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    Aula 02

    Ol, pessoal!

    Esta a Aula 02 do curso de Administrao Pblica para AFT. Nela, veremosos seguintes itens:

    Aula 02 07/03: 6. Governabilidade, governana e accountability. 7. Governoeletrnico e transparncia.

    Boa Aula!

    Sumrio

    1. GOVERNABILIDADE E GOVERNANA .................................................................... 2

    1.1. CRISE DE GOVERNABILIDADE. ................................................................................. 4

    1.2. CONFUSES ENTRE OS CONCEITOS. ........................................................................... 8

    1.3. NOVA GOVERNANA PBLICA. ............................................................................... 10

    2. ACCOUNTABILITY .............................................................................................. 18

    2.1. DIVERGNCIAS EM RELAO AO CONCEITO . ............................................................... 24

    2.2. CLASSIFICAO. ............................................................................................... 25

    2.3. TRANSPARNCIA . .............................................................................................. 28

    3. GOVERNO ELETRNICO ..................................................................................... 36

    3.1. GOVERNO ELETRNICO NO BRASIL . ........................................................................ 37

    4. PONTOS IMPORTANTES DA AULA ....................................................................... 44

    5. QUESTES COMENTADAS ................................................................................... 45

    5.1. LISTA DAS QUESTES . ....................................................................................... 83

    5.2. GABARITO . ..................................................................................................... 95

    6. LEITURA SUGERIDA ........................................................................................... 95

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    11..GGoovveerrnnaabbiilliiddaaddee ee GGoovveerrnnaannaaO Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado fala em Reforma do Apare-

    lho do Estado ao invs de Reforma do Estado no sem motivo. A maior par-te dos autores associa a reforma do Estado busca de maior governabilidade ea reforma do aparelho do Estado busca de maior governana. Segundo oprprio PDRAE:

    O governo brasileiro no carece de governabilidade, ou seja, de poder pa-ra governar, dada sua legitimidade democrtica e o apoio com que conta nasociedade civil. Enfrenta, entretanto, um problema de governana, na me-dida em que sua capacidade de implementar as polticas pblicas limitada

    pela rigidez e ineficincia da mquina administrativa.

    Portanto, no havia um problema de governabilidade, mas sim de governana.A principal diferena entre os dois conceitos reside na dimenso que eles abor-dam: a governabilidade se refere a uma dimenso poltica; a governana auma dimenso de gesto.

    A capacidade poltica de governar ou governabilidade deriva da relao delegitimidade do Estado e do seu governo com a sociedade, enquanto quegovernana a capacidade financeira e administrativa em sentido amplo deuma organizao de implementar suas polticas.

    Podemos dizer que a governabilidade est associada s condies de exercciodo poder e de legitimidade do Estado e do seu governo derivadas da suapostura diante da sociedade civil e do mercado. J a governana pode ser en-tendida capacidade que um determinado governo tem para formular e imple-mentar as suas polticas, capacidade esta que pode ser dividida em financeira,gerencial e tcnica.

    O termo legitimidade muito importante no conceito de governabilidade. Umgoverno s consegue governar caso as pessoas aceitem sua ordens, aceitemsuas leis, somente se ele tiver legitimidade. Vamos ver um pouco melhor esse

    Um atributo do Estado, que consiste na presena, em uma parcela significa-tiva da populao, de um grau de consenso capaz de assegurar a obe-dincia sem a necessidade de recorrer ao uso da fora, a no ser em casosespordicos.

    Normalmente, quando as questes falarem em legitimidade, devemos associarcom governabilidade. Porm, daqui a pouco eu vou mostrar que preciso terum pouco de cuidado, pois os conceitos esto passando por reformulaes.

    Voltando para os conceitos, a governabilidade trabalha na dimenso poltica.

    Um exemplo em nosso pas o presidencialismo de coalizo. Como nosso sis-

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    tema partidrio muito fragmentado, nenhum partido sozinho consegue for-mar maioria. Por conseguinte, para conseguir aprovar suas leis no Congresso,o Executivo precisa fazer acordos com outros partidos, trazendo eles para achamada base aliada, formando as ditas coalizes. Assim, o fisiologismo co-mo meio de negociao de cargos um instrumento de governabilidade, namedida em que busca aumentar o apoio do governo.

    Um conceito bastante cobrado de Eli Diniz, para quem a governabilidaderefere-se s condies sistmicas de exerccio do poder por parte do Estadoem uma determinada sociedade. Seria uma somatria dos instrumentos ins-titucionais, recursos financeiros e meios polticos de execuo das metas defi-nidas. A autora aponta as principais caractersticas da governabilidade:

    Caractersticas da Governabilidade

    A forma de governo, ou seja, se o sistema parlamentarista(com todas as suas variantes), presidencialista ou misto, comono caso brasileiro;

    A relao Executivo-Legislativo: se esta for mais assimtrica paraum ou para outro podem surgir dificuldades de coordenaopoltica e institucional, vitais para a governabilidade plena;

    A composio, formao e dinmica do sistema partidrio (compoucos ou muitos partidos), o que pode dificultar a relaoExecutivo-Legislativo e Estado-sociedade;

    O sistema de intermediao de interesses vigente na sociedade(corporativista, institucional pluralista, dispersos, ONGs etc.); e

    Todo o conjunto das relaes Estado-sociedade, ou seja, asrelaes dos movimentos organizados, associaes e dacidadania com o Estado no sentido de ampliar a sua participaono processo de formulao/implementao de polticas das quaissejam beneficirios.

    A autora fala em formas de governo, mas o correto sistemas de governo,j que ela est falando do presidencialismo e do parlamentarismo. Portanto,estaria na esfera da governabilidade a relao do Executivo com o Legislativo etambm com a sociedade. A forma como o Estado busca o apoio dos cidadosse insere na governabilidade.

    Segundo Vincius de Carvalho, a fonte da governabilidade so os cidados e acidadania organizada, a partir deles (e da sua capacidade de articulao empartidos, associaes e demais instituies representativas) que surgem e sedesenvolvem as condies necessrias para a governabilidade. J a governan-

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    a tem como origem os agentes pblicos ou servidores do Estado, que possibi-litam a formulao/implementao correta das polticas pblicas e representama face deste diante da sociedade civil e do mercado, no setor de prestao deservios diretos ao pblico.

    As definies de governabilidade e governana do Vinicius de Carvalho tam-bm so muito cobradas em provas, vale pena dar uma olhada.

    Em uma definio genrica, podemos dizer que a governabilidade refere-ses prprias condies substantivas/materiais de exerccio do poder e de le-gitimidade do Estado e do seu governo derivadas da sua postura diante dasociedade civil e do mercado (em um regime democrtico, claro). Pode serconcebida como a autoridade poltica do Estado em si, entendida como acapacidade que este tem para agregar os mltiplos interesses dispersos pe-

    la sociedade e apresentar-lhes um objetivo comum para os curto, mdio elongo prazos.

    J a governana pode ser entendida como a outra face de um mesmo pro-cesso, ou seja, como os aspectos adjetivos/instrumentais da governabilida-de. Em geral, entende-se a governana como a capacidade que umdeterminado governo tem para formular e implementar as suas polticas.Esta capacidade pode ser decomposta analiticamente em financeira, geren-cial e tcnica, todas importantes para a consecuo das metas coletivas de-finidas que compem o programa de um determinado governo, legitimado

    pelas urnas.Outra definio importante de governana a do Banco Mundial, segundo oqual governana :

    O exerccio da autoridade, controle, administrao, poder de governo. amaneira pela qual o poder exercido na administrao dos recursos sociaise econmicos de um pas visando o desenvolvimento, implicando a capaci-dade dos governos de planejar, formular e implementar polticas e cumprirfunes.

    Eles falam em poder, algo que nos remeteria a governabilidade, mas o poderno gerenciamento dos recursos sociais e econmicos, por isso est relacionado governana.

    11..11.. CCrriisseeddeeGGoovveerrnnaabbiilliiddaaddee

    A crise do Estado de Bem-Estar estaria associada a uma crise de governabili-dade. A sociedade estava cada vez mais insatisfeita com a gesto pblica, tan-to que surgiram as revoltas dos contribuintes, ou taxpayers, agravando ainda

    mais a crise fiscal do Estado.

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    O diagnstico contemporneo sobre governabilidade ou crise do Estado, nocontexto da globalizao, tem como argumento central a crise fiscal noscentros do capitalismo avanado. As duas crises do petrleo na dcada de1970 dificultaram o acesso dos Estados aos financiamentos internacionais,fazendo com que ficasse invivel cumprir todas as promessas do Estado deBem-Estar. No entanto, a crise de governabilidade no fruto somente dacrise fiscal. Veremos agora como alguns autores classificam as causas dacrise de governabilidade.

    Segundo Norberto Bobbio, o termo mais usado entre governabilidade enogovernabilidade o ltimo. Segundo o autor, esta palavra, carregada deimplicaes pessimistas (crise de governabilidade) e, frequentemente conser-vadoras, presta-se a muitas interpretaes. De um lado se encontram aqueles

    que atribuem a crise de governabilidade incapacidade dos governantes; deoutro, aqueles que atribuem a no-governabilidade s exigncias excessivasdos cidados. Em linhas gerais, as duas verses apresentam vrios pontos decontato; porm, quando estritamente distintas, podem chegar, frequentemente,at a atos de acusao (contra governantes ou alguns grupos sociais, quasesempre os sindicatos), ou a posies ideolgicas (obedincia dos cidados ousuperao do capitalismo).

    Segundo Bobbio:

    A fraqueza substancial destes posicionamentos consiste na falta de ajuste, anvel analtico, dos dois componentes fundamentais, capacidade e recursos,em sentido lato, dos Governos e dos governantes, e solicitaes, apoio e re-cursos dos cidados e dos grupos sociais. A governabilidade e a no-governabilidade no so, portanto, fenmenos completos, mas processosem curso, relaes complexas entre componentes de um sistema poltico.

