Click here to load reader
View
221
Download
0
Embed Size (px)
0
Clnica Universitria de Pneumologia
Trombose Venosa: Reviso a propsito de Caso Clnico
Maria do Rosrio Branco Cercas
JUNHO 2017
1
JUNHO 2017
Clnica Universitria de Pneumologia
Trombose Venosa: Reviso a propsito de Caso Clnico
Maria do Rosrio Branco Cercas
Orientado por:
Dra. Elsa Fragoso
2
Resumo
A Trombose Venosa ocorre quando existe um desequilbrio entre os fatores
anticoagulantes e pr-coagulantes. Os dois tipos principais desta doena so a Trombose
Venosa Profunda (TVP) e o Tromboembolismo Pulmonar (TEP), patologias intimamente
ligadas e que podem ocorrer em contnuo. Os fatores de risco so comuns a estas duas
patologias, podendo agrupar-se em genticos e ambientais. Enquanto a clnica da TVP
mais linear, as manifestaes do TEP podem ser bastante inespecficas. Por este motivo,
foram criados scores que ajudam a determinar a probabilidade clnica de TEP.
Atualmente, existem vrios exames complementares que podem ser utilizados na marcha
diagnstica, de entre os quais se destacam os D-dmeros, a angio-tomografia
computadorizada torcica (angio-TC torcica) e o eco-doppler venoso dos membros
inferiores. A teraputica em ambas as situaes a anticoagulao, tornando-se
necessrio recorrer a outro tipo de intervenes, em casos selecionados.
Caso Clnico: Doente do sexo feminino, 38 anos de idade, com um episdio de
TVP um ms antes do presente episdio, devidamente medicada, mas com abandono
teraputico em ambulatrio. Recorre urgncia hospitalar em virtude do aparecimento
sbito de dispneia e dor pr-cordial e epigstrica com irradiao para os membros
superiores. Ao exame objetivo, apresentava-se taquicrdica e taquipneica, com uma
saturao perifrica de O2 em ar ambiente de 88%. Aps a realizao de exames
complementares, foi confirmado o diagnstico de TEP bilateral extenso. A doente foi
internada na Unidade de Cuidados Intensivos Respiratrios do Servio de Pneumologia,
onde foi medicada com heparina no fracionada e, posteriormente, varfarina.
Estabilizada, foi transferida para a enfermaria do Servio de Pneumologia, aps 12 dias
de internamento.
Palavras-Chave: Trombose Venosa; Trombose Venosa Profunda; Tromboembolismo
Pulmonar.
3
Abstract
Venous Thrombosis occurs when there is an imbalance between anticoagulant
and pro-coagulant factors. The two main types of this disease are Deep Vein Thrombosis
(DVT) and Pulmonary Embolism (PE), closely related diseases that may occur in a
continuum. Risk factors are common to these two entities, and can be divided into genetic
and environmental factors. Although clinical manifestations of DVT are more
straightforward, the features of PE can be quite unspecific. For this reason, several scores
have been created that help to determine the clinical probability of PE. Currently, there
are several diagnostic tests that can be used to support and establish the diagnosis, among
which the D-dimer analysis, computed tomographic (CT) angiography of the chest and
compression venous ultrasonography (CUS) with doppler analysis are the most relevant.
Anticoagulation is the standard treatment for both situations. In selected cases, other
procedures may be required.
Clinical Case: Female patient, 38 years old. The patient had an episode of DVT
one month before the current episode, for which she was admitted to the hospital and
treated with anticoagulants, which she then interrupted after discharge. She was admitted
to the Emergency Department due to the sudden onset of dyspnea, precordial and
epigastric pain with irradiation to the upper limbs. No other complaints were noted. On
observation, the patient was tachycardic and tachypneic, with a peripheral O2 saturation
in room air of 88%. The patient performed several diagnostic tests, after which the
diagnosis of massive bilateral PE was established. The patient was admitted to the
Respiratory Intensive Care Unit (RICU), where she was treated with unfractionated
heparin and later on warfarin. The patient was stabilized and transferred to the
Pulmonology ward after 12 days of RICU admission.
Keywords: Venous Thrombosis; Deep Vein Thrombosis; Pulmonary Embolism.
