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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X FORMAÇÃO PARA O TRABALHO DOMÉSTICO E PARA O TRABALHO DE CUIDADO: UMA ANÁLISE EM CURSOS DE CAPACITAÇÃO NA BAIXADA FLUMINENSE - RJ Tatiane de Oliveira Pinto 1 Resumo: A presente comunicação tem como objetivo apresentar parte de um estudo de doutorado sobre o trabalho doméstico remunerado, realizado por mulheres da Baixada Fluminense RJ. A partir de uma perspectiva etnográfica, busca-se refletir sobre os significados atrelados às representações do feminino em um segmento específico dos grupos populares, tendo como objeto de pesquisa o serviço doméstico e explorando dimensões do entendimento sobre trabalho, experiência feminina e aprendizado doméstico. O universo de pesquisa é composto por mulheres, trabalhadoras domésticas e moradoras do município de Nova Iguaçu. Como estratégia de aproximação a essas mulheres, utilizamos três caminhos: a formação de uma rede externa, a partir da indicação de participantes iniciais, que por sua vez, indicam novos participantes e assim sucessivamente; a busca por mulheres associadas em sindicatos de trabalhadores domésticos e em instituições que oferecem cursos de qualificação e/ou treinamentos para o serviço doméstico e para o trabalho de cuidado. Nesta comunicação, daremos ênfase à análise dessas instituições, aos cursos de capacitação oferecidos e às vivências das mulheres que buscam pela qualificação. Destacaremos ainda, as modalidades que, na opinião das trabalhadoras, oferecem melhores condições de trabalho e possuem um maior status na escala dos serviços. Palavras-chave: Trabalho doméstico remunerado. Grupos populares. Cursos de capacitação. A configuração de identidades de gênero pode ser constituída pela habilidade dos sujeitos em interiorizar normas sobre o que é ser masculino e feminino e ainda pelo reforço de influências socioculturais. Tais identidades são instituídas de acordo com a forma pela qual homens e mulheres são socializados, de acordo com seus ciclos de vida e suas experiências específicas no interior de um universo particular perpassado pela raça, etnia e classe social, como nos informa Duque- Arrazola (1997). Assim, pensar a construção das relações de gênero como uma categoria de análise nos leva a pensar em uma “realidade social de gênero”. As relações de gênero são estabelecidas pelos antagonismos sociais entre homens e mulheres a partir de seus valores e significados, seus espaços ocupados, tarefas e atribuições pautadas na diferenciação sexual e, essas mesmas relações sugerem relações de poder, baseadas em diferenças, hierarquias e significados divergentes do feminino e do masculino. 1 Doutoranda em História, Política e Bens Culturais no CPDOC/FGV- RJ; Professora do curso de Serviço Social da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - RJ/Brasil. E-mail: [email protected].

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

FORMAÇÃO PARA O TRABALHO DOMÉSTICO E PARA O TRABALHO DE

CUIDADO: UMA ANÁLISE EM CURSOS DE CAPACITAÇÃO NA BAIXADA

FLUMINENSE - RJ

Tatiane de Oliveira Pinto1

Resumo: A presente comunicação tem como objetivo apresentar parte de um estudo de doutorado

sobre o trabalho doméstico remunerado, realizado por mulheres da Baixada Fluminense – RJ. A

partir de uma perspectiva etnográfica, busca-se refletir sobre os significados atrelados às

representações do feminino em um segmento específico dos grupos populares, tendo como objeto

de pesquisa o serviço doméstico e explorando dimensões do entendimento sobre trabalho,

experiência feminina e aprendizado doméstico. O universo de pesquisa é composto por mulheres,

trabalhadoras domésticas e moradoras do município de Nova Iguaçu. Como estratégia de

aproximação a essas mulheres, utilizamos três caminhos: a formação de uma rede externa, a partir

da indicação de participantes iniciais, que por sua vez, indicam novos participantes e assim

sucessivamente; a busca por mulheres associadas em sindicatos de trabalhadores domésticos e em

instituições que oferecem cursos de qualificação e/ou treinamentos para o serviço doméstico e para

o trabalho de cuidado. Nesta comunicação, daremos ênfase à análise dessas instituições, aos cursos

de capacitação oferecidos e às vivências das mulheres que buscam pela qualificação. Destacaremos

ainda, as modalidades que, na opinião das trabalhadoras, oferecem melhores condições de trabalho

e possuem um maior status na escala dos serviços.

