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Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
Estudo da trombose microvascular em biópsias
pulmonares de pacientes com granulomatose de
Wegener
Tese apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
para obtenção do título de Doutor em Ciências
Área de concentração: Pneumologia
Orientadora: Profa. Dra. Carmen Sílvia Valente Barbas
São Paulo
2008
DEDICATÓRIA
Dedico esta tese a:
Meus avôs Cândido, Manoel Denguinho, Neli e Raimunda
(grandes sonhadores no sertão cearense);
Meus pais José Alfredo e Maria Lourdes
(vida dedicada aos filhos);
Minhas irmãs Renata e Camila
(convívio de amor e amizade);
Minha noiva Natália
(fonte de força e esperança a cada amanhecer).
AGRADECIMENTOS
Aos Professores Francisco Vargas, Mário Terra e Rogério de Souza,
pela belo trabalho realizado junto à pós-graduação da Pneumologia.
À Professora Carmen Valente Barbas, minha orientadora, sempre
empenhada em transformar essa tese em uma realidade.
Ao Professor Carlos Carvalho, pelos ensinamentos e pelas palavras de
incentivo ao longo destes anos.
À Dra. Teresa Takagaki, com sua simplicidade e sabedoria, sempre
presente no ensino da Pneumologia.
Ao Dr. Ronaldo Kairalla, por nos ensinar a não crer cegamente nas
“verdades” da Medicina.
À Professora Vera Capelozzi e ao Dr Alexandre Ab'Saber, pela grande
ajuda na realização deste trabalho.
Aos pacientes do ambulatório da Pneumologia, Professora Gláucia
Santelli, Roberto, Dra. Telma Antunes, Dra. Juliana Barros, Dra. Walcy, Dr.
Edwin Parra, Jesus, Carmen e Amelinha, pelo convívio durante a realização
desta Tese.
SUMÁRIO
Lista de abreviaturas
Lista de siglas
Lista de tabelas
Lista de figuras
Resumo
Summary
1.Introdução.........................................................................................................1
1.1.Granulomatose de Wegener: história e incidência........................................2
1.2.Acometimento sistêmico da granulomatose de Wegener.............................6
1.3.Enfatizando o acometimento do sistema respiratório na granulomatose de
Wegener..............................................................................................................9
1.3.1.Exames de imagem na granulomatose de Wegener.....................10
1.3.2.Função pulmonar na granulomatose de Wegener.........................12
1.3.3.Histopatologia pulmonar na granulomatose de Wegener..............14
1.4.Elevada incidência de eventos trombo-embólicos na granulomatose de
Wegener............................................................................................................17
1.4.1.Base fisiopatológica para o estado pró-trombótico na
granulomatose de Wegener....................................................................23
2.Hipótese do estudo.........................................................................................27
3.Objetivos........................................................................................................29
4.Métodos..........................................................................................................31
4.1.Delineamento e local do estudo...................................................................32
4.2.Preparo das amostras de tecido pulmonar..................................................34
4.3.Imunofluorescência utilizada para estudo das artérias pulmonares de
pequeno e médio calibre....................................................................................35
4.4.Quantificação da área do trombo, da área do lúmen ,da área livre do lúmen
e da área total das artérias pulmonares de pequeno e médio calibre...............36
5.Análise estatística...........................................................................................41
6.Resultados......................................................................................................43
7.Discussão.......................................................................................................50
7.1.O paradoxo: eventos trombo-embólicos numa vasculite (às vezes)
hemorrágica.......................................................................................................52
7.2.Esquematizando as alterações fisiopatológicas da granulomatose de
Wegener para explicar os achados trombo-embólicos......................................54
7.3.Possível papel da trombose in situ na fisiopatologia da granulmatose de
Wegener............................................................................................................57
7.4.Considerações sobre o potencial benefício da anticoagulação no
tratamento da granulomatose de Wegener.......................................................59
7.5.Eventos trombo-embólicos em outras vasculites.........................................61
8.Conclusão.......................................................................................................63
9.Perspectivas futuras.......................................................................................65
10.Referências bibliográficas.............................................................................68
11.Anexo I..........................................................................................................96
LISTA DE ABREVIATURAS
µm: Micrômetro.
µm2: Micrômetro ao quadrado.
nm: Nanômetro.
nM: Nanomolar.
mg: Miligrama.
dL: Decilitro.
LISTA DE SIGLAS
GW: Granulomatose de Wegener.
NNT: Número necessário para tratar.
RRA: Redução de risco absoluto.
IC: Intervalo de confiança.
ST: Sulfametoxazol-trimetoprim.
CAR: Colégio Americano de Reumatologia.
IRA: Insuficiência renal aguda.
ANCA: Anticorpo anticitoplasma de neutrófilo.
MTX: Metotrexate.
SNC: Sistema nervoso central.
SNP: Sistema nervoso periférico.
TGI: Trato gastrointestinal.
AVC: Acidente vascular cerebral.
IAM: Infarto agudo do miocárdio.
TC: Tomografia computadorizada.
PET: Tomografia por emissão de pósitrons.
PFP: Prova de função pulmonar.
DLCO: Capacidade de difusão do monóxido de carbono.
CO: Monóxido de carbono.
VO2: Consumo de Oxigênio.
LBA: Lavado broncoalveolar.
ETE: Eventos trombo-embólicos.
TVP: Trombose venosa profunda.
TEP: Tromboembolismo pulmonar.
LES: Lúpus eritematoso sistêmico.
WGET: Wegener's Granulomatosis Etanercept Trial.
PR3: Proteinase 3.
CEAp: Célula endotelial apoptótica.
TM: Trombomodulina.
FT: Fator tecidual.
LIM: Laboratório de investigação médica.
ICB: Instituto de Ciências Biomédicas.
InCor: Instituto do Coração.
HC: Hospital das Clínicas.
FMUSP: Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
FITC: Isômero de isocianato de fluoresceína.
H&E: Hematoxilina-Eosina.
CD34: Antígeno marcador de endotélio.
AT: Área do trombo.
AL: Área do lúmen.
ALL: Área livre do lúmen.
ATV: Área total do vaso.
AT/ATV: Divisão da área do trombo pela área total do vaso.
AL/ATV: Divisão da área do lúmen pela área total do vaso.
ALL/ATV: Divisão da área livre do lúmen pela área total do vaso.
TNF: Fator de necrose tumoral.
AD: Atividade de doença.
TAT: Complexo trombina-antitrombina III.
CIVD: Coagulação intravascular disseminada.
PDGF: Fator de crescimento derivado de plaqueta.
RNI: Relação normalizada internacional.
VCAM: Molécula de adesão de célula vascular.
ICAM: Molécula de adesão intercelular.
SAF: Síndrome antifosfolípide.
HAPI: Hipertensão arterial pulmonar idiopática.
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Incidência de eventos trombo-embólicos (ETE) em diferentes
populações.
Tabela 2. Correlação entre marcadores séricos da GW e atividade de doença.
Tabela 3. Áreas (em µm2) de cada artéria no grupo granulomatose de
Wegener.
Tabela 4. Áreas (em µm2) de cada artéria no grupo Controle.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Representação da complexa interação entre neutrófilo, célula
endotelial e trombose in situ.
Figura 2. Sistema de microscopia confocal a laser
Figura 3. A. Artéria pulmonar sem trombo (grupo contole), com barra branca
correspondendo a um tamanho de 300 µm. B. Artéria pulmonar com trombo
(grupo GW).
Figura 4. A. O círculo branco contorna a parede externa do vaso, obtendo-se a
ATV. B. O círculo branco delimita a parede interna do vaso, determinando-se a
AL. C. O círculo branco contorna o trombo, obtendo-se a AT.
Figura 5. Gráficos do grupo GW e Controle em relação à ATV, AT e ALL.
Figura 6. Gráficos dos subgrupos GW1 e GW2 sobre as relações da AT/ATV,
AL/ATV e ALL/ATV.
Figura 7. Efeito de feedback positivo entre inflamação vascular - dano
endotelial - trombose in situ.
RESUMO
Santana, ANC. Estudo da trombose microvascular em biópsias
pulmonares de pacientes com Granulomatose de Wegener. [tese]. São Paulo:
Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo; 2008.
A granulomatose de Wegener (GW) é associada com eventos trombo-
embólicos. Neste trabalho, quantificamos os trombos em artérias pulmonares
de pequeno/médio calibre de pacientes com GW (n:24), comparando com um
grupo Controle normal (n:16). O resultado mostrou que a área total das artérias
no grupo GW foi similar a do grupo Controle. Já a área do trombo foi
significativamente maior no grupo GW em relação ao Controle. Em
contrapartida, a área livre do lúmen do vaso foi significativamente menor no
grupo GW em comparação ao Controle. Concluindo, este estudo demonstra
uma obstrução da microcirculação pulmonar na GW, sugerindo um papel da
trombose in situ na fisiopatologia desta doença.
