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 www.interfacehs.sp.senac.br  http://www.interfacehs.sp.senac.br/br/secao_interfacehs.asp?ed=10&cod_artigo=174 ©Copyright, 2006. Todos os direitos são reservados.Será permitida a reprodução integral ou parcial dos artigos, ocasião em que deverá ser observada a obrigatoriedade de indicação da propriedade dos seus direitos autorais pela INTERFACEHS, com a citação completa da fonte. Em caso de dúvidas, consulte a secretaria: [email protected]. br LOGÍSTICA SUSTENT ÁVEL : CONTRI BUIÇÃO A PROCESSOS DE GESTÃO Marcel Oda 1  ; Zoraide Amarante Itapura de Miranda 2  ; Alice Itani 3  ; Eduardo Licco 4  ; Luiz Alexandre Kulay 5  1  Mestrado em Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente Senac. [email protected] . RESUMO Este artigo busca rever o processo de desenvolvimento do setor de serviços, mais especificamente o setor de educação, delineando segundo o ponto de vista de autores da área as principais forças e ações que moldaram e moldam esse setor da economia, através de revisão bibliográfica e análise de dados divulgados pelo Ministério da Educação. Retrata os principais fatores, como a metropolização social, a transformação da sociedade com a mudança da estrutura familiar e o retrato das novas necessidades que o mundo globalizado e a sociedade industrializada impõem ao processo social e econômico. Busca responder à questão de como se inter-relacionam o setor produtivo e o setor educacional, demonstrando a importância do setor de serviços para o desenvolvimento social, especialmente dos países em desenvolvimento, que dá a sustentação necessária ao desenvolvimento dos outros setores da economia, com garantia de acesso democrático ao ensino e melhoria da qualidade educacional como suporte ao desenvolvimento. Palavras-chave:  setor de serviços; economia; educação; setor educacional.

artigo logistica sistentável

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    Copyright, 2006. Todos os direitos so reservados.Ser permitida a reproduo integral ou parcial dos artigos, ocasio em que dever ser observada a obrigatoriedade de indicao da propriedade dos seus direitos autorais pela INTERFACEHS, com a citao completa da fonte.

    Em caso de dvidas, consulte a secretaria: [email protected]

    LOGSTICA SUSTENTVEL: CONTRIBUIO A PROCESSOS DE GESTO

    Marcel Oda 1 ; Zoraide Amarante Itapura de Miranda 2 ; Alice Itani 3 ; Eduardo Licco 4 ; Luiz Alexandre Kulay 5

    1 Mestrado em Gesto Integrada em Sade do Trabalho e Meio Ambiente Senac. [email protected].

    RESUMO Este artigo busca rever o processo de desenvolvimento do setor de servios, mais

    especificamente o setor de educao, delineando segundo o ponto de vista de autores da

    rea as principais foras e aes que moldaram e moldam esse setor da economia,

    atravs de reviso bibliogrfica e anlise de dados divulgados pelo Ministrio da

    Educao. Retrata os principais fatores, como a metropolizao social, a transformao

    da sociedade com a mudana da estrutura familiar e o retrato das novas necessidades

    que o mundo globalizado e a sociedade industrializada impem ao processo social e

    econmico. Busca responder questo de como se inter-relacionam o setor produtivo e o

    setor educacional, demonstrando a importncia do setor de servios para o

    desenvolvimento social, especialmente dos pases em desenvolvimento, que d a

    sustentao necessria ao desenvolvimento dos outros setores da economia, com

    garantia de acesso democrtico ao ensino e melhoria da qualidade educacional como

    suporte ao desenvolvimento.

    Palavras-chave: setor de servios; economia; educao; setor educacional.

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    A competitividade e a volatilidade do mercado so fatores que levam as empresas

    a buscar maior produtividade e eficincia, e, ao mesmo tempo, reduzir custos e impactos

    e satisfazer o consumidor. Nesse cenrio a logstica se destaca entre as estratgias

    empresariais para a maximizao do desempenho dos sistemas de distribuio de

    produtos, buscando menores custos e melhor nvel de servio. Investimentos nas

    melhorias operacionais, com o objetivo de aumentar a velocidade de resposta demanda

    por meio de um fluxo cada vez mais eficiente de materiais, so cada vez mais frequentes.

    A logstica compreende a gesto de fluxos, visando mxima eficincia, pelo

    planejamento e operao de todas as etapas do fluxo, desde o fornecimento da matria-

    prima at a entrega do produto ao consumidor final. Nesse fluxo de materiais e de

    informaes, destaca-se a importncia da organizao das etapas com o objetivo de

    tornar o fluxo mais eficiente. As estratgias de logstica se apoiam predominantemente

    sobre os modelos matemticos e as possibilidades tecnolgicas. Essas so as principais

    ferramentas para a obteno dos resultados esperados com a otimizao dos processos.

    No entanto, a busca pela sustentabilidade das organizaes leva busca de maior

    ateno com questes relativas a segurana do trabalho, impactos ambientais e

    planejamento estratgico. As questes de sade e segurana do trabalho e meio

    ambiente so normalmente atribudas a departamentos especficos. A integrao com

    processos logsticos e outros processos, como parte de estratgias integradas de gesto,

    ainda limitada.

    Busca-se, neste artigo, analisar programas de gesto de cadeia de suprimentos

    que visem otimizao integrada, com a finalidade de contribuir para a melhoria dos

    processos, da gesto da sade, da segurana do trabalho e do meio ambiente. O

    programa baseia-se no modelo de Pensamento Enxuto. Trata-se de uma adaptao do

    modelo Lean Thinking, apoiado nos princpios idealizados por Ohno (1997), aplicado na

    Toyota e difundido por Womack, Jones & Ross (1996).

    O Pensamento Enxuto visa a melhoria do processo por meio da constante

    eliminao de desperdcios. So princpios aplicveis a qualquer ponto do processo de

    gesto. Na cadeia de suprimentos so considerados desperdcios: a superproduo, o

    tempo disponvel de espera, o transporte, o processamento em si, o estoque disponvel, o

    movimento e a circulao de produtos defeituosos (OHNO, 1997, p.39). Trata-se,

    portanto, da avaliao de uma metodologia de logstica sustentvel. O estudo se justifica

    na medida em que contribui para melhoria de modelos de gesto das organizaes,

    sobretudo de servios. Possui relevncia na medida em que h poucos estudos sobre

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    logstica, bem como sobre estratgias na gesto envolvendo suprimentos. Metodologias

    integradas que visem a sustentabilidade, compondo sade, segurana do trabalho e meio

    ambiente com as questes de eficincia operacional e produtividade, so fundamentais

    para o avano dos processos de gesto.

