56552680 a Sindrome Do Blefarocalasio

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ISSN 0034-7280

Revista Brasileira de

OftalmologiaPUBLICAO OFICIAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIAPublicao bimestral Publicao bimestral vol. 65 - n 3 - Maio/Junho 2006

Ndulo coroidiano tuberculoso em paciente HIV positivo

Indexada na

LILACS

Revista Brasileira de

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ISSN 0034-7280

OftalmologiaPUBLICAO OFICIAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA

Indexada na LILACSDisponvel eletronicamente no site: www.sboportal.org.br

Publicao bimestral

Rev Bras Oftalmol, v. 65, n. 3, p. 133-194, Mai/Jun 2006

Editor Chefe Raul N. G. Vianna - Niteri - RJ Co-editores Acacio Muralha Neto - Rio de Janeiro - RJ Arlindo Jos Freire Portes - Rio de Janeiro - RJ Marcelo Palis Ventura - Niteri - RJ Riuitiro Yamane - Niteri - RJ Corpo Editorial Internacional Baruch D. Kuppermann - Long Beach, CA, EUA Christopher Rapuano - Phyladelphia - EUA Howard Fine - Eugene - EUA Jean-Jacques De Laey - Ghent - Blgica Lawrence P. Chong - Califrnia - EUA Miguel Burnier Jr. - Montreal, Canad Peter Laibson - Phyladelphia - EUA Steve Arshnov - Toronto - Canad Corpo Editorial Nacional Adalmir Morter Dantas - Niteri - RJ Ana Luisa Hofling Lima - So Paulo - SP Antonio Augusto Velasco Cruz - Ribeiro Preto - SP Ari de Souza Pena - Niteri - RJ Armando Crema - Rio de Janeiro - RJ Carlos Alexandre de Amorin Garcia - Natal - RN Carlos Augusto Moreira Jr. - Curitiba - PR Carlos Souza Dias - So Paulo - SP Celso Marra Pereira - Rio de Janeiro - RJ Denise de Freitas - So Paulo - SP Edmundo Frota de Almeida Sobrinho - Belm - PA Eduardo Cunha de Souza - So Paulo - SP Eduardo Marback - Salvador - BA Fernando Cancado Trindade - Belo Horizonte - MG Flavio Rezende Dias - Rio de Janeiro - RJ Francisco de Assis B Cordeiro - Recife - PE Francisco Grupenmacher - Curitiba - PR Francisco Valter da Justa Freitas - Fortaleza - CE Giovanni Colombini - Rio de Janeiro - RJ Guilherme Herzog - Rio de Janeiro - RJ Helena Parente Solari - Niteri - RJ Henderson Almeida - Belo Horizonte - MG Hilton Arcoverde G. de Medeiros - Braslia - DF

Homero Gusmo de Almeida - Belo Horizonte - MG Italo Mundialino Marcon - Porto Alegre - RS Jac Lavinsky - Porto Alegre - RS Joo Borges Fortes Filho - Porto Alegre - RS Joao Luiz Lobo Ferreira - Florianoplis - SC Joo Orlando Ribeiro Gonalves - Teresina - PI Joaquim Marinho de Queiroz - Belm - PA Jose Ricardo Carvalho L. Rehder - So Paulo - SP Laurentino Biccas Neto - Vitria - ES Leiria de Andrade Neto - Fortaleza - CE Liana Maria V. de O. Ventura - Recife - PE Manuel Augusto Pereira Vilela - Porto Alegre - RS Maurcio Bastos Pereira - Rio de Janeiro - RJ Marcio Bittar Nehemy - Belo Horizonte - MG Marco Rey - Natal - RN Marcos vila - Goiania - GO Maria de Lourdes Veronese Rodrigues - Ribeiro Preto - SP Maria Rosa Bet de Moraes Silva - Botucatu - SP Mario Martins dos Santos Motta - Rio de Janeiro - RJ Mrio Monteiro - So Paulo - SP Mariza Toledo de Abreu - So Paulo - SP Miguel ngelo Padilha - Rio de Janeiro - RJ Milton Ruiz Alves - So Paulo - SP Nassim Calixto - Belo Horizonte - MG Newton Kara-Jos - So Paulo - SP Octvio Moura Brasil - Rio de Janeiro - RJ Paulo Augusto de Arruda Mello - So Paulo - SP Paulo Schor - So Paulo - SP Remo Susana Jr - So Paulo - SP Renato Ambrsio Jr. - Rio de Janeiro - RJ Renato Curi - Niteri - RJ Roberto Lorens Marback - Salvador - BA Rubens Camargo Siqueira - So Joo do Rio Preto - SP Sebastio Cronemberger - Belo Horizonte - MG Silvana Artioli Schellini - Botucatu - SP Suel Abujmra - So Paulo - SP Tadeu Cvintal - So Paulo - SP Valnio Peres Frana - Belo Horizonte - MG Virglio Centurion - So Paulo - SP Walton Nos - So Paulo - SP Wesley Ribeiro Campos - Passos - MG Yoshifumi Yamane - Rio de Janeiro - RJ

Redao: Rua So Salvador, 107 Laranjeiras CEP 22231-170 Rio de Janeiro - RJ Tel: (0xx21) 2557-7298 Fax: (0xx21) 2205-2240 Tiragem: 5.000 exemplares Edio: Bimestral Editorao Eletrnica: Marco Antonio Pinto DG 25341RJ Publicidade: Sociedade Brasileira de Oftalmologia Responsvel: Joo Diniz Reviso: Eliana de Souza FENAJ-RP 15638/71/05 Normalizao: Edna Terezinha Rother Assinatura Anual: R$240,00 ou US$210,00

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Revista Brasileira de OftalmologiaRua So Salvador, 107 - Laranjeiras - CEP 22231-170 - Rio de Janeiro - RJ Tels: (0xx21) 2557-7298 / 2205-7728 - Fax: (0xx21) 2205-2240 - e-mail: [email protected] - www.sboportal.org.brRevista Brasileira de Oftalmologia, ISSN 0034-7280, uma publicao bimestral da Sociedade Brasileira de Oftalmologia

Diretoria da SBO 2005-2006Presidente Yoshifumi Yamane Vice-presidente Luis Carlos Pereira Portes Vice-presidentes regionais Edna Almodin Marcos vila Roberto Lorens Marback Sebastio Cronemberger Secretrio geral Octvio Moura Brasil 1 Secretrio Aderbal de Albuquerque Alves Jr. 2 Secretrio Eduardo Frana Damasceno Tesoureiro Eduardo Takeshi Yamane Diretor de Cursos Armando Stefano Crema Diretor de Publicaes Raul N. G. Vianna Diretor de Biblioteca Gilberto dos Passos Conselho Consultivo Adalmir Morter Dantas Carlos Fernando Ferreira Flavio Rezende Morizot Leite Filho Oswaldo Moura Brasil Paulo Csar Fontes Conselho Fiscal Celso Kljenberg Luiz Alberto Molina Tnia Mara Schaefer Suplentes Antonio Luiz Zangalli Isabel Flix Lizabel Gemperli

SOCIEDADES FILIADAS A SOCIEDADE BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIAAssociao Brasileira de Banco de Olhos e Transplante de Crnea Presidente: Dr. Paulo Andr Polisuk Associao Matogrossense de Oftalmologia Presidente: Dra. Maria Regina Vieira A. Marques Associao Pan-Americana de Banco de Olhos Presidente: Dr. Elcio Hideo Sato Associao Paranaense de Oftalmologia Presidente: Dra. Tania Mara Schaefer Associao Sul Matogrossense de Oftalmologia Presidente: Dra. Cristina Rebello Hilgert Associao Sul-Mineira de Oftalmologia Presidente: Dr. Roberto Pinheiro Reis Sociedade Alagoana de Oftalmologia Presidente: Dr. Everaldo Lemos Sociedade Brasileira de Administrao em Oftalmologia Presidente: Dra. Edna Emilia G. da M. Almodin Sociedade Brasileira de Catarata e Implantes Intra-oculares Presidente: Dr. Homero Gusmo Sociedade Brasileira de Cirurgia Plstica Ocular Presidente: Dra. Ana Estela Besteti P. P. SantAnna Sociedade Brasileira de Cirurgia Refrativa Presidente: Dr. Carlos Heler Diniz Sociedade Brasileira de Ecografia em Oftalmologia Presidente: Dr. Celso Klejnberg Sociedade de Oftalmologia do Amazonas Presidente: Dr. Manuel Neuzimar Pinheiro Junior Sociedade Capixaba de Oftalmologia Presidente: Dr. Jos Geraldo Viana Moraes Sociedade Catarinense de Oftalmologia Presidente: Dr. Otvio Nesi Sociedade Goiana de Oftalmologia Presidente: Dr. Solimar Moiss de Souza Sociedade Maranhens e de Oftalmologia Presidente: Dr. Mauro Csar Viana de Oliveira Sociedade de Oftalmologia da Bahia Presidente: Dr. Eduardo Marback Sociedade de Oftalmologia do Cear Presidente: Dr. Fernando Antnio Lopes Furtado Mendes Sociedade Norte Nordeste de Oftalmologia Presidente: Dr. Mauro Csar Oliveira Sociedade de Oftalmologia do Nordes te Mineiro Presidente: Dr. Mauro Csar Gobira Guimares Sociedade de Oftalmologia de Pernambuco Presidente: Dr. Theophilo Freitas Sociedade de Oftalmologia do Rio Grande do Norte Presidente: Dr. Israel Monte Nunes Sociedade de Oftalmologia do Rio Grande do Sul Presidente: Dr. Afonso Reichel Pereira Sociedade Paraibana de Oftalmologia Presidente: Dr. Ivandemberg Velloso Meira Lima Sociedade Paraense de Oftalmologia Presidente: Dr. Ofir Dias Vieira Sociedade Sergipana de Oftalmologia Presidente: Dr. Joel Carvalhal Borges

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Fundada em 01 de junho de 1942 CODEN: RBOFA9 Indexada na LILACSDisponvel eletronicamente no site: www.sboportal.org.brPublicao bimestral Rev Bras Oftalmol, v. 65, n.3, p. 133-194, Mai/Jun. 2006

Sumrio - ContentsEditorial136 Universidades, oftalmologia e linhas de pesquisaSuel Abujamra

Artigos originais139 A sndrome do blefarocalsio The blefpharochalasis syndromeSergio Lessa, Roberto Sebasti, Marcelo Nanci, Eduardo Flores, Marcos Sforza

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Ectrpio palpebral: caractersticas e relao com alteraes culo-palpebrais Palpebral ectropion: characterisitics and related eyelid and ocular alterationsCarlos Eduardo dos Reis Veloso, Silvana Artioli Schellini, Carlos Roberto Padovani, Carlos Roberto Pereira Padovani

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Anlise das dacriocistorrinostomias endonasais realizadas no Hospital de So Jos Homero de Miranda Gomes no perodo de 1999 a 2001 Analysis of the endonasal dacryocystorhinostomies operated at Hospital Regional de So Jos Homero de Miranda Gomes in the period between 1999 and 2001Iara da Rosa Mendes, Astor Grumann Junior, Eduardo Stefani, Franciele Vegini, Rafael Allan Oechsler

157

A biometria em olhos com comprimento axial mdio: estudo comparativo de trs frmulas e a previsibilidade refracional Biometry in medium eyes: the previsibility of three formulasAugusto Cezar Lacava, Maria Jos Carrari, Virgilio Centurion

162

A biometria em olhos hipermtropes: estudo comparativo de trs frmulas e sua previsibilidade refracional Biometry in high hyperopic eyes: the previsibility of three formulasAugusto Cezar Lacava, Virgilio Centurion

167

Vitrectomia na endoftalmite infecciosa: complicaes e prognstico visual Vitrectomy in infeccious endophthalmitis: complications and visual outcomeMrcia Moreira Godoy, Gledson Douglas Pigosso, Srgio Luiz Kniggendorf

