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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

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RESGATANDO O USO DAS PLANTAS MEDICINAIS NA

PRESERVAÇÃO DA SAÚDE HUMANA: PERPASSANDO PELA LEITURA

CRÍTICA DE TEXTOS VERBAIS, NÚMEROS E GRÁFICOS ÀS

DIFICULDADES NA ESCRITA.

Profª. MS. Márcia Roncada Lonardon1

Profª Dra. Elsa Midori Shimazaki 2

Resumo: Este é um estudo sobre dificuldades da escrita em alunos da 6ª série

C do Colégio Estadual “Rui Barbosa” Ensino Fundamental e Médio, série que,

em 2008, apresentou uma taxa de reprovação de 26.6%, maior taxa de

reprovação nas séries do Ensino Fundamental desta instituição. O projeto foi

desenvolvido de forma interdisciplinar com professores PDEs de Língua

Portuguesa, Matemática, Ciências e Pedagogia, com o objetivo de desenvolver

atividades interdisciplinares e análise dos textos dos alunos, observando-se o

nível de comprometimento das famílias e dos respectivos educandos, bem

como os erros mais frequentes observados na escrita. As disciplinas

desenvolveram suas atividades pautadas no referencial da Pedagogia

Histórico-Crítica. Para compreender o desenvolvimento da escrita na criança,

o estudo se pautou no referencial Histórico-Cultural, estudos de Vigotski, Lúria

e seus seguidores. Dos 35 textos produzidos pelos alunos, após leitura atenta,

foram escolhidos oito deles para uma análise detalhada, por apresentarem

maior dificuldade na escrita. A análise dos textos foi feita com base em uma

tabela diagnóstica, contendo 15 categorias. Para tanto, orientou-se pelos

tópicos apresentados por Jaime Luiz Zorzi, além de fundamentos sobre

alfabetização teorizados por Miran Lemle.

Palavras- chave: Dificuldade de aprendizagem; Escrita; Vigotsky;

Interdisciplinaridade; Plantas Medicinais.

1 Professora PDE Titulada do Núcleo Regional de Maringá - PR.

2 Professora Doutora do Departamento de Teoria e Prática da Educação da Universidade Estadual de

Maringá – UEM e Orientadora do PDE.

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Introdução

É considerável o número de alunos que frequentam o ensino

fundamental e apresentam dificuldades na língua escrita. O problema estende-

se às séries posteriores. Dessa forma, o estudo em relação à dificuldade de

aprendizagem na escrita se faz necessário, visto que a dificuldade na escrita

leva o educando, em alguns casos, a reprovas escolares, proporcionando uma

baixa estima, dificuldades em outras áreas da escolaridade e em seu meio

social. Ao buscarmos um entendimento em relação ao processo da aquisição

da língua escrita, encontramos, nos estudos de Vigostky, as bases em que se

desenvolvem os processos psíquicos de linguagem escrita em uma criança.

Esses pressupostos teóricos contribuíram de forma valiosa para o

encaminhamento das questões educacionais.

Um pouco da história da escrita

Antes do surgimento da escrita, os povos comunicavam-se verbalmente

e os conhecimentos adquiridos eram passados pelos mais velhos aos mais

novos da tribo e outras informações se perdiam. Com o passar do tempo,

houve a necessidade de se perpetuar conhecimentos para que as gerações

vindouras pudessem usufruí-los. A partir dessa necessidade, o homem deu

inicio a formas de registros que, durante séculos, foram percorrendo diferentes

caminhos e foram sendo aperfeiçoados pelos povos. A primeira forma de

registro foi a Pictográfica, que representava uma ideia abstrata. Escrita

Cuneiforme, em forma de cunha, o mais antigo sistema de escrita. Escrita

Hieroglífica, sistema de escrita Egípcia, foi muito importante no mundo antigo,

usado para rituais religiosos e documentos da vida pública. Escrita Demótica,

escrita do povo, foi utilizada até o fim do século V. O alfabeto, na Roma Antiga,

continha somente letras maiúsculas. Nossa escrita teve origem fenícia, com 22

caracteres, cada caractere representando um som diferente. Sistema fonético

de escrita. Os gregos, por volta do século VIII, a. C, transformaram algumas

consoantes em vogais, acrescentaram alguns caracteres e o alfabeto foi

ampliado para 24 letras, antes eram registradas da direita para esquerda e os

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gregos mudaram da esquerda para a direita. Em 753 a. C, romanos, baseados

no alfabeto grego, criaram o alfabeto latino. Dessas adaptações, surgiu o

alfabeto moderno que conhecemos e utilizamos na nossa língua (HIGOUNET,

2003).