    METODOLOGIA

    O estudo sobre a perspectiva de logstica sustentvel analisando a aplicao de

    um Programa de Pensamento Enxuto foi realizado entre 2005 e 2007. A hiptese afirma

    que possvel obter melhorias nas condies de sade e segurana do trabalhador e no

    meio ambiente pela implantao de programa de modificao de processos que vise

    substancialmente melhorias das operaes dentro de uma cadeia de suprimentos, por

    meio da eliminao ou minimizao desses desperdcios.

    Trata-se de estudo de carter descritivo e exploratrio, avaliando a implantao do

    programa em dez empresas. Tais empresas disponibilizaram documentao, dados e

    materiais e autorizaram a pesquisa de campo; implantaram o programa e constituram a

    base amostral da pesquisa. Como primeiro critrio de seleo, foram escolhidas somente

    aquelas empresas com um ano, no mnimo, de participao no programa. Foram

    analisados tambm os Mapas de Fluxo de Valor (MFV), ou seja, fluxogramas criados que

    identificam os principais fluxos materiais e de informaes nos perodos anteriores e

    posteriores s mudanas empreendidas no programa. Foram analisados, ainda, os A3,

    documentos que expressam objetivos, metas, estratgias e indicadores dos projetos de

    melhoria. As observaes geradas nesta experincia possibilitaram interao terica e

    prtica, bem como o acompanhamento e a constatao de resultados. Por fim, os dados

    foram consolidados com os ganhos, conforme implantao de projetos de melhoria

    baseados no Programa do Pensamento Enxuto. O estudo foi realizado nas reas de

    manufatura, movimentao e armazenagem, os quais apresentam atividade intensa e

    condies de riscos ambientais e ocupacionais.

    Para parametrizar os resultados gerados no Programa, no mbito da

    sustentabilidade foram definidos como indicadores primrios de mensurao os ganhos, a

    Taxa de Frequncia de Acidentes (TF) e a Taxa de Gravidade dos Acidentes ocorridos

    (TG). O valor de TF relaciona, de maneira linear, o nmero de acidentes com afastamento

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    ao nmero total de horas trabalhadas ao longo do perodo de referncia, segundo

    expresso que segue indicada pela Equao 1.

    nmero de acidentes com afastamento x 1 milho

    Clculo da TF = _______________________________________________ EQ 1

    nmero de horas trabalhadas

    De maneira anloga, tambm expresso na forma de coeficiente linear, o valor de

    TG relaciona o nmero de dias de trabalho perdidos a partir de acidentes com

    afastamento ao nmero de horas trabalhadas no perodo de referncia, tal como reflete a

    Equao 2.

    nmero de dias perdidos por acidentes com afastamento x mil

    Clculo da TG = ____________________________________________________ EQ

    2

    nmero de horas trabalhadas

    Para ambos os casos, a lgica adotada a partir da construo dos indicadores

    compreendeu a comparao direta em base percentual de desempenho, antes e depois

    da implementao do Programa de Pensamento Enxuto. A anlise de desempenho no

    mrito ambiental compreendeu igualmente a definio de indicadores de melhoria criados

    para mensurar a variao de amplitude dos riscos de impacto. Dadas a complexidade e a

    abrangncia desse impacto, o processo de formulao dessa mtrica levou em conta

    quatro itens:

    1) Economia de recursos tempo, atividades, retrabalho, matria-prima, espao,

    transporte, combustvel, insumos e estoques;

    2) Reduo de equipamentos custos dos equipamentos utilizados nos perodos

    anterior e posterior;

    3) Reduo de mquinas custos das maquinas utilizadas nos perodos anterior

    e posterior;

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    4) Reduo de resduos.

    Esses dados foram obtidos a partir de pesquisa documental, levantamento de

    dados primrios sobre o programa implantado, observao e acompanhamento das

    modificaes propostas durante o processo de reorganizao e posterior anlise dos

    resultados obtidos ou prospectados.

    LOGSTICA SUSTENTVEL

    A logstica compreendida como parte do gerenciamento da cadeia de

    abastecimento que planeja, implementa e controla o fluxo e armazenamento eficiente e

    econmico de matrias-primas, materiais semiacabados e produtos acabados. A logstica

    compreende tambm informaes relacionadas a esse processo, desde o ponto de

    origem at o ponto de consumo, com o propsito de atender s exigncias dos

    consumidores (LAMBERT, 1992; BOWERSOX; CLOSS, 2001; BERTAGLIA, 2003;

    NOVAES, 2004). O campo de aplicao da logstica compreende tambm o processo de

    gerenciamento estratgico da aquisio, movimentao e armazenamento de matrias-

    primas, materiais intermedirios, peas e produtos acabados. E isso inclui os fluxos de

    informao correlatos, agora por meio de canais de marketing da organizao, com o

    objetivo de maximizar as lucratividades presentes e futuras com o atendimento dos

    pedidos a baixo custo (GOMES; RIBEIRO, 2004, p.1). Em realidade, a logstica segue sua

    origem militar, uma arte da guerra, de planejamento e realizao de projetos de

    desenvolvimento, de obteno, armazenamento, transporte, distribuio e expedio de

    materiais, para fins operativos ou administrativos (CHRISTOPHER, 1997, apud

    CORONADO, 2006, p.132).

    No entanto, a evoluo da concepo da logstica notvel. Abandonou a ideia de

    escoamento de produtos (FIGUEIREDO; GOLDSMID; HIJJAR, 2007) para dispor sobre a

    gesto de todas as atividades com movimentao e armazenamento de bens. Incorporou

    posteriormente custos e abordagem sistmica ao seu cotidiano operacional e hoje focaliza

    o cliente. Dada a importncia e a amplitude do tema, tornou-se tema obrigatrio em

    cursos de nvel tcnico e superior em Administrao de Empresas, e estabeleceu

    conexes estreitas com as recentes tecnologias da informao. Essa evoluo to

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    marcante que para muitos estudiosos o momento atual pode ser considerado como a Era

    da Logstica pelo gerenciamento integrado da cadeia de suprimentos (NOVAES, 2007),

    uma necessidade que hoje se justifica no cenrio mundial, onde num mundo sem

    fronteiras, ligado pela web e viciado em velocidade, entregar o produto certo na hora certa

    com o menor custo vital para a competitividade (SEGALLA; CAIRES, 2006).