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Estudo epidemiolgico das alteraes oculares e suas repercusses visuais em portadores do vrus HIV na era ps-HAART Epidemiological study of ocular manifestations and its visual repercussions in HIV serapositive patients in the post-HAARTRenata Malvezzi Maldonado, Haroldo Vieira de Moraes Junior

177

Causas de baixa viso na Fundao Catarinense de Educao Especial Low vision causes at Fundao Catarinense de Educao EspecialEduardo Moritz dos Santos, Franciele Vegini

Relato de caso181 Ectasia corneana ps-lasik Corneal ectasia after lasikVincius da Silva Varandas, Tatiana Nemer Vieira, Kahlil Ruas Ribeiro Mendes, Jos Guilherme Pecego, Georges Baikoff

186

Melanoma da vea: documentao de progresso rpida para necrose com panoftalmite e extenso extra-escleral Uveal melanoma: documented progression to necrosis with panophthalmisEduardo Ferrari Marback, Ricardo Danilo Chagas, Carolina Miranda Paranhos Silva, Iluska Fagundes Andrade, Roberto Lorens Marback

Artigo de reviso191 Ultra-estrutura do vtreo humano Human vitreous structure by scanning microscopyRoberto Abdalla Moura

Instrues aos autores193 Normas para publicao de artigos na RBO

EDITORIAL

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Universidades, oftalmologia e linhas de pesquisa

A

universidade uma instituio de ensino superior que compreende um conjunto de faculdades, escolas, disciplinas ou servios cujo objetivo conservar, gerar, expandir e transmitir o conhecimento para o bemestar da sociedade. um dos patrimnios mais importantes de uma nao, pois comumente os egressos da universidade so os que dirigem o pas, os estados, as cidades, as empresas, as instituies, enfim todo o sistema produtivo de bens e servios que geram o conforto e a segurana para o povo. O investimento no ensino superior pblico de boa qualidade algo que todos os pases desenvolvidos fazem e continuam a fazer, porque disso depende a manuteno de sua vitalidade cientfica, tecnolgica, econmica e cultural. No Brasil, esse investimento no apenas necessrio: prioritrio. O Brasil desponta como uma das economias mais pujantes e sem dvida as inteligncias forjadas nas universidades criaram e mantm essa situao. O ideal seria que as universidades fossem pblicas, isto , financiadas pelo governo, porm, infelizmente no Brasil, cerca de 2/3 do sistema de ensino superior de natureza privada. aqui onde acontece o maior desvirtuamento de objetivos, pois a gerao do conhecimento compromete o resultado financeiro das instituies, comprometendo tambm a pesquisa cientfica por seus altos custos. A formao do professor e do pesquisador condensada nos cursos de ps-graduao senso lato (residncia) e senso estrito (mestrado e doutorado). Esses cursos em oftalmologia acontecem nas universidades pblicas. Em oftalmologia a ps-graduao senso lato feita por meio de 54 cursos de especializao, credenciados pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), com a soma de 319 vagas. Outros 98 servios credenciados, tambm pelo Ministrio da Educao, somam cerca de 1004 vagas. O exato nmero de vagas em operao necessita ser apurado. Os cursos de ps-graduao (Mestrado e Doutorado) mais procurados so os da Universidade Federal de So Paulo (UNIFESP), Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo (FMUSP), Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto (FMURP), Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro (FMRJ), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista (FMUNESP). Pelas informaes que dispomos, gentilmente cedidas pelo prof. Harley Bicas, a primeira defesa de tese de doutoramento foi apresentada e sustentada publicamente perante a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, no dia 17 de dezembro de 1845, por Bento Jos Martins, com o tema: Dissertao sobre a Operao do Estrabismo. Essas teses eram necessrias para validao do diploma de Doutor em Medicina. Por informaes que obtivemos de vrias faculdades, consta que, em 1916, Edilberto Campos defendeu sua tese na Faculdade de Medicina de Minas Gerais com o tema: Tuberculose Ocular e seu tratamento com tuberculina. Em 1934, Durval Prado defendeu sua tese Diatermo coagulao no tratamento das conjuntivitis granulosas na Universidade de So Paulo. Seguiu-se ento uma histria rica de defesa de teses para professores catedrticos, livres docentes, doutores e mestres que se acentuaram mais a partir da dcada de 70. Houve um incremento e aperfeioamento dos cursos de ps-graduao em oftalmologia (So Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paran e Rio Grande do Sul). A somatria de teses defendidas em oftalmologia chega ao expressivo nmero de cerca de 916, sendo 341 de Mestrado, 523 de Doutorado e 52 de livre docncia (perodo 19162005), perfazendo um total de 641, somente no perodo de 1986-2002. V-se a fora de pesquisa de nossas instituies oftalmolgicas. Fazendo uma anlise dos temas pesquisados e perfil das reas de atuao dos candidatos, com muita freqncia pode-se observar ou uma certa falta de familiaridade entre ambos (assunto e autor) ou aplicabilidade prtica imediata. Esses fatos se devem muitas vezes que os colegas no desejo de um ttulo universitrio (mestre, doutor ou livre docente) procurem temas de fcil acesso para pesquisa e que resultem em teses fechadas, resistentes a crticas da metodologia. No se tirem da universidade as pesquisas avanadas nem a busca de novos conhecimentos. Nem o pas pode abrir mo de estudar as novas tecnologias para tentar se incorporar prxima onda, mas elas devem fazer parte de um contexto de um projeto, da fase de uma estratgia para se chegar a um objetivo desejado. Pesquisas isoladas, sem

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Universidades, oftalmologia e linhas de pesquisa

continuidade de outras pesquisas, fazem parte da falta de linhas de pesquisa dos servios a que pertencem o candidato ou ao curso de ps-graduao. Nesse campo, a relao esforo investido versus resultado alcanado, nem sempre atende s necessidades prioritrias da sociedade. Como sabemos, a pesquisa cara em tempo e custos e, infelizmente, quem usualmente a financia, aqui no Brasil, principalmente o autor. Muitas vezes, a despeito da competente e trabalhosa metodologia, ficamos questionando o benefcio imediato dos resultados para a prtica oftalmolgica tanto na rea de diagnose, terapia ou cirurgia. Pesquisas clnicas ou cirrgicas sobre os vrios tipos de doenas so altamente bem-vindas, pois elas agregam e expandem o conhecimento naquele assunto. claro que pesquisas em imunologia, histologia, histoqumica, anatomia, ensaios laboratoriais, dosagens enzimticas, componentes qumicos no globo ocular e doenas raras tambm so relevantes, porm s vezes sua aplicabilidade imediata fica questionada. Devemos prestigiar tambm pesquisas de elevada relevncia social, como tcnicas na incluso do deficiente visual no mercado de trabalho, preveno e correo de seqelas de traumas, uvetes, processos degenerativos, distrofias, estudos regionais de carncia de assistncia oftalmolgica, estratgias de interiorizao e universalizao de preveno de cegueira, assistncia oftalmolgica tanto clnica quanto cirrgica. Essa objetividade se alcana por meio de projetos especficos e consensuais, linhas de pesquisa, questionamentos da medicina baseada em evidncias, metanlises, etc... das vrias disciplinas, departamentos e perfis dos cursos de ps-graduao. A instituio deve ter suas reas de maior atuao e investir em pesquisas de temas que mais dominem para que os resultados das pesquisas sejam melhor aproveitados. Os titulares e corpo docente, e orientadores de ps-graduao das instituies de ensino e pesquisa devem ter isto em mente, pois facilita muito ao candidato investigar um tema proposto pela direo da ps-graduao ou orientador e o resultado da pesquisa j integrada com uma linha ou projeto de pesquisa da ps-graduao. Sem dvida alguma ser mais profcua para a oftalmologia brasileira. Suel Abujamra

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A sndrome do blefarocalsioThe blepharochalasis syndromeSergio Lessa , Roberto Sebasti , Marcelo Nanci , Eduardo Flores , Marcos Sforza1 2 3 4 5

RESUMOA sndrome do blefarocalsio uma desordem incomum que inicialmente pode se manifestar numa faixa etria mais jovem, especialmente na puberdade, sendo caracterizada por episdios recorrentes de edema periorbitrio os quais, com o passar dos anos, levam s alteraes das estruturas de suporte palpebral, determinando uma srie de sinais caractersticos: redundncia de pele palpebral que se torna progressivamente mais fina e enrugada, pseudo-epicanto, desinsero do tendo cantal lateral, blefaroptose, atrofia de bolsas palpebrais e uma pigmentao cutnea peculiar com tonalidade bronze. As alteraes palpebrais podem ser divididas em duas fases: Fase inicial (intumescente ou de edema) caracterizada por episdios recorrentes de edema palpebral e uma fase tardia (quiescente ou crnica), onde a atrofia cutnea se destaca. O tratamento cirrgico se impe com necessidade de reposicionamento e muitas vezes, reconstruo palpebral. Diante dos inmeros achados clnicos e alteraes anatmicas da sndrome, torna-se imprescindvel sua diferenciao com o dermatocalsio constitudo por redundncia cutnea palpebral que se desenvolve como parte do processo de envelhecimento facial, freqentemente acompanhada de protuso de bolsas de gordura que resulta em pseudoptose para o correto planejamento cirrgico para o tratamento adequado de condies distintas. A partir da avaliao de 34 pacientes, 28 dos quais submetidos ao tratamento cirrgico, os autores caracterizam a sndrome, diferenciam-na adequadamente do dermatocalsio e sugerem a conduta cirrgica adequada para esta condio. Descritores: Blefaroptose/fisiopatologia; Blefaroptose/cirurgia; Tecido elstico/patologia; Edema/complicaes; Sndorme; Adolescente1

Professor assistente do curso de Ps-Graduao Mdica PUC, Rio de Janeiro (RJ) e Instituto de Ps-Graduao Mdica Carlos Chagas, 38 enfermaria da Santa Casa da Misericrdia do Rio de Janeiro (servio Prof. Ivo Pitanguy); chefe do departamento de plstica ocular da 1 Enfermaria da Santa Casa da Misericrdia do Rio de Janeiro (servio Prof. Paiva Gonalves) Rio de Janeiro (RJ) Brasil; 2 Professor assistente do curso de ps-graduao Mdica PUC, Rio de Janeiro (RJ) e Instituto de Ps-Graduao Mdica Carlos Chagas, 38 Enfermaria da Santa Casa da Misericrdia do Rio de Janeiro (servio Prof. Ivo Pitanguy); Professor adjunto do departamento de plstica ocular do servio de oftalmologia do Hospital Universitrio Antnio Pedro Universidade Federal Fluminense; Rio de Janeiro (RJ) Brasil; 3 Cirurgio membro do departamento de plstica ocular da 1 Enfermaria da Santa Casa da Misericrdia do Rio de Janeiro (servio Prof. Paiva Gonalves); Rio de Janeiro (RJ) Brasil; 4 Professor assistente do curso de ps-graduao mdica PUC, Rio de Janeiro e Instituto de Ps-Graduao Mdica Carlos Chagas, 38 Enfermaria da Santa Casa da Misericrdia do Rio de Janeiro (servio Prof. Ivo Pitanguy); Cirurgio membro do departamento de plstica ocular da 1 Enfermaria da Santa Casa da Misericrdia do Rio de Janeiro (servio Prof. Paiva Gonalves); Rio de Janeiro (RJ) Brasil; 5 Auxiliar de ensino do curso de ps-graduao mdica PUC, Rio de Janeiro e Instituto de Ps-Graduao Mdica Carlos Chagas, 38 Enfermaria da Santa Casa da Misericrdia do Rio de Janeiro (servio Prof. Ivo Pitanguy); Cirurgio membro do departamento de plstica ocular da 1 Enfermaria da Santa Casa da Misericrdia do Rio de Janeiro (servio Prof. Paiva Gonalves); Membro especialista da SBCP - Rio de Janeiro (RJ) Brasil. Clnica Pr-Oftalmo Rua lvaro Ramos, 560 Botafogo CEP 22280-110 Rio de Janeiro (RJ) - Brasil Recebido para publicao em: 10/03/06 - Aceito para publicao em 27/04/06