Palavras-chave: Trabalho doméstico remunerado. Grupos populares. Cursos de capacitação.

A configuração de identidades de gênero pode ser constituída pela habilidade dos sujeitos

em interiorizar normas sobre o que é ser masculino e feminino e ainda pelo reforço de influências

socioculturais. Tais identidades são instituídas de acordo com a forma pela qual homens e mulheres

são socializados, de acordo com seus ciclos de vida e suas experiências específicas no interior de

um universo particular perpassado pela raça, etnia e classe social, como nos informa Duque-

Arrazola (1997). Assim, pensar a construção das relações de gênero como uma categoria de análise

nos leva a pensar em uma “realidade social de gênero”.

As relações de gênero são estabelecidas pelos antagonismos sociais entre homens e

mulheres a partir de seus valores e significados, seus espaços ocupados, tarefas e atribuições

pautadas na diferenciação sexual e, essas mesmas relações sugerem relações de poder, baseadas em

diferenças, hierarquias e significados divergentes do feminino e do masculino.

1 Doutoranda em História, Política e Bens Culturais no CPDOC/FGV- RJ; Professora do curso de Serviço Social da

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - RJ/Brasil. E-mail: [email protected].

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Como pontua Sarti (2005), o trabalho é o instrumento que viabiliza a vida familiar. Em se

tratando da mulher, a ideia de trabalhar para os outros, ou seja, para a família, colabora para a

valorização do trabalho doméstico e lhe confere sentido de identificação com tal atividade, numa

espécie de contrapartida da atividade masculina de provedor. Para algumas mulheres o trabalho

doméstico apresenta certa positividade, uma vez que pode (também) representar a essência da

construção da identidade feminina, definindo assim “um jeito de ser mulher, sempre enredado em

intermináveis lides domésticas, neste mundo social fortemente recortado pela diferenciação de

gênero” (SARTI, 2005).

A partir dos anos de 1990 e na primeira década do século XXI, diversos fatores provocaram

novos interesses acerca do debate sobre o trabalho doméstico, sobretudo aqueles com relação à

entrada crescente e definitiva de mulheres no mercado de trabalho (BRUSCHINI apud BRITES,

2013). Entre tais fatores se sobressaem à reestruturação e flexibilização produtivas nas sociedades

pós-industriais, que elevam os índices de “feminização do trabalho”; a precarização do trabalho e o

declínio do Estado de Bem-Estar Social em países desenvolvidos do hemisfério norte; além do

envelhecimento populacional, que gerou uma crise global dos cuidados que, por sua vez, questionou

a logística transnacional de divisão social do trabalho em que os recortes de gênero e etnia estão

entrelaçados.

No universo acadêmico feminista, o debate contribuiu enormemente ao definir que aquilo

que se produz no espaço doméstico não são atividades produtivas, nem improdutivas, mas sim

reprodutivas, ou seja, “que estão no centro da existência, sem as quais os seres humanos não podem

viver”, como pontua Dalla-Costa, citado por Brites e Picanço (2014).

Na discussão acerca do trabalho de cuidado não é tarefa simples chegar a um consenso sobre

um único significado ou uma terminologia acerca dos estudos do care e as ambigüidades em

relação aos termos empregados levam a divergências quanto ao o seu significado e natureza e em

relação aos conteúdos considerados mais importantes.

O care work, ou seja, o trabalho de cuidado é uma atividade profissional que está se

ampliando na economia de serviços em escala internacional, como indicam Hirata e Guimarães

(2012). Para a pergunta “pode-se dizer que as empregadas domésticas e diariastas, que cuidam do

bem estar das pessoas, e não apenas do cuidado das pessoas, são também caregivers, provedoras de

care?”, poderíamos responder que sim, porque do mesmo modo que o trabalho de care apresenta

uma interface entre trabalho emocional e trabalho material, técnico, também é possível perceber tal

interface em algumas situações do trabalho doméstico. O termo cuidado, como ressaltam Hirata e

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Debert (2016: 07), remete a “processos, relações e sentimentos entre pessoas que cuidam umas das

outras, como também de seres vivos e até mesmo de objetos, cobrindo várias dimensões da vida

social”. Deste modo, na presente análise entende-se o trabalho de cuidado como pertencente ao rol

de atividades consideradas domésticas, realizadas no espaço privado da casa.

