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EXPERIÊNCIA DO PIBID ARTES VISUAIS NO COLÉGIO ESTADUAL
ALTO DA GLÓRIA
Lilian Rodrigues¹
RESUMO
Este artigo abordará a experiência do Pibid Artes Visuais do IFPR campus Palmas
realizado no Colégio Estadual Alto da Glória a partir do ano de 2012. Para tanto,
descreve o contexto do colégio em questão, os objetivos do Pibid e a organização
metodológica segundo as diretrizes que regem o ensino de Arte na escola pública e a
atuação das bolsistas nas observações, planejamentos e intervenções nas aulas de Arte.
A partir da observação da supervisora aponta as características dos projetos já
realizados, aspectos a serem melhorados e pontos positivos nas aplicações dos projetos.
Palavras-chave: Pibid, Arte, docência.
__________________________
¹ Professora de Arte - Colégio Estadual Alto da Glória. Contato: [email protected]
1. Introdução
1.1 Colégio Estadual Alto da Glória
O Colégio Estadual Alto da Glória Ensino Fundamental e Médio está situado no
bairro Alto da Glória da cidade de Palmas - PR. O colégio oferta as seguintes
modalidades de ensino: Ensino Fundamental e Ensino Médio. Funciona atualmente num
espaço cedido pelo município e atende aproximadamente 700 alunos, distribuídos entre
os períodos matutino, vespertino e noturno.
Além do Ensino Regular os alunos contam também com o Programa Mais
Educação que oferta oficinas de dança, esportes, ciências e arte circense e também com
o Programa de Atividades Complementares Curriculares de Contraturno onde os alunos
participam de projetos de violão, dança e horas treinamento.
Estes alunos são provenientes das proximidades da escola, moradores de
conjuntos habitacionais, alguns com moradias precárias e outras, medianas. Atende, em
sua grande maioria, alunos dos bairros Alto da Glória, São José, Eldorado, Lagoão, São
Francisco, Hípica, Tia Joana, Vila Operária e Serrinha.
Os alunos atendidos pertencem à classe social baixa, contando com um grande
número de beneficiados pelo programa Bolsa Família, sendo que a maioria vem de
famílias desestruturadas, muitos também trabalham para ajudar no sustento da casa.
Em geral, os pais dos alunos têm pouca escolaridade, acompanhando pouco a
vida escolar de seus filhos. A escola é vista pela maioria dos alunos como o único
espaço de acesso à cultura e conhecimento e também como única oportunidade de
realização pessoal e melhora das suas condições de vida.
1.2 PIBID
Nesse contexto a partir de 2012 acontece o Pibid – Programa de Iniciação de
Bolsa de Iniciação à Docência, feito a partir de uma parceria entre o IFPR – câmpus
Palmas e o Colégio Estadual Alto da Glória.
Através deste programa, estudantes do curso de Artes Visuais participam e
colaboram nas aulas de arte do Colégio, buscando trabalhar tanto a metodologia de
ensino quanto o desenvolvimento de novas e diferentes abordagens no ensino da arte.
Entre os objetivos do programa estão :
"Incentivar a formação de docentes em nível superior para a educação básica;Contribuir para a valorização do magistério;Elevar a qualidade da formação inicial de professores nos cursos de licenciatura, promovendo a integração entre educação superior e educação básica;Inserir os licenciandos no cotidiano de escolas da rede pública de educação[...];Incentivar escolas públicas de educação básica, mobilizando seus professores como coformadores dos futuros docentes[...]; eContribuir para a articulação entre teoria e prática necessárias à formação dos docentes, elevando a qualidade das ações acadêmicas nos cursos de licenciatura."(CAPES)
Em 2012 e 2013 participaram do programa sete bolsistas. Atualmente o Colégio
conta com oito bolsistas, sendo que três participam do período da manhã e cinco
participam no período da tarde.
2. Experiência do PIBID Artes Visuais
2.1 Experiência em 2012/2013
No Colégio Estadual Alto da Glória, a supervisora já faz parte do Pibid desde
2012 e participando dessa experiência das "intervenções colaborativas" na escola,
percebe a diferença que o Pibid causou em suas aulas, tornando os alunos mais
participativos e interessados. Percebe ainda que o Pibid proporcionou dinâmica nas
aulas de arte pois trabalhando com as quatro áreas de forma prática os alunos tiveram a
possibilidade de se expressar criativamente nas suas áreas de interesse.
