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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DIOGO JOSÉ COELHO ANÁLISE ESTRATÉGICA DA CIDADE PEDRA BRANCA BASEADA NO REFERENCIAL TEÓRICO DE HENRY MINTZBERG FLORIANÓPOLIS 2009

ANÁLISE ESTRATÉGICA DA CIDADE PEDRA …tcc.bu.ufsc.br/Adm290461.pdf · Escola de Configuração. Henry Mintzberg. 8 LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Cadeia de Valor genérica de Porter.....29

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

    DIOGO JOS COELHO

    ANLISE ESTRATGICA DA CIDADE PEDRA BRANCA BASEADA NO REFERENCIAL TERICO DE HENRY MINTZBERG

    FLORIANPOLIS 2009

  • 2

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

    DIOGO JOS COELHO

    ANLISE ESTRATGICA DA CIDADE PEDRA BRANCA BASEADA NO REFERENCIAL TERICO DE HENRY MINTZBERG

    FLORIANPOLIS 2009

    Trabalho de Concluso de Estgio apresentado disciplina Estgio Supervisionado CAD 5236, como requisito parcial para obteno do grau de Bacharel em Administrao.

    Orientador: Prof. Lus Moretto Neto, Dr.

  • 3

    DIOGO JOS COELHO

    ANLISE ESTRATGICA DA CIDADE PEDRA BRANCA BASEADA NO REFERENCIAL TERICO DE HENRY MINTZBERG

    Este Trabalho de Concluso de Estgio foi julgado adequado e aprovado

    em sua forma final pela Coordenadoria de Estgios do Departamento de

    Cincias da Administrao da Universidade Federal de Santa Catarina, em 25

    de junho de 2009.

    Prof. Rudimar Antunes da Rocha

    Coordenador de Estgios

    Apresentada Banca Examinadora formada pelos professores:

    ______________________________

    Prof. Lus Moretto Neto, Dr.

    Orientador

    _____________________________

    Prof. Lus Salgado Klaes, Dr.

    Examinador

    _____________________________

    Prof. Mrio de Souza Almeida, Dr.

    Examinador

  • 4

    Aos meus pais, que me

    indicaram o melhor caminho.

  • 5

    AGRADECIMENTOS

    Agradeo, primeiramente, a meus pais, que sempre dedicaram seus

    esforos ao meu crescimento, tanto como um profissional quanto como um ser

    humano.

    Aos meus familiares, com seu carinho e apreo, em especial minha tia

    Vanilde, que, com sua dedicao e cobrana me proporcionou melhores

    condies para a realizao deste trabalho.

    Aos meus amigos, fonte de ateno e apoio nos melhores e tambm nos

    mais difceis momentos.

    Ao meu orientador, Prof. Lus Moretto Neto, que me auxiliou e me

    forneceu valorosos ensinamentos relevantes para a realizao deste trabalho e

    para a minha vida profissional.

    A toda a equipe do Cidade Pedra Branca, que cedeu tempo, espao e

    informaes teis para a execuo deste estudo.

    Aos professores e colaboradores da Universidade Federal de Santa

    Catarina, em destaque queles que fazem parte do Curso de Administrao,

    que propiciaram condies para o meu aprendizado.

  • 6

    O planejamento de longo prazo no lida

    com decises futuras, mas com o

    futuro de decises presentes.

    Peter Drucker

  • 7

    RESUMO

    COELHO, Diogo Jos. Anlise estratgica da Cidade Pedra Branca

    baseada no referencial terico de Henry Mintzberg. Florianpolis, 2009.

    80p. Trabalho de Concluso de Estgio. Curso de Administrao, Universidade

    Federal de Santa Catarina.

    Este trabalho tem como objetivo analisar as estratgias adotadas pela Cidade Pedra Branca segundo as escolas de Posicionamento, Aprendizado e Configurao luz da teoria de Henry Mintzberg. O estudo buscou pesquisar informaes que permitem compreender que aes a empresa toma visando atender seus objetivos estratgicos. Em face a tais informaes, houve a relao entre o referencial terico e as prticas encontradas na organizao. Para a realizao deste estudo, a metodologia utilizada foi a de forma qualitativa atravs do modelo de estudo de caso. Para levantamento dos dados foram utilizadas pesquisa bibliogrfica, entrevista semi-estruturada, questionrio, anlise documental e observao. Este estudo est dividido em cinco captulos, sendo que o primeiro apresenta a introduo, o segundo a fundamentao de temas relevantes ao trabalho, o terceiro demonstra a metodologia utilizada, o quarto captulo caracteriza a organizao e mostra a anlise feita a partir das dimenses de anlise estabelecidas por Henry Mintzberg, e o ltimo captulo apresenta as concluses obtidas. Como resultados da pesquisa, pode-se entender que h uma forte influncia dos conceitos oriundos da Escola do Posicionamento, alm de fatores que vo ao encontro das teorias que fazem parte da Escola do Aprendizado.

    Palavras-chave: Estratgia. Cidade Pedra Branca. Escola do Posicionamento.

    Escola do Aprendizado. Escola de Configurao. Henry Mintzberg.

  • 8

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Cadeia de Valor genrica de Porter.............................................

    29

    Figura 2 Planta Geral da Cidade Pedra Branca.........................................

    55

    Figura 3 Novo Centro do Bairro Cidade Pedra Branca.............................. 57

  • 9

    SUMRIO

    1. INTRODUO.......................................................................................... 11

    1.1. OBJETIVOS........................................................................................... 12

    1.1.1. Objetivo Geral.................................................................................... 12

    1.1.2. Objetivos Especficos....................................................................... 13

    1.2. JUSTIFICATIVAS................................................................................... 13

    2. FUNDAMENTAO TERICA................................................................ 15

    2.1. CONCEITOS DE ESTRATGIA............................................................ 15

    2.2. ESCOLA DE POSICIONAMENTO......................................................... 16

    2.2.1. Origens e Premissas......................................................................... 16

    2.2.1.1. Origens............................................................................................. 16

    2.2.1.2. Premissas......................................................................................... 19

    2.2.2. Mudana............................................................................................. 21

    2.3. ESCOLA DO APRENDIZADO............................................................... 31

    2.3.1. Origens e Premissas......................................................................... 31

    2.3.1.1. Origens............................................................................................. 31

    2.3.1.2. Premissas......................................................................................... 31

    2.3.2. Mudana............................................................................................. 34

    2.4. ESCOLA DA CONFIGURAO............................................................ 41

    2.4.1. Origens e Premissas......................................................................... 41

    2.4.1.1. Origens............................................................................................. 41

    2.4.1.2. Premissas......................................................................................... 43

    2.4.2. Mudana............................................................................................. 44

    3. METODOLOGIA....................................................................................... 48

    3.1. TIPO DE PESQUISA.............................................................................. 48

    3.2 COLETA DE DADOS.............................................................................. 49

    3.3 LIMITAES DA PESQUISA................................................................. 50

    4. ANLISE................................................................................................... 51

    4.1 CARACTERIZAO DO EMPREENDIMENTO..................................... 51

  • 10

    4.2 RELAO TEORIA-PRTICA................................................................ 60

    5. CONSIDERAES FINAIS...................................................................... 67

    5.1 CONCLUSES....................................................................................... 67

    5.2 RECOMENDAES............................................................................... 68

    REFERNCIAS.............................................................................................. 71

    APNDICES...................................................................................................

    74

    ANEXOS.........................................................................................................

    78

  • 11

    1. INTRODUO

    A estratgia pode ser definida como a funo mais ampla e bsica de

    uma empresa. Atravs da definio de uma estratgia, a empresa possui uma

    diretriz, que permite definir as aes operacionais necessrias para a obteno

    dos resultados almejados.

    Kotler (apud ALDAY, 2000) afirma que o planejamento estratgico uma

    metodologia gerencial que permite estabelecer a direo a ser seguida pela

    organizao, visando maior grau de interao com o ambiente. Ou seja, as

    aes que a organizao ir executar em seu plano estratgico contemplam as

    medidas traadas pelo caminho indicado pelos objetivos futuros da

    organizao.

    A formao de uma estratgia depende do entendimento dos fatores

    internos e externos da organizao. Como fatores internos considera-se a

    estrutura da empresa, os produtos oferecidos, a inovao tecnolgica, sade

    financeira, marca, logstica. Isso inclui as foras e fraquezas da organizao.

    Como fatores externos, esto inclusos os clientes, fornecedores, fontes

    financiadoras, concorrncia, governo, ou seja, os stakeholders que afetam

    direta ou indiretamente a organizao. Cabe empresa identificar nestes

    stakeholders as oportunidades e ameaas a sua operao.

    Henry Mintzberg, em seus estudos sobre a estratgia concretizados no

    livro Safri de Estratgia classificou a evoluo do pensamento estratgico

    em dez escolas distintas, caracterizadas pela forma como entendem o

    processo de formulao da estratgia (pontos de vista dos autores). Estas

    escolas abordam a forma como os pontos de vista so relacionados realidade

    do meio em que esto inseridos, bem como as teorias dos principais autores de

    cada escola.

    A realidade atual do mercado globalizao, mostra a fora ainda maior

    que o planejamento estratgico possui dentro da organizao. As

    necessidades de atender um maior nmero de consumidores, em diversos

    pases, com culturas distintas fazem com que as aes previstas no

    planejamento estratgico sejam mais elaboradas, como forma de superar seus

    concorrentes e criar um diferencial (vantagem competitiva) para seus clientes.

  • 12

    Um dos mercados que apresenta uma prova deste dinamismo e da

    necessidade de formao de estratgias o mercado imobilirio. O

    crescimento da populao e da rea urbana das cidades exigiu a criao de

    novos produtos no setor. Alm disso, h uma necessidade de criao de

    empreendimentos com caractersticas diferenciadas, onde haja uma maior

    preocupao com o bem-estar social.

    Devido ao grande dficit imobilirio existente no Brasil, no h por parte

    das construtoras uma preocupao neste sentido. Motivadas por um esprito de

    tudo o que produzo consigo vender, as empresas realizam seus projetos

    levando em conta, basicamente, fatores internos, como a facilidade na

    execuo (estratgia adotada pela construtora MRV, onde as plantas so

    padronizadas) ou a rentabilidade por m de rea construda (prtica comum na

    maioria das construtoras do pas).