É sabido que houve uma melhoria ao acesso de direitos sociais e trabalhistas para os (as)

empregados (as) domésticos (as), assim como em seus rendimentos. No entanto, a atividade ainda é

desvalorizada socialmente, realizada por mulheres vindas de grupos populares, sendo essa mão de

obra aquela que permite que muitas pessoas das classes média e alta possam trabalhar fora,

transferindo cuidados com alimentação, casa, crianças, idosos, etc. Talvez essa seja uma das

questões centrais da discussão acerca do trabalho doméstico (MACEDO, 2013).

Diante do exposto, a presente comunicação tem como objetivo apresentar parte de um

estudo de doutorado2, ainda em curso, sobre o trabalho doméstico remunerado, realizado por

mulheres da Baixada Fluminense – RJ. A partir de uma perspectiva etnográfica, busca-se refletir

sobre os significados atrelados às representações do feminino em um segmento específico dos

grupos populares, tendo como objeto de pesquisa o serviço doméstico e explorando dimensões do

entendimento sobre trabalho, experiência feminina e aprendizado doméstico. O universo de

pesquisa é composto por mulheres, trabalhadoras domésticas e moradoras da Baixada Fluminense,

especificamente, no município de Nova Iguaçu, que estão ou estiveram vinculadas a instituições

que oferecem cursos de capacitação e/ou treinamento para o serviço doméstico e para o trabalho de

cuidado. Nesta comunicação daremos ênfase à análise de dois cursos de capacitação nas referidas

instituições e a algumas vivências das mulheres que buscam pela qualificação. Destacaremos ainda,

as modalidades que, na opinião das trabalhadoras, oferecem melhores condições de trabalho e

possuem um maior status na escala dos serviços.

A capacitação para o trabalho doméstico e o trabalho de cuidado

Nas últimas décadas houve um aumento no interesse pela profissionalização do trabalhador

doméstico, com o surgimento de agências especializadas em seleção e encaminhamento, cursos de

formação e outras formas de legitimação da atividade de empregadas mensalistas, diaristas, babás e,

mais recentemente, cuidadores (as) de idosos, como mencionam Debert e Oliveira (2015).

2 A pesquisa em andamento tem como comitê de orientação as professoras Letícia Carvalho de Mesquita Ferreira -

CPDOC/FGV e Liane Maria Braga da Silveira - ENSP/Fiocruz.

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No estudo do qual trata esta discussão, um número significativo de mulheres identificadas

no trabalho de campo em andamento estão inseridas em curso de formação para babás e cuidadores

(as) de idosos. Muitas delas já atuam como empregadas domésticas – como diaristas voltadas para a

limpeza ou como mensalistas, ou ainda como cozinheiras, lavadeiras e passadeiras – e algumas

pretendem migrar para a função de babá e/ou cuidadora.

Barros (2013), ao defender a qualificação profissional para trabalhadores domésticos, afirma

que não é mais possível reproduzir a ideia social de que para a realização do serviço doméstico não

é preciso aprender, uma vez que é uma atividade inerente ao feminino, própria da mulher, mãe,

cuidadora e dona de casa. Somando-se a isso, a autora posiciona-se a favor da qualificação para o

serviço doméstico em consonância com as normas internacionais específicas da Organização

Internacional do Trabalho – a OIT – que orienta as modificações nas legislações e nas práticas

relacionadas aos trabalhadores domésticos em âmbito mundial. É preciso compreender o trabalho

doméstico do ponto de vista jurídico, com base na concepção daquilo que se entende por trabalho

decente3 e com ênfase na capacitação profissional como uma ferramenta de valorização do trabalho

doméstico remunerado.

Em termos conceituais, a partir das normas internacionais do trabalho, a formação

profissional ajusta não somente a formação para o trabalho, mas também se destina ao

desenvolvimento pessoal, de modo que possa abranger não somente questões econômicas, mas

também o desenvolvimento humano e o desenvolvimento social, que são fatores indispensáveis

para o exercício da cidadania e para a garantia de direitos. Deste modo, “a formação profissional é

considerada como um direito fundamental do trabalhador” (BARROS, 2013: 11).