Descritores: Granulomatose de Wegener, Trombose, Pulmão, Biópsia,
Vasculite, Anticorpos anticitoplasma de neutrófilos
SUMMARY
Santana, ANC. Study of microvascular thrombosis in lung biopsies of
patients with Wegener’s granulomatosis. [tese]. São Paulo: Faculdade de
Medicina, Universidade de São Paulo; 2008.
Wegener’s granulomatosis (GW) is associated with thromboembolic
events. In this work, we quantified the thrombus in small/medium-sized
pulmonary arteries of patients with GW (n:24) compared to normal controls
(n:16). The results showed that the GW and control arteries were similar
regarding total area. The thrombus area was significantly increased in GW
compared to controls; in contrast, the free lumen area was significantly
decreased in GW compared to controls. In summary, this study shows
obstruction of microvascular bed in GW, suggesting a possible role of
thrombosis in situ in pathophysiology of this vasculitis.
Descriptors: Wegener granulomatosis, Thrombosis, Lung, Biopsy, Vasculitis,
Antibodies antineutrophil cytoplasmic.
1
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
1. INTRODUÇÃO
2
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
1.1. Granulomatose de Wegener: história e incidência
A primeira descrição de um caso de GW foi realizada 1931 por Klinger
em uma necrópsia (1,2). Tal paciente apresentava sinusite com destruição
óssea, glomerulonefrite e vasculite disseminada (2). Entretanto, foi somente em
1936 que Wegener incorporou critérios clínico-histológicos para descrever uma
síndrome que ele acreditava ser única, e que receberia seu nome
(granulomatose de Wegener) (3).
Já na década de 50, Goldman e Churg descreveram mais 7 novos casos
de GW (4). Além disso, revisaram os 22 casos já relatados previamente na
literatura, e propuseram novos critérios clínicos e histopatológicos para o
diagnóstico desta doença (4). Os 3 critérios histopatológicos foram (I) lesão
granulomatosa necrozante no trato respiratório superior ou inferior, (II) vasculite
necrozante generalizada e (III) glomerulonefrite.
Até então, a presença de GW estava condicionada à presença de lesão
glomerular. Entretanto, na década de 60, Carrington e Liebow propuseram a
existência da forma limitada da GW ao descreverem 16 pacientes com achados
histopatológicos clássicos desta vasculite, mas com ausência de
glomerulonefrite (5). Essa descrição da forma limitada foi muito importante para
3
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
a GW, pois tem implicação direta tanto no tratamento quanto no prognóstico de
tais pacientes. A forma limitada pode ser tratada sem ciclofosfamida e
apresenta um melhor prognóstico.
Quanto ao tratamento da forma clássica, a introdução da ciclofosfamida
na década de 70 teve grande impacto no prognóstico da GW (6,7). De uma
sobrevida de 18% em 1 ano, passou a ser de 70-90% em 5 anos. Esses dados
foram corroborados por outros trabalhos publicados na década de 80 (8).
Entretanto, a taxa de recidiva de doença continuava alta, em torno de 50-70%
em 5 anos; necessitando da reintrodução da ciclofosfamida para controle da
mesma. Porém, ciclos repetidos de ciclofosfamida podem se associar com
efeitos adversos graves e até mesmo letais, como aparecimento de tumores
malignos (9,10).
Diante disso, na década de 90, foi testado o sulfametoxazol-trimetoprim
(ST) na prevenção de recidivas na GW (11). Felizmente, o resultado desse
trabalho foi positivo; 18% dos pacientes em uso de ST apresentaram recidiva
da doença em 24 meses, comparado com 40% no grupo placebo (p<0,05,
RRA:22%, NNT: 4,5).
Ainda na década de 90, o Colégio Americano de Reumatologia (CAR)
propôs novos critérios diagnósticos da GW (12). Dessa forma, para o
diagnóstico desta doença, é necessária a presença de 2 em 4 critérios
4
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
(sensibilidade de 88% e especificidade de 92%). Tais critérios são (I)
inflamação oral ou nasal (úlceras orais ou descarga nasal sanguinolenta ou
purulenta), (II) alteração na radiografia de tórax (nódulos, cavidades ou
infiltrados pulmonares), (III) hematúria microscópica no sedimento urinário ou
(IV) biópsia mostrando inflamação granulomatosa numa artéria ou região
periarterial.
Outro importante ponto para o diagnóstico e para o manejo terapêutico
da GW foi a descrição do anticorpo anticitoplasma de neutrófilo (ANCA). Este
ganhou grande espaço na literatura também na década de 90 (13). Entretanto,
deve-se ter cuidado para não supervalorizar o ANCA no diagnóstico desta
vasculite, na ausência de confirmação histopatológica; já que este anticorpo
pode estar presente em outras doenças, como fibrose cística, retocolite
ulcerativa, artrite reumatóide e lúpus eritematoso sistêmico. Da mesma forma,
não se deve utilizar o ANCA isoladamente para firmar que a doença entrou em
remissão ou em recidiva. Novamente, como em outras doenças, o julgamento
clínico-patológico-laboratorial é superior a um dado laboratorial isolado para
estabelecer-se um diagnóstico ou uma terapêutica.
Na presente década, novos trabalhos estão sendo realizados
especialmente com dois intuitos. Primeiro, diminuir a taxa de recidiva de
doença que continua alta mesmo com o uso de ST. Nesse ponto, o uso de
5
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
novas terapêuticas, como o etanercept, não conseguiu diminuir a taxa de
recidiva em GW, e associou-se a uma alta freqüência de efeitos colaterais
importantes, como aumento da incidência de câncer sólido (14). Segundo,
diminuir o tempo de exposição à ciclofosfamida, devido a seus importantes
efeitos colaterais (como cistite hemorrágica, câncer de bexiga e leucemia)
(15,16). Nesse sentido, em estudo utilizando a azatioprina após a remissão na
GW, esta droga se mostrou segura e benéfica para manter a doença fora de
atividade (17).
Por último, analisemos a incidência da GW (18,19). Em estudo realizado
com dados da Suécia no período de 1975-2001, a incidência anual de GW foi
0,33 (95% IC: 0,28-0,39) no período 1975-85, 0,77 (95% IC: 0,69-0,85) em
1986-90, e 1,19 (95% IC: 1,12-1,26) em 1991-2001; resultando numa
incidência anual média de 0,78 (95% IC: 0,74-0,82) (18). Tal incidência
crescente deve-se a introdução do ANCA no arsenal diagnóstico.
6
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
1.2. Acometimento sistêmico da granulomatose de Wegener
A GW, desde a sua descrição inicial, caracteriza-se por seu
acometimento sistêmico (1-4). Dessa forma, os principais órgãos acometidos
são o pulmão, o rim e o nariz / seios da face.
A lesão renal é muito importante na GW. Ela está presente em cerca de
75% dos pacientes e é histologicamente descrita como uma glomerulonefrite
necrozante pauci-imune. O envolvimento renal traz implicações na
classificação, no tratamento e no prognóstico dessa doença. A presença do
acometimento glomerular caracteriza a ‘forma clássica’ da GW (em oposição à
‘limitada’), o que confere um pior prognóstico, necessitando de uma terapêutica
baseada em ciclofosfamida (ao invés de MTX) (20,21). Recentemente, um
trabalho demonstrou o benefício de associar plasmaférese à ciclofosfamida em
casos com insuficiência renal aguda (IRA) e creatinina inicial > 5,8mg/dL (22).
Com isso, a taxa de dependência à diálise caiu de 51% para 31% em 3 meses
(NNT:5, RRA:20%).
Quanto ao acometimento otorrinolaringológico, este pode estar presente
em até 90% dos pacientes (1,23). Os principais achados são sinusite grave /
refratária, descarga nasal sangüinolenta, nariz em sela (destruição de septo
7
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
nasal), otite/mastoidite, surdez/labirintopatia e estenose laríngea (24-26).
Entretanto, as biópsias de tais lesões são geralmente inespecíficas e só
ajudam a confirmar o diagnóstico de GW em 10-20% dos casos (27). Além
disso, tais acometimentos trazem consigo um importante impacto negativo na
qualidade de vida desses pacientes, bem como podem interferir na taxa de
recidiva da doença e de lesões seqüelares (11).
Outro importante acometimento da GW é o oftalmológico. Tal
acometimento pode estar presente em até 50% dos pacientes, sendo
representado por conjuntivite, episclerite, esclerite, ceratite necrozante,
perfuração corneoscleral, uveíte posterior, neurite óptica, hemorragia/exsudato
retiniano ou papiledema (28-31). Outra importante manifestação da GW é a
proptose, que decorre de um processo inflamatório granulomatoso retroorbital e
está presente em cerca de 10% dos pacientes (28-31). Outras possíveis
causas de proptose são hipertireoidismo, miosite orbital, histiocitose e tumores
orbitários.
