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FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO
ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO PENAL E SEGURANÇA PÚBLICA
ANA CARLA PATRIOTA SILVA LEITE
A CORRELAÇÃO EXISTENTE ENTRE A VIOLÊNCIA ANIMAL E A VIOLÊNCIA HUMANA
CABEDELO-PB 2018
2
ANA CARLA PATRIOTA SILVA LEITE
A CORRELAÇÃO EXISTENTE ENTRE A VIOLÊNCIA ANIMAL E A VIOLÊNCIA HUMANA
Monografia apresentada ao Departamento de Pós-graduação, Pesquisa e Extensão da Fesp Faculdades, como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Especialista em Direito Penal, Processo Penal e Segurança Pública. Orientadora: Profª Ms. Maria do Socorro da Silva Menezes
CABEDELO-PB 2018
L533c Leite, Ana Carla Patriota Silva.
A correlação existente entre a violência animal e a violência humana / Ana Carla Patriota Silva Leite – Cabedelo, 2018.
53f Orientador: Profª Ms. Maria do Socorro Silva Menezes. Monografia (Especialização em de Direito Penal, Processo Penal
e Segurança Pública) Faculdade de Ensino Superior da Paraiba. 1. Maus Tratos. 2. Violência e crueldade contra animais. 3. Violência Humana. 4. Código Penal. 5. Segurança Pública. 6. Teoria do Link (Elo) 7. Correlação. I. Título.
BC/Fesp CDU: 343.2
A reprodução total ou parcial deste documento só será permitida exclusivamente para fins acadêmicos e científicos desde que seja referenciado, autor, titulo instituição, e ano de sua
publicação.
4
ANA CARLA PATRIOTA SILVA LEITE
A CORRELAÇÃO EXISTENTE ENTRE A VIOLÊNCIA ANIMAL E A VIOLÊNCIA HUMANA
BANCA EXAMINADORA
________________________________________ Profª Ms. Maria do Socorro da Silva Menezes
Orientadora - FESP
________________________________________ Membro da Banca Examinadora
________________________________________ Membro da Banca Examinadora
Atribuição de nota: ______________________
Cabedelo, _____ / _______________ / _________
6
AGRADECIMENTOS
A Deus, criador de todas as formas vivas na Terra, que deixou o homem sob
a responsabilidade de cuidar e zelar por toda a sua criação.
A minha cadelinha Princesa Leia, com quem aprendi o que é amar
incondicionalmente.
Aos meus pais, noivo e familiares que sempre me apoiaram.
As ONG’s, OAB e demais instituições que lutam pelo combate de maus tratos
e violência aos animais, buscando punições efetivas, bem como a criação de leis
mais severas para coibir esses ilícitos.
Aos protetores que fazem o papel que o Estado deveria desempenhar ao
resgatar, por conta própria, os animais vítimas da violência humana, se empenhando
em sua reabilitação e confiança novamente no homem.
A minha orientadora que se interessou pelo tema, se dispondo a me ajudar e
dando total apoio na construção teórica e metodológica do trabalho que ora
apresento.
7
“Nós, seres humanos, estamos na natureza para auxiliar o progresso dos animais, na mesma proporção que os anjos estão para nos auxiliar. Portanto, quem chuta ou maltrata um animal é alguém que não aprendeu a amar”.
Chico Xavier
8
RESUMO
Este trabalho tem como tema a correlação entre a violência animal e a violência humana, com o objetivo de comprovar que a violência praticada contra os animais gera, em algum momento da vida de quem a pratica, violência contra o homem. Tendo como metodologia a pesquisa qualitativa, de natureza descritiva utilizando o método dedutivo na sua abordagem analítica, o trabalho foi norteado a partir da Teoria do Link, desenvolvida por meio de estudos e pesquisas cientificas cujos fundamentos indicam a existência de um elo entre a violência doméstica, o abuso infantil e os atos de crueldade, violência e maus tratos contra os animais. No Brasil, tal teoria foi corroborada por Marcelo Nassaro através de pesquisa científica, utilizando como base de dados os registros do Sistema de Administração Ambiental – SAA, da própria Polícia Militar Ambiental, tendo constatado que do total das ocorrências, a maioria dos infratores cometeram outros crimes (violentos ou não), além da violência contra animais, legitimando assim a fundamentação da teoria do link que estabelece essa correlação. Nesse contexto, o trabalho conclui, no âmbito do direito penal, pela exigência de maior rigor na aplicação das penas, com políticas de segurança pública e ações que repreendam todos os atos ilícitos cometidos contra os animais, dando a sociedade oportunidade de reduzir a criminalidade, coibir efetuação de futuros criminosos e a consciência da completa reprovação da cultura (ultrapassada) de que os seres humanos são superiores aos animais, podendo subjugá-los ou fazer o que bem entender, por serem seres vulneráveis que dependem do homem.
PALAVRAS-CHAVE: Violência Animal. Violência Humana. Teoria do Link. Segurança Pública.
9
ABSTRACT
This paper has as theme the correlation between animal violence and human violence, in order to prove that violence against animals at some point in the lives of those who practice violence against man. Based on the qualitative research methodology, which is descriptive in nature using the deductive method in analytical approach, the work was guided by the Link Theory, developed through scientific studies and research whose foundations indicate the existence of a link between domestic violence, child abuse and acts of cruelty, violence and mistreatment of animals. In Brazil, this theory was corroborated by Marcelo Nassaro through scientific research, using as a database the records of the Environmental Administration System - SAA, of the Environmental Military Police itself, and found that of all occurrences, most of the offenders committed other crimes (violent or not), as well as violence against animals, thus legitimizing the foundation of the link theory that establishes this correlation. In this context, the work concludes, within the scope of criminal law, by the need for greater rigor in the application of penalties, with public security policies and actions that reprimand all illegal acts committed against animals, giving society the opportunity to reduce crime, to curb the perpetration of future criminals, and to the awareness of the complete disapproval of the (outdated) culture that human beings are superior to animals, and can subjugate them or do as they please because they are vulnerable beings that depend on man.
KEYWORDS: Animal Violence. Human Violence. Theory of Link. Public security.
10
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................. .11
CAPÍTULO I SOBRE O DIREITO ANIMAL ....................................... .14
1.1 Breve histórico ........................................................................ .14
1.2 Panorama no Brasil .................................................................. .16
1.3 Tutela jurídica dos animais ..................................................... .17
CAPÍTULO II CONSIDERAÇÕES SOBRE A TEORIA DO LINK ...... .22
2.1 Aspectos histórico e conceitual ............................................... .22
2.2 Aspectos teórico e metodológico dos estudos na construção
da Teoria do Link ............................................................................. .23
2.3 Aplicabilidade da teoria no Brasil ............................................ .26
2.4 Sobre a quebra do ciclo da violência..............................32
CAPÍTULO III CORRELAÇÃO EXISTENTE ENTRE A VIOLÊNCIA
ANIMAL E A VIOLÊNCIA HUMANA ................................................ .35
3.1 Violência praticada por crianças e adolescentes .................. .35
3.2 Comportamento criminal de quem pratica crueldade animal .40
3.3 Violência contra animais: relatos selecionados .................... .44
CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................. .54
REFERÊNCIAS ................................................................................. .57
11
INTRODUÇÃO
A temática enfocada no presente trabalho revela uma faceta ainda pouco
estudada do comportamento humano, envolvendo as formas de maus tratos e
violência contra os animais não humanos, os quais acham-se relacionados ao
comportamento social do indivíduo que pratica tais ilícitos, colocando em relevo
algumas situações características desse tipo de violência.
Trata-se de um tema abrangente que se desdobra em direito penal,
processo penal e segurança pública correlacionado ao direito animal, mais
precisamente aos aspectos que dizem respeito aos crimes praticados pelo ser
humano contra os animais, delimitação pertinente ao seu objeto do estudo que diz
respeito ao comportamento social que se revela na violência praticada contra os
animais não humanos, seres indefesos diante do julgo do ser humano cuja
capacidade de promover atos de crueldade, violência e maus tratos contra esses
animais são intencionais, apontando, sob o prisma jurídico, a necessidade de
punições mais severas aos promotores desses tipos de crime e maior seriedade e
rigor na apuração e condução dos processos envolvendo tais casos.
Assim sendo, a questão problema a ser tratada neste trabalho versa sobre o
seguinte aspecto: é possível estabelecer correlação entre a violência animal e a
violência humana? A hipótese norteadora da pesquisa encontra-se ancorada na
teoria do link desenvolvida a partir de estudos cujos fundamentos indicam a
existência de um elo entre a violência doméstica, o abuso infantil e os atos de
crueldade, violência e maus tratos contra os animais, ou seja, são elementos fáticos
intimamente conectados e, embora isso não ocorra em todos os casos, perfil
criminoso foi identificado na maioria dos indivíduos que vivenciaram tais situações.
A motivação para a escolha do tema veio com a leitura da obra de Nassaro
(2013; 2015) em que é feita uma análise do perfil dos agressores de animais presos
pela Polícia Militar do Estado de São Paulo, cuja conclusão indica que aqueles que
maltratam, praticam atos de violência e/ou de crueldade contra os animais
representam um perigo para a sociedade.
Outro aspecto motivacional que concorreu fortemente para o
desenvolvimento desse estudo foi à constatação de que tem sido crescente na
mídia, inclusive nas mídias sociais, a divulgação e exposição de situações que
12
chamam atenção, pelo requinte de crueldade dos crimes praticados contra os
animais, tanto os silvestres que sofrem ação do tráfico, quanto os domésticos que
fazem companhia ao ser humano, mas que, não são tratados como sujeitos e sim
como objeto de direito.
Percebeu-se, portanto ser a abordagem desse tema de suma importância
tanto para o meio jurídico quanto para a esfera acadêmica e científica uma vez que
seus fundamentos teóricos apontam na direção de situações que atingem
diretamente a sociedade, relevando potenciais criminosos no futuro e uma maior
valorização da vida como um todo. Afinal, acredita-se que quando o homem
respeitar o menor dos seres vivos, ele respeitará a vida do próximo.
O argumento foi desenvolvido com o objetivo de comprovar que não importa
a localidade, é fato que a violência contra os animais gera, em algum momento da
vida de quem a pratica, violência contra o homem. Devendo assim, tal situação ser
levada a sério, devendo ser cientificamente estudada e debatida de forma ampla,
para que potenciais criminosos sejam impedidos de continuar a delinquir.
Com relação aos objetivos específicos, a finalidade é de promover o debate
acadêmico em torno sobre o reconhecimento e a prioridade acerca da violência
praticada contra os animais, enfatizando a teoria do link (elo) cujos fundamentos
podem e devem ser aplicados em nosso ordenamento jurídico, como modelo, como
política de segurança pública, sendo essa a contribuição pretendida com o resultado
desse estudo.
Para alcançar os objetivos pretendidos, a concepção metodológica da
pesquisa priorizou a pesquisa bibliográfica como instrumento de coleta de dados, e
do aporte teórico utilizado como fundamento na descrição dos casos tomados como
exemplos para ilustrar as situações envolvendo o objeto de estudo. Trata-se,
portanto, de uma pesquisa qualitativa, de natureza descritiva utilizando o método
dedutivo na sua abordagem analítica, mediante fundamentos da teoria do link citada
anteriormente.
Na sua abordagem estrutural, o estudo foi organizado a partir de sua
introdução em três capítulos: o primeiro situa o tema direito animal a partir de um
resgate histórico do seu desenvolvimento no mundo e no Brasil com a finalidade de
situar a importância da tutela jurídica dos animais. O segundo apresenta os
fundamentos da teoria do link, descrevendo como ela se desenvolveu e como está
sendo sua aplicação. O terceiro trata da correlação entre a violência sofrida pelo
13
animal não humano, com ênfase em sua prática por criança e adolescente,
destacando o comportamento criminal identificado nas situações descritas dos casos
citados no estudo.
Na conclusão evidencia-se que o perfil do autor de violência, crueldade e
maus tratos aos animais é fundamental para estabelecer o nexo de causalidade
proposto na teoria do link. O levantamento desse perfil deverá ter inicio na ocasião
da abordagem policial, ocasião em que deve ser averiguada a ficha criminal deste, a
fim de verificar se é possível estabelecer correlação com atos violentos e outras
práticas criminosas e/ou delituosas.
O intento de comprovar tal conexão é imprescindível para o reconhecimento
de potenciais criminosos, a fim de que se evitem esse e outros tipos de crimes, bem
como para garantir a integridade física dos agentes públicos encarregados de
atender a essas ocorrências, conforme os fundamentos e resultados já obtidos com
a aplicação da teoria do link.
14
CAPÍTULO I
SOBRE O DIREITO ANIMAL
1.1 BREVE HISTÓRICO
Sabe-se que historicamente, desde os primórdios os animais são utilizados e
explorados pelo homem que os tratam como meros objetos, sendo estes
aproveitados como alimento, meio de transporte, vestuário, dentre outras formas que
atestam o seu caráter utilitário, situação que prepondera até os dias atuais.
Há, entretanto, registros de que, para as civilizações egípcia e indiana da
Antiguidade, os animais eram considerados verdadeiros deuses. A partir do século
VI a. C., foi relatado pela primeira vez sobre o respeito aos animais, pelo filósofo
Pitágoras. Contudo, segundo Richard Ryder, somente no século XVII a palavra
“direito” foi utilizada relacionando aos animais, no sentido de proteção (CASTRO
JÚNIOR; VITAL, 2015)
Para Ryder (apud CASTRO JÚNIOR; VITAL, 2015), o fato do autor Wilhelm
Dieter, em 1787 na Alemanha, ter escrito que os animais poderiam ser sujeitos de
direito chamou sua atenção. Ademais foi também no século XVII que surgiu nos
Estados Unidos a primeira lei de proteção dos animais. Apesar desse avanço no
modo de conceber o direito animal, verifica-se que, ainda no século XVII, René
Descartes considerava os animais meras máquinas, não possuidores de estatuto
moral.