Guimarães (2016), utilizando o trabalho de cuidado como “território empírico”, ilustra dois

argumentos para a problematização da mercantilização do care: primeiro que a atividade de cuidado

do/com o outro é um campo rico para a análise de controvérsias referentes à mercantilização de

certo bem ou serviço. O primeiro argumento é que o trabalho de cuidado se torna concreto na

medida em que é exercido no espaço da casa ou fora dela, por meio de uma relação compulsória ou

profissional, de maneira gratuita ou paga. E segundo, que a controvérsia em torno do trabalho do

cuidado pode ser relevante para os teóricos dos mercados e para a sociologia econômica de forma

mais ampla. Assim, a autora afirma que a mercantilização em nosso país é “um processo que se

declina no feminino”, tendo em vista que no início da década de 1960, o mercado de trabalho era

3Nos termos de Barros (2013), o trabalho decente, um conceito ainda em construção, supõe a efetivação de direitos que

só será alcançada a partir da democracia, justiça social e cidadania, que possuem como base a educação, incluindo a

formação profissional.

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um domínio dos homens e no final do mesmo período havia deixado de sê-lo. Ao longo de

cinquenta anos, a incorporação feminina no mercado quase quadruplicou, alinhando-se à tendência

masculina de elevada mercantilização.

Na medida em que se mercantiliza de maneira intensa o trabalho feminino, o domicílio se

torna uma “unidade produtora de cuidado”, uma atividade que já não é mais um trabalho gratuito e

compulsório da dona de casa e sim uma atividade na qual convergem vários personagens, tendo

destaque as empregadas domésticas e as cuidadoras onde, em termos de status e reconhecimento e,

a partir da forma de se nomear uma e outra, há um favorecimento da cuidadora. Por outro lado, a

luta por acesso a direitos parece estar ao alcance daquelas que são menos reconhecidas socialmente,

as empregadas domésticas, que tiveram seu trabalho regulamentado e ampliação de direitos. E ainda

há uma disputa das cuidadoras com as profissões consideradas superiores do cuidado com os

enfermeiros, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais, como ressalta Guimarães (2016).

No Brasil e em outros países caracterizados por desigualdades econômicas e sociais, a figura

da empregada doméstica – geralmente referenciada em mulheres jovens, vindas de pequenas

cidades do interior ou do meio rural – acompanhou, no decorrer do tempo, a realização das tarefas

domésticas e do cuidado das crianças e dos velhos. O cuidado de idosos em domicílio é um

mercado de trabalho em crescimento, que é decorrente do aumento da expectativa de vida e que

produz novos significados ao fluxo de pessoas das regiões mais pobres para as mais ricas, impondo

novas configurações às relações afetivas na família, aos contratos de trabalho e à percepção dos

deveres e obrigações do Estado. Tratar do tema no Brasil é “enaltecer a nova legislação que

estendeu ao empregado doméstico direitos do trabalhador no mercado formal”, gerando o que ficou

entendido como uma segunda abolição da escravidão (DEBERT, 2016: 144).

Ainda no campo do cuidado, a respeito do universo de trabalho de babás, Zelizer (2012)

afirma que é possível perceber que suas relações com as crianças e os pais das crianças não são

“simples relações de amor” e nem “transações comerciais comuns”. A negociação que envolve a

tarefa, as relações interpessoais e as formas de contrapartida em termos de pagamento, preocupa as

babás, além de ter grande impacto sobre o care que elas dispensam às crianças e pode ainda definir

a permanência ou não delas no trabalho. A autora evidencia, em casos como esses, que as partes

envolvidas nos contratos de trabalho exercem um poder muito desigual. Para Zelizer (2012), as

relações entre babás e empregadores têm a mesma complexidade das relações entre esposos, filhos,

parentes ou amigos: os maus arranjos e as transações econômicas deles decorrentes geram prejuízos

e os bons arranjos promovem as relações e se revelam com uma colaboração mais eficaz.

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Sobre a qualificação para o trabalho doméstico, Kofes (2001) faz referência a instituições

religiosas e cursos de Assistência Social que apresentam em suas orientações os termos-chave

limpeza e obediência. Segundo a autora, mesmo sob ideologias diferentes, tais instituições têm em

comum seus objetivos: “interpor-se entre classes sociais diferentes e desiguais para preparar, com e

por meio de mulheres, umas nos hábitos das outras” (KOFES, 2001: 384). Em tais cursos de

formação o doméstico assume o caráter de “domesticar”, onde a domesticidade, para além de ser

definida pelo doméstico, se sobrepõe para a empregada na perspectiva do treinamento de hábitos

culturais sob o modo de mando e obediência.