    A produtividade preceito bsico da logstica moderna (BOWERSOX; CLOSS,

    2001; NOVAES, 2004; TAYLOR, 2005). Para que isso se consolidasse, foram

    desenvolvidos indicadores de desempenho para avaliao da eficincia, da eficcia e da

    produtividade. Dentre estes, destacam-se os custos logsticos, os ativos, a qualidade, a

    produtividade, o benchmarking e o servio ao cliente (GOMES; RIBEIRO, 2004, p.12). No

    gerenciamento da cadeia de suprimentos esto todos os estgios envolvidos, direta ou

    indiretamente, no atendimento de um pedido de um cliente, atingindo tambm

    transportadoras, depsitos, varejistas e os prprios clientes. Dentro de cada organizao

    como, por exemplo, em uma fbrica , a cadeia de suprimento inclui todas as funes

    envolvidas no pedido do cliente, como desenvolvimento de novos produtos, marketing,

    operaes, distribuio, finanas e o servio de atendimento ao cliente, entre outras

    (CHOPRA, 2004, p.3).

    Dessa forma, a eficincia passa a ser parametrizada, passvel de avaliao por

    meio de recursos de suporte como a tecnologia de informao e a modelagem

    matemtica. Em termos operacionais, busca-se pela logstica alcanar a melhor relao

    entre valor fornecido ao cliente e os custos gerados para essa tarefa. Assim, busca-se por

    meio dela atingir um padro predefinido de qualidade de servio junto ao cliente por meio

    de uma competncia operacional, equilibrando expectativas de servio e os gastos de

    modo a alcanar os objetivos do negcio (BOWERSOX; CLOSS, 2001, p.23).

    A logstica pode, contudo, ser uma ferramenta para obteno de vantagem

    competitiva sustentvel. Isso consiste em fazer uso da melhor combinao possvel de

    operaes, atingindo ou, em muitos casos mantendo elevados ndices de

    produtividade e de valor percebido pelo cliente (CHRISTOPHER, 2002). Para alm da

    cadeia de suprimentos SCM Suplly Chain Management , a logstica pode se inserir

    como parte da filosofia de negcios (SVENSSON, 2002). Deve-se, para isso, analisar os

    componentes dessa cadeia. A logstica est apoiada em atividades diversas, algumas

    delas merecedoras de especial destaque.

    O transporte elemento chave desse processo, inclusive e principalmente em

    termos de custos, que podem representar dois teros do montante total de desembolso

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    atribudo logstica (BALLOU, 1993, p.24; BALLOU, 2006). Outro elemento o estoque.

    Enquanto o transporte adiciona valor de lugar ao produto, o estoque agrega valor de

    tempo (BALLOU, 1993, p.25; BALLOU, 2006). E, por isso, justifica de certa forma a

    existncia de estoque de produtos anunciados ou em promoes, e at a proteo de

    embalagens. A disponibilidade de produtos em quantidade para atender a demanda

    fator fundamental. Erros de proviso podem causar srios transtornos para os clientes e

    para a empresa, e podem anular resultados de anos de planejamento (BALLOU, 1993;

    BALLOU, 2006).

    Para tanto, considerada fundamental a ampla utilizao da tecnologia de

    informao nesse gerenciamento. A tecnologia considerada fator fundamental para o

    aumento da produtividade e a reduo do tempo de atendimento da demanda

    (BOWERSON; CLOSS, 2001). Contudo, o clculo da produtividade em si pode colocar

    em risco a sustentabilidade do negcio. No atual cenrio de competitividade, a qualidade

    de servio se associa responsabilidade social. A considerao de fatores de

    produtividade e eficincia deve estar associada de qualidade e responsabilidade nesse

    clculo.

    Nesse sentido, a gesto integrada comea a tomar ateno das organizaes.

    considerada como vantagem competitiva sustentvel ou como uma viso sistmica do

    negcio, como uma ideia de integrao da cadeia de suprimentos (CHRISTOPHER,

    2002). No entanto, atualmente congrega somente fornecedores e clientes. Pode utilizar

    sistemas integrados, softwares de modelagem e simulao, bem como a comunicao

    eletrnica entre as partes envolvidas, amplamente utilizados nas atividades logsticas. A

    cadeia de suprimentos Supply chain management termo recente, mas deve envolver a

    logstica integrada, destacando interaes logsticas que ocorrem entre as funes de

    marketing, logstica e produo, propondo uma integrao com a estratgias

    empresariais. Isso envolve fornecedores na gesto de estoques, integrando os fluxos

    fsicos e lgicos. Envolve, tambm, a integrao de processos para atender de maneira

    eficiente e eficaz o consumidor final (PIRES et al., 2001). Envolve, ainda, os materiais e

    as informaes que fluem em sentidos opostos, tanto para um lado quanto para outro. A

    reduo de estoques somente possvel com a substituio por um fluxo de informaes

    mais veloz e eficiente (CHRISTOPHER, 2002; BALLOU, 2006). A vantagem sustentvel

    est, sobretudo, em reduzir danos e impactos negativos durante o processo de

    gerenciamento, o que permite ganhos no processo, como ganhos na preveno de danos

    e reduo de riscos da gesto. A logstica pode ser sustentvel se inserida como parte da

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    gesto estratgica da organizao e no conjunto da cadeia, merecendo compor valor com

    reduo de danos e impactos negativos na gesto.

    Nessa perspectiva, veremos os impactos em meio ambiente e sade e segurana

    nesse processo, e o aspecto do Pensamento enxuto que pode ser aplicado.

