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O sr. T é um operário francês de 35 anos, casado e com três filhos de 7, 9 e 11 anos. Problema Após cair da escada e quebrar a perna, o sr. T. foi internado no departamento ortopédico de um hospital geral. No terceiro dia de estadia, começou a ficar cada vez mais nervoso e tremer. Ao ser questionado sobre seus hábitos com a bebida, negou ter qualquer problema com o álcool. Disse aos médicos que ocasionalmente tomava um copo de cerveja. Durante a noite, não conseguiu dormir e as enfermeiras começaram a se preocupar, pois ele falava de maneira incoerente e estava visivelmente ansioso. História Segundo a esposa, o sr. T. havia bebido grandes quantidades de cerveja por mais de três anos. Durante o ano anterior, faltava ao trabalho várias vezes e havia sido ameaçado de demissão. Todos os dias, começava a beber assim que chegava do trabalho e não parava até pegar no sono. Na noite em que foi internado, chegou em cada como sempre, mas escorregou na escada e quebrou a perna antes de começar a beber. Em consequência, não bebera antes da baixa hospitalar. Ela ficou com vergonha do problema de seu marido e não teve coragem de contar ao ortopedista na hospitalização. Três dias depois, quando os médicos a questionaram diretamente, relatou toda a “estória”. Ela disse que seu marido havia comido muito pouco nas últimas semanas. Como notara em várias ocasiões, ele não conseguia lembrar de eventos importantes do dia anterior. Dois anos antes, sofrera um acidente automobilístico enquanto estava embriagado, mas sem ferimentos graves. O sr. T. nunca teve problemas importantes de saúde no passado. Contudo, o relacionamento com a esposa se tornou extremamente difícil desde que começou a beber, e ela estava pensando seriamente em divórcio. O relacionamento com os filhos era tenso. Havia brigas com frequencia, mas, recentemente, eles tentavam evitá-lo o máximo possível.

Estudo de Caso Psicofarmacologia

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Page 1: Estudo de Caso Psicofarmacologia

O sr. T é um operário francês de 35 anos, casado e com três filhos de 7, 9 e 11 anos.

Problema

Após cair da escada e quebrar a perna, o sr. T. foi internado no departamento ortopédico de um hospital geral. No terceiro dia de estadia, começou a ficar cada vez mais nervoso e tremer. Ao ser questionado sobre seus hábitos com a bebida, negou ter qualquer problema com o álcool. Disse aos médicos que ocasionalmente tomava um copo de cerveja. Durante a noite, não conseguiu dormir e as enfermeiras começaram a se preocupar, pois ele falava de maneira incoerente e estava visivelmente ansioso.

História

Segundo a esposa, o sr. T. havia bebido grandes quantidades de cerveja por mais de três anos. Durante o ano anterior, faltava ao trabalho várias vezes e havia sido ameaçado de demissão. Todos os dias, começava a beber assim que chegava do trabalho e não parava até pegar no sono. Na noite em que foi internado, chegou em cada como sempre, mas escorregou na escada e quebrou a perna antes de começar a beber. Em consequência, não bebera antes da baixa hospitalar. Ela ficou com vergonha do problema de seu marido e não teve coragem de contar ao ortopedista na hospitalização. Três dias depois, quando os médicos a questionaram diretamente, relatou toda a “estória”.

Ela disse que seu marido havia comido muito pouco nas últimas semanas. Como notara em várias ocasiões, ele não conseguia lembrar de eventos importantes do dia anterior. Dois anos antes, sofrera um acidente automobilístico enquanto estava embriagado, mas sem ferimentos graves. O sr. T. nunca teve problemas importantes de saúde no passado. Contudo, o relacionamento com a esposa se tornou extremamente difícil desde que começou a beber, e ela estava pensando seriamente em divórcio. O relacionamento com os filhos era tenso. Havia brigas com frequencia, mas, recentemente, eles tentavam evitá-lo o máximo possível.

De acordo com a sra. T., o pai de seu marido tinha sido alcoolista crônico e morrera de cirrose hepática quando o sr. T. tinha 24 anos de idade.

Discussão

O sr. T. apresenta longo histórico de uso pesado de álcool e desenvolveu sintomas de abstinência graves. Manifestou os sinais característicos de delirium: perturbação da consciência, perturbação global da cognição, agitação psicomotora, perturbações do ciclo sono-vigília (insônia), início rápido e oscilação de sintomas.

A presença de estado de abstinência, associado a delirium, logo após a cessação do consumo pesado de álcool indica estado de abstinência com delirium. Como o paciente não teve convulsões, o diagnóstico segundo a CID-10 é de estado de abstinência de álcool com delirium, sem convulsões.

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O problema deste paciente com a bebida já dura pelo menos três anos, e as informações que sua esposa forneceu são evidências de que ele aponta par diagnóstico adicional de síndrome de dependência de álcool. Os problemas de memória observados indicam que ele também pode ter síndrome amnéstica causada pelo uso do álcool. Porém, a descrição não proporciona informações suficientes para o estabelecimento de diagnóstico adicional confiável de síndrome amnéstica devido ao uso de álcool, que deve ser avaliada após o delirium e outros sintomas de abstinência haverem passado, pois o comprometimento da memória também é característica proeminente do delirium.