Outro avanço importante ocorreu no século XVIII com a abordagem do
filósofo Immanuel Kant, ao admitir que o ser humano tinha deveres com os animais
meramente relativos, uma vez que para ele apenas o homem possuía consciência,
vontade própria e dignidade.
Com Jeremy Bentham, no ano de 1789, foi lançado o alicerce para o que
atualmente chamamos de Princípio da Senciência, ao escrever: “O problema não
consiste em saber se os animais podem raciocinar, tampouco interessa se falam ou
não; o verdadeiro problema é este: podem eles sofrer?” (CASTRO JÚNIOR; VITAL,
2015, p. 141). Para Bentham, a condição indispensável à importância do estatuto
moral resta claro, na capacidade dos animais sentirem prazer ou sofrimento.
15
Considerado como um dos marcos teórico mais importante sobre os direitos
dos animais a obra intitulada Animal Rights, publicada em 1892, a partir dos estudos
realizados por Henry S. Salt defende ser inegável a existência de direitos para os
animais, devendo-se lutar por estes, uma vez que os direitos existem para todos,
não podendo ser reconhecido apenas ao homem.
Na cronologia dos avanços sobre a construção teórica acerca do direito dos
animais, a obra de Peter Singer intitulada Libertação Animal, publicada em 1975 foi
considerada revolucionária para a época. Singer seguiu o pensamento de Jeremy
Bentham, levando em consideração o interesse a título de direito e não a aparência
ou capacidade do ser vivo, ressaltando que “o princípio básico da igualdade não é o
de tratar igualmente todos os seres, mas sim com igual consideração por seres
diferentes que devem receber tratamentos distintos” (COSTA JÚNIOR; VITAL, 2015,
p. 142)
Outro teórico cuja contribuição foi importante para o avanço do tratamento
dado ao direito dos animais é Tom Regan com a publicação, em 2005 de sua obra
intitulada Jaulas Vazias: encarando o direito dos animais, no qual postula que esses
direitos são os mesmos que os seres humanos não admitem perder: os direitos
relativos à integridade do corpo e à liberdade de mover-se para prover seu próprio
bem-estar, afirmando que os animais são possuidores de valor e existência própria,
não existindo em função do homem, devendo tal direito ser tratado com respeito.
A tese defendida por Regan (2005) é evidenciada nas suas palavras que se
transcreve, “é importante consignar que a evolução histórica e cultural dos próprios
direitos dos animais não está a negar os direitos dos seres humanos, mas sim a
complementar uma evolução moral integrada de valores culturais” (COSTA JÚNIOR;
VITAL, 2015, p. 144).
Do exposto, se deduz que, tanto o ser humano quanto o animal possuem
diferenças, mas também características em comum, devendo o homem, como ser
racional, pensante, a capacidade de compreender e respeitar todas as formas de
vida na terra. Em reforço a essa concepção deve-se ter claro que:
É preciso compreender que o homem não deve ser o centro da natureza, tampouco o ponto final da criação. Para isso mister se faz abarcar a percepção real de que o ser humano não está sozinho na Terra, mas que, assim como todos os seres vivos, tem seu lugar e função no Universo (RODRIGUES, 2009, p. 61).
16
Atualmente, muitos países da Europa deram um tratamento diferenciado aos
animais, alterando suas legislações, com o objetivo de libertar os animais da
categoria de coisa. Países como a Suíça, cuja constituição da Confederação
Helvética e o Código Civil foram alterados; a Áustria, que foi pioneiro a aprovar, Lei
Federal sobre o estatuto jurídico do animal, no ano de 1988; a Alemanha, a Polônia
e a França foram países que alteraram suas legislações em prol da defesa dos
animais. Esses registros indicam a importância de apresentar uma abordagem sobre
o panorama que se desenvolveu e ainda está se aprimorando no direito pátrio.
1.2 PANORAMA NO BRASIL
Um dos primeiros relatos de proteção animal ocorreu no Governo de Getúlio
Vargas, através do Decreto nº. 24.6451, promulgado em 10 de julho de 1934, onde
conceituou em seu artigo 17 o que seria animal, determinou maus tratos como
infração e conferiu aos animais a capacidade dessa espécie ir a juízo, conforme o
artigo 3º e incisos (LEITE, 2013).
Para complementar o Decreto nº 24.645/34 foi criada em 1941 a Lei de
Contravenções Penais, Decreto lei nº 3.688, no qual tipificou a prática de atos cruéis
contra os animais. Além desses decretos, a Carta Magna de 1988 em seu artigo
225, §1º, inciso VII protege os animais contra os maus tratos legitimando o Ministério
Público a atuar em juízo em defesa dessa espécie.
Já a Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605 de 1998) em seus artigos 29 a
37, tutela os direitos básicos dos animais, considerando as condutas criminosas, nas
modalidades culposa ou dolosa, comissivos por omissão ou falsamente omissivos,
bem como a coautoria e a participação nos crimes contra animais (RODRIGUES,
2009, apud LEITE, 2013).
Dos decretos e leis já citados, uma tem importante marco inclusive em
âmbito internacional que é a Declaração Universal dos Direitos dos Animais2,
1 Segundo Antônio Herman Benjamin, esse decreto, foi revogado no governo de Fernando Collor,
porém, como o mesmo foi editado em 1934, ele tinha força de lei, podendo ser revogada somente por lei aprovada pelo Congresso Nacional, tornando-o ainda vigente. A esse respeito consultar os escritos de Leite (2013). 2 Segundo Levai (2004, p. 47), essa declaração não possui força de lei, pois não foi ratificado pelo
Poder Legislativo nacional.
17
promulgada em Bruxelas, na Bélgica, em 1978, possuindo vários países como
signatários, dentre eles o Brasil, tendo reconhecimento da UNESCO.
A Constituição Federal de 1988 deixa claro que a responsabilidade da
preservação e proteção dos animais é de toda coletividade e não somente da
justiça. Em outras palavras, “a defesa dos direitos dos animais é dever de todos. É
ato de cidadania. Se, ao menos uma parcela da grande maioria que ama calada os
animais e crê nos seus direitos quebrasse o silêncio, a realidade seria bem outra”
(RODRIGUES, 2009, p.45).
O aspecto supracitado é corroborado por Toledo (2012, p.201) diante da
seguinte argumentação:
[...]. A proteção dos animais não esta voltada exclusivamente para evitar a extinção das espécies, mas sim tutelar cada uma delas, individualmente, levando-se em conta a sua importância ecológica na natureza. O fato de os animais domésticos não correrem risco de extinção não significa que deixem de ser integrantes do meio ambiente e essenciais à qualidade de vida.
Apesar dos avanços em nossa legislação atual, ainda existe uma
desproporcionalidade enorme acerca das penas impostas aos crimes cometidos
contra os animais, a carência de tipos legais indispensáveis para a tutela da fauna e
a violação do princípio da taxatividade com o emprego de expressões dúbias e
escassas. Tal constatação revela ser oportuno tecer algumas ponderações em torno
da tutela jurídica dos animais.
1.3 TUTELA JURÍDICA DOS ANIMAIS
Ao declarar que os animais têm direitos, está se fazendo referência aqueles
com senciência, ou seja, aqueles seres que sentem dor, prazer, angústia, entre
outras sensações e emoções que são comuns ao ser humano. Vários estudos
evidenciam que os animais mamíferos e as aves possuem sistema nervoso
semelhante ao do homem, demonstrando reações igualmente humanas ao
passarem por momentos de dor, tais como: batimento cardíaco acelerado, pupilas
dilatadas, elevação da pressão sanguínea e transpiração (CASTRO JÚNIOR; VITAL,
2015).
De modo mais específico, é importante esclarecer o seguinte:
18
[...] não é preciso ser um especialista em fisiologia ou biologia para entender que sistemas nervosos idênticos operam de maneira semelhante, sendo, portanto, incoerente afirmar, diante de tais fatos, que os animais não sentem dor, medo, angústia ou sofrimento, e que não são, consequentemente, seres sensíveis merecedores de direitos próprios (CASTRO JÚNIOR; VITAL, 2015, p. 146).
Nesse sentido, deve-se atentar para os seguintes questionamentos que
corroboram a afirmação supra:
Por que essa indiferença? Afinal, dor é dor, não importa em que espécie, todos os seres vivos do planeta são passiveis de sofrimento. Charles Darwin, no século XIX, verificou que os animais não-humanos reagem diante de sentimentos como dor, medo, desespero, ate mesmo amor. Relatou também que ao serem – os animais – submetidos à dor ou sofrimento, chegam a agonizar, gritar desesperadamente, contorcerem seus músculos, como um meio de pedir socorro (LEITE, 2013, p. 31)
Sendo assim, não existe justificativa para que a dor sentida pelos animais
seja menos importante que a dos homens. Embora nosso ordenamento jurídico
classifique os animais domésticos e silvestres como bens de uso comum do povo,
dando um status de coisa, tal conceito não é possível, visto que a nossa Carta
Magna de 1988, em seu art. 225, §1º, inciso VII, reconhece o valor intrínseco do
animal ao vedar práticas de submetam os animais a crueldade, devendo estes ser
protegido pelo Poder Público e por toda a coletividade (BRASIL, 1988). Desse modo:
A vedação de crueldade com animais somente se justifica quando se lhes rejeita a natureza de coisas e se lhes atribui um valor próprio, inerente ao fato de serem e terem senciência e, alguns, consciência de sua individualidade, pois, por outra forma não se poderia relacionar a vedação de crueldade e titulação de direitos. Não se pode ser cruel com o que não é sujeito senciente e, portanto, titular de direitos (consequentemente, seres sensíveis merecedores de direitos próprios) (CASTRO JÚNIOR; VITAL, 2015, p. 148).
Importa acrescentar que, autores de renome como Marcos Bernardes de
Mello, Pontes de Miranda, Fábio Ulhoa Coelho adotam o entendimento de que “nem
todo sujeito de direito é pessoa e nem todas as pessoas, para o Direito são seres
humanos” (CASTRO JÚNIOR; VITAL, 2015, p. 149) Para Luís Roberto Barroso, a
condição do ser humano não o autoriza a ser insolente e insensível aos animais não
humanos que trazem sua própria dignidade (apud, CASTRO JÚNIOR; VITAL, 2015).
Adentrando nessa seara, Freire (2012, p. 71) arremata:
19
[...] a única característica que distingue todos os seres humanos de todos os animais de outras espécies é a própria espécie. Porém, essa característica é de uma arbitrariedade indefensável e similar a outras, igualmente reprováveis, formas de preconceito. Se todos os seres humanos são possuidores de dignidade e, portanto de direitos dela decorrentes, como à vida, à liberdade e integridade física e psíquica, não há justificativa razoável para negar a mesma dignidade para animais não-humanos, iguais a muitos desses humanos em tudo que é moralmente relevante.
Cumpre observar que, no âmbito do direito penal brasileiro especificamente
na seara ambiental, a tutela jurídica do direito dos animais ainda é visto de forma
ampla, não sendo considerados em sua individualidade, mas como componente da
fauna tornando o entendimento de forma equivocada de que o bem jurídico tutelado
é o meio ambiente, sendo os animais meros objetos materiais dos delitos (TOLEDO,
2012).
O direito penal é um ramo que revela incriminar apenas delitos mais graves
cometidos contra bens relevantes para a toda coletividade, ou seja, aqueles que são
instituídos pela Carta Magna, pautando-se assim, no preceito constitucional. O meio
ambiente por ser tratar de um bem que atinge toda a sociedade, devendo ser
preservada paras presentes e futuras gerações, assegurada pela CF/88, pode ser
considerado um bem jurídico penal difuso.
Embora os animais ainda não sejam protegidos de maneira individual, mas
como parte imprescindível ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, é
indispensável sua proteção, uma vez que muitos estudos já comprovam que a
violência praticada em animais por indivíduos se torna um meio para praticar
violência humana.
Nesse sentido, Toledo (2012, p. 213) é incisivo ao destacar o seguinte:
[...] os bens jurídicos tutelados no delito de maus-tratos seriam a moral e os bons costumes, que obrigaria a penalizar os maus-tratos a animais, na medida em que sujeito ativo poderia converter-se, no futuro, em uma pessoa violenta também para com as pessoas, o que acusaria um risco para a convivência humana pacifica. Assim, deveria se sustentar que com a penalização de ataques a animais domésticos não objetiva sua tutela direta, mas sim da própria sociedade, verdadeira titular do bem jurídico coletivo assim configurado.
Ou seja, ao protegermos a vida e a integridade dos animais que são vítimas
da barbárie humana, estaremos resguardando nossa própria espécie, evitando a
ocorrência de criminalidade bem como potenciais criminosos. Acrescente-se que, a
titularidade dos animais como bem semovente, ou seja, como coisa, está
20
ultrapassada, sendo inadmissível sua utilização em pleno século XXI, visto que
devem ser tratados como sujeitos de direitos, dotados de individualidade, devendo
os crimes praticados contra estes serem minuciosamente investigados e punidos
com máximo rigor. Nessa perspectiva, deve-se ter claro que:
[...] A questão animal não veio para substituir a dignidade da pessoa humana, mas que ambas andem lado a lado. [...] é preciso repensar a condição animal e rever o comportamento humanos para com eles, o que pode ocorrer, inclusive, mediante aplicação da ética do discurso nas deliberações jurídicas. [...] A passagem para a consideração dos animais exigiria, assim, que o homem se identificasse e se relacionasse com os animais não-humanos sem considerá-los um mero instrumento para sua satisfação. Já não é cabível pensar os animais como coisas e usá-los como coisas, porque, na condição de seres sensíveis, possuem interesses e valor inerentes. Os animais são fins em si mesmos e não meio para um fim puramente humano (SOUZA; TROMBKA; ROSSETO, 2015, p.103).