    Impactos ao meio ambiente, sade e segurana do trabalho

    A preocupao sobre impactos ambientais dentro da logstica aparece de forma

    mais evidente com a introduo do conceito de logstica reversa. A ateno com os fluxos

    reversos ps-venda e ps-consumo, a necessidade de atendimento das questes legais e

    a associao de estratgias de preservao ambiental com a imagem da empresa esto

    dentro disso (LEITE, 2003). No entanto, mais do que explorar a valorizao e o

    aproveitamento dos materiais j utilizados ou devolvidos pelos clientes, h medidas para

    a no incidncia destes fluxos. A preocupao com a qualidade do servio fundamental

    para a efetividade da empresa. Contudo, a otimizao dos fluxos materiais deve levar em

    considerao o fornecimento de produtos em quantidade e qualidade que atendam s

    necessidades do cliente.

    Nesse sentido utiliza-se o instrumento da ecoeficincia, para evitar a produo e

    circulao de bens em volumes desnecessrios, com o fornecimento de bens e servios a

    preos competitivos, que satisfaam as necessidades humanas com qualidade de vida,

    ao mesmo tempo em que se reduz progressivamente o impacto ambiental e o consumo

    de recursos ao longo do ciclo de vida, a um nvel, no mnimo, equivalente capacidade

    de sustentao estimada do Planeta Terra (De SIMONE; POPOFF, 1997; WBCSD, 2003,

    apud JAPPUR, 2004, p.63). Neste aspecto, o transporte gerido com economia e

    reduo de emisso de poluentes.

    As precrias condies de trabalho de motoristas vm sendo tambm objeto de

    ateno, na medida em que se trabalha sob presso de tempo e produtividade

    estabelecidos pelo sistema. Castro (2004, p.34) aponta alguns aspectos comportamentais

    e fisiolgicos que afetam os motoristas de carga envolvidos em acidentes de trnsito:

    1) alteraes neurolgicas e psquicas, relacionadas com a senso-percepo,

    com os mecanismos de integrao cortical e com a resposta motora adequada

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    dos rgos efetores, provocados pela ingesto de bebidas alcolicas e de

    drogas;

    2) a ingesto de bebidas alcolicas e de drogas tambm pode ser causa e

    consequncia de condutas agressivas e de atitudes temerrias por parte dos

    motoristas;

    3) o uso de medicamentos estimulantes, na busca de atender demandas e

    exigncias crescentes, e para combater o sono e reduzir a sensao de fadiga,

    tambm altera a senso-percepo e os reflexos condicionados em situaes

    de emergncia;

    4) fadiga e estresse do motorista, muitas vezes provocados por sobrecarga de

    trabalho e esgotamento fsico, algumas vezes o levam a adormecer na direo.

    Analisando dados da Associao Nacional dos Transportadores de Cargas

    (ANTC) verifica-se que a carga mdia de trabalho dos motoristas brasileiros de 6,4 dias

    por semana para motoristas de transportadoras e 6,2 dias por semana para os

    autnomos. Isto representa uma jornada de trabalho de 93,3 e 92,5 horas de trabalho

    semanais, respectivamente (OLIVEIRA; BENTO, 2003). Dados da Associao Brasileira

    de Medicina de Trfego (Abramet) mostram que jornadas longas podem levar a perda de

    concentrao no exerccio da atividade (2003, p.245).

    Jornadas de trabalho irregulares e extensas podem expor motoristas a danos

    sociais e de sade, levando o motorista ao isolamento social ou a adquirir o hbito de

    fumar, beber ou consumir drogas (TEIXEIRA, 2005; FISCHER, 1991). O uso abusivo de

    arrebites, supressores de sono, faz parte do quadro bastante grave do trabalho de

    motoristas para enfrentar os problemas da fadiga. Alm disso, h fatores ligados ao

    estresse presentes na ocorrncia de acidentes de trnsito (REAL, 2000), por hipertenso

    e fadiga. E a queda dos ndices de acidente est associada a melhorias no trabalho do

    motorista, como especializao e monitoramento das horas trabalhadas. Nesse sentido,

    utiliza-se o instrumento de valorao econmica ambiental dos prejuzos causados por

    acidentes e doenas do trabalho como contrapartida para investimentos, e recorre-se a

    tecnologias para planejamento e monitoramento.

    H, tambm, ferramentas tecnolgicas para melhoria de produtividade, buscando

    processos otimizados, reduzindo desperdcios de tempo, ajustando percurso e atividade,

    destacando o planejamento e o controle sistemtico. Softwares possibilitam

    monitoramento das diversas reas do depsito, coordenando tarefas. Contudo, a maioria

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    desses instrumentos torna o trabalho mais intenso, sem levar em conta os aspectos

    motivacionais e de sade. Nesse ponto, h muito a ser feito na ampliao sistmica do

    planejamento de tarefas e na configurao de sistemas de forma a conferir mais equilbrio

    ao desenvolvimento do trabalho. Como alternativas, a empresa poderia avaliar os

    impactos motivacionais, a reduo de doenas ocupacionais, o absentesmo e a melhoria

    da imagem como contrapartidas mensurveis na perspectiva financeira.

    O Pensamento Enxuto

    O Pensamento Enxuto o princpio para a produo enxuta, como um instrumento

    de gesto. Trata-se de novo paradigma de gesto, idealizado diante da atual grande

    variedade de produtos em baixa escala, custo e qualidade. O enxugamento das

    necessidades de recursos para operao leva a empresa a produzir com reduo de

    trabalhadores no processo de fabricao, reduo de investimentos em ferramentas,

    reduo de tempo para desenvolver novos produtos, reduo de estoques e de defeitos,

    produzindo mais e com maior variedade de produtos.

