Fé na Prevenção modulo 04

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  • 7/25/2019 F na Preveno modulo 04

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    Mdulo 4

    Como intervir em

    casos de abuso

    ou dependnciade lcool e

    outras drogas:

    modalidades de

    tratamento eencaminhamento

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    A9| Modelos de tratamentos para pessoas com dependncia

    de lcool e outras drogas

    A10| Tratamento de pessoas dependentes de substncias em

    Comunidades Teraputicas

    A11| A importncia das redes sociais na recuperao e

    reinsero social de usurios e dependentes de lcool e

    outras drogas

    A12| Como as lideranas religiosas e lideranas de

    movimentos afns podem intervir em situaes de uso e

    dependncia de lcool e outras drogas

    Aps o estudo deste mdulo, os alunos devero ser capazes de:

    identificar as principais modalidades de tratamento e formas de reduo de

    danos

    conhecer a histria e a importncia das Comunidades Teraputicas

    compreender a importncia das Redes Sociais na preveno do uso de

    drogas

    Como intervir em casos de abuso ou

    dependncia de lcool e outras drogas:modalidades de tratamento e encaminhamento

    MDULO 4

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    Aula 9

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    Aula 9

    Modelos de tratamentos para pessoas com

    dependncia de lcool e outras drogas

    OS OBJETIVOS DESTA AULA SO:

    conhecer as principais modalidades de tratamento conhecer a Reduo de Danos

    TPICOS

    Introduo

    Tratamentos formais

    Tratamentos informais

    Reduo de Danos decorrentes do uso de drogas

    Concluso Bibliografia

    Atividades

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    INTRODUO

    Embora um grande nmero de pesquisas seja realizado sobre o tema de

    abuso/dependncia de drogas, no existe uma concluso sobre qual omelhor tratamento. Ao que parece, os bons resultados de um tratamento vo

    muito alm do modelo de tratamento em si e incluem o perfil psicolgico

    do dependente, o tipo de droga, o grau da dependncia, doenas associadas,

    estrutura familiar, vontade de parar o uso da droga, entre outros fatores.

    Portanto, h tratamentos diferentes para um mesmo tipo de dependncia.

    Sabe-se que entre 30% e 40% dos usurios conseguem parar o uso de drogas,

    quase que independentemente do tratamento ao qual se submeteram.

    Entretanto, algumas abordagens tm se mostrado um pouco mais eficazes,de acordo com o perfil do paciente.

    Nesta e nas prximas aula, sero apresentadas as principais modalidades de

    tratamento:

    Tratamentos formais (farmacoterapia e psicoterapia)

    Tratamentos informais (alcolicos annimos, narcticos

    annimos, Comunidades Teraputicas, terapia comunitria)

    Abordaremos, tambm, a questo da comorbidade, ou seja, quando houtras doenas associadas dependncia. Falaremos tambm de Reduo de

    Danos, isto , aes para diminuir os efeitos negativos das drogas enquanto

    a pessoa no consegue parar totalmente de usar.

    Tratamentos formais x tratamentos informais

    Os tratamentos formais so aqueles estruturados com base em pesquisas

    cientficas. Assim, o modo como determinado medicamento ou tcnica depsicoterapia so utilizados deve seguir padres avaliados em pesquisas e sua

    efetividade deve ser comprovada.

    Por outro lado, os tratamentos informais no se baseiam em mtodos

    cientficos para avaliao de seus resultados. Entretanto, isso no significa

    que so ineficazes; apenas que ainda no foram testados cientificamente.

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    TRATAMENTOS FORMAIS

    Atendimento no Sistema nico de Sade SUS

    Desde 2002, o Ministrio da Sade vem aperfeioando o modelo deassistncia oferecido pelo Sistema nico de Sade (SUS) s pessoas que

    sofrem de transtornos mentais e aos usurios de lcool e outras drogas.

    Atravs da Coordenao de Sade Mental, so implementadas iniciativas

    de preveno, promoo e tratamento. Para tal, foram criadas unidades

    de tratamento chamadas de Centros de Ateno Psicossocial CAPSe

    tambm os chamados CAPS-ad, que so centros especializados na ateno

    s questes relacionadas ao uso de lcool e outras drogas. O objetivo desses

    centros a formao de uma rede de cuidados voltada para a reabilitao ea reinsero social das pessoas de uma forma aberta e territorializada, tendo

    em vista que os CAPS-ad se localizam na prpria comunidade em que o

    usurio vive, permitindo que o cuidado ocorra perto da famlia.

    O tratamento nos CAPS-ad tem por objetivo melhorar a qualidade de vida

    do usurio, atravs da ateno integral. Para isso, necessrio trabalhar

    outras questes que vo alm da sade, atravs de parcerias que incluam o

    usurio em outros espaos de cidadania. O objetivo geral dessa abordagem

    a ampliao do acesso ao tratamento, modificando o antigo modelo

    assistencial que se centrava apenas na hospitalizao, reduzindo, assim, aexcluso e evitando internaes desnecessrias.

    Atravs de uma equipe multiprofissional, os CAPS-ad oferecem ateno

    ambulatorial diria aos dependentes qumicos, desenvolvendo atividades

    que englobam desde o atendimento individual (medicamentoso,

    psicoterpico, de orientao etc.), at atendimentos em grupo, oficinas

    teraputicas e visitas domiciliares.

    Nos ltimos anos, o crescimento dos problemas e a preocupao com o uso

    de drogas por pessoas que vivem na rua motivaram o Governo Federal ainserir nas polticas sobre drogas novos equipamentos de cuidado, como as

    Unidades de Acolhimento e o dispositivo Consultrios na Rua.

    A Unidade de Acolhimento um servio residencial para usurios de lcool

    e outras drogas em situao de fragilidade social e rompimento dos vnculos

    familiares e/ ou comunitrios. Tem por objetivo intensificar o cuidado,

    aumentar a autonomia, ampliar a convivncia, resgatar os laos sociais, otrabalho, o lazer e diminuir o preconceito.

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    O Consultrio na Rua um servio que oferece cuidado para as pessoas

    em seus prprios contextos de vida. A equipe de sade procura abordar

    de maneira cuidadosa a pessoa em situao de vulnerabilidade (situao

    de rua) com o objetivo de aproximao, acolhimento, vinculao e

    encaminhamento aos demais servios da rede, como sade, educao

    e servios sociais. Essa abordagem respeita o momento de cada um, nolimita o cuidado sade a simplesmente a pessoa parar de usar drogas, e

    sim oferece possibilidades flexveis de cuidado, visando prevenir e mesmo

    cuidar de doenas associadas ou no ao uso de drogas, como tuberculose,

    diabetes, presso alta, doenas sexualmente transmissveis, entre outras.

    Assim, essa forma de cuidar possibilita melhorias na qualidade de vida

    dessas pessoas.

    Para fortalecer a Rede Social como um todo, a rede do SUS para

    atendimento de lcool e outras drogas deve estar integrada com os outrosservios de sade existentes, permitindo, assim, a construo de redes

    de suporte social, bem como aes intersetoriais que envolvam tambm

    educao, trabalho, promoo social, cultura, esporte e lazer e todas as

    reas importantes para a promoo da sade, preveno e tratamento do

    uso de lcool e outras drogas.

    Tanto a rede de CAPS e CAPS-ad como outros equipamentos que fazem

    parte do cuidado aos usurios de lcool e outras drogas vm sendo ampliados

    a cada ano, atravs de investimentos macios do Governo Federal nos

    estados e municpios, com o objetivo de implantar, fortalecer e manter o

    funcionamento dessa rede.

    Farmacoterapia

    Os medicamentos utilizados no tratamento da dependncia de drogas

    incluem trs grandes grupos:

    Medicamentos que tratam da sndrome de abstinncia(sinais e sintomas que aparecem quando o uso da droga

    repentinamente interrompido ou diminudo).

    Medicamentos oferecidos em tratamentos aversivos(tratamentos que fazem com que o indivduo sinta algum

    mal-estar ao usar a substncia).

    Aqueles que tratam da compulso (desejo incontrolvel) ao

    uso da droga.

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    Vale ressaltar que existem tratamentos especficos somente para alguns tipos

    de dependncia de drogas. Veja a seguir:

    lcool

    Tratando a sndrome de abstinncia

    Uma caracterstica comum na sndrome de abstinncia a ansiedade

    (nervosismo, inquietao). Em geral, para aliviar essa ansiedade, utiliza-se,

    como o prprio nome diz, um ansioltico (medicamento para diminuio

    da ansiedade). Esses medicamentos so chamados de benzodiazepnicos

    (vide Mdulo 2). Por exemplo, na sndrome de abstinncia do lcool, a

    ansiedade muito forte e, muitas vezes, o indivduo sente-se agitado, com

    falta de sono, tremores e aumento na transpirao.

    Os benzodiazepnicos, alm de aliviarem a ansiedade, evitam tambm o

    aparecimento de outros sintomas da sndrome de abstinncia alcolica,

    inclusive as convulses, que podem levar morte.

    Um termo comum quando se fala de tratamento da dependncia

    a desintoxicao.

    Tratamentos farmacolgicos aversivos

    Existe um tratamento desse tipo para o alcoolismo. Trata-se de um

    medicamento chamado dissulfiram que provoca grande desconforto

    quando associado ao uso de bebidas alcolicas. Assim, se a pessoa beber

    enquanto estiver usando o dissulfiram, ter os seguintes sintomas:

    vermelhido no rosto, sudorese, mal-estar, acelerao dos batimentos do

    corao, nuseas/vmitos. O objetivo fazer com que o paciente no beba

    por saber que, se o fizer, ir sentir-se mal.

    Tratando a compulso

    Existem alguns estudos de tratamento especficos para compulso do

    uso de lcool. Uma droga chamada naltrexone diminui a vontade de

    beber e atua melhor nos casos em que o paciente apresenta um desejo

    incontrolvel (compulso) pela bebida. Porm, diversas outras substncias

    ATENOO paciente sempre deve serinformado sobre as reaesprovocadas pela medicao

    (dissulfiram) e deve ser orientado

    a no consumir lcool emhiptese alguma (para algunspacientes, vinagre, perfume edesodorante podem ocasionarreaes leves), pois uma reao

    grave pode levar morte dopaciente.