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Lessa S, Sebasti R, Nanci M, Flores E, Sforza M

INTRODUOfreqente a confuso envolvendo os termos blefarocalsio e dermatocalsio na literatura mdica, sendo ambos equivocadamente utilizados para designar flacidez cutnea palpebral com bolsas volumosas. A sndrome do blefarocalsio uma condio incomum caracterizada por ataques agudos e recorrentes de edema periorbitrio seguidos a longo prazo por alteraes anatmicas e funcionais que levam ao rela(1) xamento dos tecidos palpebrais . O termo blefarocalsio, originrio do grego, significa plpebra frouxa tendo sido a condio clnica, inicialmente descrita por Beer, em 1817, e Fuchs, em 1896 (2), o primeiro a utilizar este termo para designar tal condio apresentada como um edema palpebral superior idioptico, associado ao adelgaamento da pele e vrias outras seqelas. Desde ento, surgiram inmeros relatos dos achados clnicos e patolgicos relacionados sndrome. A alterao foi inicialmente descrita nos EUA (3) por Weidler , em 1913, se manifestando em jovens, especialmente na puberdade(4-5), afetando ambos os sexos igualmente, podendo ser uni ou bilateral, acometendo somente 1 ou at as 4 plpebras. Aps episdios de edema recorrente, que tendem a diminuir com o passar do tempo, alteraes permanentes gradualmente se estabelecem, podendo-se separar esta condio em uma forma atrfica (Figuras 3 e 4) e outra hipertrfica (Figuras 1 e 2). Vrios relatos cientficos tm enfatizado diferentes caractersticas da sndrome do blefarocalsio(4-9). Observa-se um adelgaamento significativo da pele palpebral com intensas rugas finas, conferindo pele um aspecto de papel amassado, flacidez progressiva do septo orbitrio, levando precocemente a protuso de bolsas palpebrais que, com a progresso do quadro, pode apresentar atrofia resultando em formao de pseudo(4,6-7) epicanto . Uma pigmentao bronze da pele palpebral peculiar com o avanar do processo(4,5,7), podendo ainda observar-se prolapso de glndula lacrimal com algum grau de proptose, assim como desinsero do tendo cantal lateral com conseqente diminuio da fissura palpebral e arredondamento do olho (4-5). Este estudo tem por objetivo estabelecer a adequada caracterizao da sndrome do blefarocalsio, apresentando suas caractersticas clnicas, anatmicas e histopatolgicas, sua correta diferenciao do dermatocalsio e sua abordagem cirrgica.

MTODOSTrinta e quatro pacientes foram clinicamente diagnosticados como sendo portadores da sndrome do blefarocalsio, entre 1990 e 2005, sendo 28 submetidos a tratamento cirrgico. Todos os pacientes apresentavam histria de episdios recorrentes de edema periorbitrio, associados ao adelgaamento de pele palpebral e surgimento progressivo de inmeros outros achados clnicos. A idade dos pacientes variou de 11 a 74 anos. Em 6 pacientes (17,6%), os episdios de edema recorrentes se iniciaram aps os 10 anos de idade; em 14 pacientes (41,1%), entre 10 e 20 anos de idade; e em 10 pacientes (29,4%), entre 21 e 45 anos de idade. Quatorze pacientes (41,1%) eram do sexo masculino e 20 pacientes (58,9%) do sexo feminino. Vinte e sete pacientes (79,4%) relataram algum tipo de alergia como rinite, asma brnquica ou alergia cutnea. A frequncia e durao dos episdios de edema foram difceis de ser avaliada, porm, uma caracterstica freqente foi o aparecimento de eritema palpebral durante a fase de edema.

RESULTADOSPoucos casos foram tratados com anti-histamnicos, esterides sistmicos e locais, sem resultados efetivos. A maioria relatou alvio dos sinais com compressas geladas durante a fase de edema. Vinte e oito pacientes foram submetidos a tratamento cirrgico alguns meses aps o ataque de edema palpebral. O procedimento cirrgico adotado foi uma blefaroplastia com resseco cutnea, grande resseco de musculatura orbicular pr-septal e tratamento das bolsas gordurosas, sendo em 12 casos (42,8%) associada correo de ptose palpebral (Figuras 5A e 5B). Em todos os casos, optamos por realizar fixao supratarsal para pequena elevao do sulco palpebral superior e obteno de simetria dos sulcos. Cantopexia ou cantoplastia eventual foi utilizada nos casos de alteraes do ligamento cantal lateral. Em 1 caso (3,6%) houve necessidade de nova blefaroplastia, 2 anos aps, para resseco de redundncia cutnea lateral nas plpebras superiores. Os resultados foram considerados efetivos para a grande maioria dos casos (Figuras 5A, 5B, 5C, 5D, 6A, 6B, 6C e 6D), considerando-se que em apenas 1 paciente (3,6%) foi necessrio reinterveno cirrgica.A evoluo ps-operatria de regresso do edema lenta, em alguns casos estendendo-se por vrios meses (Figuras 7A, 7B, 7C, 7D).

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Figu ra 1: Blefarocalsio em pacien te d o sexo femin ino com 19 anos; Edema mais acentuado direita

Figura 2: Blefaro calsio em paciente do s exo feminino com 24 anos; Fase h ipertrfica; Grande edema das plpebras superiores

Figu ra 3: Blefarocalsio em pacien te d o sexo femin ino com 56 anos; Fase Atrfica; Grande adelgaamento cutneo e p tose palpebral

Figura 4: Blefarocalsio em paciente do sexo feminino com 58 anos; Aspecto apergaminhado da pele; Alterao dos ligamentos cantais laterais

Figura 5A: Blefarocalsio associado ptos e palpebral e blefarofimose em paciente do sexo feminino, com 73 anos de idade

Fig ura 5B: P s-operatrio; Blefaroplas tia s uperior com remo o d e tecido cutneo alterado, g rande resseco de musculatu ra pr-septal infiltrada, remoo de bolsas gordurosas mediais e fixao supratarsal; Blefarop las tia in ferio r trans con ju ntiv al para retirada das bo ls as g ordurosas seguid a de cantopexia lateral

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Figura 5C: Pr-operatrio

Figura 5D: P s-operatrio

Figu ra 6A: Blefarocals io em p acien te d o sex o feminin o, co m 3 7 anos de idade

Figura 6B: Ps-operatrio ; Blefaroplastia superior com remoo de tecido cutneo alterado, grand e resseco de musculatura p r-septal infiltrada, remoo de bolsas gordurosas mediais e fixao supratarsal; Blefarop las tia inferior co m dup lo acess o - tran scon ju ntiv al para retirada das bo lsas gorduros as e transcutnea su bciliar com retalho cutneo para resseco de pele pr-tarsal e susp enso mu scular

Figura 6C: Pr-operatrio

Figura 6D: P s-operatrio

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Figura 7A: Blefarocalsio em paciente d o sexo masculino, com 18 anos ; Aspecto de pele apergaminhada com edema residual h meses

Fig ura 7 B: Ps -o perat rio; Correo asso ciad a d e p tose palp ebral e fixao supratars al para formao do sulco palpebral superior

Figura 7C: Pr-op erat rio

Fig ura 7D: Ps -o peratrio

Figura 8: His topatologia de fragmento p alpebral sup erior Atrofia epidrmica com retificao da camada bas al (HE - 400X)

Figura 9: Histopatologia; Derme reticu lar com infiltrado perivascu lar e perianexial fibras colgenas separadas e paralelas superfcie (HE 20 0X)

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Figura 10: Histo patolog ia; Corte transversal mo strando degenerao muscular em vrios graus e fibrose endoperimisial (HE 400X)

Figura 11: His topatologia; Degenerao de micitos em graus variados (HE 40 0X)

Figura 1 2: Dermatocalsio em p acien te do sexo feminino, co m 6 8 anos de idade; Redundncia cutnea palpebral decorrente do process o de envelhecimento facial associad a protuso de b olsas de gordura

Figura 1 3: His topatologia; Histop atologia d e pele palp ebral s uperior apresentando derme e epiderme sem alteraes profundas compatveis co m dermato calsio (Tricrmico de Gomori 20 0X)

Figura 14: Dermatocalsio ; Fragmento d e pele palpebral s uperior e ms culo orbicular pr-septal sem anormalidad es (HE 2 00X)

A histopatologia dos tecidos removidos mostrou uma srie de alteraes compatveis com blefarocalsio. As alteraes cutneas revelam epiderme com focos de hiperqueratose e extensas reas de atrofia, como apresentado pelos trabalhos de Custer (5) e Collin (6), com retificao da camada basal resultante do apagamento das papilas (Figura 8). A derme papilar apresenta-se fibrosada com fibroplasia e infiltrado linfohistiocitrio perivascular. A derme reticular exibe fibrose com diminuio das fibras elsticas em sua poro superior e edema nas pores mdia e profunda. Massa de fibras elastticas tortuosas, espessadas e basoflicas paralelas superfcie, bem como infiltrado linfo-plasmocitrio perivascular e perianexial so achados rotineiros (Figura 9).

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A sndrome do blefarocalsio

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As alteraes musculares so bastante relevantes, observando-se sinais de comprometimento muscular crnico pela fibrose de algumas regies endomisiais e perimisiais (Figura 10). Os cortes histolgicos revelam tecido conjuntivo fibroso com fibras musculares esquelticas, ora isoladas, ora formando feixes por entre zonas hemorrgicas onde o depsito de hemossiderina evidente. Infiltrado mononuclear e atrofia individual de algumas fibras que acumulam seus ncleos em escasso citoplasma at a sua atrofia total so evidncias da degenerao muscular em graus diversos que incluem aumento de dimetro e hialinizao ou o seu desaparecimento com a formao de sacos nucleares (Figura 11).

DISCUSSOAs causas da sndrome do blefarocalsio so ainda desconhecidas. Os ataques recorrentes de edema palpebral podem se desenvolver em qualquer idade, afetarem ambos os sexos e apresentarem durao e freqencia variveis com resoluo espontnea, sendo (4-7) freqentemente considerados idiopticos .Alguns au(10) tores, como Benedict , sugerem um componente alrgi(2) co como desencadeante dos episdios agudos. Fuchs considera o angioedema como uma possvel causa da sndrome do blefarocalsio, porm no se aprofundando em sua avaliao. Presumivelmente uma reao urticariforme, que a reao fundamental na gnese do angioedema, levaria dilatao dos vasos acometidos na sndrome do blefarocalsio com extravasamento de fluido rico em protenas, levando ao edema palpebral. Uma infinidade de fatores influenciam no surgimento do angioedema tais como: fatores ambientais, imunolgicos, histria familiar de atopia, sendo que uma vez que o processo se prolongue por mais de 6 semanas, nenhuma causa especfica encontrada em 80 a 90% dos casos(11). (12) Em vista desses fatores, Jordan postula que a sndrome do blefarocalsio seja uma forma de angioedema crnico envolvendo a plpebra, onde os pacientes acometidos apresentaram um nmero aumentado de vasos responsivos em suas plpebras que se dilatariam transitoriamente com o estmulo adequado. Aps episdios repetidos, as alteraes clnicas se instalariam progressivamente. (4) (12) Langley et al. e Jordan , histopatologicamente, encontraram aumento significativo da vascularizao, com vasos de pequeno e mdio calibre e morfologia normais, no se observando perivasculite ou infiltrados focais, levando os autores a acreditarem que a sndrome

possa ser considerada uma doena vascular. A vermelhido cutnea palpebral, observada por ns durante a fase de edema, pode relacionar a etiologia do blefarocalsio com essas alteraes vasculares. (10) Benedict dividiu a alterao palpebral em intumescente ou estgio de edema, caracterizado por episdios recorrentes de edema palpebral e uma fase quiescente ou crnica, caracterizada por atrofia cutnea. (13) (5) Tenzel e Stewart e Custer et al. descreveram um estgio inicial seguido de outro que poderia ser hipertrfico ou atrfico. No estgio quiescente ou tardio no foram observados ataques de edema por um perodo de 2 anos ou mais (14). Todos os nossos pacientes no estgio quiescente apresentaram atrofia cutnea. Uma vez apresentadas as caractersticas clnicas, anatmicas e histopatolgicas da sndrome do blefarocalsio, torna-se de singular importncia sua adequada diferenciao do dermatocalsio, uma condio clnica constituda por redundncia cutnea palpebral que se desenvolve como parte do processo de envelhecimento facial, freqentemente acompanhada de protuso de bolsas de gordura que resulta em pseudoptose(13), no estando relacionada a episdios recorrentes de edema palpebral de etiologia desconhecida.