Evolução da criança na escrita na perspectiva de vigostky:

Oliveira (2005 p. 68) coloca que na concepção de Vigotsky a “escrita se

realiza culturalmente, por mediação”. A criança que cresce e se desenvolve

dentro de uma cultura letrada, de uma sociedade em que predomina a escrita,

portanto, fica exposta a várias influências relacionadas aos usos da linguagem

escrita. Dessa forma, destaca Oliveira (2005, p. 68), “[...] a criança, ao entrar na

escola, já apresenta um desenvolvimento em relação à escrita”. Mas, para que

a criança a entenda e comece a utilizá-la como instrumento de comunicação,

deve compreender que a língua escrita é um sistema de signos.

Para entender o processo de apropriação da escrita, é importante

compreender como esses processos ocorrem com a criança antes de se

tornarem alfabéticas. Luria (2006) desenvolveu um programa de pesquisa para

entender o caminho que a criança percorre para aprender ler e escrever. Em

sua pesquisa, ele visualizou a própria “Pré-história da escrita”.

Luria solicitava para as crianças que não haviam ainda se apropriado da

escrita para que memorizassem um grande número de frases, porém a criança

apresentava dificuldades em memorizá-las. Após observar a dificuldade das

crianças, ele sugeria-lhes para que escrevessem as frases de maneira que

pudessem lembrar-se delas. Desse modo, ele pôde delinear o que denominou

de “Pré-história da escrita”, evidenciando três momentos desse processo:

Rabiscos mecânicos: A criança imita as ações dos adultos, faz rabiscos

sem função ou significado, não os utiliza como recursos para auxiliar a

memória.

Marcas topográficas: As marcas topográficas são registros, sinais em

uma folha. Essas marcas ainda não são signos, mas ajudam lembrar

informações.

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Luria (2006, p. 158) destaca que “esta é a primeira forma de escrita no

sentido próprio da palavra”.

Representações pictográficas: A partir do momento em que a criança

descobre como se processa a escrita, ela a registra com formas

diferenciadas, começa a fazer desenhos, e esses desenhos são usados

como signos que representam palavras, conteúdos. São um meio para

se recordar do que escreveu.

Luria (2006, p. 161) assim sintetiza esse processo:

[...] linhas e rabiscos são substituídos por figuras e imagens, e estas

dão lugar a signos. Nesta seqüência de acontecimentos está todo o

caminho do desenvolvimento da escrita, tanto na história da

civilização como no desenvolvimento da criança.

Escrita simbólica: Nessa fase, a criança não aprendeu a função da

escrita e não sabe usá-las adequadamente é uma relação externa. A

criança tem conhecimento de alguns signos, mas não sabe usá-los

corretamente. Ao ser solicitado para que faça algum registro, ela o faz,

mas utiliza letras de forma aleatória, sem relação com o que foi

solicitado. A compreensão da escrita ainda não foi internalizada pela

criança. Dessa forma, observa-se que a criança no início da

alfabetização não entende os mecanismos da escrita. O aprendizado e a

assimilação desses mecanismos simbólicos é a próxima fase em que a

criança irá passar se for adequadamente estimulada.

Dificuldades na escrita

Portanto, aprender escrever corretamente não é um processo simples.

Para Vigotsky, o aprendizado da escrita é um processo complexo, onde os

processos biopsicossociais estão envolvidos, não é só habilidade motora.

Ao considerarmos todos esses fatores, propomo-nos realizar um estudo

das dificuldades na escrita dos alunos da 6ª série C, objetivando posterior

intervenção.