    Alguns empreendimentos surgem visando mudar esta caracterstica. A

    partir de um conceito denominado urbanismo sustentvel, onde h, ainda na

    preparao do projeto, uma maior preocupao com os aspectos ambientais e

    sociais da populao, foi lanado no ano 2000 o Cidade Pedra Branca.

    Localizado em Palhoa (SC), o empreendimento (loteamento) atende a

    uma srie de normas e conceitos adotados por organizaes no-

    governamentais que atuam em prol do desenvolvimento ambientalmente

    responsvel das cidades.

    Em correlao com a teoria, quais escolas de administrao estratgica

    se adequam ao caso da Cidade Pedra Branca?

    1.1. OBJETIVOS

    Neste item sero abordados os objetivos geral e especficos que

    norteiam este trabalho.

  • 13

    1.1.1. Objetivo Geral

    Analisar o caso da Cidade Pedra Branca segundo as escolas de

    posicionamento, aprendizado e configurao luz da Teoria de Henry

    Mintzberg.

    1.1.2. Objetivos Especficos

    a) Identificar e descrever sobre as escolas de posicionamento, aprendizado

    e configurao, com base no referencial terico de Henry Mintzberg;

    b) Descrever o caso da Cidade Pedra Branca;

    c) Identificar e analisar as aes estratgicas da empresa analisada.

    1.2 JUSTIFICATIVAS

    A elaborao deste estudo importante para a correlao entre um

    tema recorrente no campo da administrao (estratgia) com o caso de uma

    empresa que apresenta grande sucesso no mercado onde atua, tendo

    conquistado diversos prmios e certificaes de nvel internacional. Tambm

    se justifica a importncia do tema ao se analisar os incentivos governamentais

    para o desenvolvimento do setor imobilirio.

    Independentemente do crescimento generalizado do mercado

    imobilirio, para atrair clientes, as empresas precisam manter seu carter

    inovador, buscando aprimorar seus produtos, para atrair os clientes e ganhar

    participao no mercado. A competitividade no segmento faz com que as

    empresas participantes precisem criar estratgias mais complexas e ousadas.

    Empresas recm chegadas ou com baixa penetrao no mercado precisam

    ainda mais de um diferencial, para que os consumidores percebam a existncia

    da mesma.

    A Cidade Pedra Branca, com seu crescimento, apresentou

    caractersticas inovadoras, que servem como objeto de estudo para a

    administrao estratgica.

  • 14

    O tema vivel, pois o estudo ocorreu em duas frentes de trabalho:

    anlise de referencial terico e de dados de mercado disponveis ao pblico,

    que, correlacionados, atendem ao objetivo geral do mesmo.

    Com a expanso do mercado imobilirio, existe um maior destaque em

    relao a estudos do setor, porm, abordar os fatores estratgicos de uma

    determinada empresa algo diferenciado e original. Dada a situao do setor,

    este tema tambm mostra-se oportuno, ao caracterizar a estratgia no

    momento em que ela aplicada, no uma anlise histrica.

    Como fator pessoal que levou escolha do tema existe a identificao

    do autor deste estudo com o setor imobilirio, interligado temtica

    estratgica, conhecida atravs do aprendizado na disciplina de Direo

    Estratgica.

  • 15

    2. FUNDAMENTAO TERICA

    Este captulo apresenta os conceitos norteadores deste trabalho.

    2.1. CONCEITOS DE ESTRATGIA

    Daft (1999) coloca que estratgia um plano de ao que descreve a

    alocao de recursos e as atividades para lidar com o ambiente e alcanar as

    metas organizacionais. Como organizao, o mesmo autor define que

    organizaes so entidades sociais que so dirigidas por metas, so

    projetadas como sistemas de atividades deliberadamente estruturados e

    coordenados e so interligadas ao ambiente externo. Portanto, para o autor,

    existe a importncia do estabelecimento de metas para que a organizao

    exista e se posicione no mercado em que atua.

    Segundo Mintzberg et al. (2000), estratgia um padro, isto ,

    consistncia em comportamento ao longo do tempo. O autor categoriza

    estratgia desta forma, pois considera que as aes futuras so reflexos dos

    padres das aes empreendidas ao longo dos tempos anteriores, ou seja, o

    histrico da empresa.

    Porter (1986) classifica estratgia como aes ofensivas ou defensivas

    para criar uma posio defensvel em uma indstria, para (...) obter um retorno

    sobre o investimento maior para a empresa.

    Mintzberg et al. (2000), como forma de classificar os diversos estudos

    referentes a estratgia, dividiu os conceitos em dez grupos, aos quais ele

    chama de escolas:

    a) Escola do Design;

    b) Escola do Planejamento;

    c) Escola do Posicionamento;

    d) Escola Empreendedora;

    e) Escola Cognitiva;

    f) Escola do Aprendizado;

    g) Escola do Poder;

    h) Escola Cultural;

  • 16

    i) Escola Ambiental; e,

    j) Escola da Configurao.

    Como objeto de anlise deste estudo, foca-se em trs destas escolas:

    posicionamento, aprendizado e configurao. A escolha de tais escolas baseia-

    se na importncia que possuem dentro dos estudos de estratgia, bem como a

    pluralidade de idias, haja visto que a abordagem que cada uma das escolas

    dispe acerca do tema bastante distinta.

    2.2. ESCOLA DO POSICIONAMENTO

    A Escola do Posicionamento ser abordada a partir da anlise das

    origens e premissas que constituem a escola, e, os mecanismos de mudana

    organizacional dentro do mbito estratgico.

    2.2.1 Origens e Premissas

    Neste item sero expostos o processo histrico de formao da escola

    origens e as caractersticas que constituem a Escola do Posicionamento.

    2.2.1.1 Origens

    A Escola do Planejamento foi fundada a partir de 1980, quando Michael

    Porter o autor mais influente desta categoria publicou o livro Estratgia

    Competitiva. Nesta obra foram estabelecidas as bases de um novo modo de

    pensar sobre estratgia. Tomando como base muitos dos conceitos j

    existentes nas Escolas do Design e do Planejamento, Porter focalizou o

    contedo das estratgias, deixando em segundo plano a criao de modelos

    de aplicao. O questionamento importante sobre estratgia deixou de ser

    Como fazer? para ser O que ?

    Um grande mrito do livro de Porter foi retomar o interesse pelo

    desenvolvimento de novos estudos na rea de estratgia. Por apresentar uma

    caracterizao diferente de como desenvolvida e aplicada a estratgia nas

    empresas uma evoluo em relao aos j amplamente estudados modelos

  • 17

    das Escolas do Design e do Planejamento a obra de Porter, ainda hoje

    vista como a principal referncia baseando-se no grande nmero de livros e

    artigos cientficos produzidos utilizando como base os conhecimentos do autor

    no que concerne a administrao estratgica.

    Tambm se percebe claramente uma influncia militar no processo de

    formao do pensamento da Escola do Posicionamento. As tticas militares

    so exemplos clssicos de posicionamento. Os critrios utilizados para

    definio de aes so baseados em fatores tangveis, como a fora numrica

    (tamanho das tropas militares), localizao, condies do terreno,

    caractersticas do inimigo, entre outras, servem de parmetro para que os

    comandantes definam como as tropas devero agir.

    Mintzberg et al. (2000) considera como livro clssico nessa abordagem a

    obra A Arte da Guerra, de Sun Tzu. Para o autor chins, num processo

    metafrico em relao estratgia empresarial, era muito importante que se

    estivesse informado acerca do inimigo e do local de batalha. Para tanto ele

    ainda enfatizava a definio de posies estratgicas (rios, montanhas),

    localizao de exrcitos inimigos e tcnicas de ocupao de terrenos.

    Esse pensamento se alinha com a Escola de Posicionamento, pois

    define a importncia da informao sobre o mercado em que atua, bem como a

    identificao das fraquezas das foras atuantes neste mercado, a partir do qual

    se permite aos novos entrantes a explorao de tais deficincias e o ganho de

    participao no mercado.

    Ainda existe o trabalho do pesquisador von Clausewitz (1780-1831).

    Este pensador militar estudou sobre as tticas militares utilizadas por Napoleo

    Bonaparte nas suas investidas militares pelo continente europeu. Segundo

    Clausewitz, as guerras pr-napolenicas caracterizavam-se por um modelo

    ttico comum, baixa motivao das tropas e uma resoluo das batalhas

    baseada em diplomacia.

    Aps Napoleo investir na expanso militar do territrio francs, as

    estratgias utilizadas pelo general francs, demonstraram as falhas no

    planejamento militar vigente. Napoleo venceu exrcitos numericamente muito

    superiores com um conjunto de aes pr-estabelecidas, que se flexibilizavam

    a partir das circunstncias encontradas no ambiente de combate.

  • 18

    Mintzberg et al. (2000), com base nos estudos de von Clausewitz,

    apresenta o livro On Strategy: The Vietnan War in Context (1981), escrito pelo

    coronel americano Harry Summers que aborda como os erros no planejamento

    da Guerra do Vietn poderiam ser evitados caso os fundamentos estratgicos

    de von Clausewitz fossem aplicados.

    Summers (1981 apud MINTZBERG et al., 2000), analisou os princpios

    de guerra dos Estados Unidos baseando se nos critrios de Clausewitz,

    descritos no quadro a seguir:

    Princpios de guerra dos Estados Unidos, com base em

    Clausewitz

    - O Objetivo: Toda operao militar deve ser dirigida para um objetivo

    claramente definido, decisivo e atingvel. O objetivo militar supremo da

    guerra a destruio das foras do inimigo e da sua vontade de lutar;

    - A Ofensiva: A ao ofensiva necessria para se atingir resultados

    decisivos e manter liberdade de ao. Ela permite ao comandante

    exercer iniciativa e impor sua vontade sobre o inimigo. A defensiva

    pode ser forada sobre o comandante, mas deve ser adotada

    deliberadamente apenas como expediente temporrio;

    - Massa (algumas vezes chamada de Concentrao): A fora superior

    de combate deve ser concentrada no momento e no local crticos para

    um propsito decisivo;

    - Economia de Fora: O uso hbil e prudente da fora de combate

    capacitar o comandante a realizar a misso com o dispndio mnimo

    de recursos. Este princpio no significa poupar, mas sim a alocao

    medida da fora de combate disponvel;

    - Manobra (ou Flexibilidade): O objetivo da manobra dispor de uma

    fora de forma tal que o inimigo fique em relativa desvantagem. Uma

  • 19

    manobra bem-sucedida requer flexibilidade de organizao, suporte

    administrativo e comando e controle;

    - Unidade de Comando: A unidade de comando obtm unidade de

    esforos pela ao coordenada de todas as foras no sentido de uma

    meta comum. Embora a coordenao possa ser conseguida por

    cooperao, ela melhor atingida investindo-se em um comandante

    com a necessria autoridade;

    - Segurana: A segurana alcanada por medidas tomadas para

    evitar surpresas, preservar a liberdade de ao e negar ao inimigo

    informaes de foras amigas;

    - Surpresa: A surpresa resulta de se atingir um inimigo em um

    momento, lugar e de uma maneira para os quais ele no est

    preparado.