Os trabalhos desenvolvidos em sala de aula no ano de 2013 trataram de diversos
conteúdos, como o Expressionismo, expressão musical e corporal, música de protesto,
cantigas de roda, elementos de composição do som e da música, fotografia, arte
contemporânea, arte indígena, Pop Art, entre outros. A abordagem das bolsistas em sala
de aula atendeu aos conteúdos organizados por série do Caderno de Expectativas de
Aprendizagem e também aos fundamentos da metodologia no ensino da Arte do estado
do Paraná: teorizar, sentir e perceber e trabalho artístico, sempre voltados às quatro
áreas da arte.
De acordo com as Diretrizes Curriculares Orientadoras de Arte (2008, p.70):
Teorizar: fundamenta e possibilita ao aluno que perceba e aproprie a obra artística, bem como, desenvolva um trabalho artístico para formar conceitos artísticosSentir e perceber: são as formas de apreciação, fruição, leitura e acesso à obra de arteTrabalho artístico: é a prática criativa, o exercício com os elementos que compõe uma obra de arte.
Destaca-se no final de 2013 o fechamento das atividades do Pibid, onde alguns
dos alunos atendidos pelo programa tiveram a oportunidade de apresentar suas criações
artísticas (música/dança/performance) na mostra do Pibid realizada no IFPR com a
participação de todos os cursos que fazem parte do Pibid na instituição. Este evento foi
a finalização das atividades de 2013 e para a supervisora foi de importância
fundamental para o desempenho escolar e realização dos alunos, pois o Pibid deu-lhes a
possibilidade de mostrar aquilo que desenvolveram nas aulas de arte e principalmente,
num meio que não era dos seus convívios.
2.2 Experiência atual
No ano de 2014 o projeto do Pibid Artes Visuais foi reestruturado de modo a
desenvolver hibridamente as várias áreas da arte, mas sendo focado para o ensino de
teatro. Nessa reestrutura o programa passou a atender , além do Colégio Estadual Alto
da Glória, também a Escola de Artes Nascer para a Arte, aumentando assim o número
de supervisores, agora dois e também o número de bolsistas, agora quinze.
Um dos objetivos dessa nova organização é que os bolsistas conheçam duas
realidades diferentes e desenvolvam seus projetos tanto no ensino formal, quanto no
ensino não formal. Para tanto, o número de bolsistas foi dividido entre as duas
instituições atendidas, sendo que neste momento os bolsistas estão fazendo observações
e acompanhamentos em sala de aula para futuras intervenções.
3. Olhar da supervisora sobre alguns aspectos do Pibid
3.1 Aspectos a serem melhorados
Pela pouca experiência das bolsistas em sala de aula e por serem a maioria de
períodos iniciais da licenciatura a supervisora percebe que as aulas ainda necessitam de
trabalho sobre a teorização, pois algumas práticas são realizadas sem ou com pouca
abordagem teórica, necessitando mais planejamento nesse ponto da metodologia,
contextualizando os conteúdos para que o aluno perceba que a Arte não é somente
prática ou técnica.
Segundo as Diretrizes Curriculares Orientadoras de Arte (2008, p.70) :"Teorizar
é a parte do trabalho metodológico que privilegia a cognição, em que a racionalidade
opera para apreender o conhecimento historicamente produzido sobre arte."
Outro aspecto a ser considerado na elaboração das aulas é a questão da avaliação
das atividades propostas, sabe-se que a avaliação em arte é ainda muito criticada por
professores de outras disciplinas pois muitas vezes não avaliamos em consequência de
uma prova propriamente dita, mas de atividades avaliativas realizadas pelos alunos.
Dessa forma, apesar da supervisora avaliar informalmente atividades que não foram
aplicadas por ela e já que o Pibid destina-se à formação docente, é impreterível pensar
nos resultados obtidos e também nas notas atribuídas para os alunos.
Segundo as Diretrizes Curriculares Orientadoras de Arte (2008, p.70)
A concepção de avaliação para a disciplina de Arte proposta nestas Diretrizes Curriculares é diagnóstica e processual. É diagnóstica por ser a referência do professor para planejar as aulas e avaliar os alunos; é processual por pertencer a todos os momentos da prática pedagógica. A avaliação processual deve incluir formas de avaliação da aprendizagem, do ensino (desenvolvimento das aulas), bem como a autoavaliação dos alunos.
A supervisora entende que o momento de avaliação seria o momento de discutir
o desempenho dos alunos com as bolsistas e também uma forma das bolsistas
conhecerem melhor (e pelo nome) os alunos com os quais trabalharam.