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    esto sendo estudadas e j esto sendo muito utilizadas pelos pacientes,

    principalmente em outros pases. Um dos exemplos a carbamazepina,

    que tambm muito utilizada na rede pblica brasileira.

    TabacoNos ltimos anos, desenvolveram-se alguns tratamentos especficos para

    a dependncia de nicotina (tabaco). Eles diminuem o desejo pelo cigarro

    e, alm disso, diminuem o desconforto que a pessoa sente quando para

    de fumar, tais como nervosismo, perda de sono, aumento exagerado do

    apetite, dores de cabea. Um deles a reposio de nicotina (sob a forma

    de adesivos ou chicletes). Algumas substncias tambm podem ser teis,

    como bupropiona, que diminui tanto o desejo de usar nicotina como a

    sndrome de abstinncia provocada pela interrupo repentina do tabaco.A vareniclina atua bloqueando diretamente os receptores de nicotina no

    crebro, fazendo com que o cigarro no cause prazer. importante saber

    que essas medicaes s devem ser usadas sob prescrio mdica e com

    superviso de profissionais especializados.

    Opiceos (vide Mdulo 2)

    Utiliza-se com frequncia a terapia de substituio para os indivduosdependentes de herona e morfina. Substitui-se lentamente a droga por

    outra substncia do mesmo tipo, que tem menor efeito no crebro e cujo uso

    monitorado por profissionais habilitados. Aos poucos, retira-se a herona

    e aumenta-se a administrao da droga de substituio (a metadona). Uma

    vez que o dependente j esteja usando apenas a metadona, retira-se esta aos

    poucos, um procedimento mais simples do que retirar herona ou morfina.

    Internao hospitalar

    Muitas famlias veem a internao hospitalar para o usurio de drogas como

    a soluo ideal que, muitas vezes, vem acompanhada da falsa esperana de

    que assim o usurio ficar curado. Porm, no isso o que acontece.

    A internao deve ser destinada apenas queles usurios que esto muito

    envolvidos com a droga e afetados por suas consequncias.

    ImportanteA internao pode ajudar a

    romper o vnculo estabelecidcom a droga e com o ambient

    de uso.

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    Em poucos casos, admite-se a internao contra a vontade do

    usurio quando, por exemplo, ele perde totalmente a capacidade de

    julgamento, fica agressivo, colocando em risco a prpria segurana

    ou a de outros.

    Todavia devemos ressaltar que, sempre que o usurio estiver com sua

    capacidade de julgamento razoavelmente preservada, a internao dever

    ser permitida por ele. Se, por alguma razo, o usurio no for capaz de

    se responsabilizar por sua internao, essa responsabilidade dever ser de

    algum familiar.

    PsicoterapiasExistem vrias modalidades psicoterpicas e muitas definies para

    psicoterapia.

    As sesses de psicoterapia podem ser realizadas:

    Individualmente (psicoterapia individual)

    Em grupos (psicoterapia de grupo)

    Em casais (psicoterapia de casal)

    Em famlias (psicoterapia familiar)

    De modo geral, psicoterapia um tratamento psicolgico cujo

    objetivo mudar pensamentos, sentimentos e comportamentos

    problemticos, criando um novo modo de enfrentar as situaes

    do dia a dia.

    H vrias linhas de psicoterapia: a psicanlise, a cognitiva, a corporal,entre outras.

    Para o bom andamento da psicoterapia, dois aspectos so essenciais: o

    vnculo estabelecido com o psicoterapeuta, que se d pela empatia entre

    paciente-terapeuta, e o desejo do paciente de se submeter ao tratamento.

    fato comum no tratamento das dependncias de drogas a recada, ou

    seja, a volta ao uso das drogas aps um perodo de abstinncia. Esse

    ImportanteA psicoterapia para dependentesdeve ser iniciada com o paciente

    j desintoxicado. Algumasvezes, necessria tambm uma

    abordagem farmacolgica.

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    processo (abstinncia/recada/abstinncia) deve auxiliar o terapeuta no

    conhecimento dos fenmenos psicolgicos envolvidos na dependncia de

    drogas e no deve ser visto como um desestmulo ao tratamento.

    A dependncia de drogas pode ser vista como uma perda da liberdade

    de escolha do indivduo frente a uma determinada substncia. Em outras

    palavras, o dependente no escolhe se vai ou no usar drogas, ou aquantidade que usar ele se sente obrigado a usar, seja para diminuir

    os efeitos desagradveis que a falta da droga est provocando ou mesmo

    para tentar buscar o efeito que vai se perdendo ao longo do tempo pelo

    uso continuado.

    A terapia pode ajudar o paciente a perceber o papel que a droga desempenha

    em sua vida, suas consequncias e ajud-lo a redesenhar seu projeto de vida,

    sem a necessidade do uso da droga.

    Interveno Breve motivacional

    A Interveno Breve motivacional uma forma de Interveno Breve que

    leva a considerao a vontade e motivao que a pessoa tem para fazer o

    tratamento.

    Essa interveno estruturada dependendo do estgio de prontido ou

    de motivao do usurio para mudana do comportamento de consumo de

    substncias, no momento em que avaliado.

    Oprimeiro estgio chamado de Pr-contemplao e refere-se quele usurio que ainda no est pensando em mudar seu

    comportamento de uso de drogas. A interveno, nesse caso,

    consiste em dar informaes e orientaes sobre os problemas

    associados ao uso da substncia e encorajar a pessoa a refletir

    sobre o assunto, no sentido de procurar despertar sua motivao

    para mudar.

    O segundo estgio denominado Contemplaoe refere-sequele usurio que j pensa na possibilidade de mudar seus

    hbitos de uso de drogas, mas ainda no tem determinao

    suficiente para isso, ou seja, ora quer parar de usar, ora quer

    continuar o uso. Nesse caso, deve-se fornecer informaes

    pessoa e tentar ajud-la a refletir sobre as vantagens e

    desvantagens relativas ao consumo da substncia.

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    O terceiro estgio denominado Preparao para a aoe corresponde ao momento em que a pessoa reconhece

    claramente que o uso da droga a est prejudicando e deseja

    mudar seu comportamento. Nesse caso, deve-se desenvolver

    um planejamento de atitudes que possam modificar seu

    comportamento, a partir do reconhecimento dos fatores derisco e estratgias para enfrent-los.

    O quarto estgio denominadoAoe refere-se atitude dousurio que comea a colocar em prtica o que foi planejado,

    mudando seus hbitos e o comportamento de uso.

    O quinto estgio denominado Manuteno e relaciona-se com as intervenes dirigidas para a manuteno de

    comportamentos que evitem a recada para o consumo, que

    j tinha sido interrompido. Nesse estgio, importante oincentivo e o estmulo ao usurio, no sentido de ele continuar

    a no usar drogas.

    Abordagem familiar sistmica

    Na abordagem familiar sistmica, o problema do consumo de substncias

    no focalizado s no usurio, mas sim visto como um problema a ser

    considerado dentro de suas relaes afetivas mais importantes (quenormalmente o grupo familiar).

    Assim, o tratamento deve incluir o usurio e todos aqueles que, de alguma

    forma, so prximos ou ligados a ele e que podem ser considerados como

    sua famlia. Nessa abordagem, o comportamento de consumo prejudicial

    de drogas no considerado um problema individual, mas sim familiar, o

    que implica em tratar a famlia como um todo.

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    TRATAMENTOS INFORMAIS

    Grupos de autoajuda

    Em 1931, Roland Hazard,um banqueiro americano, procurou o famoso

    psicanalista Carl Gustav Jung para se tratar da sua dependncia de lcool.

    Os resultados no tiveram efeito e o prprio Jung recomendou que Roland

    procurasse uma experincia espiritual ou religiosa. Roland buscou um

    movimento evanglico, oOxford Group, e conseguiu parar de beber.

    A partir da se formou um grupo de alcoolistas dentro do Oxford Group,

    fundando-se, ento, osAlcolicos Annimos (AA), em 1935, em Akron,

    Ohio (Estados Unidos). As razes religiosas do movimento so mantidas at

    os dias de hoje.

    Os AA cresceram rapidamente e estima-se que hoje existem 98.710

    grupos com 1.989.124 membros em 150 pases diferentes. No Brasil, a

    estimativa de 6.000 grupos com 121.000 membros. A experincia do

    AA expandiu-se e hoje existem centenas de tipos de grupos de autoajuda

    dedicados a problemas como tabagismo, sexo, jogo e alimentao. O

    grupo que mais cresce o de Narcticos Annimos (NA), com mais de

    25.000 reunies semanais no mundo inteiro.

    Todas essas organizaes de autoajuda tm grupos paralelos e semelhantes

    para os amigos e familiares do dependente e utilizam, para identificar o

    tipo de grupo, nomes como Al-Anon para AA e Nar-Anon para NA.

    Os membros desses grupos denominam-se adictos em recuperao,

    renem-se regularmente com o propsito de manter a abstinncia e

    levar o conhecimento do programa aos usurios que ainda sofrem com o

    problema.

    A base do programa de recuperao desses grupos consiste em umasrie de atividades conhecidas como Doze Passos. Nas reunies, cada

    membro partilha experincias pessoais com os outros, buscando ajuda

    no como profissionais, mas simplesmente como pessoas que tiveram

    problemas semelhantes e encontraram uma soluo. Entretanto, existe a

    figura de um conselheiro, que o padrinho ou madrinha, um membro

    experiente que oferece ajuda informal aos membros mais recentes.

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    Os programas de AA e NA usam o conceito de dependncia qumica como

    doena, baseado na prpria experincia, acreditando que a aceitao da

    dependncia como doena algo eficaz para ajud-los. A nica exigncia

    para se tornar membro um desejo de parar de usarlcool ou outras

    drogas.

    Doze Passosso sugeridos aos membros dos grupos de autoajuda comoum processo til para atingir e manter a abstinncia. Foram escritos no

    plural e no passado, como sugestes dos primeiros alcoolistas que tiveram

    sucesso na aplicao do programa.