    Bobbio divide as teorias a no-governabilidade nas seguintes hipteses:

    1. A no-governabilidade o produto de uma sobrecarga de problemasaos quais o Estado responde com a expanso de seus servios e da sua

    interveno, at o momento em que, inevitavelmente, surge uma crisefiscal. No-governabilidade, portanto, igual crise fiscal do Estado.

    2. A no-governabilidade no somente, nem principalmente, umproblema de acumulao, de distribuio e de redistribuio de recursos,bens e servios aos cidados, mas , de preferncia, um problema denatureza poltica: autonomia, complexidade, coeso e legitimidade dasinstituies. A governabilidade depende do relacionamento entre aautoridade e suas instituies de Governo e da fora das suas

    instituies de oposio.

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    3. A no-governabilidade o produto conjuntode uma crise de gestoadministrativa do sistema e de uma crise de apoio poltico dos cidadoss autoridades e aos governos. Na sua verso mais complexa, a no-

    governabilidade a soma de uma crise de input(entradas, insumos) ede uma crise de output (sadas, produtos).

    Nas crises de output, o sistema administrativo no conseguecompatibilizar, nem agilizar, os imperativos de controle que lhe chegamdo sistema econmico. As crises de input tm a forma das crises delegitimao: o sistema legitimador no consegue preservar o nvelnecessrio de lealdade da massa, impulsionando assim os imperativos decontrole do sistema econmico que ele assumiu.

    A sobrecarga de demanda, primeira hiptese, ir resultar em um problemaeconmico, a crise fiscal. As consequncias da sobrecarga podem ser de vriostipos. Em primeiro lugar elas podem incidir sobre a eficcia do governo, ouseja, sobre a sua capacidade de conseguir os objetivos prometidos, assim comode ser fiel aos seus compromissos. Em segundo lugar, influem no consensodos cidados, isto , sua disposio de obedecer espontaneamente s leis e asdiretrizes do governo. Aqueles que sustentam esta primeira hiptese acabamsempre caindo nas receitas de cunho neoliberalista. O Estado de Bem-Estarentrou em crise porque prometia inmeros servios, mas no tinha capacidade

    de financiamento.O ponto central da segunda hiptese que uma democracia torna-se tantomais forte quanto mais organizada, sendo que o crescimento da participaopoltica deve ser acompanhado pela institucionalizao (isto , pela legitimaoe aceitao) dos processos e das organizaes polticas. Quando, porm, diminuia autoridade poltica, temos a no-governabilidade do sistema. O aumento dainterveno do governo a partir da segunda metade do sculo XX ocorreusimultaneamente a uma perda de sua autoridade, principalmente na dcada de1960.

    As causas desse fenmeno devem ser buscadas nas transformaes culturaisde grande porte, que culminaram na dcada de 60 em sociedades altamenteescolarizadas, expostas aos meios de comunicao de massa e inclinadas auma participao reivindicatria, e que desafiaram as autoridades em todas asinstituies e em todos os setores, da famlia escola, da fbrica burocracia.As solues propostas por esta corrente foram conservadoras, no sentido dediminuir o processo de democratizao. Ocorreram as revoltas dos taxpayers

    justamente porque as pessoas estavam mais escolarizadas e no queriampagar por algo que no viam retorno.

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    A terceira hiptese se baseia na tese de Habermas e compartilha de alguns dospressupostos sobre os quais se fundam as outras teses. De um modo particu-lar, aceita a premissa da expanso do papel do Estado e do crescimento da suainterveno na esfera da economia e evidencia as caractersticas polticas dacrise, consequncia da mudana de relao entre valores e estruturas na reada participao, das preferncias e das expectativas polticas.

    Segundo o autor, o capitalismo sofre periodicamente crises de acumulaoeconmica. Esta crise econmica desencadeadora de outras. Para reagir aessas crises econmicas, o Estado assume algumas tarefas de apoio ao pro-cesso de acumulao tarefas essas que tenta dissimular uma vez que noso compatveis com a procura de consentimento ou lealdade das massas,por isso gera uma crise de legitimao.

    Ocorre a crise de racionalidade porque h uma incapacidade do sistemaadministrativo em dar conta, com sucesso, dos imperativos do sistema econ-mico. E h uma crise de motivao porque os seus sujeitos descrentesdas possibilidades democrticas se frustram em seus desejos mais profundos.Habermas no apresenta solues especficas para o problema da crise degovernabilidade, mas afirma que na medida em que os recursos econmi-cos no so suficientes para alimentar plenamente as vtimas do crescimentodo capitalismo, surge o dilema de imunizar o Estado contra estas pretensesou de paralisar o processo de crescimento.

    Vamos ver agora outro autor. Ao tratar da crise de governabilidade SamuelHuntington, em A Crise da Democracia, identifica um conjunto de quatrofatores fundamentais que estariam interferindo nos governos e gerando crisede governabilidade:

    Eroso da autoridade dada a vitalidade da democracia (excesso dedemocracia). Dessa perspectiva eles consideram que o Estado de Bem-Estar difundiu uma ideologia igualitria que, ao no poder cumpri-la,

    acaba por deslegitimar a autoridade pblica. A rigor trata-se agora desustentar a incompatibilidade entre o keynesianismo e a democracia.

    Sobrecarga do governo. Esta tese considera que a disponibilidadedoEstado intervir nas relaes sociais provoca um enorme aumento dasdemandas dirigidas s instituies polticas, determinando uma paralisiados governos por sobrecarga de demandas. A satisfao dessas demandasgera tendncias inflacionrias da economia.

    Intensificao da competio poltica, gerando desagregao deinteresses. Segundo essa tese a competio entre organizaes polticasleva incapacidade de selecionar e agregar interesses, causando a

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    incapacidade das instituies quanto absoro de demandasfragmentrias. O peso assumido pela administrao na mediao dosconflitos provoca uma burocratizao da vida pblica que, por sua vez,

    gera a dissoluo do consenso. O provincianismo nacionalista na poltica exterior, devido a presses

    exercidas pelas sociedades a respeito de suas necessidades interiores.

    No centro deste diagnstico da governabilidade das sociedades contemporneasencontra-se uma tese economicista, que localiza o fator central da crise emfatores econmicos associados base inflacionria e ao desempenho dosfatores fiscais. As recomendaes para este problema, no receiturio neolib-eral, envolvem medidas de reforma institucional e poltica, que implica:

    Reduo das atividades do governo: as teses do Estado mnimo, queimplica na reforma institucional do Estado, procedendo a umadesconcentrao do Estado, atravs da descentralizao das polticassociais para as instncias sub-nacionais dos municpios e repasse dasresponsabilidades pblicas ao setor privado;

    Aumento de recursos e entradas disposio dos Estados, o que temsignificado um investimento e capacitao do setor tributrio do governo,

    cuja eficincia tem funo estratgica, no novo desenho do Estado; Reduo das expectativas dos grupos sociais, atravs de uma reduo e

    desconcentrao do Estado de Bem Estar Social, reforma da Previdncia eflexibilizao dos Direitos sociais; aliados a uma absurda poltica decontrao de empregos.

    11..22.. CCoonnffuusseess eennttrree ooss ccoonncceeiittooss

    At agora estvamos vendo que a governabilidade se refere mais a um aspec-to poltico, enquanto a governana se situa na dimenso da gesto. Porm,essa distino no muito clara, no existe um ponto exato que separa os doisconceitos, mas sim uma rea nebulosa em que eles se confundem.

    Como vimos na definio do Vincius de Carvalho, a governana correspondeaos aspectos adjetivos/instrumentais da governabilidade, ou seja, um ins-trumento para que o governo consiga governar. Assim, uma boa governanaaumenta a governabilidade, ou seja, h uma relao estreita entre os doisconceitos. Uma m governana tambm pode diminuir a governabilidade.

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    Foi o que aconteceu na crise do modelo burocrtico e do Estado de Bem-Estar.O modelo burocrtico tinha uma m governana porque no administrava osrecursos pblicos adequadamente, no tinha capacidade para formular e im-plementar as suas polticas. Essa m governana foi gerando a insatisfao nasociedade, tanto que ocorreram as revoltas dos taxpayers, ou revolta dos con-tribuintes, em que as pessoas no queriam pagar mais impostos j que noviam os resultados. O Estado perdeu legitimidade, ou seja, perdeu governabili-dade.

    H uma rea em que os dois conceitos se confundem e h divergncia entre osautores. Por exemplo, vamos rever os conceitos do Bresser Pereira, da Eli Dinize do Vincius de Carvalho:

    A capacidade poltica de governar ou governabilidade deriva da relao de

    legitimidade do Estado e do seu governo com a sociedade, enquanto quegovernana a capacidade financeira e administrativa em sentido amplode uma organizao de implementar suas polticas.

    A governabilidade refere-se s condies sistmicas de exerccio do poderpor parte do Estado em uma determinada sociedade. Seria uma somatriados instrumentos institucionais, recursos financeiros e meios polticos deexecuo das metas definidas.

    Em geral, entende-se a governana como a capacidade que um determina-do governo tem para formular e implementar as suas polticas. Esta capaci-dade pode ser decomposta analiticamente em financeira, gerencial etcnica, todas importantes para a consecuo das metas coletivas definidasque compem o programa de um determinado governo, legitimado pelasurnas.

    Podemos ver que Bresser e Carvalho colocam a capacidade financeira no con-ceito de governana, enquanto Eli Diniz associa os recursos financeiros com oconceito de governabilidade. Eu daria preferncia pelos dois autores, pois amaior parte dos conceitos coloca capacidade financeira em governana. Porm,o conceito da Eli Diniz j foi usado vrias e vrias vezes pela ESAF, por issotem que ficar de olho.

