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UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES
ROSANGELA MARQUES MARÇAL
EFICÁCIA DO TRATAMENTO DA OBESIDADE COM ELETROACUPUNTURA
Mogi das Cruzes, SP. 2014
UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES
ROSANGELA MARQUES MARÇAL
EFICÁCIA DO TRATAMENTO DA OBESIDADE COM ELETROACUPUNTURA
Monografia apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Universidade de Mogi das Cruzes, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Especialista em Acupuntura.
Orientadores: Prof. Luiz A. Alfredo e
Profa. Bernadete Nunes Stolai
Mogi das Cruzes, SP. 2014
ROSANGELA MARQUES MARÇAL
EFICÁCIA DO TRATAMENTO DA OBESIDADE COM ELETROACUPUNTURA
Monografia apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Universidade de Mogi das Cruzes, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Especialista em Acupuntura.
Aprovado em ..............................
BANCA EXAMINADORA:
Profº. Luiz A. Alfredo UMC – UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES
Profa. Bernadete Nunes Stolai UMC – UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES
RESUMO
A etiologia da Obesidade tem sido estudada há séculos e ainda hoje apresenta controvérsias quanto aos fatores que a influenciam. Pelo fato de ser considerada uma patologia multifatorial e de difícil controle, medidas preventivas são primordiais. A Acupuntura e suas modalidades podem atuar na prevenção e tratamento dos fatores que desencadeiam ou complicam a situação do indivíduo que está apresentando a Obesidade. Com base neste conhecimento, o presente trabalho realizado através do levantamento da literatura científica, analisou a eficácia da Eletroacupuntura no tratamento e controle da Obesidade e suas comorbidades. Os estímulos elétricos que passam ao corpo através da agulha promovem um aumento dos níveis séricos de serotonina no sistema nervoso central ativando o centro de saciedade causando a supressão do apetite. Com o resultado da pesquisa concluiu-se que a utilização da Eletroacupuntura promove um resultado satisfatório no tratamento da Obesidade.
Palavras Chave: obesidade, medicina tradicional chinesa e eletroacupuntura.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................... 05
2 METODOLOGIA ........................................................................ 08
3 OBESIDADE CONCEITO OCIDENTAL .................................... 09
3.1 DADOS ESTATÍSTICOS .................................................. 10
3.2 FISIOPATOLOGIA ............................................................ 11
3.3 COMORBIDADES ............................................................. 11
3.4 TRATAMENTO DA OBESIDADE ...................................... 12
4 MEDICINA TRADICIONAL CHINESA ....................................... 14
4.1 FORMAS DE TRATAMENTO NA MTC ............................. 15
5 OBESIDADE NO CONCEITO ORIENTAL ................................. 17
6 ELETROACUPUNTURA ............................................................ 20
6.1 APLICABILIDADE DA ELETROACUPUNTURA NA
OBESIDADE ............................................................................... 21
7 CONCLUSÃO.............................................................................. 26
REFERÊNCIAS ................................................................................... 27
1 INTRODUÇÃO
A Obesidade é definida como o excesso de gordura corporal (DÂMASO, p.4,
2009), que resulta de um desequilíbrio entre a ingestão alimentar e o gasto corporal de
energia. O controle do balanço energético é realizado pelo sistema nervoso central
(SNC) por meio de conexões neuroendócrinas, em que hormônios periféricos
circulantes, como a leptina (hormônio proteico produzido no tecido adiposo que controla
a ingestão de alimentos, todavia, nos indivíduos obesos, estes mecanismos estão
comprometidos, pois, embora com elevados níveis séricos de leptina, resistem aos seus
efeitos, resultando em resistência a leptina) e a insulina, sinalizam neurônios
especializados do hipotálamo sobre os estoques de gordura do organismo e induzem
respostas apropriadas para a manutenção da estabilidade desses estoques (LEE e
VELOSO, 2012).
É uma doença que afeta sociedades do mundo todo, independente do nível de
desenvolvimento. A etiologia é multifatorial, resultante da interação genética e
ambiental, mediada por fatores sociais, econômicos, endócrinos, metabólicos e
psiquiátricos (BUENO, 2011).
Os indivíduos que são classificados como obesos ou com sobrepeso apresentam
maior risco de desenvolver hipertensão arterial sistêmica (HAS), dislipidemia, diabetes
tipo 2 e doenças do fígado, e tem uma maior taxa de mortalidade devido a doenças
cardiovasculares (YANOVSKI, 2011).
A síndrome metabólica (SM) é um transtorno complexo representado por um
conjunto de fatores de risco cardiovascular usualmente relacionado à disposição central
de gordura e resistência á insulina. O excesso de gordura na região central está
associado ao maior risco de aterosclerose, e em geral os indivíduos que tem essa
característica apresentam dislipidemia, resistência á insulina e HAS (VITOLO, p.387,
2008).
O grande número de indivíduos obesos na população mundial tem grandes
implicações para os custos de saúde (TROGDON, 2011).
Segundo Stothard (2009) cerca de 1,6 bilhão de adultos (com idade superior a 18
anos) são consideradas com sobrepeso (índice de massa corporal (IMC) entre 25 e
30 kg/m2) e 400 milhões, obesos (IMC maior que 30 kg/m2). Em 2015, espera-se
que 2,3 bilhões de pessoas ao redor do mundo estejam com sobrepeso e 700 milhões
obesos.
Em países desenvolvidos a Obesidade é considerada um importante problema
de saúde pública, e, pela Organização Mundial da Saúde, uma epidemia global. Esta
condição cresce no Brasil, aliada ao aumento da globalização e ao progresso do país,
substituindo o problema da desnutrição pelos problemas do excesso de peso e suas
comorbidades (VITOLO, 2008, p.331).