    - Simplicidade: Planos diretos e claros e ordens concisas minimizam

    mal-entendidos e confuses. Caso os outros fatores sejam iguais, o

    plano mais simples o preferido.

    Quadro 1: Princpios de guerra dos Estados Unidos, com base em Clauswitz (MINTZBERG et

    al., 2000, p. 74)

    Tambm se verifica o uso freqente de terminologias militares na vida

    corporativa. Expresses do tipo atacar o concorrente, dominar o setor,

    consolidar foras, ou ainda A melhor ofensa tambm uma boa defesa

    (QUINN, 1996, p. 150) so exemplos de como o pensamento militar est

    inserido na mentalidade dos gestores.

    2.2.1.2 Premissas

    Como processo evolutivo das Escolas do Design e do Planejamento, a

    Escola de Posicionamento no foge, a rigor, das caractersticas de suas

  • 20

    antecedentes. Mas, ela apresenta um fator preponderante: a empresa limita-se

    estratgia escolhida. Mintzberg et al. (2000) afirma que a Escola do

    Posicionamento, diferentemente das anteriores, afirma que poucas estratgias-

    chave tais como posies no mercado so desejveis em uma determinada

    indstria: aquelas que podem ser defendidas contra os concorrentes atuais e

    futuros.

    Estas poucas estratgias-chave foram formadas a partir da

    categorizao de diversas estratgias adotadas pelas empresas. Seguindo um

    processo lgico, Porter criou trs estratgias distintas, as quais ele denominou

    de estratgias genricas.

    Deste modo, a Escola de Posicionamento refuta a tese da Escola de

    Design de que cada empresa possui uma estratgica nica e especfica. Para

    Porter, o uso de ferramentas analticas para identificao das foras que

    influenciam na atuao da empresa so passveis de utilizao em uma srie

    de diferentes organizaes.

    O conhecimento destas fontes subjacentes da presso competitiva pe em destaque os pontos fortes e fracos crticos da companhia, anima o seu posicionamento em sua indstria, esclarece as reas em que mudanas estratgicas podem resultar no retorno mximo e pe em destaque as reas em que as tendncias da indstria so da maior importncia, quer como oportunidades, quer como ameaas. O entendimento destas fontes tambm provar ser til ao considerarmos reas para diversificao, embora o foco principal aqui esteja em indstrias individuais. A anlise estrutural a base fundamental para a formulao da estratgia competitiva (...). (PORTER, 1986, p. 23).

    Como resultado de tamanha anlise, os dados passam a ser facilmente

    disponveis aos gestores para a tomada de decises e a formulao da

    estratgia passa a ser fundamentada em dados estruturados. Com isso, a

    aplicao o acompanhamento da estratgia pode ser feito de forma melhor

    controlada, pois contm critrios estabelecidos para anlise.

    Mintzberg et al. (2000) resume as premissas da Escola de

    Posicionamento em cinco fatores:

    a) Estratgias so posies genricas, especificamente comuns e

    identificveis no mercado;

    b) O mercado (o contexto) econmico e competitivo;

  • 21

    c) O processo de formao de estratgia de seleo dessas posies

    genricas com base em clculos analticos;

    d) Os analistas desempenham um papel importante neste processo,

    passando os resultados dos seus clculos aos gerentes que oficialmente

    controlam as opes; e,

    e) As estratgias saem deste processo totalmente desenvolvidas para

    serem articuladas e implementadas; de fato, a estrutura de mercado

    dirige as estratgias posicionais deliberadas, as quais dirigem a

    estrutura organizacional.

    O posicionamento da empresa, dentro das categorias supracitadas,

    permite a organizao compreender qual a sua situao dentro do mercado

    onde est inserida e criar mecanismos de mudana para atingir uma posio

    de maior destaque no segmento.

    2.2.2 Mudana

    O processo de mudana na Escola do Posicionamento considerado

    gradual. ... a formao de estratgia continuou a ser vista como um processo

    controlado e consciente. (MINTZBERG et al., 2000, p. 69)

    Para a realizao do processo de mudana, torna-se necessrio o

    conhecimento acerca da classificao das diferentes formas de estratgia

    (estratgias genricas), dos mecanismos para a determinao de uma

    vantagem competitiva e criao de valor, e, ainda, das diferentes ameaas que

    atingem a organizao e podem minar a execuo da estratgia.

    Porter, no livro Estratgia Competitiva, definiu trs estratgias

    denominadas genricas (liderana no custo total, diferenciao e, enfoque),

    que classificam as empresas de acordo com o posicionamento adotado diante

    do mercado consumidor.

    A primeira estratgia a liderana no custo total, que ... consiste em

    atingir a liderana no custo total em uma indstria atravs de um conjunto de

    polticas funcionais orientadas para este objetivo bsico. (PORTER, 1986, p.

    50)

  • 22

    Para Carneiro et al. (1997), a empresa de custo mais baixo, quando

    pressionada, ter mais flego para continuar na indstria que seus

    concorrentes tambm sob presso. Tal flego ocorre devido s maiores

    condies de reduzir as margens de lucro.

    Porter (1986) associa a estratgia de liderana no custo total com uma

    alta parcela de mercado, pois considera que os altos volumes de produo

    permitem a economia nas compras, a diluio de custos fixos e a economia de

    escala, em que produtos semelhantes podem compartilhar itens comuns. No

    entanto, o autor ainda salienta que a liderana em custo pode vir atravs de

    acesso favorvel matrias-primas, tecnologias atualizadas, projetos

    simplificados dos produtos ou ainda pela melhoria dos processos produtivos

    (otimizao das linhas de produo e reduo de desperdcios).

    A segunda estratgia genrica a de diferenciao. Ela visa oferecer ao

    consumidor algo nico frente aos seus concorrentes. Porter (1986) ainda afirma

    que a diferenciao proporciona isolamento contra a rivalidade competitiva por

    criar lealdade dos consumidores a determinados atributos, reduzindo a

    sensibilidade em relao ao preo.

    Similarmente, o poder dos compradores tambm diminui, uma vez que

    eles no encontraro no mercado outro produto com as mesmas

    caractersticas. (CARNEIRO et al., 1997, p. 10)

    Essa estratgia envolve o desenvolvimento de produtos ou servios nicos, com base na lealdade marca e do cliente. Uma empresa pode oferecer qualidade mais alta, melhor desempenho ou caractersticas nicas; qualquer um desses fatores pode justificar preos mais altos. (MINTZBERG, 2000, p. 83)

    Nem sempre a diferenciao significa uma alta parcela de mercado.

    Quando se deseja diferenciar os produtos pela exclusividade, como no caso

    dos automveis de luxo (Mercedes-Benz) ou dos artigos de grife (Armani,

    Prada), os volumes de venda sero consideravelmente baixos, mas a aura de

    exclusividade permite a cobrana de preos bastante elevados para os

    produtos, proporcionando altos lucros para estas empresas.

    Por ltimo, existe a estratgia genrica de enfoque, que visa atender de

    forma plena a um determinado segmento, caracterizado pela linha de produtos,

    regio geogrfica ou perfil de consumidor. A estratgia repousa na premissa de

  • 23

    que a empresa capaz de atender seu alvo estratgico estreito de forma mais

    efetiva ou eficientemente do que os concorrentes que esto competindo de

    forma mais ampla.

    Esta estratgia procura atender segmentos de mercado estreitos. Uma empresa pode focalizar determinados grupos de clientes, linhas de produtos ou mercados geogrficos. A estratgia pode ser de foco na diferenciao, pela qual as ofertas so diferenciadas no mercado almejado, ou de foco na liderana em custo, pela qual a empresa vende a baixo custo no mercado almejado. Isto permite que a empresa se concentre no desenvolvimento de seu conhecimento e suas competncias. (MINTZBERG, 2000, p. 84)

    A estratgia de enfoque pode ser considerada aquela que considera os

    fatores positivos de desenvolvimento dos outros modelos de estratgia para

    atendimento a uma determinada meta estratgica. Ento, a empresa passa a

    focalizar o alvo que ela deseja atingir, e no os fatores de desenvolvimento

    estratgico do produto. Richers (2000, p.36) complementa tal fato dizendo que

    ... quanto mais diferenciado for o produto e quanto menor o custo, mais fcil

    ser atingir determinado foco, que, em ltima anlise, recomenda-se

    concentrar-se apenas em uma parcela do mercado, e no em todo o mercado.

    O objetivo de tal classificao determinar a maneira como o processo

    de mudana estratgica da empresa deve ocorrer. Quando a empresa define

    em qual estratgia genrica ela vai se alinhar, o conjunto de esforos para

    implementao da estratgia voltado a atender os requisitos da categoria

    escolhida.

    Para Richers (2000, p.34) esta categorizao importante porque ...

    precisamos de algo mais tangvel, que possamos mostrar aos subordinados e

    dizer: Siga este ou aquele caminho, mas decida-se por favor. Ou seja:

    precisamos determinar as alternativas de ao a seguir para que abranjam a

    empresa como um todo.

    Em complementao s trs estratgias genricas de Porter, a

    vantagem competitiva corresponde a forma como a empresa pode praticar

    cada uma das estratgias.

    Segundo Porter (1989), a vantagem competitiva est no mago do

    desempenho de uma empresa em mercados competitivos. Seguindo esta linha

    de raciocnio, a empresa necessita de uma vantagem competitiva para se

  • 24

    sobrepor s suas concorrentes em algum aspecto de forma a atender a uma

    demanda do consumidor.

    Porter (1989) afirma que a vantagem competitiva surge

    fundamentalmente do valor que uma empresa tem condies de criar para os

    seus compradores. A vantagem competitiva surge a partir do processo de

    criao de valor, em que os consumidores tendem a tornar-se clientes da

    empresa que fornea uma melhor relao entre o custo e o valor recebido do

    produto. Dranove e Marciano (2007), define valor como ...a diferena entre os

    benefcios desfrutados pelos clientes de uma empresa e seu custo de

    produo. O autor ainda categoriza que uma empresa em um mercado

    competitivo pode lucrar apenas se criar mais valor do que suas rivais.