É interessante lembrar que algumas bolsistas realizaram uma espécie de registro
ou relatório escrito pelos alunos, que seria uma sugestão para embasar a avaliação nas
próximas aplicações dos projetos. É importante que esse registro seja feito tanto pelos
alunos, quanto pelas bolsistas continuamente pois através deste se evidenciam as falhas,
acertos e adequações para o bom andamento do projeto, sendo também uma importante
forma de autoavaliação.
Ainda sobre os aspectos pedagógicos, outro ponto que necessita de atenção é a
questão da organização do tempo em sala de aula. No colégio em questão, as aulas de
arte são organizadas em duas aulas semanais com duração de cinquenta minutos, tendo
somente uma turma com aulas "germinadas", ou seguidas. Dessa maneira, as bolsistas
devem tomar uma atenção especial em relação ao tempo utilizado, as atividades devem
ser planejadas para serem trabalhadas dentro desse período, mesmo que este seja
relativamente curto.
A supervisora considera ainda que a maioria das bolsistas é jovem e está num
processo de formação pessoal, portanto ainda estão conhecendo a profissão de professor
para definirem se é realmente a carreira que querem seguir e com o confrontamento com
a realidade de escola pública, já ocorreram até alguns casos de desistência do Pibid por
esse motivo.
Sobre a discussão entre o desenvolvimento dos aspectos pessoal e profissional
do professor, Fávero e Tonieto (2010, p. 29) afirmam que:
Ao mesmo tempo em que se prepara para exercer um determinado papel como profissional, esse sujeito se prepara para uma nova inserção social, um novo contexto de relações o que exige que ele faça novas adesões, ações, opções e reflexões. Esse novo contexto de relações em processo de formação é "bombardeado" por outros papéis que ele desempenha em outros espaços da sua vida, o que pode levar à repulsão, unificação, ou contradição entre o "eu pessoal" e o "eu profissional".
Analisando essas questões, entende-se que o Pibid vem como uma ferramenta
para essa fase que antecede a profissão de professor, pois o bolsista é colocado na
realidade de escola pública a fim de conhecer os prós e contras da profissão de
professor.
3.2 Aspectos positivos
As intervenções já realizadas fizeram com que os alunos sintam-se empolgados
em participar das aulas e realizar as atividades, percebe-se também mais “liberdade” de
expressão, muitos alunos que antes não participavam das aulas ou participavam pouco
agora se sentem mais motivados a exporem suas opiniões e irem até a frente para
apresentar seus trabalhos.
Sobre essa motivação para as aula de Arte é visível a relação de afeto que se
estabeleceu entre as bolsistas e os alunos, mostrando que o papel do professor não é
somente ser mediador de conhecimento, mas também tratar com respeito a sensibilidade
do aluno.
Nesse sentido, Iavelberg (2003, p. 10), descreve o papel do professor de Arte:
O papel dos professores é importante para que os alunos aprendam a fazer arte e a gostar dela ao longo da vida. Tal gosto por aprender nasce também da qualidade da mediação que os professores realizam entre os aprendizes e a arte. Tal ação envolve aspectos cognitivos e afetivos que passam pela relação
professor/aluno e aluno/aluno, estendendo-se a todos os tipos de relações que articulam no ambiente escolar.
Uma nova forma de organização também foi estabelecida, pois no início os
alunos tinham a necessidade de mostrar todos os seus trabalhos à professora, agora
entendem a função da bolsista também como professora. As tarefas propostas são
realizadas por todos ou pela maioria dos alunos, constatando assim a importância dos
conteúdos aplicados e do papel da bolsista.
Novas interações também foram feitas entre colegas, pois as atividades que estão
sendo propostas geralmente são feitas em duplas ou em grupos, algumas bolsistas
sentem a necessidade de formar grupos diferentes e assim meninos e meninas de uma
mesma turma vão se conhecendo e aprendendo com a diversidade.
O modo como as bolsistas desenvolveram e aplicaram os seus projetos
articulando diferentes temas entre um conteúdo e outro também contribuiu para a
sensibilização dos alunos em relação a diferentes culturas e modos de representação da
Arte e seu uso como ferramenta. Na arte indígena foi salientado o cuidado e a
valorização do meio ambiente, no folclore o respeito à diversidade cultural, na música o
respeito aos diferentes gostos musicais e o papel da indústria cultural, na arte
contemporânea e nas vanguardas o papel da Arte como protesto e como crítica. Assim,
além de novos conteúdos aprendidos, os alunos conseguem estabelecer a relação entre
os conteúdos e as suas vivências.