Quando lutamos pelo devido reconhecimento da vida animal, por seu valor
intrínseco, não estamos tentando igualar homens e animais, mas sim o direito de
defesa igualmente importante nos interesses de ambos, ou seja:
A compreensão dos animais como sujeitos de direito, com a adoção do critério da senciência, importa, não em garantir melhorias nas condições de tratamento aos animais, quando instrumentalizados, mas no questionamento direto sobre o direito (humano) de utilizar qualquer ser sencientes (humano ou não humano), para seus fins. O reconhecimento dos animas como sujeitos de direito implica que se leve em consideração seus interesses de vida, liberdade, integridade física e psíquica (ANDRADE; ZAMBAM, 2016, p. 153).
Corroborando o posicionamento adotado por Toledo (2012), Souza,
Trombka, Rosseto (2015), Andrade e Zambam (2016), Vasconcelos (2017, p. 13)
ancorada no posicionamento de Fiorillo (2013), Sirvinskas (2013) e Sarlet (2013)
assinala que “o direito à vida é objeto do direito ambiental, sendo certo que sua
correta interpretação não se restringe simplesmente ao direito à vida, tão somente
enquanto vida humana, e sim à sadia qualidade de vida em todas as suas formas”.
Coerente com essa perspectiva observa-se que, no Brasil, ainda que o
legislativo tenha buscado resolver tal problemática, ainda não se deu da forma
correta, visto que o criminoso resulta impune, haja vista o aspecto que segue:
[...] o problema referente à dosagem da pena – muito favorável ao infrator – continua o mesmo. Aquele que incorre em delito contra a fauna, embora teoricamente sujeito à prisão ou multa, costuma ter a reprimenda substituída
21
por medida restritiva de direitos ou prestação de serviços à coletividade. Isso é fruto da política criminal da despenalização, uma tendência crescente no sistema penal brasileiro (LEVAI, 2004, p. 35).
Em que pese tal observação é importante que se diga o seguinte: os animais
são tutelados pelo Estado, sendo representados em juízo pelo Ministério Público na
defesa de seus direitos em processo administrativo e judicial, ainda que não sejam
considerados, no ordenamento pátrio como sujeitos de direito, aspecto que enseja a
realização de estudos, pesquisas e debates sobre essa temática, sobretudo porque
esse estudo defende a tese de que tanto a vida do animal não humano, quanto à do
ser humano possuem valor, ou seja, o maior bem que os animais possuem,
independente de sua aptidão ou condição é o direito à vida.
Assim, se animais são sujeitos de uma vida, são também sujeitos de direitos,
restando ainda ocorrer o reconhecimento destes, aspecto que denota necessidade
de conscientização da sociedade em torno dessa questão, uma mudança de
paradigma que envolve discussão ampla sobre os direitos e a proteção jurídica dos
animais, bem como sobre as práticas de maus tratos, crueldade e violência que
chegam a ceifar sua vida, bem como sobre as implicações atinentes ao direito penal,
processo penal e segurança pública enquanto aspectos atinentes a essa temática.
Cumpre ainda observar que ao elevar os direitos dos animais à categoria
constitucional na Carta Magna de 1988, o legislador pátrio conferiu enorme força
jurídica ao movimento de defesa dos direitos dos animais, uma vez que está
alicerçado pelos princípios da supremacia da Constituição e da proibição do
retrocesso.
Conclui-se, por isso, que se direito for considerado como um interesse
protegido pela lei, ou uma faculdade do julgador de exigir determinada conduta de
outrem, ou mesmo uma garantia conferida pelo Estado que pode ser invocado
sempre que um dever for violado, se admite então que os animais não humanos
também são sujeitos e não meros objetos de direito, aspecto que foi largamente
apontado no argumento desse capítulo e que servirá de base para a abordagem ao
objeto de estudo tratado no capítulo III desse estudo.
22
CAPÍTULO II
CONSIDERAÇÕES SOBRE A TEORIA DO LINK
2.1 ASPECTOS HISTÓRICO E CONCEITUAL
A teoria do link ainda é pouco conhecida no Brasil, foi criada por meio de
estudos e pesquisas realizadas nos Estados Unidos, abrangendo as décadas de
1970 e 1990, conduzida por Fernando Tapia (1971), Alan Felthous (1979, 1985) e
Frank Ascione e Phil Arkow, (1997) tendo o objeto de estudo a violência doméstica,
buscando averiguar o seu atrelamento, na maioria das vezes, a situações
envolvendo maus tratos, crueldade e violência para com os animais (NASSARO,
2013).
Ascione e Arkow (1997, p. 57, apud NASSARO, 2015, p. 43) asseguram que
nos estudos realizados por eles ficou evidenciado que “em famílias onde existem
maus-tratos a crianças e violência doméstica, há aumento da oportunidade para que
as crianças sejam expostas à crueldade animal”.
Nesses resultados, conforme Scala (2012, p. 144, apud NASSARO, 2015, p.
43) encontra-se a origem da teoria do link cujo conceito é estabelecido nos
seguintes termos:
O Link é um adulto que abusa uma criança ou animal como resultado dele ter sido testemunha de um abuso, ou ter sido abusado ele mesmo. Violência domestica, abuso infantil e crueldade animal estão intimamente conectados uns aos outros e o circulo continuará até que seja quebrado.
Ou seja, a teoria do link nada mais é do que o estudo dentro do contexto
familiar onde indivíduos violentos, destacaram a crueldade animal como um
comportamento existente na maioria dos casos. Não há necessariamente a
ocorrência concomitante de violência doméstica, abuso infantil e crueldade animal
para definir um perfil de potencial criminoso.
A teoria do link parte do pressuposto de que o individuo que maltrata animais
apresenta tendência de cometer outros crimes. Tal observação encontra
ressonância nos estudos anteriormente citados, principalmente diante da
constatação de que onde há maus tratos aos animais, normalmente, há maior
23
disposição de dissolução familiar, formando assim um individuo antissocial e por
seguinte violento.
Ancorado nesse posicionamento, Nassaro (2013, p. 55) ressalta:
[...] foram encontradas indicações científicas em maior proporção de violência nos crimes contra pessoas, na medida em que o autor do crime também tenha cometido maior quantidade de atos de maus tratos aos animais, ou seja, repetidos atos de maus tratos aos animais podem sugerir maior violência e crueldade. [...] Crianças, Idosos e animais, ‘vítimas’ frágeis, são normalmente alvos da violência doméstica e quando a violência ocorre em face de qualquer um deles todos na família passam a correr riscos de serem os próximos. E mais, as ações violentas contra os companheiros diante de crianças podem sugerir que estas também passarão a realizar as mesmas condutas violentas.
Resta evidenciado, portanto, o elo ou link entre os elementos relacionados
nos fundamentos dessa construção teórica cujos aspectos resultaram na
constatação de que a violência vivida no contexto familiar serve como referência
para o entendimento sobre os motivos que levam as pessoas a executar ações
características de maus tratos, crueldade e violência para com os animais.
Nesse sentido é importante averiguar como os estudos pioneiros sobre essa
construção teórica foi conduzida nos seus aspectos metodológicos e respectivos
resultados alcançados, enfatizando as reações observadas nos grupos de pesquisa,
as quais permitiram generalização de seus resultados, conforme se descreve nas
linhas que seguem.
2.2 ASPECTOS TEÓRICO E METODOLÓGICO DOS ESTUDOS NA
CONSTRUÇÃO DA TEORIA DO LINK
Fernando Tapia foi um dos pesquisadores sobre tema, em 1971, tendo
publicado os resultados de suas pesquisas em trabalho intitulado “Crianças que são
Cruéis com os animais”. Tapia é referência teórica porque sua análise foi realizada
com crianças e adolescentes, na faixa etária entre 5 e 14 anos, e não com adultos.
Em suas pesquisas, destacou a crueldade animal como um comportamento
alerta, presente na infância ou adolescência de adultos violentos,
independentemente de outros comportamentos. Seu estudo teve a finalidade de
24
apontar perfis de indivíduos violentos no futuro, devendo-se ter maior atenção por
parte de pesquisadores e demais profissionais.
Nassaro (2013, p. 25) descreve o resultado desse estudo nos seguintes
termos:
Tapia observou que as crianças e adolescentes apresentavam, além de registros de crueldade animal, de forma concomitante ou não, alguns dos 11 comportamentos que ele indicou como transtornos comportamentais, quais sejam, encoprese, eram mentirosos, destrutivos, excessivamente interessados em sexo, sádicos, temperamentais, sofriam pesadelos, cometiam bullying e roubavam. Nenhuma das 18 amostras (crianças e adolescentes) pesquisadas em 1971 apresentou a Tríade Comportamental completa, porem em todas elas estavam presentes ao menos 2 desses comportamentos da tríade, um deles era necessariamente a crueldade animal.
Em 1987, através da Associação Americana de Psiquiatria, Ascione incluiu
como um dos sintomas do transtorno de conduta a crueldade animal, com o intuito
de compreender e ampliar o conhecimento acerca desse tipo de violência para
preveni-las. Nesse sentido, a Associação editou seu Manual de Diagnóstico e
Estatística de Transtornos Mentais – DSM, descreve esse tipo de comportamento
como um transtorno, destacando que:
[...] a característica essencial desse transtorno é um padrão de conduta no qual os direitos básicos dos outros e as normas sociais são violadas... Agressão psíquica é comum. Crianças e adolescentes com esse transtorno comumente iniciam agressão, podem ser cruéis para outras pessoas ou para animais e frequentemente destroem de forma deliberada os bens materiais de outras pessoas (pode incluir a destruição com o uso do fogo). Elas podem se envolver em roubo com confrontação da vítima, como assalto, furto e bolsas, extorsão e roubo armado. Mais tarde a violência psicológica pode tomar a forma de estupro, assalto ou em vários casos homicídio. As crianças podem não ter a compreensão dos sentimentos, desejos e do bem estar dos outros, demonstrando comportamentos insensíveis e inexistência de culpa e de remorso (apud NASSARO, 2013, p. 37, grifos nossos).
A teoria do Link recebeu grande impulso início na década de 1990, quando
Phil Arkow fez um desafio a Frank Ascione para que este pesquisasse sobre a
crueldade animal perpetrada por crianças. Então Ascione baseando sua pesquisa
nos trabalhos de Fernando Tapia e Alan Felthous, pioneiros nessa área, iniciou seus
estudos acerca do tema. Ascione (1997) também pesquisou sobre a crueldade
animal no âmbito da violência doméstica, constatando que 71% das mulheres
agredidas presenciaram violência contra seus animais ou de terceiros,
25
demonstrando uma preocupante correlação entre as violências (apud NASSARO,
2015, p. 42).
Importante mencionar acerca dessa correlação entre violência animal e
doméstico aqui tratado, o estudo realizado por Maria José Sales Padilha, pioneira no
Brasil, publicado em 2011, no Estado de Pernambuco, intitulado “Crueldade com
Animais x Violência doméstica contra mulheres: uma conexão real”. Sua pesquisa foi
realizada através de “um questionário o qual, 453 mulheres vítimas de violência
doméstica responderam, verificando um total de 50% dos casos estudados em que
seus maridos ou companheiros também são violentos com os animais” (apud
NASSARO, 2015, p. 43).
É importante frisar que, na sua concepção teórica e metodológica:
[...] essa pesquisa da Maria José Padilha está perfeitamente alinhada ao estudo, citado anteriormente, realizado por Ascione, por meio do qual concluiu que os animais de estimação também são vítima dos mesmos agressores que agridem sua companheira e que essa situação é um sinal claro de violência familiar (NASSARO, 2013, p. 39).
Alan Felthous, em 1979, também observou e concluiu de suas pesquisas a
crueldade contra animais está inteiramente relacionada com a crueldade e violência
contra humanos, sendo tais episódios mais comuns nos pacientes agressivos do
sexo masculino, tendo comprovado que os pacientes que praticaram violência contra
os animais possuem uma maior disposição de violência contra seres humanos. Além
disso, merece destaque:
[...] outra constatação relevante de Felthous foi a de verificar que o grupo da crueldade animal apresentou tendência de maiores níveis de agressividade contra pessoas, porque foi nesse grupo de pacientes que a sobreposição de comportamentos, crueldade animal e violência contra pessoas, foi mais caracterizada (NASSARO, 2013, p. 28).
Ainda relacionado aos resultados dessa pesquisa realizada por Alan
Felthous, no seu aspecto metodológico para a consecução de seus resultados,
oportuno que se observe o seguinte aspecto operacional e respectivos resultados
obtidos:
[...] consideradas as entrevistas pessoais e os relatórios comportamentais preenchidos pelos agentes dos presídios verificou-se que 60%, do total dos prisioneiros avaliados, descreveram terem cometido ao menos 1 ato de crueldade animal, durante a infância, 25% cometeram 5 ou mais atos de
26
crueldade animal, 6% dos criminosos não agressivos cometeram 1 ato de crueldade animal. Nenhum dos não criminosos cometeu crueldade animal. Os 25% de prisioneiros que cometeram 5 ou mais atos de crueldade foram considerados excessivamente agressivos porque além de terem cometido essa quantidade de atos de crueldade, descreveram nas entrevistas terem sido extremamente cruéis com animais durante a infância. Atos como colocar gatos vivos no microondas até morrerem, quebrar as pernas de animais, dentre tantos outros, foram minuciosamente descritos por esses criminosos (NASSARO, 2013, p. 30).