No tratamento da Obesidade devem ser considerados todos os aspectos
multifatoriais, sendo assim um programa interdisciplinar deve ser baseado em
intervenções com ações integradas á saúde, como: mudanças no estilo de vida, terapia
nutricional e psicológica, exercícios físicos e alguns casos medicamentos e até
tratamento cirúrgico (DÂMASO, 2009, p.274).
Como alternativa à terapia alopática e seus efeitos colaterais indesejados, a
Acupuntura apresenta-se como uma estratégia eficaz, pois o seu mecanismo de
liberação de agentes endógenos não provoca efeitos deletérios quando comparados a
drogas psicoativas (SPENCE, 2004).
A Acupuntura é uma terapêutica da Medicina Tradicional Chinesa (MTC), que
vem sendo amplamente aplicada no Ocidente, em razão de sua fácil aplicação, baixo
custo e descrença em tratamentos alopáticos (TROVO, 2003).
A Acupuntura é um antigo método terapêutico chinês que se baseia na
estimulação de determinados pontos do corpo com agulha ou calor, a fim de restaurar e
manter a saúde com consequente modulação de respostas positivas frente aos
desequilíbrios energéticos apresentados (KUREBAYASHI et al., 2010).
A Eletroacupuntura (EA), uma variação da técnica associada a estímulos
elétricos, tem sido extensamente aplicada em estudos para a perda de peso. Existem
evidências de que seu uso tem efeito sobre a supressão do apetite ao aumentar os
níveis séricos de serotonina no SNC, e ativar o centro de saciedade do hipotálamo
(LEE et al., 2006).
Conforme Bertisch et al., (2008) os tratamentos médicos convencionais eficazes
para a Obesidade são limitados, e as evidências sugerem que os pacientes com
Obesidade estão buscando formas alternativas de cuidados de saúde para perda de
peso. Além disso, há evidências emergentes que sugerem que a Acupuntura pode ser
eficaz na gestão de condições relacionadas com a Obesidade.
Desta forma, o presente trabalho pretende comprovar a eficácia do tratamento
com Eletroacupuntura na Obesidade e suas comorbidades e verificar a existência de
um protocolo.
.
2 METODOLOGIA
A presente pesquisa foi realizada através da revisão de artigos científicos
indexados nas seguintes plataformas: PubMed, Bireme, Periódicos Capes e Lilacs,
além de livros e sites de órgãos de saúde.
Os artigos foram coletados tanto no idioma português quanto no inglês, no
período de 2005 a 2013.
Para pesquisa nas plataformas foram utilizados os seguintes termos boleanos:
Acupunture AND Obesity, Visceral Fat, Acupuncture, Electroacupuncture.
O texto foi produzido de acordo com as normas da ABNT, seguindo o Manual de
Trabalhos Acadêmicos da UMC.
.
3 OBESIDADE: CONCEITO OCIDENTAL
A Obesidade foi reconhecida em 1985 como uma doença de origem multifatorial,
influenciada por fatores endógenos (genéticos, endócrinos, psicogênicos,
medicamentosos, neurológicos e metabólicos) e fatores exógenos (alimentação,
estresse e inatividade física). Em 1998 a Organização Mundial da Saúde designou a
Obesidade como uma epidemia global (DÂMASO, 2009, p.50-4).
Os indicadores e critérios de classificação da Obesidade incluem: IMC, Área
Muscular do Braço, Composição Corporal e Bioimpedância (VITOLO, 2008, p.378-84).
Outro indicador de risco para doenças associadas à Obesidade é a razão cintura
quadril (RCQ), que indica a distribuição da gordura corporal, em especial aquela
localizada no abdome, que representa maior risco para morbidades e mortalidades. A
RCQ é obtida pela razão da circunferência abdominal pela circunferência do quadril, e
se for superior a 1,0 para homens e 0,85 para mulheres, considera-se presente o risco
para doenças cardiovasculares (HADDAD e MARCON, 2011).
Dentre eles a mais simples e comumente utilizada, é o IMC, o qual pode ser
calculado da seguinte forma: peso corporal (em Kg) dividido pela altura (em metros) ao
quadrado (ALBERTI et al., 2005).
Segundo Vitollo (2008, p.381) valores do IMC de 25,00 a 29,99 Kg/m2 são
definidos como sobrepeso, de 30,00 a 34,99kg/m2 como Obesidade grau I, de 35,00 a
39,99Kg/m2 como Obesidade grau II e maior ou igual a 40,00 Kg/m2 como Obesidade
III.
Segundo Cuppari (2005, p.155) as formas clínicas da Obesidade, de acordo com
a distribuição de gordura ou com o segmento corpóreo predominante, dividem-se em
três grupos:
Obesidade Androide: também chamada de troncular ou central, lembra o formato de
uma maçã. Sua presença se relaciona com alto risco cardiovascular;
Obesidade Ginoide: caracterizam-se por um depósito de gordura nos quadris,
comparada com uma pera. Sua presença está relacionada com um risco maior de
artroses e varizes.
Fatores genéticos, endócrinos, neurológicos, psicológicos e ambientais podem
desempenhar, em diferentes indivíduos, papeis importantes na patogênese da
Obesidade. É difícil definir os fatores que contribuem para o aparecimento da
Obesidade em determinado indivíduo, mas está claro que esta não é uma doença
única, mas um grupo heterogênio de distúrbios, todos manifestados pelo excesso de
gordura corpórea (CUPPARI, 2005, p.156).
3.1 DADOS ESTATÍSTICOS
Nos últimos anos a Obesidade tem sido considerada uma doença de proporções
epidêmicas. Sua prevalência atinge indivíduos de diferentes níveis socioeconômicos,
em todas as fases da vida, sendo precocemente desenvolvida na infância e na
adolescência decorrentes do estilo de vida moderno (DÂMASO, 2009, p.21).