CONCLUSOA sndrome do blefarocalsio uma condio clnica complexa onde sua perfeita identificao torna-se imperiosa para o correto estabelecimento da conduta cirrgica a ser adotada que deve ser individualizada, voltando-se para a correo das inmeras alteraes estruturais apresentadas redundncia cutnea, ptose palpebral, alteraes cantais laterais, pseudo-epicanto necessitando freqentemente de procedimentos para reposicionamento e/ou reconstruo das estruturas palpebrais, que diferem da abordagem usual do dermatocalsio (Figuras 12, 13 e 14). A avaliao clnica e histolgica, a partir de 34 pacientes observados com a sndrome do blefarocalsio, permitiu sua perfeita diferenciao do dermatocalsio e o estabelecimento de condutas adequadas para cada caso, obtendo-se resultados satisfatrios, com uso correto da nomenclatura mdica.

SUMMARYThe blepharochalasis syndrome is an uncommon disorder that initially appears in young patients, specially in puberty, being characterized by recurrent episodes of

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Lessa S, Sebasti R, Nanci M, Flores E, Sforza M

periorbital swelling which, over the years, conduct to alterations in the palpebral support structure determining a group of characteristic signs and symptoms: palpebral skin redundance with progressive thinning and wrinkling, pseudoepicanthus, lateral canthal tendon desinsertion, blepharoptosis, lid bags atrophy and a peculiar bronze skin pigmentation. The palpebral alterations can be divided in two stages: Initial stage (intumescent or swelling) characterized by recurrent episodes of palpebral swelling and a late stage (quiescent or cronic) where atrophy is the landmark. Surgical treatment is imposed with palpebral repositioning and, sometimes, reconstruction. In face of the numerous clinical findings and anatomic modifications of the syndrome, its differentiation from dermatochalasis palpebral skin redundance that develops as part of the facial ageing process frequently accompanied by lid bags protrusion and pseudoptosis becomes of great importance for the correct surgical planning and treatment of distinct pathologies. Our study evaluated 34 patients, 28 were submitted to surgical correction of blepharochalasis, between 1990 and 2005, characterizing the syndrome, differentiating it from dermatochalasis adequately and proposing the proper surgical planning for this condition. Keywords: Blepharoptosis/physiopathology/ surgery; Elastic tissue/pathology; Edema/complications; Syndrome;Adolescent

3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11.

12.

13.

14.

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ENDEREO PARA CORRESPONDNCIA: Dr. Sergio Lessa Avenida Ataulfo de Paiva, 135 Cj. 1101 - Leblon CEP 22449-900 - Rio de Janeiro RJ Tel: (21) 2259-1245 Fax: (21) 2259-0099 E-mail: [email protected]

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Ectrpio palpebral: caractersticas e relao com alteraes culo-palpebraisPalpebral ectropion: characteristics and related eyelid and ocular alterationsCarlos Eduardo dos Reis Veloso , Silvana Artioli Schellini , Carlos Roberto Padovani , Carlos Roberto Pereira Padovani1 2 3 4

RESUMOObjetivo: Avaliar as caractersticas e as alteraes culo-palpebrais em portadores de ectrpio palpebral em nosso meio. Mtodos: Estudo retrospectivo, observacional, avaliando-se os dados demogrficos de 112 portadores de ectrpio, assim como as alteraes dos clios (triquase e distiquase), inflamaes da margem palpebral (blefarite, meibomite), hiperemia da conjuntiva bulbar, cor da ris e presena de ptergio. Tais caractersticas foram correlacionadas com o tipo de ectrpio adquirido (involucional, cicatricial, mecnico ou paraltico). Os dados foram avaliados, segundo a freqncia de ocorrncia. Resultados: A maioria dos portadores de ectrpio apresentava faixa etria entre 71 e 80 anos de idade. O ectrpio involucional foi o mais freqente (66,07%), seguido do cicatricial, mecnico, associao entre os tipos e paraltico. A maioria era do sexo masculino (70,53%), da raa branca. Foi observada a presena de triquase em 21,42% e distiquase em 4,46%, mais em portadores de ectrpio involucional. Houve associao importante com a blefarite, ocorrendo blefarite anterior em 100% e a posterior em 65,91% dos portadores de ectrpio involucional. Mais de 60% dos indivduos apresentaram hiperemia da conjuntiva bulbar, cor escura de ris (marrom em 63,39%) e ausncia de ptergio. Concluso: Na regio estudada, houve maior ocorrncia de ectrpio involucional, em idosos, do sexo masculino, cor da pele branca, com ris escura, tendo sido muito freqente o encontro simultneo de triquase, blefarite e hiperemia conjuntival nestes pacientes. Descritores: Ectrpio/epidemiologia; Doenas palpebrais

1

Ex-residente de oftalmologia Departamento de OFT/ORL/CCP Faculdade de Medicina de Botucatu UNESP Botucatu (SP) Brasil; 2 Professora livre-docente Departamento de OFT/ORL/CCP Faculdade de Medicina de Botucatu UNESP Botucatu (SP) Brasil; 3 Professor titular Departamento de bioestatstica Instituto de Biocincias UNESP Botucatu (SP) Brasil; 4 Ps-graduando Mestrado - Faculdade de Cincias Agronmicas UNESP Botucatu (SP) Brasil. Trabalho realizado na Faculdade de Medicina de Botucatu UNESP SP e apresentado como poster no XIV Congresso Brasileiro de Preveno da Cegueira e Reabilitao Visual, Fortaleza 2005. Recebido para publicao em: 10/03/06 - Aceito para publicao em 27/04/06

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INTRODUOtermo ectrpio se origina do grego e significa girar para fora (Ek = fora e Trope = girar). Esta afeco, muito mais comum na plpebra inferior, caracterizada pela everso da margem palpebral e acarreta exposio da crnea, conjuntiva bulbar e tarsal.(1) Com a resultante falta de contato entre a plpebra evertida e o bulbo ocular, as glndulas palpebrais (2) tornam-se ectsicas, acumulando suas secrees. Como conseqncia destes processos, pode ocorrer ceratite, conjuntivite crnica, blefarite (anterior e posterior) e hordolo. A exposio da conjuntiva tarsal pode levar a hipertrofia e ceratinizao da mucosa conjuntival. O ectrpio pode ser classificado como congnito e adquirido. Este ltimo pode ser subdividido em (1) involucional, cicatricial, mecnico e paraltico. O ectrpio involucional o tipo mais freqente. Vrios fatores esto envolvidos em sua gnese: flacidez dos ligamentos cantais medial e lateral, flacidez da pele e do msculo orbicular e a desinsero dos retratores da palpebral inferior.(3) O efeito da gravidade colabora para a everso palpebral. O ectrpio cicatricial o resultado do encurtamento da lamela anterior. Pode ocorrer em decorrncia de trauma (queimadura trmica ou qumica, seqela de blefaroplastia com resseco excessiva de pele) ou processo inflamatrio crnico da pele (eczema, dermatite atpica, (1) leishmaniose e linfoma cutneo de clulas T). O defeito pode ser localizado ou envolver toda a plpebra, sendo freqentemente observado em indivduos de pele bastante clara e que trabalham ao sol em regies ensolaradas. O ectrpio mecnico est relacionado presena de massa tumoral na margem palpebral. O ectrpio paraltico causado pela paralisia do VII par (nervo facial), condio esta tambm responsvel pelo lagoftalmo. As observaes na prtica diria mostram que o ectrpio uma leso muito encontrada em nosso pas,(4) provavelmente pelas condies climticas e tambm em decorrncia do aumento da sobrevida da populao. Apesar disso, poucos so os estudos que abordam o assunto, fazendo com que dados de prevalncia desta leso e suas conseqncias para o sistema culopalpebral, de acordo com o tipo de ectrpio, no sejam conhecidos. O objetivo do presente trabalho realizar uma anlise dos portadores de ectrpio palpebral, enfocando o tipo de ectrpio e as alteraes decorrentes desta afeco para a plpebra e superfcie ocular.

MTODOSForam avaliados retrospectivamente, 112 portadores de ectrpio que procuraram o servio de oftalmologia do Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina de Botucatu, entre os meses de janeiro a novembro de 2004. Os pacientes foram fotodocumentados, usando uma camera Nikon Colpix 5500. As imagens foram transferidas para um arquivo fotogrfico em computador McIntosh, ampliadas e avaliadas sempre pelo mesmo examinador (CERV), que analisou as seguintes caractersticas: sexo, idade, raa (obtidos atravs do estudo dos pronturios), alm de alteraes dos clios (triquase e distiquase), presena de blefarite (anterior e posterior), hiperemia da conjuntiva bulbar, cor da ris e ptergio (obtidos dos arquivos fotogrficos).Tais caractersticas foram correlacionadas com o tipo de ectrpio adquirido (involucional, cicatricial, mecnico ou paraltico). Tambm foram consideradas as associaes existentes entre estes tipos. Os dados foram submetidos avaliao estatstica, estudando-se a distribuio de freqncias do tipo de ectrpio, segundo as variveis de interesse.

O

RESULTADOSO tipo de ectrpio predominante foi o involucional (66,07%), seguido em ordem decrescente de freqncia de ocorrncia por cicatricial (16,96%), mecnico (8,92%), associaes entre os tipos (5,35%) e paraltico (2,67%). As seguintes associaes foram encontradas: involucional e mecnico; involucional e cicatricial; cicatricial e mecnico. A maioria dos portadores de ectrpio era do sexo masculino (70,53%), exceto os paralticos e as associaes (Grfico 1). Quanto cor da pele, houve predomnio significativo da branca em todos os tipos de ectrpio (Grfico 2), no havendo pardos ou orientais na amostra estudada. Com relao s alteraes dos clios, 21, 42% dos portadores de ectrpio apresentaram triquase e somente 4,46% distiquase. Houve predomnio das alteraes dos clios entre os que foram classificados como tipo involucional (Tabela 1). Metade dos portadores de ectrpio apresentava blefarite, principalmente presente no tipo involucional, quando todos possuam blefarite anterior e 65,91%, blefarite posterior (Tabela 2). Mais de 60% dos pacientes apresentavam hiperemia da conjuntiva bulbar no momento da primei-

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Grfico 1 Distribuio dos tipos de ectrpio de acordo com o sexo

Grfico 2 Distribuio dos tipos de ectrpio de acordo com a raa

ra consulta. Este sinal tambm foi mais freqente no tipo involucional (Tabela 3). A maior parte dos pacientes (63,39%) possuam ris de cor escura (marrom), o que predominou em quase todos os tipos de ectrpio (Tabela 4). A maioria dos pacientes no apresentou ptergio. Quando presente, este foi mais encontrado nos portadores de ectrpio involucional (Tabela 5). A maior parte dos pacientes eram idosos (entre 71 e 80 anos de idade). Em todas as faixas etrias o tipo predominante foi o involucional, com exceo dos pacientes entre 51 e 60 anos que apresentaram, em sua maioria, o tipo cicatricial (Grfico 3).