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Desenvolvimento:

Ao iniciar os estudos do PDE, professores do mesmo Colégio decidiram,

em reunião, organizar um projeto interdisciplinar no qual estariam envolvidas

pedagoga, professores da Língua Portuguesa, Matemática e Ciências. Após

encontros entre orientadores da UEM e professores, decidiu-se que o tema

abordado seria Plantas Medicinais.

Durante o curso, enquanto os professores estavam afastados do

Colégio, houve várias reuniões dos membros do grupo para a organização dos

planos de ação docente de cada disciplina. E, antes de iniciar o projeto de

implementação dos professores PDEs, foram realizadas reuniões com

pedagogas do Colégio, direção, alunos, pais e professores da 6ª série C com o

objetivo de informá-los das atividades que seriam desenvolvidas com essa

turma.

As intervenções foram divididas em unidades de estudos, onde cada

professor desenvolveu atividades na sua disciplina na 6a série C. As unidades

de estudo foram: prática da oralidade; prática da leitura; levantamento de

dados; conhecendo vegetais; pesquisa bibliográfica; o uso de Plantas

Medicinais; produção textual: gráfica e escrita; visita ao horto de Plantas

Medicinais; estudo do solo; cultivo de Plantas Medicinais e devolutiva à

comunidade. Nas unidades: prática da oralidade; levantamento de dados;

produção textual gráfica e escrita; visita ao horto de Plantas Medicinais; cultivo

das Plantas Medicinais e devolutiva à comunidade, a pedagoga participou no

desenvolvimento das atividades.

Na unidade prática da oralidade, a atividade proposta foi o estudo sobre

tipos de entrevistas, elaboração de perguntas para a realização de uma

entrevista que seria feita logo em seguida. Observou-se que, inicialmente, os

alunos mostravam-se inseguros ao realizar entrevistas com colegas ou

funcionários do Colégio, mas, no transcorrer da atividade, constatou-se maior

desenvoltura. Na unidade onde os alunos realizaram a produção textual, na

aula de Língua Portuguesa, a professora iniciou a aula propondo que os alunos

imaginassem que um amigo estaria com um problema de saúde e não teria

como ir ao médico. Por se tratar do melhor amigo, eles poderiam ajudá-lo

usando a fitoterapia. Em seguida, foi solicitado para que a turma produzisse

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um texto narrando como o fato aconteceu e, passo a passo, como eles

orientariam o amigo a fazer uso de plantas medicinais. Quando todos os alunos

concluíram a atividade, o professora recolheu os textos para análise.

A professora de ciências também desenvolveu atividades que

culminaram em um registro escrito, os dois textos foram utilizados pela

pedagoga para a realização da análise.

Ao escreverem os textos solicitados, observou-se que os alunos

apresentaram comportamentos distintos. No texto que foi produzido na aula de

Língua Portuguesa, os alunos se preocuparam com o conteúdo relacionado à

disciplina: uso de parágrafo, maior atenção à estética do texto. Já no texto

produzido durante a aula de ciências, deram maior atenção ao conteúdo do

texto e não se preocuparam com concordância, pontuação, paragrafação e

outros itens afins.

Na visita ao horto de Plantas Medicinais os alunos estavam motivados e

seguiram as orientadoras da UEM com atenção, tentando identificar todas as

Plantas Medicinais que havia nesse horto e fazendo relações com os

conteúdos já estudados em sala.

Na unidade Cultivo às Plantas Medicinais, em que foi reservado um

espaço no Colégio para realizar o plantio das Plantas Medicinais colhidas no

Horto da UEM, os alunos demonstraram empenho em realizar a atividade a

contento.

a) Critérios para a escolha da turma para desenvolver o projeto

Foi definida a 6ª série, porque o levantamento estatístico de 2008,

realizado pelo Colégio, demonstrou maior taxa de reprovação nessa série.

