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Resenha Crítica Exercício para disciplina "Memória e Instituição" 1o. semestre de 2010. SOBRE A OBRA DOUGLAS, Mary. Como as instituições pensam. 1. ed., 1. reimpr. São Paulo: editora da Universidade de São Paulo, 2007. SOBRE A AUTORA Mary Douglas (1921-2007), antropóloga inglesa, lecionou nas Universidades de Oxford, de Londres e na Northwestern University. Foi aluna de Edward Evans-Pritchard, o mais importante antropólogo britânico de meados do século XX. Realizou pesquisas de campo na África, da qual resultou o livro Pureza e Perigo (1966). A autora foi uma das primeiras antropólogas a compreender que as técnicas que aprendera para estudar o "outro" – para pesquisar "povos primitivos", como ainda diziam os antropólogos nos anos 1960 – poderiam ser empregadas com bons resultados no estudo de sua própria sociedade. Ela foi uma das criadoras do que se poderia chamar de "a antropologia do nós", aquilo que Pierre Bourdieu mais tarde descreveria como "antropologia reflexiva". O livro Como pensam as instituições é resultado das conferências realizadas na Universidade de Siracusa, EUA, 1985. (FONTE: Biblioteca Nacional e Folha de SP) SÍNTESE DO LIVRO Após uma introdução recheiada de exemplos, a autora estrutura o livro em pressupostos teóricos para desnudar a construção social do conhecimento. É em relação a este que ela chamará de instituição. O conhecimento construindo e reconhecido dentro das relações sociais sem deixar de considerar a formação de uma racionalidade individual. Há o pensamento particular mas ele é difundido, classificado e analisado socialmente. A antropológa elege o sociologo Emile Durkheim como ponto de partida para categorizar um agrupamento de individuos e sua influência na racionalidade particular. O meio social, a comunidade determina as escolhas individuais e pode estudar o fenômeno das relações sociais no mesmo patamar da analise comportamental individual. Óbvio que estas colocações tem problemas e algumas não foram desenvolvidas adiante. Um dos motivos seria que Durkheim estivesse usando como objeto de estudo sociedades distintas dos modelos acidentais, sociedades tribais. Mas a critica ao fundador da escola sociologica francesa não significa seu abandono por completo, para Mary Douglas as considerações de Durkheim é o pressuposto para iniciar uma discursão de como os grupos sociais se formam, que tipo de motivações solidárias aproxima os individuos. Se a primeira formulação teorica não responde por completo, é por causa da propria natureza da epistemologia que não se encerra em uma questão única, faz-se necessário confrontar outros téoricos para delinear apontamentos mais verossímeis. O segundo autor base que Douglas apresenta no livro é Ludwik Fleck, médico e biologo, que durante o seu trabalho sobre o tratamento da sifilis, desenhou como o pensamento cientifico é consolidado por pensamento coletivo. Isto é, a racionalidade individual não está isolada das questões teoricas elaboradas socialmente e as mesmas podem determinar ou excluir preposições. Fleck, usando exemplos dentro das pesquisa da ciências naturais retoma as representações coletivas de Émile Durkheim. E nessa 'dobradinha' que a antropologa enfrentará outros antropologos contemporaneos. As relações sociais não se caracterizam em grupos menores, mesmo que a aproximidade coage mais o individuo: não compactuar com a comunidade, é desfalcar o 'espetáculo'. Os grupos se constituem a partir de um potencial determinado para uma ação futura. E seus parametros construindos por analogia a segmentos dentro da natureza, isto é, estamos sempre comparando atitudes intuitivas, biologicas para entender comportamentos complexos e regra-los de acordo com as convenções do próprio grupo. Não é de se admirar que a aproximação com as ciências naturais tenha sido a partida para estudar comportamentos humanos em sociedade. Essa produção de conhecimento confere identidade e classifica os grupos. Os aproxima e promovem uma afinidade entre os individuos. A classificação pode ser geografica/ espacial ou cultural, valores por afinidades. Isto não significa harmonia e concordancia. É dá natureza das relações sociais e produção de conhecimento, os agrupamentos sem validação, se desfazerem. As instituições não são eternas, são dinamicas dentro