Grfico 3 Distribuio dos tipos de ectrpio de acordo com a idade

DISCUSSODentre as alteraes de posicionamento (4) palpebral, o ectrpio a condio mais freqente. Esta afeco se associa a alteraes da superfcie (2) ocular, o que torna necessrio o tratamento cirrgico para que exista sade para o olho externo. No presente estudo, assim como em um estudo (5) australiano, os homens apresentaram mais ectrpio involucional, o que pode estar relacionado com as di(3) menses do tarso que so maiores no sexo masculino. A presena do ectrpio pode refletir costumes da populao estudada. Em regies onde as mulheres no trabalham expostas ao sol, o ectrpio cicatricial pode ocorrer mais em homens. Entretanto, em nossa regio, o ectrpio cicatricial acometeu igualmente os dois sexos,

provavelmente porque as mulheres esto expostas aos mesmos riscos, exercendo atividades externas, tanto quanto os homens. Houve predomnio quase que absoluto do ectrpio em indivduos de pele branca, havendo apenas 1 caso de ectrpio involucional e 1 de ectrpio mecnico, envolvendo negros, no tendo sido encontrados casos de ectrpio em orientais ou pardos. Tal achado, em parte, pode ser explicado pelo predomnio de pele clara em nossa regio. E tambm porque os orientais tm maior (6) tendncia ao entrpio.

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Tabela 1 Distribuio dos tipos de ectrpio de acordo com as alteraes dos clios Tipo Involucional Clios Triquase 16 (66,67%) Distiquase 4 (80,00%) Ambos 1 (100,01500%) Ausente 53 (64,63%) Cicatricial 4 (16,67%) 1 (20,00%) 0 (0,00%) 14 (17,07%) Mecnico 3 (12,50%) 0 (0,00%) 0 (0,00%) 7 (5,56%) Tabela 2 Distribuio dos tipos de ectrpio de acordo com as blefarites Blefarite Anterior Posterior Ambas Ausente Tipo Involucional 5 (100,00%) 29 (65,91%) 3 (42,84%) 37 (66,07%) Cicatricial 0 (0,00%) 10 (22,73%) 1 (14,29%) 8 (14,29%) Mecnico 0 (0,00%) 2 (4,55%) 1 (14,29%) 7 (12,50%) Tabela 3 Distribuio dos tipos de ectrpio de acordo com hiperemia conjuntival Hiperemia Presente Ausente Tipo Involucional 42 (61,76%) 32 (72,72%) Cicatricial 14 (20,59%) 5 (11,36%) Mecnico 7 (10,29%) 3 (6,82%) Tabela 4 Distribuio dos tipos de ectrpio de acordo com a cor da ris ris Escura Clara Tipo Involucional 48 (67,70%) 25 (62,50%) Cicatricial 11 (15,49%) 8 (20,00%) Mecnico 7 (9,86%) 3 (7,50%) Tabela 5 Distribuio dos tipos de ectrpio de acordo com presena de ptergio Ptergio Presente Ausente Tipo Involucional 35 (70,00%) 39 (62,90%) Cicatricial 6 (12,00%) 13 (20,98%) Mecnico 5 (10,00%) 5 (8,06%) Paraltico 2 (4,00%) 1 (1,61%) Associao 2 (4,00%) 4 (6,45%) Total 50 62 Paraltico 2 (2,82%) 1 (2,50%) Associao 3 (4,23%) 3 (7,50%) Total 68 40 Paraltico 2 (2,94%) 1 (2,28%) Associao 3 (4,41%) 3 (6,82%) Total 68 44 Paraltico 0 (0,00%) 1 (2,27%) 1 (14,29%) 1 (1,79%) Associao 0 (0,00%) 2 (4,55%) 1 (14,29%) 3 (5,35%) Total 5 44 7 56 Paraltico 0 0 0 3 (0,00%) (0,00%) (0,00%) (3,65%) Associao 1 (4,16%) 0 (0,00%) 0 (0,00%) 5 (6,09%) Total 24 5 1 82

Na Austrlia, o ectrpio foi mais encontrado em (5) indivduos de ris clara. Entretanto, esta observao no se confirma em nosso meio e deve ser decorrente da maior miscigenao que existe no nosso pas. Com relao s alteraes dos clios, ocorrida em 25% dos pacientes, provavelmente so decorrentes das inflamaes palpebrais crnicas, como a meibomite e blefarite anterior, freqentemente associadas ao ectrpio(2)

A estase de secreo nas glndulas tarsais piorada pelo no contato da plpebra com o bulbo ocular, o que reduz a excreo das secrees e favorece a infeco. Uma alterao freqentemente presente em todos os tipos de ectrpio e de difcil quantificao, a ptose dos clios, que afeta tanto a plpebra superior, quanto a inferior. Mais de 60% dos pacientes deste estudo apresentavam hiperemia da conjuntiva bulbar. O

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posicionamento incorreto dos clios e as infeces da margem favorecem a instabilidade do filme lacrimal, a inflamao crnica da conjuntiva e da crnea e podem contribuir para a ocorrncia desse sinal. Alteraes oculares, como a pinguecula, foram (5) relacionadas ao ectrpio por outros. Tanto a pinguecula, como o ptergio so muito comuns em nosso meio, tendo sido detectado um nmero considervel de indivduos que apresentaram, concomitantemente, ectrpio e ptergio. Tambm aqui, as inflamaes da margem palpebral podem levar desestabilizao do filme lacrimal, fato que considerado uma das teorias para a (7) patognese do ptergio. O presente estudo mostrou relao positiva entre aumento da idade e presena de ectrpio, assim como tambm observado por outros.(5) As placas tarsais tm (3,8) tendncia a se atrofiar ou encolher com a idade, o que explica a maior prevalncia, tanto do ectrpio, quanto do entrpio, entre os idosos. Os achados de triquase, blefarite posterior, hiperemia conjuntival e ptergio foram mais freqentes em portadores de ectrpio do tipo involucional, o tipo mais comum de ectrpio em nosso meio. Uma possvel explicao para este fato que os demais tipos (cicatricial, mecnico e paraltico), geralmente esto associados a doenas ou leses que fazem com que o paciente procure ateno mdica mais rapidamente, impedindo que os achados citados, decorrentes da cronicidade do processo, se manifestem.

old. The involutional ectropion was the most frequently observed (66,07%), followed by the cicatricial, mechanic, associated types and paralytic. The majority of the patients were male (70,53%), with White skin. Trichiasis (21,42%) and distichiasis (4,46%) were associated to the ectropion eyelid and mainly in the involutional ectropion carriers. Half of the sample had blepharitis and the majority of the patients had red eye (60%) and brown iris (63,39%). Perygium was absent in the majority of the patients. Conclusion: The involutional ectropium is the most frequently observed in our region, mainly in elderly, male, White skin, brown iris and associated to trichiasis, blepharitis and red eyes. Keywords: Ectropion/epidemiology; Eyelid diseases

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2.

3.

4.

5.

CONCLUSOAvaliando uma populao de portadores de ectrpio, observou-se maior ocorrncia de ectrpio involucional, ocorrendo mais em idosos, do sexo masculino, de pele clara, com ris escura, tendo sido muito freqente o encontro simultneo de triquase, blefarite, meibomite e hiperemia conjuntival.6.

7.

8.

SUMMARYObjective: To evaluate the gender and the characteristics of the ectropion carriers in our region. Methods: A retrospective study was done evolving 112 ectropion carriers. The sex, race, eyelashes alterations (trichiasis and distichiasis), anterior and posterior blepharitis, conjunctival redness, ris color and pterygium presence were evaluated. Gender data were correlated to ectropion classification (involutional, cicatricial, mechanic or paralytic) and submitted to statiscal analysis. Results: The eyelid ectropion occurred more between 71 and 80 years

ENDEREO PARA CORRESPONDNCIA: Silvana Artioli Schellini DEP. OFT/ORL/CCP - Faculdade de Medicina de Botucatu - UNESP CEP 18618-970 - Botucatu - So Paulo E-mail: [email protected]

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ARTIGO ORIGINAL

Anlise das dacriocistorrinostomias endonasais realizadas no Hospital Regional de So Jos Homero de Miranda Gomes no perodo de 1999 a 2001Analysis of the endonasal dacryocystorhinostomies operated at Hospital Regional de So Jos Homero de Miranda Gomes in the period between 1999 and 2001Iara da Rosa Mendes , Astor Grumann Junior , Eduardo Stefani , Franciele Vegini , Rafael Allan Oechsler1 2 3 1 1

RESUMOObjetivo: Avaliar a efetividade da tcnica de dacriocistorrinostomia endonasal, analisar alteraes rinolgicas associadas e possveis complicaes dos pacientes submetidos a este procedimento cirrgico no servio de oftalmologia do Hospital Regional de So Jos Homero de Miranda Gomes, no perodo de maro de 1999 a novembro de 2001, e analisar as taxas de sucesso cirrgico. Mtodo: Estudo longitudinal e prospectivo de todos os pacientes que foram atendidos pelo Departamento de Plstica Ocular e rbita, do Hospital Regional de So Jos Homero de Miranda Gomes (HRSJ-HMG), no perodo de maro de 1999 a setembro de 2001, com diagnstico de obstruo das vias lacrimais e que foram submetidos dacriocistorrinostomia endonasal. O perodo de seguimento ps-operatrio foi de 60 dias. Resultado: Dos 22 pacientes submetidos cirurgia, treze (59,0%) eram do sexo feminino e nove (41,0%) pertenciam ao sexo masculino. A idade mdia foi de 34,8 (desvio-padro 17,9) anos. Doze (52,2%) cirurgias foram realizadas no olho direito e 11 (47,8%) no olho esquerdo. O tempo de evoluo mdio dos sintomas foi de 5,3 anos (desvio-padro 9,4).A durao das cirurgias foi em mdia 74 minutos (desvio-padro 19,4).As intercorrncias transoperatrias foram: sangramento transoperatrio abundante, difcil localizao do saco lacrimal e entubao com silicone, necessidade de osteotomia manual. A taxa de sucesso cirrgico encontrada foi de 86,9%. Concluso: Houve uma predominncia de pacientes do sexo feminino, conforme a maioria dos trabalhos pesquisados, enquanto a mdia de idade foi inferior da maioria dos trabalhos encontrados na literatura. O tempo mdio para realizao da cirurgia foi significativamente maior que em outros trabalhos. E as complicaes transoperatrias e taxa de sucesso assemelham-se dos estudos pesquisados. Descritores: Dacriocistorinostomia; Obstruo dos ductos lacrimais; Aparelho lacrimal/patologia; Dacriocistite; Procedimentos cirrgicos oftalmolgicos1 2

Residente em oftalmologia do Hospital Regional de So Jos Homero de Miranda Gomes (HRSJ-HMG) So Jos (SC), Brasil; Supervisor da residncia em oftalmologia do Hospital Regional de So Jos Homero de Miranda Gomes (HRSJ-HMG) So Jos (SC), Brasil; Doutor em oftalmologia pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG Belo Horizonte (MG), Brasil; 3 Otorrinolaringologista do Hospital Regional de So Jos Homero de Miranda Gomes (HRSJ-HMG) - So Jos (SC), Brasil; Trabalho realizado no Departamento de plstica ocular e rbita, do Hospital Regional de So Jos Homero de Miranda Gomes (HRSJ-HMG) So Jos (SC) Brasil. Recebido para publicao em: 30/01/05 - Aceito para publicao em 24/04/06