Na descrição de tais instituições, Kofes (2001) ressalta o evitamento da palavra

“trabalhadora”, que era substituída, na ocasião da certificação, pela categoria “auxiliar de serviços

domésticos”. Aqui se percebe a negação do status de trabalhadora para quem executa o serviço

doméstico, que na atualidade já não pode mais ocorrer devido à legislação, embora na prática, o

exercício pleno desse direito ainda não esteja ao alcance da maioria das mulheres inseridas nesse

campo de trabalho.

Procedimentos Teórico-Metodológicos

No referido estudo são privilegiados os procedimentos de pesquisa qualitativa e a

investigação está sendo realizada a partir de uma perspectiva etnográfica.

O trabalho de campo é operacionalizado a partir da observação participante e entrevistas,

aqui consideradas como importantes meios de análise científica. A observação participante que

compreende uma técnica de coleta de dados em que a presença do investigador numa situação

social é mantida para fins de investigação científica e tem uma perspectiva de relação direta com o

grupo investigado, podendo o pesquisador participar de seu ambiente ‘natural’ e social. A

característica do observador é a sua participação na vida cotidiana do grupo ou organização que

estuda, onde observa seus sujeitos de estudo, a fim de notar as situações, descobrindo assim suas

interpretações acerca dos eventos observados (BECKER: 1999).

Conforme mencionado anteriormente, o universo de pesquisa é composto por mulheres,

trabalhadoras domésticas, residentes na cidade de Nova Iguaçu, Baixada Fluminense. Como

estratégia de aproximação a essas mulheres, utilizamos três caminhos: a formação de uma rede

externa, a partir da indicação de participantes iniciais, que por sua vez indicam novos participantes

e assim sucessivamente; a busca e a localização de mulheres associadas em sindicatos de

trabalhadores domésticos; a identificação de mulheres matriculadas como alunas em instituições

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que oferecem cursos de qualificação e/ou treinamentos para o serviço doméstico e para o trabalho

de cuidado.

Nesta comunicação serão pontuadas questões específicas à duas instituições que oferecem a

formação para o trabalho doméstico e o trabalho de care que foram mapeadas durante a fase

exploratória do campo, das quais uma ainda permanece como locus da pesquisa.

As instituições de capacitação para o trabalho doméstico e o trabalho de cuidado em Nova

Iguaçu, Baixada Fluminense

No início do mapeamento do campo foram localizadas duas instituições no município de

Nova Iguaçu. A primeira instituição atua com foco na promoção/assistência social e possuía em seu

quadro de cursos de capacitação, até fevereiro de 2015, um curso específico voltado para a

formação de trabalhadores domésticos. Trata-se da Casa Amarela, vinculada a uma instituição

maior que possui em seu quadro atividades socioassistenciais que intervêm na vida de famílias em

situação de vulnerabilidade social. A outra instituição mapeada foi a Casa Azul que, embora tenha

suas ações voltadas para a educação infantil de crianças carentes, oferece atividades voltadas para

adultos (pais e/ou responsáveis pelas crianças assistidas).

Na Casa Amarela4, o LDHD – laboratório de desenvolvimento de habilidades domésticas –

tinha suas atividades voltadas para homens e mulheres, a partir dos 16 anos de idade. No início do

ano de 2015, o curso foi fechado por falta de recursos. Na ocasião das visitas a instituição, foi

possível entrar em contato com a última monitora do curso e duas ex-alunas. Nas falas das ex-

alunas, embora tenham cursado o LDHD, não pretendiam atuar como empregadas domésticas.

Matricularam-se no curso para manterem vínculo com a instituição, mas não intencionavam ter

como profissão o ofício, sobretudo pela questão do estigma e da pouca valorização. No encontro

com a professora nos foi informado que a maioria das jovens, algumas já mães, intencionava estar

fora de casa, obter uma autonomia em relação à família e por isso havia a procura pelo curso. Nas

palavras da professora, não havia o interesse específico das jovens em se tornarem empregadas

domésticas. O interesse era de se instrumentalizarem para, num momento posterior, atuarem na

própria casa. De acordo com o que a professora nos relatou essas meninas não trabalharam, após o

curso, em nenhuma atividade no campo do serviço doméstico.