    Outra confuso entre os conceitos refere-se legitimidade. Vimos que ela estassociada com a governabilidade, mas o conceito de governana vem passan-do por reformulaes. Segundo Bresser Pereira:

    No conceito de governana pode-se incluir, como o faz Reis (1994), a capa-cidade de agregar os diversos interesses, estabelecendo-se, assim, maisuma ponte entre governana e governabilidade. Uma boa governana, con-forme observou Fritschtak (1994) aumenta a legitimidade do governo e,

    portanto, a governabilidade do pas.

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    Vimos acima a definio de Vincius de Carvalho, que afirma que a governabili-dade pode ser entendida

    como a capacidade que este tem para agregar os mltiplos interesses

    dispersos pela sociedade e apresentar-lhes um objetivo comum para os cur-to, mdio e longo prazos.

    E ento: a capacidade de agregar interesses governana ou governabilidade? gesto ou poltica?

    preciso saber que os conceitos em cincias sociais so reformulados ao longodo tempo, no so verdades estanques, apesar de os concursos cobrarem co-mo se fossem. Assim, o conceito de governana vem passando por uma trans-formao, deixando de se restringir aos aspectos gerenciais e administrativos

    do Estado, para abranger aspectos ligados cooperao entre os diversos ato-res e a capacidade destes em trabalharem juntos.

    Vamos ver agora a evoluo do conceito de governana.

    11..33.. NNoovvaa GGoovveerrnnaannaa PPbblliiccaa

    O termo Governana no recente. A literatura tem apontado trs usos naliteratura: governana corporativa, a boa governana e a governana pblica.

    1) A governana corporativaest preocupada com os sistemas internos eprocessos que proveem direo e accountability para as organizaes. Vamosver duas definies de governana corporativa:

    Conjunto de prticas pelas quais o conselho de administrao garante ocontrole dos atos dos gestores em face do interesse dos acionistas.

    Governana Corporativa so as prticas e os relacionamentos entre os Acio-nistas/Cotistas, Conselho de Administrao, Diretoria, Auditoria Indepen-

    dente e Conselho Fiscal, com a finalidade de otimizar o desempenho daempresa e facilitar o acesso ao capital.

    A governana corporativa em muitos casos parece estar mais prxima da ac-countability do que da governana pblica. Ela aborda aspectos de transparn-cia da administrao das empresas (prestao de contas), mecanismos quefaam com que os administradores sigam os interesses dos acionistas (respon-sividade) e instrumentos de responsabilizao dos administradores.

    O termo usado no mesmo sentido na chamada Governana de Tecnologia da

    Informao. Neste caso, a governana definida como:

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    Modelo que define direitos e responsabilidades pelas decises que encora-jam comportamentos desejveis no uso de TI.

    Processo pelo qual decises so tomadas sobre os investimentos em TI, o

    que envolve: como as decises so tomadas, quem toma as decises, quem responsabilizado e como os resultados so medidos e monitorados.

    2) A boa governanaest preocupada com o estabelecimento de modelosnormativos de carter social, poltico e administrativo por instituies como oBanco Mundial. Ou seja, tais instituies procuram dizer para os pases emdesenvolvimento como eles deveriam organizar e promover suas polticas. OBanco Mundial define governana como:

    O exerccio da autoridade, controle, administrao, poder de governo. amaneira pela qual o poder exercido na administrao dos recursos sociaise econmicos de um pas visando o desenvolvimento, implicando a capaci-dade dos governos de planejar, formular e implementar polticas e cumprirfunes.

    3) J a governana pblica busca analisar como diferentes atores intera-gem na formulao e implementao de polticas pblicas, como que o Esta-do, o mercado e o terceiro setor atuam de forma coordenada, formando as

    chamadas redes de polticas pblicas.

    Dentro da disciplina de Administrao Pblica, a governana normalmentecobrada nesses dois ltimos sentidos, e muita confuso acaba sendo feita emtorno deles. Vamos ver um pouco disso agora.

    O termo governana foi introduzido no debate pblico internacional pelo BancoMundial, como uma forma de aprofundar o conhecimento das condies quegarantem um Estado eficiente. Essa preocupao alterou o foco das implica-es estritamente econmicas da ao do Estado para contemplar outros as-

    pectos como as dimenses sociais e polticas da gesto pblica. A capacidadegovernativa no seria mais avaliada apenas em termos dos resultados daspolticas governamentais, mas na forma como o governo exerce seu poder,implicando na capacidade do governo para desenhar, formular e implementarpolticas e atribuir funes.

    Apesar de no incio a reforma gerencial surgir muito prxima do neoliberalis-mo, ao longo do tempo ela se distancia dele. errado dizer que o gerencialis-mo defende um Estado Mnimo.

    O crescimento econmico, que segundo o neoliberalismo, seriam uma tendn-cia natural, no veio. As sociedades estavam insatisfeitas com as perdas em

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    termos de polticas sociais, que resultou numa perda de bem-estar, ao mesmotempo em que aumentava o desemprego, a criminalidade.

    Na dcada de 1990 novos grupos polticos assumem o

    poder, dando novos rumos para as mudanas no pa-pel do Estado. O neoliberalismo foi aplicado pelo go-verno do Partido Conservador de Margareth Thatchere pelo governo do Partido Republicano de Ronald Re-agan. Em 1993 assume o presidente democrata BillClinton nos EUA e em 1997 o partido trabalhista deTony Blair assume o governo na Inglaterra.

    Bill Clinton e Tony Blair iro formar, juntamente com Fernando Henrique Car-doso e outros lderes de Estado, a chamada Terceira Via. Podemos coloc-los

    como um movimento de centro.

    Em linhas gerais, o grupo da Terceira Via procurava manter a disciplina eco-nmica obtida com as reformas estruturais e democratizar a globalizao,conjugando os benefcios do mercado com um estilo de governo mais focadonas questes sociais, que passaram a ser demandadas no final da dcada de1990. Segundo Ana Paula Paes de Paula (2005):

    Verificamos assim que os governos de orientao social-liberal adotaramuma posio mais conformista, pois se renderam s reformas neoliberais

    realizadas e tentaram se adequar a elas, incluindo questes sociais.

    Na viso do grupo, trata-se de rejeitar no apenas o estatismo burocrtico davelha esquerda, mas tambm os postulados neoliberais do "Estado mnimo".Busca-se, com a governana progressiva, redesenhar a administrao pblicapara livr-la de distores seculares, para torn-la mais transparente e, por-tanto, mais forte e mais capaz de implementar polticas pblicas. Buscam-seos ideais clssicos da solidariedade e coeso social, aplicados segundo as exi-gncias de hoje, o que requer um novo Estado capaz de assegurar o bem-estara todos. Eles buscam aplicar uma poltica econmica conservadora e de uma

    poltica social progressista.

    Analisando essa mudana na conduo das reformas, Humberto Falco Martinse Caio Marini dividem as reformas em duas geraes:

    As reformas de primeira gerao (anos 80 e 90) tinham uma orientao es-sencialmente econmica e fiscal. A crise do Estado era um elemento centraldas reformas de primeira gerao.

    A marca distinta das reformas de segunda gerao no incio do sculo XXI a promoo do desenvolvimento. Acredita-se que os imensos desafios soci-

    ais em escala global, manifestos pela crescente desigualdade e pobreza,

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    no podem ser vencidos pela simples ao dos mercados, mas por meio dofortalecimento de instituies tais como Estado, o mercado e o terceiro se-tor. Por um lado, a forte correlao entre instituies e desenvolvimentotem sido empiricamente comprovada em diversos estudos recentes, suge-

    rindo que a consolidao institucional o fator primordial de desenvolvi-mento.

    Portanto, a segunda gerao est voltada para o pluralismo institucional, agovernana em rede, a atuao conjunta de Estado, mercado e terceiro setorcomo forma de impulsionar o desenvolvimento.

    nesse momento que o termo governana passa a ganhar novas interpreta-es. Ao invs de ser visto como uma capacidade gerencial e financeira deimplementar polticas pblicas, ele passa a ser visto como uma capacidade de

    diferente atores agirem de forma coordenada na busca de objetivos comuns, a capacidade do Estado, do mercado e do terceiro setor atuarem juntos naimplementao das polticas pblicas.

    A prpria Terceira Via altera seu nome para Governana Progressista. SegundoAna Paula Paes de Paula:

    A administrao pblica progressista tambm vem abrangendo o termo go-vernana, que bastante impreciso e abriga vrios significados, mas estsendo frequentemente utilizado no mbito da nova administrao pblica edo Banco Mundial para designar a administrao eficiente dos negcios p-blicos. Alguns autores tentam propor um conceito mais abrangente de go-vernana, que interpreta o Estado como um sistema poltico mediado porredes auto-organizadoras, cujos resultados so produto da interao do go-verno local, do setor privado e do setor voluntrio.

    Nesta nova viso, ao abandonar funes empresariais, relacionadas produode bens e servios, o Estado estaria se capacitando para ter uma atuao maisseletiva e, portanto, mais eficaz. O novo papel regulatrio do Estado faz partedo resultado de um programa de reformas que, a despeito de ser orientadopara o mercado, objetiva a recuperao da capacidade de interveno estatal.Surge dentro dessa lgica a ideia de Estado Regulador.

    A aplicao prtica da teoria resultou numa srie de medidas com o objetivode retirar do Estado o papel de produtor, de executor. Ao se retirar da produ-o e prestao de servios, ao Estado caberia proteger, de forma instituciona-lizada, investidores e consumidores. Investidores desejam um sistemaregulatrio estvel e previsvel para que o processo de acumulao de capitalda companhia possa se materializar; consumidores desejam ser protegidos daprtica de preos abusivos, em setores onde existem monoplios naturais.

    Para o governo, estabelecer e definir mecanismos de reviso e controle dopreo justo dos servios monopolistas a grande questo.