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INTRODUOobstruo adquirida do sistema lacrimal uma desordem comum que se apresenta clinicamente com epfora constante e infeces intermitentes das vias lacrimais1-3. O tratamento definitivo para a correo da mesma cirrgico, existindo vrias tcnicas para tal4. O primeiro relato de uma cirurgia no sistema lacrimal foi feito aproximadamente em 1770, por Wolfgang von Goethe. Em 1904, Totti descreveu a primeira tcnica para dacriocistorrinostomia externa, que foi aperfeioada por Dupuy-Dutemps e Bourguet em 1921. Em 1893, Caldwell fez a primeira abordagem endonasal para a resseco da mucosa nasal que circundava o orifcio de sada da sonda no nariz.Vrios autores, posteriormente, se seguiram a ele, aperfeioando a tcnica, como West, Koffler, Heermann, entre outros. A introduo, nas ltimas dcadas, dos endoscpios rgidos com lentes de alta definio propiciou ao cirurgio uma visualizao completa do nariz, assim como da rea a ser operada1-5, levando a uma maior utilizao desta via cirrgica. Para realizar uma boa cirurgia, o conhecimento da anatomia das vias lacrimais e suas relaes com a parede do nariz, bem como a localizao do saco lacrimal e dos vasos angulares, so pr-requisitos essenciais. Tambm, o perfeito conhecimento da fisiopatogenia das afeces lacrimais muito ajudar no diagnstico correto das mesmas, que, na maior parte dos casos, pode ser feito pela histria do paciente e exame oftalmolgico completo6. Procedimentos diagnsticos especficos incluem o teste de refluxo ou expresso do saco lacrimal; teste do desaparecimento da fluorescena ou teste de Milder e 1,3 teste de Jones primrio ou secundrio . Dentre os exames complementares importantes, tem-se a dacriocistografia, que a investigao radiolgica das vias lacrimais, e a endoscopia nasal 1-3. Inmeros estudos tm apontado a dacriocistorrinostomia endonasal como uma tcnica cirrgica altamente eficaz e segura, bem como tem apresentado resultados superiores aos das dacriocistorrinostomias externas2-7. O presente estudo foi desenvolvido com a finalidade de avaliar a efetividade da tcnica de dacriocistorrinostomia endonasal, analisando as alteraes rinolgicas associadas e possveis complicaes dos pacientes submetidos a este procedimento cirrgico no servio de oftalmologia do Hospital Regional de So Jos Homero de Miranda Gomes, no

perodo de maro de 1999 a novembro de 2001, e analisar as taxas de sucesso cirrgico.

A

MTODOSRealizado estudo longitudinal e prospectivo, com todos os pacientes que foram atendidos pelo Departamento de Plstica Ocular e rbita, do Hospital Regional de So Jos Homero de Miranda Gomes (HRSJHMG), localizado na Grande Florianpolis, Santa Catarina, no perodo de maro de 1999 a setembro de 2001, com diagnstico de obstruo das vias lacrimais e que foram submetidos dacriocistorrinostomia endonasal. Para o diagnstico correto foi feito exame oftalmolgico completo e dacriocistografia. O exame oftalmolgico compreendeu exame da acuidade visual, motilidade ocular extrnseca, biomicroscopia, e, posteriormente, os especficos para as vias lacrimais: expresso, irrigao, sondagem diagnstica e os testes de desaparecimento da fluorescena (Milder) e teste de Jones. Para todos os pacientes foi solicitada dacriocistografia. Foi estabelecido um protocolo para anlise dos pacientes. As variveis estudadas foram: sexo, idade, olho operado, tempo de evoluo dos sintomas, presena ou no de dacriocistite prvia, realizao de procedimento cirrgico para desobstruo das vias lacrimais prvio, durao da cirurgia, intercorrncias transoperatrias, procedimentos associados no momento da cirurgia e seo o o guimento ps-operatrio (1 , 7 e 60 dias). A durao da cirurgia foi medida da dilatao do ponto lacrimal e irrigao do sistema lacrimal at a colocao de pomada de associao entre antibitico e corticide. A tcnica cirrgica para todos os pacientes foi a dacriocistorrinostomia endonasal e esta foi realizada por um oftalmologista, juntamente com um otorrinolaringologista.Todos os pacientes foram submetidos anestesia geral. Com relao tcnica cirrgica, todos os procedimentos foram realizados sob endoscopia nasal com endoscpio rgido com angulao de 0. Inicialmente introduzida uma mecha de algodo com soluo vasoconstritora na cavidade nasal por 5 minutos, o campo cirrgico delimitado como 1cm frente do corneto mdio, na parede lateral do meato mdio nasal, em regio correspondente ao saco lacrimal, a mucosa infiltrada com 1 ml de anestsico com vasoconstritor. A inciso realizada nesta regio, previamente infiltrada, excisando-se uma camada mucoperiostal de 1x1cm. Fazse uma janela ssea ovalada com sistema de brocas retas. Posteriormente, a parede lateral do saco lacrimal

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retirada e realiza-se sondagem das vias lacrimais com posterior entubao bicanalicular com silicone. Procede-se ento o reposicionamento das conchas, reviso da cavidade, tamponamento anterior do nariz e curativo compressivo com antibitico. Em alguns casos, foram operados simultaneamente septoplastia, turbinectomia e exrese de plipos. As avaliaes ps-operatrias foram feitas nos 1o, o o 7 e 60 dias seguintes realizao da cirurgia. Na ocasio, os pacientes foram questionados sobre sua satisfao com relao a sintomatologia e fatores estticos e tambm foi avaliada a permeabilidade das vias lacrimais, atravs da expresso do saco lacrimal e teste de Milder. Foi considerado sucesso cirrgico quando, no psoperatrio de 60 dias, o paciente apresentava vias lacrimais prvias, acompanhada de expresso negativa e ausncia de sintomas.

Tabela 1 Intercorrncias transoperatrias das cirurgias de dacriocistorrinostomia endonasal Intercorrncias trans-operatrias Nenhuma Sangramento abundante Difcil localizao do saco lacrimal e entubao com silastic Quebra do motor da broca, com necessidade de osteotomia manual Prolapso de gordura orbitalFonte: Arquivo do Servio de Oftalmologia do HRSJ-HMG

No. 15 4 2 1 1

% 65,2 17,5 8,7 4,3 4,3

RESULTADOSNo estudo realizado, compreendendo o perodo de maro de 1999 setembro de 2001, foram diagnosticados como apresentando obstruo das vias lacrimais e submetidos dacriocistorrinostomia endonasal, 23 casos de 22 pacientes, tendo sido estes avaliados pelo Departamento de Plstica Ocular e rbita do Servio de Oftalmologia do Hospital Regional de So Jos Homero de Miranda Gomes (HRSJ-HMG). Dos 22 pacientes submetidos dacriocistorrinostomia endonasal, treze (59,0%) eram do sexo feminino e nove (41,0%) pertenciam ao sexo masculino.A idade dos pacientes variou entre 7 e 67 anos, com uma mdia de 34,8 anos (desvio-padro 17,9). Dentre as cirurgias realizadas, 12 (52,2%) foram no olho direito e 11 (47,8%) no olho esquerdo. O tempo de evoluo mdio dos sintomas foi de 5,3 anos, variando entre 1 e 14 anos (desvio-padro 9,4). Dos 22 pacientes, oito (36,4%) apresentaram histria de dacriocistite prvia e dois (9,0%) j haviam sido submetidos dacriocistorrinostomia externa.A durao das cirurgias variou de 40 a 108 minutos, com uma mdia de 74 minutos (desvio-padro 19,4). O silicone foi utilizado em todos (100,0%) os 23 olhos operados. A maior parte das cirurgias transcorreu sem qualquer intercorrncia mas, em quatro (17,5%) casos houve sangramento trans-operatrio abundante, em dois (8,7%) casos foi difcil a localizao do saco lacrimal e entubao com silastic, em um (4,3%) houve a necessidade de osteotomia manual pela quebra do motor, e tambm em um outro caso (4,3%) houve prolapso de gordura orbitria. Em alguns casos, foram realizados procedimen-

tos associados, como correo de desvio de septo em 9 (39,2%) casos, correo de hipertrofia do corneto mdio em 2 (8,7%) casos e resseco de plipos nasais em mais um (4,3%) caso. Na primeira avaliao ps-operatria, o edema nasal esteve presente em 13 (56,5%) dos 23 olhos operados, e em 12 (52,2%) deles houve sangramento. A expresso do saco lacrimal foi negativa em 19 (82,6%) ps-operatrios e, dentre os 4 (17,4%) positivos, 2 (8,7%) apresentaram secreo mucide, e 2 (8,7%) secreo serosanguinolenta. o No 7 dia ps-operatrio, em 15 (65,2%) casos os pacientes referiam ausncia de sintomas, 6 (26,1%) referiam melhora em relao ao perodo anterior cirurgia e 2 (8,7%) referiam permanecer com o quadro inalterado. Em trs (13,0%) casos, havia presena de edema nasal e um (4,3%) caso permanecia com sangramento. A expresso do saco lacrimal foi negativa em 20 (87,0%) casos e, nos trs (13,0%) casos onde permanecia positiva foi referida como secreo mucide. A o o positividade do teste de Milder no 7 e 60 dias de psoperatrio encontra-se expressa nos grficos 1 e 2. No 60o dia aps a cirurgia, em 17 (73,9%) casos os pacientes referiam ausncia de sintomas, 3 (13,0%) referiam melhora em relao ao perodo anterior e em um (4,3%) caso o quadro permaneceu inalterado. A expresso do saco lacrimal foi negativa em 20 (86,9%) casos, permanecendo positiva em trs (13,0%) casos, todos estes com aspecto mucide. O teste de Milder foi negativo em 14 (60,8%) casos, positivo (+) em 7 (13,9%) casos e (++) em 2 (8,6%) casos.

DISCUSSOAnalisaram-se neste trabalho os casos submetidos dacriocistorrinostomia endonasal no perodo de maro de 1999 a setembro de 2001, no departamento de

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Grfico 1 Positividade do teste de Milder no 7 ps-operatrio

Grfico 2 Positividade do teste de Milder no 60 PO

plstica ocular e rbita do servio de oftalmologia do HRSJ-HMG. Encontrou-se neste estudo uma predominncia do sexo feminino com indicao para este tipo de procedimento (59,0%). Em outros encontraram-se dados semelhantes, como no trabalho realizado por Ibrahim e 6 colaboradores ,que apresentou 60,0% dos casos em pacientes do sexo feminino, em Lee et al7, que referiu 70,8% de mulheres e em Hartikainen et al4, que tambm citou 71,8% de pacientes do sexo feminino, alm de Tsirbas et al8 que referiu 70,4% de pacientes mulheres. A mdia de idade no presente trabalho foi de 34,8 anos, mdia esta inferior quela da maior parte dos tra6 balhos analisados, como Ibrahim et al , que apresenta 7 uma mdia de idade de 68 anos, Lee et al , com uma 4 mdia de 48 anos, Hartikainen et al , com uma mdia de 8 61 anos e Tsirbas et al com mdia igual a 62,9 anos. 4 Quanto ao olho operado, Hartikainen et al apresentaram 19 (59,3%) olhos direitos submetidos cirurgia e 13 (40,7%) olhos esquerdos. No presente trabalho, encontrou-se 12(52,2%) cirurgias realizadas em olho direito e 11 (47,8%) em olho esquerdo. O tempo mdio de evoluo dos sintomas foi de 5,3 anos neste estudo. Hartikainen et al4 referiu uma mdia de tempo de evoluo dos sintomas de 11 anos. No presente estudo, 8 (36,4%) pacientes apresentaram histria de dacriocistite prvia. No estudo de Hartikainen et al4, 4 (13,3%) pacientes submetidos dacriocistorrinostomia endonasal tinham histria de dacriocistite prvia. Neste trabalho, a mdia de tempo das cirurgias 4 foi de 74 minutos. Hartikainen et al referiu uma mdia 9 de 40 minutos, Dolman citou mdia de 18,5 minutos e 10 Malhotra et al referiu mdia de 39,6 minutos para o