Tendo em vista que as atividades do laboratório foram finalizadas, não foi possível

identificar outras ex-alunas que pudessem contribuir com nossas inferências acerca das atividades

4 Para preservar a identidade das instituições os nomes utilizados são fictícios.

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de formação na Casa Amarela. O que ficou claro nas poucas informações que obtivemos a respeito

da referida oficina foi que, ao longo do tempo de existência, ela foi se transformando em uma

atividade de capacitação na área de alimentação e que não funcionava mais nos moldes anteriores,

onde as atividades eram desenvolvidas dentro de um espaço físico que remetia a uma unidade

doméstica, com atividades de capacitação para homens e mulheres, futuros trabalhadores

domésticos. Ao que tudo indica, essa alteração na configuração do curso/oficina ocorreu devido a

pouca procura pela comunidade local e a um possível desinteresse na qualificação para o serviço

doméstico.

Na Casa Azul, dentre os cursos de qualificação oferecidos, identificamos, em março de

2015, a oficina de Artes Domésticas que consiste em oferecer formação nas áreas de cuidador (a) de

idosos/babá, cozinheiro (a) e jardineiro e que tem como público alvo homens e mulheres que já

tenham ou buscam pela inserção em atividades de serviço doméstico. Também nos foi informado

em entrevista com a direção da instituição que houve uma adaptação na nomenclatura e no

conteúdo programático do curso, uma vez que o curso específico de empregados domésticos não

atraía pessoas da comunidade.

Sobre a relação da monitora com as alunas do curso de babá e cuidador (a) de idosos, não é

possível fazer muitas inferências, pois as entrevistas são realizadas no intervalo das aulas. Não há

contato da pesquisadora com as mulheres/alunas durante as aulas. No entanto, em conversa

informal com a monitora, foi informado que devido ao tempo disponível para as atividades, não é

permitido que as alunas exponham, durante as aulas, suas experiências e vivências decorrentes de

suas atividades no serviço doméstico e/ou do trabalho de cuidados. Segundo a monitora, o tempo

utilizado para esses relatos e trocas de experiências poderia comprometer o cronograma de

atividades proposto no plano de ensino do curso. Deste modo, ficou claro, por parte da monitoria,

certo evitamento de comentários acerca das vivências laborais das alunas e ainda a orientação para

que elas também evitem emitir qualquer tipo de opinião em seus futuros empregos como cuidadoras

e/ou babás.

Considerações finais

Nos cursos de qualificação identificados na fase exploratória do campo ficou evidenciada a

demanda da profissionalização por parte das mulheres. Nas falas daquelas que buscam pelo curso

de babá e cuidador (a), com as quais temos uma maior interação, fica clara a necessidade de

certificação, ainda que muitas já se considerem experientes pelo tempo que já atuam em alguma

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esfera do serviço doméstico. Muitas mulheres matriculadas na referida oficina, durante as

entrevistas, ressaltaram a importância do certificado de participação, tendo em vista a cobrança por

parte dos patrões ou futuros empregadores. Algumas mulheres afirmam já possuírem certa

experiência no trabalho de cuidadora e/ou babá, mas que de posse de um certificado, podem

comprovar a qualificação e, assim, seria mais fácil serem contratadas e/ou se manterem no trabalho.

Sobre o reconhecimento da atuação como babás e cuidadores de idosos apontado por

Guimarães (2016), ficou evidenciado nas falas das mulheres entrevistadas que tais atividades

possuem um maior status social e menor estigma, além de serem ofícios com melhor remuneração e

horários mais flexíveis do que no serviço doméstico em geral. Mesmo com a regulamentação da

profissão, as entrevistadas consideram que como babás e/ou cuidadoras vão “trabalhar menos e

ganhar mais”. O que pode se depreender a partir das entrevistas com as alunas da Casa Azul é que o

“trabalho doméstico não é uma atividade valorizada pela sociedade” e que por isso, muitas

trabalhadoras intencionam abandonar as atividades de empregada mensalista, faxineira diarista,

passadeira e lavadeira para tornarem-se babás ou cuidadoras de idosos.

Liane Silveira (2014), ao estudar a relação entre mães e babás, nos traz a reflexão de que

para muitas babás (e aqui incluo as cuidadoras), ao serem contratadas para cuidar da criança (ou

idoso (a)) de uma família, são levadas a uma posição “diferenciada e hierarquicamente superior”

das outras pessoas que trabalham na gestão doméstica. Em outras palavras, ser doméstica para

muitas das alunas que pretendem se tornar cuidadoras e/ou babás é “decair na hierarquia”.