    O Pensamento Enxuto, em sntese, se aplica a toda a empresa. A gesto de

    fornecedores tem preponderncia, considerados como uma extenso da empresa. So

    envolvidos nos esforos de melhoria da qualidade e produtividade. Alguns pontos nas

    relaes comprador-fornecedor, pelo modelo Lean Thinking, podem ser verificados, como:

    1) Parcerias: no sistema Lean so buscadas relaes estveis e de longo prazo com

    os fornecedores; um grande investimento feito na busca de ganhos mtuos,

    transparncia e construo de confiana entre as partes;

    2) Reduo da base de fornecedores: como decorrncia da busca por parcerias, um

    ou dois fornecedores so escolhidos para cada famlia de produtos comprados;

    3) Aprendizado mtuo: os fornecedores so envolvidos no desenvolvimento de

    produtos, desde os estgios iniciais, e busca-se compreenso mtua dos

    processos e troca de tecnologia, visando agregar mais valor aos produtos;

    4) Esforo conjunto na reduo de desperdcios: esforos conjuntos so

    desenvolvidos na identificao e eliminao de desperdcios, atravs de trocas de

    informaes no desenvolvimento de produtos e no aperfeioamento de processos

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    de produo e logstica; em geral o comprador apoia o fornecedor para que este

    utilize princpios lean em sua produo;

    5) Entregas e produo just-in-time: ao invs de pedidos baseados em

    programaes, entrega pouco frequente e em grandes lotes, o pedido entre

    comprador e fornecedor lean se d just-in-time, utilizando o sistema Kanban, que

    solicita a entrega frequente (por exemplo, diria) de lotes pequenos, conforme o

    efetivamente demandado; mais que isso, o fornecedor tambm encorajado a

    implantar a produo just-in-time, caso contrrio os estoques simplesmente

    migraro do recebimento do comprador para a expedio do fornecedor;

    6) Qualidade garantida: num sistema just-in-time, a qualidade mandatria; caso um

    lote seja rejeitado, a produo ser interrompida, pela quase inexistncia de

    estoques; torna-se necessrio que o fornecedor tenha processos que garantam a

    qualidade na produo, de forma a eliminar a necessidade de inspeo de

    recebimento (WOMACK; JONES; ROSS, 1992; COOPER; SLADMULDER, 1999,

    apud FONTANINI; PICHI, 2003, p.2-3);

    7) A preveno da autonomao outro preceito do programa que significa dar um

    toque humano automao dos equipamentos. Para evitar danos que ocorrem

    quando os sistemas funcionam autonomamente, o processo reorganizado para

    ser interrompido quando houver um problema. conhecido em japons por

    Jidoka.

    Na Toyota, o programa Lean Thinking sustenta-se sobre dois pilares: reduo dos

    desperdcios e aumento da produtividade (OHNO, 1997). Contudo, o modelo Pensamento

    enxuto foi adaptado, na medida em que esses dois pilares precisam ser estruturados e

    organizados para avanar sobre problemas que j no o so naquela empresa. So os

    casos de acidentes, doenas ocupacionais, perdas de materiais e desperdcios de

    recursos e de tempo que esto no processo produtivo. So pontos que no processo

    produtivo japons j esto mais bem resolvidos. A preveno de danos, a reduo de

    exposio dos trabalhadores a riscos e a reduo de tempo e desperdcios de materiais

    devem fazer parte da gesto integrada.

    Com isso, ganhos podem ser obtidos em segurana do trabalho diante da

    necessidade competitiva (KINCAID, 2004). Isso se faz pela adequao de ferramentas de

    preveno de acidentes e pela melhoria contnua dos processos, por treinamentos

    constantes, organizao do ambiente e gesto visual. E a reduo de acidentes aparece

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    como um dos benefcios gerados pelo pensamento enxuto. A questo ambiental foi

    analisada pela EPA (Agncia de Proteo Ambiental Americana Environmental

    Protection Agency), que desenvolveu metodologias para integrao dos objetivos de

    reduo de resduos e melhorias do aproveitamento de recursos naturais. Em resumo,

    eliminao de desperdcios, de excesso: produo, espera, transporte, processamento

    desnecessrio, estoque, movimentao humana; tudo que demanda necessidade de

    correes. E que produz lead time entre o pedido e a entrega, estoques, capital de giro,

    espao, custos; tudo isso levando a aumento de produtividade e melhoria da qualidade.

    PROCESSOS DE LOGSTICA NAS EMPRESAS

    Foram analisadas cadeias de suprimentos de empresas de diversos ramos de

    atividades que atuam dentro da perspectiva do Programa de Pensamento Enxuto. As

    empresas foram classificadas pelo seu posicionamento na cadeia de suprimento, desde a

    extrao de matria-prima at o consumidor final. Implantou-se nas empresas em estudo

    o Programa de Pensamento Enxuto para se tornarem Empresas de Classe Mundial. Para

    tanto, apresentam-se inicialmente os princpios: valor e desperdcio, fluxo de valor,

    sistema puxado, nivelado e contnuo, Kanbans e Takt Time.

    No primeiro princpio, valor e desperdcio, h cinco preceitos bsicos dos projetos

    de melhoria desenvolvidos: 1. Especifique valor do ponto de vista do cliente final; 2.

    Identifique o fluxo de valor para cada famlia de produtos; 3. Coloque o produto em um

    fluxo contnuo; 4. Assim, o cliente pode puxar; e 5. Enquanto isso, voc busca a perfeio.

    Para o entendimento de valor, uma pergunta bsica efetuada: O cliente est disposto a

    pagar pelos desperdcios?. Assim, todos os projetos de melhoria e mudanas de

    processos tambm buscam a eliminao dos desperdcios que os clientes no valorizam:

    Produo em excesso; Espera; Transporte; Processamento desnecessrio; Estoque em

    excesso; Movimentao humana e Correes.

    O segundo princpio, fluxo de valor, representa o conjunto das aes necessrias

    para trazer um produto passando por todos os fluxos essenciais, desde a sua concepo

    at a entrega ao consumidor. Focaliza-se sobre o fluxo de produo, desde a demanda

    do consumidor at a matria-prima (ROTHER; SHOOK, 2003). Todas as atividades do

    processo so identificadas no Fluxo por cones que compe a Cadeia de suprimentos de

    uma famlia de produtos. Elas podem ser observadas por trs etapas: 1. Etapas que

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    agregam valor ao produto projetado e produzido; 2. Etapas que no agregam valor ao

    produto, como por exemplo, inspees; 3. Etapas adicionais, que devem ser eliminadas

    com urgncia, pois so apenas desperdcios. Ao acompanhar todo o processo, observam-

    se os dois principais fluxos existentes, o fluxo de materiais e os fluxos de informao.

    Cada etapa, de forma macro, representada por outro cone, onde so acrescentadas as

    informaes de tempo e frequncia. Assim construdo o mapa do fluxo de valor,

    conforme se exemplifica na Figura 1.

    Figura 1 Mapa de Fluxo de Valor

    Fonte: Ohno, adaptado por Oda, 2008.

    Com o fluxo de valor mapeado, desenvolvem-se os planos de melhoria, onde os

    desperdcios so eliminados ou minimizados. O mapa desenhado representa o processo

    melhorado, que serve como base para a mudana dos processos de produo e logstica.