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    O New Public Management passou a ser cada vez mais contestado. SegundoStephen Osborne, o NPM constituiu, na realidade, um estgio de transioentre a administrao pblica tradicional e aquilo que ele chama de Nova Go-vernana Pblica.

    Aqui temos um ponto polmico que foi objeto de questo da ESAF no ltimoconcurso da CGU e que ainda est no gabarito preliminar.

    1. (ESAF/CGU/2012) Sobre redes de polticas pblicas, no correto afirmar que sur-

    gem no mbito da reforma gerencial do Estado, quando se buscou implementar inova-

    es na administrao pblica que promovessem a eficcia e a eficincia das aes

    governamentais.

    Essa questo foi dada como certa, ou seja, que as redes no teriam surgidonas reformas gerenciais. Mas esse um tema polmico. Segundo Snia MariaFleury Teixeira, no texto O desafio da gesto das redes de polticas:

    A proliferao de redes de gesto explicada por uma multiplicidade de fatoresque incidem, simultaneamente, conformando uma nova realidade administrati-va. A globalizao econmica alterou os processos produtivos e administrativosem direo maior flexibilizao, integrao e interdependncia.

    Por outro lado, as transformaes recentes no papel do estado e em suas rela-es com a sociedade, impem novos modelos de gesto que comportem a in-terao de estruturas descentralizadas e modalidades inovadoras de parceriasentre entes estatais e organizaes empresariais ou sociais.

    Como vocs podem ver, uma srie de fatores contribuiu para a formao deredes, entre eles o fato de o Estado ter se retirado da condio de nico im-plementador de polticas pblicas e ter transferido uma srie de atividadespara o setor privado e o terceiro setor.

    Segundo Peter Bogason e Juliet A. Musso:Este simpsio considera o carter democrtico das redes de governana. Oconceito tem suas origens no crescimento e maior complexidade do Estadode Bem-Estar e na descentralizao, devoluo e reformas do New PublicManagement nos anos 1980 e 1990.

    Podemos observar que os autores associam as redes de governana direta-mente com as reformas gerenciais das dcadas de 1980 e 1990. Porm, outrosautores abordam o tema das redes dentro de um modelo de gesto diferentedo NPM. Vimos que falam em Nova Governana Pblica. Assim, na viso dealguns, as redes no teriam se originado nas reformas gerenciais, mas num

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    segundo momento, com a busca da atuao conjunta do Estado com a socie-dade. Segundo Erik-Hans Klijn:

    Pode-se dizer que, de certa forma, a narrativa da governana constitui

    uma alternativa narrativa do NPM. Esta narrativa, especialmente nassuas primeiras verses, focou fortemente nas mudanas organizacionais einstitucionais dentro do setor pblico buscando a ampliao da eficincia eda efetividade por meio de medidas como terceirizao e o crescente uso demecanismos do mercado nos servios pbicos. Na medida em que a narrati-va da governana cresceu em popularidade nos ltimos 10 anos, no sur-

    preendente que a teoria das redes tambm tenha crescido em popularidade.

    A discusso mais recente do conceito de governana ultrapassa o marco ope-racional para incorporar questes relativas a padres de articulao e coopera-

    o entre atores sociais e polticos e arranjos institucionais que coordenam eregulam transaes dentro e atravs das fronteiras do sistema econmico.Com a ampliao do conceito de governana fica cada vez mais imprecisa suadistino daquele de governabilidade.

    As teorias da governana esto se voltando cada vez mais para a anlise dasredes de polticas pblicas, buscando analisar qual o papel do governo frentes mudanas que esto ocorrendo na prestao de servios pblicos.

    Segundo Lffer:

    A governana pode ser entendida como uma nova gerao de reformas ad-ministrativas e de Estado, que tm como objeto a ao conjunta, levada aefeito de forma eficaz, transparente e compartilhada, pelo Estado, pelasempresas e pela sociedade civil, visando uma soluo inovadora dos pro-blemas sociais e criando possibilidades e chances de um desenvolvimentofuturo sustentvel para todos os participantes.

    Milward e Provan utilizaram o conceito de Hollow State, ou Estado Esvazia-do, para descrever este novo Estado em que ele transfere a execuo de ser-vios para entidades sem fins lucrativos. Segundo os autores:

    No uso comum, governo se refere s instituies formais do Estado Execu-tivo, Legislativo e Judicirio e seu monoplio do uso legtimo do poder co-ercitivo. Governana um termo mais inclusivo, preocupado em criar ascondies para uma ao coletiva ordenada, geralmente incluindo agentes dosetor privado e no-lucrativo dentro do setor pblico. A essncia da gover-nana seu foco nos mecanismos de governo acordos, contratos e garanti-as que no se baseiam somente na autoridade e sanes governamentais.

    O conceito de governana deixa de estar restrito ao campo da gesto, paraganhar contornos polticos, tanto que Frederickson afirma que a definioimplica que a governana inerentemente poltica, que envolve barganha e

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    compromisso entre atores com interesses diversos. E o conceito de legitimi-dade deixa de ser algo inerente apenas governabilidade. Para Edmilson Fran-cisco de Oliveira:

    Esse esforo terico mostrou que a principal diferena entre governabilidadee governana est na forma como a legitimidade das aes dos governos entendida. Enquanto no conceito de governabilidade a legitimidade vem dacapacidade do governo de representar os interesses de suas prprias institui-es. No conceito de governana, parte de sua legitimidade vem do

    processo, do entendimento de que, quando grupos especficos da populaoquando participam da elaborao e implantao de uma poltica pblica, elatem mais chances de ser bem sucedida em seus objetivos.

    Podemos ver aqui que a legitimidade no mais associada apenas ao conceito

    de governabilidade, ela passa a integrar tambm o conceito de governana.Portanto, temos que tomar MUITO CUIDADO. Na governabilidade, a legitimi-dade est relacionada com a representao de interesses, se a sociedade per-cebe o governo como um legtimo intermedirio na disputa de interesses entreos diversos grupos da sociedade ou se ele visto como direcionado para de-terminado grupo. Na governana, a legitimidade est relacionada com a parti-cipao da sociedade nas decises, se as polticas so formadas eimplementadas junto com a sociedade.

    As bancas de concursos normalmente no tratam desses nuances, elas ficam

    em torno de pontos que so mais consensuais e superficiais. Porm, algumasvezes elas passam a incorporar mudanas mais recentes nos conceitos, e aESAF j fez isso uma vez com esse conceito de governana:

    2. (ESAF/CGU/2008) Durante a crise do Estado dos anos 1980 e 1990, palavras e ex-

    presses foram forjadas para possibilitar o entendimento de suas diferentes dimen-

    ses e propiciar a busca de solues. Neste contexto, quando um governo est

    preocupado em legitimar decises e aes se diz que ele est buscando maior ..........

    Complete a frase com a opo correta.

    a) governabilidade.

    b) efetividade.

    c) governana.

    d) accountability.

    e) eficincia.

    A questo fala em legitimidade, por isso a tendncia marcarmos governabili-dade. S que ela fala em legitimidade das decises e aes, ou seja, abrange

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    um aspecto mais da gesto, no da poltica. Portanto, podemos perceber queeles estavam trazendo as tendncias mais recentes do conceito de governana.Tanto que a resposta da questo era a letra C. Todavia, como choveu recur-sos de pessoas que associaram a legitimidade com a governabilidade, a ESAFanulou a questo. Mas, vejam que ela no quis alterar o gabarito para a letra

    A, ou seja, ela voltou a trs, mas nem tanto.

    No concurso do TCDF, o CESPE deu como certa no gabarito preliminar a se-guinte questo:

    3. (CESPE/TCDF/2012) O fato de o governador de uma unidade federativa, incluso o

    DF, perder sua legitimidade democrtica lhe acarreta a perda da governana.

    Porm, no gabarito definitivo eles anularam com a seguinte justificativa.

    H divergncia na literatura em relao ao assunto tratado no item. Dessemodo, opta-se por sua anulao.

    Mais uma vez eles cobraram a legitimidade relacionada com a governana,mas no tiveram coragem de manter o gabarito. Vejam como eles apontam ofato de haver divergncia na literatura.

    A teoria da governana continua avanando, hoje j se fala em metagovernan-a, que seria a governana da governana. Tanto as reformas do NPM quantoas da Nova Governana Pblica resultaram numa reduo da interveno dire-ta do Estado, privilegiando a participao da sociedade, seja por meio de pri-vatizaes ou fomento ao terceiro setor. Porm, estas reformas, apesar dediversos benefcios que propiciaram em termos de eficincia e flexibilidade,tambm geraram uma srie de consequncias negativas. Segundo Guy Peters,

    ambos os estilos de reforma criaram problemas de incoerncia e enfraqueci-mento da coordenao no setor pblico e, alm disso, criaram extensos pro-

    blemas de accountability.Diante de tais problemas, muitos pases estariam promovendo uma recentrali-zao do controle nos governos. Uma resposta que Peters e outros autorespropem a Metagovernana, definida como a coordenao de diferentesformas de governana, a garantia de uma coerncia mnima entre elas, a or-ganizao das condies para a governana.

    Vamos ver as principais caractersticas da governana e da governabilidade.

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    Governabilidade Governana

    Capacidade de governar,legitimidade do Estado e do seugoverno com a sociedade;

    Condies sistmicas de exerccio dopoder por parte do Estado em umadeterminada sociedade. Somatria dosinstrumentos institucionais, recursosfinanceiros e meios polticos deexecuo das metas definidas;

    Est relacionada com: a forma degoverno, a relao Executivo-Legislativo, a composio, formao edinmica do sistema partidrio, osistema de intermediao deinteresses, todo o conjunto dasrelaes Estado-sociedade;

    Condies substantivas/materiais deexerccio do poder e de legitimidade doEstado e do seu governo derivadas dasua postura diante da sociedade civil e

    do mercado. Autoridade poltica do Estado em si,entendida como a capacidade que estetem para agregar os mltiplosinteresses dispersos pela sociedade eapresentar-lhes um objetivo comumpara os curto, mdio e longo prazos.