A prevalência da Obesidade vem aumentando tanto nos países desenvolvidos
quanto naqueles em desenvolvimento (POPKIN, 2007). A Organização Mundial da
Saúde estima que pelo menos um bilhão de pessoas apresente excesso de peso, das
quais 300 milhões são obesos, o que implica em um problema de saúde pública
(HASLAM, 2005).
Hoje, a Obesidade atinge 17% da população. Em 2006, 11% dos brasileiros
eram obesos. Os dados são da pesquisa Vigitel 2012 (Vigilância de Fatores de Risco e
Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), realizada pelo Ministério da
Saúde. O estudo mostrou também que mais da metade da população adulta brasileira
está acima do peso. O excesso de peso atinge 54,5% dos homens e 48% das
mulheres. Na média, a parcela de brasileiros com sobrepeso passou de 43% em 2006
para 51% em 2012. Comparando com países próximos, o número de obesos no Brasil
é menor. No Uruguai, 19,9% da população faz parte desse quadro. Na Argentina são
20,5%; no Paraguai, 22,8%; no Chile, 25,1% e nos EUA, 27,7% (BORBA, 2013).
3.2 FISIOPATOLOGIA
O estoque de gordura corporal é sistematicamente mantido por um processo de
homeostase energética. Este processo envolve áreas do cérebro responsáveis pelo
controle do apetite e metabolismo energético. Neurônios especializados no hipotálamo
e em outras áreas do cérebro associados a estes processos controlam a taxa
metabólica e o controle neural da ingestão alimentar (DÂMASO, 2009, p.22).
Quando a energia ingerida excede a energia gasta, caracterizada por um
balanço energético positivo, a ingestão excessiva pode causar respostas em diversos
tipos de células, células endoteliais (vascular), hepatócitos (fígado), miócitos
(músculos), adipócitos (tecido adiposo) e monócitos/macrófagos (células do sistema
imune) as quais poderiam atuar na disfunção metabólica (DÂMASO, 2009, p.23).
Uma entre as muitas respostas adversas dessas células, consequentemente do
excesso de nutrientes, é o estresse oxidativo, provavelmente causando dano na
estrutura celular e uma resposta inflamatória (WISSE et al., 2007).
3.3 COMORBIDADES
De acordo com Cuppari (2005, p.156-9), a Obesidade não é uma doença única,
mas um grupo heterogênio de distúrbios todos manifestados pelo excesso de gordura
corpórea, entre eles: risco cardiovascular, dislipidemia, diabetes, resistência à insulina,
HAS e SM.
O excesso de adiposidade pode estar associado a alterações da função
pulmonar, como hipoventilação, surtos de sono durante o dia e apneia do sono. É
frequente a presença de alterações dermatológicas como estrias, infecções fúngicas,
anormalidades no fígado, alterações posturais e funcionais favorecendo complicações
ortopédicas (VITOLO, 2008, p.347-8).
O acúmulo de tecido adiposo que leva à Obesidade predispõe os indivíduos
obesos ao aumento no risco de muitas doenças, incluindo aterosclerose, alguns tipos
de câncer e desordens mediadas pelo sistema imune (DÂMASO, 2009, p. 65).
3.4 TRATAMENTO DA OBESIDADE
O tratamento da Obesidade é complexo e desafiador, mas quando envolve o
acompanhamento por uma equipe multidisciplinar possibilita perda de peso e
manutenção em longo prazo. A organização de ações integradas e interdisciplinares se
justifica como prática efetiva no tratamento da Obesidade diante da compreensão e
modificações nos hábitos de vida não deve advir de um processo de normatização e
muito menos de culpabilização do indivíduo. Entende-se que as mudanças não se
restringem apenas ao consumo de alimentos e à atividade física, mas têm influência
sobre toda a constelação de significados ligados ao comer, ao corpo e ao viver
(BUENO, 2011).
De acordo com as Diretrizes Brasileiras de Obesidade a escolha do tratamento
deve basear-se na gravidade do problema e na presença de complicações associadas.
O tratamento dietético é mais bem-sucedido quando aliado a aumento no gasto
energético e a um programa de modificação comportamental, mudanças na
alimentação devem ser por toda a vida. Qualquer dieta prescrita para reduzir peso tem
de considerar, além da quantidade de calorias, as preferências alimentares do paciente,
o aspecto financeiro, o estilo de vida e o requerimento energético para a manutenção
da saúde (ABESO, 2009/2010).
A dieta e o exercício físico são as opções terapêuticas de primeira escolha para
a Obesidade. Os tratamentos farmacológicos, sempre aliados à dieta e exercícios,
devem ser reservados para os pacientes obesos que não responderam às abordagens
comportamentais. Entretanto, até agora o tratamento farmacológico da Obesidade tem
produzido resultados decepcionantes. Muitos medicamentos para Obesidade (tipo
anfetamina, derivados da fenfluramina, rimonabanto e outros) foram retirados do
mercado por exibirem relações risco-benefício claramente desfavoráveis. Em quase
todos os casos, a perda de peso alcançada com inibidores de apetite é revertida
quando o medicamento é interrompido (PAUMGARTTEN, 2011).
De acordo com o consenso de 1991 do Instituto Nacional de Saúde Norte-
americano (NIH), o tratamento cirúrgico foi considerado, e se mantém, como o único
tratamento efetivo para os pacientes obesos mórbidos (IMC>35Kg/m2 associado à
comorbidades, ou IMC>40Kg/m2) que já apresentaram insucesso com tratamento
clínico prévio. No Brasil, a partir de 2000, o Ministério da Saúde inclui o tratamento
cirúrgico da Obesidade mórbida entre os procedimentos cobertos pelo Sistema Único
de Saúde (SUS), estabelecendo critérios para sua indicação (BRASIL, 2013).
A prevenção e o tratamento da Obesidade contemplam, necessariamente,
aspectos relacionados à promoção de padrão alimentar saudável e modo de vida ativo
(CUPPARI, 2005, p.159).