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Quadro 1: Aproveitamento dos alunos do Colégio Estadual Rui Barbosa

Ano/Série Matrícula

inicial

Admitidos

após maio

Afastados

por

abandono

Afastados

por

transferência

Matrícula

final

Aprovados Reprovados Taxa de

Aprovação

(%)

Taxa de

Reprovação

(%)

Taxa de

Abandono

(%)

5ª série 158 01 - 7 152 127 25 83.6 16.4 0.0

6ª série 164 02 06 12 148 107 41 69.5 26.6 3.9

7ª série 120 02 01 05 116 93 23 79.5 19.7 0.9

8ª série 127 00 05 11 111 94 17 81.0 14.7 4.3

Fonte: Dados estatísticos fornecidos pela secretaria do Colégio “Rui Barbosa”.

b) Caracterização dos professores que atuaram na 6ª Série C

Os professores que atenderam à 6ª série C neste ano possuíam

formação na área de atuação, em sua maioria pertencente ao Quadro Próprio

do Magistério.

Quadro 2: Grau formação dos professores da 6ª série C.

DISCIPLINA FORMAÇÃO

01 Língua Portuguesa 3 Pós-Graduações, Mestrado e PDE

02 Matemática 2 Pós-Graduações e PDE

03 História Graduação na área de atuação

04 Geografia Pós-Graduação e PDE

05 Ciências Pós-Graduação e PDE

06 Arte Graduação na área de atuação

07 Educação Física Pós-Graduação

08 Língua Estrangeira Moderna Pós-Graduação em Ed. Especial

09 Ensino Religioso Pós-Graduação em Ed. Especial

Fonte: Dados fornecidos pela secretaria do Colégio “Rui Barbosa” - (2010)

De fevereiro a junho de 2010, a turma foi atendida por três professores

PSS nas disciplinas de Matemática, Ciências e Língua Portuguesa, os quais

foram substituídos pelos professores PDEs em agosto, que reassumiram a

turma.

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c) Caracterização da turma

A 6ª série C, período da tarde, se compunha de 13 alunos do sexo

masculino e 22 do sexo feminino. Os alunos, em sua maioria, estão dentro da

idade série: com 11 anos - 8 alunos, com 12 anos - 19 alunos, com 13 anos - 4

alunos, com 14 anos - 4 alunos e com 15 anos - 1 aluno. A turma, com maior

número de meninas, apresentava-se agitada, com conversas paralelas e não

muito compromisso com os estudos.

d) Dados familiares dos alunos

Para a entrevista feita com os familiares, foi elaborada uma série de

perguntas pela pedagoga – o que o aluno lê em casa, tipos de textos mais

escritos pelos familiares, idade dos genitores – e efetivada pelos alunos. Teve

como objetivo realizar levantamento sobre o envolvimento dos pais com o

processo de leitura e escrita dos alunos dessa turma. Somente vinte e cinco

alunos (Figura 1) devolveram o documento com as respostas de um membro

da família, obtendo-se os seguintes resultados.

Fonte: Entrevista aplicada pelos alunos da 6ª série C aos pais.

Figura 1: Distribuição do número de familiares que responderam às questões da entrevista.

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Pela participação na entrevista, constatou-se que as mães estão mais

presentes nas atividades de aprendizagem dos filhos, já que, em sua maioria,

responderam ao documento.

Indagou-se se a família apresentava o hábito de leitura para saber se o

aluno lê regularmente em casa. Constatou-se que, na maioria das famílias

investigadas, os livros são os menos manuseados e que a leitura de bula de

remédios e bíblias apresentaram-se como preponderantes (Figura 2).

Fonte: Entrevista aplicada pelos alunos da 6ª série C aos pais.

Figura 2: Tipos de materiais escritos que os alunos têm disponível em sua residência.

Ao se indagar sobre os tipos de escrita mais utilizados pelos familiares,

pela Figura 3, observa-se que é uma escrita não regular, uma vez que o que

mais apareceu foi o registro de lista de compras e essa forma de registro não

se faz todos os dias e sim uma vez por semana ou uma vez por mês. Sabe-se

que a escrita tem que ser realizada frequentemente para que se torne mais

fluida. Ficou claro, com esse levantamento, que a escrita realizada pelos

familiares dos alunos não tem a característica de regularidade.

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Fonte: Entrevista aplicada pelos alunos da 6ª série C aos pais.

Figura 3: Tipos de escritas mais utilizadas pelos familiares dos alunos da 6ª série C.

Sobre o grau de escolaridade dos pais, os resultados obtidos estão

apresentados na Figura 4.