A GW, como outras vasculites, apresenta freqüentemente manifestações
cutâneas. Estas são pioderma gangrenoso, eritema nodoso, púrpura palpável,
petéquia, pápula, úlcera e rash (32-35). Em alguns pacientes, a lesão cutânea
pode representar a principal lesão da vasculite; sendo necessário, às vezes, o
uso de ciclofosfamida ou plasmaférese para controle de atividade de doença
8
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
(32). Histopatologicamente, a lesão cutânea é representada por vasculite
leucocitoclástica (a mais freqüente) e inflamação granulomatosa, dentre outras
(32-35).
Menos freqüentemente, a GW também pode acometer sistema nervoso
central (SNC), sistema nervoso periférico (SNP), coração, trato gastrointestinal
(TGI) e grandes artérias. Primeiro, alterações no SNC/SNP estão presentes em
cerca de 5-20% dos pacientes com GW. Estas podem ser AVC isquêmico, AVC
hemorrágico, insuficiência pituitária, convulsão, tumoração cerebral, paralisia
de nervo craniano, espessamento meníngeo e mononeurite; e decorrem de
processo vasculítico ou de lesão granulomatosa originária de seios de face ou
de órbita (36,37). Os fatores de risco para o acometimento do sistema nervoso
são sexo masculino, idade avançada e altos títulos de ANCA (37). Segundo, o
envolvimento cardíaco acontece em 8% dos casos, como pericardite,
miocardite, arterite/IAM e endocardite marântica (38-40). Terceiro, as
manifestações do TGI só acontecem em 5% dos casos, tais como dor
abdominal, diarréia sanguinolenta, perfuração intestinal e infarto esplênico (41-
43). Por último, relatos anedóticos descrevem lesão de grandes artérias na
GW, como aorta, carótida interna e mesentérica (44-46).
9
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
1.3. Enfatizando o acometimento do sistema respiratório inferior na
granulomatose de Wegener
O acometimento do sistema respiratório inferior na GW é em torno de
50-100% (23,47-53). Essa grande variação pode acontecer devido ao
acometimento pulmonar ser silencioso em até 30% dos pacientes. Dessa
forma, casuísticas oriundas de serviços de Pneumologia mostram um
acometimento pulmonar na GW bem mais freqüente do que as provenientes de
serviços de Reumatologia ou Nefrologia, provavelmente devido ao uso mais
freqüente de radiografia/TC de tórax e de broncoscopia pelos pneumologistas.
10
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
1.3.1. Exames de imagem na granulomatose de Wegener
A radiografia de tórax apresenta alguma alteração em mais de 70% dos
pacientes em diferentes séries de casos (23,51-53). Os achados mais comuns
são nódulos e massas (cavitados ou não), opacidades pulmonares e, bem mais
raramente, derrame pleural e linfadenomegalia.
Já a tomografia computadorizada (TC) de tórax mostra alterações mais
freqüentes e exuberantes do que a radiografia de tórax. Isso se deve a melhor
sensibilidade da TC para detecção de comprometimento intratorácico em
diversas doenças, inclusive a GW. Um exemplo bem claro disso é a freqüência
de linfadenomegalia intratorácica na GW que é de 20% na TC e de apenas 2%
na radiografia (53,54). Em nossa série de casos, as alterações detectadas na
TC foram nódulos (25,2%), nódulos cavitados (18,6%), massas (4,3%), massas
cavitadas (17,5%), opacidade pulmonar/vidro fosco (37,3%) e estenose de
traquéia/brônquio (9,8%) (23). Vale ressaltar que a cavitação tende a ocorrer
em nódulos pulmonares >2cm (23, 51-55). Com o tratamento, as alterações
tomográficas (como vidro fosco, opacidade pulmonar, nódulos e massas)
regridem, deixando como seqüelas, as opacidades lineares, fibrose discreta,
nódulos residuais ou cavidades de parede fina (56-58).
11
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
Recentemente, vem sendo descrito estudos com PET (tomografia de
emissão de pósitrons) na GW (59). Como em outras doenças pulmonares com
componente de vasculite ou de granuloma (Behçet, sarcoidose e tuberculose),
o PET também mostra captação pulmonar na GW (59-64). Além disso, este
exame pode servir para demonstrar a concomitância de outras vasculites
(como arterite de Takayasu) com a GW (63).
12
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
1.3.2. Função pulmonar na granulomatose de Wegener
As alterações das provas de função pulmonar (PFP) são diversas e até
opostas em diferentes pacientes com GW (47,49,65). Isso se deve ao fato da
doença apresentar múltiplos acometimentos, tais como alterações de vias
aéreas (estenose brônquica, bronquiectasia ou bronquiolite) com padrão
obstrutivo, ou lesões de parênquima (opacidade pulmonar, vidro fosco, fibrose
pulmonar) com padrão de restrição (47,49,65,66). Entretanto, com o tratamento
imunossupressor, tanto o padrão de restrição quanto o de obstrução podem
melhorar (65).
Quanto à difusão do monóxido de carbono (DLCO), novamente
podemos encontrar resultados paradoxais (47,49,65-67). Na maioria dos casos,
encontramos redução da difusão, porém na vigência de hemorragia alveolar há
aumento deste parâmetro da PFP (67). Esse aumento decorre da maior
presença de hemácias no alvéolo, as quais passam a captar mais monóxido de
carbono (CO) na PFP. Assim, o aparelho de função pulmonar interpreta que o
alvéolo está com uma maior taxa de difusão de CO. Entretanto, na realidade, a
difusão de oxigênio (o que realmente interessa para o ser humano) está
comprometida, pois o alvéolo está inundado por hemácias, comprometendo a
13
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
função da membrana alvéolo-capilar (67). Com isso, surgem as manifestações
de dispnéia e hipoxemia.
Além disso, as alterações na PFP podem trazer implicação direta na
capacidade de exercício destes pacientes. Em trabalho publicado em 2005, a
DLCO foi o único preditor da capacidade de exercício na análise multivariada,
podendo explicar 52% da variabilidade do pico de consumo de oxigênio (VO2)
(49).
14
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
1.3.3. Histopatologia pulmonar na granulomatose de Wegener
Classicamente, o diagnóstico de GW requer uma confirmação
histológica (1,12,20,21). O primeiro local a ser biopsiado é gengiva/nariz/seios
de face, depois rim e por último pulmão, por questões de ordem crescente de
risco de morbimortalidade relacionada a tal procedimento (1,12). Dessa forma,
os números de biópsias renais disponíveis são maiores, com conseqüente
maior número de estudos histopatológicos publicado pelos nefrologistas (68-
70). Entretanto, não se podem extrapolar todos os dados de estudos renais
para o acometimento pulmonar da GW. Conseqüentemente, é muito importante
estudar detalhadamente e sistematicamente o acometimento histológico
pulmonar nesta vasculite.
A biópsia pulmonar na GW pode ser broncoscópica, transtorácica e a
céu aberto (cirúrgica) (1,71-75). Entretanto, o rendimento diagnóstico com as
biópsias broncoscópicas e transtorácicas não é animador, além do fato de
poder ocorrer sangramento como complicação destes procedimentos (47,72).
Portanto, a biopsia cirúrgica mostra-se como o padrão-ouro para o diagnóstico
do acometimento pulmonar na GW. Quando opacidade focal ou nódulo/massa
15
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
estão presentes, a biópsia cirúrgica tem um rendimento diagnóstico maior do
que 90% (71).
Os achados nas biópsias pulmonares da GW são diversos. Entretanto,
os mais importantes são vasculite (em até 94% dos casos), necrose geográfica
(50-84%), células gigantes (60-79%), microabscessos (40-69%), granulomas
(40-59%), capilarite (20-41%) e necrose fibrinóide (até 20%) (71-76). Quanto à
trombose in situ, este dado é pouco mencionado nos estudos histopatológicos
pulmonares, e, quando o é, a sua freqüência é de aproximadamente 5%.
Porém, esse dado pode estar subestimado, pois (I) estudos renais na GW
mostram freqüentemente trombos e deposição de fibrina, (II) relatos de casos
demonstraram até reversão da insuficiência renal na GW com o uso da
heparina (corroborando a importância da trombose e do potencial papel
terapêutico da anticoagulação nesta vasculite) e (III) outras vasculites (como
Behçet) são muito associadas com eventos trombóticos e embólicos (77-81).