da formulação epistemologica. O esquecimento é propicio para novas formulações, novas formações de instituições. A memória pública ao expor a trajetória cognitiva identifica seus defensores e fundadores polarizando preposições de conhecimento e agregando escolas de saber. Apesar de nunca negar a racionalidade individual sem influência coletiva, Mary Douglas afirma que em decisões importantes, que perpassa questões de vida e morte, o individuo se exime de opinar sozinho. Decisões coletivas são entregues as instituições, isto é, as regras de convivências preestabelecidas socialmente. CONSIDERAÇÕES O livro Como as instituições pensam é deveras denso pois o que está em analise é a propria formação, difusão e consolidação do conhecimento. Que mesmo sem negar sua origem, reflexão e racionalização do individuo, não é nunca construindo fora das representações sociais, retomando uma categoria de Durkheim. A memória pública como atribuição à uma trajetória cognitiva e reflexiva de uma variedade de axiomas é lembrada ou esquecida de acordo com as demandas dos grupos sociais. Ter uma origem teorica consolidada identifica e classifica os paradigmas formulados dentro pensamento coletivo. Logo eleger os artefatos que representam simbolicamente esses valores culturais e uma decisão tão importante como decidir quem vive e morre. O esquecimento pode extinguir, por um determinado tempo, aquele grupo ou conhecimento. Isso se fomos considerar a existência como valor de exposição. Mas não irei nessa direção. Tentando me ater as preposições do livro, que o conhecimento é gerado individualmente, mas é influenciado pelo seu meio social e dentro dessas relações as escolhas tomam diversas perspectivas, as decisões de vida e morte, de sacrificio nunca são decididas sem o

Como pensam as Instituições Mary Douglas resenha

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Resenha Crítica Exercício para disciplina "Memória e Instituição" 1o. semestre de 2010. SOBRE A OBRA DOUGLAS, Mary. Como as instituições pensam. 1. ed., 1. reimpr. São Paulo: editora da Universidade de São Paulo, 2007. SOBRE A AUTORA Mary Douglas (1921-2007), antropóloga inglesa, lecionou nas Universidades de Oxford, de Londres e na Northwestern University. Foi aluna de Edward Evans-Pritchard, o mais importante antropólogo britânico de meados do século XX. Realizou pesquisas de campo na África, da qual resultou o livro Pureza e Perigo (1966). A autora foi uma das primeiras antropólogas a compreender que as técnicas que aprendera para estudar o "outro" – para pesquisar "povos primitivos", como ainda diziam os antropólogos nos anos 1960 – poderiam ser empregadas com bons resultados no estudo de sua própria sociedade. Ela foi uma das criadoras do que se poderia chamar de "a antropologia do nós", aquilo que Pierre Bourdieu mais tarde descreveria como "antropologia reflexiva". O livro Como pensam as instituições é resultado das conferências realizadas na Universidade de Siracusa, EUA, 1985. (FONTE: Biblioteca Nacional e Folha de SP) SÍNTESE DO LIVRO Após uma introdução recheiada de exemplos, a autora estrutura o livro em pressupostos teóricos para desnudar a construção social do conhecimento. É em relação a este que ela chamará de instituição. O conhecimento construindo e reconhecido dentro das relações sociais sem deixar de considerar a formação de uma racionalidade individual. Há o pensamento particular mas ele é difundido, classificado e analisado socialmente. A antropológa elege o sociologo Emile Durkheim como ponto de partida para categorizar um agrupamento de individuos e sua influência na racionalidade particular. O meio social, a comunidade determina as escolhas individuais e pode estudar o fenômeno das relações sociais no mesmo patamar da analise comportamental individual. Óbvio que estas colocações tem problemas e algumas não foram desenvolvidas adiante. Um dos motivos seria que Durkheim estivesse usando como objeto de estudo sociedades distintas dos modelos acidentais, sociedades tribais. Mas a critica ao fundador da escola sociologica francesa não significa seu abandono por completo, para Mary Douglas as considerações de Durkheim é o pressuposto para iniciar uma discursão de como os grupos sociais se formam, que tipo de motivações solidárias aproxima os individuos. Se a primeira formulação teorica não