Fonte: Documentos de ficha individual dos alunos.

Figura 4: Grau de escolaridade dos pais dos alunos da série 6ªC. Constatou-se que, em sua maioria, pais e mães cursaram somente o

ensino fundamental.

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Em relação à idade dos genitores, observou-se que os pais

apresentaram idade superior às mães. Nota-se que 83% das mães estão na

faixa etária de 29 a 39 anos enquanto que, dentre os pais, 53% encontram-se

entre 40 a 49 anos (Figura 5).

Fonte: Levantamento realizado pelos alunos em entrevista junto aos pais.

Figura 5: Distribuição das idades dos pais dos alunos da 6a série C.

Com todos os dados apresentados caracteriza-se a clientela pesquisada.

Destacamos que o levantamento de dados em relação aos professores, alunos

e familiares foi realizado de forma paralela ao desenvolvimento das unidades

de trabalho dos professores.

Critérios para a escolha e análise dos textos

A pedagoga acompanhou a aula de Língua Portuguesa onde foi

proposta a produção de um texto opinativo argumentativo sobre A importância

das Plantas Medicinais e que foi utilizado para posterior análise. Essa atividade

foi desenvolvida na sexta unidade de trabalho, o uso das Plantas Medicinais.

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Dos 35 textos produzidos pelos alunos, após leitura atenta, foram

escolhidos oito textos para uma análise detalhada, por seus autores

apresentarem maior dificuldade na escrita.

A análise dos textos realizou-se com base em uma tabela diagnóstica,

tendo como orientação os tópicos apresentados por Jaime Luiz Zorzi, em seu

livro Aprender a escrever: apropriação do sistema de ortografia, 1998, e o livro

de Miran Lemle, Guia Teórico do Alfabetizador, de 2009. A tabela comportou

15 categorias para análise.

Análise dos textos e resultados.

Após uma análise detalhada dos oito textos selecionados, elaboramos

os quadros: 3, 4 e 5, os quais sintetizam as principais dificuldades de escrita

encontradas.

Quadro 3: Análise de aspectos gerais do texto.

Sujeitos Escrita Letras

maiúsculas Acentuação Pontuação Paragrafação

1 Apresenta

dificuldades na escrita.

2 Apresenta dificuldades na

escrita.

Dióxido Não pontua

adequadamente

3 Apresenta muita dificuldade em

traçar as letras./ Esvreve palavras

pela metade(nutrien-

nutriente)

Escreve o nome com letra minúscula

agua / varia / solido Não pontua

adequadamente

Não faz

parágrafo de

forma correta

4 Apresenta dificuldades na

escrita.

Escreve letras maiúsculas no corpo do texto sem critério.

importancia/ nos/oxigenio/gas/ tambem/beneficios/ gas carbônico

Não pontua

adequadamente

Não fez

parágrafo no texto.

5 Apresenta escrita extremamente

pequena

importancia / tabem /arvores/carbonico/ nos/ varias/voçe/

Não pontua

adequadamente

Não fez

parágrafo no

texto.

6 Apresenta dificuldades na

escrita.

Escreve o nome com letra minúscula

importancia/ tambem/ carbonico/comercio/cosmetico/

Não pontua adequadamente.

7 Apresenta dificuldades na

escrita

Mistura letra cursiva com caixa alta

importancia/ dioxido/ carbono/oxigenio/ arvore/ ate/água

Não pontua

adequadamente

Não faz

parágrafo de forma correta.

8 Apresenta dificuldades na

escrita

importancia/ saude/ Não pontua adequadamente

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Quadro 4: Erros decorrentes de representações múltiplas.

Sujeitos Grafia do s

S/SS/C/SC/XC/X/Z Fonena Z

representad

os por Z S X

j por g Troca do K por C

quero por cero

Erros ao usar a letra m e n

1 preciza

dezerto

2

inportantes/ tanbén/ cerven / sonbrinha /exenplo

3 enbelesar(embelezar) sidade -(cidade)

nosa(nossa)

sega(seja) inportossu /importância enbelesar/ platar alinertar/

serve/ alineto/ exenplo/ min/

4 tauveis ( talvez) terianos (teriamos) sambem (sabem)

5 acontese (acontece)

deses (dessas) voçe

(você)

cando(quando) ten(tem) acomtece (acontece)

6

Inportante (importante) subra, sonbra (sombra)

serpru(sempre)

tunbe tanben(também) tem(tem)

desenbaraçar(desembaraçar) alinouto(alimento)

7

8

Quadro 5: Marcas de oralidade.