    Sua fonte so os cidados e asociedade civil;

    Capacidade financeira eadministrativa de uma organizao deimplementar polticas pblicas;

    Aspectos adjetivos/instrumentais dagovernabilidade.

    Capacidade que um determinadogoverno tem para formular eimplementar as suas polticas. Estacapacidade pode ser decompostaanaliticamente em financeira, gerenciale tcnica;

    O exerccio da autoridade, controle,administrao, poder de governo. amaneira pela qual o poder exercidona administrao dos recursos sociais eeconmicos de um pas visando odesenvolvimento, implicando acapacidade dos governos de planejar,formular e implementar polticas ecumprir funes.

    Parte de sua legitimidade vem doprocesso, do entendimento de que,quando grupos especficos dapopulao quando participam daelaborao e implantao de umapoltica pblica, ela tem mais chancesde ser bem sucedida

    Sua fonte so os servidores pblicose agentes do Estado;

    22..AAccccoouunnttaabbiilliittyyJ vimos na Aula 01 um pouco da Teoria da Agncia. Ela estuda as relaescontratuais em que se observa a figura de um sujeito ativo que recebe o nomede principal, e de um sujeito passivo chamado agente. O principal quem

    contrata e o agente o contratado.

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    Essas relaes podem ser explcitas (formais), em que existe um instrumentojurdico em que so expressos os direitos e deveres de cada um, ou implcitas(informais), em que as relaes so orientadas por usos e costumes que sus-tentam e do legitimidade s aes praticadas entre as partes relacionadas.Como exemplo de uma relao formal, temos os contratos de compra e venda,o contrato de trabalho, etc. So relaes contratuais informais a entre o em-pregado e o patro, o empregado e o cliente, etc.

    A suposio bsica existente na relao principal-agente de que o agente iragir em favor do principal e que por isso receber alguma recompensa. Oagente, ou contratado, dever desempenhar certas funes, de acordo com oscritrios do principal, ou contratante.

    Esta teoria originou-se na Economia, baseando-se na ideia de escolha racional,

    que pressupe que, do leque de aes possveis numa situao dada, as pes-soas escolhem racionalmente aquelas que maximizam as chances de conseguirsuas metas e realizar seus projetos.

    A teoria da agncia focaliza os problemas gerados pelo fato de que o agentetem de fazer algo pelo principal, mas no tem os mesmos interesses. Ao mes-mo tempo, o principal nunca tem informao completa sobre as atividades doagente, e muitas vezes nem sabe fazer as tarefas do agente. Assumindo-seque as partes buscam a maximizao de interesses individuais, de se esperar

    que o agente no v agir sempre no interesse do principal. Por outro lado, oprincipal procurar estar cercado de garantias para evitar ser prejudicado.

    Segundo essa teoria, os conflitos de agncia aparecem quando o bem-estar deuma parte, o principal, depende das decises tomadas por outra, responsvelpela gesto do patrimnio do principal, o agente. Embora o agente deva tomardecises em benefcio do principal, muitas vezes ocorrem situaes em que osinteresses dos dois so conflitantes, dando margem a um comportamentooportunista por parte do agente.

    Essa abordagem tenta descobrir que arranjos contratuais e institucionais po-dem melhor alinhar ou compatibilizar os interesses do agente com os interes-ses do principal. Para o principal, o ideal um sistema de incentivos em que oagente s pode ganhar mais com esforos que beneficiem o principal.

    Segundo Peters, o conflito de agncia

    existe desde que as empresas passaram a ser administradas por agentesdistintos dos proprietrios h cerca de 100 anos. Por essa poca, comeoua ser delineado o conflito de agncia, em que o agente recebe uma delega-o de recursos e tem, por dever dessa delegao, que gerenciar estes re-

    cursos mediante estratgias e aes para atingir objetivos, tudo istomediante uma obrigao constante de prestao de contas. (grifo nosso).

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    Podemos observar trs tipos de relaes agente-principal no setor pblico:

    Cidados e polticos: Polticos e burocratas; Estado (burocracia e sistema poltico) e agentes econmicos;

    Os primeiros so os principais, os segundos os agentes. A sociedade o princi-pal que delega a responsabilidade pela gesto de seu patrimnio para o Esta-do. Este o agente que deve atuar de acordo com o interesse pblico, ou seja,o interesse da sociedade.

    A auditoria, tanto no setor pblico quanto no setor privado, surge justamente

    dentro desta relao principal-agente, como um instrumento do primeiro paraverificar as aes do segundo. Vamos ver uma questo do CESPE:

    4. (CESPE/DATAPREV/2006) A teoria da agncia prov justificativa conceitual ou filo-

    sfica para a realizao de auditorias, ao definir que uma organizao representada

    pelo conjunto de seus contratos entre agentes com interesses prprios, o que exige

    superviso.

    A questo certa. A auditoria tem como pressuposto o controle da ao dosagentes tendo em vista os interesses do principal. E assim tambm que po-demos observar a accountability. A accountability indica o dever do agente emdesempenhar suas funes em nome do principal, quais responsabilidades oagente possui quando administra bens e direitos de um terceiro, e como oprincipal pode realizar o controle das aes desempenhadas pelo agente.

    O termo accountability vem do latim:

    ad + computare: contar para, prestar contas a, dar satisfao a, cor-

    responder expectativa de.

    O termo que mais se aproxima de accountability responsabilidade. FrederichMosher, inclusive, trata-a como sinnimo de responsabilidade objetiva:

    Acarreta a responsabilidade de uma pessoa ou organizao perante uma outrapessoa, fora de si mesma, por alguma coisa ou por algum tipo de desempenho

    Assim, a accountability abrange a responsabilidade para com um terceiro, oprincipal. Porm, o termo vai alm da responsabilidade. Fernando Abrucio e

    Maria Rita Loureiro definem accountability democrtica como:

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    A construo de mecanismos institucionais por meio dos quais os governantesso constrangidos a responder, ininterruptamente, por seus atos e omisses

    perante os governados.

    No h traduo de accountability para o portugus. Alguns autores afirmamque isto se deve a pouca qualidade de nossa democracia em comparao comas anglo-saxs. Por exemplo, Guillermo O'Donnell, um dos autores mais cita-dos acerca da accountability, classifica as democracias da Amrica Latina comoDemocracias Delegativas.

    Nos pases desenvolvidos vigora a democracia representativa, em que a popu-lao elege representantes para atuar em seu nome, e por isso esses repre-sentantes devem atuar segundo os interesses de seus eleitores. Na AmricaLatina h uma cultura em que o representante eleito recebe um mandato para

    governar da forma que ele achar melhor. Ele possui ampla liberdade de ao,sendo considerado o salvador da ptria. No h uma cultura de cobr-lo pe-las promessas de campanha nem de acompanhar de perto suas decises.

    J Anna Maria Campos, no texto Accountability: quando poderemos traduzi-lapara o portugus?, afirma que:

    Quanto mais avanado o estgio democrtico, maior o interesse pela accoun-tability. E a accountability governamental tende a acompanhar o avano devalores democrticos, tais como igualdade, dignidade humana, participao,

    representatividade.Alguns autores traduzem o termo como responsabilizao, outros como deverde prestar contas, mas nenhum destes termos consegue abarcar todos os sen-tidos presentes na accountability. Ela abrange pelo menos trs aspectos:

    Elementos do Conceito de Accountability

    Obrigao em prestar contas Responsabilizao pelos atos e resultados Responsividade

    O agente administra bens pertencentes ao principal, por isso deve prestarcontasdesta administrao.

    O segundo aspecto a responsabilizao. O agente deve responder pelosseus atos, tanto em termos de legalidade quanto de resultados. A administra-o gerencial mudou o foco do controle a priorisobre os processos para ser a

    posterioride resultados, por isso o administrador pblico responde no s em

    termos de legalidade, mas tambm em termos de eficincia, eficcia e efetivi-dade.

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    A responsividade refere-se sensibilidade do agente em relao vontadedo principal. O agente deve tomar suas decises de forma a maximizar osinteresses do principal, e no os seus prprios interesses. Assim, na adminis-trao pblica, as decises do governo devem ter como finalidade sempre ointeresse pblico, seguindo o princpio da impessoalidade.

    J Andras Schedler identifica no conceito de accountability dois aspectos:

    Capacidade de resposta dos governos (answerability), ou seja, aobrigao dos oficiais pblicos informareme explicaremseus atos.

    Capacidade das agncias de accountability de impor sanes e perdade poder (enforcement) para aqueles que violaram os deveres pblicos.

    Estes dois aspetos no se diferenciam muito dos trs vistos acima. O autorconsidera a noo de accountability bidimensional: envolve capacidade deresposta e capacidade de punio (answerability e enforcement). Contudo, acapacidade de resposta engloba dois tipos de questes: uma dimenso relativa informao das decises e outra condizente com a necessidade dos governantesexplicarem tais decises. A informao pode ser associada necessidade deprestao de contas, o primeiro aspecto visto anteriormente. J a explicao,ou justificao, est ligada responsividade, ou seja, o administrador deve

    justificar seus atos para demonstrar que eles esto de acordo com o interesse

    pblico, com os anseios da sociedade Temos aqui a responsividade. Por fim,a capacidade de punio pode ser associada com a responsabilizao.

    Essas mesmas trs dimenses esto nas Normas de Auditoria do TCU (NAT):

    Esse conceito de accountability fundamental para a compreenso da prt-ica da boa governana e da auditoria governamental. Ele envolve, no con-texto das relaes que se estabelecem entre os administradores pblicos, oParlamento e a sociedade, pelo menos trs dimenses informao, jus-tificao e sano como formas bsicas pelas quais se pode prevenir oabuso de poder.