É importante discutir o efeito do tratamento imunossupressor na
histopatologia pulmonar da GW. Em um estudo realizado com 20 biópsias
pulmonares provenientes de pacientes com GW e em uso de corticóide ou
ciclofosfamida, os principais achados foram fibrose e inflamação inespecífica
(74). Achados sugestivos da vasculite só foram descritos em 20% dos casos,
tal como necrose geográfica ou micronodular. Os autores sugeriram que os
16
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
granulomas se converteram em cicatrizes nodulares, e que a capilarite pode
propiciar o desenvolvimento de fibrose pulmonar, como já bem descrito na
poliangeíte microscópica, um outro tipo de vasculite ANCA associada (74,76).
Por último, vale à pena mencionar os achados do lavado broncoalveolar
(LBA) na GW. Estes achados são debris necróticos, células gigantes,
macrófagos com hemossiderina, aumento da percentagem de linfócito e/ou
neutrófilo, aumento da mieloperoxidase e do ANCA (82-84). Entretanto, com o
tratamento imunossupressor, o LBA pode mostrar diminuição dos neutrófilos,
do ANCA e da mieloperoxidase, corroborando o papel fisiopatológico destes na
GW (82-85). Além disso, o papel do ANCA na GW foi também demonstrado em
modelo experimental, ao se induzir vasculite e granuloma nos pulmões de ratos
após injeção sistêmica do ANCA (86). Uma relação de dose-resposta foi
também detectada entre a concentração do anticorpo injetado e as alterações
pulmonares descritas previamente, reenfatizando o papel fisiopatológico do
ANCA (86). Outro importante ponto deste estudo é a ausência de hemorragia
alveolar neste modelo experimental, o que pode ser visto (I) como um potencial
modelo para estudar o papel da anticoagulação na vasculite ANCA associada e
(II) como mais uma evidência de que a hemorragia alveolar não faz parte da
apresentação mais freqüente da GW (87-89). Na verdade, a hemorragia
alveolar acontece em menos de 5% dos pacientes com GW (1,87,88).
17
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
1.4. Elevada incidência de eventos trombo-embólicos na granulomatose
de Wegener
Dois recentes trabalhos encontraram uma alta incidência de eventos
trombo-embólicos (ETE) nesta população de paciente com GW (90,91).
Inclusive, esta incidência foi similar a encontrada no grupo de pacientes com
história prévia de TVP/TEP idiopático e maior do que a descrita no lúpus
eritematoso sistêmico (LES), doença classicamente relacionada com ETE.
Sendo assim, iremos discutir tais estudos.
O estudo de Merkel e colaboradores teve como objetivo determinar a
incidência de ETE (representado por TVP e/ou TEP) nos pacientes com GW
(90). Para isso, analisaram todos os pacientes que participaram do estudo
‘Wegener’s Granulomatosis Etanercept Trial (WGET)’, que foi um trabalho
multicêntrico, randomizado, duplo-cego, placebo controlado para determinar a
eficácia do etanercept (dose subcutâneo de 25mg duas vezes por semana)
associada à terapia padrão (corticóide mais ciclofosfamida ou MTX) no
tratamento de GW (14).
No referido estudo (WGET), os pacientes eram avaliados a cada 3
meses (14). A coleta de dados incluía o escore de atividade de GW, exame
18
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
físico, exames laboratoriais e anotação de efeitos adversos relacionados ao
etanercept. Ainda nesse estudo, todos os casos sintomáticos de TVP e/ou TEP
foram avaliados em separado, o que resultou no trabalho de Merkel et al (90).
Os casos sintomáticos de ETE foram definidos como edema assimétrico de
membro inferior, dispnéia, hipoxemia, dor torácica ou hemoptise; e foram
confirmados por exames complementares, tais como ultrassonografia com
Doppler, cintilografia pulmonar de ventilação-perfusão, TC helicoidal ou
angiografia. Este estudo encontrou 16 casos de TVP e/ou TEP em 228
paciente-anos. Dessa forma, a incidência de ETE foi de 7 casos / 100 paciente-
anos (95% IC: 4,0 a 11,4), não diferindo entre o grupo em uso de etanercept e
o grupo placebo. Vale ressaltar que 13 dos 16 casos de ETE (81%) ocorreram
quando o paciente estava em atividade de doença, e que tais pacientes não
tinham história prévia de TVP e/ou TEP. Na comparação dos pacientes com
GW que tiveram ou não ETE, não houve diferença significativa em importantes
pontos, como uso de aspirina, número de hospitalizações e tempo de
hospitalização (90).
Para contemporizar esta alta incidência de ETE em GW (7 casos / 100
paciente-anos), comparou-se este dado com outras populações. A incidência
de TVP e/ou TEP em população saudável é de apenas 0,31 casos / 100
pessoa-anos; já em LES, de 1,0 caso / 100 paciente-anos (92,93). Além disso,
19
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
a incidência de ETE em população com artrite reumatóide tratada com
etanercept é de apenas 0,26 casos / 100 paciente-anos (95% IC: 0,1 to 0,5);
logo a alta incidência de ETE encontrada na GW não pode ser atribuída ao uso
de etanercept (tabela 1) (90).
Tabela 1. Incidência de eventos trombo-embólicos (ETE) em diferentes
populações.
População Casos de ETE / 100 paciente-anos
GW 7,00
Vasculite ANCA associada 4,30
História prévia de ETE idiopáticos 7,20
LES 1,00
Artrite reumatóide - Etanercept 0,26
Pessoas saudáveis 0,31
20
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
Dessa forma, este trabalho de Merkel e colaboradores sugere um risco
aumentado de ETE em pacientes com GW (90). Além disso, tal risco
compartilha uma importante relação com atividade de doença em GW. Por fim,
a possível implicação clínica deste estudo é alertar os médicos para a
possibilidade de TEP, e não só de hemorragia alveolar, em pacientes com GW
apresentando dispnéia e hemoptise.
Faz-se importante também discutir o estudo de Weidner e colaboradores
(91). Diante dos dados do estudo de Merkel e colaboradores, Weidner avaliou
a incidência de ETE em um grupo de pacientes com vasculite ANCA associada
(GW, poliangeíte microscópica e vasculite ANCA associada limitada ao rim)
acompanhado na University of Erlangen-Nurnberg na Alemanha de 1986 a
2001 (91). Esta avaliação foi realizada através de análise retrospectiva dos
prontuários médicos de tais pacientes. Em relação à investigação de TVP e/ou
TEP, ultrassonografia com Doppler foi realizada em todos os pacientes com
suspeita clínica de ETE. Já o diagnóstico de TEP foi estabelecido com
cintilografia pulmonar de ventilação-perfusão ou TC helicoidal. Foram ainda
avaliadas a presença de história prévia de TVP/TEP, a atividade de doença e
os fatores de riscos para ETE.
Nesse estudo, foram encontrados 105 pacientes com vasculite ANCA
associada. Todos tinham acometimento renal, sendo também freqüentes as
21
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
manifestações pulmonares e otorrinolaringológicas. Treze pacientes
apresentaram ETE durante atividade de doença (detectado TVP em 12 e TEP
em 6 pacientes), sendo duas embolias pulmonares com evolução fatal. Além
disso, ocorreram 3 casos de TEP em pacientes fora de atividade de doença.
Na contabilidade final, ocorreram 16 casos de ETE em 367,5 paciente-anos,
correspondendo a uma incidência de 4,3 casos / 100 paciente-anos (95% IC:
1,6 a 10,2). Porém, os próprios autores consideraram que esta incidência
poderia ser maior caso não tivessem incluído pessoas com vasculite limitada
ao rim, pois tais pacientes não apresentam inflamação/disfunção vascular
sistêmica, o que propiciaria ainda mais o surgimento de ETE (91). Além disso,
novamente correlacionou-se a alta incidência de ETE nas vasculites ANCA
associada (dentre elas, a granulomatose de Wegener) com a atividade de
doença (91). A base fisiopatológica para tal achado será discutido a seguir,
num tópico separado.
Em relação aos fatores de risco trombo-embólico, estes não foram
encontrados em nenhum dos pacientes (91). Vale à pena ressaltar que os
fatores pesquisados foram neoplasia, cirurgia, trauma, gestação, uso de
anticonceptivo oral, terapia de reposição hormonal, imobilização, obesidade,
proteinúria em nível nefrótico e distúrbios da coagulação, tais como deficiência
22
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
de proteína C e S, deficiência de antitrombina III e ainda anticorpos
antifosfolípides.
Assim, este trabalho corrobora o dado de risco aumentado de ETE em
pacientes com vasculite ANCA associada, especialmente com GW (91). Por
fim, tal risco novamente compartilha uma importante relação com atividade de
doença (em 13 dos 16 casos de TVP/TEP), não estando associado a outros
fatores de risco tromboembólico, como neoplasia ou trombofilia (89-91).