    Segundo a filosofia dos grupos de autoajuda, o passo fundamental o

    primeiro, em que a pessoa admite que haja algo (droga, jogo, sexo etc.)

    mais forte que ela e que no tem controle sobre o mesmo.

    Voc encontrar, abaixo, todos os doze passos preconizados pelos AA e que

    deram origem aos movimentos semelhantes.

    Os Doze Passos dos Alcolicos Annimos (AA)

    1. Admitimos que ramos impotentes perante o lcool (ou

    qualquer outra droga, sexo, jogo etc.), que tnhamos perdido o

    domnio sobre nossas vidas

    2. Viemos a acreditar que um Poder Superior a ns mesmos

    poderia devolver-nos sanidade

    3. Decidimos entregar nossa vontade e nossas vidas aos cuidados

    de Deus na forma em que O concebamos

    4. Fizemos um minucioso e destemido inventrio moral de ns

    mesmos

    5. Admitimos perante Deus, perante ns mesmos e perante outro

    ser humano a natureza exata de nossas falhas

    6. Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removessetodos esses defeitos de carter

    7. Humildemente pedimos a Ele que nos livrasse de nossas

    imperfeies

    8. Fizemos uma relao de todas as pessoas a quem tnhamos

    prejudicado e nos dispusemos a reparar os danos a elas causados

    9. Fizemos reparaes diretas dos danos causados a tais pessoas,

    Saiba Mais...Voc pode encontrar mais

    informaes sobre o AA e o NAnos sites:

    ;

    .

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    sempre que possvel, salvo quando faz-lo significasse prejudic-

    las ou a outrem

    10. Continuamos fazendo o inventrio pessoal e, quando estvamos

    errados, ns o admitamos prontamente

    11. Procuramos, atravs da prece e da meditao, melhorar

    nosso contato consciente com Deus, na forma em que O

    concebamos, pedindo apenas o conhecimento de Sua vontade

    em relao a ns, e foras para realizar essa vontade

    12. Tendo experimentado um despertar espiritual, graas a estes

    passos, procuramos transmitir esta mensagem aos alcolicos e

    praticar estes princpios em todas as nossas atividades

    Terapia comunitria

    Adalberto Barreto, mdico psiquiatra, telogo, antroplogo, terapeuta

    familiar, criou em Fortaleza, no ano de 1988, a terapia comunitria.

    Terapia comunitria um espao aberto a todas as pessoas, de

    todas as idades, credos, raas, onde se desenvolve a capacidade de

    ouvir atentamente o outro e de falar de si com simplicidade.

    A terapia comunitria um espao comunitrio que procura dividir

    experincias de vida entre os participantes do grupo. um instrumento que

    possibilita a preveno do uso de drogas, a identificao, o acolhimento

    e o encaminhamento de usurios e dependentes, no qual vrios aspectos

    da vida do indivduo e do grupo social podem ser trabalhados, como a

    famlia, o trabalho, a cultura, a comunidade, entre outros.

    um espao de promoo de encontros interpessoais e intercomunitrios,

    objetivando a valorizao das histrias dos participantes, o fortalecimentodas relaes sociais, a restaurao da autoestima, a ampliao da percepo

    dos problemas e possibilidades de resoluo. Tem como base de sustentao

    o estmulo para o desenvolvimento ou a criao de uma rede de apoio social

    e de solidariedade.

    A Terapia Comunitria contribui para realizar as aes envolvendo a

    comunidade propostas nas polticas pblicas destinadas reduo da

    demanda do uso de drogas. Nesse sentido, a Terapia Comunitria (TC)

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    coloca-se como um servio comunidade que possibilita intervir em vrios

    nveis:

    1. Antecipar-se ao uso indevido de drogas, trabalhando possveis

    motivadores para o consumo, analisando riscos e fortalecendo

    fatores de proteo;

    2. Para aqueles que j so usurios e suas famlias, visa oferecer

    um espao de acolhimento, amparo e auxlio na mudana da

    compreenso quanto ao uso ou abuso de drogas e contribuir

    para a reduo dos riscos e danos associados ao uso;

    3. Facilitar a identificao da necessidade e dos meios para

    o tratamento de dependentes ou usurios e suas famlias,

    contribuir para a adeso e permanncia no atendimento;

    4. Favorecer a criao ou o resgate da Rede Social do usurio.Esse contexto de possibilidades de expresso dos conflitos, medos e dvidas,

    em um ambiente livre de julgamentos, onde se valorizam as diferenas

    individuais e as experincias de vida de cada um, favorece a preveno, o

    tratamento e a reinsero social de usurios e famlias.

    REDUO DE DANOS DECORRENTES DO USO DE

    DROGAS

    A Reduo de Danos um conjunto de aes e estratgias especficas,

    voltadas para o campo da sade pblica e dos direitos humanos, que tem

    como objetivo a diminuio do impacto dos problemas socioeconmicos,

    culturais e dos agravos sade associados ao uso de lcool e outras drogas.

    Desde a dcada de 1980, no Brasil e em vrios pases do mundo, a Reduo

    de Danos (RD) deixou de ser apenas um conjunto de aes isoladas de

    determinados grupos sociais para se tornar uma estratgia das polticas de

    sade pblica.

    De acordo com a Poltica Nacional sobre Drogas, as intervenes e aes

    de Reduo de Danos devem ser embasadas em conhecimento tcnico-

    cientfico, considerando a qualidade de vida, o bem-estar individual e

    comunitrio, as caractersticas locais, o contexto de vulnerabilidade e o

    risco social existente.

    Saiba mais...Mais informaes sobre aTerapia Comunitria na

    preveno do uso de drogaspodem ser obtidas por meio do

    portal do Observatrio Brasileirode Informaes sobre Drogas(OBID), atravs do endereo

    eletrnico:, na cartilha A prevenodo uso de drogas e a terapia

    comunitria, disponvel no itemPublicaes.

    ImportanteO Governo Brasileiro reconhece

    a estratgia de Reduo de

    Danos, amparada pelo artigo196 da Constituio Federal,como medida de interveno

    preventiva, assistencial, depromoo da sade e dos direitoshumanos (Diretrizes, 3.2.1 da

    PNAD).

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    Modelos de tratamentos para pessoas com dependncia de lcool e outras drogas | Au

    p.

    As bases para as aes dos programas de Reduo de Danos so:

    Reduzir o risco de os usurios de drogas contrarem doenasinfecciosas como AIDS, hepatite B ou C e tuberculose, ou de

    sofrer overdose.

    Reduzir a possibilidade de os usurios de drogas se envolveremem atividades criminosas ou indesejveis, que causam danos a

    si mesmos e aos outros.

    Aumentar as chances de que os usurios de drogas ajamresponsavelmente em relao aos outros, cuidem de suas

    famlias, estudem e consigam emprego.

    Aumentar a possibilidade de reinsero social dos usuriosde drogas que optaram em resgatar sua cidadania, valorizando

    o que lhe vital e construtivo, evitando que venham a sofrerexcluso social e cultural em decorrncia do uso.

    CONCLUSO

    No existe o melhor tratamento para a dependncia de drogas. Vale muito,

    para o bom resultado, a vontade do indivduo em livrar-se da dependncia.

    No h caminhos simples ou mgicos; um processo que leva tempo erequer muitos esforos.

    A identificao do paciente com determinado tratamento parece contribuir

    para melhores resultados.

    As recadas durante o tratamento podem ser frequentes e no devem ser

    vistas com pessimismo, nem diminuir o entusiasmo com o tratamento.

    Todas as aes para que os danos provocados pelas drogas sejam amenizados

    so bem-vindas.

    de fundamental importncia para o bom tratamento mdico identificar

    outros fatores associados dependncia, que muitas vezes impedem a

    recuperao do dependente. A identificao desses fatores (chamados de

    comorbidades) deve ser feita por profissionais capacitados em identific-los

    e trat-los.

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    Mdulo 4 | Como intervir em casos de abuso ou dependncia de lcool e outras drogas: modalidades de tratamento e encaminhamento

    p. 250

    BIBLIOGRAFIA

    Alcolicos Annimos. Os doze passos. Disponvel em: .

    BRASIL. Ministrio da Sade. A polca do Ministrio da Sade para aateno integral a usurios de lcool e outras drogas, 2 ed. Braslia:

    Ministrio da Sade; 2004.

    BRASIL. Ministrio da Sade. A polca do Ministrio da Sade

    de ateno integral a usurios de lcool e outras drogas. Braslia:

    Ministrio da Sade. Secretaria de Polcas de Sade/Coordenao

    Nacional de DST e AIDS; 2003. p. 1-54.

    BRASIL. Secretaria Nacional de Polcas sobre Drogas (SENAD).

    Duarte PAV, Formigoni MLOS, coordenadores. SUPERA: Sistema

    para deteco do uso abusivo e dependncia de substncias

    psicoavas: encaminhamento, interveno breve, reinsero social e

    acompanhamento. Universidade Federal de So Paulo, Departamento

    de Psicobiologia, Departamento de Informca em Sade. Braslia:

    SENAD - Secretaria Nacional de Polcas sobre Drogas; 2006.

    Disponvel em: .

    Delgado PG, Cordeiro FA. Rede de ateno a usurios de lcool e

    outras drogas na sade pblica do Brasil. In: Supera: Sistema para

    deteco do uso abusivo e dependncia de substancias psicoavas.

    Braslia: SENAD - Secretaria Nacional de Polcas sobre Drogas; 2008.

    MISMEC - Movimento Integral de Sade Mental Comunitria.

    Disponvel em: .

    Nadelmann E, Mcneely J, Drucker E. Internaonal perspecves. In:

    Lowinson JH, Ruiz P, Millman RB, Langrod LG, editores. Substance

    abuse: a comprehensive textbook, 3 ed. Balmore: Williams &Wilkins; 1997. p. 22-39.

    NEMGE, USP. Disponvel em: .

    Sapienza BT. Conversa sobre terapia. So Paulo: EDUC/Paulus; 2004.

    SENAD. Frum Nacional sobre Drogas. Secretaria Nacional Androgas.

    Mimeo; 2004.

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    ATIVIDADES

    1. Em relao s estratgias de Reduo de Danos (RD),

    CORRETO afirmar que:

    ( ) a. So estratgias que tm por objetivo alcanar a interrupodo uso de drogas.