Também foi evidenciado o caráter “domesticador” – nos termos de Kofes (2001) – do curso

de babás e cuidadores (as) de idosos, através da orientação por parte da instrutora de uma postura

social diante do outro, sobretudo de treinamento dos hábitos culturais, a partir da afirmativa de que

não há espaço para relatos sobre as experiências e vivências das alunas como domésticas em seus

atuais trabalhos/empregos. As alunas ainda são orientadas a silenciarem-se em seus futuros

empregos, de modo que não venham a interferir nos assuntos privados das famílias para as quais

prestarão seus serviços, deixando evidente a pretensão de uma futura relação de mando e obediência

e a ideia da empregada como “não pessoa”, aquela que não tem sua presença percebida/reconhecida

pelos patrões, exceto quando desejam solicitar alguma tarefa, como demarca Goffman (2009).

Para Claudia Ribeiro (2014), o conceito de estigma está relacionado a uma conjunção de

predicados depreciativos, que diminuem ou marcam o sujeito estigmatizado. Além disso, simboliza

pré-noções que promovem a confirmação de relações de diferenciação social. A estigmatização é

uma construção moral, em torno da qual se constroem critérios de distinção social, aos quais

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cumprem formas distintas de tratamento e reconhecimento social. Seus contornos são bem frouxos,

julgando que a mesma característica pode ser considerada de maneiras distintas em sociedades

diferentes. A trabalhadora doméstica ocupa uma determinada posição social, que advém da imagem

que os outros imputam a ela e das relações que estabelecem com ela. Além disso, vivencia sua

posição social tendo como referência os padrões de conduta e a aparência pré-estabelecida pelo

outro (RIBEIRO, 2014). A representação do termo “empregada doméstica” está eivada de um

sentido histórico associado à subordinação, à dominação e ao desrespeito típico do tratamento

fixado a criadagem.

A partir das questões aqui colocadas, é possível considerar que as atividades de formação

para o serviço doméstico na Casa Azul, podem ser norteadas por relações sociais pautadas na

“dominação-subordinação” (FARIAS, 1983), onde mulheres com condições sociais desiguais

estabelecem vínculos – que podem ser temporários ou não – mas, possuem objetivos diferentes,

como no caso das patroas e empregadas domésticas.

Farias (1983) acredita que a permanência no serviço doméstico como possibilidade para

mulheres de grupos populares não permite que os limites de uma “socialização para a

domesticidade” seja ultrapassado. Para a autora, há na relação entre patroas e empregadas,

elementos ideológicos que justificam as relações de dominação presentes nesse universo laboral e

reveladas nas diferentes formas de exploração e discriminação social por parte das patroas e por

outro lado, despertando nas empregadas, em suas “vivências da condição subordinada” sentimentos

de conformação, ambiguidade e, até mesmo, revolta.

Tendo em vista que o estudo encontra-se em andamento, não foi possível tecer maiores

conclusões, uma vez que utilizamos alguns dados coletados em campo, porém sem realizar uma

análise em profundidade. No entanto, esses breves apontamentos apontam para a existência de uma

lacuna na efetivação de direitos para mulheres trabalhadoras domésticas, tanto na condução de

atividades de capacitação engendradas em relações de mando e obediência, como na permanência

de estigmas e estereótipos negativos para a profissão no imaginário social.

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Training for Domestic Work and Care Work: An analysis in training courses in Baixada

Fluminense - RJ

Abstract: This paper aims to present part of a doctoral study on paid domestic work, carried out by

women from Baixada Fluminense - RJ. From an ethnographic perspective, it is sought to reflect on

the meanings linked to the representations of the feminine in a specific segment of the popular

groups, having as object of research domestic service and exploring dimensions of understanding

about work, female experience and domestic learning. The research universe is composed of

women, domestic workers and residents of the municipality of Nova Iguaçu. As a strategy to

approach these women, we use three paths: the formation of an external network, from the

indication of initial participants, which in turn, indicate new participants and successively; The

search for associated women in domestic workers' unions and institutions that offer qualification

courses and / or training for domestic service and care work. In this communication, we will

emphasize the analysis of these institutions, the training courses offered and the experiences of

women seeking qualification. We will also highlight the modalities that, in the opinion of the

workers, offer better working conditions and have a higher status in the scale of services.

Keywords: Paid domestic work, popular groups, training courses.