    Esse processo de criao de valor, segundo Dranove (2007), ocorre

    atravs da relao B-C, descrita abaixo.

    Dranove e Marciano (2007), define valor como ...a diferena entre os

    benefcios (B) desfrutados pelos clientes de uma empresa e seu custo de

    produo (C). Os autores ainda categorizam que uma empresa em um

    mercado competitivo pode lucrar apenas se criar mais valor do que suas rivais.

    O valor de venda do produto est estabelecido entre estes dois valores. Cabe

    empresa determinar qual o valor adequado, e maximiz-lo (atravs da elevao

    dos preos ou da reduo das margens de lucro), como forma de aumentar

    seus ganhos e conferir uma posio de maior destaque no mercado.

    Essa atribuio de valor (pacote de benefcios) corresponde ao quanto o

    cliente est disposto a pagar a mais pela marca X em relao marca Y devido

    aos benefcios que ela proporciona. Cabe empresa determinar o quanto custa

    esse pacote de benefcios na hora de estabelecer o preo do produto.

    Empresas com posio mais slida no mercado podem se permitir estabelecer

    preos ligeiramente mais elevados, em patamares que o cliente aceite pagar.

    J as empresas entrantes no setor, ou de menor participao, devem atuar

    com preos um pouco mais baixos, como forma de atrao de clientes, e a

    partir destes, gerar um novo pacote de benefcios que permita a elevao dos

    preos (e estabelecimento de maiores margens de lucro) ao longo do tempo.

    De forma genrica, o processo de criao de valor corresponde ao

    procedimento adotado pela empresa para fazer com que seu cliente perceba

  • 25

    um maior valor em seu produto em relao ao custo para sua aquisio,

    consumo e manuteno.

    Para a manuteno da vantagem competitiva, importante a criao de

    barreiras entrada de novos competidores. Tais barreiras podem ser

    associadas a impedimentos imitao (patentes, registros de marca,

    localizao da empresa, imagem da marca), acesso aos insumos

    (verticalizao da produo, parcerias entre fornecedor e empresa) e, na

    cultura da empresa (cada empresa possui crenas e valores individuais).

    Outra forma de manuteno da vantagem competitiva est relacionada

    ao pioneirismo da empresa em determinado setor. Tal fato baseia-se na idia

    de que mais fcil criar um mercado do que roub-lo de algum. Essa

    vantagem reside no fato de que o pioneirismo apresenta uma maior

    credibilidade marca que o adota.

    Porm, os riscos tambm so muito elevados. A empresa pioneira tende

    a ter fracasso na medida em que os concorrentes fazem anlise de suas

    caractersticas (benchmarking) e aprimoram o seu produto, alm da posio de

    conforto que os gestores da empresa pioneira tendem a ter calcados no

    princpio da confiabilidade na marca que a empresa desfruta.

    Como fator positivo, existe a curva de aprendizagem. Quanto maior o

    tempo de existncia da empresa, maior a maturao das idias e do

    conhecimento adquirido pela organizao. Se esta possuir uma poltica de

    aprimoramento constante, o produto mantm-se atualizado e consolidado no

    mercado.

    Outro fator positivo so os custos de mudana, onde as primeiras

    empresas tendem a concentrar um maior nmero de consumidores e for-los

    a manuteno deles, gerando uma barreira a uma nova entrante.

    (GREENWALD, KAHN, 2006)

    O ponto-chave para a criao dos mecanismos acima corresponde

    defesa em relao s ameaas advindas dos concorrentes. Porter (1989)

    classifica estas ameaas em cinco grandes grupos: ameaa de entrada;

    intensidade da rivalidade entre os consumidores existentes; presso dos

    produtos substitutos; poder de negociao dos compradores; e, poder de

    negociao dos fornecedores.

  • 26

    No que se refere s ameaas de entrada, pode-se citar aquelas

    referentes vinda de novos concorrentes ao segmento onde a empresa j

    atua. Esses novos concorrentes tendem a trazer inovaes visando atingir os

    concorrentes j existentes e ganhar destaque junto aos clientes.

    O esprito inovador que esse concorrentes trazem consigo faz com que a

    empresa tenha que criar constantes e fortes mecanismos aos novos entrantes,

    alm de criar polticas de carter inovador em busca de uma imagem de

    vanguarda para o mercado consumidor.

    A criao de barreiras se faz necessria para diminuir o poder de

    inovao que estes novos concorrentes possuem. Para as empresas j

    existentes, o uso de mecanismos de economia de escala, diferenciao do

    produto, necessidade de grandes volumes de capital para sustentao das

    operaes, custos elevados de mudana, e acesso facilitado aos canais de

    distribuio so facilitadores para a manuteno da posio de destaque no

    mercado onde atua.

    Quanto intensidade da rivalidade entre os consumidores existentes, o

    acirramento da disputa entre empresas permite uma anlise de como a

    empresa e a concorrncia esto posicionadas no mercado.

    Em setores altamente competitivos, a guerra por preos mais atraentes

    prejudica a rentabilidade das empresas, embora seja benfica ao consumidor.

    Porter (1986) considera que as indstrias so mutuamente dependentes. Os

    movimentos de ao e reao das empresas com vistas a conquistar clientes

    dependem diretamente das aes tomadas por seus pares.

    O grau de acirramento da rivalidade varia de acordo com essa

    interdependncia das empresas concorrentes. Em setores onde as vantagens

    de uma empresa perante as outras so muito pequenas ou imperceptveis aos

    olhos do consumidor uma guerra de preos, por exemplo so bastante

    prejudiciais para o desempenho operacional das empresas atuantes.

    Porter (1986) considera como variveis estruturais de influncia no grau

    de rivalidade da concorrncia entre empresas fatores como: concorrentes

    numerosos ou bem equilibrados; crescimento lento da indstria; custos fixos ou

    de armazenamento altos; ausncia de diferenciao ou custos de mudana;

    capacidade aumentada em grandes incrementos; concorrentes divergentes;

    grandes interesses estratgicos, ou ainda, barreiras de sada elevadas.

  • 27

    Em relao presso dos produtos substitutos, Porter (1986) considera

    que os produtos substitutos so aqueles que cumprem a mesma funo dos

    fabricados pela indstria analisada.

    Um velho ditado diz que ningum insubstituvel. (MINTZBERG et al.,

    2000, p.83) A presso dos produtos substitutos caracterizada pela constante

    ameaa de que outros produtos venham a ocupar o espao dominado pela

    empresa no mercado.

    Os produtos substitutos reduzem os retornos potenciais de uma

    indstria, colocando um teto nos preos que as empresas podem fixar com

    lucro. (PORTER, 1986, p. 39) Porter (1986) ainda cita que os produtos

    substitutos no apenas limitam os retornos em perodos normais, mas tambm

    ocupam espaos nos mercados durante os perodos de prosperidade, limitando

    os ganhos da empresa.

    Como forma de defesa da posio do produto no mercado frente aos

    substitutos, o autor sugere aes publicitrias coletivas da indstria do setor

    para firmar a imagem do produto (de forma genrica, independente da marca)

    frente aos seus substitutos.

    Segundo Porter (1986), os compradores competem com a indstria

    forando os preos para baixo, barganhando por melhor qualidade ou mais

    servios e jogando os concorrentes uns contra os outros tudo a custa da

    rentabilidade da indstria.

    O poder de negociao dos compradores caracteriza-se pela presena

    de fatores como o alto grau de concentrao das vendas em um nico

    comprador; os produtos que o cliente adquire representam uma parcela

    substancial dos prprios custos; o baixo grau de diferenciao dos produtos

    que o comprador adquire; baixos custos de mudana; o comprador obtm

    baixos lucros; ameaa de integrao para trs (poder de auto-fabricao das

    matrias-primas necessrias) por parte dos compradores; baixo grau de

    importncia do produto para a qualidade do produto fabricado pelo comprador;

    e, alto grau de informao dos compradores.

    No caso do mercado de varejo, cabe destacar que os varejistas tambm

    podem ter um maior poder sobre o fornecedor quando podem influenciar as

    decises de compra entre uma marca e outra.

  • 28

    O poder de influncia dos fornecedores est calcado na ameaa de

    elevao do preo ou da reduo da qualidade dos insumos. Porter (1986)

    considera que as condies que servem de influncia para os compradores

    tambm aparecem no relacionamento com os fornecedores.

    Como reflexo desta relao, o fornecedor torna-se poderoso frente aos

    compradores se o setor dominado por poucas companhias e mais

    concentrado que seus clientes; no se obriga a concorrer com produtos

    substitutos; o cliente no representa parcela significativa das vendas; o produto

    fornecido essencial para o cliente; h um alto grau de diferenciao entre os

    produtos dos fornecedores ou altos custos de mudana; e, os fornecedores so

    uma ameaa de integrao para frente (capacidade de fabricar os produtos que

    seus clientes fabricam com o uso de sua matria-prima). (SILVA, 1988)

    Porter (1986) ainda trata a mo-de-obra como fornecedor, ressaltando

    que fatores como o alto grau de especializao e a escassez de profissionais

    como foras a favor destes fornecedores. Tambm, a sindicalizao da mo-

    de-obra configura uma grande dependncia por parte da empresa, dificultando

    possveis negociaes e diminuindo os lucros da empresa.

    Toda a realizao das atividades acima compreende um grande esforo

    de todas as reas da organizao. A obteno de maiores retornos est

    diretamente relacionada com a criao de valor. A associao destes dois

    conceitos est ligada ao conceito de cadeia de valor.

    Porter (1989) define valor como o montante que os compradores esto

    dispostos a pagar por aquilo que uma empresa lhes oferece. Essa definio

    categoriza que quanto maior a disposio para o cliente pagar, maior ser o

    montante gerado no caixa da empresa.

    Mas como gerar um maior montante? Porter (1989) coloca que a

    empresa deve criar valor de forma a cobrir seus custos e gerar algum retorno.

    O processo de criao de valor passa pelas atividades de valor da empresa.

    Essas atividades atuam em conjunto, mas, podem ser aprimoradas

    individualmente, de forma a oferecer um maior benefcio ao cliente, alm de

    aumentar a eficincia da empresa.