Assim, ante o exposto conclui-se que todas essas pesquisas tiveram a
mesma finalidade, qual seja a de demonstrar que a crueldade praticada contra os
animais seja esta por crianças, adolescentes ou adultos, deve ser levado a sério e
analisado de forma criteriosa, visto que indica distúrbios de conduta, além de ser um
potencial criminoso no futuro, caso não ocorra ações preventivas para coibir tal
prática, sendo, portanto, temática a ser considerada para estudos na esfera do
direito penal, processo penal e definições de medidas como política de segurança
pública de modo a evitar a ocorrência de crimes envolvendo violência contra o
animal, contra o patrimônio e contra a pessoa humana.
2.3 APLICABILIDADE DA TEORIA NO BRASIL
Cientes de como os animais são tratados em nosso ordenamento jurídico
brasileiro diferente dos demais países em que são reconhecidos como vítimas, ou
seja, sujeitos de direitos esse estudo admite que é possível a aplicação da teoria do
link, tomando por base a pesquisa desenvolvida por Nassaro (2013), ainda que o
seu estudo tenha sido restrito á situações de enfrentamento de ocorrências
atendidas pela Polícia Militar.
Apesar de a nossa legislação considerar os animais apenas como objetos do
crime e não como vítima, existem em nosso país legislações próprias que defende e
pune aqueles que cometem crimes contra os animais, exemplo disso é encontrado
na dicção dos artigos 29 ao 37 da lei 9.605/98 que trata dos crimes ambientais
(FIGUEIREDO FILHO; MENEZES, 2014).
Nassaro (2013), capitão da Polícia Militar do Estado de São Paulo na sua
dissertação de mestrado, ao estudar o tema e a possibilidade de sua aplicação no
Brasil, questionou em entrevista por e-mail Phil Arkow, pioneiro e idealizador da
27
teoria do link, teve como resposta a afirmação segura dessa possibilidade que
decidiu averiguar, nos termos que se transcreve:
[...]. Embora existam diferenças culturais que afetem a forma pela qual diferentes grupos nacionais percebem os animais, acreditamos que os princípios gerais do Link são verdadeiras em todas as culturas. Em ambos os EUA e Brasil, animais de estimação já devem ser considerados membros da família e assim a violência contra eles deve ser considerado violência familiar. Em ambos países, a violência contra animais dessensibiliza as pessoas para outras formas de violência, crueldade e animal pode ser uma previsão e indicativo de outras formas de violência familiar (NASSARO, 2013, p. 65).
Diante dessa reposta Nassaro em seu estudo intitulado “Maus tratos aos
animais e violência contra as pessoas” promoveu a realização de uma pesquisa
científica nos casos atendidos pela Polícia Militar do Estado de São Paulo
demonstrando a possibilidade da aplicação da teoria do link, utilizando como base
de dados os registros do Sistema de Administração Ambiental – SAA, da própria
Polícia Militar Ambiental, tendo constatado que foram recebidas 554 ocorrências de
maus tratos aos animais, incluindo-se 124 no ano de 2010; 185 em 2011 e 245 em
2012. Estão inseridos nesses dados todos os casos referentes a maus tratos contra
animais, independentemente de ser em ambiente familiar ou externo, contra os
domésticos, domesticados ou silvestres (NASSARO, 2013).
Do total desses casos, foram autuadas 643 pessoas nesses períodos (2010-
2012), sendo identificado que os crimes foram cometidos por 90% homens e 10%
por mulheres. Foram indicados ainda, que dessas 643 pessoas, 204 já possuíam
registros criminais, ou seja, 32% desses infratores cometeram outros crimes, além
da violência contra animais, corroborando assim a fundamentação da teoria do link
que estabelece essa correlação.
Os dados da pesquisa indicaram que, desses indivíduos que praticaram
outros crimes, constatou-se que eles cometeram 595 crimes, destacando-se na
seguinte ordem, os que seguem:
Tipificação dos crimes praticados Frequência da ocorrência (n) (%)
Lesão corporal 110 18,5
Furto 109 18,4
Receptação 52 9,0
28
Falta de registro e porte de arma de fogo 42 7,0
Entorpecentes 41 6,9
Homicídio 21 3,5
Ameaça 14 2,3
Roubo 12 2,0
Dano 10 1,7
Outros tipos de crime 184 31,0
Total 595 100
Fonte: Adaptado de NASSARO (2013, p. 74).
Na categoria outros tipos de crime estão incluídos: estelionato, falsidade
ideológica, estupro, difamação, desacato, entre outros, sendo essa a maior
quantidade registrada (31%). Na sequência chamam atenção os crimes de lesão
corporal (18,5%) e furto (18,4%). Em menor escala encontram-se os crimes de
ameaça (2,3%), roubo (2%) e dano (1,7%).
Diante desses resultados, Nassaro (2013, p. 75-76) faz a seguinte analise:
[...] Assim, a pesquisa demonstrou que 1/3 das pessoas autuadas por maus tratos aos animais também têm outros registros criminais e 50% desses registros são de crimes de violência contra as pessoas, reafirmando-se o que a foi dito, ou seja, o atendimento de ocorrências de maus tratos aos animais deve ser compreendido como uma ação de prevenção primária, em relação ao cometimento de outros crimes. Observe-se que uma das pessoas analisadas na pesquisa chamou a atenção porque, além dos maus tratos aos animais, ela apresentou 24 passagens criminais, dentre elas 8 lesões corporais, 1 estupro, 1 corrupção de menores, 3 tráficos de entorpecentes, 1 bando ou quadrilha.
Ancorado nesses dados, Nassaro (2013, p. 75) concluiu que:
[...] Conforme se pôde estudar, a Teoria do Link aponta a violência contra as pessoas como um dos resultados possíveis em face de uma pessoa ter sido submetida, enquanto criança ou adolescente, à violência na família, contra si ou outro ou por ter presenciado ou cometido, ele mesmo, maus tratos aos animais. Assim, pela análise dos dados das fichas criminais das pessoas autuadas por maus tratos aos animais é possível indicar a real compatibilidade da Teoria do Link nas ocorrências atendidas pela Polícia Militar.
Desse modo na pesquisa levada a cabo por Nassaro (2013), restou
evidenciado que, com o passar dos anos, a violência e crueldade contra os animais
aumentou e que a maioria desses infratores também praticaram outros crimes contra
29
pessoas, sendo eles violentos ou não, corroborando assim sua relação com a teoria
do link.
Outro estudo importante, porém de natureza bibliográfica foi realizado por
Barrero (2017, p. 85) ancorada na seguinte fundamentação que se transcreve:
A ocorrência de maus-tratos aos animais de companhia é um fenômeno universal, frequentemente subestimado e considerado como um problema isolado e de pouca importância no contexto social (VERMEULEN; ODENDAAL, 1993; ARKOW, 2013). Não obstante, nos últimos anos tem-se aumentado a demanda da sociedade para coibir os crimes contra a fauna e o sofrimento animal (MARLET; MAIORKA, 2010; BURCHFIELD, 2016), reconhecendo-se o valor intrínseco destes indivíduos (FARACO, 2008), além da responsabilidade que os tutores têm com os mesmos. Igualmente, é evidente o interesse da comunidade cientifica por aumentar as pesquisas sobre este tipo de crime e incluí-lo como parte do espectro da violência doméstica e familiar, assim como no âmbito da saúde pública em nível global (ALLEN; GALLAGHER; JONES, 2006; ASCIONE, 2007, FIELDING, 2010; ARKOW; GULLONE, 2012).
Nessa pesquisa, a autora analisou 96 artigos relacionados à temática,
encontrando em 94 deles correlação entre crueldade animal e violência contra
pessoas tendo concluído o seguinte:
Tema investigado Conclusões relevantes
Maus-tratos aos animais e violência doméstica
Existe uma concorrência entre os maus-tratos aos animais e a violência íntima por parceiro íntimo. Os tipos de maus-tratos aos animais relatados foram: ameaças, abuso físico, proibição para fornecer os cuidados básicos e assassinato. Os maus-tratos aos animais são usados para perpetuar a violência contra as mulheres. Mulheres vítimas de violência podem adiar sua entrada num abrigo por causa de sua preocupação com seus animais de estimação. Cães e gatos são as espécies mais frequentemente maltratadas no contexto da violência doméstica. Violência doméstica está relacionada com baixo nível de cuidado dos animais de companhia. Há uma falta de coordenação entre os serviços que protegem as crianças e os animais.
Fatores de risco para maltratar os animais na infância
Crianças que testemunham atos de maus-tratos aos animais têm três vezes mais risco de abusar dos animais. Testemunhar maus-tratos aos animais promove a ocorrência de sintomas de internalização e externalização nas crianças. Crianças expostas à violência doméstica ou vítimas de abuso maltratam mais frequentemente os animais. Crianças com desordem de comportamento abusam mais comumente dos animais.
Maus-tratos aos
Maus-tratos aos animais está associado com crimes violentos contra as pessoas (assassinato, roubo, assalto ,estupro, assédio e ameaça). Maus-tratos recorrentes aos animais de companhia são um potencial
30
animais e a predição de comportamento criminal
indicador de violência interpessoal na vida adulta. Abusadores de animais têm personalidade antissocial e dependência de substâncias, assim como uma forte necessidade de controlar as pessoas.
O papel do veterinário no "Elo"
A maioria dos veterinários acredita no "Elo". Os veterinários têm um papel crucial na detecção de maus-tratos aos animais e na intervenção dos diferentes tipos de violência na sociedade. Os veterinários são relutantes em intervir e denunciar casos de maus-tratos aos animais e de violência interpessoal. A falta de treinamento para identificar casos de maus-tratos aos animais é a razão mais comum para que os veterinários não realizem as denúncias. O papel do veterinário no ciclo da violência não é reconhecido por outros profissionais.
Fonte: Adaptado de BARRERO (2017, p. 30).
Da leitura dos resultados obtidos por Barrero (2017) se constata semelhança
com aqueles obtidos por Nassaro (2013) notadamente no aspecto atinente à
predição de comportamento criminal correlacionado aos maus tratos aos animais.
Do mesmo modo que existe relação entre os estudos realizados por Ascione (1997)
e Padilha (2013) que trataram de averiguar a correlação entre violência doméstica e
maus tratos aos animais. Bem como existe relação com os estudos desenvolvidos
por Tapia (1971) no aspecto referente aos fatores de risco para maltratar animais, o
qual constitui o cerne da teoria do link, sendo também abordado por todos aos
autores citados nesse estudo.
Questão relevante a considerar diz respeito ao papel do veterinário na
identificação do elo, isto é, na detecção de maus tratos associados ao perfil violento
do seu causador, ou seja, a predição de comportamento criminal, ao analisar os
danos e lesões causados ao animal.
Barrero (2017) considera que os animais de estimação devem ser incluídos
como membros vulneráveis afetados pela violência existente no ambiente familiar,
uma vez que em quase a totalidade dos estudos analisados por esta encontrou
correlação entre a violência praticada em animais e a violência contra pessoas,
conforme a seguinte descrição:
[...] Não obstante é importante considerar que a violência ocorre nas diferentes classes sociais. Sabe-se que a subnotificação de casos de violência conta as pessoas é maior em lares com alto nível econômico (OLIVEIRA et al., 2014). Desta forma as estratégias para a prevenção da violência devem ser executados nos diversos setores da sociedade. [...] O abuso físico intencional nos cães foi significativamente associado à presença de violência doméstica no domicílio. Estes achados são compatíveis com as pesquisas sobre o “Elo”, um termo utilizado para definir a conexão entre a crueldade contra os animais e a violência interpessoal
31
(MCPHEDRAN, 2009). [...] Ascione et al., (2007) reportou que a prevalência de maus-tratos aos animais é 11 vezes maior nos casos de mulheres e crianças vítimas de violência doméstica, quando comparadas as mesmas fora de um ambiente violento (BARRERO, 2017, p. 105-106)
Nesse sentido, considera-se pertinente assinalar que, devem ser
desenvolvidos estudos para entender sobre a ocorrência da teoria do link (Elo) nas
diversas regiões do mundo para proteção de animais e pessoas vítimas de violência,
com a ajuda dos profissionais da medicina veterinária com o intento de prevenir e
reduzir os percentuais de todos os tipos de brutalidade na coletividade. (BARRERO,
2017).
Tais estudos darão suporte para atuação de modo preventivo, sob o prisma
de uma política de segurança pública, tendo por objetivo que a criminalidade seja
reduzida e os potenciais criminosos sejam reconhecidos a tempo e impedidos de
adentrarem no mundo dos crimes, podendo-se utilizar as quatro linhas de ações
propostas no estudo efetuado por Nassaro (2013) englobando:
1. Reconhecimento, através de procedimento operacional padrão, específico
tanto nas polícias como demais órgãos de Segurança Pública, incluindo federal,
estadual e municipal, para o atendimento dos crimes contra os animais como
medida de prevenção primária a prática de outros crimes no futuro, com base no
seguinte protocolo:
1.1 Atendimento da ocorrência deve ser considerado como ocorrência de
violência, devendo as autoridades analisar que o infrator pode ter outros registros
criminais, representando assim risco à integridade física deles e dos demais
envolvidos (pessoas e animais), com base na teoria do link.
1.2 Levantamento de dados no local da ocorrência, devendo as autoridades
policiais averiguarem com os familiares se há outros tipos de violência contra
pessoas e animais por parte do infrator. Em caso positivo, devendo apura-las
imediatamente, com a finalidade que quebrar o Link evitando delitos futuros.
1.3 Confirmado os maus tratos contra os animais, deve ser remetida cópia
do boletim de ocorrência ao órgão de assistência social responsável para que visite
o ambiente familiar, com o intento de verificar se existe ou não violência doméstica
contra os animais e pessoas, não percebidos pelas autoridades policiais, evitando-
se tais condutas.
