lei de Execução Penal", assim é redigida:

"Contém o art. 1º duas ordens de finalidades: a correta efetivação dos mandamentos existentes nas sentenças ou outras decisões, destinados a reprimir e a prevenir os delitos, e a oferta de meios pelos quais os apenados e os submetidos às medidas de segurança venham a ter participação construtiva na comunhão social.

Sem questionar profundamente a grande temática das finalidades de pena, curva-se o Projeto, na esteira das concepções menos sujeitas à polêmica doutrinária, ao princípio de que as penas e medidas de segurança devem realizar a proteção dos bens jurídicos e a reincorporação do autor à comunidade".

Sabe-se, e isto é de cunho até mundial, que uma das principais formas de se combater a violência e a criminalidade é a realização de bom trabalho voltado para a instrução do preso, seja através de uma capacitação técnico-profissional, seja pelo aprendizado escolar, proporcionando condições jamais auferidas pelo delinqüente, tornando-o capaz de, quando de sua saída do encarceramento, poder deixar o mundo do crime e se inserir numa vida digna e honesta.

Assim sendo, um dos meios mais benéficos e capazes de realmente produzir a ressocialização do condenado é a educação, através do estudo, onde se garante a possibilidade de inseri-lo posteriormente no mercado de trabalho, desta forma mais capacitado e, portanto, com compatibilidade de competitividade, além de produzir no indivíduo aprisionado a consciência da sua importância no seio da sociedade, não mais como à margem da lei, mas agora como trabalhador, técnico ou estudante preparado para os desafios da vida.

A doutrina tem se mostrado condizente a esta interpretação analógica e extensiva, quanto à remição da pena pelo estudo, como demonstra o insigne Renato Flávio Marcão, a saber:

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"Com efeito, a melhor interpretação que se deve dar à lei é aquela que mais favoreça a sociedade e o preso, e por aqui não é possível negar que a dedicação rotineira deste aprimoramento de sua cultura por meio do estudo contribui decisivamente para os destinos da execução, influenciando de forma positiva em sua (re)adaptação ao convívio social. Aliás, não raras vezes o estudo acarretará melhores e mais sensíveis efeitos no presente e no futuro do preso, vale dizer, durante o período de encarceramento e quando da reinserção social, do que o trabalho propriamente dito, e a alegada taxatividade da lei não pode constituir óbices a tais objetivos, notadamente diante da possibilidade de interpretação extensiva que se pode emprestar ao disposto no art. 126 da LEP.

Tanto quanto possível, em razão de seus inegáveis benefícios, o aprimoramento cultural por meio do estudo deve ser um objetivo a ser alcançado na execução penal, e um grande estímulo na busca de tal ideal é a possibilidade de remir a pena privativa de liberdade pelo estudo."

Esse objetivo primordial da Lei de Execução Penal, qual seja a reinserção do aprisionado no meio social onde vivia e foi retirado, tem, ao longo do tempo, adquirido cada vez mais força, sendo tratado, por alguns, com a importância que realmente prescinde, apesar de caminhar a passos ainda curtos e moderados, todavia dando esperança que um dia o intuito da Lei 7.210/84 seja efetivamente cumprido, com a conseqüente e eficaz reintegração do encarcerado criminoso na sociedade.

A tendência dos julgamentos nos diversos Tribunais de Justiça deste país tem inclinado na projeção da consecução deste anseio da LEP, restando majoritária, ou até mesmo pacífica, a posição de que se deve a todo custo engendrar esforços para se obter a ressocialização do preso, sob pena de se retroceder à selvageria plena, transformando homens em verdadeiros animais vorazes e sem qualquer perspectiva de futuro.

O próprio Superior Tribunal de Justiça e até a Suprema Corte já entendem, e assim vêm decidindo, que, até mesmo em crime hediondo, faz-se mister a autorização de saída de preso para estudo e capacitação fora do estabelecimento penal, quando obviamente o seu mérito assim permitir.

É público e notório que o imediatismo do resultado da nova integração do aprisionado na comunidade é, sobretudo, demasiadamente moroso, o que talvez passe despercebido e não alimente vontades de se investir nesse campo, pois o que se busca de pronto é a retirada do desordeiro da convivência social, impondo-lhe o castigo, sem a preocupação com o depois, com a posterior saída do mesmo da cadeia e volta à sociedade.

Como uma forma de controle e limite ao exercício do jus puniendi, surgiu a preocupação dos penalistas, sobretudo críticos, em estabelecer e criar teorias capazes de, ao mesmo tempo, fixar e disseminar pensamentos concretos e objetivos de limitação do exercício desse poder e instrumento de controle social, através de meios coativos, de que dispõe o Estado.