    Esse conjunto de atividades exemplificado por Porter (1989) no

    modelo da cadeia de valor. A formao de uma cadeia de valor dada atravs

  • 29

    de uma estrutura na qual se caracterizam as atividades da empresa em

    atividades primrias e de apoio.

    As atividades primrias correspondem aquelas que tratam diretamente

    do ciclo de produo do produto, desde a vinda das matrias-primas at a

    entrega ao consumidor. Nisso incluem-se as atividades de logstica interna

    (recebimento de matrias-primas, estocagem), operaes (processo produtivo),

    logstica externa (armazenagem de produtos acabados, sistema de

    distribuio), marketing & vendas (publicidade, atrao de consumidores, fora

    de vendas), e, servio (atendimento ps-venda.)

    As atividades de apoio so as que atendem as atividades primrias,

    dando suporte a execuo das atividades daquelas. Como atividades de apoio,

    Porter (1989) classifica a aquisio (sistemas de compra insumos, mquinas,

    materiais de escritrio, edifcios), a gerncia de recursos humanos

    (recrutamento, contratao, desenvolvimento, remunerao), o

    desenvolvimento de tecnologia (esforos para o aperfeioamento do produto e

    de seu processo de produo), e, infra-estrutura da empresa (conjunto de

    atividades gerncia geral, planejamento, finanas, contabilidade, apoio

    jurdico, gerncia de qualidade e, relaes governamentais).

    Figura 1 Cadeia de Valor genrica de Porter

    A Figura 1 representa essa categorizao. As atividades de apoio (parte

    superior da imagem) permeiam-se por toda a empresa, enquanto as atividades

  • 30

    primrias (parte inferior) obedecem a uma seqencia lgica do processo. Ao

    final existe a margem, que corresponde ao lucro que a empresa obter com

    todo este processo.

    Volberda (2004) entende que a Cadeia de Valor pode ser vista como um

    plano de anlise de alternativas produo interna ou contratao externa.

    Esse pensamento faz com que o processo de gesto da empresa seja

    analisado de forma a compreender quais alternativas so as mais adequadas

    aos objetivos estratgicos da organizao.

    Cabe empresa, determinar como a estrutura da empresa deve se

    comportar para obter uma maior criao de valor, e, ampliando a sua margem,

    gerar maiores lucros.

  • 31

    2.3 ESCOLA DO APRENDIZADO

    A Escola do Aprendizado ser abordada a partir da anlise das origens e

    premissas que constituem a escola, e, os mecanismos de mudana

    organizacional dentro do mbito estratgico.

    2.3.1 Origens e Premissas

    Neste item sero expostos o processo histrico de formao da escola

    origens e as caractersticas que constituem a Escola do Aprendizado.

    2.3.1.1 Origens

    Para Mintzberg et al. (2000), a Escola do Aprendizado teve como marco

    inicial a publicao do artigo A Cincia de Alcanar o Objetivo de Qualquer

    Maneira escrito por Charles Lindblom em 1959. Neste artigo, Lindblom sugere

    que a formulao de poltica um processo claro, ordenado e controlado, mas

    confuso, no qual seus responsveis tentam lidar com um ambiente

    demasiadamente complexo. Esse conceito quebrava todos os conceitos

    anteriores, mas mostrava-se aplicvel quando visto na prtica, tanto nas

    empresas quanto no poder pblico.

    Em seguimento a esta teoria, outros artigos foram publicados, como

    Bons Gerentes No Tomam Decises Polticas (1967), de H. Edward Wrapp.

    Porm, o livro Estratgias para a Mudana: Incrementalismo Lgico (1980),

    de James Brian Quinn, que deu o pontap inicial da Escola do Aprendizado.

    Em seguimento a este estudo, outros foram realizados tendo como base o

    mesmo tema, e este acabou por ser introduzido na anlise do pensamento

    estratgico.

    2.3.1.2 Premissas

    Dentro desta anlise do ambiente, bem como da sua complexidade,

    percebe-se que os colaboradores vo aprendendo a lidar com determinada

    situao na medida em que conhecem os efeitos de certas atitudes. Em

  • 32

    contraponto aos modelos anteriores de pensamento estratgico, os pacotes

    de estratgia no funcionam ou no so, em sua grande maioria, aplicados nas

    organizaes.

    Como resultado disso cria-se um impasse entre os formuladores da

    estratgia e os que realmente a aplicam. Os formuladores no conseguem

    compreender todas as variveis inerentes a aplicao da estratgia, bem como

    os aspectos culturais referentes aos executantes estratgicos. Devido a essa

    falta de sintonia entre as partes, o fracasso ocorre.

    A Escola do Aprendizado busca a causa deste problema, ou seja, como

    se d a formao da estratgia, e no a sua formulao.

    A formao da estratgia precede a sua formulao. A formao aborda

    os aspectos a partir de quem a executa, sua capacidade de compreenso dos

    objetivos estratgicos da empresa, sua importncia no processo e o grau de

    informao acerca da estratgia da organizao. J a formulao aborda os

    aspectos inerentes a montagem e definio do plano estratgico, bem como a

    indicao de como ele deve ser aplicado.

    A sintonia entre as partes (formuladores e executores) acontece quando

    os executores esto bem informados sobre o plano estratgico e, quando este

    plano elaborado de uma forma simples, de fcil compreenso e que permite

    aos executantes a sua aplicao.

    Pesquisadores da rea de aprendizado descobriram que grandes

    mudanas estratgicas no aconteciam atravs de um esforo formal de

    planejamento, mas sim a partir de um conjunto de pequenas aes e decises

    tomadas por pessoas dos mais diferentes nveis da organizao. Ao longo do

    tempo, estas pequenas mudanas, juntas, constituem-se num grande esforo

    estratgico (muitas vezes involuntrio).

    Com um maior volume de informaes circulando entre as diversas

    partes, o nmero de contribuies teis para a formulao da estratgia cresce

    significativamente.

    Mintzberg et al. (2000), a partir da anlise de uma srie de estudos,

    definiu cinco premissas bsicas para a Escola do Aprendizado:

    1. A natureza complexa e imprevisvel do ambiente da organizao, muitas

    vezes associada difuso de bases de conhecimento necessrias

  • 33

    estratgia, impede o controle deliberado; a formao de estratgia

    precisa, acima de tudo, assumir a forma de um processo de aprendizado

    ao longo do tempo, no qual, no limite, formulao e implementao

    tornam-se indistinguveis.

    2. Embora o lder tambm deva aprender e, s vezes, poder ser o principal

    aprendiz, em geral o sistema coletivo que aprende: na maior parte das

    organizaes h muitos estrategistas em potencial.

    3. Este aprendizado procede de forma emergente, atravs do

    comportamento que estimula o pensamento retrospectivo para que se

    possa compreender a ao. As iniciativas estratgicas so tomadas por

    quem quer que tenha capacidade e recursos para poder aprender. Isto

    significa que as estratgias podem surgir em todos os tipos de lugares

    estranhos e de maneira incomum. Algumas iniciativas so deixadas para

    que se desenvolvam ou no por si mesmas, ao passo que outras so

    escolhidas pelos defensores gerenciais que as promovem pela

    organizao e/ou alta administrao, dando-lhes mpeto. De qualquer

    maneira, as iniciativas bem-sucedidas criam correntes de experincias

    que podem convergir para padres que se tornam estratgias

    emergentes. Uma vez reconhecidas, estas podem ser tornadas

    formalmente deliberadas.

    4. Assim, o papel da liderana passa a ser de no preconceber estratgias

    deliberadas, mas de gerenciar o processo de aprendizado estratgico,

    pelo qual novas estratgias podem emergir. Portanto, a administrao

    estratgica envolve a elaborao das relaes sutis entre pensamento e

    ao, controle e aprendizado, estabilidade e mudana.

    5. Dessa forma, as estratgias aparecem primeiro como padres do

    passado; mais tarde, talvez, como planos para o futuro e, finalmente,

    como perspectivas para guiar o comportamento geral.

    O processo de aprendizado, como ferramenta de auxlio gesto,

    estimula a mudana de atitudes dentro da organizao. Esse estmulo permite

    que a empresa evolua sua estratgia organizacional.

  • 34

    2.3.2 Mudana

    A Escola do Aprendizado apresenta diversos estgios evolutivos

    (MINTZBERG et al., 2000) que demonstram como os conceitos acima foram

    constitudos. Tais estgios so fatores determinantes de como o processo de

    mudana determina o elemento estratgico da organizao.

    No comeo da dcada de 60, Charles Lindblom, em conjunto com um

    colega (tambm professor da Yale University), escreveu um livro com um

    conjunto de idias chamado de incrementalismo desarticulado. (MINTZBERG,

    2000) Este livro descreveu a gerao de polticas como um processo serial,

    teraputico e fragmentado, onde as decises so tomadas mais para resolver

    problemas do que explorar oportunidades. Lindblom (apud MINTZBERG, 2000)

    afirma que vrios aspectos da poltica pblica e mesmo de qualquer problema

    ou rea problemtica so analisados em vrios pontos no tempo, sem

    nenhuma coordenao aparente. Resumindo, havia apenas um mecanismo de

    ajuste mtuo.

    Em obra posterior, Lindblom afirma que esta gerao de polticas um

    processo de etapas sucessivas que substituem uma grande ao. As decises

    so graduais, sem grande impacto aparente, pois os tomadores de deciso no

    conhecem o tamanho do universo ao qual tem o comando.

    Tal modelo no pode ser considerado estratgia, pois, como citou

    Mintzberg (2000), estratgia um padro, e, estas decises no seguem um

    padro pr-determinado. Porm, esta teoria serviu como base para a formao

    do incrementalismo lgico.

    O incrementalismo lgico surgiu a partir dos estudos de Quinn (1980). O

    autor deu prosseguimento aos estudos de Lindblom sobre a natureza

    incremental do processo (MINTZBERG et al., 2000), porm usou como objeto

    de estudo as empresas, ao contrrio de Lindblom, que utilizou o poder pblico.

    Esta mudana no objeto de estudo fez com que um ponto-chave da

    teoria de Lindblom fosse questionado e refutado por Quinn: nas corporaes as

    decises no so apenas para a resoluo de problemas, mas tambm contm

    uma lgica atravs da qual os diversos agentes atuantes uniam as partes e

    chegavam a um resultado comum (estratgia final).