Iavelberg (2003, p. 55), reflete:
A percepção de si mesmo como mediador de culturas e promotor de conhecimento transforma a relação que o professor tem com a produção de seu meio e de outros meios culturais, torna o professor menos dependente para selecionar conteúdos e desenvolver seus planejamentos, pois o fará como quem conhece os assuntos a serem ensinados e, quando não tiver domínio, sentir-se-á seguro para pesquisar e planejar.
Outro importante aspecto positivo diz respeito ao trabalho com as quatro áreas
da Arte: Teatro, Música, Dança e Artes Visuais. Sendo a supervisora formada em Artes
Visuais, acaba trabalhando mais com essa área; com a intervenção das bolsistas áreas
que eram pouco desenvolvidas com os alunos passaram a ser mais apreciadas. É
interessante ressaltar que muitas das atividades propostas pelas bolsistas foram
utilizadas pela supervisora também em turmas que não eram atendidas pelo Pibid,
reconhecendo que o Pibid é uma troca entre supervisora e bolsistas.
Houve também melhora no desenvolvimento profissional da supervisora, que
com a experiência do Pibid está tornando suas aulas mais reflexivas e objetivas e através
da participação em eventos na área de educação, ouvindo relato de experiências
parecidas, percebe cada vez mais a importância do registro de suas práticas.
Para Bortoni-Ricardo (2008, p.46)
O professor pesquisador não se vê apenas como um usuário de conhecimento produzido por outros pesquisadores, mas se propõe também a produzir conhecimentos sobre seus problemas profissionais, de forma a melhorar sua prática. O que distingue um professor pesquisador dos demais professores é seu compromisso de refletir sobre a própria prática, buscando reforçar e desenvolver aspectos positivos e superar as próprias deficiências. Para isso ele se mantém aberto a novas ideias e estratégias.
Para a supervisora, um dos pontos essenciais no sucesso que o Pibid vêm
alcançando está na realização das reuniões semanais entre bolsistas, supervisores e
coordenadora. Este é momento de aprendizado, organização, planejamento,
sistematização e exposição dos projetos. A partir desses encontros é possível sanar as
dúvidas, reorganizar horários, pensar conjuntamente sobre novos projetos.
4. Considerações finais
Os projetos do Pibid Artes Visuais encontram-se em processo, portanto os
resultados são parciais, mas analisados continuamente.
Pela realização do cronograma de atividades do Pibid até o momento, entende-
se que existem alguns pontos que necessitam de ajustes como a teorização, a avaliação,
a organização do tempo a formação pessoal em contradição com a formação
profissional das bolsistas. Em contrapartida, existem aspectos positivos muito mais
relevantes como a motivação dos alunos, as relações e interações estabelecidas pelas
bolsistas, a preocupação com os aspectos culturais na escolha de conteúdos e o
desenvolvimento da supervisora.
Através das falas dos bolsistas nas reuniões semanais percebe-se uma melhora
na pesquisa e na preparação dos seus projetos e também uma preocupação maior com a
docência e o ensino da Arte, cumprindo assim com os objetivos do programa.
Nessas considerações é importante também destacar o olhar de outros membros
do colegiado sobre os projetos já realizados, pois para a direção, equipe pedagógica e
professores do colégio a experiência do Pibid é vista com uma oportunidade a mais na
vida escolar dos alunos além de uma importante forma de se estabelecer vínculo com
uma instituição de ensino superior.
Com as análises feitas sobre esta experiência, entende-se que o Pibid está
cumprindo com os seus objetivos pois oportuniza às bolsistas o convívio com a
realidade de escola pública, associa o ensino superior à educação básica e promove o
incentivo à docência já nos períodos iniciais da licenciatura. O Pibid para a escola
pública é um incentivo a mais para que professores supervisores se preocupem com a
qualidade das suas aulas e possam também auxiliar e monitorar futuros docentes.
Referências
BORTONI-RICARDO, Stella Maris. O professor pesquisador: Introdução à pesquisa
qualitativa. São Paulo: Parábola Editorial, 2008
CAPES. Pibid - Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência. Disponível
em: < http://www.capes.gov.br/educacao-basica/capespibid>. Acesso em 18 jun. 2014.
FÁVERO, Altair Alberto; TONIETO, Carina. Educar o educador: reflexões sobre a
formação docente. Campinas: Mercado de Letras, 2010.
IAVELBERG, Rosa. Para gostar de aprender arte: sala de aula e formação de
professores. Porto Alegre: Artmed, 2003.
PARANÁ. Secretaria de Estado de Educação. Diretrizes Curriculares Orientadoras de
Arte. Curitiba, 2008.