4 MEDICINA TRADICIONAL CHINESA
A MTC tem uma tradição rica e uma longa história contínua entre as medicinas
naturais do mundo. Lendas sugerem uma história de 5.000 anos, enquanto evidências
arqueológicas remontam a 1700 a.C. A literatura existente cita material médico a partir
de 2000 a.C. (SHU-LI e STIMSON, 2011, p.22).
A crença da unidade da humanidade com o mundo natural implica a existência
de uma relação entre o ambiente maior (o macrocosmo) e o ambiente do organismo (o
microcosmo), o aspecto do ambiente pode afetar o nosso organismo, assim como as
relações sociais inadequadamente mantidas com alguém podem causar emoções que
podem prejudicar nossa saúde (ERGIL e ERGIL, 2010, p.18).
A MTC concentra-se na observação dos fenômenos da Natureza e no estudo e
compreensão dos princípios que regem a harmonia nela existente, e na concepção
chinesa, o Universo e o Ser Humano estão submetidos às mesmas influências, sendo
partes integrantes do Universo como um todo. Desse modo, observando-se os
fenômenos que ocorrem na Natureza, pode-se por analogia, estendê-los à fisiologia do
corpo humano, pois nele se reproduzem os mesmos fenômenos naturais (YAMAMURA,
2009, p.XLIII).
Ainda conforme Yamamura (2009, p.XLIV) a concepção filosófica chinesa a
respeito do universo está apoiada em três pilares básicos: a teoria do Yin/Yang, dos
Cinco Elementos ( Movimentos) e dos Zang Fu (Órgão e Vísceras).
O conceito de Yin e Yang sintetiza as duas partes contraditórias e
complementares dos fenômenos da natureza e que se relacionam mutuamente. Yin e
Yang são interdependentes, o que significa que a condição de um afetará o outro. A
causa fundamental do desenvolvimento de uma enfermidade reside na desarmonia
entre Yin e Yang. Ao diferenciar as características Yin ou Yang conhece-se a essência
da enfermidade (SHU-LI e STIMSON, 2011, p.37).
A teoria dos Cinco Elementos representa as Cinco Transmutações ou os Cinco
Movimentos, um ciclo dinâmico e não estático, cujas transformações ocorrem de
maneira contínua. Os Cinco Elementos (Madeira, Metal, Água, Fogo e Terra)
simbolizam cinco qualidades e cinco direções diferentes de movimentos dos fenômenos
naturais. Tudo o que acontece na natureza e no corpo humano foi interpretado e
separado, e cada acontecimento encaixou em um dos Cinco Elementos.
(FRANCESCHINI, 2013, p.30-5).
A teoria dos Zang Fu aborda a fisiologia energética os Órgãos, das Vísceras e
das Vísceras Extraordinárias do ser humano e constitui o alicerce para a compreensão
da fisiologia e da propedêutica energética e da fisiopatologia das doenças e seu
tratamento (YAMAMURA, 2009, p. LIV). A Energia (Qi), o Sangue (Xue) e os Líquidos
Orgânicos(Jin Ye) são as substâncias básicas das atividades fisiológicas dos Órgãos
(Zang), das Vísceras(Fu), dos Meridianos e colaterais e dos tecidos orgânicos, e
quando circulam em quantidade e qualidade suficientes, criam o equilíbrio, portanto a
saúde (FRANCESCHINI, 2013, p.24).
Segundo Yamamura (2009, p.658) com a difusão da MTC no Ocidente, muitos
pesquisadores começaram a questionar sobre a participação de estruturas orgânicas
no mecanismo de ação da Acupuntura, e o desenvolvimento de pesquisas científicas
nesta área, principalmente nas últimas décadas evidenciou estreita relação entre os
efeitos da Acupuntura e o SNC e periférico, bem como com vários tipos de neuro-
hormônios (neurotransmissores), o que permite que hoje se aceitem três mecanismos
para explicar a ação da Acupuntura: mecanismo energético, mecanismo humoral e
mecanismo neural.
4.1 FORMAS DE TRATAMENTO NA MTC
Ao longo de sua história, instrumentos de bambu, ossos, jade e metais têm sido
utilizados para estímulo do ponto de Acupuntura. Após a unificação da China (século III
ac), a Acupuntura experimenta um desenvolvimento notável, quando adquire uma
sistemática de teorias e princípios e a substituição gradual da Bian-Shi (agulhas de
pedra) por agulhas de bronze, ferro, prata e ouro, acompanhando o progresso da
metalurgia (RISTOL, 1997).
O primeiro registro da prática de Acupuntura é encontrado no Clássico de
Medicina Interna do Imperador Amarelo, compilado mais de 2mil anos atrás. Os
tratamentos por Acupuntura envolvem a inserção de agulhas especiais, que são
utilizadas para penetrar em pontos nos canais e colaterais, a fim de influenciar as
funções e estruturas do corpo para tratar a doença (SHU-LI e STIMSON, 2011, p.131).
Inserindo-se uma agulha em um ponto de Acupuntura, sempre se está
desencadeando uma ação que abrange os níveis energéticos, neural e humoral.
Dependendo da função de cada ponto da Acupuntura, um desses mecanismos
prevalece sobre os demais e, desse modo, entende-se a concepção da indicação dos
diversos pontos de Acupuntura para as mais diversas patologias (YAMAMURA, 2009,
p.658-59).
No Brasil, a Acupuntura foi introduzida há cerca de 40 anos. Em 1988, por meio
da Resolução Nº5/88, da Comissão Interministerial de Planejamento e Coordenação
(Ciplan), teve as suas normas fixadas para o atendimento nos serviços públicos de
saúde (BRASIL, 2006).