responde por completo, é por causa da propria natureza da epistemologia que não se encerra em uma questão única, faz-se necessário confrontar outros téoricos para delinear apontamentos mais verossímeis. O segundo autor base que Douglas apresenta no livro é Ludwik Fleck, médico e biologo, que durante o seu trabalho sobre o tratamento da sifilis, desenhou como o pensamento cientifico é consolidado por pensamento coletivo. Isto é, a racionalidade individual não está isolada das questões teoricas elaboradas socialmente e as mesmas podem determinar ou excluir preposições. Fleck, usando exemplos dentro das pesquisa da ciências naturais retoma as representações coletivas de Émile Durkheim. E nessa 'dobradinha' que a antropologa enfrentará outros antropologos contemporaneos. As relações sociais não se caracterizam em grupos menores, mesmo que a aproximidade coage mais o individuo: não compactuar com a comunidade, é desfalcar o 'espetáculo'. Os grupos se constituem a partir de um potencial determinado para uma ação futura. E seus parametros construindos por analogia a segmentos dentro da natureza, isto é, estamos sempre comparando atitudes intuitivas, biologicas para entender comportamentos complexos e regra-los de acordo com as convenções do próprio grupo. Não é de se admirar que a aproximação com as ciências naturais tenha sido a partida para estudar comportamentos humanos em sociedade. Essa produção de conhecimento confere identidade e classifica os grupos. Os aproxima e promovem uma afinidade entre os individuos. A classificação pode ser geografica/ espacial ou cultural, valores por afinidades. Isto não significa harmonia e concordancia. É dá natureza das relações sociais e produção de conhecimento, os agrupamentos sem validação, se desfazerem. As instituições não são eternas, são dinamicas dentro da formulação epistemologica. O esquecimento é propicio para novas formulações, novas formações de instituições. A memória pública ao expor a trajetória cognitiva identifica seus defensores e fundadores polarizando preposições de conhecimento e agregando escolas de saber. Apesar de nunca negar a racionalidade individual sem influência coletiva, Mary Douglas afirma que em decisões importantes, que perpassa questões de vida e morte, o individuo se exime de opinar sozinho. Decisões coletivas são entregues as instituições, isto é, as regras de convivências preestabelecidas socialmente. CONSIDERAÇÕES O livro Como as instituições pensam é deveras denso pois o que está em analise é a propria formação, difusão e consolidação do conhecimento. Que mesmo sem negar sua origem, reflexão e racionalização do individuo, não é nunca construindo fora das representações sociais, retomando uma categoria de Durkheim. A memória pública como atribuição à uma trajetória cognitiva e reflexiva de uma variedade de axiomas é lembrada ou esquecida de acordo com as demandas dos grupos sociais. Ter uma origem teorica consolidada identifica e classifica os paradigmas formulados dentro pensamento coletivo. Logo eleger os artefatos que representam simbolicamente esses valores culturais e uma decisão tão importante como decidir quem vive e morre. O esquecimento pode extinguir, por um determinado tempo, aquele grupo ou conhecimento. Isso se fomos considerar a existência como valor de exposição. Mas não irei nessa direção. Tentando me ater as preposições do livro, que o conhecimento é gerado individualmente, mas é influenciado pelo seu meio social e dentro dessas relações as escolhas tomam diversas perspectivas, as decisões de vida e morte, de sacrificio nunca são decididas sem o

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norte da classificação coletiva. Ao classificar um objeto como documento histórico, como monumento de principios e realizações, isto é, patrimonializar como identificador de um saber, de uma cultura, essa atitude está longe de ser algo particular (mesmo que esse objeto tenham sido gerado particulamente). É uma convenção coletiva, decida por um grupo que se reconhece como igual e tem regras que compartilham. A sociedade ao constituir “lugares de memória” atribui a decisão de celebração, de lembrança, de resgatar fatos a individuos previamente classificados. A eleição de patrimônio é uma disputa coletiva que demanda tensões politicas.

Postado por Silvia Franchini às 22:10