    O documento apresenta uma definio da Intosai, instituio que congrega asinstituies fiscalizadoras superiores:

    As normas de auditoria da Intosai conceituam a accountability pblica comoa obrigao que tm as pessoas ou entidades s quais se tenham confiadorecursos, includas as empresas e corporaes pblicas, de assumir as re-sponsabilidades de ordem fiscal, gerencial e programtica q ue lhes foramconferidas, e de informar a quem lhes delegou essas responsabilidades. E,ainda, como obrigao imposta, a uma pessoa ou entidade auditada dedemonstrar que administrou ou controlou os recursos que lhe foram confia-dos em conformidade com os termos segundo os quais lhe foram entregues.

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    Em vrios momentos do texto das NAT podemos perceber ela falando da delegaode recursos e poder por parte da sociedade para o Estado, que justamenteo carter da relao agente-principal. A auditoria surge nessa relao comoum instrumento do principal para fiscalizar a conduta do agente, ou seja, ostribunais de contas tm como funo agir em nome da sociedade (principal)para garantir que o agente busque seus interesses. Segundo as NAT:

    A auditoria, no contexto da accountability, conforme o conceito desenvolvidopelo Escritrio do Auditor-Geral do Canad (OAG) a ao independente deum terceiro sobre uma relao de accountability, objetivando expressaruma opinio ou emitir comentrios e sugestes sobre como essa relao es-t sendo cumprida.

    A accountability um conceito que vem recebendo novas interpretaes, prin-

    cipalmente aps as reformas ocorridas no final do Sculo passado. ArlindoCarvalho Rocha traa a evoluo do conceito.

    Em resumo, a viso de accountability no modelo da velha administraopblica explica a nossa to conhecida atuao dos tribunais de contasfocada nos padres tradicionais de controle e restritos verificao daconformidade/legalidade da ao dos gestores pblicos, restringindo aspossibilidades de accountability a esse tipo de controle;

    J nos anos de 1980, surgem presses por mudanas para superar as

    suas deficincias. Como resposta surge o modelo da nova gesto pblica.H uma mudana de perspectiva da accountability, de uma perspectivapblica para uma perspectiva essencialmente privada, na qual a nfaseest na prestao dos servios desejados pelos clientes da forma maisrentvel possvel;

    O terceiro modelo de administrao pblica, batizada por seus autores deO Novo Servio Pblico (que podemos associar ao PSO), constitui-se emuma nova proposta. A sua concepo de accountability reconhece,

    tambm, que medidas de eficincia e resultados so importantes, masno so suficientes para abranger outras expectativas que a sociedadeprojeta em relao aos administradores pblicos, tais como agireticamente e em conformidade com os princpios democrticos.

    Podemos resumir assim: na administrao burocrtica, valorizava-se apenas ocontrole de conformidade e legalidade; com a NGP, valoriza-se o controlede resultados, em termos de eficincia e efetividade; com o PSO, valoriza-se a participao da sociedade e o carter democrtico. O problema que ostribunais de contas se concentram ainda muito na legalidade, tendo avanadopouco em termos e resultado e nada no carter democrtico.

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    Segundo Fernando Abrucio e Maria Rita Loureiro:

    Normalmente, a literatura sobre a accountability trata do controle dos atosdos governantes em relao ao programa de governo, corrupo ou

    preservao de direitos fundamentais dos cidados. Mais recentemente, es-se tema tem sido estudado em sua interseco com a reforma do Estado,analisando como o aperfeioamento das instituies estatais pode contem-

    plar, ao mesmo tempo, a melhoria do desempenho dos programas gover-namentais e sua maior transparncia e responsabilizao do poder pblicofrente sociedade.

    22..11.. DDiivveerrggnncciiaass eemm rreellaaoo aaoo ccoonncceeiittoo

    Scott Mainwaring identifica cinco reas de divergncia e disputa conceitual emtorno da accountability:

    Escopo e abrangncia do conceito:

    1 Grupo: apenas os mecanismos de controle formais e institucionalizadosdevem ser compreendidos sob a noo de accountability, no compreende emseus limites as relaes informais de fiscalizao e controle, no considerandocomo agentes de accountability, a imprensa e organizaes da sociedade civil;

    2 Grupo: embora no restrinjam as relaes de fiscalizao e controle tosomente s formas institucionalizadas e, portanto, admitam um rol de relaesbem mais abrangente, estipulam que tais relaes devem necessariamenteincluir a capacidade de sano aos agentes pblicos.

    3 Grupo: admite toda e qualquer atividade ou relao de controle, fiscalizaoe monitoramento sobre agentes e organizaes pblicas como constituintes doconjunto de mecanismos de responsabilizao.

    Objeto dos mecanismos de accountability:

    1 Grupo: limitam-se ao controle e fiscalizao de violaes legais por partede autoridades e agncias pblicas;

    2 Grupo: os mecanismos de accountability tambm compreendem o monito-ramento, o controle e a sano de divergncias polticas que no necessaria-mente envolvam delitos ou infraes legais.

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    Capacidade de sano:

    1 Grupo: uma atividade ou mecanismo de controle e fiscalizao s pode serconsiderado instrumento de accountability se for capaz de impor sanes aos

    governantes ou burocratas sujeitos a seu escrutnio2 Grupo: alguns mecanismos de accountability sustentam-se apenas pelacapacidade de demandar justificao ou prestao de contas dos agentes p-blicos por seus atos e omisses limitam-se exigncia de answerability;

    Restrio dos mecanismos de accountability relao agente-principal:

    1 Grupo: a noo de accountability se restringe s relaes de agncia, isto ,s relaes em que um principal encarrega um agente para executar uma

    ao. Apenas nos casos em que o principal tem a capacidade de responsabili-zar e punir diretamente o agente atravs de algum tipo de punio, do desli-gamento automtico ou da no-renovao de sua condio de agente poder-se-ia caracterizar tal relao como uma relao de accountability;

    2 Grupo: a limitao dos mecanismos de accountability s relaes principal agente torna o conceito excessivamente restrito, e deixa de considerar algu-mas relaes institucionalizadas de fiscalizao e controle entre agncias pbli-cas ou rgos estatais. Os controles judiciais, o Ministrio Pblico e mesmo osTribunais de Contas permaneceriam excludos da noo de accountability.

    Quais atores podem exercer o papel de agentes de accountability:

    1 Grupo: apenas atores institucionais como agentes de responsabilizao;Accountability limitada s relaes principal gente que restringem aquelesque podem exercer controle: (i) os eleitores frente a quem os governanteseleitos devem responsabilizar-se; (ii) os polticos a quem a burocracia deveresponder; (iii) o parlamento frente a quem os gabinetes e os ministros devemresponsabilizar-se nas democracias parlamentares; e (iv) outros principais nasrelaes de agncia presentes nas burocracias estatais.

    2 Grupo: consideram um maior nmero atores e organizaes, institucionaisou no, como agentes de accountability.

    22..22.. CCllaassssiiffiiccaaoo

    A accountability pode ser classificada de formas diferentes. A classificao maistradicional a de Guillhermo ODonnell, que diferencia a accountability hori-

    zontal da vertical. Segundo este autor, a responsabilizao democrtica procu-ra aliar dois mecanismos: de um lado, os relacionados accountability vertical,

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    na qual os cidados controlam de forma ascendente os governantes (medianteo voto em representantes), com formas de democracia semidireta (como ple-biscitos) ou ainda pela utilizao do controle social, exemplificado pelos conse-lhos de polticas pblicas; de outro, os vinculados accountability horizontal,que se efetivam mediante a fiscalizao mtua entre os Poderes (checks andbalances) ou por meio de outras agncias governamentais que monitoram opoder pblico, tais como os tribunais de contas.

    O autor define a accountability horizontalcomo:

    a existncia de agncias estatais que esto legalmente capacitadas e auto-rizadas, e realmente dispostas e aptas, a tomar aes que ultrapassem davigilncia rotineira a sano criminal ou impedimento em relao s aesou omisses por outros agentes ou agncias do estado que podem ser qua-

    lificadas como ilegais... pois este tipo de accountability para ser efetivo pre-cisa ter agncias que so autorizadas e dispostas a vigiar, controlar, corrigire/ou punir aes ilegais de outras agncias estatais.

    Em suma, seriam agncias estatais funcionando rotineiramente com poderesde superviso, punindo aes ou omisses do Estado, consideradas ilegais. ocontrole exercido por instituies como o TCU, CGU, entre outras.

    J a accountability verticalpressupe uma ao entre desiguais, seja sob aforma do mecanismo do voto (controle de baixo para cima) ou sob a forma do

    controle burocrtico (de cima para baixo). A accountability vertical , princi-palmente, embora de forma no exclusiva, a dimenso eleitoral, o que significapremiar ou punir um governante nas eleies. No entanto, ela abrange tam-bm o controle exercido por instituies de hierarquia superior.

    Ela diz respeito vigilncia e sanes que eleitores, imprensa, ONGs, e outrasorganizaes da sociedade civil exercem sobre funcionrios pblicos. o meiodisponvel para que cidados comuns possam atuar na fiscalizao da atividadepblica dos seus representantes. Embora as eleies sejam a principal fase daaccountability vertical, este conceito abrange aes da sociedade civil e im-

    prensa para fiscalizao e exposio dos atos das autoridades pblicas.Muitos colocam o controle exercido pelos conselhos gestores, o oramentoparticipativo, ou seja, os instrumentos de participao da sociedade, dentro daaccountability vertical. Outros j preferem diferenci-los do controle eleitoral,classificando-os como uma accountability societal. Este conceito surgiu da in-satisfao em relao s duas outras formas de accountability a vertical e ahorizontal , que no estariam permitindo uma participao real da sociedadenas decises governamentais. Era preciso separar tais instrumentos do contro-le eleitoral. A accountability societalpode ser definida como:

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    um mecanismo de controle no eleitoral, que emprega ferramentas institu-cionais e no institucionais (aes legais, participao em instncias de mo-nitoramento, denncias na mdia etc.), que se baseia na ao de mltiplasassociaes de cidados, movimentos, ou mdia, objetivando expor erros e

    falhas do governo, trazer novas questes para a agenda pblica ou influen-ciar decises polticas a serem implementadas pelos rgos pblicos.