Segundo Haddad e Marcon (2011) a Acupuntura é uma terapêutica da MTC, que
vem sendo amplamente aplicada no Ocidente, em razão de sua fácil aplicação, baixo
custo e descrença em tratamentos alopáticos. Os pontos selecionados para ajudar a
controlar o peso podem variar muito, de acordo com os padrões, conforme o paciente e
formação do profissional. O objetivo do tratamento é determinado após definição dos
padrões, entre eles: eliminar a Umidade, revigorar o Baço, beneficiar o Qi para ativar a
circulação sanguínea, purificar o Estômago, revigorar o Rim e dispersar a Estagnação
do Fígado.
De acordo com o MTC não se trata o “excesso de peso”, mas o foco em
restaurar o equilíbrio interno para regular a ingestão de alimentos e conteúdo de
gordura corporal (SUI et al., 2012).
A Acupuntura pode inibir o apetite excessivo e ajudar aqueles que sentem fome
o tempo todo, pode regular o movimento do trato digestivo e promover o peristaltismo
do intestino, regula a produção de insulina, melhora a função renal. Ao agir sobre os
sistemas endócrino e nervoso, a Acupuntura tem se mostrado útil na eliminação de
gordura por meio de ações sobre o córtex adrenal, o hipotálamo, a hipófise e o sistema
nervoso simpático. Também pode regular a produção de leptina (hormônio envolvido no
consumo e na liberação de energia) (SHU-LI e STIMSON, 2011, p.138-9).
5 OBESIDADE: CONCEITO ORIENTAL
A MTC acredita que a Obesidade é causada por metabolismo anormal devido a
uma Deficiência do Qi do Baço. Com o consumo de alimentação e bebidas em excesso,
uma dieta não regrada e alimentos gordurosos e doces, o Baço e o Estômago tornam-
se danificados e suas funções decaem. Isso é chamado de Deficiência do Qi do Baço.
Os sintomas mais comuns são fadiga, nenhum desejo de se movimentar, distensão
abdominal, constipação ou fezes moles. Portanto para tratar corretamente a Obesidade
deve-se eliminar o excesso de Umidade e Fleuma do corpo e ao mesmo tempo
fortalecer o Qi do Baço (SHU-LI e STIMSOM 2011, p.31-2).
O Baço é responsável pelo transporte de alimentos e água, com a função
prejudicada ocorre uma estagnação, transformando os alimentos e água em Umidade e
Fleuma, o que é agravado com o excesso de alimentos gordurosos e doces, se não
houver atividade para queimar essas calorias resultará em Obesidade (LIU, 2006).
Ainda conforme Shu-Li e Stimsom (2011, p.24-31) podem compreender que Qi é
simultaneamente uma força de vida etérea, bem como uma substância material, uma
força vital com ligação do ar e a respiração. A Medicina Chinesa descreve o Qi como
tendo seis funções principais: promove todos os movimentos; aquece o corpo e é a sua
fonte da energia térmica; protege o corpo, resistindo a agentes externos e prevenindo
doenças; controla as substâncias corporais; é a fonte de transformação; nutre o
organismo. De acordo com a sua localização, função e origem, Qi é classificado em
várias categorias, o seu desequilíbrio pode levar a algumas síndromes: Deficiência de
Qi, Estagnação de Qi, Fluxo invertido de Qi, Colapso do Qi, Esgotamento do Qi.
Siedentopp (2012) cita os padrões de desarmonias que podem ser encontrados:
Deficiência do Qi De Baço/Pâncreas com Retenção de Umidade e Fleuma, Deficiência
do Yang do Baço e Rim, Estagnação do Qi do Fígado e Deficiência do Qi do Baço.
Deficiência do Qi De Baço/Pâncreas com Retenção de Umidade e Fleuma
Causa: fraqueza constitucional, doenças crônicas, especialmente desnutrição crônica,
doces, produtos de farinha branca, fast food, bebidas doces e frias e alimentos crus.
Além disso, comportamento alimentar irregular e desordenado, a carga mental de
sobrecarga de informação, processamento de pensamento na forma de preocupação
persistente. A preocupação causa o enfraquecimento da função de transformação do
Baço e acumula Umidade e catarro no aquecedor superior, médio e inferior.
Sintomas: um corpo flácido macio, fadiga, distensão abdominal, fezes moles ou piegas,
inchaço abdominal, nódulos, edema, diminuição do apetite, alteração do paladar, e falta
de sede percebida. A língua é pálida, inchada e mostra impressões dentárias. O
revestimento é espesso, branco e gorduroso. O pulso é lento (SIEDENTOPP, 2009).
Deficiência do Yang do Baço e Rim.
Causa: Falta de transformação de líquidos, Qi ou Yang do Baço enfraquecido com
deficiência de Qi ou Yang do Rim.
Sintomas: Gordura flácida no abdome, nádegas e pernas, fadiga, fraqueza, apatia,
sensibilidade crônica a frio nas costas, abdome e pelve, extremidades frias; problemas
no joelho e sacro, muita urina clara, edema; fezes moles com restos de alimentos não
digeridos; pequena sede, e uma aversão a bebidas e refeições frias. A língua é pálida,
úmida, e tem um forro branco com marcas de dentes; o pulso é fraco e lento (SHU-LI e
STIMSON, 2011, p.47).
Estagnação do Qi do Fígado e Deficiência do Qi do Baço.
Causa: a tensão mental, estresse emocional, raiva, comida fria e repetidas tentativas
dietéticas sem sucesso.
Sintomas: excesso de peso com os desejos, irritabilidade, variação de humor, distensão
abdominal, alteração de consistência das fezes, plenitude pós-prandial, distensão
abdominal, suspiros, desordem menstrual e fadiga. A língua pálida tem um revestimento
fino, branco, e as bordas, por vezes são vermelhas. O pulso é fino (DREES, 2006).
Shu-Li e Stimson (2011, p.47) descrevem outros padrões comuns na Obesidade:
Calor no Estômago com Fleuma e Umidade, Deficiência de Yin com Calor Interno.