Sujeitos Alterações na

oralidade escrever na forma em que

pronuncia a palavra.

Omissões de letras junção ou separação

Confusão am e ão

Generalizações de regras

Substituições Surdos sonoros

Acréscimo de letras

Troca de letras ao escrever L por u

ou lh por l

às vezes por asvezes ou naquele por

na quele

Falaram por falarão

Troca do i por fugiu/fugio cimento/cemento ou tesoura/tesolra

Troca de t/d p/b d/t f/v s/z

1

Pra/ cidrera/ eva/ denças/ exitem/

2

3 tirano(tirando) fais (faz) bunita (bonita) precisano (precisando) pranta (planta) fais ( faz)

foto sintese/

carcarso - por causa/

on de/

são/Sam enbelesuto (embelezando)

4 Tauves (talvez) dislizamento ( deslizamento)

Impotancia (importância) grade (grande) dontes (doentes)

protegela (protege-la) porisso( por isso)

5 sautar(soltar) Serve (servem) cadera(cadeiras) utras (outras)

canouas (canoas)

6 Lalnilha (baunilha)

Shapus (shampoo)

2 vezes ban(bão)

Lanranjeira (laranjeira)

7 na queles

( naqueles) imperdindo

(impedindo)

8 Boudo (boldo) deixalas (deixá-las)

por que (porque)

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1. Escrita (Refere-se ao traçado da escrita)

Observou-se que em relação ao traçado da escrita dos sujeitos

analisados todos apresentaram formas diferenciadas de dificuldades, tais

como: escrita extremamente pequena (micrografia), espaçamento irregular,

traçado de letra com alterações na rotação e direção, letras grandes (macro

grafia) ou muito rebuscadas, evidenciando pouca importância à organização

gráfica e dificultando a leitura dos textos.

2. Letras maiúsculas e minúsculas

Constatou-se o emprego não adequado de letras maiúsculas, nome

próprio escrito com letras minúsculas e uso de letras maiúsculas na escrita de

palavras no meio da frase.

3. Acentuação

Constatou-se grande incidência nos erros de acentuação. Não

acentuaram 3 monossílabos, 3 oxítonas, 8 proparoxítonas e 14 palavras

paroxítonas não foram acentuadas.

4. Pontuação

Dos oito textos analisados, sete não respeitaram as regras de

pontuação.

5. Paragrafação

O parágrafo tem função de estética estrutural. Facilita a leitura, por

possibilitar a síntese, portanto a apreensão do tema. Na produção textual, é um

instrumento de organização de idéias ao expô-las por escrito.

Cinco alunos não usaram o parágrafo no texto e três apresentaram

dificuldades em utilizar-lo adequadamente.

6. Representações múltiplas: São situações de escrita em que letras

diferentes (s, z, x, por exemplo) representam fonemas idênticos (casa, fazenda,

exército) em contextos idênticos.

Constatou-se que a letra S é confundida com maior frequência.

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7. Apoio na oralidade

Referem-se a alterações na escrita nas quais o aluno se orienta pela

maneira como pronuncia a palavra oralmente no dia a dia, desconsiderando a

linguagem formal. Exemplo: cadera > cadeira; tamém > também, etc.).

Dos sete alunos analisados, seis apresentaram sua escrita com apoio na

oralidade.

8. Omissões de letras

Palavras escritas com grafia incompleta. Quatro alunos apresentaram

omissões de letras nas palavras.

9. Junção ou separação das palavras

Não segmentação correta das palavras (às vezes – àsvezes). Quatro

alunos não segmentaram corretamente palavras.

10. Confusão nas terminações am e ão.

Palavras que deveriam ser escritas com am – por serem paroxítonas –

podem ser escritas com ão (só usado nos vocábulos oxítonos) por serem

pronunciadas de forma semelhante, apresentando o mesmo som: falarão em

vez de falaram.