    A noo de accountability societal incorpora novos atores, tais como associa-es, ONG's, movimentos sociais, mdia. Diferentemente da accountabilityhorizontal e vertical, os agentes da accountability societal apresentam diferen-as quanto aos recursos que dispem, uma vez que no possuem, segundoessa definio, mandato para sanes legais, mas apenas simblicas, aindaque algumas aes dessa forma de controle possam gerar sanes legais. Po-demos dizer que accountability societal controle social.

    Classificao da Accountability

    Vertical Horizontal Societal

    Controle exercido peloprocesso eleitoral, pormeio do voto.

    Controle exercidopor agnciasgovernamentais

    Controle exercidopela sociedade institucional ou no

    Essa classificao a mais cobrada (seno a nica) nos concursos.Porm, existem outras, que vou colocar aqui para vocs conhecerem:

    Mainwaring ramifica a accountability intraestatal em trs tipos derelaes entre agentes pblicos ou agncias governamentais:

    Relaes principal-agente: so aquelas nas quais um principal designaum agente para cumprir uma determinada tarefa, ou conjunto de tarefas,e, portanto, goza de ascendncia hierrquica sobre ele. Os corpos

    burocrticos ligados ao Executivo ou ao Legislativo so os exemplosclssicos desse tipo de relao.

    Sistema Legale outros atores estatais com poder de sano (Judicirio eLegislativo). Tais atores no se enquadram nas relaes de tipo principal-agente, mas antes poderiam ser denominados agentes de sano.

    Atores e agncias estatais com a funo especfica de fiscalizar econtrolar autoridades e organizaes pblicas, como os Tribunais deContas e o Ministrio Pblico.

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    Fernando Abrucio e Maria Rita Loureiro tambm apresentam uma classi-ficao dos instrumentos que visam garantir a accountability:

    Processo eleitoral: sistema eleitoral e partidrio; debates e forma de

    disseminao da informao; regras de financiamento de campanhaeleitoral.

    Controle institucional durante os mandatos: fiscalizao contnua dosrepresentantes eleitos e da alta burocracia controle parlamentar (CPI,aprovao de altos dirigentes, fiscalizao oramentria); controle judicial(constitucionalidade, aes civis pblicas); controle administrativo(tribunal de contas); controle do desempenho dos programasgovernamentais; controle social (conselhos, oramento participativo).

    Regras estatais intertemporais: o poder governamental limitado emseu escopo de atuao, a fim de garantir os direitos dos indivduos e dacoletividade clusulas ptreas, segurana contratual, acesso prioritrioaos cargos por concurso, mecanismos de restrio oramentria.

    22..33.. TTrraannssppaarrnncciiaa

    O Princpio da Publicidade exige a ampla divulgao dos atos praticados pela

    Administrao Pblica, ressalvadas as hipteses de sigilo previstas em lei. Osatos administrativos devem ser divulgados para o pblico. A publicidade no elemento formativo do ato administrativo, portanto no determina sua valida-de, mas requisito de eficcia e moralidade.

    A partir deste princpio exige-se da Administrao Pblica que preste contas detodos os seus atos, contratos e procedimentos. Deve manter plena transparn-cia de seus comportamentos, exceto nas hipteses em que o impedir o interes-se pblico, nos casos extremos de segurana nacional ou em situaes em quea divulgao prvia possa eliminar a viabilizao de medidas justificveis.

    A CF88 traz este princpio em alguns dispositivos, alm do caput do art. 37.

    CF, art. 37, 1 - A publicidade dos atos, programas, obras, servios e cam-panhas dos rgos pblicos dever ter carter educativo, informativo ou deorientao social, dela no podendo constar nomes, smbolos ou imagens quecaracterizem promoo pessoal de autoridades ou servidores pblicos.

    Art. 5, LX - a lei s poder restringir a publicidade dos atos processuaisquando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem;

    XIV - assegurado a todos o acesso informao e resguardado o sigilo da

    fonte, quando necessrio ao exerccio profissional;

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    A publicao no obrigatria para todos os atos administrativos, somentepara os aos gerais de efeitos externos. Ato geral o que tem destinatriosindeterminados, o ato no visa gerar efeitos sobre apenas uma pessoa deter-minada ou um grupo de pessoas especfico. Gera efeitos externos o ato quetem por destinatrios os administrados, e no a prpria administro. Existematos no gerais e no externos que tambm devem ser publicados, como anomeao de vocs para um cargo pblico.

    Podemos ver, portanto, que o princpio da publicidade est intimamente ligadocom a transparncia. A gesto da coisa pblica no atividade sigilosa, quedeve ser feita s ocultas. Ao contrrio, atividade que a todos interessa. Logo,ao administrado deve ser propiciado o conhecimento dos atos produzidos pelaAdministrao, sejam de interesse individual, sejam de interesse coletivo.

    a) Lei 12.527/2011Recentemente entrou em vigor a Lei de Acesso Informao, a Lei12.527/2011, muito importante e que merece uma ateno especial de todosns. A Lei regula diversos dispositivos constitucionais que tratam da transpa-rncia na Administrao Pblica.

    Trata-se de um avano significativo para a transparncia, pois a lei vem final-mente dar efetividade ao direito de acesso s informaes pblicas. O ponto

    mais importante que ela estabelece a publicidade como a regra e o sigilocomo a exceo. E o interessante que no esto sujeitos lei apenas os r-gos pblicos, entidades privadas que recebam recursos pblicos tambm:

    Art. 1 Esta Lei dispe sobre os procedimentos a serem observados pela Unio,Estados, Distrito Federal e Municpios, com o fim de garantir o acesso a informa-es previsto no inciso XXXIII do art. 5, no inciso II do 3 do art. 37 e no 2do art. 216 da Constituio Federal.

    Pargrafo nico. Subordinam-se ao regime desta Lei:

    I - os rgos pblicos integrantes da administrao direta dos Poderes Executivo,Legislativo, incluindo as Cortes de Contas, e Judicirio e do Ministrio Pblico;

    II - as autarquias, as fundaes pblicas, as empresas pblicas, as sociedades deeconomia mista e demais entidades controladas direta ou indiretamente pelaUnio, Estados, Distrito Federal e Municpios.

    Art. 2 Aplicam-se as disposies desta Lei, no que couber, s entidades priva-das sem fins lucrativos que recebam, para realizao de aes de interesse p-blico, recursos pblicos diretamente do oramento ou mediante subvenessociais, contrato de gesto, termo de parceria, convnios, acordo, ajustes ou ou-

    tros instrumentos congneres.

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    Assim, aqueles que devem obedecer aos ditames da lei so:

    rgos e entidades pblicas dos trs poderes, de todos os nveis de

    governo (Unio, estados e municpios); Tribunais de Contas e Ministrio Pblico;

    Administrao indireta: autarquias, fundaes, empresas pblicas e sociedades de economia mista;

    Demais entidades controladas direta ou indiretamente pelos entes;

    Entidades privadas sem fins lucrativos que recebam recursos pbli-

    cospara exercer aes de interesse pblico.

    O art. 3 da Lei traz as diretrizes:Diretrizes do acesso informao

    Observncia da publicidade como preceito geral e do sigilocomo exceo;

    Divulgao de informaes de interesse pblico, indepen-dentemente de solicitaes;

    Utilizao de meios de comunicao viabilizados pela tecnolo-gia da informao; Fomento ao desenvolvimento da cultura de transparncia; Desenvolvimento do controle social da administrao pblica.

    Vejam que temos pontos importantes aqui. O sigilo exceo, ou seja, apenasquando justificado. Veremos melhor adiante. E existe uma srie de informa-es que deve ser disponibilizadas independentemente de solicitao.

    Os rgos pblicos ganharam uma srie de obrigaes no que concerne ges-to da informao:

    Art. 6 Cabe aos rgos e entidades do poder pblico, observadas as normase procedimentos especficos aplicveis, assegurar a:

    I - gesto transparente da informao, propiciando amplo acesso a ela e suadivulgao;

    II - proteo da informao, garantindo-se sua disponibilidade, autenticidade eintegridade; e

    III - proteo da informao sigilosa e da informao pessoal, observada a suadisponibilidade, autenticidade, integridade e eventual restrio de acesso.

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    Assim, no basta dar acesso informao preciso proteg-la, para quese garanta sua disponibilidade, autenticidade e integridade. Vamos ver essesconceitos, que so as qualidades da informao:

    Disponibilidade: qualidade da informao que pode ser conhecida eutilizada por indivduos, equipamentos ou sistemas autorizados;

    Autenticidade: qualidade da informao que tenha sido produzida, ex-pedida, recebida ou modificada por indivduo, equipamento ou sistema;

    Integridade: qualidade da informao no modificada, inclusive quanto origem, trnsito e destino;

    A Lei define ainda que os cidados tm direito de obter:

    Orientao sobre os procedimentos para a consecuo de acesso, bemcomo sobre o local onde poder ser encontrada ou obtida a informao;

    Informao contida em registros ou documentos, produzidos ouacumulados por seus rgos ou entidades, recolhidos ou no a arquivospblicos;

    Informao produzida ou custodiada por pessoa fsica ou entidade privadadecorrente de qualquer vnculo com seus rgos ou entidades, mesmoque esse vnculo j tenha cessado;

    Informao primria, ntegra, autntica e atualizada;

    Informao sobre atividades exercidas pelos rgos e entidades, inclusiveas relativas sua poltica, organizao e servios;

    Informao pertinente administrao do patrimnio pblico, utilizaode recursos pblicos, licitao, contratos administrativos; e

    Informao relativa:

    o implementao, acompanhamento e resultados dos programas, proje

    tos e aes, bem como metas e indicadores propostos;o ao resultado de inspees, auditorias, prestaes e tomadas de contas

    realizadas pelos rgos de controle interno e externo.