    ( ) b. Desenvolvem aes, exclusivamente, com grupos de maiorrisco, como os portadores de HIV.

    ( ) c. As intervenes tm por objetivo diminuir os danosdecorrentes do uso de droga e garantir o direto sade.

    ( ) d. O contexto de vulnerabilidade, o risco social e oconhecimento cientfico no interferem no desenvolvimentodessas estratgias.

    2. A terapia pode ajudar o paciente a perceber o papel que a

    droga est desempenhando em sua vida e como redesenhar o

    seu projeto de vida, sem a necessidade do uso. Pensando nessa

    estratgia de tratamento, qual o tipo de psicoterapia pode ser

    utilizado com o usurio de drogas?

    ( ) a. Psicoterapia Individual e de Casal.

    ( ) b. Psicoterapia de Grupo.

    ( ) c. Psicoterapia Familiar.

    ( ) d. Todas as alternativas acima.

    3. Em relao utilizao da Terapia Comunitria para pessoas

    com problemas decorrentes ao uso de lcool e outras drogas,

    assinale a alternativa INCORRETA:

    ( ) a. uma tcnica utilizada no tratamento, e no na preveno,pois favorece a identificao dos elementos motivadores parao consumo.

    ( ) b. uma tcnica que facilita a identificao da necessidade e dosmeios para o tratamento.

    ( ) c. Favorece a criao ou o resgate da rede social do usurio.( ) d. Contribui para qualidade das relaes afetivas e sociais junto

    aos diferentes grupos aos quais o usurio pertence.

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    4. Temos 3 grandes grupos de medicamentos utilizados no

    tratamento da dependncia de drogas. Assinale a alternativa

    CORRETA:

    I. Medicamentos que tratam de sinais e sintomas que aparecem

    quando o uso da droga interrompido ou diminudo tratam

    de forma abrupta, tratam da..................II. Medicamentos que fazem com que o indivduo sinta algum mal-

    estar ao usar a substncia so chamados de............................

    III. Medicamentos utilizados para reduzir o desejo incontrolvel

    de usar a droga tratam da.............................

    ( ) a. I Sndrome de abstinncia; II aversivos e III- compulso.

    ( ) b. I- averso; II- compulso e III- tolerncia.

    ( ) c. I- tolerncia; II- aversivos e III tolerncia.

    ( ) d. I- sndrome de abstinncia; II- tolerncia e III- compulso.

    Reflita a respeito...

    Em sua regio, quais so as possibilidades de tratamento para

    usurios de lcool e outras drogas? Como esto estruturados?

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    Aula 10

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    Aula 10

    Tratamento de pessoas dependentes de

    substncias em Comunidades Teraputicas

    OS OBJETIVOS DESTA AULA SO:

    conhecer a histria das Comunidades Teraputicas conhecer a importncia das Comunidades Teraputicas

    TPICOS

    Histrico

    Synanon: a primeira Comunidade Teraputica

    Abordagem da Comunidade Teraputica

    Perspectiva da Comunidade Teraputica

    Comunidade Teraputica como famlia Comunidade Teraputica como microssociedade

    Papel da equipe na Comunidade Teraputica

    CT saudvel e CT doente

    Bibliografia

    Atividades

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    Tratamento de pessoas dependentes de substncias em Comunidades Teraputicas | Aula

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    HISTRICO

    O Grupo de Oxford (por vezes chamado de movimento) foi uma

    organizao religiosa fundada na segunda dcada do sculo XX por

    Frank Buchman, ministro evanglico luterano. Seu primeiro nome, First

    Century Christian Fellowship, transmitia sua mensagem essencial um

    retorno pureza e inocncia dos primrdios da Igreja Crist.

    A misso de Oxford para o renascimento espiritual dos cristos

    acomodava de modo amplo todas as formas de sofrimento

    humano. Embora no fosse o foco principal, os transtornos mentais

    e o alcoolismo, na qualidade de eroso espiritual, segundo a viso

    do grupo de Oxford, eram contemplados pelas preocupaes do

    movimento.

    Parte das ideias e prticas comumente sustentadas inclua a tica do trabalho,

    o cuidado mtuo, a orientao partilhada e os valores evanglicos da

    honestidade, da pureza, do altrusmo e do amor, o autoexame, a reparao

    por danos causados e o trabalho conjunto.

    A influncia do Grupo de Oxford sobre a Irmandade de Alcolicos Annimos

    (AA) se associa a pessoas especficas. Rowland H., um dependente de lcool

    cuja recuperao teve como base a converso religiosa no Grupo de Oxford

    (abrigado na Igreja episcopal do reverendo doutor Sam Shoemaker, em

    Nova York), fez da salvao de outros dependentes sua misso pessoal.

    Um dos convertidos foi Ebby T., que tentou ajudar Bill W., um antigo

    compatriota dado a beber (final de 1934), falando de religio e das ideias

    do Grupo de Oxford. Mas foi durante uma subsequente hospitalizao por

    desidratao que Bill W. passou por um despertar espiritual para manter

    a sobriedade, ao que parece influenciado pelo livro de William James,

    Variedades da Experincia Religiosa.Durante uma viagem de negcios a Akron, Bill W. sentiu forte desejo de

    beber. Henrietta Sieberling, associada ao Grupo de Oxford em Akron,

    indicou a Bill W. o nome de Bob S., outro dependente de lcool. A conversa

    entre os dois homens foi o momento fundador dos AA. A experincia de

    troca mtua desencadeou sua prpria misso de ajudar outros alcoolistas.

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    Os Doze Passos e as Doze Tradies do AAso os princpios que

    guiam o indivduo no processo de recuperao.

    Esses passos e tradies enfatizam a perda de controle da pessoa com

    relao substncia e a entrega a um poder superior, o autoexame, a

    busca de ajuda do poder superior de cada um para a mudana do prprio

    eu, reparao de males que se tenham causado aos outros, a orao na luta

    pessoal e o oferecimento de ajuda a outras pessoas para que se empenhem

    num processo semelhante.

    A experincia do Hospital Belmont, para pacientes com problemas

    psiquitricos e idealizada por Maxwell Jones e seus colegas, foi de

    grande importncia para fundamentar o conceito de comunidade(conceitos da natureza teraputica do ambiente) como mtodo

    para as CTs de tratamento de substncias psicoativas.

    As principais caractersticas da CT psiquitrica so:

    a organizao como um todo responsvel pelo resultadoteraputico;

    a organizao social til para aumentar os resultadosteraputicos;

    estimulo participao ativa de todos nos assuntos da CT;

    todos os relacionamentos so potencialmente teraputicos;

    a qualidade do ambiente social e sua harmonia ajudammuito no processo teraputico; as pessoas aprendem na

    convivncia em comunidade a aceitao, o controle, a

    tolerncia com respeito aos comportamentos inadequados;

    estmulo ao dilogo amistoso;

    estmulo e organizao do grupo para o trabalho;

    uso de estratgias educativas e estabelecimento deobjetivos a serem alcanados.

    (Kennard, 2003)

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    SYNANON: A PRIMEIRA COMUNIDADE TERAPUTICA

    No dia 18 de setembro de 1958, Chuck Dederiche um pequeno grupo

    de dependentes de lcool em recuperao decidiram viver juntos para,alm de ficar em abstinncia, buscar um estilo alternativo de vida. Assim,

    eles fundaram, em Santa Mnica, na Califrnia, a primeira Comunidade

    Teraputica (CT), que se chamou Synanon. O grupo adotava um sistema

    de relacionamento direcionado, em uma atmosfera quase carismtica, o

    que, naquelas circunstncias, foi muito teraputico.

    O comeo foi despretensioso e tinha as caractersticas clssicas de

    autoajuda. Dederich, ao lado de vrios companheiros de AA, iniciou em

    seu apartamento grupos semanais de associao livre.Os participantes consideravam o grupo um novo tipo de terapia. Um ano

    mais tarde, as reunies semanais deram origem Comunidade Teraputica

    residencial, e em agosto de 1959 a organizao foi, oficialmente, fundada

    para tratar todos os usurios abusivos, independentemente da substncia

    de escolha.

    A Synanon definiu como requisito para participar do programa a

    interrupo do uso de drogas. Assim, ao contrrio das reunies do AA,

    que contavam com a presena de pessoas que no tinham parado de beber,os residentes da Synanon tinham de ficar livres de substncias como

    condio participao no programa. As CTs contemporneas mantm

    essa regra fundamental de no uso de drogas, embora ao longo dos anos

    sua reao a violaes tenha adquirido maior flexibilidade.

    Embora os conceitos bsicos de autoexame e de ajuda mtua dos AA

    tenham sido incorporados pela Synanon, a nfase dos AA a um poder

    superior espiritual foi substituda por ideias no religiosas, focando

    na autodeterminao e na responsabilidade individual. Para a CT, o

    poder de mudana est na pessoa, sendo ativado por sua participao na

    comunidade de pessoas com problemas semelhantes.

    Em resumo, a CT Synanondeu nova forma a vrias influncias, pois

    herdou elementos morais e espirituais do Grupo de Oxford e dos AA e

    parte dos 12 princpios e das 12 tradies deste ltimo. Integraram a esses

    elementos outras influncias sociais, psicolgicas e filosficas, todas com o

    objetivo no s de manter a sobriedade, como tambm de mudar o estilo

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    de vida. O mais importante que, num ambiente residencial de 24 horas,

    os indivduos ficavam afastados dos elementos sociais, circunstanciais e

    interpessoais da comunidade mais ampla, que poderiam influenciar seu

    uso de substncias.

    Nesses ambientes, a CT desenvolveu uma tecnologia de aprendizagem

    social que usava a totalidade da vida comunitria para alcanar metascomplexas. Assim, a CTSynanonrepresentou um passo evolutivo com

    relao a seus precursores, mas tambm foi revolucionria ao introduzir

    uma abordagem basicamente inovadora para o tratamento de dependncia

    de drogas lcitas e ilcitas.

    Esse tipo de abordagem teraputica se firmou e deu origem a outras CTs,

    que, conservando os conceitos bsicos, aperfeioaram o modelo proposto

    pela Synanon.