________________________
O Trabalho Final exprime a opinio do autor e no da FML.
4
ndice
1. Introduo ............................................................................................................................ 5
1.1. Trombose Venosa .......................................................................................................... 6
1.2. Fatores de Risco ............................................................................................................ 7
1.3. Clnica ........................................................................................................................... 8
1.4. Diagnstico Clnico ....................................................................................................... 8
1.5. Diagnstico Diferencial ................................................................................................. 9
1.6. Exames Complementares de Diagnstico ................................................................... 10
1.7. Investigao Etiolgica Adicional............................................................................... 13
1.8. Prognstico .................................................................................................................. 15
1.9. Teraputica .................................................................................................................. 18
2. Caso Clnico ....................................................................................................................... 21
3. Discusso ............................................................................................................................ 26
4. Concluso ........................................................................................................................... 30
5. Bibliografia ........................................................................................................................ 32
5
1. Introduo
Para uma melhor compreenso dos mecanismos de Trombose Venosa, torna-se
necessrio entender o modo como funciona a hemostase.
No sistema hematolgico, existe um equilbrio entre fatores pr-coagulantes e
anticoagulantes que promove a circulao, pela manuteno da fluidez sangunea. As
foras pr-coagulantes so, essencialmente, a adeso e agregao plaquetria, assim
como a formao de trombos de fibrina. Por outro lado, as foras anticoagulantes so
constitudas pelos inibidores naturais da coagulao e pelo processo de fibrinlise (5).
A hemostase consiste num conjunto de reaes, que ocorrem atravs da interao
entre o endotlio vascular, as plaquetas e os fatores de coagulao e que culmina na
formao de trombos, com o intuito de cessar uma hemorragia. A hemostase primria
descrita desde a leso vascular at formao de um trombo plaquetrio, enquanto a
hemostase secundria descreve o processo de deposio de fibrina e a estabilizao do
cogulo (5).
Perante situaes de leso vascular, o primeiro mecanismo que entra em ao a
vasoconstrio e, seguidamente, a adeso das plaquetas ntima, que se encontra exposta,
atravs da interao com o fator Von Willebrand. A adeso plaquetria facilitada pela
ligao direta entre o colagnio sub-endotelial e os recetores de colagnio especficos de
membrana presentes nas plaquetas. Aps a adeso, ocorre a ativao e agregao de mais
plaquetas, atravs da libertao de mediadores diversos e de componentes da matriz
extracelular, em contacto com as plaquetas aderentes. A ativao plaquetria conduz
ativao da glicoprotena plaquetria IIb/IIIa, que permite a ligao ao fator de Von
Willebrand e ao fibrinognio. Durante este processo, so ainda inibidos os fatores
anticoagulantes naturais das clulas endoteliais, o que, no seu conjunto, permite a
formao de um trombo plaquetrio (5).
Aps formao do trombo primrio, os fatores de coagulao que circulam no
plasma na sua forma inativa, so ativados atravs de uma cascata de reaes a cascata
da coagulao. Esta dividida em duas vias: a via intrnseca, ou via de ativao de
contacto, e a via extrnseca, ou via do fator tecidual. A ativao acontece, geralmente,
pela via extrnseca, quando ocorre exposio do fator tecidual. Este fator liga-se ao fator
VIIa, formando um complexo que vai ativar diretamente o fator X em Xa (ou,
indiretamente, atravs da ativao do fator IX em IXa que, por sua vez, ativa o fator X
6
em Xa). Na sequncia desta ativao, o fator Xa, associado ao fator Va, conduz
converso da protrombina em trombina, a principal protease envolvida na coagulao.
Finalmente, a trombina vai converter o fibrinognio, solvel no plasma, em fibrina,
composto insolvel. Ocorre, ainda, a ativao do fator XIII em XIIIa, o que provoca a
formao de ligaes covalentes, estabilizando o trombo de fibrina (5).
Os mecanismos anti-trombticos so ativados, para evitar a trombose nas
situaes em que esta seja mais prejudicial do que benfica. A sua ao baseia-se na
manuteno da circulao e na limitao da coagulao, aquando da leso vascular. Neste
processo, as clulas endoteliais tm um papel fulcra