Nessa ótica, surgiram algumas teorias que, dentre elas, destacam-se: 1) A

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Teoria Absolutista ou de Retribuição, onde o castigo era a única idéia central; 2) A Teoria Relativa ou também chamada Utilitarista, na qual se pregava apenas o objetivo prático ou, como o nome mesmo identifica, a própria utilidade da pena; 3) A Teoria Mista ou Eclética, ou ainda conhecida como Intermediária, onde já se percebia e se aflorava o dinamismo atual da execução penal, restando evidenciado o castigo e também a educação do ser aprisionado, e por fim; 4) A Teoria da Criminologia Crítica ou Radical, onde se combatia o resultado prático da pena, atentando-se ao objetivo propriamente dito, ou seja, será que há reeducação, ressocialização e reinserção de um indivíduo enclausurado como animal?

Enfim, criticava-se radicalmente essa condição.

Partindo da interpretação dessas teorias, percebe-se que há muito tempo atrás já existia a preocupação não apenas com o castigo, mas também com a reintegração social do preso, como bem massificado pelas Teorias Mista e Radical.

Com absoluta certeza e convicção, se o trabalho braçal é capaz de reverter e transformar a ociosidade do encarcerado numa possibilidade de mudança de vida, o que dizer da educação através dos estudos, da formação educacional em um centro de estudo.

A educação é comprovadamente a melhor forma de alterar o estado de subdesenvolvimento de uma nação, com a mediata obtenção da igualdade e harmonia social, através de medidas governamentais de acesso ao ensino médio e fundamental gratuito, única forma de se acabar ou, ao menos, reduzir a criminalidade tão crescente nos dias atuais.

Para o saudoso Julio Fabbrini Mirabete, em comento ao art. 126 da LEP, ressaltando indiretamente a possibilidade da remição pelo estudo, demonstra que a lei não distingue qual a natureza do trabalho, a saber:

"Não distingue a lei quanto à natureza do trabalho desenvolvido pelo condenado. Assim, a remição é obtida pelo trabalho interno ou externo, manual ou intelectual, agrícola ou industrial, não se excluindo o artesanal, desde que autorizado pela administração do estabelecimento penal."

Ou seja, a readaptação ao meio social do criminoso, quer seja ele nato, habitual, de momento, ou, condenado à pena privativa de liberdade em regime fechado ou semi-aberto, deve dispor de meios sensatos de remição de pena, restando como mais aproveitável e de maior segurança, lato sensu, o estudo, dentro do estabelecimento prisional ou fora dele, tudo em busca de uma melhor aplicação punitiva estatal, e porque não do princípio do in dubio pro societate e do in dubio pro reo.

Neste sentido tem entendido o Superior Tribunal de Justiça, abaixo:

"CRIMINAL RESP. REMIÇÃO. FREQUÊNCIA EM AULAS DE ALFABETIZAÇÃO. POSSIBILIDADE. INTERPRETAÇAO EXTENSIVA DO ART. 126 DA LEI DE EXECUÇÃO PENAL. RECURSO DESPROVIDO.

I. A Lei de Execuções Penais previu a remição como maneira de abreviar, pelo trabalho, parte do tempo de condenação.

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II. A interpretação extensiva ou analógica do vocábulo "trabalho", para abarcar também o estudo, longe de afrontar o caput do art. 126 da Lei de Execução Penal, lhe deu, antes, correta aplicação, considerando-se a necessidade de se ampliar, no presente caso, o sentido ou alcance da lei, uma vez que a atividade estudantil, tanto ou mais que a própria atividade laborativa, se adequa (sic) perfeitamente à finalidade do instituto.

III. Sendo um dos objetivos da lei, ao instituir a remição, incentivar o bom comportamento do sentenciado e a sua readaptação ao convívio social, a interpretação extensiva se impõe in casu, se considerarmos que a educação formal é a mais eficaz forma de integração do indivíduo a sociedade.

IV. Recurso desprovido" (RESP nº 455.942/RS;25/08/2003)

"Remição. Freqüência em aulas de alfabetização. Possibilidade. Interpretação extensiva do art. 126 da Lei de Execução Penal. Recurso desprovido

A Lei de Execuções Penais previu a remição como maneira de abreviar, pelo trabalho, parte do tempo de condenação.

A interpretação extensiva ou analógica do vocábulo ‘trabalho’, para abarcar também o estudo, longe de afrontar o caput do art. 126 da Lei de Execução Penal, lhe deu, antes, correta aplicação, considerando-se a necessidade de se ampliar, no presente caso, o sentido ou alcance da lei, uma vez que a atividade estudantil, tanto ou mais que a própria atividade laborativa, se adequa (sic) perfeitamente à finalidade do instituto.

Sendo um dos objetos da lei, ao instituir a remição, incentivar o bom comportamento do sentenciado e sua readaptação ao convívio social, a interpretação extensiva se impõe in casu, se considerarmos que a educação formal é a mais eficaz forma de integração do indivíduo à sociedade.

Recurso desprovido.

(Resp. nº 445/942/RS, 5ª Turma, rel. min. Gilson Dipp, j. 10.06.03, v.u., DJU 25.08.03, P. 352)."

Sendo assim, é de se admitir que a remição pelo estudo demonstra o quão é benéfica ao preso, no regime fechado ou semi-aberto, e principalmente à sociedade, a sua aplicação, readaptando-o ao habitat social, numa plena e harmônica interação de convívio e permanência.

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