    A CT Daytop Village o exemplo mais significativo desse tipo

    de abordagem. Foi fundada em 1963, pelo Monsenhor William

    OBrien e David Deitch, tornando-se um programa teraputico

    muito articulado em todo o mundo.

    O ex-psicanalista americano Hobart O. Mowrey, impressionado

    positivamente pela capacidade de recuperao atravs da abordagem de

    CTs, confirmou que a espiritualidade um elemento importante, pois todosesses grupos so capazes de resgatar e mobilizar a energia espiritual de seus

    componentes, para que encontrem a coragem necessria para enfrentar e

    buscar os objetivos propostos. A energia espiritual pode reintegrar a pessoa

    consigo mesma, com o grupo, com a comunidade, com a sociedade, com

    seu poder superior. A CT tem a capacidade de criar um ambiente ecumnico

    e oferece os instrumentos para que o indivduo tenha a oportunidade e

    a liberdade necessrias para procurar sua prpria origem e responder de

    maneira adequada sua prpria dimenso espiritual.

    Comunidades Teraputicas no Brasil

    No Brasil o marco da expanso das CTs foi a partir de 1978, com a fundao

    da Fazenda do Senhor Jesus, em Campinas SP, pelo Padre Haroldo J.

    Rahm. Observando que somente os recursos teraputicos da CT, para

    alguns dependentes de drogas, eram insuficientes, o padre inseriu na

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    Tratamento de pessoas dependentes de substncias em Comunidades Teraputicas | Aula

    p.

    equipe da CT profissionais que puderam contribuir com outras abordagens

    psicossociais. Porm, cabe ressaltar que h locais que se denominam CT,

    porm no possuem conhecimento e treinamento adequados nesse modelo,

    sendo, segundo o prprio Pe. Haroldo, simples centros de acolhimento.

    Essa indistino pode ser considerada como uma das dificuldades de

    reconhecimento das CTs, relacionadas principalmente pelo baixo ndice derecuperao demonstrado por alguns estudos.

    Em 2001, a Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (ANVISA) adotou

    a Resoluo da Diretoria Colegiada (RDC)-101/01, que regulamentou o

    funcionamento das CTs, com o objetivo de normatizar o funcionamento

    dos servios pblicos e privados que oferecem tratamento a pessoas com

    transtornos decorrentes do uso de Substncias Psicoativas (SPA), de acordo

    com o modelo da ateno psicossocial. Em 2011, foi criada a RDC-29 para

    regulamentar o funcionamento tcnico das CTs em relao organizaodo servio (gesto pessoal e infraestrutura) e no processo assistencial pessoa

    usuria de substncias psicoativas (desde admisso at sua alta, englobando

    normas de conduta claras para as situaes de desistncia, desligamento

    administrativo, desligamento administrativo em caso judicial e fugas). Esta

    resoluo revogou a RDC-101/01.

    ABORDAGEM DA COMUNIDADE TERAPUTICASegundo Elena Goti (1997), a abordagem da Comunidade Teraputica:

    Deve ser aceita voluntariamente;

    No se destina a todo tipo de dependente. Isso ressalta aimportncia fundamental da triagem, como incio do processo

    teraputico. Muitas vezes, algumas CTs, por meio de suas

    equipes, se sentem todo-poderosas e adoecem, acreditando

    que se o residente no quer ficar na CT porque no querrecuperao. No consideram que o residente tem o direito de

    escolher como e onde quer se tratar;

    Deve reproduzir, o melhor possvel, a realidade exterior parafacilitar a volta sociedade;

    Deve fornecer modelo de tratamento residencial altamenteestruturado;

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    Deve estimular a explicao da patologia do residente, frentea seus pares;

    Deve ver os residentes como um espelho da consequnciasocial de seus atos;

    Deve abranger um clima de tenso afetiva;

    Deve ver o residente como o principal ator de seu tratamento.A equipe oferece apenas apoio e ajuda.

    PERSPECTIVA DA COMUNIDADE TERAPUTICA

    Da perspectiva da CT, o abuso de substncias um transtorno que

    afeta a vida da pessoa como um todo e tambm das pessoas que estoao seu redor. Esto tipicamente envolvidos problemas do funcionamento

    geral da pessoa, que implicam alteraes de comportamentos, bem

    como perturbaes do humor, como manifestaes de irritabilidade,

    agressividade, entre outras. O pensamento pode mostrar-se irrealista ou

    desorganizado; h confuso ou inexistncia de valores, podendo ocorrer

    demonstrao de descaso com os sentimentos de outros . Alm disso, a

    pessoa pode no assumir a responsabilidade por situaes desencadeadas

    por seus comportamentos relacionados obteno e consumo delcool e outras drogas. So frequentes as dificuldades na comunicao

    de sentimentos e pensamentos, podendo, at mesmo, comprometer a

    capacidade de ler, escrever e at de realizar tarefas do dia a dia. evidente

    a falncia espiritual, descrita em termos psicolgicos ou existenciais.

    Costuma-se perguntar a pessoas recm-admitidas em CTs: Qual o

    seu problema?.

    Sua resposta usual: Drogas, eu uso drogas.

    Recebe invariavelmente a seguinte rplica: Isso o seu sintoma,

    no o seu problema.

    Quem busca admisso em CTs residenciais de longo prazo apresenta um

    quadro de transtorno que vai alm do simples uso de substncias.

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    Tratamento de pessoas dependentes de substncias em Comunidades Teraputicas | Aula

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    De modo geral, o quadro que os indivduos apresentam ao entrar em

    CTs de risco para a sade e associada crises sociais.

    O uso de drogas est ou esteve h pouco tempo fora de controle;

    O indivduo revela pouca ou nenhuma capacidade de mantera abstinncia sozinho;

    H um prejuzo no funcionamento social e interpessoal;

    O uso que faz de drogas parte de um estilo socialmenteexcludente ou se transformou em tal estilo.

    Ainda que a gravidade, o grau ou a durao dos problemas em cada uma

    dessas reas estejam sujeitos a variaes, para estabilizar sua vida psicolgica,

    social e familiar e iniciar um processo de longo prazo de mudana pessoal

    e de estilo de vida, todos esses indivduos precisam da CT residencial para

    interromper um estilo de vida que promove a autodestruio ou leva acomportamentos derrotistas.

    COMUNIDADE TERAPUTICA COMO FAMLIA

    Os programas de CT tambm se autodefinem como famlias, ou melhor,

    famlias substitutas, que corrigem danos histricos causados pelas famlias

    disfuncionais dos clientes a quem servem. Assim, a CT se empenha em

    manter as principais caractersticas da famlia saudvel: estrutura para

    proporcionar ordem vida cotidiana; ateno amorosa e acolhedora, por

    meio de segurana fsica e psicolgica; aceitao da pessoa e estmulo a

    ela, com a nica condio da participao honesta na luta pela mudana;

    e transmisso de valores por meio de uma rotina diria de atividades

    voltadas para a aprendizagem social.

    Termos vinculados famlia so muito usados entre participantes para

    se designar mutuamente como o caso de famlia, irmo e irm. Soatribudas com menor frequncia as referncias me e pai (substituto/a) a

    membros do corpo funcional. A prpria experincia de tratamento vista

    em termos maturacionais. Por exemplo, ex-residentes de CTs costumam

    referir-se a seus programas como o lugar em que cresceram, no como

    aquele em que se recuperaram da dependncia de substncias lcitas e

    ilcitas.

    Importante

    Os termos famlia ecomunidade se tornamintercambiveis nas CTs

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    COMUNIDADE TERAPUTICA COMOMICROSSOCIEDADE

    Com a total proibio do uso de substncias e do comportamentoantissocial, a CT contm grande parte dos elementos da

    macrossociedade mais ampla uma rotina diria de trabalho e

    educao, relaes sociais e, de modo particular, uma estrutura

    ocupacional.

    A progresso individual pela hierarquia de funes de trabalho se assemelha

    bastante passagem ascendente pelos degraus ocupacionais do mundo

    real. Mas h uma diferena fundamental: a CT promove a aprendizagem

    por tentativa e erro, proporcionando um ambiente no qual se pode errar

    com segurana.

    Isso contrasta com o mundo exterior, que envolve um maior risco de perdas,

    humilhaes e punies decorrentes de fracasso na realizao de tarefas.

    Assim, a CT considerada uma microssociedade que prepara o indivduo

    para uma nova vida na macrossociedade do mundo real.

    PAPEL DA EQUIPE NA COMUNIDADE TERAPUTICA

    O programa teraputico-educativo, a ser desenvolvido no perodo de

    tratamento da CT, tem como objetivo ajudar o dependente a se tornar uma

    pessoa livre pela mudana de seu estilo de vida. A proposta da CT deve

    considerar que o dependente pode se desenvolver nas diversas dimenses de

    um ser humano integral por meio de uma comunicao livre entre a equipe

    e os residentes, em uma organizao solidria, democrtica e igualitria.A equipe deve oferecer ajuda eficaz para quem tem necessidade de liberar as

    prprias energias vitais, para poder tornar-se um SER HUMANOem seu

    sentido pleno, adulto e independente, capaz de realizar um projeto de vida

    construtivo, de aprender a estar bem consigo mesmo e com os outros, sem

    o uso de substncias psicoativas.

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    Tratamento de pessoas dependentes de substncias em Comunidades Teraputicas | Aula

    p.

    Podemos utilizar a definio de CT de Maxwell Jones para o termo

    comunidade:

    ...grupo de pessoas que se unem com um objetivo comum;

    na maioria das vezes, surge em um momento de crise em que o

    indivduo apresenta uma desestruturao na sua vida em todas as

    reas: fsica, mental, espiritual, social, familiar e profissional.

    nesse momento que as pessoas diminuem as defesas, as resistncias e

    demonstram maior disponibilidade e abertura a mudanas, porque no

    tm nada a perder. O objetivo da CT o crescimento das pessoas por um

    processo individual e social; e o papel da equipe ajud-las a desenvolver

    seu potencial.