    A partir disso, os projetos so subdivididos em etapas de implementao. Para atingir os

    objetivos do pensamento enxuto necessrio puxar a produo por meio de sinais da

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    demanda. No conceito just-in-time difundido pela Toyota, toda a cadeia de suprimentos

    deve fornecer o que preciso somente na hora em que for necessrio.

    Outro princpio o nivelamento da produo. O nivelamento busca a reduo

    dos tamanhos dos lotes, aumentando a frequncia de set-ups de mquinas (OHNO,

    1997). Esse pensamento segue o perfil de consumo atual, que exige uma personalizao

    maior. Para atingir esse objetivo, prope-se a utilizao de kaizens de sistema para

    introduzir a programao de produo Lean. Implementar a produo nivelada e puxada

    em diversos fluxos de valor e em recursos de produo compartilhados leva a empresa a

    tomar uma srie de decises, afetadas por fatores como nvel atual da estabilidade do

    processo, extenso do lead time de manufatura e natureza e frequncia dos pedidos dos

    clientes (SMALLEY, 2003).

    O princpio sistema nivelado e puxado pode ser aplicado em qualquer tipo de

    empresa. Permite a estabilizao do ritmo e da consistncia da produo dentro das

    fbricas. O ambiente fica propcio para a utilizao de kanbans. Depois que os sistemas

    puxados e nivelados so implantados, as tarefas de operar clulas de acordo com o takt

    time e de fazer o material fluir entre as localizaes tornam-se muito mais simples

    (SMALLEY, 2003). O quarto princpio, o Kanban, em japons significa carto ou sinal.

    um sistema simples, que autoriza o ressuprimento por meio de elementos visuais.

    Serve para operacionalizar o controle puxado. O recebimento de um kanban dispara a

    movimentao, produo ou suprimento de uma unidade. uma ferramenta com a

    finalidade de instruir o processo precedente a enviar mais, controlar visualmente as reas

    de superproduo e falta de sincronizao, alm de contribuir para a melhoria continua

    (kaizen). Esse nmero de kanbans deve ser reduzido com o tempo (SLACK, 2003).

    O quinto princpio, o Takt time, o tempo de trabalho efetivamente disponvel, ou

    seja, sincroniza o ritmo da cadeia de produo ao ritmo das vendas, e calcula-se atravs

    da seguinte frmula:

    Tempo de trabalho disponvel x

    Takt time = _________________________________

    Volume de demanda do cliente y

    x

    ___ = tempo takt = z minutos

    y

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    Produzir dentro de z minutos, o Takt Time, evita desperdcio de tempo e recursos

    no processo de produo.

    As ferramentas na cadeia de suprimentos

    O pensamento enxuto difundido por meio de um ciclo de workshops estruturados

    de forma a difundir os conceitos tericos e desenvolver projetos de melhoria. Trata-se de

    ferramenta desenvolvida pelo grupo selecionado, normalmente gerentes e supervisores,

    responsveis por organizar e difundir as novas ideias para sua equipe, bem como

    desenvolver e implantar projetos dentro dos princpios. O papel de cada um no projeto

    definido:

    1) Direo: Estabelecimento de metas, prioridades, validao de estados futuros e

    planos de ao; sponsors;

    2) Gestores: Agentes de Mudana liderana do processo em suas Unidades;

    3) Participantes dos treinamentos: absoro do conhecimento, abertura para quebra

    de paradigmas, proposio das mudanas; na continuidade, implementaro as

    mudanas e sero multiplicadores;

    4) reas funcionais: apoio na concepo e na implementao.

    Os projetos so realizados a partir do desenho dos Mapas do Fluxo de Valor, que

    demonstram o estado atual e o estado futuro pretendido pela empresa com a implantao

    do programa e a eliminao dos desperdcios. A cada projeto desenvolvido so criados os

    Relatrios A3 correspondentes, com metas e objetivos, indicadores, a situao atual e a

    pretendida, responsveis e cronograma.

    Os objetivos dos A3 so compostos por seis itens:

    1) Eliminar desperdcios e consequentemente reduzir o Lead Time;

    2) Reduzir estoques sem afetar o atendimento;

    3) Ocupar melhor a mo de obra operacional;

    4) Aumentar a eficincia dos processos;

    5) Reduzir os custos;

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    6) Divulgar e implantar a cultura de reduo dos desperdcios.

    As metas estabelecidas, normalmente para um perodo de dois anos, de forma

    geral so compreendidas por oito itens:

    1) Reduo do lead time em 30 a 80%;

    2) Reduo de estoques em 30 a 80%;

    3) Capital de giro: giros de at 25x/ano;

    4) Entregas no prazo atingindo 98 a 99%;

    5) Reduo de espao em 30 a 50%;

    6) Aumento de produtividade em 10 a 60%;

    7) Redues de custos em 10 a 30%;

    8) Melhoria sensvel da qualidade.

    Todas as plantas envolvidas desenvolvem controles sobre os resultados obtidos,

    para a atualizao dos relatrios. Caso haja algum desvio de objetivos, realiza-se uma

    correo do plano. A ferramenta utilizada o ciclo PDCA. Cada empresa nomeia um

    membro para represent-la no comit executivo, que periodicamente discute os

    resultados e difunde as melhores prticas. Na cadeia estudada, anualmente os projetos

    do programa de logstica de destaque so apresentados no Congresso que rene todos

    os executivos principais das empresas. Sistematicamente o comit realiza visitas s

    empresas e tambm auditorias, com o objetivo de monitorar o estado de desenvolvimento

    e consolidao do programa.

    Avaliao das melhorias desenvolvidas

    No programa desenvolvido dentro das dez empresas analisadas verificaram-se

    melhorias sensveis, demonstradas pelos ganhos proporcionados pelo programa e pela

    correspondente contribuio para a Sade e Segurana do Trabalho e para o Meio

    Ambiente. O Quadro 1 mostra dez pontos obtidos, com ganhos nos processos, reduo

    de danos e riscos em sade e segurana do trabalho indicados como contribuies em

    SST e reduo de impactos ambientais indicados como contribuies em MA. Foram

    consolidados os dados das empresas em dez pontos, a saber: 1. Reutilizao de Paletes;

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    2. Troca de Tambores por Contineres; 3. Produtividade no abastecimento de linha; 4.