Dois alunos apresentaram dificuldades em escrever corretamente

palavras com essas terminações.

11. Generalização de regras. (Entendimento por parte do aluno que o som

de /u/ pode ser escrita com o – ônibus/onibos – boato /buato)

Não houve nenhuma incidência em relação a este item.

12. Acréscimo de letras

Maior número de letras em uma palavra. Três textos apresentaram

palavras com acréscimo de letras.

13. Letras parecidas

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Letras que se assemelham em sua função – o caso do m e do n, por

exemplo –, nasalizar as vogais, são utilizadas indistintamente por não terem

internalizado a regra da posição destas letras na palavra para seu uso.

Não houve nenhuma incidência em relação a esse item.

14. Inversão de letra.

Erro no posicionamento da letra na palavra – branco por barnco. Três

alunos apresentaram escrita com inversão de letras.

Frente a essa avaliação, constatou-se que, dentre os alunos analisados,

nenhum apresentou distúrbios de aprendizagem, mas problemas de má

alfabetização que ainda não foram superados na escrita.

4 Conclusão

Na análise dos dados familiares, observou-se que as mães

apresentaram idade menor que a dos pais, e mesmo sendo mais novas e tendo

a responsabilidade de trabalhar fora de casa, ainda são as que mais se

envolveram com a aprendizagem de seus filhos. Os pais parecem ter menor

comprometimento com o processo educativo.

Ainda, constatou-se que, nas casas investigadas, existia pouco material

escrito, como revistas jornais e outros; e que os familiares não apresentavam o

hábito da leitura e escrita. Como os alunos não tinham disponíveis materiais de

leitura, provavelmente não eram incentivados em realizá-las frequentemente.

Em relação à escolaridade dos pais dessa turma, a maioria cursou só

ensino fundamental, dificultando, de certa forma, o acompanhamento das

atividades escolares desenvolvidas por seus filhos.

No que se refere às atividades de escrita, os alunos só as realizavam em

exercícios escolares.

Todos os fatores acima mencionados nos dão a compreensão que os

familiares apresentavam pouca estrutura para propiciar atividades de incentivo

à escrita em seus lares.

Oliveira afirma que (2005 p. 57) “o desenvolvimento fica impedido na

falta de situações propícias ao aprendizado”, uma vez que os adultos que

participam da vida do educando têm fundamental importância no aprendizado

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deste. Neste sentido, Rego leciona que (1994, p. 60), “através das intervenções

constantes dos adultos, os processos psicológicos mais complexos começam a

se formar”.

Por isso, é importante que os genitores se coloquem como modelos aos

filhos, utilizando a escrita de forma corriqueira em casa. Também devem

participar no processo de desenvolvimento escolar deles, no incentivo,

acompanhamento e direcionamento dos seus estudos, disponibilizando

materiais diversificados e proporcionando interações sociais para que haja

melhor aprendizagem. Somos seres sociais e a aprendizagem ocorrerá de

forma satisfatória a partir do momento em que haja interações frequentes com

materiais escritos e outros.

Nos textos analisados dos oito alunos da 6ª série C, constatou-se que

nenhum aluno evidenciava distúrbios de aprendizagem. Em sua maioria as

dificuldades que se apresentaram foram de apoio na oralidade, falta de

experiência com a escrita e falta de domínio de regras de pontuação e

paragrafação. Alguns erros se caracterizaram, também, como falta de atenção,

percepção, consciência fonética e problemas de má alfabetização que ainda

não foram superados. Problemas como esses vão se prorrogando durante a

vida escolar do aluno, onde vários fatores já interferem no processo de

aprendizagem, como o número excessivo de estudante em sala, dificultando o

atendimento individualizado pelo professor ao educando; redução da carga

horária da disciplina de Língua Portuguesa; pouca contribuição de outras

disciplinas em relação à exigência da norma padrão; pouco acompanhamento

dos familiares no processo de ensino aprendizagem dos filhos; pouco empenho

do aluno em relação às suas dificuldades de aprendizagem e a deficiência no

período da alfabetização.