    Para que a equipe seja eficaz, muito importante acreditar,

    independentemente de qualquer comportamento que o residente tenha

    tido, que se pode mudar. Se no houver essa credibilidade por parte da

    equipe, porque alguns residentes esto mais comprometidos e com maiores

    dificuldades para mudar, existe o risco de abandono desses residentes. Ou

    seja, se a equipe acreditar que todos podem mudar, dedicar a ateno de

    que cada um precisa para que a mudana de fato ocorra.

    Outro aspecto importante a ser ressaltado a respeito da equipe a

    interdisciplinaridade. Esse conceito interliga todos os setores e asresponsabilidades tornam-se transferveis. Por exemplo: o psiclogo pode

    assumir a responsabilidade da enfermeira, em uma situao de primeiros

    socorros, assim como orientar o residente responsvel pelo setor de

    limpeza sobre como deve ser feita a faxina geral da CT.

    Nenhum elemento da equipe fica restrito, limitado ao seu cargo, pois em

    termos de funes existe um leque de responsabilidades. evidente que

    essa interdisciplinaridade deve estar clara para todos da equipe para que

    no aconteam melindres ou atropelamentos nas funes especficas decada cargo, como o atendimento psicolgico, que de responsabilidade

    exclusiva do psiclogo.

    Os residentes so apoiados e atendidos pela equipe interdisciplinar.

    Existe uma diviso de trabalho e um investimento real na CT, sendo que,

    algumas vezes, esse investimento visa prpria sobrevivncia da CT. O

    enfoque deve ser sobre o processo e, se for correto, h grandes chances de

    obter um resultado positivo como consequncia.

    ImportanteAntes de serem os profissiona

    da CT, eles so participantese devem conhecer e respeitaras regras para que as relaesaconteam em um ambientefamiliar, lembrando que em

    uma famlia as pessoas serelacionam como pessoas, e n

    na qualidade de cargos ou deprofisses.

    ImportanteAs fronteiras da CT devem seprotegidas, mas as informae

    devem entrar e sair.

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    O programa, para ser eficaz, deve ser aberto tanto internamente entre os

    membros que fazem parte do ambiente social, quanto externamente com

    os devidos cuidados e respeito s regras fundamentais.

    claro que, como diz Harold Bridges, uma organizao aberta :

    ... mais exposta s transformaes e, justamente por isso, mais

    vulnervel. O processo positivo, mas apresenta riscos, pois existem

    pessoas que querem alcanar resultados sem ter experincia para tal.

    Na CT preciso considerar tudo o que possibilita a criao de um

    ambiente teraputico e educativo, j que ela um grupo de autoajuda

    permanente, em que os componentes interagem a todo o momento.

    necessrio considerar: Nmero de residentes

    Suas experincias

    Idade

    Classe socioeconmica e cultural

    Organizao e regras

    Valores

    Diviso do trabalho e respectivas funes

    Administrao da autoridade

    Instrumentos teraputicos

    Estmulos educativos

    Nmero e qualificao da equipe interdisciplinar

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    Tratamento de pessoas dependentes de substncias em Comunidades Teraputicas | Aula

    p.

    CT SAUDVEL E CT DOENTE

    Conhea a seguir alguns exemplos de Comunidades Teraputicas

    saudveis e Comunidades Teraputicas doentes.

    CT saudvel

    Prope uma experincia educativa - a equipe considera oindivduo que praticou o ato e procura, pela experincia, fazer

    com que ele reflita sobre seu comportamento. Exemplo: um

    residente que se atrasa para acordar dever, por uma semana,

    ser o despertador de toda a CT

    Sempre que possvel, as experincias educativas devem serindividualizadas

    A equipe, quando comete erros ou injustias, pratica os 12passos de Alcolicos Annimos e oferece exemplo de humildade

    concreta aos residentes. Na prtica, essa postura faz com que o

    residente respeite ainda mais o trabalho da equipe

    Postura da equipe com autoridade e no autoritarismo

    Uma residente que no sabia nem fritar um ovo, ao ser escalada

    para laborterapia e receber o apoio da equipe para umaaprendizagem social, no s aprendeu a fazer muito bem o seu

    trabalho na cozinha, como deixou para outras pessoas como

    ela um livro especial de receitas: com todas as dicas que no so

    encontradas nos livros

    Quando algum familiar insiste, por gratido, em dar umpresente, orientado a presentear a CT e no algum em

    especial

    A equipe trata os residentes de maneira igualitria, semdistino de raa, credo religioso, condio social, econmica

    e cultural

    A equipe fala a mesma linguagem e demonstra postura emharmonia com os princpios da CT. Princpios acima das

    personalidades

    A equipe tem uma carga horria compatvel (40 h), assimcomo folgas

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    CT doente

    Diante de um comportamento inadequado, o residente ficao dia todo na enxada. Muitas vezes, h residentes que se

    escondem no trabalho, e deix-lo o dia todo na enxada s

    refora esse mecanismo

    A equipe, por preguia, no observa quem est comcomportamento inadequado, aplicando a experincia educativa

    a todos. Exemplo: Perda de atividades de lazer e at de direitos

    bsicos, como a carne da refeio

    Cobrar valor extra para trabalhar a sexualidade dos residentes.Como? Levando-os a casas de prostituio

    Residente no tem direito a questionamentos, pois a palavra-

    chave aceitao. Algumas equipes produzem situaes paratestar a aceitao do residente. Esquecem que Animal a gente

    adestra, ser humano a gente educa (Paulo Freire). Consideram

    que a equipe jamais comete erros

    Posturas autoritrias da equipe, por medo de perder o controle

    Explorao de uma determinada habilidade do residente pelaequipe, prejudicando o tratamento como um todo

    O residente utilizado para trabalhos particulares para a equipe(infrao ao Cdigo de tica da Federao Brasileira de CTs)

    A equipe faz distino entre os residentes, principalmente naquesto econmica. Se a famlia do residente paga um valor

    alto, ele ter direitos especiais (outra infrao)

    A equipe recebe presentes dos residentes e de familiares e,muitas vezes, privilegia esses residentes (outra infrao ao

    Cdigo de tica)

    A equipe tem pessoas inseguras que, para demonstrar poder,desautorizam orientaes dadas por outros, deixando os

    residentes confusos

    A equipe trabalha 21 dias e folga sete. Isso prejudica a sademental da equipe e a relao com os residentes

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    Tratamento de pessoas dependentes de substncias em Comunidades Teraputicas | Aula

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    Consideraes Finais

    As Comunidades Teraputicas oferecem um tipo de tratamento para pessoas

    com dependncia qumica grave que no tiveram sucesso com outros tipos

    de tratamento.

    As Comunidades Teraputicas contemporneas usam da espiritualidade etambm dos 12 Passos, alm de profissionais com experincia na rea.

    No omita e no seja cmplice de trabalhos realizados inadequadamente.

    Procure ter muita habilidade para propor mudanas e acredite que elas so

    possveis. Vamos finalizar com a histria do beija-flor:

    Uma floresta estava em chamas e todos os animais correndo do

    fogo, quando um beija-flor foi visto jogando uma gotinha de gua

    no incndio. O elefante, vendo aquilo, ficou perplexo e disse: Beija flor, por que voc, que pode voar, no vai para bem

    longe deste fogo, ao invs de tentar apag-lo com essas gotinhas

    insignificantes?

    O beija-flor respondeu:

    Se todos os animais, ao invs de correrem, comeassem a me

    ajudar, principalmente voc, elefante, com essa tromba, talvez

    pudssemos salvar a floresta, salvar a nossa casa.

    Isso pode nos lembrar de que as Comunidades Teraputicas precisam demuitos beija-flores que fiscalizem o trabalho das prprias Comunidades

    Teraputicas, assim como dos servios que se propem a tratar pessoas

    com dependncia de drogas, para que propostas de trabalho srias sejam

    valorizadas e que iniciativas inadequadas sejam coibidas.

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    p. 268

    BIBLIOGRAFIA

    Cueva RN. NANA Comunidad terapuca peruana. Lima: Cedro; 1997.

    FEBRACT Federao Brasileira de Comunidades Terapucas. Drogas

    e lcool - Preveno e Tratamento. Ed. Komedi; 2001

    I Encontro lano-americano de Comunidades Terapucas. Braslia;

    1996. Disponvel em: .

    FEBRACT - Federao Brasileira de Comunidades Terapucas.

    Drogas: preveno. Manual da FEBRACT. Campinas: FEBRACT; 1998.

    Go E. La comunidade terapuca: un desao a la droga. Buenos

    Aires: Ediciones Nueva Visin; 2000.

    Kalina E, Kovadlo S. Drogadio. 11 ed. Rio de Janeiro: Francisco

    Alves; 1988

    Knap P, Bertolote JM. Preveno da recada. Porto Alegre: Artes

    Mdicas; 1994.

    Leon GA. A comunidade terapuca: teoria, modelo e mtodo. So

    Paulo: Edies Loyola; 2003.

    Linn M. Cura da dor mais profunda. Campinas: Versus; 2000.

    Federao de Comunidades Terapucas. Manual do curso de

    formao de operadores de Comunidades Terapucas italianas (s/d).

    WFTC World Federaon of Therapeuc Communies. Manual do

    curso de formao de operadores de Comunidades Terapucas do

    Daytop Village (s/d).

    Marla GA & Gordon J.R. Preveno da recada. Porto Alegre: Artes

    Mdicas; 1993.

    Marnez E. Logoterapia: una alternava ante la frustracin existencial

    y las adicciones. Colmbia: Ediciones Colecvo Aqui y Ahora; 1999.

    Miller WR & Rollnick S. Entrevista movacional. Porto Alegre: Artes

    Mdicas; 2002.

    Osrio LC. Grupoterapia hoje. Porto Alegre: Artes Mdicas; 1989.

    Rahm H. Doze passos para os cristos. So Paulo: Edies Loyola; 2002.

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    Tratamento de pessoas dependentes de substncias em Comunidades Teraputicas | Aula

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    ATIVIDADES

    1. Quanto s caractersticas importantes para o bom

    funcionamento das Comunidades Teraputicas contemporneas,

    assinale a afirmao INCORRETA:

    ( ) a. Contribuir para o crescimento das pessoas por um processoindividual e social.

    ( ) b. Utilizar dos exemplos dos pares para a noo deconsequncias sociais dos prprios atos.