    Reduo de retrabalho; 5. Reduo no tempo de set-up (preparao) de mquina; 6.

    Mudana de layout da Armazenagem ; 7. Reorganizao da Armazenagem de Bags;

    8. Melhoria no fluxo de Materiais; 9. Melhoria na Distribuio Varejista; e 10. Integrao

    na Cadeia de Suprimentos.

    Quadro 1 Consolidao de Ganhos no processo, para SST e para MA

    Caso de Melhoria

    com Projeto Lean

    Ganhos no

    Processo

    Contribuies para a

    SST

    Contribuies para o

    MA

    1. Reutilizao

    de Paletes

    1.100 paletes

    (47%);

    60 m de rea;

    Reduo do uso

    de empilhadeiras.

    Reduo do risco de

    queda das pilhas;

    Melhorias das

    condies de

    circulao das

    empilhadeiras;

    Menor trfego.

    720 rvores

    preservadas por ano;

    Economia de

    combustvel e insumos

    das empilhadeiras;

    Reduo de emisses

    da empilhadeira.

    2. Troca de

    Tambores por

    Contineres

    Economia de R$

    200 mil com

    tambores e seu

    descarte;

    Reduo de

    estoques.

    Reduo dos riscos

    ergonmicos do

    manuseio de

    tambores;

    Reduo do risco de

    queda dos tambores.

    Eliminao do

    descarte dos

    tambores;

    Eliminao dos

    resduos de tinta.

    3. Produtividade

    no abastecimento

    de linha

    Aumento de

    produtividade em

    20%.

    Reduo dos riscos

    ergonmicos com o

    fim dos

    agachamentos,

    esforo muscular

    esttico e postura

    incorreta e viciosa;

    Reduo do risco de

    queda das peas.

    No mapeado.

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    Caso de Melhoria

    com Projeto Lean

    Ganhos no

    Processo

    Contribuies para a

    SST

    Contribuies para o

    MA

    4. Reduo de

    retrabalho

    Reduo de 80%

    do retrabalho.

    Reduo do esforo

    muscular;

    Melhoria da postura no

    trabalho;

    Reduo do risco de

    queda do contra-

    flange.

    Reduo de refugos;

    Economia de recursos

    com reduo de

    estoque.

    5. Reduo no

    tempo de set-up

    (preparao) de

    mquina

    O tempo mdio de

    set-up caiu em

    75%, passando de

    120 minutos para

    30 minutos.

    Reduo dos riscos de

    queda e de

    esmagamento dos

    dedos;

    Melhoria da

    ergonomia, com

    correo de postura

    na tarefa.

    No mapeado.

    6. Mudana de

    layout da

    Armazenagem

    Ganhos de

    produtividade

    estimados em R$

    30 mil.

    Eliminao de duas

    escadas e do risco de

    queda do operador;

    Reduo do percurso

    caminhado para

    abastecimento da

    linha.

    No mapeado.

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    Caso de Melhoria

    com Projeto Lean

    Ganhos no

    Processo

    Contribuies para a

    SST

    Contribuies para o

    MA

    7. Reorganizao

    da Armazenagem

    de Bags

    R$ 596 mil

    economizados em

    produtividade,

    estoques e

    insumos.

    Reduo dos riscos de

    queda dos bags;

    Eliminao do risco de

    trabalho em altura.

    Melhoria da

    visibilidade e

    condies de

    circulao, reduzindo

    o risco de

    atropelamentos.

    Reduo do p.

    Reduo do descarte

    de produtos vencidos;

    Reduo do risco de

    vazamento de leo;

    Reduo do consumo

    de combustvel e

    emisses da

    empilhadeira

    descartada;

    Reduo da poeira.

    8. Melhoria no

    fluxo de Materiais

    Reduo da

    distncia

    percorrida de

    1.764 metros para

    612 metros,

    reduo de

    65,30%;

    Ganho de 56,84%

    no abastecimento

    dos armazns,

    reduzindo o

    percurso mensal

    de 1.900 km para

    820 km.

    Reduo do trfego;

    Reduo do risco de

    atropelamentos por

    empilhadeira;

    Estabelecimento de

    percursos e horrios

    fixos e sinalizados.

    Reduo do consumo

    de combustvel e

    insumos;

    Reduo de emisses

    de gases e fuligem.

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    Caso de Melhoria

    com Projeto Lean

    Ganhos no

    Processo

    Contribuies para a

    SST

    Contribuies para o

    MA

    9. Melhoria na

    Distribuio

    Varejista

    Reduo do

    tempo de

    descarga de 40

    minutos para 17

    minutos, ganho de

    40% em

    produtividade;

    Ganhos de

    produtividade de

    35% na separao

    de produtos;

    Reduo de 20%

    do nmero de

    viagens do trator;

    Reduo de uma

    empilhadeira.

    Reduo do risco de

    atropelamento nas

    manobras do

    caminho;

    Reduo do risco de

    queda dos produtos e

    tombamento do

    veculo;

    Reduo do risco de

    trabalho e altura;

    Reduo de riscos

    ergonmicos.

    Reduo do consumo

    de combustvel e

    insumos da

    empilhadeira e do

    trator;

    Reduo das

    emisses de gases e

    fuligem;

    Eliminao da

    necessidade de 66%

    dos paletes utilizados

    na separao.

    10. Integrao na

    Cadeia de

    Suprimentos

    Reduo do lead

    time em 1 dia;

    Reduo do

    tempo de carga e

    descarga em 40%.

    Reduo dos riscos de

    queda de produtos;

    Reduo dos riscos de

    esmagamento das

    mos.

    Reduo do descarte

    de produtos

    quebrados.

    Verificaram-se onze contribuies geradas pelo programa:

    1) Reduo nas movimentaes de Pessoas; de Empilhadeiras e de Caminhes;

    2) Reduo no tempo de realizao do processo como um todo;

    3) Reduo no custo de trabalho e retrabalho, de transporte, deslocamento de

    materiais e perda de mercadorias;

    4) Reduo no tempo de trabalho, de retrabalho, tempo de atendimento, tempo do

    processo produtivo desde a produo entrega do produto ao consumidor final;

    5) Melhoria no atendimento ao cliente, como prazos confiveis;

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    21

    6) Reduo de reclamaes de clientes;

    7) Reduo de estresse no atendimento a cliente;

    8) Reduo de riscos de acidentes em todas as atividades;

    9) Melhoria da qualidade pela melhoria ergonmica;

    10) Reduo de impactos ambientais pela reduo do descarte de produtos, de

    perdas de materiais, de combustvel, do uso de equipamentos e mquinas, do

    transporte e deslocamento de mercadorias;

    11) Economia de recursos e materiais, evitando superproduo e estoque.