Calor no Estômago com Fleuma e Umidade
Sinais e Sintomas: problemas de peso na família, distensão na cabeça, tonturas,
sensação de fome logo após comer (geralmente em pacientes com diabetes), sensação
de peso nos membros, preguiça ou letargia, sede mesmo ingerindo uma grande
quantidade de líquidos, mau halito e constipação. A língua é vermelha com saburra fina
e amarelada, o pulso escorregadio ou rápido (ZHOU, 1998).
Deficiência de Yin com Calor Interno
Sinais e sintomas: levemente acima do peso, tonturas, distensão e dores de cabeça,
lombalgia e dores nos joelhos, calor irritante na sola dos pés e palma das mãos,
insônia. A língua com ponta vermelha e saburra fina, o pulso é fino e rápido (ZHOU,
1998).
6 ELETROACUPUNTURA
O uso da eletricidade em Acupuntura, remota ao século XIX. Em 1816 um
médico da armada de Napoleão Bonaparte conhecido como Dr. Salandière teria
empregado uma máquina eletrostática manual para estimular as agulhas de
Acupuntura. No entanto aparelhos estimuladores, mais próximos do que são
concebidos hoje, foram desenvolvidos inicialmente na Alemanha por Voll, no Japão por
Manaka, na China por Chag-Hie e Tang-Chu-Chen e na França por Nogier (AMESTOY,
1998).
A Eletroacupuntura (EA) é um tipo especial de método de tratamento terapêutico
no qual é aplicada uma pequena carga elétrica, semelhante a eletricidade biológica do
corpo humano, nas agulhas já inseridas nos pontos onde já tenha sentido o De Qi. Isto
tem a vantagem de combinar a estimulação tanto da agulha quanto da eletricidade e,
pode, portanto potencializar o efeito do tratamento. Com a EA, a intensidade de
estimulação pode ser apropriadamente controlada e pode-se evitar uma estimulação
cansativa (MAO-LIANG, 2001).
A corrente elétrica aplicada em EA é dosada através do aumento gradativo nos
botões das saídas dos aparelhos, até que os pulsos elétricos sejam sentidos pelo
paciente sem causar desconforto. A polaridade dos eletrodos, a variedade da corrente
elétrica aplicada e a sua frequência de utilização tem influencia sobre os efeitos de
Tonificação e Sedação. A frequência utilizada para tonificação deverá estar situada
entre 0,5 a 10 Hz e para sedação acima de 40 Hz. (COSTA, p.89, 2002).
Os efeitos e aplicabilidade clínica da corrente elétrica variam conforme a escolha
de forma de onda, intensidade, duração e direção do fluxo da corrente sobre o tipo de
tecido que ela é aplicada (CAMERON, 2003).
Uma vez que os eletrodos estão conectados às agulhas, eles conduzem o
estímulo elétrico até o sistema nervoso central (SNC), promovendo a liberação de
vários peptídeos opióides endógenos. (HAN, 1997).
Segundo Cameron (2003) seus efeitos terapêuticos estão intimamente
associados à aceleração de processos de trocas iônicas e despolarização em nível de
potencial de membrana celular nos tecidos, bem como no axônio das fibras nervosas.
Por sua vez, esses processos são influenciados pela amplitude da onda e duração do
pulso, sendo à base da especificidade da eletroterapia.
Os princípios terapêuticos da eletroterapia encontram sua fundamentação nas
interações provocadas em níveis celular, tecidual e sistêmico; consequentemente, no
âmbito fisiológico. O fluxo da corrente elétrica através de um meio condutor biológico
desencadeia efeitos fisiológicos, envolvendo fenômenos eletroquímicos, eletrofísicos e
eletrotérmicos. Dentre os parâmetros físicos mais relevantes e estudados na EA,
desponta a frequência estimulatória, em especial, suas relações com a liberação de
opióides endógenos e anti-inflamatórios (NOHAMA e LOPES, 2009).
As contraindicações do uso da EA estão relacionadas à passagem da corrente
elétrica pelo corpo, outras, pela pouca sensibilidade dos pacientes a resposta para o
ajuste de intensidade do estímulo, como: portadores de marca-passo, gestantes,
portadores de próteses metálicas ( no segmento do corpo a ser estimulado), patologias
com perda da sensibilidade periférica, pacientes com dificuldades cognitivas e/ou perda
da consciência, que não conseguem entender/responder aos comandos verbais do
acupunturista, portadores de epilepsia em atividade(que fazem uso de medicação para
convulsão) (LOPES, 2013, p. 69).
6.1 APLICABILIDADE DA ELETROACUPUNTURA NA OBESIDADE
A técnica de EA tem sido extensamente aplicada em estudos para a perda de
peso. Seus resultados demonstram os benefícios da Acupuntura no controle de peso
em paciente obesos, com evidências de supressão do apetite ao aumentar os níveis
séricos de serotonina no sistema nervoso central e ativando o centro de saciedade do
hipotálamo (LEE et al., 2006).
Abdi et al (2012) utilizaram EA em um estudo com restrição de dieta e
verificaram a eficácia na perda de peso e também para redução dos fatores de risco
associados à Obesidade, tais como a dislipidemia. O estudo randomizado com 96
indivíduos sobrepeso e obesos sem comorbidades, divididos em dois grupos: caso
(dieta e Acupuntura) e controle (somente dieta hipocalórica), com avaliações
antropométricas e bioquímicas medidas antes e depois do tratamento, com uma dieta
normal durante duas semanas antes iniciar o tratamento para combinar os dois grupos
para a dieta inicial, e uma dieta de baixa caloria durante seis semanas. Foram utilizados
pontos de Acupuntura: Tianshu (E25), Weidao (VB28), Zhongwan (VC12), Guanyuan
(VC4), Sanyinjiao (BP6) e pontos adicionais: Quchi (IG11) e Fenlong (E40) para
excesso de humor, e Qihai (VC6) para os pacientes com deficiência de humor. No
grupo caso, utilizaram pontos das pernas que foram manipulados manualmente e EA
nos pontos do abdome (E25 e VB28) com 30- 40Hz, 390ms, e com uma intensidade
máxima tolerável, 500 (12-23 V) durante 20 minutos, duas sessões por semana durante
seis semanas. Após 12 semanas de estudo, o grupo caso apresentou alterações
significativas no peso corporal, colesterol total, triglicerídeos e colesterol LDL, já no
grupo controle não foram observadas mudanças significativas. Mudanças nos níveis de
Proteína C Reativa (PCR) não foram diferentes entre os dois grupos, o que implica que
PCR mudou independente dos efeitos de Acupuntura. Concluíram que a EA pode ser
usada como uma opção de tratamento sinérgico para o controle da Obesidade.