Em relação às deficiências no período de alfabetização, se nos dois ou

três primeiros anos do Ensino Fundamental o professor não estiver preparado

para chamar a atenção do aluno para que este observe o desenho das letras, e

fazê-lo perceber os diferentes sons e as diversas possibilidades de formações

silábicas para compor as palavras, se deixar de apontar todas essas

características que envolvem o processo de escrita, ao ingressar na 5a série os

professores terão muito trabalho para resolver tais dificuldades. Isso porque o

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aluno precisa começar a fazer o que ainda não lhe foi ensinado em anos

anteriores: prestar atenção na escrita.

Uma via profícua para sanar as dificuldades apresentadas pelos alunos,

no que diz respeito à paragrafação e organização das ideias centra-se,

portanto, no estímulo à leitura. Todavia, é imprescindível a orientação do

professor no sentido de mostrar o que é um parágrafo; do que trata,

sinteticamente, cada um deles e como a soma deles forma uma mensagem

articulada e compreensível ao leitor. Só um trabalho de leitura assim

desenvolvido se coloca como elemento facilitador da produção de um texto

escrito. E a escola tem a responsabilidade de incentivar e promover o habito da

leitura, sabendo-se que a escrita está interligada com esta formando um ciclo.

O projeto realizado pelos professores PDEs proporcionou aos alunos

atividades diferenciadas de leitura, escrita e levantamentos matemáticos.

Houve estudos sobre conhecimento popular e científico, sobre o processo que

abrange da germinação até o plantio, levantamentos estatísticos e organização

de gráficos. E, na parte pedagógica, houve o desenvolvimento de atividades

em sala de aula, acompanhamento na organização dos planos de ação

docentes, interações com alunos nos momentos de entrevista, visitas e análise

dos textos. Durante o processo educativo, os professores PDEs propuseram-

se a desenvolver um papel mediador nas atividades proporcionadas em classe

e extraclasse, explicando, fazendo demonstrações, proporcionando atividades

de interações e estabelecendo uma relação entre as disciplinas.

Observa-se que a escola necessita mudar a forma de trabalhar com a

escrita, para que esta seja desenvolvida de forma a estimular a reflexão e a

atenção, com produções textuais, trabalhando a imaginação. Enfim, que a

escrita parta do senso comum para um senso critico e que as atividades sejam

desenvolvidas de forma diversificada.

Luria (2006, p.188) escreve:

Uma coisa parece clara a partir de análise do uso de signos e suas

origens, na criança: não é a compreensão que gera o ato, mas é

muito mais o ato que produz a compreensão – na verdade, o ato

frequentemente precede a compreensão.

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Isso nos mostra que o direcionamento realizado pelos professores PDEs

foi positiva, promovendo mais diálogos, questionamentos, e que o professor,

efetivamente, colocando-se como um mediador, ajudando o aluno ampliar seus

conhecimentos, apropriando-se de novos ou daqueles que não se apropriou no

tempo que lhe fora destinado para tal.

Referências:

HIGOUNET, Charles. História concisa da escrita/ Charles Higounet. Tradução:

Marcos Marciolino – São Paulo: Parábola Editorial, 2003.

HORCADES, Carlos, 1943 - A evolução da escrita: história ilustrada. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora SENAC. Rio, 2007.

LEMLE, Mirian. Guia teórico do alfabetizador. São Paulo: Ática, 2009.

LÚRIA, A.R. O Desenvolvimento da Escrita na Criança In: VYGOTSKY, L. S.; LÚRIA, A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. 10. ed. São Paulo: Ícone, 2006. p.158, 161.

OLIVEIRA, Marta. Kohl. de. Vygotsky: aprendizagem e desenvolvimento: Um processo sócio-histórico. São Paulo; Spicione, 1997.

REGO, T. C. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. Petrópolis-RJ: Vozes, 1997.

VYGOTSKY, L. S.; LÚRIA, A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. 9. ed. São Paulo: Ícone, 2000.

______, L. S. Formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

ZORZI, J. L. Aprender a escrever: a apropriação do sistema ortográfico. Porto Alegre: Artmed, 1998.