32
2 Colocar o registro dos crimes contra os animais uma codificação especifica
para esse delito em toda a Pasta de Segurança Pública, se possível em âmbito
nacional, para evitar a dificuldade existente na aquisição de dados e documentos
relevantes sobre o tema.
3 Promoção de treinamento especializado para as autoridades policiais e
demais órgãos da Segurança Pública para que estejam habilitados ao atenderem as
ocorrências de violência e crueldade contra os animais.
4 Por fim, a revisão da pena existente na Lei de Crimes Ambientais referente
aos maus tratos perpetrados em animais, dando a devida importância a esse tipo de
delito, para que toda a sociedade entenda que tal prática é um alerta de graves
delinquências no futuro.
Os aspectos enumerados por Nassaro (2013) atestam a relação possível
entre a teoria do link, situação de maus tratos aos animais e predição de
comportamento criminal, sendo uma proposta viável e importante para ser
implementada com política de segurança pública no que concerne à prevenção e
redução de crimes associados a esse tipo de comportamento, quebrando assim o
ciclo de violência que se estabelece nesses casos.
2.4 SOBRE A QUEBRA DO CICLO DA VIOLÊNCIA
Ante o aporte teórico e resultado de dados de pesquisas abordados acerca
do tema tratado nesse estudo, verifica-se que os infratores que praticam crueldade
contra os animais, não são criminosos qualquer e sim criminosos com grau de
periculosidade relevante, devendo, por esse motivo, serem minuciosamente
analisados e devidamente tratados e punidos visto que possuem grande
probabilidade de cometerem crimes violentos contra pessoas e também indícios de
agressividade recorrente.
Se existe um momento ideal para a quebra do ciclo da violência animal e
humana, acredita-se que esse momento é precisamente no primeiro ato criminoso
que o indivíduo perpetrar contra o animal, seja enquanto criança, adolescente ou
adulto. No caso das crianças seria necessário o acompanhamento de profissionais
qualificados para analisar e identificar o porquê da violência nessa fase para que
seja tratada, evitando que se torne um criminoso no futuro.
33
Quanto aos adolescentes estes por já terem uma consciência do certo e do
errado, devem sofrer medidas cabíveis para coibir tal prática, punindo-os de forma
eficiente, ao mesmo tempo em que se investiga qualquer transtorno de conduta,
com o necessário acompanhamento de uma equipe de profissionais especializados
para que não se torne um delinquente.
Já os adultos devem sofrer punições com privação de liberdade, além do
pagamento de multas altíssimas, assim como indenizações sendo tais valores
destinados as ONG’s de proteção animal, que recolhem os animais vítimas da
crueldade humana para cuidados e recuperação da saúde e bem estar destes.
Oportuno enfatizar que, a legislação deve se adequar a essa realidade e
buscar coibir as práticas de crueldade contra animais com máximo rigor,
considerando-o como crime grave, com reprovação de toda a sociedade, bem como
dos órgãos da justiça e segurança pública, uma vez que já está mais do que
comprovado que esses indivíduos em sua maioria são potenciais criminosos.
Em corroboração ao exposto, deve ser observada a seguinte situação:
Se um vândalo, por exemplo, quebra o vidro do seu carro, ele viola um dever direto em relação a você, o dever de respeitar o seu direito de propriedade, mas ninguém pode dizer que ele tinha um dever direito em relação ao próprio carro. Não obstante, se alguém machuca uma criança, não se pode dizer que ele descumpriu apenas um dever indireto em relação aos seus pais, pois o nosso dever de não machucá-la é um dever a que somos diretamente obrigados em relação à própria criança. O mesmo deve ocorrer com os animais, que são seres sensíveis e afetuosos, razão pela qual temos o dever direito de respeitar seus direitos morais (MINAHIM; GORDILHO, 2016, p.46).
Nassaro (2013; 2015) e Barrero (2017) ao tratarem sobre esse tema,
confirmaram em suas pesquisas a correlação entre maus tratos aos animais e
violência contra humanos, demonstrando que apesar da teoria do link ter sido
concebida e estudada no exterior, tal feito não impede sua aplicação em âmbito
nacional, necessitando para tanto, que se promova a organização e qualificação de
diversos setores tais como, no âmbito da segurança pública, na medicina veterinária,
na assistência social, nos órgãos fiscalizadores dos crimes contra a fauna, entre
outros.
Apontamento feito por Barrero (2017, p. 86), corrobora o posicionamento
assumido por essa pesquisa que ora se apresenta, notadamente no que diz respeito
aos seguintes aspectos:
34
Diversos estudos centrados na violência interpessoal relatam correlação entre a violência na família e o abuso físico ou emocional dos animais de companhia (CURRIE, 2006; ASCIONE et al., 2007; MCDONALD et al., 2015; NEWBERR, 2016). Apesar disso, pouca atenção tem sido dirigida à identificação dos fatores de risco e proteção, associados a maus-tratos aos cães e gatos no ambiente familiar. Entender esses determinantes é de suma importância para o desenvolvimento de estratégias de prevenção e controle que diminuam a presença de interações negativas do vinculo humano-animal.
Assim, ante o exposto, essa temática é de extrema relevância para o Poder
Público e a Segurança Pública, pois se as autoridades voltarem seus olhos ao
assunto poderá agir de forma preventiva com ações embasadas na teoria do link,
qualificando seus profissionais a respeito do protocolo a ser adotado durante o
atendimento das ocorrências, evitando o surgimento de criminosos, reduzindo a
criminalidade, mantendo o equilíbrio na sociedade, dentre outros aspectos
relevantes, sobretudo por que:
[...] o objetivo da criminalização dos maus-tratos contra os animais não é proteger o direito de propriedade. Os animais silvestres, por exemplo, não são passiveis de apropriação. Se considerarmos que o objetivo desta tipificação é neutralizar indivíduos perigosos, sob o fundamento de que aqueles que maltratam animais são mais propensos a também maltratar os seres humanos, estaríamos diante de um crime sem vítimas, como no caso do porte de drogas ou dirigir embriagado. No entanto, nos parece que o objetivo desse tipo é proteger os animais de uma dor injustificável, e neste caso a vítima do delito é o próprio animal (MINAHIM; GORDILHO, 2016, p.46)
É importante ressaltar que a finalidade da abordagem versando sobre essa
temática no direito pátrio é justamente para demonstrar que há correlação entre a
violência animal e a violência humana. Ao demonstrar em que consiste essa relação,
através da teoria do link, esse estudo contribui para proporcionar a toda à
coletividade um indicativo do ciclo de violência, qual seja, onde há abuso e violência
contra os animais há também violência e abuso contra pessoas.
Conclui-se, portanto, que, para que haja a quebra desse ciclo de violência,
necessário se faz aplicar os fundamentos contidos na teoria do link, a qual
proporciona condições para que se instalem os meios de prevenção primária em
todos os órgãos de Segurança Pública e demais autoridades policiais, com a
finalidade de coibir e interromper tais ações.
35
CAPÍTULO III
CORRELAÇÃO EXISTENTE ENTRE A VIOLÊNCIA ANIMAL
E A VIOLÊNCIA HUMANA
3.1 VIOLÊNCIA PRATICADA POR CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Tapia (1971), conforme assinalado anteriormente, foi o pioneiro ao pesquisar
sobre o comportamento de crianças e adolescentes em sua obra intitulada “Crianças
que são cruéis com Animais”, utilizando na sua metodologia, a base de dados obtida
através do histórico de crueldade existente na seção de psiquiatria infantil da
Universidade do Missouri, nos Estados Unidos (NASSARO, 2015).
O referido estudo consistiu na análise de 18 casos evidenciando que
nenhuma dessas crianças e adolescentes apresentavam a tríade de
comportamentos completa, sendo a única presente em todas, a violência praticada
contra animais. Constatou ainda que, todos os analisados vinham de lares caóticos,
com pais agressivos, constatando assim o modelo familiar capaz de levar
comportamentos violentos em seus membros, principalmente crianças e
adolescentes (NASSARO, 2015).
A contribuição essencial desse estudo consistiu em apontar a violência
contra animais como um alerta para a família e as autoridades da necessidade de
intervir quem comete tal crime, uma vez que a não repreensão desse ilícito pode
permitir que o indivíduo se torne mais violento contra os animais e pessoas.
Para a Humane Society of the United States (HSUS) “a alta porcentagem do
envolvimento de adolescentes em atos intencionais de crueldade contra animais,
sugerem a necessidade de leis e soluções na comunidade, para a crueldade contra
animais e violência humana” (ANDA, 2013 [s/p]).
Estudo realizado por Barrero, no período de abril a dezembro de 2016, na
Seção de Defesa e Proteção Animal (SEDEA) da Secretaria Municipal de Meio
Ambiente (SEMMA) de Pinhais, Paraná, cuja atuação consiste na fiscalização,
registro de ocorrências, acompanhamento dos casos e suas devidas punições
administrativas, além de encaminhá-las ao judiciário dos casos de maus tratos aos
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animais do município, revelou que quando crianças e adolescentes são expostas a
violência contra os animais, elas podem entender que este ilícito é uma conduta
aceitável, conforme os 29% e 61,5% dos casos relatados em seu trabalho de
pesquisa (BARRERO, 2017, p. 90).
Um dos achados importantes da referida pesquisa e que possui correlação
com a teoria do link é a seguinte: “testemunhar atos de maus tratos aos animais
pode ser traumático e contribuir ao desenvolvimento de um comportamento
antissocial, inadaptação social, sintomas de internalização e externalização”
(BARRERO, 2017, p. 92).
A exposição de crianças e adolescente a violência domestica pode atenuar a
empatia com animais fazendo com que se tornem menos sensíveis ao seu
sofrimento, aumentando assim a ocorrência de maus tratos nesses lares
problemáticos. Além disso, as crianças que presenciam tais abusos são três vezes
mais propensas a maltratarem os animais (BARRERO, 2017).
Tendo em vista tal situação, considera-se ser de suma importância o
ambiente familiar e o temperamento da criança e/ou adolescente para o
desenvolvimento de comportamentos abusivos, restando evidente que a maioria das
crianças e adolescentes que praticam violência contra os animais sofrem de algum
distúrbio comportamental como, por exemplo, depressão, déficit de atenção,
hiperatividade, dentre outros. (BARRERO, 2017).
Casos como o ocorrido em Porto Alegre em 10 de maio de 2013, onde um
vídeo flagra uma mulher espancando um filhote de poodle na frente da sua filha de
03 anos e de seu filho de 05 anos, dizendo a eles: “todos os cachorros, todos os
bichos que tu vês a rua a gente não trata bem. A gente vai e bate. Escutou?”. A
mulher dizia isso aos filhos enquanto chutava, arremessava o animalzinho indefeso
para cima, jogava-o na parede, xingava e gritava, ressaltando que até o final de
semana ia matar o cachorro, educando assim, os filhos a maltratarem os animais
(NASSARO, 2013, p. 94).
Barrero (2017, p. 95) ao analisar casos de violência animal em que crianças
foram expostas a tal conduta, afirma:
Em um numero considerável de casos (n= 39,33%) as crianças estiveram expostas às situações de maus-tratos a seus cães e atos. As famílias são agentes principais na formação de crenças, atitudes e valores sociais, logo é no ambiente familiar que as crianças internalizam as regras e costumes sociais. Neste contexto, as crianças expostas a negligência ou agressão
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aos animais de companhia podem aprender que essas situações são formas aceitáveis de se tratar os animais de estimação. Neste sentido, Browne et al. (2016) relataram que as crianças que testemunham atos de agressão contra os animais são mais propensas a abusar fisicamente dos mesmos como consequência da aprendizagem social.
Nassaro (2015, p. 45) corrobora o posicionamento de Barrero (2017) ao
mencionar:
[...] um animal de estimação maltrato em um ambiente familiar não é apenas o objeto material de um crime, ele é, também, um indicativo de que naquela família pode haver outras vitimas em risco e mais, que as crianças e adolescentes expostos a esses atos de maus-tratos podem aprender com seus pais, adquirindo deles aquilo que mais adiante se tornará um transtorno mental, exposto por meio de violência contra pessoas e animais.
Na pesquisa que Felthous realizou juntamente com Stephen R. Kellert,
intitulada “Crueldade animal na adolescência entre criminosos e não criminosos”
com 152 indivíduos divididos entre criminosos agressivos, moderadamente
agressivos e não criminosos. Como critério para a realização da pesquisa, a
amostragem foi constituída do seguinte modo: os criminosos selecionados
pertenciam a penitenciárias federais, enquanto os não criminosos foram
selecionados nas mesmas comunidades destas penitenciárias (NASSARO, 2015).
O referido estudo concluiu que, os criminosos extremamente agressivos foi o
grupo que cometeu o maior número de atos de crueldade animal durante a infância
e adolescência, reforçando os indícios desta prática como precursora de violência na
fase adulta (NASSARO, 2015).
Ainda segundo a pesquisa, os indivíduos relataram 373 atos de crueldade
praticados contra os animais e também nove razões para realizarem tais condutas,
sendo estas enumeradas a seguir:
Controlar o animal (corrigir um comportamento); Ato de retaliação contra o animal (punição por um erro praticado pelo animal); Satisfazer um preconceito contra uma espécie ou raça (atos contras cobras, ratos, gatos pretos); Expressar agressão contra o animal (simplesmente para mostrar agressividade ao animal ou a outra pessoa); Melhorar sua própria agressividade (uma forma de se autoconvencer de que é agressivo); Chocar as pessoas como diversão (um prisioneiro relatou que cortava as pernas das rãs e as deixava vivas apenas para diversão própria e de amigos); Retaliação contra outra pessoa (forma de se vingar de outra pessoa); Deslocamento de hostilidade de uma pessoa para um animal (hostilidade do autor para o animal);
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Sadismo não especificado (foi identificado como exercício total de poder e controle sobre o animal). Abrir a barriga de anfíbios para uma morte lenta e eletrocussão foram exemplos dados pelos criminosos excessivamente violentos (NASSARO, 2015, p. 47).