    Podemos separar as informaes em diferentes tipos quanto disponibilidade.Existem aquelas que devem estar disponveis independentemente de solicit-ao. Segundo a Lei:

    Art. 8 dever dos rgos e entidades pblicas promover, independ-

    entemente de requerimentos, a divulgao em local de fcil acesso, nombito de suas competncias, de informaes de interesse coletivo ougeral por eles produzidas ou custodiadas.

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    Em tais informaes devem constar, no mnimo:

    Registro das competncias e estrutura organizacional, endereos e tele-

    fones das respectivas unidades e horrios de atendimento ao pblico; Registros de quaisquer repasses ou transferncias de recursos financeiros;

    Registros das despesas;

    Informaes concernentes a procedimentos licitatrios, inclusive osrespectivos editais e resultados, bem como a todos os contratos celebra-dos;

    Dados gerais para o acompanhamento de programas, aes, projetos eobras de rgos e entidades; e

    Respostas a perguntas mais frequentes da sociedade.

    E para que estas informaes estejam disponveis de forma ampla, im-prescindvel o uso das Tecnologias da Informao e Comunicao. Por issoa lei tambm d uma ateno importante a estes instrumentos, definindoparmetros mnimos a serem obedecidos pela Administrao Pblica. Segundoa Lei:

    2 Para cumprimento do disposto no caput, os rgos e entidadespblicas devero utilizar todos os meios e instrumentos legtimos de quedispuserem, sendo obrigatria a divulgao em stios oficiais da rede mun-dial de computadores (internet).

    A lei define os requisitos a serem obedecidos nos stios da internet:

    Conter ferramenta de pesquisa que permita o acesso informaode forma objetiva, transparente, clara e em linguagem compreensvel;

    Possibilitar a gravao de relatrios em diversos formatos eletrnicos,inclusive abertos e no proprietrios, tais como planilhas e texto;

    Possibilitar o acesso automatizado por sistemas externos em forma-tos abertos, estruturados e legveis por mquina;

    Divulgar os formatos utilizados na estruturao da informao;

    Garantir a autenticidade e a integridade das informaes disponveis;

    Manter atualizadas as informaes disponveis para acesso;

    Indicar local e instrues que permitam ao interessado comunicar-se, porvia eletrnica ou telefnica, com o rgo ou entidade detentora do stio; e

    Adotar as medidas necessrias para garantir a acessibilidade decontedo para pessoas com deficincia.

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    Outro tipo de informao aquela que pode ser solicitada por qualquercidado. Uma exigncia da Lei a criao do Servio de Informaes ao Cid-ado, nos rgos e entidades do poder pblico, para:

    Atender e orientar o pblico quanto ao acesso a informaes;

    Informar sobre a tramitao de documentos nas suas unidades;

    Protocolizar documentos e requerimentos de acesso a informaes;

    Segundo a Lei:

    Art. 10. Qualquer interessado poder apresentar pedido de acesso a inform-aes aos rgos e entidades referidos no art. 1 desta Lei, por qualquermeio legtimo, devendo o pedido conter a identificao do requerente e a es-

    pecificao da informao requerida. 1 Para o acesso a informaes de interesse pblico, a identificao dorequerente no pode conter exigncias que inviabilizem a solicitao.

    2 Os rgos e entidades do poder pblico devem viabilizar alternativa deencaminhamento de pedidos de acesso por meio de seusstios oficiais na

    internet.

    3 So vedadas quaisquer exigncias relativas aos motivos determin-antes da solicitao de informaes de interesse pblico.

    A nica exigncia que a Lei estabelece que o pedido conter a identificao dorequerente e a especificao da informao requerida. proibida a exignciade que o requerente informe os motivos do pedido. Alm disso, o servio debusca e fornecimento da informao gratuito, sendo cobrado apenas a

    Xerox. Caso a informao esteja disponvel no rgo, ele deve disponibiliz-la de forma imediata. Caso no seja possvel, ele ter 20 dias para:

    Comunicar a data, local e modo para se realizar a consulta, efetuar areproduo ou obter a certido;

    Indicar razes de fato ou de direito da recusa, total ou parcial, do acesso; Comunicar que no possui a informao, indicar, se for do seu

    conhecimento, o rgo ou a entidade que a detm, ou, ainda, remeter orequerimento a esse rgo ou entidade, cientificando o interessado daremessa de seu pedido de informao.

    Caso o pedido seja negado, o primeiro recurso ocorre ainda dentro do rgo,para autoridade de hierarquia superior. Negado mais uma vez, a o recursopode ser encaminhado Controladoria Geral da Unio (CGU). Caso a CGU

    entenda pela procedncia do recurso, ir determinar ao rgo a adoo dasprovidncias necessrias. Se a CGU negar, ainda h mais uma instnciade recurso, a Comisso Mista de Reava liao de Informaes.

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    O terceiro tipo de informao quanto disponibilidade so as informaes sigi-losas. Vamos ver a definio da Lei:

    III - informao sigilosa: aquela submetida temporariamente restrio de

    acesso pblico em razo de sua imprescindibilidade para a segurana da so-ciedade e do Estado;

    Um ponto importante que a informao sigilosa quando imprescindvel paraa segurana do Estado e da sociedade. Porm, este no o nico caso de sigi-lo, a Lei no exclui outras hipteses de sigilo previstas em outras normas, osegredo de justia e as hipteses de segredo industrial decorrentes da explora-o direta de atividade econmica pelo Estado ou por pessoa fsica ou entidadeprivada que tenha qualquer vnculo com o poder pblico. A Lei prev os casosde informaes que so imprescindveis para a segurana:

    Informaes imprescindveis para a segurana

    Ponham em risco a defesa e a soberania nacionais ou a integridade do territrionacional;

    Prejudiquem ou ponham em risco a conduo de negociaes ou as relaes inter-nacionais do Pas, ou as que tenham sido fornecidas em carter sigiloso por outrosEstados e organismos internacionais;

    Ponham em risco a vida, a segurana ou a sade da populao; Ofeream elevado risco estabilidade financeira, econmica ou monetria do Pas; Prejudiquem ou causem risco a planos ou operaes estratgicos das Foras Ar-madas;

    Prejudicar ou causem risco a projetos de pesquisa e desenvolvimento cientfico outecnolgico, assim como a sistemas, bens, instalaes ou reas de interesse estrat-gico nacional;

    Ponham em risco a segurana de instituies ou de altas autoridades nacionais ouestrangeiras e seus familiares; ou

    Comprometam atividades de inteligncia, bem como de investigao ou fiscaliza-o em andamento, relacionadas com a preveno ou represso de infraes.

    Outro ponto importante que o carter sigiloso temporrio, ou seja,nenhuma informao pode ter restringido seu acesso para sempre. Tanto quea Lei estabelece os prazos:

    Art. 24. A informao em poder dos rgos e entidades pblicas, observado oseu teor e em razo de sua imprescindibilidade segurana da sociedade ou

    do Estado, poder ser classificada como ultrassecreta, secreta ou reservada.

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    1 Os prazos mximos de restrio de acesso informao, conforme aclassificao prevista no caput, vigoram a partir da data de sua produo eso os seguintes:

    I - ultrassecreta: 25 (vinte e cinco) anos;II - secreta: 15 (quinze) anos; e

    III - reservada: 5 (cinco) anos.

    Existem excees, como as informaes que coloquem em risco a seguranado Presidente da Repblica, que permanecero sigilosas enquanto durar seumandato, inclusive em caso de reeleio. Tambm pode ser estabelecido comoprazo final do sigilo a ocorrncia de determinado evento, desde que esteocorra antes do transcurso do prazo mximo de classificao.

    O carter sigiloso no absoluto, h casos em que o acesso no restringido:Art. 21. No poder ser negado acesso informao necessria tutelajudicial ou administrativa de direitos fundamentais.

    Pargrafo nico. As informaes ou documentos que versem sobre condutas queimpliquem violao dos direitos humanos praticada por agentes pblicos ou amando de autoridades pblicas no podero ser objeto de restrio de acesso.

    Portanto, caso algum precise de uma informao para solicitar habeas corpus,por exemplo, no pode ter o acesso negado, mesmo no caso de sigilosa. O

    mesmo vale para informaes acerca de atos que atentem contra os direitoshumanos.

    A Lei estabelece quem tem competncia para definir o grau de sigilo deuma informao:

    No grau de ultrassecreto, das seguintes autoridades:o Presidente e Vice-Presidente da Repblica;

    o Ministros de Estado e autoridades com as mesmas prerrogativas;

    o Comandantes da Marinha, do Exrcito e da Aeronutica;

    o Chefes de misses diplomticas e consulares permanentes no exterior;

    No grau de secreto, as autoridades referidas acima, os titulares deautarquias, fundaes ou empresas pblicas e sociedades de economiamista;

    No grau de reservado, as autoridades acima e as que exeram funesde direo, comando ou chefia, nvel DAS 101.5, ou superior.

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    A competncia para classificao da informao como ultrassecreta esecreta pode ser delegada, sendo vedada a subdelegao.

    Ao fim do prazo previsto para o sigilo, a informao tornar-se-, automat-

    icamente, de acesso pblico. E cabe aos rgos pblicos manter a disposioem seu stio na internet o rol das informaes que tenham sido desclassi-ficadas nos ltimos 12 meses.

    Quanto s informaes pessoais, o sigilo tratado de forma diferente. As in-formaes relativas intimidade, vida privada, honra