23
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
1.4.1. Base fisiopatológica para o estado pró-trombótico na
granulomatose de Wegener
São várias as bases fisiopatológicas para o achado de trombose in situ e
de elevada incidência de ETE na GW. Até então, esta doença era
estigmatizada pela hemorragia alveolar. Conforme visto, há forte associação
entre ETE e atividade de doença, pois vários marcadores séricos de atividade
de doença na GW, tais como ANCA, proteinase 3 (PR3), célula endotelial
apoptótica (CEAp) e trombomodulina (TM), determinam, em última instância,
um estado pró-trombótico (Figura 1) (90,91,94-100).
Primeiramente, o ANCA induz uma ativação prematura dos neutrófilos
(Figura 1). Com isso, a interação neutrófilo-endotélio é perturbada, com
conseqüente lesão endotelial (97,101,102). Neste momento, vale à pena
relembrar que um dos elementos da tríade de Virchow, a qual propõe os
mecanismos responsáveis pela trombose, é a injuria endotelial.
Outro importante marcador sérico de atividade em GW é PR3 (100).
Esta é produzida pelos neutrófilos ativados e causa apoptose de célula
endotelial (100). Tal apoptose na vasculite ANCA associada foi demonstrada
tanto em modelo experimental, quanto em biópsia renal e pulmonar de
24
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
pacientes com a referida vasculite sistêmica (103,104). As conseqüências do
fenômeno apoptótico endotelial são o aumento da expressão de fator tecidual
(FT - um fator pró-trombótico), e diminuição de TM (um fator anticoagulante) na
superfície endotelial; favorecendo-se novamente um estado pró-trombótico. Tal
dado é corroborado pelos achados de fibrina e de trombose em biópsias renais
realizadas em pacientes com GW (77-79).
Não se deve esquecer da dosagem sérica de CEAp (Tabela 2). Esta se
correlaciona positivamente com atividade de doença em GW e com quantidade
de células apoptóticas no endotélio, com sua conseqüente repercussão pró-
trombótica (98).
Por fim, a TM sérica representa um fragmento inativo da TM liberado
das células endoteliais após uma injúria/lesão (Tabela 2) (99). Logo, a TM
sérica não possui propriedade anticoagulante; e pelo contrário, surge em
situações de dano endotelial, com conseqüente propensão a formação de
trombos. Dessa forma, o aumento de TM sérica deve ser encarado como
marcador de um estado pró-trombótico, e não apenas como marcador de
atividade em GW (99,105,106).
25
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
Figura 1. Representação da complexa interação entre neutrófilo, célula
endotelial e trombose in situ.
26
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
Tabela 2. Correlação entre marcadores séricos da GW e atividade de
doença.
Marcador sérico da GW Correlação entre nível sérico do
marcador e escore de atividade de
doença
CEAp r:0,7*
TM r:0,4*
ANCA r:0,2*
*p<0,05
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Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
2. HIPÓTESE DO ESTUDO
28
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
Presença de trombose in situ nas artérias pulmonares de pequeno /
médio calibre na GW, tendo em vista o estado pró-trombótico descrito nesta
vasculite.
29
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
3. OBJETIVOS
30
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
Estudar a freqüência da trombose in situ em artérias pulmonares de
pequeno / médio calibre em tecido pulmonar de pacientes portadores de GW,
bem como quantificar tais trombos, em comparação com controles normais na
microscopia confocal a laser.
31
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
4. MÉTODOS
32
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
4.1. Delineamento e local do estudo
Este estudo quantitativo e controlado consistiu da análise de 24 artérias
pulmonares de pequeno / médio calibre (diâmetro externo de 20 a 300 µm)
obtidas de amostras teciduais de biópsia pulmonar cirúrgica de seis pacientes
que preencheram os critérios diagnósticos de GW do Colégio Americano de
Reumatologia e que são acompanhados no ambulatório de vasculites
pulmonares da Disciplina de Pneumologia do InCor-HC-FMUSP (12). As
amostras foram comparadas com 16 artérias pulmonares de pequeno / médio
calibre provenientes de tecido pulmonar histologicamente normal de necrópsias
de pacientes cuja causa de óbito foi não pulmonar.
A preparação das lâminas foi realizada no Laboratório de Investigação
Médica 05 (LIM-05) do Departamento de Patologia e no LIM-17 da Disciplina
de Reumatologia da FMUSP. Já a análise das lâminas foi realizada no
Departamento de Biologia Celular e do Desenvolvimento do ICB-USP, através
de microscopia confocal a laser (ZEISS-LSM510 com três fontes de laser
ARGON-488nm/HeNe1-543nm/He-Ne2-633 nm, associado a um microscópio
de fluorescência ZEISS Axiovert). Este estudo foi aprovado pela Comissão de
Ética para análise de projetos de pesquisa do HC-FMUSP.
33
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
DELINEAMENTO DO
ESTUDO
LÂMINAS DE GW LÂMINAS DE PULMÃO
NORMAL
IMUNOFLUORESCÊNCIA ANTI-
CD34
MICROSCOPIA CONFOCAL A
LASER
ARTÉRIAS DE PEQUENO/MÉDIO
CALIBRE:
20µm≤DIÂMETRO≤300µm
CÁLCULO DA ÁREA: TROMBO, LÚMEN DO
VASO, LIVRE DO LÚMEN DO VASO, TOTAL
DO VASO
ANÁLISE ESTATÍSTICA
34
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
4.2. Preparo das amostras de tecido pulmonar
As amostras de pulmões utilizadas neste estudo foram obtidas através
de biópsia pulmonar a céu aberto de pacientes que preencheram os critérios
diagnósticos de GW recomendados pelo Colégio Americano de Reumatologia
(12). Foram também incluídas, com grupo Controle, amostras de tecido
pulmonar histologicamente normal de necrópsias de pacientes cuja causa de
óbito foi não pulmonar
Os dois grupo (GW e Controle) tiveram blocos de parafina de tecido
pulmonar separados, tendo a face pleural representada. Após a seleção, os
blocos foram cortados em espessura de 7 µm para posterior coloração em
Hematoxilina-Eosina (H&E), para confirmar o diagnóstico de GW no grupo GW
e para atestar a normalidade do tecido pulmonar no grupo Controle.
35
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
4.3. Imunofluorescência utilizada para o estudo das artérias pulmonares
de pequeno e médio calibre
Após a revisão histológica, cortes de 20 µm de espessura foram
realizados nos blocos de parafina. Logo após, eles foram desparafinados e
então aquecidos em buffer de citrato a 10mM / pH:6,0 por 50 minutos, com o
intuito de expor os antígenos. Após isso, o tecido foi incubado com anticorpo
monoclonal de rato anti-célula endotelial humana (marcador de antígeno CD34
ou marcador de endotélio) (NOVOCASTRA LABORATORIES-United Kington,
clone: QBEnd/10) na diluição de 1/80 e em alta temperatura. Finalmente, o
tecido foi revelado com anticorpo monoclonal de rato conjugado com isômero
de isocianato de fluoresceína (FITC) anti-anticorpo de rato, em diluição de 1/40
(Sigma Chemical Co), funcionando como anticorpo secundário / revelador, e
montado em meio aquoso.
36
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
4.4. Quantificação da área do trombo, da área do lúmen, da área livre do
lúmen e da área total das artérias pulmonares de pequeno e médio calibre
Após a preparação descrita, cada amostra de tecido pulmonar (tanto do
grupo GW, quanto do Controle) foi analisada através de microscopia confocal a
laser (ZEISS-LSM510,com três fontes de laser ARGON-488nm, HeNe1-543nm
e He-Ne2-633 nm) acoplado a um microscópio de fluorescência (ZEISS
Axiovert 100M) (figura 2).
A análise das lâminas no grupo GW foi iniciada no centro da lesão
pulmonar relacionada a esta vasculite. Percorremos a referida lesão em forma
de espiral até encontrarmos 4 artérias pulmonares. Já a análise das lâminas no
grupo Controle foi iniciada no centro da lâmina, e percorremos a lâmina em
forma de espiral até encontrarmos 4 artérias pulmonares. Todas as imagens
das artérias pulmonares geradas pela microscopia confocal foram
armazenadas no computador. Os únicos critérios de inclusão das referidas
artérias pulmonares, tanto no grupo GW quanto no grupo Controle, eram que a
relação entre o menor diâmetro externo e o maior diâmetro externo da artéria
pulmonar fosse maior que 0,6 (para garantir um corte transversal ao maior eixo
do vaso), e que o maior diâmetro externo da artéria fosse maior que 20 µm e
37
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
menor que 300 µm (para garantir que trabalhávamos com artérias de
pequeno/médio calibre). Vale mencionar que o uso do anticorpo marcador de
endotélio foi importante, pois facilitava o encontro dos vasos no tecido
pulmonar.