    Verificou-se que as mudanas nos processos decorrentes do Programa de Pensamento

    Enxuto possibilitaram a reduo dos ndices de acidente. O processo de elaborao do

    Mapeamento de Fluxo de Valor possibilita eliminao de desperdcios, com reduo de

    atividades, tempo e recursos desnecessrios. Com isso, h reduo de movimentos,

    trabalho, transportes e estoques, com ganhos econmico-financeiros e ambientais. Com o

    ritmo definido, melhorando a ateno do operador na execuo da tarefa, com segurana

    e melhor ergonomia, o trabalho mais bem organizado. Graas s melhorias implantadas

    com os Kainzens, houve reduo de horas extras, reduo do ritmo estressante de

    trabalho, eliminao da quantidade de retrabalhos e menor exposio a carga intensiva e

    excessiva e estresse. Houve mudanas nas operaes, com foco na flexibilidade e no set-

    up rpido, com operaes multifuncionais e rotao planejada de tarefas, prevenindo

    exposio a esforos repetitivos, prevenindo doenas ocupacionais. Incentivou-se,

    tambm, a utilizao de dispositivos prova de erros, tambm denominada de poka-yoke

    (NICOLA, 2008).

    A atuao na cadeia estendida, a sinergia entre unidades clientes-fornecedoras, com

    integrao de processos, eliminou o retrabalho e provocou melhoria no manuseio. A

    avaliao comparativa da evoluo dos indicadores em relao ao perodo anterior ao

    programa mostra, assim, ganhos. A taxa de frequncia de acidentes com afastamento,

    apresentada de forma consolidada pelo mesmo grupo de empresas, grande indicador,

    como mostra a Figura 2. Verificou-se que, medida da implantao do programa, a taxa

    de frequncia de acidentes com afastamento reduzia-se. Foi comparada a Taxa de

    frequncia de acidentes TF1 dos locais que desenvolveram o programa em relao aos

    locais fora do programa. O ndice de Taxa de Frequncia de acidentes com afastamento

    (TF1) do programa ficou na ordem de 0,57, e nos fora do programa o ndice ficou na

    ordem de 1,50. Isto significa uma reduo de acidentes em quase um tero do total. A

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    Taxa de Gravidade (TG) entre as plantas mostra que a diferena foi notria. Plantas com

    o modelo implantado tinham TG igual a 0,09, e aquelas que no iniciaram o programa,

    0,24. Houve, tambm, reduo em cerca de um tero do total.

    Figura 2 Comparativo entre status de implantao, Taxa de Frequncia de Acidentes e Taxa de Gravidade

    Fonte: Oda, 2008.

    O foco das melhorias no Gemba, cho de fbrica e de operaes, com as

    eliminaes de movimentos, melhoria da manuteno, instalao de dispositivos poka-

    yoke, balanceamento e padronizao do trabalho, reduo do nmero de equipamentos

    de movimentao e definio de rotas, levou a uma consequente reduo dos desvios

    ocorridos na rotina antes da mudana, e essa reduo levou a melhoria em patamares

    mais estratgicos, reduzindo problemas de qualidade, necessidade de horas extras e

    atrasos de entregas.

    Isso mostra que possvel reduzir acidentes com um trabalho mais enxuto,

    realizado de forma organizada, com menor quantidade de equipamentos e menor

    deslocamento, movimentao e esforo fsico. Em nenhuma houve acidente com

    afastamento (TF1) aps as modificaes de processos realizadas. Os resultados obtidos

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    demonstram uma efetividade do programa tanto no que tange sade e segurana do

    trabalho como na contribuio ambiental. A mentalidade enxuta parte de uma filosofia

    de gesto pode ser direcionada ao processo produtivo, e se constituir como contribuio

    de ferramenta de gesto integrada.

    CONSIDERAES FINAIS

    Pela avaliao da implantao do Programa de Pensamento Enxuto adaptado do

    modelo baseado no Lean Thinking verificaram-se ganhos com mudanas de processos

    operacionais, relacionados a economia de recursos, redues de estoque, redues de

    lead time de atendimento de pedidos e eliminao ou minimizao das fontes dos

    desperdcios. Os ganhos financeiros e de produtividade aparecem com a organizao do

    ambiente do trabalho e a reduo de tarefas e movimentos desnecessrios. Foram

    mapeados os benefcios, com reduo de resduos e economia de recursos naturais,

    como diminuio do nmero de paletes, reduo de emisses com a reduo de trfego,

    da distncia percorrida e do nmero de veculos utilizados. A anlise dos indicadores

    relativos evoluo da Taxa de Frequncia (TF) e da Taxa de Gravidade (TG) de

    acidentes durante o perodo estudado, em relao ao perodo anterior, mostrou queda

    proporcional evoluo do programa. H, ainda, ganhos relacionados motivao do

    trabalhador. O trabalho pode ser mais racionalizado, com melhor compreenso do

    operador de suas atividades, quando ele participa do desenvolvimento do processo.

    Isso mostra que melhorias estruturadas do ambiente de trabalho, organizado e

    sinalizado, caractersticas dos ambientes enxutos, contribuem para uma gesto mais

    sustentvel. Os resultados, portanto, sugerem que a filosofia da mentalidade enxuta pode

    significar contribuio para processos de gesto integrada, para a obteno simultnea de

    resultados positivos em relao a produtividade, sade e preveno de riscos ambientais

    e ocupacionais. Isso faz que o programa possa ser considerado como de logstica

    sustentvel e com importante contribuio para a gesto. Todavia, h que levar em conta

    que uma das limitaes deste estudo a no apresentao de ganhos ambientais

    corporativos ou inter-relacionados. As contribuies foram avaliadas somente com foco na

    logstica e no perodo estudado, dentro do conjunto das reas estudadas de forma direta,

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