procedimento. Este maior tempo cirrgico pode ser explicado pelo fato de muitas vezes a DCR foi realizada juntamente com outros procedimentos cirrgicos, como correo de desvio de septo e hipertrofia de corneto, bem como pelo fato de todos os pacientes terem sido entubados com silastic, fato no ocorreu em outros estudos. Ainda que para vrios autores, a entubao bicanalicular seja fundamental para o sucesso cirrgico3. Complicaes transoperatrias descritas, como em Woog et al3, se assemelham as que encontrou-se, como hemorragia intra-operatria, dificuldade de entubao e prolapso da gordura orbitria. Neste trabalho, o prolapso de gordura orbitria ocorreu porque o paciente possua alteraes anatmicas na cavidade nasal, que levaram realizao de osteotomia em posio mais inferior. Com isso, quando comprimia-se o canto interno, com a finalidade de localizar o saco lacrimal, ocorria pequeno prolapso de gordura orbitria, o que no atrapalhou a realizao do procedimento, conforme descrio prvia. Associou-se como principal procedimento a septoplastia, em 9 (39,2%) casos, assim como em Woog 3 et al , que apresentou a necessidade de correo do septo 8 nasal em 33% dos casos e Tsirbas et al , que o fez em 35,4% dos pacientes. A taxa de sucesso cirrgico, avaliada segundo critrios anteriormente descritos, encontrada no presente estudo foi de 86,9%.Weidenbecher et al2 encontrou uma taxa de sucesso semelhante ao deste estudo, de 86%, assim como Yaez11, com 85,7%. Em outros trabalhos, referiram-se taxas de sucesso menores, como a citada 4 12 por Hartikainen et al de 75% e Dietrich et al de 81,1%. Entretanto, em alguns trabalhos, evidenciaram-se taxas 13 de sucesso maiores, como o de Keerl et al , que apresen14 ta um ndice de sucesso de 90%, Iturralde et al , com

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94,4% de sucesso e de Silva , com um ndice de 90,4% de sucesso cirrgico. O presente estudo demonstrou que a tcnica endonasal to eficiente quanto a DCR externa, tendo menos complicaes, uma recuperao mais rpida dos pacientes, bem como a ausncia de cicatriz, constituindo-se ento, numa excelente opo teraputica nos casos de obstruo baixa das vias lacrimais.

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SUMMARYObjective:To evaluate the endonasal dacryocystorhinostomy efficiency, to analyze associated rhinologic alterations and possible complications of the patients submitted to this procedure at the Ophthalmology Service of Hospital Regional de So Jos-Homero de Miranda Gomes (HRSJ-HMG) from 1999 to 2001 and analyze the surgical success. Method: Longitudinal and prospective study including all patients avaliated by Ocular Plastic and Orbital Department of HRSJ-HMG on that period, diagnosed with lacrimal obstruction, submitted to endonasal dacryocyistorhinostomy. The post-operatory follow up was 60 days. Results:Twentytwo patients were submitted to surgery, thirteen (59,0%) were female and nine (41,0%) male. The average age was 34,8 years (pattern-deviation 17,9), 12 (52,2%) surgeries were on the right eye and 11 (47,8%) on the left one. The average time of simptoms was 5,3 years (pattern-deviation 9,4).The surgeries last, on average, 74 minutes (pattern-deviation 19,4). The per operatory complications were: bleeding, difficulty in localization of the lacrimal sac and silicone intubation, needing of manual osteotomy orbital.The surgical success rate was 86,9%. Conclusion: The endonasal dacryocystorhinostomy is a useful option for lacrimal ways obstruction treatment, since it has a good surgical result, with a few complications. It presents some disadvantages, such as more needing of general anesthesia, high cost and technique more difficult. Keywords: Dacryocystorhinostomy ; Lacrimal duct obstruction; Lacrimal apparatus/pathology Dacryocystitis; Ophthalmologic surgical procedures

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ENDEREO PARA CORRESPONDNCIA: Franciele Vegini Rua Max Colin, 239 - Apto 801 CEP 89204-040 - Joinville - SC

REFERNCIAS1. 2. Soares EJC, Moura EM, Gonalves JOR. Cirurgia plstica ocular. So Paulo: Roca; 1997. Weidenbecher M, Hosemann W, Buhr W. Endoscopic endonasal dacryocystorhinostomy: results in 56 patients. Ann Otol Rhinol Laryngol. 1994;103(5 Pt 1):363-7. Woog JJ, Kennedy RH, Custer PL, Kaltreider SA, Meyer DR, Camara JG. Endonasal dacryocystorhinostomy: a report by the American Academy of Ophthalmology. Ophthalmology. 2001;108(12):2369-77.

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A biometria em olhos com comprimento axial mdio: estudo comparativo de trs frmulas e a previsibilidade refracionalBiometry in medium eyes: the previsibility of three formulasAugusto Cezar Lacava , Maria Jos Carrari ,Virgilio Centurion1 2 3

RESUMOObjetivo: Comparar a previsibilidade refracional de trs frmulas biomtricas: a SRKT, Holladay II e Haigis, em olhos com comprimento axial entre 21 e 26mm, tendo como meta a refrao plana no componente esfrico da refrao. Mtodos: Estudo retrospectivo de 39 olhos, com catarata, submetidos facoemulsificao com implante de lente intra-ocular dobrvel no saco capsular.A medida do comprimento axial foi realizada com IOL Master - Zeiss e Ultra Scan Imaging - Alcon, utilizando sempre que possvel os resultados obtidos com a biometria ptica. Avaliou-se a refrao no 6 ms psoperatrio. Resultados: Dos 39 olhos, 8 apresentavam a MAVC de 20/20 e apenas 3 olhos no atingiram 20/40, devido doena ocular associada preexistente.A refrao plana foi alcanada em 70% dos olhos com a frmula Holladay II, em 45% com a frmula SRKT e em 35% com a frmula Haigis. Houve surpresa refrativa (> 2 dioptrias) em 4,87%. Concluso: A frmula Holladay II obteve resultados refracionais mais previsveis em olhos, com comprimento axial mdio, no apresentando, no entanto, diferena estatisticamente significante em relao s outras duas frmulas. Descritores: Biometria/mtodos; Lentes intra-oculares; Interferometria; Ultrasonografia; Estudos retrospectivos

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Oftalmologistas do Instituto de Molstias Oculares IMO So Paulo (SP) Brasil.

Os autores no visam a interesses econmicos diretos ou indiretos nos equipamentos e/ou medicamentos utilizados neste trabalho. Recebido para publicao em: 26/09/05 - Aceito para publicao em 16/05/06

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Lacava AC, Carrari MJ, Centurion V

INTRODUOoffer1 publicou em 2001 que as frmulas Holladay II e Hoffer Q so mais previsveis para olhos com comprimento axial curtos; que Holladay I, Holladay II, Hoffer Q e SRKT apresentam resultados equivalentes em olhos com comprimento axial mdios e que SRKT melhor para olhos longos o 2 que compartilhado por Kumar . A principal diferena entre as frmulas tericas repousa na previso da profundidade da cmara anterior ptica (ACD), ou seja, a distncia entre a crnea e a lente intra-ocular, diferente da profundidade da cmara anterior acstica medida pelo ultra-som, que a distncia entre a crnea e a superfcie do cristalino. Holladay usa o termo ELP (efetiva posio da lente) para ACD ptica. Estes valores variam com o comprimento axial do globo ocular e apresentam fatores de correo com a 3 constante A, o fator do cirurgio e a ACD personalizada de Hoffer. A medida do comprimento axial pode ser feita atravs da biometria acstica (US) que mede no eixo ptico do globo ocular e a biometria ptica 4 (interferometria) que mede no eixo visual . A interferometria vantajosa se o paciente puder fixar, pois no necessita de contato. A frmula de Haigis3 utiliza, alm do comprimento axial do globo ocular, trs constantes (a0, a1 e a2) como fator preditivo da posio da LIO. Segundo Haigis, se personalizarmos as trs constantes, obteremos uma performance otimizada para todos os comprimentos axiais e todos os tipos de LIOs. 5 Zacharias refere que por ser a biometria um assunto dinmico h necessidade de comparar os aperfeioamentos na rotina diria visando diminuir as nossas surpresas refrativas6. Nosso objetivo comparar as frmulas Holladay II, Haigis e SRKT e avaliar os resultados refracionais em olhos entre 21 e 26mm de comprimento axial.

H

Nas biometrias foram utilizados o IOL Master Zeiss para a biometria ptica e o Ultrascan Imaging Alcon para a biometria ultra-snica por contato. Os dados utilizados foram os da biometria ptica, exceto quando o estgio avanado da catarata no o permitira. A refrao final foi obtida no 6 ms ps-operatrio, sendo avaliado o componente esfrico da refrao.

RESULTADOSA idade mdia foi de 73,2 anos sendo 20 (76,9%) pacientes do sexo feminino e 6 (23,1%) do sexo masculino. Conforme tabela V, observamos os resultados em relao MAVC onde, dos 39 olhos, apenas trs no apresentaram acuidade visual igual ou maior a 20/40, sendo que um era portador de glaucoma e dois amblopes. A tabela II mostra 18 olhos (46,15%) em que a refrao esfrica obtida no ps-operatrio foi plana, em 70% com a frmula Holladay II, em 45% com a frmula SRKT e em 35% com a frmula Haigis. A tabela III mostra 19 olhos (48,72%) em que a refrao esfrica ps-operatria esteve entre +0.50D e +1 dioptria, obtida em 73,68% pela frmula Holladay II, 26,37% pela Haigis e 36,84% pela SRKT. Todas as frmulas apresentaram 5,13% de surpresas refrativas (> 2 dioptrias de erro)

DISCUSSOHoffer observou em cem (100) olhos com comprimento axial que variavam entre 22 e 24,5mm que a frmula Holladay I e Hoffer Q apresentavam os menores erros absolutos de refrao e que a Holladay II apresentava resultados com 0,14 dioptrias de maior impreciso. Holladay7 acredita que a previsibilidade dos resultados ps-cirrgicos tm relao com a preciso das medidas obtidas no pr-operatrio. Sugere que se a emetropia for desejada, deve-se optar pela refrao final de -0.50 ou +0.50D, porque assim 50% dos resultados estaro dentro de + 0.50 dioptrias. As frmulas de 3 gerao consideram que a espessura da lente intra-ocular zero e so referidas como frmulas de lentes finas (Thin Lens) 3, 8; Haigis3 se baseou em que as frmulas de lentes espessas (Thick Lens) precisam de dados que os fabricantes no disponibilizam. Assim sendo, criou trs constantes para avaliar um tipo de lente intra-ocular. O nosso trabalho mostra que as trs frmulas apresentaram resultados semelhantes para olhos entre 21 e 26mm de comprimento axial, no mostrando superioridade de uma em relao s demais. Todas as1

MTODOSForam avaliadas retrospectivamente, as biometrias realizadas entre janeiro e setembro de 2004, de 39 olhos de 26 pacientes com diagnstico de catarata e que foram submetidos facoemulsificao com implante de lente intra-ocular acrlica hidrofbica de pea nica (SN60AT - Alcon). Comparamos os resultados refracionais obtidos pelas trs frmulas: SRKT, Holladay II e Haigis.