Figura 2. Sistema de microscopia confocal a laser.
38
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
Posteriormente, as imagens armazenadas no computador foram
analizadas com o programa ZEISS-LSM Image Browser. Este se encontra
disponível gratuitamente na página da internet do Departamento de Biologia
Celular e do Desenvolvimento-ICB-USP (http://www.biocel.icb.usp.br/). Para
determinar a ausência ou a presença de trombo nas artérias em estudo,
utilizamos o critério visual, como classicamente descrito na literatura (figura 3)
(71-75). A freqüência de trombo no grupo GW foi comparado a do grupo
Controle. Já para quantificarmos a área do trombo (AT), a área do lúmen do
vaso (AL), a área livre do lúmen do vaso (ALL) e a área total do vaso (ATV),
utilizamos um cursor para marcar e circundar a área específica em estudo;
como feito similarmente no analisador de imagem da microscopia óptica (figura
4) (107). O programa ZEISS-LSM Image Browser nos dava automaticamente o
tamanho da área marcada em µm2. Além disso, fizemos a relação de correção
da AT pela ATV [(AT/ATV)x100%], da AL pela ATV [(AL/ATV)x100%], da ALL
pela ATV [(ALL/ATV)x100%]. Dessa forma, as áreas e as relações de correção
obtidas no grupo GW foram comparadas às do grupo Controle.
Por último, dividimos o grupo GW em dois subgrupos, denominados
GW1 e GW2. Calculamos a mediana da ATV no grupo GW, e então, as artérias
com ATV abaixo da mediana ficaram no subgrupo GW1, e as artérias com ATV
acima da mediana foram alocadas no subgrupo GW2. Em cada subgrupo,
39
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
calculamos a AT, AL, ALL, ATV, bem como a relação de correção AT pela ATV
[(AT/ATV)x100%], da AL pela ATV [(AL/ATV)x100%], da ALL pela ATV
[(ALL/ATV)x100%].
Figura 3. A. Artéria pulmonar sem trombo (grupo contole), com barra
branca correspondendo a um tamanho de 300 µm. B. Artéria pulmonar
com trombo (grupo GW).
A B
40
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
Figura 4. A. O círculo branco contorna a parede externa do vaso, obtendo-
se a ATV. B. O círculo branco delimita a parede interna do vaso,
determinando-se a AL. C. O círculo branco contorna o trombo, obtendo-se
a AT.
A B
C
41
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
5. ANÁLISE ESTATÍSTICA
42
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
A análise estatística foi realizada com o programa estatístico SPSS
(SPSS Inc., Chicago, IL, USA). Os dados foram expressos como freqüência e
percentagem para variáveis categóricas, e como média ± desvio padrão para
variáveis contínuas. Foi usado o teste exato de Fisher para análise dos dados
categóricos, sendo calculado também o odds ratio. Adicionalmente, foi testada
a distribuição normal dos dados contínuos com o teste Kolmogorov-Smirnov.
Após isso, foi usado o teste de Mann-Whitney para comparação entre as
variáveis não-paramétricas, não-pareadas. A significância estatística foi
considerada como p<0,05.
43
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
6. RESULTADOS
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Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
Os trombos estiveram presentes em 22 de 24 (91,67%) artérias
pulmonares de pequeno/médio calibre do grupo GW e em nenhuma das 16
(0%) artérias do grupo Controle (p<0,0001). Dessa forma, encontrou-se um
odds ratio de 297,00 (95% IC: 13,34-6612).
A média da ATV do grupo GW e do grupo Controle foram similares
(32604 ± 17830 µm2 versus 32970 ± 11356 µm2, p:0,8793) (tabela 3, tabela 4,
figura 5). Essa ausência de diferença na área total nos permite dizer que
estamos trabalhando com vasos de mesmo calibre no grupo GW e Controle,
como pretendido pelo desenho deste estudo. Já quando comparamos a AT e a
relação AT/ATV(x100%), encontramos um valor maior no grupo GW em
relação ao Controle (10068 ± 9525 µm2 versus 0,00 ± 0,00 µm2, p<0,0001; e
31,86 ± 20,40 % versus 0,00 ± 0,00 %, p<0,0001). Além disso, a AL e a relação
AL/ATV(x100%) foi significantemente menor no grupo GW do que no grupo
Controle (16184 ± 10592 µm2 versus 24707 ± 8717 µm2, p:0,0135; e 48,82 ±
14,95 % versus 75,44 ± 7,10 %, p<0,0001); demonstrando indiretamente que
as artérias na GW tem uma parede mais espessada, provavelmente devido a
infiltração destas paredes por células inflamatórias. Por último, a ALL e a
relação ALL/ATV(x100%) foi também significantemente menor no grupo GW do
que no grupo Controle (6116 ± 5956 µm2 versus 24707 ± 8717 µm2, p<0,0001;
45
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
e 16,96 ± 15,30 % versus 75,44 ± 7,10 %, p<0,0001), demonstrando a
obstrução do leito vascular nesta vasculite.
Em relação aos subgrupos, o subgrupo GW1 apresentou ATV menor do
que o subgrupo GW2 (18082 ± 9374 µm2 versus 47126 ± 10806 µm2,
p<0,0001), como pretendido pela divisão dos subgrupos (figura 6). Já a AT foi
menor no subgrupo GW1 do que no GW2 (4436 ± 2826 µm2 versus 15700 ±
10609 µm2, p:0,0094) , entretanto essa diferença desaparece quando se
corrige a AT pela ATV [(AT/ATV)x100%], 31,60 ± 21,41 % versus 32,13 ± 20,31
% (p:0,9539). A AL também foi menor no subgrupo GW1 do que no GW2 (8138
± 4203 µm2 versus 24232 ± 8698 µm2, p:0,0002), entretanto esta diferença
desaparece com a correção da AL pela ATV [(AL/ATV)x100%], 46,61 ± 15,67
% versus 51,03 ± 14,53 % (p:0,5067). Novamente, a ALL foi menor no
subgrupo GW1 do que no GW2 (3702 ± 4881 µm2 versus 8531 ± 6134 µm2,
p:0,0194), e novamente essa diferença desaparece quando se corrige a ALL
pela ATV [(ALL/ATV)x100%], 15,01 ± 16,27 % versus 18,90 ± 14,71 %
(p:0,3408). Assim, o acometimento das artérias pulmonares é
proporcionalmente similar nos dois subgrupos GW1 e GW2.
46
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
Tabela 3. Áreas (em µm2) de cada artéria no grupo granulomatose de
Wegener.
Paciente ATV AL AT ALL1 11344,83 4376,67 3843,59 533,08 68979,19 24175,78 7771,92 16403,86 41761,15 28591,03 11119,24 17471,79 49351,64 32112,14 30354,53 1757,61
2 51631,11 32611,73 19215,60 13396,13 30473,77 13686,23 0,00 13686,23 35412,97 16600,98 0,00 16600,98 17697,77 6856,32 6194,89 661,43
3 31540,42 14954,77 4152,30 10802,47 61820,08 33110,59 27008,97 6101,62 50393,78 23044,54 22084,37 960,17 53692,86 34985,55 29430,26 5555,29
4 37816,26 10788,41 5966,08 4822,33 41866,56 27688,65 20484,02 7204,63 17946,73 11683,01 11165,83 517,18 10906,45 6491,35 6094,65 396,70
5 7220,48 4980,19 4413,37 566,82 19951,20 12680,84 4190,36 8490,48 37192,96 11912,28 1535,06 10377,22 13478,50 6277,83 5195,03 1082,80
6 10029,20 1794,12 1165,68 628,44 11474,78 4840,50 4663,20 177,30 34925,54 9039,75 2156,81 6882,94 35598,79 15156,56 13432,15 1724,41
47
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
Tabela 4. Áreas (em µm2) de cada artéria no grupo Controle.
Paciente Controle ATV AL AT ALL
1 30580,44 22192,55 0,00 22192,55
50305,63 39337,74 0,00 39337,74
23963,48 18359,02 0,00 18359,02
39477,12 31837,27 0,00 31837,27
2 29898,45 23323,02 0,00 23323,02
24795,34 18799,99 0,00 18799,99
20058,94 16427,72 0,00 16427,72
59227,84 45659,25 0,00 45659,25
3 34455,89 27783,00 0,00 27783,00
41996,94 32490,03 0,00 32490,03
17689,50 14294,97 0,00 14294,97
20003,96 16103,19 0,00 16103,19
4 37955,05 23663,10 0,00 23663,10
26682,97 20780,07 0,00 20780,07
37747,85 21157,49 0,00 21157,49
32684,22 23104,92 0,00 23104,92
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Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
Figura 5. Gráficos do grupo GW e Controle em relação à ATV, AT e ALL.