    ( ) c. O tratamento residencial no apresenta nenhuma diviso detrabalho e as tarefas so realizadas ao acaso, por qualquerpessoa.

    ( ) d. O papel da equipe interdisciplinar ajudar os residentes a

    desenvolver o seu potencial.2. Quanto ao papel das equipes da CT, assinale a alternativa

    INCORRETA:

    ( ) a. Decidem o que melhor para todos os residentes.

    ( ) b. Oferecem ajuda na construo de um plano de vida.

    ( ) c. ajudam o dependente a mudar seu estilo de vida.

    ( ) d. Ajudam e apoiam na construo de valores e habilidadessociais.

    3. Em relao s caractersticas da CT Doente, podemos afirmar

    que:

    I. A postura da equipe deve ser com autoridade e no

    autoritarismo.

    II. A equipe recebe presentes dos residentes e de familiares e,

    muitas vezes, privilegia esses residentes.

    III. Um residente tem uma determinada habilidade e a equipe

    explora isso.

    IV. A equipe fala a mesma linguagem e demonstra postura em

    harmonia com os princpios da CT.

    ( ) a. Todas as alternativas so corretas;

    ( ) b. Todas as alternativas so incorretas.

    ( ) c. As alternativas I e II so corretas.

    ( ) d. As alternativas II e III so corretas.

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    4. Com relao abordagem das Comunidades Teraputicas e ao

    perfil dos seus residentes, marque a alternativa CORRETA:

    ( ) a. O usurio deve ir de forma voluntria para tratamento nasCTs.

    ( ) b. A equipe preparada e emptica o principal fator do sucessodo tratamento do usurio.

    ( ) c. Destinam-se a qualquer tipo de dependente, no sendonecessria triagem dos residentes.

    ( ) d. No necessrio que um nico profissional responda pelasquestes operacionais durante o seu perodo defuncionamento, uma vez que a equipe tem um trabalhointerdisciplinar.

    Reflita a respeito...

    Indique como poderia ser o servio de uma Comunidade

    Teraputica, considerando as necessidades dos residentes como

    seres sociais e psicolgicos, a complexidade do transtorno, o

    funcionamento e a forma do tratamento abordados pelas CTs.

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    Aula 11

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    Aula 11

    A importncia das Redes Sociais na recuperao

    e reinsero social de usurios e dependentes delcool e outras drogas

    OS OBJETIVOS DESTA AULA SO:

    conhecer os objetivos das Redes Sociais conhecer o funcionamento das Redes Sociais

    saber como utilizar as Redes Sociais na preveno do

    uso de drogas e a importncia da participao coletiva

    TPICOS

    Rede Social

    Objetivos das Redes Sociais

    Caractersticas a serem identificadas e desenvolvidasno trabalho em rede

    Participao comunitria e a construo de Redes

    Sociais

    As Redes Sociais e a preveno do uso de drogas

    Desafios no trabalho preventivo nas comunidades de

    baixa renda

    Importncia da participao de todos

    Bibliografia

    Atividades

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    A importncia das Redes Sociais na recuperao e reinsero social de usurios e dependentes de lcool e outras drogas | Aula

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    REDE SOCIAL

    O conceito de Rede Social, como um conjunto de relaes que vinculam

    indivduos a outros indivduos, vem se ampliando dia a dia, medida

    que se percebe o poder da cooperao como uma atitude que enfatiza

    pontos comuns em um grupo, gerando solidariedade e parceria.

    O homem comea a estabelecer sua rede de relaes desde o momento em

    que nasce. A convivncia com a famlia fornece os primeiros aprendizados

    e a aquisio dos hbitos da cultura a socializao, que depois se estende

    para outros pontos da Rede Social. pela convivncia com pessoas e grupos

    que se moldaro muitas caractersticas pessoais e valores determinantes

    para sua identidade social.

    Identidade social o conjunto de caractersticas individuais

    reconhecido pela comunidade da qual a pessoa faz parte.

    Surge, assim, o reconhecimento da influncia dos grupos como elemento

    decisivo para a manuteno do sentimento de valorizao pessoal e de

    pertencimento a uma comunidade. Todo indivduo precisa de aceitao, e

    nos relacionamentos, na amizade e na vida em grupo que ele ir expressar

    e suprir essa necessidade. Os vnculos estabelecidos entre as pessoas so

    definidos por afinidades e interesses comuns. O grupo, ento, passa a

    influenciar o comportamento, funcionando como um ponto em uma

    rede de referncia, que composta tambm por outros grupos, pessoas ou

    instituies, cada qual com uma funo especfica na vida da pessoa.

    o equilbrio dessas interaes que vai determinar a qualidade das

    relaes sociais e afetivas do indivduo com os pontos de sua rede, que

    so: a famlia, a escola, os amigos, os colegas de trabalho, a insero

    comunitria, entre outros.

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    OBJETIVOS DAS REDES SOCIAIS

    Favorecer o estabelecimento de vnculos positivos por meio dainterao entre os indivduos;

    Gerar oportunidades de um espao para reflexo, troca deexperincias e busca de solues para problemas comuns;

    Estimular o exerccio da solidariedade e da cidadania;

    Mobilizar pessoas, grupos e instituies para a utilizao derecursos existentes na prpria comunidade;

    Estabelecer parcerias entre setores governamentais e nogovernamentais, para colocar em prtica os programas de

    orientao e preveno, relacionados a problemas especficos

    apresentados pelo grupo.

    Pensar em rede traz a possibilidade de desenvolver capacidades e

    potencialidades, seja de pessoas, instituies ou comunidades. A rede

    promove um aumento da integrao, modificando as condies de

    vida, no apenas em relao satisfao das necessidades bsicas, mas

    melhorando o relacionamento entre todos e suas responsabilidades para

    com o grupo.

    Uma Rede Social se estabelece e se consolida medida que se

    associam os princpios da responsabilidade pela busca de solues

    com os princpios da solidariedade.

    preciso que cada indivduo busque, dentro de si, o verdadeiro

    sentido da gratificao pessoal atravs da participao,

    potencializando aes para o fortalecimento das redes sociais.

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    CARACTERSTICAS A SEREM IDENTIFICADAS EDESENVOLVIDAS NO TRABALHO EM REDE

    Acolhimento:capacidade de acolher e compreender o

    outro, sem impor quaisquer condies ou julgamentospessoais.

    Cooperao: demonstrao do real interesse em ajudar e decompartilhar responsabilidades na busca das solues.

    Disponibilidade: demonstrao e associao a umcompromisso solidrio.

    Respeito s diferenas tnicas, econmicas, religiosas esociais:reconhecimento da diversidade e respeito por ela.

    Tolerncia: capacidade de suportar a presena ou

    interferncia do outro sem sentimento de ameaa ou

    invaso.

    Generosidade: demonstrao de um clima emocionalpositivo (apoio, carinho, ateno e dar sem exigir retorno).

    A figura abaixo ilustra um exemplo da articulao das caractersticas de

    rede:

    ImportanteA rede , ao mesmo tempo, um

    proposta de ao e um modoespontneo de organizao,

    atravs do qual se tornapossvel criar novas formas dconvivncia entre as pessoas.

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    PARTICIPAO COMUNITRIA E A CONSTRUODE REDES SOCIAIS

    A fora da participao em um projeto social ou em uma comunidade vai

    alm do suprimento de carncias econmicas, pois a vivncia comunitria um dos veculos para a ampliao da viso de mundo das pessoas e

    gerao de conhecimentos.

    Na ao comunitria, o importante a cooperao, cuja fora se

    d no estabelecimento de uma corrente solidria em que cada

    pessoa importante tanto quanto sua necessidade como em

    relao sua disponibilidade para ajudar, participando ativamente

    da formao da rede.

    A ao comunitria constitui tambm um exerccio para a cidadania e

    transformao social, a partir dos valores que fazem parte da realidade do

    grupo. Por exemplo, pessoas que pertencem a uma comunidade religiosa

    podem se sentir mais fortalecidas por compartilharem valores e crenas.

    Assim, a instituio fortalece no indivduo o sentimento de pertencere se

    torna para ele um espao de acolhimento espiritual e suporte afetivo.

    O trabalho comunitrio pode ser definido a partir de duas dimenses:

    A participao, que gera mudanas na maneira de as pessoasse posicionarem diante do problema. Esse trabalho adquire,

    assim, mais fora, porque se fundamenta na contribuio e no

    compromisso de todos.

    As parcerias mltiplas, que permitem a identificao dosrecursos presentes na comunidade, sejam eles materiais,

    culturais ou espirituais, evitando que a interveno seja restrita

    ao de especialistas. O trabalho exige a utilizao de recursos

    existentes na comunidade, que muitas vezes so desconhecidos.

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    AS REDES SOCIAIS E A PREVENO DO USO DEDROGAS

    O uso de drogas um importante problema de sade pblica, com enorme

    repercusso social e econmica para nossa sociedade. Apesar dos esforosdo poder pblico e da sociedade civil na busca de alternativas, o aumento

    do consumo e o fato de as pessoas experimentarem vrios tipos de drogas

    cada vez mais cedo deixam um alerta em uma direo comum:

    preciso prevenir!

    Prevenir no sentido de educar o indivduo para assumir atitudes

    responsveis frente s situaes de risco que possam ameaar a

    opo pela vida.

    Essa viso enfatiza a preveno no apenas como um pacote pronto

    de divulgao de informaes sobre drogas, mas como um processo

    que envolve a contribuio de todos, partilhando responsabilidades,

    estreitando parcerias e aproveitando o que h de positivo na comunidade.

    Assim, ganha destaque o saber construdo entre todos no encontro de

    vrias experincias.

    A articulao de diferentes pontos da Rede Social pode melhorar osespaos de convivncia positiva entre as pessoas, favorecendo a troca de

    experincias para a identificao de situaes de risco pessoal e possveis

    fragilidades sociais que possam levar ao uso de drogas.

    importante observar que, segundo a Organizao Mundial da

    Sade - OMS, so fatores de risco ao uso de drogas:

    Ausncia de informaes adequadas sobre as drogas;

    Insatisfao com a qualidade de vida;

    Pouca integrao com a famlia e a sociedade;

    Facilidade de acesso s drogas.