  • 35

    Quinn (apud MINTZBERG et al., 2000) descreve a organizao como

    um conjunto de subsistemas, onde cada subsistema desenvolve um aspecto

    especfico que possui importncia ao conjunto da organizao. Cabe alta

    gerncia desenvolver um padro convergente de comando e de deciso de

    cada subsistema.

    A equipe de alta gerncia, assim como nas escolas anteriores, ainda a

    responsvel pela formulao da estratgia, porm os subordinados no

    necessariamente acatam totalmente as ordens de comando.

    A teoria de Quinn ainda guarda muitos aspectos das escolas

    prescritivas, como a deciso de formular a estratgia estar diretamente ligada

    ao alto comando, sendo que os subordinados exercem papis menores no

    processo. Tambm apresenta um carter prescritivo ao apresentar um rol de

    recomendaes para o incrementalismo lgico

    Para Quinn (1982, apud MINTZBERG et al., 2000, p. 74) as

    recomendaes para o incrementalismo lgico esto categorizadas em 12

    itens:

    1. Liderar o sistema informal de informao. Raramente, os sinais iniciais

    para mudana estratgica provm dos sistemas formais de explorao

    do horizonte ou de relato da empresa. Em vez disso, a sensao inicial

    de necessidade de grandes mudanas estratgicas frequentemente

    descrita como alguma coisa com a qual voc no se sente bem,

    inconsistncias, ou anomalias (Normann, 1977 apud MINTZBERG et

    al., 2000)... Os gerentes eficazes... usam... redes... para evitar todas as

    cuidadosas filtragens que suas organizaes constroem.

    2. Criar ateno organizacional. Nos estgios iniciais da formao de

    estratgia, os processos gerenciais raramente so diretivos. Ao

    contrrio, eles provavelmente envolvem estudar, questionar, perguntar,

    ouvir, falar com pessoas criativas fora dos canais comuns de deciso,

    gerar opes, mas evitar propositadamente compromissos

    irreversveis.

    3. Gerar credibilidade, mudar smbolos. Sabendo que no podem

    comunicar-se diretamente com os milhares que precisam implementar a

    estratgia, muitos executivos empreendem, propositadamente, algumas

  • 36

    aes simblicas muito visveis, as quais transmitem, sem palavras,

    mensagens complexas que eles nunca poderiam comunicar to bem, ou

    com tanta credibilidade, em termos verbais.

    4. Legitimar novos pontos de vista. Os altos executivos podem criar,

    intencionalmente, foros de debates ou horrios de folga para que suas

    organizaes possam discutir questes ameaadoras, determinar as

    implicaes de novas solues ou obter uma base melhor de informao

    que permita que as novas opes sejam avaliadas de forma objetiva em

    comparao com as alternativas mais conhecidas.

    5. Buscar mudanas tticas e solues parciais. Os executivos podem,

    muitas vezes, conseguir acordo em relao a uma srie de pequenos

    programas quando uma mudana ampla e objetiva iria enfrentar muita

    oposio... medida que os eventos se desenrolam, as solues para

    vrios problemas, inicialmente dissociados, tendem a fluir em conjunto

    para uma nova sntese.

    6. Ampliar o apoio poltico. A ampliao do apoio poltico para novos

    impulsos emergentes , com freqncia, um passo essencial e

    conscientemente pr-ativo em grandes mudanas de estratgia.

    Comits, foras-tarefa, ou retiros tendem a ser mecanismos teis.

    7. Superar a oposio. Os executivos cuidadosos persuadem pessoas na

    direo de novos conceitos sempre que possvel, cooptam ou

    neutralizam oposies srias, se necessrio... A seleo de pessoal e o

    gerenciamento de coalizes so os melhores controles que os gerentes

    tem para guiar e coordenar as estratgias das suas empresas.

    8. Estruturar conscientemente a flexibilidade. Ningum pode prever a forma

    ou o momento precisos de todas as ameaas e oportunidades

    importantes que uma empresa pode encontrar. Portanto, a lgica manda

    que os executivos incluam intencionalmente flexibilidade em suas

    organizaes e tenham recursos prontos para aplicar de forma

    incremental na medida em que os eventos exijam. Isto requer... a

    criao de amortecedores ou folgas de recursos suficientes para se

    responder aos eventos conforme estes se desenrolem... desenvolvendo

    e posicionando defensores, que estaro motivados para tirar proveito

    de oportunidades especficas medida que ocorram e encurtando as

  • 37

    linhas de deciso entre estas pessoas e o topo para uma resposta

    rpida do sistema.

    9. Desenvolver bales de ensaio e bolses de comprometimento. Os

    executivos tambm podem lanar, conscientemente, bales de ensaio...

    para atrair opes e propostas concretas.

    10. Cristalizar o foco e formalizar o comprometimento. Os altos executivos

    mantm, intencionalmente, as declaraes iniciais de metas vagas e os

    comprometimentos amplos e tentativos... Ento, na medida em que se

    desenvolvem informaes ou consenso sobre impulsos desejveis, eles

    podem usar seu prestgio ou seu poder para forar ou cristalizar um

    determinada formulao.

    11. Empenhar-se em mudanas constantes. Mesmo quando a organizao

    chega ao seu novo consenso, os altos executivos devem providenciar

    para que tambm este no se torne inflexvel. Portanto, os executivos

    estratgicos eficazes introduzem imediatamente novos focos e estmulos

    no topo, para comear a mudar os prprios impulsos estratgicos que

    eles acabaram de solidificar um estado psicolgico muito difcil, mas

    essencial.

    12. Reconhecer que a estratgia no um processo linear. A validade da

    estratgia no est em sua clareza cristalina ou em sua estrutura

    rigorosamente mantida, mas sim em sua capacidade de captar a

    iniciativa, lidar com eventos imprevisveis, redistribuir e concentrar

    recursos medida que novas oportunidades e novos impulsos emergem

    e, com isso, usar os recursos selecionados de forma mais eficaz.

    Outra perspectiva de anlise do processo de formao da estratgia

    dentro de uma organizao conhecida como Empreendimento Estratgico.

    Essa linha de pensamento trabalha de uma maneira semelhante ao

    incrementalismo lgico desenvolvido por Quinn. Porm, essa perspectiva traz o

    conceito de que existem defensores internos em relao idias para

    mudanas estratgicas. Esses defensores so formados por agentes

    estratgicos, que, de acordo com seus pontos de vista sobre aes tomadas

    pela organizao com vistas a atender os objetivos estratgicos.

  • 38

    Como, quase sempre, a teoria distancia-se da realidade, os objetivos

    pr-estabelecidos tambm no contemplam todas as variveis que possam

    influenciar as aes estratgicas da organizao. Esse distanciamento permite

    aos colaboradores da organizao criar propostas ou empreendimentos que

    possam atingir os objetivos estratgicos, ou ainda, fazer alteraes nestes

    objetivos visando a melhoria dos resultados da empresa.

    Tal sistema s passvel de ser aplicado quando as pessoas que atuam

    na organizao contm as aptides necessrias para tornar-se

    empreendedores internos. Estes, assim como os empreendedores externos,

    devem buscar os recursos para a aplicao de suas propostas dentro da

    organizao, alm de persuadir a alta administrao para a aceitao da idia

    (os empreendedores externos utilizam-se de atitudes semelhantes, porm,

    para buscar fontes de capital para execuo do projeto).

    Normalmente, os empreendimentos internos surgem na base da

    pirmide hierrquica da empresa. Profissionais de nvel mdio (gerentes) do

    suporte idia e buscam a autorizao dos altos gestores da organizao.

    De acordo com Mintzberg et al. (2000), o processo de empreendimento

    interno pode culminar em movimentao estratgica, mas no

    necessariamente de forma coordenada, ou seja, atravs de um planejamento

    estratgico. Um desafio para as organizaes extrair o conhecimento oriundo

    do carter empreendedor de seus membros e convergi-lo para os objetivos

    estratgicos pr-estabelecidos.

    Outra maneira de entender o processo de formao estratgica

    atravs da estratgia emergente. Para esta forma de pensamento, existem

    duas estratgias, a deliberada, formada atravs de um processo planejado de

    desenvolvimento da estratgia e busca o controle do processo, e a emergente,

    que surge a partir do aprendizado de situaes vivenciadas pela organizao.

    Esse conceito abre a possibilidade do aprendizado estratgico, que o

    reconhecimento e anlise das situaes e resultados vivenciados pela

    organizao, transformados em conhecimento para posterior aplicao na

    formulao e implementao da estratgia. Isto no um processo de tentativa

    e erro. Mas sim a utilizao do feedback como fator de influncia nas decises

    tomadas pela organizao.

  • 39

    O processo de emergncia da estratgia no necessariamente surge

    nos nveis hierrquicos mais baixos, nem necessita de um lder. Ele surge a

    partir da identificao, por uma pessoa ou um grupo de pessoas, de uma nova

    viso estratgica que pode gerar resultados superiores em relao aos

    desenvolvidos anteriormente no processo de formao da estratgia.

    Esse processo de emergncia tambm no necessariamente algo

    planejado. Essa nova estratgia vem para aprimorar a aplicao de estratgia

    da empresa. Um exemplo: um vendedor, ao apresentar o portflio de produtos

    a um cliente, percebe maior aceitao de um produto que no recebe tanto

    destaque por parte da empresa, enquanto o produto em destaque fica,

    mercadologicamente, em segundo plano. Naturalmente, o vendedor vai focar

    as vendas no item que atinge melhor resultado. Em um segundo momento, a

    empresa, ao verificar que a demanda por seus produtos diferente da

    planejada, vai fazer as correes na linha de produo para atender a

    demanda.

    O processo ocorre naturalmente, at algum identificar o erro e fazer a

    correo. A empresa, como ferramenta geradora de conhecimento, deve criar

    oportunidades para que os colaboradores desenvolvam novas idias que

    permitam desenvolver e aprimorar a estratgia da organizao.

    No processo de compreenso retrospectiva, entende-se que a anlise

    de experincias anteriores permite a aquisio de uma expertise para a

    aplicao em situaes futuras. O ponto-chave que faz a compreenso

    retrospectiva transformar-se num fenmeno importante para a estratgia da

    empresa o constante processo de aprendizagem e retrospeco. Para essa

    teoria, o processo de aprendizado e anlise das experincias anteriores deve

    ser feito constantemente. A empresa, na figura de seus colaboradores, no

    deve deixar de aprender a partir do momento em que comea a executar o

    plano estratgico.