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Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
Figura 6. Gráficos dos subgrupos GW1 e GW2 sobre as relações da
AT/ATV, AL/ATV e ALL/ATV.
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Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
7. DISCUSSÃO
51
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
O presente estudo demonstrou uma alta freqüência (91%) de trombo
nas artérias pulmonares de pequeno / médio calibre na GW, sendo
significantemente maior do que no grupo Controle. Vale ressaltar que a
freqüência de trombose in situ na Hipertensão Arterial Pulmonar Idiopática
(HAPI) é de 20-50%. A análise estatística também mostrou uma forte
associação entre trombos na microcirculação e GW, com odds ratio de 297
(95% IC: 13,34-6612). Quanto à área do trombo e da área livre do lúmen do
vaso, estas também mostraram diferenças significativas. A média da AT foi
10068 µm2 no grupo GW e 0,00 µm2 no grupo Controle (p<0,0001); e a média
da ALL foi 6116 µm2 no grupo GW e 24707 µm2 no Controle (p<0,0001),
demonstrando a obstrução do leito vascular pela trombose. Esses dados
corroboram o estado pró-trombótico nesta vasculite ANCA associada.
Além disso, o acometimento das artérias menores ou maiores da
microcirculação pulmonar (diâmetro externo ≤300µm) aconteceu de forma
similar neste estudo.
52
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
7.1. O paradoxo: eventos trombo-embólicos numa vasculite (às vezes)
hemorrágica
Paradoxalmente, vem crescendo o conceito de um estado pró-
trombótico numa doença até então estigmatizada pela hemorragia alveolar (89-
91,108). Essa idéia tomou mais forma com o trabalho publicado em 2005 que
mostrou uma elevada incidência de ETE na GW (7 casos / 100 paciente-anos)
(90). Isso significa que o paciente com GW tem um risco de mais de 20 vezes
de ter um ETE em comparação com uma pessoa saudável, e um risco 7 vezes
maior de ter TVP/TEP em comparação com um doente portador de lúpus
eritematoso sistêmico. Dessa forma, é fundamental colocar, no diagnóstico
diferencial de um paciente com GW e com dispnéia súbita e/ou hemoptise, a
hipótese de TEP.
Quanto à investigação de TEP, esta normalmente se inicia com a
dosagem de d-dímero. Entretanto, vale mencionar que a quantidade de d-
dímeros falsos positivos na GW será bem maior do que na população geral,
baseando-se no estudo publicado em 1996 que avaliou 26 pacientes com
vasculite ANCA associada e 47 controles saudáveis (109). No referido trabalho,
a dosagem do d-dímero foi significativamente maior nos pacientes com doença
53
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
em atividade em relação ao grupo controle (mediana de 2200 ng/ml versus 200
ng/ml, p<0,01). Nos doentes com vasculite ativa, apenas um dos 26 (3,8%)
apresentou d-dímero negativo (<500ng/ml), enquanto mais de 50% deles
passaram a ter d-dímero negativo com a remissão da doença (p<0,01);
lembrando-se que este exame foi negativo em 100% dos controles saudáveis
(p<0,01). Porém, acreditamos que o valor preditivo negativo deste teste
laboratorial continua muito bom, servindo para excluir a hipótese de embolia
pulmonar em casos de baixa / média probabilidade.
Caso o resultado do d-dímero seja positivo num paciente com GW e
com suspeita de TEP, será necessário realizar uma angiotomografia de tórax
ou uma cintilografia pulmonar de ventilação/perfusão, a depender da função
renal do paciente e da disponibilidade do exame. Outro exame que pode ser
útil na investigação de embolia pulmonar é a angiorressonância de tórax,
especialmente em pacientes com alergia a contraste iodado. Vale lembrar que
a ressonância possui uma sensibilidade menor que os dois exames
mencionados anteriormente para a detecção de TEP (110).
54
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
7.2. Esquematizando as alterações fisiopatológicas da granulomatose de
Wegener para explicar os achados trombo-embólicos
Já vimos que vários marcadores (séricos) de atividade de doença na
GW são também relacionados com um estado pró-trombótico. Estes são,
especialmente, o ANCA, PR3 e TM. Vale relembrar que o início do processo
nesta vasculite ocorre com a ativação de neutrófilos pelo TNF, cuja produção
pode estar relacionada a um processo infeccioso (1). Assim, o neutrófilo
ativado expressa em sua membrana proteínas que permitem a ligação desta
célula com o ANCA. Após isso, ocorre a liberação da enzima PR3 pelos
neutrófilos, e esta irá causar uma lesão na superfície endotelial, com
conseqüente liberação de TM e de CEAp para a corrente sangüínea.
Entretanto, com a lesão endotelial, a interação endotélio-plaqueta-fatores de
coagulação fica perturbada, causando ativação da cascata de coagulação, e
culminando com a formação da trombose in situ.
Essa complexa interação foi mais bem detalhada no trabalho de
Hergesell e colaboradores publicado em 1996. Estes autores demonstraram
que, na GW, existe uma correlação entre TM sérica e atividade de doença (AD)
(r:0,46; p<0,05). Outras correlações também foram vistas neste mesmo
55
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
trabalho, como complexo trombina-antitrombina III sérico (TAT) e AD (r:0,58;
p<0,05), e d-dímero sérico e AD (r:0,43; p<0,05). Vale ainda ressaltar que a TM
sérica denota lesão endotelial, enquanto TAT e d-dímero representam uma
coagulação ativada. Neste mesmo estudo, houve também uma forte correlação
entre a coagulação ativada e a lesão endotelial, ao se analisar TAT versus TM
(r:0,94; p<0,05) e d-dímero versus TM (r:0,87; p<0,05) (109). Dessa forma, o
referido autor sugeriu um estado subclínico de coagulação intravascular
disseminada (CIVD) durante a fase ativa desta vasculite ANCA associada.
Esta situação de coagulação disseminada foi recentemente descrita
também por outros autores. Saito e colaboradores descreveram um caso de
hemorragia gastrointestinal e cerebral secundária à CIVD, a qual decorria da
atividade da GW (111). Com uso de corticóide, ciclofosfamida e plasmaférese,
houve controle do processo vasculítico, e conseqüentemente dos
sangramentos.
Por último, durante a formação da trombose in situ, ocorre liberação de
várias moléculas que podem modular / perpetuar a resposta inflamatória / pró-
trombótica (figura 7). Estas substâncias são representadas principalmente pela
serotonina, fibrinogênio, fibronectina, tromboxano A2 e fator de crescimento
derivado de plaqueta (PDGF). Na figura a seguir, esquematizamos estas
interações que culminam com a formação de trombo.
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Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
Figura 7 - Efeito de feeback positivo entre inflamação vascular - dano
endotelial - trombose in situ.
57
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
7.3. Possível papel da trombose in situ na fisiopatologia da
granulomatose de Wegener
Depois dos achados deste estudo, consideramos que a trombose in situ
tem um importante papel na fisiopatologia da GW. Embora o processo
trombótico possa acontecer secundariamente a uma cascata de alterações
existentes no plasma, nos neutrófilos e no endotélio, ele atua, no mínimo, como
um perpetuador do cascata inflamatória. Isso ocorre porque a ativação
plaquetária existente na trombose tem relação estreita com a ativação da
resposta leucocitária e inflamatória, fechando assim um ciclo de feedback
positivo, como pode ser visto na figura anterior (112-115).
Além disso, o possível papel da trombose in situ na GW é corroborado
pelos recentes casos descritos de hipertensão pulmonar associada a esta
doença inflamatória (115). Em um destes casos, o paciente apresentou
melhora em sua sintomatologia e nos parâmetros do cateterismo cardíaco
direito apenas com a introdução da anticoagulação oral. Tal fato corrobora a
nossa idéia de estudar / comprovar o benefício da anticoagulação nesta
doença, desde que não haja contra-indicação a tal terapêutica, tais como
hemorragia alveolar ou outros sangramento internos ativos, plaquetopenia,
58
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
deficiência de fatores de coagulação congênita ou adquirida, insuficiência
hepática moderada-grave e história prévia de má adesão a tratamentos (89).
Além disso, outro paciente deste mesmo artigo melhorou da hipertensão
pulmonar com a intensificação do tratamento imunossupressor. Tal dado serve
para demonstrar a íntima relação entre inflamação-disfunção endotelial-
trombose nesta vasculite ANCA associada (115). Esta interação também foi
sugerida em outras doenças com importante componente
inflamatório/vasculítico, como os casos de hipertensão pulmonar relacionada à
doença mista do tecido conectivo e a lúpus eritematoso sistêmico. Nestes
casos, houve melhora clínica com o tratamento baseado em corticóide e/ou
drogas citotóxicas. Entretanto, esta terapêutica imunossupressora geralmente
não é efetiva nas situações de hipertensão pulmonar associada à
esclerodermia, tendo em vista que esta doença não apresenta a inflamação
como um importante componente de sua fisiopatologia.