Hsu et al (2005) mostrou a técnica de EA em um estudo randomizado com 54
indivíduos com Obesidade simples, onde foram divididos em grupos A e B. O grupo A
recebeu o primeiro tratamento de EA enquanto o grupo B recebeu tratamento com
exercícios abdominais. Após seis semanas de tratamento e sete dias de descanso, o
grupo A realizou o tratamento de exercício e o grupo B recebeu tratamento com EA
durante mais seis semanas. Para EA os pontos de Acupuntura no abdome, incluindo
Qihai (VC6) e Shuifen (VC9), Shuidao (E28) e Siman (R-14) ambos bilaterais, com
42Hz, 390ms de pulso quadrado e intensidade de 500 (12-23) incluindo Zusanlí (E36),
Fenglong (E40) e Sanginjao (BP6), sobre ambas as pernas. Compararam a eficácia da
EA com exercícios abdominais com diferenças significativas na redução de peso e de
medidas com EA. No final do estudo, os grupos A e B apresentaram diferenças
significativas nas reduções no peso corporal em comparação com os valores iniciais.
Concluíram que o tratamento de EA é mais eficaz do que os exercícios abdominais na
redução de peso e medidas, tornando-se uma opção de tratamento alternativo para
controle de peso.
Luo e Li (2007) verificaram o mecanismo da EA para pacientes com Obesidade
simples, realizaram um estudo com 60 pessoas divididas em grupos de controle, EA e
Acupuntura sistêmica. Grupo EA Liangqiu (E 34) e Xuehai (BP 10), Tianshu bilateral (E
25) e Fujie (BP14) com 2-5mA, 0,8-3Hz, por 30 minutos, pontos da sistêmica: Gongsun
(BP 4), Neiting (E44), nos dois grupos uma vez a cada dois dias, durante 27 sessões.
Leptina e adiponectina foram medidos por ensaio imunoenzimático (ELISA), os efeitos
terapêuticos de ambos os grupos (EA e Acupuntura sistêmica) foram significativamente
maiores do que a do grupo de controle. Após o tratamento, os níveis de Leptina no soro
nos grupos da sistêmica e EA diminuíram significativamente e a adiponectina aumentou
consideravelmente. Não foram encontradas diferenças significativas nos níveis de
leptina e Adiponectina no grupo controle. Concluíram que o efeito da EA é
significativamente superior à de Acupuntura sistêmica no tratamento da Obesidade
simples.
Cabioglu e Ergene (2005) em estudo investigaram o efeito da EA no peso
corporal e nos níveis de colesterol total, triglicérides, lipoproteína de alta densidade
(HDL) e lipoproteína de baixa densidade (LDL) em obesos. Participaram 55 pessoas
divididas em 3 grupos: controle, EA e restrição alimentar. A EA foi realizada utilizando
os pontos da orelha: Fome e Shem Men, e os pontos do corpo, IG4 e G11, E36 e E44,
com 2Hz a 3V a 0,05ms em onda quadrada, uma vez ao dia, por 30 minutos, para 20
dias, enquanto o grupo de restrição de dieta tinha um programa de dieta de
1425kcal/dia, durante 20 dias. O grupo controle foi submetido à aplicação de EA
placebo em pontos não relacionados à perda de peso. Os resultados sugerem que a
aplicação de EA pode diminuir o colesterol sérico total, triglicérides, colesterol e níveis
de LDL, ao aumentar o nível de beta endorfina no soro, que é um neurotransmissor que
diminui a sensação dolorosa e facilita relaxamento e bem estar, podendo estimular o
sistema imunológico. Este efeito lipolítico da EA também pode reduzir a morbidade
da Obesidade através da mobilização das reservas de energia que resultam na redução
de peso. Concluíram que os resultados com a terapia de EA é um método eficaz para o
tratamento da Obesidade, ajudando também a diminuir os níveis de glicose no soro,
porém pesquisas adicionais são necessárias para explicar melhor a terapêutica e os
efeitos da EA sobre Obesidade e diabetes.
Darbandi et al. (2013) em seus estudos mostraram que a EA reduz níveis
plasmáticos de leptina em pessoas com sobrepeso e Obesidade. O estudo contou com
86 indivíduos que foram divididos em dois grupos, intervenção e controle. O grupo de
intervenção recebeu EA real e o grupo controle recebeu Acupuntura simulada. Ambos
os grupos consumiram dieta de baixa caloria durante 6 semanas. Os pontos de
Acupuntura para o grupo de intervenção foram: Tianshu (E25), Weidao (VB28),
Zhongwan (VC12), Shuifen (VC9), Guanyuan (VC4), Sanyinjiao (BP6). Participantes
com o padrão de Excesso foram usados pontos adicionais: Quchi (IG11) e Fenglong
(E40), e para os participantes com o padrão de Deficiência: Qihai (VC6) e Yinlingquan
(BP9), EA nos pontos E25 e VB28, pulso de tensão de 30 a 40 Hz, ondas de 390,
intensidade de 500 (12-23 V) por 20 minutos, durante 12 sessões de tratamento. No
grupo controle foram utilizados os mesmos pontos superficialmente e a 0,5 cun para
cima e ao lado da localização correta, com simulação da EA. A diminuição do hormônio
leptina foi significativa no grupo de intervenção. Secreção de leptina pode ser um
importante meio pelo qual o tecido adiposo sinaliza os núcleos hipotalâmicos de que o
corpo tem armazenado o suficiente de gordura reduzindo a ingestão de comida. Assim,
interferindo com o sistema da leptina pode ser um dos mecanismos possíveis através
dos quais a EA controla o apetite e induz a perda de peso. Concentrações circulantes
de leptina são elevadas em pessoas obesas. Os participantes que receberam uma dieta
combinada com baixas calorias e EA apresentaram maiores reduções na concentração
leptina no plasma em comparação com os participantes que recebeu a Acupuntura
simulada e a mesma dieta. Os resultados mostraram que a EA com uma dieta de baixa
caloria pode reduzir a concentração plasmática de leptina, mas para confirmar estes
resultados, mais estudos devem ser realizados.