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Tabela 1A biometria em olhos com comprimento axial mdio: estudo comparativo de trs frmulas e a previsibilidade refracional

Dados biomtricos Doena Ocular Associada Drusas Drusas Drusas Drusas Glaucoma Glaucoma Drusas Drusas Drusas Glaucoma -

N Sexo Olhos 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26. 27. 28. 29. 30. 31. 32. 33. 34. 35. 36. 37. 38. 39. F M F F F F F F M M F F F F F F F F M M F F F M F M F M F F M F F F F F F F F

Idade 79 70 79 70 79 57 80 72 83 57 70 78 70 69 77 77 60 75 75 75 77 81 58 92 67 73 57 92 77 81 73 67 57 78 78 73 60 83 71

Refrao Pr -0.50 -1.50 x 120 -1.00 +2.75 -1.00 X 70 +0.50 +0.50 -1.00 X 90 +2.25 -0.75 X 130 +5.00 +2.25 -2.50 -1.50 X 90 +0.50 -1.00 X 150 +4.00DE -0.50 x 180 +6.00 -1.00 X 80 +2.50 -0.50 X 70 -0.50 x 180 +2.00 +3.25 -0.75 X 90 +0.50 -2.00 x 5 +6.50 -2.50 X 90 +5.00 -3.50 X 90 -1.00 x 180 +2.25 +2.50 -0.50 X 20 +12.0 +1.50 -0.50 X 100 ?? +2.50 +12.00 -2.00 X 110 +2.00 ?? +2.00 -0.50 X 75 +3.00 -0.50 X 15 +2.50 -0.50 X 120 +2.50 -0.50 X 60 +8.00 -2.50 X 90 +3.25 -0.50 X 90 +1.00 +0.50 -1.50 X 125

Refrao Ps -1.00 x 130 -0.50 X 160 +0.50 -1.50 X 90 -1.00 X 90 -1.00 X 90 +0.50 -0.50 X 160 plana plana -1.25 -1.50 X 180 plana -1.00 X 155 plana -0.50 -0.50 plana plana +1.00 -0.50 X 130 +1.00 +0.50 -1.50 X 90 +1.00 -2.50 X 100 plana plana +0.50 -0.50 X 10 +4.00 -1.50 X 75 +1.00 -1.00 X 110 +0.75 plana +2.50 -2.00 X 110 plana +1.00 -1.00 X 120 +1.00 -0.75 X 165 +1.00 -1.00 X 90 -0.50 X 165 +0.50 -1.00 X 130 +0.50 -0.50 X 60 -2.50 X 90 +0.50 plana +0.50

A V Pr 20/50 20/70 20/60 20/40 20/40 20/30 20/80 20/40 20/50 20/400 20/60 20/40 20/40 20/60 20/50 20/70 PL 20/400 20/50 20/40 20/100 20/70 20/40 CD 20/80 20/50 20/60 CD 20/100 20/50 20/50 20/50 20/30 20/50 20/30 20/40 20/40 20/150 20/20

A V Ps 20/40 20/30 20/40 20/30 20/40 20/30 20/30 20/20 20/30 20/20 20/30 20/20 20/30 20/20 20/20 20/30 20/40 20/400 20/30 20/30 20/30 20/30 20/30 20/60 20/30 20/40 20/30 20/40 20/40 20/30 20/40 20/20 20/30 20/30 20/30 20/60 20/40 20/20 20/20

Bio. 23.0 19.0 22.5 19.5 22.0 23.5 27.0 22.5 18.0 21.5 27.0 21.5 28.0 19.5 21.5 21.0 26.0 22.0 23.0 26.0 23.0 23.5 23.0 36.0 20.5 22.5 25.0 34.0 23.0 23.0 22.0 21.5 24.0 20.0 20.0 31.0 26.0 23.0 17.0

Olho OD OE OE OE OE OD OD OD OE OE OD OE OE OE OD OE OD OE OE OD OE OE OE OE OD OE OD OD OD OD OD OE OE OD OE OD OE OE OD

Cerato 45.6 / 47.0 43.2 / 44.9 43.8 / 44.6 42.9 / 43.1 46.5 / 47.6 45.1 / 43.3 39.7 / 41.4 44.5 / 45.3 43.1 / 44.6 41.9 / 42.5 43.4 / 44.0 44.3 / 45.9 42.6 / 42.8 45.5 / 45.9 44.4 / 46.7 45.9 / 46.1 45.4 / 46.9 43.6 / 44.1 44.1 / 41.9 43.8 / 42.6 46.6 / 47.4 45.7 / 46.6 45.4 / 44.3 44.3 / 40.6 41.5 / 40.6 41.9 / 43.1 44.6 / 45.1 44.3 / 41.3 46.6 / 47.3 46.2 / 45.5 41.8 / 42.5 41.3 / 40.8 44.6 / 45.1 44.7 / 45.6 44.4 / 45.3 43.6 / 45.7 45.3 / 47.1 44.2 / 45.3 44.2 / 45.7

Comp. Cmara Holladay SRKT Haigis Axial Anterior II 21.93 23.82 22.76 24.08 22.06 22.42 22.69 22.45 25.52 23.81 21.82 22.65 21.90 23.10 22.64 22.43 21.12 22.94 22.09 23.01 21.70 21.88 22.54 19.99 24.48 23.39 22.0 20.38 21.61 22.05 23.39 24.15 21.89 23.21 23.29 20.41 21.20 22.37 24.16 2.45 2.99 2.50 2.75 2.73 2.96 2.91 2.66 3.04 5.62 2.94 2.36 3.03 3.34 2.39 2.64 2.36 2.52 3.04 3.04 2.11 2.65 2.73 2.18 3.58 3.16 3.34 2.26 2.19 2.65 3.04 3.58 3.34 3.20 3.47 2.38 2.19 2.48 3.30 23.0 18.5 22.5 19.0 22.0 23.5 27.0 22.5 17.5 21.5 26.5 21.5 27.5 19.5 21.5 21.0 26.0 22.0 23.0 26.0 23.0 23.0 23.0 34.5 20.5 22.5 24.5 32.0 23.0 22.5 22.5 21.5 24.0 20.0 20.0 31.0 26.0 23.0 17.0 23.0 19.0 22.0 19.0 21.5 23.0 26.0 22.5 17.5 21.0 25.5 21.5 26.5 19.5 21.5 20.5 26.0 22.0 23.0 20.0 23.0 23.0 22.5 33.0 20.0 22.0 23.5 31.0 23.5 22.5 22.0 20.5 24.0 19.5 20.0 30.0 25.5 23.0 17.0 23.5 19.5 23.0 19.0 22.0 24.5 28.5 23.0 17.5 22.5 28.0 22.0 29.0 19.5 22.0 21.0 27.0 22.5 24.0 27.0 23.0 24.0 24.0 36.5 22.0 23.5 25.5 34.0 23.5 23.0 23.5 22.0 25.5 20.5 20.5 32.5 26.5 23.5 17.0

Rev Bras Oftalmol. 2006; 65 (3): 157-61

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Lacava AC, Carrari MJ, Centurion V

Tabela 2 Refrao final plana em 46,15% LIO Implantada 23,0 19,0 19,5 22,0 27,0 22,5 21,5 27,0 21,5 21,5 21,0 23,0 23,5 25,0 23,0 24,0 31,0 23,0 Holladay II 23,0 18,5 19,0 22,0 27,0 22,5 21,5 26,5 21,5 21,5 21,0 23,0 23,0 24,5 23,0 24,0 31,0 23,0 SRKT 23,0 19,0 19,0 21,5 26,0 22,5 21,0 25,5 21,5 21,5 20,5 23,0 23,0 23,5 23,5 24,0 30,0 23,0 Haigis 23,5 19,5 19,0 22,0 28,5 23,0 22,5 28,0 22,0 22,0 21,0 23,0 24,0 25,5 23,5 25,5 32,5 23,5

Tabela 3 Refrao final entre +0.50 e + 1.0 em 48,72% LIO Implantada 22,5 23,5 18,0 28,0 19,5 26,0 22,0 23,0 26,0 23,0 20,5 22,5 23,0 22,0 21,5 20,0 20,0 26,0 17,0 Holladay II 22,5 23,5 17,5 27,5 19,5 26,0 22,0 23,0 26,0 23,0 20,5 22,5 22,5 22,5 21,5 20,0 20,0 26,0 17,0 Tabela 4 Refrao final maior que 2.0 dioptrias em 5,13% LIO Implantada 36,0 34,0 Holladay II 34,5 32,0 SRKT 33,0 31,0 Haigis 36,5 34,0 SRKT 22,0 23,0 17,5 26,5 19,5 26,0 22,0 23,0 25,0 22,5 20,0 22,0 22,5 22,0 20,5 19,5 20,0 25,5 17,0 Haigis 23,0 24,5 17,5 29,0 19,5 27,0 22,5 24,0 27,0 24,0 22,0 23,5 23,0 23,5 22,0 20,5 20,5 26,5 17,0

frmulas apresentaram erros refrativos em propores iguais para estes olhos. H necessidade de um estudo multicntrico prospectivo com um nmero maior de olhos para confirmar estes dados e desde que confirmados, poderamos inferir que as frmulas que se baseiam em (Thin Lens) so superiores ou pelo menos iguais s frmulas que se baseiam em (Thick Lens).

SUMMARYObjective: To compare the previsibility of three biometrical formulas: SRKT, Holladay II and Haigis in eyes with axial length between 21 and 26mm, with the objective of plano in the refraction spherical component. Methods: Retrospective study in 39 eyes with cataract, submitted to phacoemulsification with foldable intraocular lens implant in the capsular bag. The measurement of axial length was done using IOL Master - Zeiss and Ultra Scan Imaging - Alcon, whenever possible using the results obtained with optical biometry. th Refraction was evaluated on the 6 postoperative month. Results: Of the 39 eyes, 8 presented BCVA of 20/20 and only 3 eyes did not reach 20/40 due to an associated preexisting ocular disease. Plano refraction was obtained in 70% of eyes with Holladay II formula, in 45% with SRKT formula and in 35% with Haigis formula. There was a refractive surprise (> 2 diopters) in 4.87%.

Tabela 5 Acuidade visual ps-operatria Acuidade visual Ps-operatria 39 olhos 20/20 8 (20,5%) 20/25 - 20/40 28 (71,8%) < 20/50 3 (7,7%)

Tabela 6 Equivalente esfrico* Mdia Pr-Operatrio Ps-Operatrio* t = 4,72 p = 0,000035

Desvio-padro 3,15 0,85

2,24 0,41

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A biometria em olhos com comprimento axial mdio: estudo comparativo de trs frmulas e a previsibilidade refracional

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Tabela 7 Avaliao geral das frmulas para olhos com comprimento axial 26mm Holladay II ME (D) Mdia Desvio-padro MAE (D) Mdia Desvio-padro Olhos com MAE < 0,50 D N (%) Olhos com MAE < 1,00 D N (%) Olhos com MAE < 2,00 D N (%) -0,54 0,81 0,61 0,76 23 (59,0) 32 (82,1) 37 (94,9) SRKT -0,48 0,81 0,56 0,76 24 (61,5) 32 (82,1) 37 (94,9) Haigis -0,45 0,82 0,53 0,76 24 (61,5) 34 (87,2) 37 (94,9)

ME : Mean numeric error = [ Erro refrativo da Frmula-preditiva ] [ Erro refrativo Ps-operatrio ] MAE : Mean absolute error = | ME |

Erro refrativo Holladay II Erro refrativo Ps-operatrio t = 4,18 p = 0,00016

Erro refrativo - SRKT t = 3,69 p = 0,000695.

Erro refrativo - Haigis t = 4,47 p = 0,0013

Conclusion: Holladay II formula obtained more foreseeable refraction results in eyes of medium axial length, however, not presenting a statistically significant different compared to the other two formulas Keywords: Biometry/methods; Lenses, intraocular; Interferometry; Ultrasonography; Retrospective studies

6.

7.

REFERNCIAS1. 2. Hoffer KJ. Clinical results using the Holladay 2 intraocular lens power formula. J Cataract Refract Surg. 2000;26(8):1233-7. Kumar BV. Customisation of IOL formulas. In: Garg A, H