Ao apresentar as conclusões da pesquisa, os autores destacam que os
dados alertaram para a importância de se considerar a crueldade animal praticada
por crianças e adolescentes como um potencial indicador de distúrbio no
relacionamento familiar e de um futuro comportamento antissocial agressivo.
(NASSARO, 2015).
Corroborando com essas conclusões, Silva (2008, p. 197) em seu livro
intitulado “Mentes Perigosas: o psicopata mora ao lado” confirma a problemática do
distúrbio de personalidade (psicopatia) que levam “crianças e adolescentes a não
sentirem remorso, culpa ou mesmo nervosismo ao praticamente qualquer tipo de
violência animal e/ou humana, e que estes transtornos de conduta têm início antes
dos 15 anos de idade”.
O citado estudo confirma ainda que:
[...] tanto o transtorno de personalidade antissocial quanto o transtorno de conduta evidenciam que essa situação é preocupante e maléfica para a sociedade, pois esses indivíduos manifestam diversos critérios tais como provocações, ameaças, brigas frequentes, crueldade física contra pessoas, contra animais, forçar alguém a prática de sexo, etc., reforçando assim, a potencialidade criminosa destes ainda na juventude (SILVA, 2008, p. 205).
Situação preocupante que enseja cuidados e medidas sérias, visando a
prevenção desse tipo de transtorno, é descrita pela pesquisadora nos seguintes
termos:
[...] os psicopatas começam a exibir problemas comportamentais sérios desde muito cedo, tais como mentiras recorrentes, trapaças, roubo, vandalismo e violência. Eles apresentam também comportamentos cruéis contra os animais e outras crianças, que podem incluir seus próprios irmãos, bem como os coleguinhas da escola (SILVA, 2008, p. 88).
Observa-se ainda que os sintomas comportamentais evidenciados na
pesquisa de Silva (2008) não guardam coerência com a teoria do link, haja vista que
tais comportamentos se tornam repetitivos a ponto de serem considerados como
padrão de normalidade para o seu praticante.
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Deve ser dito ainda que cada ser humano possui uma dosagem de
amorosidade e de agressividade, aspecto que faz parte da personalidade de cada
um. O problema reside na dificuldade em dosar essa agressividade que, via de
regra, é canalizada para comportamentos violentos, adentrando na esfera criminal
de natureza diversa. Hare (2013, p. 23) afirma que os psicopatas:
[...] não são loucos, de acordo com padrões psiquiátricos e jurídicos aceitáveis. Seus atos resultam não de uma mente perturbada, mas de uma racionalidade fria e calculista combinada com uma deprimente incapacidade de tratar os outros como seres humanos, de considera-los capazes de pensar e sentir.
Característica comum ao perfil do psicopata é a incapacidade
profundamente perturbadora de se preocupar com a dor e o sofrimento
experimentado por outra pessoa. Entretanto, a maioria das pessoas que tiveram
uma infância permeada por atos de violência doméstica não se torna um psicopata
nem um assassino frio.
Os psicopatas, raramente ficam constrangidos diante de problemas jurídicos,
financeiros ou pessoais, situações que consideram temporária, consequência de má
sorte, de amigos traidores ou de um sistema injusto e incompetente, sob a sua ótica.
A descrição de atos de crueldade contra animais praticada na infância é algo
bastante comum na descrição que os psicopatas adultos fazem quando falam de si,
situando tais acontecimentos como sendo normais, triviais e até divertidos, conforme
a descrição que se transcreve:
Um homem com pontuação alta na Psychopathy Checklist dava risadas enquanto nos contava que, quando tinha 10 ou 11 anos de idade, atirou em um vira lata irritante ‘com uma carabina de ar comprimido’. ‘Eu atirei no traseiro dele, ele graniu, ficou se contorcendo um pouco, depois morreu’. Outro sujeito, preso por fraude, disse que, quando era criança, pegava uma corda, amarrava uma ponta no pescoço do gato e a outra em uma vara, e fazia o gato rodar, batendo nele com uma raquete de tênis. Disse, também, que a irmã tinha uns cachorrinhos e que ele matou aqueles que ela não queria criar. ‘Eu amarrava o bicho em uma barra de ferro e usava a cabeça dele como bola de beisebol’, disse ele com um leve sorriso (HARE, 2013, p. 80).
Embora nem os psicopatas exibam esse grau de crueldade na infância e
adolescência, a maioria se envolve rotineiramente em situações que resultam de
algum modo, em práticas ilícitas e/ou delituosas, quais sejam: mentiras, ameaças,
roubos, vandalismos, promiscuidade, entre outras.
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Outro aspecto ressaltado por Hare (2013) sobre o perfil do psicopata é o seu
comportamento antissocial quando adulto, que se faz presente em praticamente
todos os casos analisados. Entretanto, não há forte evidencia de que os psicopatas
tenham tal comportamento em decorrência de experienciar violência doméstica e
familiar como pressupõe a teoria do link.
3.2 COMPORTAMENTO CRIMINAL DE QUEM PRATICA CRUELDADE ANIMAL
Admitindo que a violência e crueldade contra animais tenha forte indícios de
incidência sobre o comportamento criminal daqueles que o praticam, buscou-se
dados sobre casos ilustrativos que retratassem essa situação. Nos Estados Unidos,
por exemplo, essa problemática é alvo de investigação do FBI, em cuja base de
dados se constata que 80% dos assassinos iniciaram cometendo crueldade em
animais. Veja-se a descrição do caso de alguns dos assassinos mais conhecidos e a
forma como estes praticavam crueldade e violência contra animais.
Saibro e Souza (2016) destacam o caso de Edmund Kemper que torturava,
matava e decapitava animais. Ao ser desprezado por sua mãe, foi morar com os
avós, aos 15 anos, quando iniciou os assassinatos começando pela avó, atirando
em sua cabeça e logo em seguida, matou seu avô. Dessa conduta foi internado num
hospital psiquiátrico, quando foi liberado voltou a morar com sua mãe.
Para saciar suas fantasias sexuais, Kemper começou a dar caronas a
colegiais, matando-as sufocada por um saco plástico, várias facadas ou tiros para,
em seguida, fazer sexo com os cadáveres sem a cabeça. Depois ele levava os
restos mortais das vítimas para casa e fazia autópsia.
Apesar dos estupros e mortes das alunas, nada diminuía a vontade de fazer
sexo com sua mãe. Uma madrugada, determinado, entrou no quarto da mãe e após
inúmeros golpes de martelo, a matou e arrancou sua cabeça, em seguida transando
com o cadáver dela. Não satisfeito, cortou as cordas vocais da mãe morta, pois
ainda a ouvia gritando com ele. Em seguida, foi para seu quarto, jogar dardos.
Edmund Kemper relatou: “Quando vejo uma menina bonita andando na rua,
uma parte de mim quer levá-la para casa, ser agradável e tratá-la bem; já a outra
parte se pergunta como a cabeça dela ficaria em um espeto” (SAIBRO; SOUZA,
2016 [s/p]).
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ANDA (2011) descreve o caso Brenda Spencer que, como diversão ateava
fogo no rabo de cães e gatos, mas ninguém deu importância a esse tipo de conduta.
Em 1979, com 16 anos, da janela de casa, com seu rifle calibre 22 que ganhou do
pai, atirou em noves crianças de uma escola, matando o diretor e o segurança que
usaram seus corpos para protegê-las.
Ao ser capturada, Brenda Spencer alegou o seguinte motivo para sua
conduta criminosa:
Não gosto de segunda-feira. Isso anima o dia. [...]. Não houve motivo e foi só como uma grande diversão [...]. Como atirar nos patos em um lago [...]. Pareciam um rebanho de vacas andando por lá [...] foi fácil acertá-las (ANDA, 2011 [s/p]).
Brenda Spencer alegou ter sido abusada sexualmente pelo seu pai, bem
como que fazia uso de drogas, ingeria bebida alcoólica e que também já havia
cometido outros crimes, incluindo dois assassinatos e uma agressão com arma
mortal. Foi julgada e condenada a 25 anos de prisão, sendo, posteriormente,
diagnosticada como portadora de epilepsia e depressão, quadro clínico que não
justifica tal conduta.
O caso Theodore Roberto Cowell, ficou conhecido como Ted Bundy um dos
mais famosos serial kyllers dos Estados Unidos, cujo histórico familiar registra que
ele foi morar com seus avós maternos, aos 3 anos, achando que eram seus pais e
sua mãe, sua irmã mais velha. Há registros de que ele presenciava o avô
maltratando o cachorro da família, os gatos da vizinhança e os espancamentos da
avó. Mesmo assim, Ted afirmou em entrevista que amava seu avô e que se
identificava com o mesmo (TED..., 2015).
Não existem ao certo evidências de quando Bundy começou a matar, mas
entre os anos de 1974 e 1978 há relatos de aproximadamente 36 vítimas. Contudo,
ele jamais confirmou, apenas sorriu para os detetives e pediu para acrescentarem
mais um dígito que teriam o total de seus crimes. O padrão de suas vítimas eram
jovens morenas com cabelos compridos e partidos ao meio, parecido com sua
primeira namorada, Leslie.
Seu modus operandi era o seguinte: abordava essas mulheres, depois as
sequestrava, torturava, estuprava e matava, muitas vezes também as mordia,
mutilava e praticava necrofilia. Conforme os psiquiatras que estudaram seu caso,
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Ted Bundy foi considerado um mentiroso patológico, homicida, estuprador e
necrófilo, confirmando assim o perfil psicopata descrito por Hare (2013).
Outro caso descrito por Saibro e Souza (2016) é o de Jeffrey Dahmer,
conhecido como canibal americano, cujo histórico revela que, quando era
adolescente gostava de torturar animais vivos e após suas mortes, empalava seus
crânios em florestas. Também coletava animais mortos pelas ruas para fazer
autópsia e analisar sua anatomia.
Seus crimes eram cometidos contra homens negros, homossexuais que
conhecia em boates e saunas gays. Para satisfazer seus desejos homossexuais,
Dahmer levava suas vítimas ao seu apartamento onde drogava e matava
estrangulando. Após a morte, ele se masturbava em cima do corpo, depois praticava
sexo anal e/ou oral com o cadáver, depois guardava os restos mortais para usar
quando sentisse vontade novamente.
Os corpos eram colocados em tonéis ou geladeiras e utilizados até se
tornarem intoleráveis, momento em que abria o tórax das vítimas e apreciava visão,
tendo inclusive realizado sexo com os órgãos. Jeffrey, fotografava todo seu ritual
macabro e afirmava sentir prazer revendo as imagens.
Após o corpo não ter mais serventia ao seu proposito, Dahmer o
esquartejava e separava as partes que comeria. Seu prato favorito era croquete de
carne humana, além da estima que tinha com o coração e as tripas de suas
vítimas. Ademais, as cabeças das vítimas eram guardadas como troféus. Para não
desconfiarem ele as pintava de cinza, dando a impressão de que eram utensílios
de medicina.
Foi pego em sua casa, após a polícia encontrar uma de suas vítimas
sobreviventes que conseguira fugir. Chegando ao apartamento, as autoridades
viram as paredes do local cobertas por fotos de defuntos, entranhas e crânios
decapitados. Além disso, as autoridades ficaram espantadas com o que
encontraram no local, na pia da cozinha havia um busto humano destroçado, na
tabua de carne, um pênis cortado para ser cozinhado.
Dahmer ao descrever seus crimes, afirmou: “Eu sentia uma espécie de
fome, eu não sei como descrevê-la, uma compulsão e eu apenas continuei fazendo
e fazendo novamente, sempre que a oportunidade aparecia” (SOUZA; SAIBRO,
2015).
43
Para a sociedade, esses indivíduos são considerados psicopatas, loucos,
doentes mentais. Mas, embora o termo psicopata signifique doença da mente,
deve-se tomar bastante cuidado, pois não se enquadram nesta visão do senso
comum. Coerente com essa perspectiva deve-se atentar para as seguintes
afirmações em bases científicas sobre os indivíduos portadores dessa patologia:
[...] Esses indivíduos não são considerados loucos, nem apresentam qualquer tipo de desorientação. Também não sofrem de delírios ou alucinações (como a esquizofrenia) e tampouco apresentam intenso sofrimento mental (como a depressão ou o pânico, por exemplo). Os psicopatas em geral são indivíduos frios, calculistas, inescrupulosos, dissimulados, mentirosos, sedutores e que visam apenas o próprio benefício. [...] São desprovidos de culpa ou remorso e, muitas vezes, revelam-se agressivos e violentos. (SILVA, 2008, p.37).
Essas características encontram-se presentes no comportamento dos
protagonistas dos casos supracitados, inclusive no histórico de Theodore Roberto
Cowell, há relato de que ele era bastante sedutor, formou-se em direito e foi seu
próprio advogado nos processos que resultaram em sua condenação. Observe-se
ainda que:
[...] os psicopatas têm total ciência dos seus atos (a parte cognitiva ou racional é perfeita), ou seja, sabem perfeitamente que estão infringindo regras sociais e por que estão agindo dessa maneira. A deficiência dele (e é aí que mora o perigo) está no campo dos afetos e das emoções. Assim, para eles, tanto faz ferir, maltratar ou até mesmo matar alguém que atravesse o seu caminho ou os seus interesses, mesmo que esse alguém faça parte de seu convívio íntimo. Esses comportamentos desprezíveis são resultados de uma escolha, diga-se de passagem, exercida de forma livre e se qualquer culpa. [...] Os psicopatas apresentam em sua história de vida alterações comportamentais sérias, desde a mais tenra infância até os seus últimos dias, revelando que antes de tudo a psicopatia se traduz numa maneira de ser, existir e perceber o mundo (SILVA, 2008, p.40).