    Numa juno das teorias da Estratgia Emergente e da Compreenso

    Retrospectiva, uma nova perspectiva de anlise se abre. Enquanto para a

    Estratgia Emergente ocorre a fuso entre o que foi deliberado e os fatos

    ocorridos durante o processo de execuo, para a Compreenso Retrospectiva

    ocorre um relacionamento entre a vivncia da empresa e a elaborao e

    aplicao do plano estratgico.

  • 40

    As duas teorias mostram-se complementares no momento em que se

    entende que as aes emergentes so oriundas de um processo de

    aprendizado obtido atravs da vivncia dos colaboradores no decorrer do

    processo. Pode-se considerar que esse aprendizado sirva para que se faam

    correes de rota nos pontos que no foram muito bem estabelecidos no

    plano estratgico.

    Num segundo momento, pode-se compreender que a capacidade de

    emergir estratgias vai ao encontro da pr-disposio da empresa em

    desenvolver capacidades de aprendizagem em seus colaboradores. Senge et

    al (1999) refora esta teoria:

    Desenvolver capacidades de aprendizagem no contexto de grupos de trabalho e metas reais de negcio pode levar a processos poderosos de estimulao do crescimento. (...) A sustentao de qualquer processo de mudana profunda requer uma mudana fundamental na maneira de pensar. (SENGE, 1999, p. 21.)

    Prahalad e Hamel (2005) vo alm no desenvolvimento da tese de que a

    criao das condies para o aprendizado dos colaboradores fundamental

    para a organizao. Os autores entendem que deve ser criado um desafio, algo

    que a empresa deve atingir a partir do processo de aprendizado.

    Na ausncia de desafios nitidamente definidos, os funcionrios ficam

    mais ou menos impotentes para contribuir para a competitividade.

    (PRAHALAD e HAMEL, 2005, p. 160)

    O desenvolvimento da capacidade de aprendizado da equipe, o

    comprometimento dos colaboradores com a empresa, a disposio das

    pessoas em assimilar e aprender com as situaes passadas, e a gerao de

    novas idias conseqncia de um aprendizado produtivo so fatores

    importantes para a formulao e implementao da estratgia da organizao.

    Senge (2002) confirma tal fato ao dizer que o QI da equipe pode,

    potencialmente, ser muito maior do que o QI dos indivduos. A inteligncia

    coletiva, desenvolvida atravs do aprendizado e da troca de experincias um

    fator altamente produtivo.

  • 41

    2.4 ESCOLA DE CONFIGURAO

    A Escola de Configurao ser abordada a partir da anlise das origens

    e premissas que constituem a escola, e, os mecanismos de mudana

    organizacional dentro do mbito estratgico.

    2.4.1 Origens e Premissas

    Neste item sero expostos o processo histrico de formao da escola

    origens e as caractersticas que constituem a Escola de Configurao.

    2.4.1.1 Origens

    Os estudos acerca da escola de configurao tiveram seu comeo na

    McGill University, com a chegada de Pradip Khandwalla Faculdade de

    Administrao daquela instituio (MINTZBERG et al., 2000, p. 225).

    Khandwalla desenvolveu em sua tese de doutoramento uma concepo

    emprica desta abordagem. Em sua tese, o autor identificava que o sucesso da

    estratgia das empresas no estava em atributos especficos, mas na

    combinao de diversos atributos, que, complementares, garantiam uma

    estrutura especificamente adequada gesto de determinada empresa.

    Tal descoberta levou ao grupo de poltica gerencial da McGill University

    a desenvolver melhor tal conceito, concretizado em dois livros escritos por

    Henry Mintzberg: The Structuring of Organizations (1979) e Power in Around

    Organizations (1983). Esses dois livros fazem uma anlise das diversas

    configuraes de estrutura e poder existentes nas organizaes. Associando

    as diversas configuraes existentes de estrutura e poder, Mintzberg et al.

    (2000) chega a sete diferentes categorias:

    a) Organizao Empreendedora: Estrutura pequena, normalmente

    composta pelo patro e o restante do corpo de profissionais da empresa.

    Sua configurao de poder compreende pelas decises tomadas pelo

    patro, de forma bastante dinmica e flexvel. Essa estrutura encontra-

    se comumente em empresa de pequeno porte e/ou recm nascidas;

  • 42

    b) Organizao Mquina: Como resultado da Revoluo Industrial, esta

    organizao bastante programada, com alto grau de especializao

    dos cargos e funes. O trabalho torna-se altamente padronizado, sendo

    formado por dois grandes grupos de profissionais: equipe tecnocrtica

    formada pelos planejadores, que programam o trabalho de todos e,

    quadro de assessoria formado por profissionais que fornecem auxlio

    ao corpo tcnico. A organizao mquina visvel em indstrias

    estveis e maduras.

    c) Organizao Profissional: Aqui, o nvel de descentralizao do poder

    elevado, pois este fica delegado a profissionais altamente

    especializados. Como conseqncia, o trabalho bastante padronizado,

    permitindo aos gestores garantir os resultados da gesto da empresa

    atravs dos resultados automaticamente esperados de seus

    profissionais. Tal organizao pode ser encontrada em hospitais e

    laboratrios.

    d) Organizao Diversificada: Essa organizao perde o carter

    integrado e mostra-se um conjunto de organizaes independentes,

    relacionadas por uma estrutura administrativa comum e por objetivos

    estratgicos semelhantes. Organizaes formadas por clulas

    independentes de trabalho ou universidades com vrios campi so

    exemplos de organizaes deste formato.

    e) Organizao Adhocracia: Formao encontrada em empresas que

    necessitam de alto grau de inovao, tais organizaes so formadas

    por equipes de trabalho de profissionais de diferentes especialidades,

    que se coordenam atravs de mecanismos de ajuste mtuo. O poder

    baseia-se em conhecimentos, assim, reduz-se a distino entre linha-

    assessoria, e entre o alto escalo e os outros colaboradores. Como

    exemplo de empresas que atuam com este modelo temos as indstrias

    aeronuticas, estdios de cinema e empresas que atuam por projetos.

    f) Organizao Missionria: Composta por uma cultura forte, este tipo de

    organizao possui um diviso frouxa do trabalho, onde todos os

    indivduos cooperam em prol de um objetivo comum. Com isso, h certa

    liberdade de ao por parte de seus colaboradores e uma expectativa

    coletiva de que os resultados sero atingidos, justificados pelo

  • 43

    comprometimento que os colaboradores possuem na organizao.

    Clubes e organizaes religiosas so exemplos comuns de

    organizaes deste tipo.

    g) Organizao Poltica: Essa organizao demonstra nenhuma

    definio de sistema de poder estvel, mas mantm sua sobrevivncia

    pela interdependncia que seus indivduos possuem para poder atuar.

    Essas organizaes caracterizam-se pelo carter temporrio de

    atuao, ou, ainda pela dependncia que seus agentes externos

    (stakeholders) possuem em relao quela entidade. rgos

    governamentais so exemplos claros de organizaes deste tipo, mas,

    nos tempos atuais, os grandes bancos norte-americanos e europeus em

    crise financeira ou corporaes altamente endividadas como a General

    Motors tambm se encaixam dentro desta categoria.

    Com a caracterizao das estruturas de poder das organizaes, os

    professores da McGill University iniciaram um projeto de pesquisa onde, em um

    longo prazo, analisaram as aes estratgicas de grandes corporaes visando

    encontrar perodos de estabilidade e grandes sobressaltos estratgicos das

    organizaes ao longo de sua histria. Com a identificao de tais estgios, os

    pesquisadores puderam identificar como as transformaes ocorriam nas

    empresas e como ela se configurava ao longo do tempo.

    2.4.1.2 Premissas

    Mintzberg et al. (2000) classifica a Escola da Configurao em seis

    premissas bsicas, que guardam certas semelhanas com as escolas

    anteriores:

    a) Na maior parte das vezes, uma organizao pode ser descrita em

    termos de algum tipo de configurao estvel de suas caractersticas:

    para um perodo distinguvel de tempo, ela adota uma determinada

    forma de estrutura adequada a um determinado tipo de contexto, o que

    faz com que ela se engaje em determinados comportamentos que do

    origem a um determinado conjunto de estratgias.

  • 44

    b) Esses perodos de estabilidade so ocasionalmente interrompidos por

    algum processo de transformao um salto quntico para outra

    configurao.

    c) Esses estados sucessivos de configurao e perodos de

    transformao podem se ordenar ao longo do tempo em seqncias

    padronizadas, por exemplo, descrevendo ciclos de vida das

    organizaes.

    d) Portanto, a chave para a administrao estratgica sustentar a

    estabilidade ou, no mnimo, mudanas estratgicas adaptveis a maior

    parte do tempo, mas reconhecer periodicamente a necessidade de

    transformao e ser capaz de gerenciar esses processos de ruptura sem

    destruir a organizao.

    e) Assim sendo, o processo de gerao de estratgia pode ser de

    concepo conceitual ou planejamento formal, anlise sistemtica ou

    viso estratgica, aprendizado cooperativo ou politicagem competitiva,

    focalizando cognio individual, socializao coletiva ou a simples

    resposta s foras do ambiente; mas cada um deve ser encontrado em

    seu prprio tempo e contexto. Em outras palavras, as prprias escolas

    de pensamento sobre formao de estratgia representam

    configuraes particulares.

    f) As estratgias resultantes assumem a forma de planos ou padres,

    posies ou perspectivas ou meios de iludir; porm, mais uma vez, cada

    um a seu tempo e adequado sua situao.

    2.4.2 Mudana

    Para Mintzberg et al. (2000) existem dois lados importantes da Escola da

    Configurao, a configurao e a transformao. Segundo o autor, a

    configurao corresponde aos estados da organizao e do seu contexto, e a

    transformao relaciona-se ao processo de gerao de estratgia.

    Mintzberg et al. (2000) ainda relaciona as duas escolas dizendo que ...

    trata-se de dois lados da mesma moeda: se uma organizao adota estados de

    ser, ento a gerao de estratgia torna-se um processo de saltar de um

    estado para outro.

  • 45

    Como contraponto, Mintzberg relaciona a relao que a estratgia tem

    com o carter da mudana na forma de pensar e agir na organizao e o grau

    de estabilizao que a mesma assume aps a adoo de uma estratgia

    estabelecida. Como resultado de tal anlise, o autor conclui que a Escola da

    Configurao aborda exatamente isso: ... descreve a estabilidade relativa da

    estratgia dentro de determinados estados, interrompida por saltos

    ocasionais e mesmo enormes para novos estados.