Lee et al. (2006) utilizaram EA em 45 pessoas nos pontos do abdome: VC6 (Chi
Hai) e VC10 (Hsia Wan), VC12 (Ching Wan) e VC13 (Shang Wan), BP 15 (Ta Heng) e
E25 (Tien Shu) em ambos os lados. Cada agulha foi girada para trás e para frente até
que o sujeito experimentasse a sensação de De-Qi. Permaneceu por 50 minutos com
15mA, 0,05ms ondas quadradas a uma taxa de 3Hz. Os indivíduos receberam três
tratamentos por 3 semanas (10 sessões). Neste estudo verificaram que EA abdominal
pode ajudar a redistribuir e quebrar as moléculas de gordura e reduzir os parâmetros da
Obesidade.
Cabioglu e Ergene (2006) realizaram estudo com 55 pessoas divididas em três
grupos: grupo controle, EA e apenas restrição de dieta (1.450Kcal), a fim de mostrar a
relação da EA com os níveis séricos de insulina, glicemia e peptídeo C. A EA foi
aplicada nos pontos Fome e Estômago em ambas as orelhas em dias alternados, IG4 e
IG11 com E36 e E44 diariamente, a 2Hz, 0,05ms e 3v onda quadrada, por 30 minutos.
Após a aplicação da EA na orelha, agulhas auriculares permanentes foram colocadas
sobre os pontos de Fome. Acupuntura sozinha foi aplicada sobre os pontos E25 e F3. O
estudo mostrou que a EA pode ser uma abordagem útil para o tratamento da
Obesidade uma vez que proporcionou diminuição dos níveis plasmáticos de glicose,
insulina e peptídeo C.
Em outro estudo, realizado com 58 pessoas divididas em grupos de EA, restrição
de dieta (1470Kcal) e EA placebo, utilizando os pontos: Fome, Shen Men e Estômago
no pavilhão auricular, no corpo Hegu (IG 4), Quchi (IG11), Tianshu (E25), Zusanli
(E36), Neiting (E44) e (Zhongdu) F3. Foi realizada EA na Orelha e no corpo diariamente
por 30 minutos durante 20 dias. A EA foi aplicada em cada orelha em dias alternados,
0,05ms com uma frequência 2Hz a 3v, em uma forma de onda quadrada. Após a
aplicação EA, agulhas auriculares permanentes foram colocadas sobre os pontos Fome
e Shen Men em cada orelha. No grupo controle agulhas de Acupuntura foram inseridas
em dois pontos na orelha que não tinham relação com a perda de peso. Os resultados
obtidos no presente estudo sugerem que a terapia de EA é uma terapia eficaz para o
peso perda em obesos. Os fatores de risco para as doenças cardiovasculares
associadas à Obesidade podem ser diminuídos uma vez que a aplicação EA diminuiu a
lipoproteína no plasma e dos níveis de apoproteína B (CABIOGLU et al., 2008).
7 CONCLUSÃO
Conclui-se, a partir dos resultados da presente pesquisa que a Eletroacupuntura
(EA) mostrou ser uma ferramenta eficaz no tratamento da Obesidade, pois atuou tanto
no controle da fome, através da diminuição do hormônio relacionado com apetite
(leptina), como no aumento da liberação de endorfina no soro, que, juntamente com
uma dieta equilibrada colaboram com a perda de peso eficaz.
A EA atuou de forma positiva em relação à saúde cardiovascular, uma vez que
proporcionou melhora do perfil lipídico/dislipidemia (diminuindo colesterol total,
colesterol LDL, triglicérides e apoproteína B) e, proporcionou aumento dos níveis de
adiponectina, que tem como principal característica ser antiaterogênica. Além disso,
diminuiu os níveis de glicemia, o que colabora com o controle do diabetes, muitas vezes
presente como comorbidade da doença em questão.
Com relação à gordura, a EA proporcionou diminuição da insulina, que, se
descontrolada (excesso) favorece a adipogênese (aumento de gordura), além de
também atuar quebrando e redistribuindo as moléculas de gordura, o que é benéfico
para o obeso. No quesito da estética, a EA, em comparação aos exercícios abdominais
se mostrou mais eficiente na redução de gordura abdominal.
Podemos, a partir deste estudo, utilizar como protocolo para tratamento da
Obesidade com EA os seguintes pontos: IG4 e IG11, E36 e E44, entre 2 a 3Hz por 30 a
50min, E25 e VB28 a 40 Hz por 20 min, pois além de diminuir os níveis de glicose e
peptídeo C, diminui o colesterol, triglicérides e LDL e também diminui moléculas de
gordura colaborando para redução de medidas e perda de peso.
Finalizando, é possível afirmar que, todos os fatores citados acima colaboram
para que a EA haja de forma sinérgica no controle da obesidade, uma vez que controla
todos os fatores envolvidos na sua gênese e juntamente com uma dieta balanceada
potencializa ainda mais os resultados.
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