Ante o exposto, resta claro, que na trajetória de vida da maioria dos
assassinos violentos e cruéis, na fase inicial, muitas vezes desde a infância,
começou maltratando animais e que este tipo de abuso, deve ser levado a sério
por toda a sociedade para que tal conduta seja impedida, punida com rigor,
salvando assim, as vidas dos animais e consequentemente dos humanos.
O Papa Francisco corrobora do mesmo entendimento sobre a temática ao
afirmar na Encíclica Laudato Si (2015): “o coração é um só, e a própria miséria que
leva a maltratar um animal não tarda manifestar-se na relação com outras pessoas.
[...] Tudo está relacionado” (ANDRADE; ZAMBAM, 2016, p. 160). Isso significa
44
entender que, defender os animais é proteger os homens, visto que a manifestação
de agressividade do ser humano contra estes seres vivos e indefesos é um sinal
alarmante de que podem vir a atingir crianças, idosos, pessoas vulneráveis, entre
outras situações que requerem atuação especifica dos agentes responsáveis por
traçar as diretrizes e linhas de ação sobre política de segurança pública.
Importante destacar que a violência em si é problema complexo de ser
combatido em razão de ser fenômeno multidimensional, estando presente e
atingindo todas as classes sociais. Não menos importante é a violência contra
animais, pois envolvem a prática de crime contra a vida causam revolta e
indignação pelo modus operandi de cada um dos envolvidos, conforme pode ser
visto nos relatos selecionados que se apresenta.
3.3 VIOLÊNCIA CONTRA ANIMAIS: RELATOS SELECIONADOS
A coibição de atos envolvendo violência humana praticada contra os
animais, bem como a proteção destes é uma questão jurídica a ser considerada
quando se traça planejamento de ações para a área de política criminal e segurança
pública. Trata-se de um tema recorrente e atual tendo se tornando um dos assuntos
mais debatidos e noticiados pelos meios de comunicação, inclusive através das
mídias sociais, nos últimos tempos.
Verificando-se as estatísticas sobre o número de animais que sofrem algum
tipo de violência humana, constata-se que no Brasil, somente no Estado de São
Paulo, em 2016 a Polícia Civil fez um levantamento dos casos de denúncias,
totalizando a época uma média de 21 casos de violência e maus tratos contra
animais3. As estatísticas apresentadas atestam a gravidade da situação, pois “até
julho do ano de 2016, foram registrados 4,4 mil boletins de ocorrência desse ilícito
penal, cerca de 628 casos por mês, sendo maior que os dados apresentados em
2011, que eram de 348 casos ao mês” (TOLEDO; GIRARDI, 2016 [s/p]).
Acrescente-se ainda o seguinte diagnóstico sobre esses dados:
3 Nota técnica importante a considerar sobre esses dados é a seguinte: para o registro dos casos, a
reportagem considerou só aqueles que se enquadram na definição legal previsto no art. 32 da Lei nº. 9.605/98 “praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos”. Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa. Ou seja, esses casos estão tipificados na lei de crimes ambientais como crimes contra a fauna.
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Os relatos desses crimes revelam casos de agressão física aos bichos por seus donos em casa, prisão em cativeiros sem condições de higiene ou alimentação e até brigas de galo. O Estado obteve os boletins de ocorrência feitos desde 2011 sobre esse delito (TOLEDO; GIRARDI, 2016 [s/p]).
Isso não ocorre só no Estado de São Paulo, todos os dias se ouvem notícias
de que vários animais são vítimas de maus tratos, violência, abusos, torturas, e
outras práticas pelo homem. Tal situação provoca o seguinte questionamento: O que
isso sinaliza para a sociedade? Em resposta a esse questionamento deve-se ter
claro que, o ser humano que maltrata, mutila, mata, abusa, espanca um animal, ser
indefeso, tem muito a dizer, principalmente sobre seu comportamento social, a ponto
de sob o prisma da teoria do link ser considerado um perigo para a sociedade.
A Humane Society of the United States (HSUS) primeira organização a
realizar um estudo a nível nacional sobre a predominância de violência humana em
casos que envolvem agressão contra animais, sob a forma de levantamento de
dados em bases científicas. Esse estudo foi realizado no ano 2000, de janeiro a
dezembro, apontando a quantidade de pessoas que praticam violência contra os
animais, os tipos de animais que sofrem e os incidentes de violência nas famílias
(ANDA, 2013).
Os resultados encontrados revelam correspondência com a teoria do link,
tendo em vista o aspecto de sua correlação com o tipo de violência sofrida pelo
praticante de violência contra os animais, ou seja, “a pesquisa mostra que grande
numero de casos de crueldade intencional contra animais, também envolvem algum
tipo de violência familiar, seja violência doméstica, maus tratos contra crianças ou
idosos” (ANDA, 2013 [s/p]).
A base de dados dessa pesquisa envolveu um registro quantitativo
importante, abrangendo:
Informações de 1624 casos de violência contra os animais. Desses registros, 922 envolvem crueldade intencional e 504 extrema negligência com os animais. Dos casos de violência contra animais, a maioria dos autores são homens, com um percentual de 76%, enquanto que as mulheres possuem um percentual de 24%. Dos crimes intencionais, os homens totalizam 94% dos casos, sendo que a maioria tinha idade inferior a 18 anos (31%) e idade inferior a 12 anos (4%) (ANDA, 2013).
Quanto ao status dos animais, o estudo registrou que a violência sofrida por
estes são em: “animais de companhia (76%), animais de fazenda (12%), animais
selvagens (7%) e os que abrangem vários tipos de animais (5%)” (ANDA, 2013).
46
Esses resultados corroboram a importância do estudo sobre essa temática, motivo
suficientemente forte para trazer o relato de casos de grande repercussão que
ocorreram no Brasil nos últimos anos.
O caso da cadela da raça Yorkshire em novembro de 2011, que foi
brutalmente espancada até a morte pela enfermeira Camilla Correia Alves de Moura
Araújo dos Santos, na época com 22 anos, que realizou tal barbárie na frente da sua
filha de apenas 02 anos, no município de Formosa, Estado de Goiás
(ENFERMEIRA, 2014).
Conforme ilustrado na figura 1, um dos instrumentos utilizados para
promover essa agressão foi um balde, sendo também desferidos golpes de chutes,
em uma sessão de tortura que culminou com o seu óbito, dois dias após sofrer as
agressões, por não resistir aos ferimentos.
Fonte: ENFERMEIRA.... (G1, Goiás, 17/9/2014).
O vídeo gravado pelos vizinhos serviu como prova para a sua condenação.
Sua pena, de um ano e 15 dias em regime aberto, foi convertida em 370 horas de
prestação de serviços à comunidade, além de uma multa no valor de R$ 2,8 mil,
confirmando a colocação feita por Levai (2004) a respeito da dosagem da pena e a
banalização da vida.
Como agravante, na sentença está dito que o crime foi cometido por motivo fútil,
pois consta nos autos que a cadela foi torturada por ter feito cocô na casa, e que a ré
aproveitou-se da fragilidade do animal para cometer o delito. Além disso, o crime foi
cometido diante de uma criança que presenciou todo o massacre, ou seja, tal
observação é importante, pois conforme o aporte teórico empregado na construção
47
da teoria do link, crianças que foram vítimas de violência doméstica ou que
presenciaram tais atos, serão adultos potencialmente violentos.
Ainda no mesmo ano (2011), outro caso que repercutiu foi do filhote vira lata
de apenas quatro meses de vida, que foi enterrado vivo pelo seu ex-dono4, ficando
nessa condição por doze horas, na cidade de Novo Horizonte, São Paulo – SP. O
animal sofria de maus tratos, estava com sarna e bastante debilitado.
Figura 2. Com sarna e o olho esquerdo machucado, Titã, nome que ganhou dos funcionários da associação Protetora dos Animais Mão Amiga, que o resgatou, recebeu atendimento veterinário e solidariedade de várias pessoas. Fonte: SCHINEIDER, 2011.
Figura 3. O olho direito foi perfurado e o esquerdo tem um problema chamado ‘olho seco"’ quando falta lubrificação. Segundo o médico, pode ter sido causado pelo problema de pele do animal. Fonte: FILHOTE... (2011)
A polícia identificou o próprio dono como sendo quem praticou o crime. Foi
apresentado um termo circunstanciado à Justiça e o suspeito de enterrar o cachorro
deverá ser investigado pelo crime de crueldade contra animais. Não foi identificado
nessa pesquisa como está o andamento do processo, até a presente data. Entretanto,
Titã tornou-se símbolo de campanha de prevenção aos maus tratos contra animais.
Caso digno de registro ocorreu em janeiro de 2012, no município de Itajobi,
zona rural do Estado de São Paulo, onde o cachorro de nome Sargento (batizado
pelos Policiais que atenderam a ocorrência e que após o adotaram) sobreviveu aos
disparos de arma de fogo efetuados pelo seu antigo tutor. Na ocorrência dois outros
cachorros foram baleados e não resistiram aos ferimentos chegando a óbito,
4 A palavra dono é inapropriada uma vez que os animais já são considerados sujeitos de direito, não
sendo aceito tal termo que evidencia um sentido de propriedade, coisa, diminuindo assim, o valor da vida desses seres vivos.
48
ocorrendo uma chacina cujas vítimas foram esses animais (POLICIAL...,
04/01/2012).
A alegação do autor do crime é de que estava chateado com a morte de
outros animais que tinha na propriedade e que os cachorros estavam dando prejuízo
financeiro a este. O autor dos disparos foi preso em flagrante por posse ilegal de arma.
Depois de prestar depoimento, ele pagou fiança dois salários mínimos e responderá em
liberdade pelo crime de maus tratos a animais (POLICIAL..., 04/01/2012). Assim como
Titã, Sargento tornou-se símbolo de campanha de prevenção a maus tratos de animais.
Registre-se que não foi identificado nessa pesquisa como está o andamento do
processo, até a presente data.
Na cidade de João Pessoa, Estado da Paraíba, no bairro Jaguaribe, em 29
de novembro de 2011, um cinegrafista amador flagrou um indivíduo arrastando seu
cachorro no asfalto por cerca de 700 metros. Conforme ilustrado na figura 4, o
animal que estava machucado e sangrando, foi amarrado a uma corda e tinha um
saco plástico na cabeça.
Figura 4. Animal abandonado após o registro fotográfico do delito, machucado, debilitado, maltratado. Fonte: CÃO ..., (G1. PARAÍBA, 29/11/2011)
Figura 5. Lino, nome que recebeu após ser resgatado por integrante da Associação de Proteção Animal Amigo Bicho, aguardando adoção. Fonte: CÃO ..., (G1. PARAÍBA, 29/11/2011)
Embora o autor do delito tenha sido identificado através do registro
fotográfico, não se tem notícia de que o mesmo tenha sofrido processo, ou qualquer
outro tipo de penalidade condizente com o tipo de delito praticado. A pesquisa não
identificou se houve atuação do Ministério Público, Promotoria do Meio Ambiente ou
da Delegacia de Crimes contra o meio Ambiente na averiguação desse caso e
encaminhamento das medidas legais pertinentes.
49
Ainda na cidade de João Pessoa, no bairro Cruz das Armas, no dia 16 de
novembro de 2016, um cachorro da raça pit bull foi encontrado amarrado em um
poste com dois tiros no corpo. Exames realizados no animal mostraram que ele
estava com estilhaços da bala na cabeça e um projétil alojado no ombro.
Figura 6. Lenin, nome dado por integrante da ONG Missão Patinhas Felizes, responsável por seu resgate, durante a realização dos exames clínicos. Fonte: POLÍCIA ..., (G1. PARAÍBA, 22/11/2016)
Figura 7. Lenin, em fase de recuperação após passar por cirurgia para retirada de projetil, cujos fragmentos retirados foram levados ao Laboratório de Balística Forense do IPC, e após exames foi confirmado que o projétil se tratava de um compatível com o revólver calibre 38, expansivo, com ponta oca e encamisada. Fonte: POLÍCIA ..., (G1. PARAÍBA, 22/11/2016)
Ao proceder à investigação do caso, o delegado titular da Delegacia de
Crimes Contra a Ordem Econômica e o meio Ambiente identificou e prendeu três
suspeitos do caso sendo um ex-dono e outro dono atual do animal:
Conforme depoimento dado à polícia por um dos investigados, eles tinham intenção de amarrar o cachorro no poste a fim de que alguma pessoa resolvesse adotar o animal, mas que outro suspeito resolveu atirar. O autor dos tiros tem envolvimento com o tráfico de drogas e, [..], já andava armado (POLÍCIA..., 22/11/2016 [s/p]).
Também foi identificado que havia cinco mandatos de prisão contra um dos
suspeitos, expedidos quando este ainda era adolescente. “O dono e o ex-dono do
animal foram ouvidos e liberados. Ambos devem responder pelo crime ambiental de
maus-tratos em liberdade. O jovem preso por atirar no cachorro deve responder
pelos crimes de maus-tratos e porte ilegal de arma” (POLÍCIA..., 22/11/2016 [s/p]).
50
Importa destacar que a pesquisa não identificou o status do processo até a
presente data, não sabendo, portanto, informar se houve julgamento e se já foi
expedida sentença a respeito do caso, mesmo assim considerou-se esse um caso
importante em razão do procedimento investigativo para criminalizar seu autor ou
autores.
O caso envolvendo serial killer de animais aconteceu no Estado de São
Paulo, cujos crimes foram praticados por:
Dalva Lina da Silva, que ficou conhecida como “a matadora de animais” por ter assassinado 37 animais entre cães e gatos de forma dolorosa e lenta em SP dois anos atrás, recebeu na data de 18 de junho a pena de 12 anos, seis meses e 14 dias de prisão, além de uma multa referente a cada um dos animais mortos (BRAGHETTO, 2017 [s/p]).