    O conceito de ciclos de mudana parece bvio a partir do momento em

    que se entende que o indivduo no pr-ativo durante todo o tempo. Faz-se

    necessrio o acompanhamento constante do plano estratgico, mas este

    acompanhamento tambm sugere um perodo de estabilidade, enquanto tal

    estratgia mostra-se bem sucedida.

    Segundo Dicionrio Michaelis (2009) mudana significa modificao ou

    alterao de sentimentos ou atitudes. A ideia de mudana est associada

    rejeio de alguma situao presente. Ento, o ciclo de transformao ocorre

    porque acontece uma rejeio em relao configurao anterior da

    organizao.

    A viso de mudana no pode ser considerada como um ponto negativo.

    Talvez seja exatamente o contrrio. A estabilidade como um fator negativo. O

    ambiente externo organizao muda diariamente. Cabe empresa identificar

    tais mudanas e progredir junto com elas. Evidentemente, o ritmo destas

    mudanas no deve ser acelerado durante todo o tempo. Mas fazer a leitura do

    mercado e adaptar a empresa a esta realidade fator vital para a sua

    sobrevivncia.

    Mintzberg et al. (2000) trata a mudana em dois ritmos: revolucionria, e,

    gradual. Na primeira forma, revolucionria, pode-se trat-las como sendo parte

    do ciclo de transformao das organizaes, atravs da qual uma grande

    ruptura com o modelo estratgico atual feita, e, um novo direcionamento

    dado organizao.

    No ritmo gradual, a mudana est associada aos diversos ajustes de

    rota feitos durante o ciclo de configurao. Como o mundo no para e a

    empresa no muda sua estratgia todos os dias, as pequenas correes para a

    manuteno (ou o alcance) da posio desejada so necessrias e

    fundamentais para o alcance dos objetivos corporativos.

  • 46

    A mudana no pode ser gerenciada. Ela um fator cultural. A pr-

    disposio para a mudana faz com que as organizaes evoluam. O

    gerenciamento ocorre no direcionamento das mudanas, mas, a partir do

    momento em que os membros da organizao mostram-se reativos

    mudana, o processo se torna lento e complexo, podendo, inclusive, vir a ser

    inviabilizado.

    A Escola do Aprendizado mostra como a mudana pode ser feita atravs

    da cultura organizacional. As indstrias asiticas tm por hbito propor

    melhorias constantes em seu processo produtivo. Isso ocasiona mudanas

    graduais, porm contnuas, que fazem com que a organizao esteja sempre

    em processo de transformao e adaptao estratgica s mudanas do

    entorno.

    A Escola da Configurao trata do processo de formao e aplicao da

    estratgia, bem como o processo de mudana ou virada estratgica por parte

    da organizao. Ento, ela acaba por agregar conceitos oriundos de outras

    escolas. Ao analisar os processos de mudana, por exemplo, a Escola da

    Configurao retoma conceitos j vistos na Escola do Aprendizado.

    Como a Escola da Configurao faz uma anlise temporal da estratgia

    da empresa, ela acaba por no estudar os procedimentos de formulao da

    estratgia, mas sim o quando ela foi aplicada. Considerando este fato, a Escola

    da Configurao no surge como substituta de outras escolas. Dependendo da

    tica do analista, outras escolas devem ser utilizadas para complementar o

    estudo sobre a estratgia na organizao.

    No que se refere aos estudos sobre estrutura organizacional e sua

    relao com a estratgia, Mintzberg et al. (2000) retoma os estudos de

    Chandler, que analisa o ciclo de vida das organizaes. Chandler classificou

    em as organizaes em quatro estgios distintos, de acordo com o momento

    que elas estavam vivendo. Essa classificao atravs do ciclo de vida

    corresponde aos ciclos de transformao e configurao organizacional

    propostos pela Escola da Configurao.

    Nos diversos estudos realizados pelos tericos da Escola da

    Configurao, verifica-se uma forte relao da empresa com os processos de

    mudana. Os autores sugerem a adoo de diversos modelos de

    gerenciamento da mudana com vistas a controlar este processo. A

  • 47

    administrao das mudanas permite organizao um planejamento da

    aes efetivas a serem tomadas, buscando ampliar o perodo de estabilidade

    estratgica (configurao) da organizao.

    Para Mintzberg et al. (2000, p. 238), ... talvez a melhor maneira para

    gerenciar mudanas permitir que elas aconteam preparar as condies

    pelas quais as pessoas iro seguir seus instintos naturais para experimentar e

    transformar seus comportamentos.

  • 48

    3. METODOLOGIA

    A elaborao de um estudo requer a adoo de prticas que permitem a

    compreenso, por parte do leitor, de como foi realizado o trabalho. Ao definir as

    metodologias utilizadas, o autor permite ao leitor a compreenso do processo e

    dos fenmenos ocorridos no estudo.

    O uso de metodologias adequadas permite a constatao de todas as

    caractersticas que compem este estudo. A correta utilizao das

    metodologias de pesquisa permite a um novo pesquisador comprovar os fatos

    descritos.

    Godoy (1995a) reafirma essa tese ao dizer que a pesquisa se

    caracteriza como um esforo cuidadoso para a descoberta de novas

    informaes ou relaes e para a verificao e ampliao do conhecimento

    existente.

    Trs fatores merecem maior destaque: o tipo de pesquisa, a coleta de

    dados e as limitaes da pesquisa.

    3.1 TIPO DE PESQUISA

    Segundo Godoy (1995a) a pesquisa pode ser classificada como

    descritiva, pois ela visa a compreenso ampla do fenmeno que est sendo

    estudado, considera que todos os dados da realidade so importantes e devem

    ser examinados. No caso desta pesquisa, o fenmeno o prprio caso

    analisado.

    De acordo com Godoy (1995b), o tipo de pesquisa que melhor se

    adequa a este trabalho o estudo de caso. A autora cita que ... se caracteriza

    como um tipo de pesquisa cujo objeto uma unidade que se analisa

    profundamente. Visa ao exame detalhado de um ambiente, de um simples

    sujeito ou de uma situao particular.

    Essa unidade a ser analisada a Cidade Pedra Branca, local escolhido

    como referncia para a pesquisa.

    Zikmund (2006) ainda define que o estudo de caso requer uma imerso

    total do pesquisador dentro da organizao a ser analisada, e, para que esta

    anlise seja executada de uma maneira mais eficiente, interessante que haja

  • 49

    uma colaborao da empresa sob anlise no fornecimento de dados e

    informaes teis resoluo do problema de pesquisa.

    O estudo de caso uma tcnica de pesquisa qualitativa de carter

    descritivo, pois, segundo Zikmund (2006), o objetivo da pesquisa pretende

    obter uma resposta qualitativa, descrevendo um fenmeno. Em contraponto, as

    pesquisas quantitativas, segundo o mesmo autor, visam determinar a

    quantidade ou a extenso de um fenmeno em forma de nmeros.

    3.2 COLETA DE DADOS

    Dentre os diversos mecanismos de coleta de dados, foram utilizados

    para a realizao deste trabalho quatro tipos: questionrio, entrevista semi-

    estruturada, levantamento de dados secundrios e observao.

    No que se refere ao questionrio, Mattar (1999) define como um

    instrumento de coleta de dados lido e preenchido pelo pesquisado, sem a

    figura do entrevistador. Neste trabalho, foi elaborado um questionrio com

    questes abertas prvias acerca da organizao com o intuito de adquirir maior

    conhecimento sobre a mesma para uma posterior entrevista.

    A entrevista foi realizada atravs do mtodo semi-estruturado, onde foi

    elaborado um conjunto preliminar de perguntas a partir das quais, com as

    respostas do entrevistado, foi desenvolvido melhor o tema da questo-base.

    Zikmund (2006) utiliza o termo sondagem para a descrio desta tcnica.

    O levantamento de dados secundrios, segundo Zikmund (2006) o

    conjunto de informaes anteriormente coletadas e reunidas para algum

    projeto diferente daquele em que se est trabalhando no momento. Esses

    dados podem ser coletados atravs da Internet, outros trabalhos, matrias

    jornalsticas e artigos cientficos. Para a realizao deste estudo, houve uma

    pesquisa bibliogrfica prvia, como forma de conhecimento acerca do tema, e

    anlise documental, a partir de matrias jornalsticas, contedo disponibilizado

    em sites na Internet e material institucional fornecido pela empresa.

    Zikmund (2006) descreve a observao como um ... processo

    sistemtico de registro dos padres de comportamento de pessoas, objetos e

    ocorrncias tais como testemunhados.

  • 50

    A observao pode ser classificada em disfarada (onde o observado

    no est ciente da presena do observador), e no-disfarada (quando h

    cincia do processo). Neste trabalho, adotou-se a observao no-disfarada,

    onde havia um processo de interao entre o observador e a organizao

    estudada.

    3.3 LIMITAES DA PESQUISA

    Toda e qualquer pesquisa, naturalmente, possui fatores limitantes. Estes

    fatores possuem influncia no resultado do trabalho.

    Como fatores limitantes deste trabalho, pode-se citar:

    a) dificuldade em relao veracidade dos dados;

    b) disponibilidade da empresa para fornecimento de informaes;

    c) escassez de tempo para analise; e,

    d) o pesquisador analisa externamente a organizao.

    No que tange a dificuldade na relao com a veracidade dos fatos, est

    destacada a viso unilateral, ou seja, h apenas uma perspectiva de anlise

    muitas vezes aquela fornecida pela organizao podendo causar um vis de

    pesquisa. Para minimizar essa limitao, o fator observao de vital

    importncia, at para a realizao de questionamentos mais profundos em

    relao empresa.

    Quanto ao fornecimento de informaes, isso se deve ao volume de

    trabalho que a equipe do Cidade Pedra Branca possua no perodo de

    realizao da pesquisa. Essa dificuldade foi ocasionada pela falta de tempo na

    agenda profissional dos gestores da empresa para a realizao de entrevistas.

    A escassez de tempo para anlise pode ser considerada como

    conseqncia da limitao anterior, mas tambm houve uma dificuldade por

    parte do pesquisador na definio do caso a ser estudado. Este fator retardou o

    comeo da anlise, prejudicando o andamento dos trabalhos.

    O ltimo fator limitante justifica-se pelo fato do pesquisador no

    participar ativamente da organizao. Esta limitao prejudica na anlise de

    fenmenos cotidianos que influenciam no processo de gest