59
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
7.4. Considerações sobre o potencial benefício da anticoagulação no
tratamento da granulomatose de Wegener.
A anticoagulação na GW pode ser vista sob três aspectos. Primeiro, tal
terapêutica pode ser estudada nesta doença como um meio de atuar no
processo inflamatório vigente. Em 2004, um estudo, avaliando possíveis vias
fisiopatológicas de ativação plaquetária e inflamação em hipertensão pulmonar,
demonstrou o efeito antiinflamatório dos dicumarínicos (116). Esse efeito pode
ser muito importante na GW, pois cerca de 10% dos pacientes continuam em
atividade de doença a despeito do uso da ciclofosfamida (17). Isso nos
demonstra que pesquisas de novos tratamentos para a GW devem continuar a
ser realizadas. Segundo, a anticoagulação pode ser uma importante
ferramenta terapêutica na GW por atuar de forma importante em doenças com
trombose in situ, como o acometimento pulmonar na síndrome antifosfolípide e
a hipertensão arterial pulmonar idiopática (HAPI) (112-118). Na HAPI, o uso de
dicumarínico está associado a aumento de sobrevida, e vale mencionar que a
freqüência de trombose in situ na HAPI é menor do que a encontrada neste
estudo de GW (20-50% versus 91%, respectivamente) (112,117,118). Terceiro,
a anticoagulação na GW pode ser vista como profilaxia de ETE, considerando
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Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
que (I) a incidência de ETE nesta vasculite é similar a encontrada em
população com evento prévio de TVP/TEP, e (II) que nesta população, já está
demonstrado o benefício da anticoagulação profilática (89,119, 120).
Além disso, já existem experiências iniciais e bem sucedidas do uso de
anticoagulante no manejo de pacientes com glomerulonefrite relacionada à GW
(77,78). Esse dado encontra um racional nos estudos histopatológicos renais
realizados nesta vasculite, demonstrando uma importante presença de
trombose e de deposição de fibrina, a qual deriva da ativação do sistema de
coagulação (77-79). Em nosso ambulatório, também temos quatro casos de
GW em uso de anticoagulação devido a eventos trombóticos, evoluindo bem e
sem complicações hemorrágicas (108).
61
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
7.5. Eventos trombo-embólicos em outras vasculites
Os ETE são também marcantes em outras doenças vasculíticas. Estas
são principalmente a doença de Behçet e o lúpus eritematoso sistêmico. Na
primeira, a prevalência de trombose venosa chega a ser de 30%, sendo o sexo
masculino um fator de risco (121). Em nossa casuística de pacientes com
Behçet e acometimento pulmonar, a incidência de TEP foi de 5,11 casos/100
paciente-anos, bem maior do que a de uma população normal (0,31/100
paciente-anos) (80,92). As bases fisiopatológicas para tal achado são o estado
pró-trombótico relacionado à doença de Behçet, como ativação do sistema de
coagulação (aumento do fator de von Willebrand, do fator tecidual e da
trombomodulina) e inibição do sistema de fibrinólise (aumento do inibidor do
ativador do plasminogênio) (80). Como na GW, a inflamação vascular presente
na doença de Behçet tem íntima relação com a ativação do sistema de
coagulação, sendo descrito até resolução de trombo intracardíaco apenas com
o uso de imunossupressor (122).
O lúpus eritematoso sistêmico também tem importantes achados
trombo-embólicos associados. Um exemplo disso é a significativa incidência de
ETE, que é de 1,00/100 paciente-anos (93). Os fatores de risco descritos nesta
62
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
doença são anticoagulante lúpico, anticardiolipina, inflamação vascular com
conseqüente disfunção endotelial, estado de ativação plaquetária e síndrome
nefrótica, dentre outras (123).
Vale lembrar que os pacientes com lúpus e síndrome antifosfolípide
devem receber anticoagulação oral por períodos prolongados / indefinidos,
devido ao elevado risco de novos ETE, como publicado recentemente (124).
Além disso, esta revisão sistemática mostrou que incidência de novos ETE é
maior nos pacientes com trombose arterial do que com tromboembolismo
venoso, sugerindo que o primeiro grupo de pacientes deve ter como alvo o RNI
>3,0 ao usarmos dicumarínico. Isso se baseia ainda no fato de que 86% dos
re-eventos trombo-embólicos aconteceram com o RNI entre 2,0 e 2,9, e apenas
14% deles com o RNI ≥3,0. Quanto ao risco de sangramento, este só causou
óbito em uma pessoa, embora seja sabido que o risco de hemorragia aumente
conforme se aumente o RNI. Por outro lado, aconteceram 18 mortes
relacionadas a ETE, reenfatizando o benefício de anticoagular adequadamente
os pacientes com síndrome antifosfolípide, sendo às vezes necessário atingir
um RNI ≥3,0 e/ou associar um antiplaquetário (124).
63
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
8. CONCLUSÃO
64
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
A freqüência de trombos nas artérias pulmonares de pequeno / médio
calibre é muito alta no grupo GW, e significantemente maior do que no grupo
Controle. Além disso, esse estudo mostrou uma forte associação entre trombos
na microcirculação pulmonar e GW.
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Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
9. PERSPECTIVAS FUTURAS
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Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
Os achados deste estudo mostram um importante componente de
trombose in situ no acometimento pulmonar da GW. Porém, esse dado não
havia sido descrito até então. Dessa forma, abre-se a perspectiva para o uso
nesta vasculite de novas terapêuticas que atuem no sistema de coagulação,
tais como dicumarínicos, heparina, ácido acetilsalicílico e clopidogrel.
Aprofundando a discussão dos antiplaquetários na GW, vale mencionar
um estudo realizado por Hergesell e colaboradores (109). Neste, foi mostrado
que o fator de von Willebrand (FVW) encontra-se aumentado tanto na fase de
atividade de doença, quanto na fase de remissão da GW, quando comparado a
pessoas saudáveis. Logo, lembrando que o FVW é um marcador de ativação
plaquetária, os autores sugerem que a ativação plaquetária é um fato existente
e marcante na GW, assim como acontece no lúpus eritematoso sistêmico.
Conseqüentemente, considerando que o ácido acetilsalicílico é um dos
importantes medicamentos utilizados no lúpus (juntamente com prednisona e
ciclofosfamida), parece-nos racional também questionar/investigar o papel dos
antiplaquetários nesta vasculite ANCA associada (125).
É também importante discutir sobre os possíveis dados adicionais que
podemos obter com a continuação deste estudo com o auxílio do microscópio
confocal a laser. Este sistema de microscopia nos permite fazer até 3
marcações de imunofluorescência ao mesmo tempo. Como exemplo, podemos
67
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
utilizar o anti-CD34 (marcador de endotélio), anti-ICAM e anti-VCAM
(marcadores de ativação endotelial) para estudar os vasos com e sem ativação
endotelial e sua possível associação com a trombose in situ. Dessa forma, se
os trombos acontecessem somente / preferencialmente nos vasos com
marcação de ICAM e/ou VCAM, poderíamos imaginar que o problema de
trombose na microcirculação pulmonar aconteceria especialmente no subgrupo
de GW com dosagem sérica alta de ICAM e/ou VCAM, selecionando melhor os
pacientes para um posterior estudo sobre o potencial beneficio de
anticoagulação no manejo terapêutico de pacientes com GW. Vale lembrar que
já está demonstrado desde 1994 que o nível sérico de ICAM tem importância
para marcar o prognóstico da evolução do acometimento renal nesta vasculite
ANCA associada (126).
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Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
11. ANEXO I
97
Tese de Doutorado Alfredo Nicodemos da Cruz Santana
Tabela dos dados dos seis pacientes com granulomatose de Wegener
incluídos neste estudo.
Caso 1 Caso 2 Caso 3 Caso 4 Caso 5 Caso 6 Sexo F F F M M F Idade 30 42 52 36 37 44 Inflamação oral / nasal
+ + + +
Alteração na radiografia de tórax
+ + + + + +
Hematúria microscópica no sedimento urinário
Biópsia- inflamação granulomatosa arterial ou periarterial
+ + + + + +
ANCA + + + + + + Outros órgãos acometidos
Olho Pele
Boa resposta à ciclofosfamida
+ + + + + +
F: Feminino; M: Masculino.
Idade média do grupo Controle: 38,2 ± 8,2 anos.