Dizendo-se protetora dos animais, recolhia animais de rua e os matando-os
com injeções de cloreto de potássio e anestésicos no coração. Identificada,
processada e condenada, esse caso representa um marco importante na
criminalização dos autores de delitos envolvendo crueldade contra animais,
conforme se depreende dos fragmentos de trechos da sentença que se transcreve:
A ré tem todas as características de uma assassina em série, com uma diferença: as suas vítimas são animais domésticos. De resto, os crimes foram praticados seguindo o mesmo ritual, com uma determinada assinatura, com traços peculiares e comuns entre si, contra diversos animais com qualidades semelhantes e em ocasiões distintas. E o que é bastante revelador: não há motivo objetivo para os crimes. O assassino em série, como o próprio nome diz, é um matador habitual (CRUZ, 2001, apud BRAGHETTO, 2017 [s/p]).
Eis o desfecho da sentença:
18/06/2015 Sentença Registrada 18/06/2015 Condenação à Pena Privativa de Liberdade e Multa COM Decretação da Prisão Ante o exposto, julgo parcialmente procedente a ação, para: I. Condenar DALVA LINA DA SILVA, portadora do R.G./I.I.R.G.D. nº 20.735.577, filha de José Firmino da Silva e Dalvina Gonçalves Leite, à pena de doze anos, seis meses e quatorze dias de detenção, e ao pagamento de quatrocentos e quarenta e quatro dias-multa, cada um destes fixado em 1/10 do valor do salário mínimo vigente à época dos fatos, a ser atualizado em execução, como incursa, por trinta e sete vezes, nas penas cominadas no artigo 32, §2º, da Lei 9.605/98, na forma do artigo 69 do Código Penal; II. Absolver a mesma ré das imputações que lhe são formuladas no aditamento da denúncia, nos termos do artigo 386, inciso III, do Código de Processo Penal.11/06/2015 Conclusos para Sentença 27/05/2015” (CRUZ, 2001, apud BRAGHETTO, 2017 [s/p]).
51
Sentença histórica e importante, considerando o requinte de crueldade com
que os animais eram mortos, colocados em sacos plásticos e destinados ao
recolhimento pela empresa de coleta de resíduos sólidos domiciliar urbana, modus
operandi registrados nas figuras que seguem;
Figura 8. Perícia feita nos animais indicou que os animais tiveram taquicardia e ficaram agitados. Eles sentiram agonia e dor por cerca de 20 a 30 minutos até morrerem. Fonte: BRAGHETTO, (2017 [s/p]).
Figura 9. Cadela com gravatinha sendo entregue para Dalva e a mesma cadela morta encontrada no lixo no dia seguinte. Fonte: BRAGHETTO, (2017 [s/p]).
Durante vários anos Dalva Lina da Silva recebeu para doação e também
recolheu nas ruas da cidade de São Paulo, levando-os para sua residência onde
poucos eram vistos. Há registro de que durante 20 dias entre 250 a 300 animais,
foram recebidos por ela e entraram em sua residência, porém nunca mais foram
vistos5. Havia, inclusive, suspeita de que Dalva Lina da Silva pertencia a uma
quadrilha que matava os animais para ser distribuído e vendido para consumo
humano e que as peles estariam sendo alvo de exportação, suspeita não confirmada
durante as investigações do caso.
Os relatos dos casos apresentados causam indignação, não apenas pela
crueldade em si, mas também porque se trata de animais de companhia, que vivem
nas residências, fazem parte do convívio das famílias. A própria Dalva Lina da Silva
era dona de casa, casada e com filhos pequenos em casa, embora não haja registro
5 Esse dado consta na folha 4 do processo nº 0017247-24.2012.8.26.0050-C-1554/13-p.2 do Tribunal
de Justiça do Estado de São Paulo. Comarca de São Paulo. Foro Central da Barra Funda, em que a acusada Dalva Lina da Silva é ré e foi sentenciada. Disponível em: <http://www.abolicionismoanimal.org.br/artigos/TJSP%2012%20anos%20pris_o%20maus%20tratos%20animais%202015.pdf>. Acesso em: 20 jan. 2018.
52
de que ele tenha sido vitima ou presenciado cenas de violência doméstica ou
violência contra animais em sua infância ou adolescência, para possibilitar a
caracterização da relação desse comportamento com a teoria do link, segundo os
aspectos teóricos abordados nesse estudo, pois apenas a variável crueldade contra
o animal foi identificada nesse caso.
Coerente com essa perspectiva, Garcia (2017 [s/p]) assinala o seguinte:
Os animais de estimação, podem fazer parte do ciclo de violência doméstica e serem as primeiras vítimas. Dessa forma, a suspeita de maus-tratos contra os mesmos pode ser utilizada como indicador para a detecção e/ou prevenção de outros tipos de violência. Esse reconhecimento permite uma pronta intervenção por parte de uma equipe multiprofissional em saúde, com participação dos médicos veterinários, que podem ser os primeiros, ou únicos, profissionais a ter acesso a situações de abuso no contexto da família.
Diante do exposto, verifica-se que a violência contra animais e outras
práticas cruéis é tema extremamente relevante para ser trabalhado como pesquisa
acadêmica, notadamente na seara jurídica, uma vez que existem elementos que
revelam comportamentos violentos e ciclos predeterminados dos indivíduos que
praticam tal barbárie, correlacionando tais condutas a diversos tipos de violência,
inclusive familiar.
No tocante a questão da política de segurança pública um exemplo a
destacar é o do Estado de Pernambuco que, em 2012 lançou o Pacto para a Vida
Animal, concebido sob a inspiração do “programa Pacto Pela Vida, que investe em
políticas de segurança pública para reduzir a violência, o novo programa promete ações
que garantam a proteção e o bem-estar aos animais que vivem no estado”
(PERNAMBUCO..., 2012 [s/p]).
Uma das linhas mestras desse Pacto é a implementação de políticas públicas
que garantam o bem-estar e proteção dos animais no Estado, com atenção especifica
para os casos de crueldade. As estatísticas indicam que 70% das denúncias registradas
na Delegacia de Meio Ambiente do Estado são de maus tratos e abandono, sendo os
cães os mais atingidos (PERNAMBUCO..., 2012).
Outro exemplo digno de nota é o do Estado de Santa Catarina que
promulgou a Lei 17.404, de 21 de dezembro de 2017, que determina que a
Secretaria da Segurança Pública (SSP) de Santa Catarina crie a Delegacia
Eletrônica de Proteção Animal de Santa Catarina. A polícia tem prazo de dez dias a
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partir do registro do Boletim de Ocorrência para que a Secretaria de Segurança
Pública (SSP) indique uma delegacia responsável pela investigação (PACHECO,
2018).
A delegacia acolherá inclusive denúncias da existência de criadores
clandestinos, abatedouros ilegais e até mesmo empresas, principalmente os
laboratórios que fazem testes em animais. As averiguações serão feitas em todos os
fatos denunciados previstos em lei e considerados crime, a exemplo de situações
envolvendo casos de abandono, espancamento, negligência, envenenamentos,
entre outros (PACHECO, 2018).
Esses avanços são marcos importante diante da legislação branda no direito
pátrio em que:
A Constituição proíbe a submissão dos animais a crueldade, no que é acompanhada pela legislação penal que pune diversas condutas, destacando-se o crime de maus-tratos, cuja pena varia entre três meses a um ano de detenção, com possibilidade de aumento de um sexto a um terço se o animal morrer. O crime, contudo, é de menor potencial ofensivo. [...] mediante o preenchimento de algumas condições específicas, o acusado de cometer maus-tratos acaba, na maior parte das vezes, sofrendo uma pena restritiva de direitos e não pena privativa de liberdade (LOURENÇO, 2017, apud VIVIANI, 2017 [s/p]).
Registre-se que a caracterização material do crime de maus-tratos é
complexa, pois exige uma conduta intencional, isto é, conduta dolosa, dirigida a um
animal no sentido de provocar um dano ou sofrimento que pudesse ser evitado. A
pena de detenção é pequena e pode ser substituída por uma multa, pelo pagamento
de cestas básicas ou pela prestação de serviço comunitário, causado uma sensação
de impunidade para esses crimes, e, de certa forma, contribui para a prática de
crueldade e maus-tratos contra os animais.
Acrescente-se a isso, a periculosidade em que tais condutas são praticadas,
em que, consoante a teoria do link, o praticante desses atos de violência representa
um perigo para a sociedade, Importante ressaltar que os animais tem sentimentos e
sofrem quando são abandonados, maltratados e esquecidos pelo seus tutores,
sendo assim mais suscetíveis a doenças psicológicas e emocionais, o que torna
esse tema desafiador e demanda alterações urgentes na legislação pátria para
tornar as penas mais severas para os casos específicos.
54
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao tomar como objeto de estudo a correlação existente entre a violência
animal e a violência humana esse estudo atendeu ao objetivo de descrever os
fundamentos históricos e conceituais da teoria do link, cujos fundamentos englobam
a tríade: testemunho de ato de crueldade animal, abuso infantil e violência familiar
apontando que a violência contra animais pode ser o primeiro ato praticado por
aqueles que tendem a se tornarem praticantes de atos de maus tratos aos animais e
até mesmo serial killer, conforme os casos ilustrados nessa pesquisa.
Oportuno enfatizar que esse estudo não é um estudo sobre direito animal,
mas sobre crimes praticados contra os animais, tendo por objetivo estabelecer sua
ligação com os pressupostos da teoria do link, a qual indica que, nem sempre as
variáveis de sua tríade estão presentes na sua totalidade, pois muitas vezes, as
pessoas que praticaram atos de crueldade contra animais não haviam testemunhado
tais atos de violência, entretanto, foram vítimas de violência familiar.
Há nos casos relatados sobre comportamento criminal de quem pratica
crueldade contra os animais forte incidência da variável abuso sexual. Como
também há incidência da variável violência doméstica, com ou sem a presença da
variável testemunho de crueldade contra animais no âmbito familiar. Crianças com
problemas familiares graves, lares desestruturados, abandono e alcoolismo,
vitimadas por abuso sexual são propensas a tornarem-se adultos capazes de
praticar atos de crueldade contra animais e também contra pessoas, conforme
indicam os estudos científicos que contribuíram para a fundamentação da teoria do
link.
Os casos que descrevem comportamento criminoso de serial killer
conhecidos mundialmente que também iniciaram no mundo do crime através dos
abusos e barbáries que faziam com animais, sentindo prazer com o feito,
relacionado aos componentes que fundamentam a teoria do link, confirmam que
pessoas com comportamento mais agressivo são mais propensas a transferir essa
agressividade para os animais, principalmente os animais de companhia e de
estimação.
A teoria do link, tema central desse trabalho que se refere ao estudo
comprovado através de pesquisas cientificas contemplando indivíduos que cometem
55
crimes contra os animais demonstram que estes são propensos à criminalidade e
condutas violentas com os seres humanos, sendo tanto em crianças e adolescentes,
como em adultos, principalmente os grupos considerados mais vulneráveis, quais
sejam crianças e adultos.
Ao estudar a aplicabilidade da teoria do link no Brasil, constatou-se que
diante dos casos de violência doméstica e ocorrências atendidas pelos policiais de
maus tratos aos animais, respectivamente, que a grande quantidade dos infratores
já possuía passagem criminal por diversos outros crimes, em sua maioria violentos
contra pessoas, corroborando assim os fundamentos da teoria do link quando se
refere à associação da crueldade contra animais com a prática de outros delitos e
atos criminosos de natureza grau de periculosidade diversas.
Um dos achados importantes desse estudo revela, a partir da análise dos
casos de violência contra animais relatados diz respeito à consolidação de um ciclo
de violência que se não for quebrado será passado por gerações, visto que crianças
e adolescentes que tenham sofrido abusos e/ou violência, presenciado ou mesmo
que tenham praticado alguma crueldade contra animais, tendem a reproduzir em
seus filhos, membros da família, ou qualquer outra pessoa os mesmos episódios de
violência que experienciou, principalmente na sua infância, conforme apontam os
fundamentos teóricos da teoria do link.
Portanto, ante todo o exposto no presente trabalho evidencia-se que a
violência e crueldade praticada contra os animais não deve ser negligenciada pelas
autoridades e muito menos pela sociedade, visto que restou comprovado que a
maioria dos indivíduos que praticam tal barbárie são propensos a criminalidade
contra humanos, o que torna o assunto objeto de apreciação pela área de política
criminal e segurança pública, para o planejamento de medidas e ações que visem o
controle de tais atos que promovem insegurança jurídica para toda a sociedade que
pode vir a ser vítima desse ciclo de violência.
No âmbito do direito penal deve ser dito que há necessidade de estabelecer
para tais casos, maior rigor na aplicação das penas, com políticas de segurança
pública e ações que repreendam todos os atos ilícitos cometidos contra os animais,
dando a sociedade oportunidade de reduzir a criminalidade, coibir efetuação de
futuros criminosos e a consciência da completa reprovação da cultura (ultrapassada)
de que os seres humanos são superiores aos animais, podendo subjugá-los ou fazer
o que bem entender, por serem seres vulneráveis que dependem do homem.
56
Assim, sugere-se que sejam realizados novos estudos sobre a temática,
trabalhando com pesquisa exploratória para averiguar os casos ilustrados na cidade
de João Pessoa, mediante pesquisa documental sobre o inquérito e processo, bem
como sobre as respectivas sentenças. E ainda, que seja feito um levantamento
sobre casos de maus-tratos e crueldade praticados contra animais nos últimos cinco
anos para averiguar a evolução quantitativa do número de casos, o perfil do
agressor, bem como o tratamento jurídico que o caso recebeu.
57
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