    H um carter transformador nessa nova forma de pensar e prevenir o

    uso de drogas a partir do trabalho comunitrio e de construo de Redes

    Sociais, tendo em vista que este deixa de focalizar exclusivamente os

    profissionais e inclui a participao de toda a comunidade.

    LembreteLembre-se de que a preveno

    uso de drogas:

    Envolve a todos os membro

    de uma comunidade

    No deve ser monoplio do

    especialistas

    Resulta de aes

    compartilhadas por toda asociedade

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    impossvel a proteo de todos os riscos, mas preciso criar condies

    para enfrent-los. Por exemplo, ao fornecer valores e referenciais slidos

    aos indivduos, as instituies religiosas ajudam as pessoas a fazerem

    escolhas saudveis para suas vidas.

    No trabalho de preveno, umlder religioso exerce um importante

    papel ao estabelecer um vnculo de confiana e escutar as pessoas

    da comunidade. Dessa forma, ajuda a reforar as Redes Sociais

    e auxilia o grupo tambm na preveno do uso de drogas e na

    construo de novos fatores de proteo.

    Para a preveno, preciso mobilizar todos os grupos de uma determinada

    comunidade. Por exemplo, pode-se falar de sade comunitria quando as

    pessoas pertencem a um mesmo grupo, refletem em conjunto sobre os seusproblemas de sade, expressam suas necessidades prioritrias (pessoais,

    familiares, sociais e espirituais) e participam ativamente na construo e

    avaliao de aes para suprir suas carncias e problemas.

    O trabalho comunitrio e de construo de Redes Sociais confere

    preveno do uso de drogas um carter transformador, tendo em vista

    que d nfase ao encontro dos saberes e das crenas da comunidade na

    construo do saber coletivo. O movimento permanente de integrao

    entre os diferentes indivduos abre caminho para a transformao darealidade local.

    Um novo olhar sobre o uso de drogas

    O modelo tradicional, baseado na represso que estigmatiza o

    usurio e promove o amedrontamento das pessoas, vm sendo

    superado. Sabemos que, quando o medo toma conta, a Rede Social

    fica fragilizada, perde-se a solidariedade, a vontade de aprender, a

    curiosidade e a criatividade, restando apenas:

    O isolamento A violncia

    O esquecimento da prpria histria

    A indiferena

    A desconfiana

    Esses fatores debilitam a Rede Social e impedem que os usurios

    identifiquem as pessoas e os servios que lhe oferecem suporte e

    ajuda para a soluo dos problemas.

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    p.

    DESAFIOS NO TRABALHO PREVENTIVO NASCOMUNIDADES DE BAIXA RENDA

    possvel que alguns moradores de comunidades de baixa renda encontrem

    no trfico de drogas e no crime organizado uma referncia de poder,autoridade, controle e at mesmo de proteo como um suporte para as

    dificuldades vividas em comunidades excludas.

    Nesse caso, algumas questes precisam ser discutidas antes de qualquer

    interveno:

    O que se pode fazer em comunidades em que a presena dotrfico de drogas significativa?

    Como trabalhar com a preveno ao uso de drogas numa

    situao em que tudo est em risco, at a prpria vida?

    Quais as possibilidades de se falar sobre drogas numacomunidade regida pela lei do silncio?

    Como superar a passividade e a cumplicidade geradas pelomedo?

    Como mobilizar o potencial criativo dessas comunidades paraque se produza algo novo?

    O que possvel mudar e qual o preo dessa mudana? Com quem podemos contar como aliados nesse trabalho?

    Essas questes devem ser debatidas pelos grupos envolvidos

    em aes de preveno ao uso de drogas, inclusive igrejas e

    grupos religiosos, e avaliadas de acordo com a realidade de cada

    comunidade, para estabelecer uma proposta de participao

    conjunta.

    O trabalho comunitrio desenvolvido a partir de diferentes atividades

    planejadas pela prpria comunidade pode melhorar a qualidade de vida

    das pessoas e agir sobre as carncias que levam as pessoas a buscar a melhora

    atravs do consumo de drogas.

    Nesse contexto, alm de aspectos como a curiosidade, a busca de prazer,

    baixa autoestima, baixo rendimento escolar ou no trabalho, diversos

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    fracassos nas tentativas de melhoria social, conflitos nas relaes familiares,

    falta de apoio e de compreenso, o consumo de drogas representa tambm

    uma busca de alvio imediato para diversas privaes sociais, afetivas e

    dificuldades envolvendo precrias condies de vida, resultando em

    sofrimento.

    As diversas carncias vividas agravam as angstias naturais em relao starefas sociais e s responsabilidades como membros de uma comunidade.

    Nesse sentido, a droga pode ser eleita como uma verdadeira estratgia de

    sobrevivncia, pois permite que a pessoa fique indiferente a uma realidade

    deprimente, dando-lhe algum prazer, mesmo que momentneo.

    Muitas vezes, nessas comunidades, uma forma encontrada para sair do

    envolvimento com as drogas a aproximao com alguma instituio de

    carter religioso. A espiritualidade e a crena numa fora maior podem

    permitir a mudana de hbitos e modos de vida. Essa ideia de transformaoatravs da f encontrada na maioria das crenas religiosas e, por isso, essas

    instituies funcionam como grandes e importantes ferramentas no auxlio a

    usurios e dependentes de drogas.

    O envolvimento com uma crena, uma f ou uma religio podem

    trazer novamente a dimenso da esperana. Os problemas

    enfrentados passam a ser vistos como oportunidades para um novo

    comeo, pois a mudanafaz parte da vida de qualquer ser humano. preciso confiar no potencial positivo de mudana, principalmente

    quando este ancorado nas relaes comunitrias e nas redes

    sociais.

    IMPORTNCIA DA PARTICIPAO DE TODOS

    As aes preventivas no trabalho comunitrio assumem uma natureza

    abrangente e, por essa razo, os lderes religiosos e espirituais precisam

    estar preparados e integrados junto s redes profissionais para realizar um

    trabalho solidrio, cooperativo e de ajuda efetiva. importante que se

    incentive a troca de experincias, para que vises diferentes do problema

    se complementem e promovam a solidariedade diante das dificuldades.

    Ao mesmo tempo em que a preveno ao uso abusivo de drogas exige

    conhecimentos, o trabalho comunitrio de construo das Redes Sociais

    mostra que, quanto maior a participao de todos, mais consistentes e

    satisfatrias sero as aes.

    ImportanteEnquanto houver vida, hesperana de mudana, e

    preciso sempre recriar os laos de

    solidariedade e fraternidade.

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    As parcerias construdas devem ser complementares e as instituies e os

    profissionais se constituem no apenas como parceiros, mas em pessoas

    comprometidas com os movimentos da rede em construo.

    Cada pessoa tem um papel a desempenhar e uma competncia a oferecer

    para o objetivo comum de fortalecer a Rede Social.

    A unio de esforos d incio a um processo de construo de um

    novo saber, o saber comunitrio. No saber comunitrio, o saber

    espiritual e o popular juntam-se ao saber acadmico e ao saber

    poltico para construir o conhecimento de todos.

    A diversidade de experincias e vises sobre o problema, graas

    participao dos diferentes profissionais, lderes religiosos ou das pessoas

    interessadas em querer solucion-lo, enriquece a comunidade, pois todos

    tm alguma contribuio a dar, independentemente do papel social

    desempenhado. Religiosos, pais, filhos, amigos, empresrios, educadores,

    enfim, todos podem e devem ser envolvidos no trabalho de preveno.

    O desafio fundamental de quem trabalha na rea comunitria enfrentar

    o sentimento de impotncia diante de problemas de natureza social e

    econmica. Nesse caso, pertencer a uma Rede Social tambm oferece um

    importante suporte, centrado na integrao que se estabelece em torno deum objetivo comum ao grupo. A partir desse modelo de atuao surgem

    novas maneiras de encarar o problema e abrem-se novas perspectivas,

    pois a crise considerada como momento de enorme potencial para a

    mudana e para o surgimento de novas possibilidades.

    Nas comunidades nas quais os habitantes esto prximos uns dos outros e

    costumam unir-se na busca de solues coletivas h uma maior proteo

    entrada das drogas. O potencial dos vnculos afetivos e das relaes de

    solidariedade ainda uma das melhores formas de lidar com o aumentoda violncia, do trfico e do consumo de drogas. Por isso mesmo preciso

    investir mais nas pessoas, no potencial de cada comunidade para construir

    novas vias de soluo para os conflitos.

    Pertencer a uma Rede Social promove o resgate de valores da

    convivncia positiva entre jovens e adultos, dilogo entre pais e filhos,

    respeito ao outro e, sobretudo, cuidado consigo prprio, com o corpo

    e com as emoes.

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    preciso que as aes preventivas sejam inseridas no contexto de vida

    das pessoas, em seu dia a dia, atravs de programas preventivos dirigidos

    no apenas a indivduos isolados, mas aos sistemas sociais, humanos e

    religiosos dos quais tambm fazem parte.

    Otrabalho comunitrioem Redes Sociais incentiva o desenvolvimento

    do potencial humano da famlia, da comunidade e dos profissionaisenvolvidos nos projetos de preveno.

    Destaques desta aula

    Os grupos so elementos decisivos para a manuteno dosentimento de pertinncia e valorizao pessoal, influenciando

    comportamentos e atitudes e funcionando como ponto em

    uma rede de referncia;

    Os pontos de uma Rede Social de referncia so: a famlia, aescola, os amigos e os colegas de trabalho, a comunidade de

    insero, entre outros;

    A articulao de diferentes pontos da Rede Social podeotimizar espaos de convivncia positiva que reforam a troca

    de experincias na identificao de situaes de risco pessoal e

    possveis vulnerabilidades sociais;

    Ao articular redes de preveno, importante considerar algunsfatores de risco e proteo ao uso de drogas nos diferentes

    domnios da vida;

    Na ao comunitria, a ideia principal a cooperao, cuja

    fora se d no estabelecimento de uma corrente solidria, na

    qual cada pessoa importante na sua necessidade de ajuda ou

    na disponibilidade para ajudar.

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