História da Habitação e Mobiliário

Antonio Castelnou

AULA 07

Habitação Barroca

O BARROCO pode ser considerado um conjunto de manifestações artísticas ocorridas de meados do século XVII até fins do século XVIII, marcadas

pela liberdade de interpretação dos preceitos clássicos através de linhas de composição curvas,

retorcidas e espiraliformes.

De índole passional e impressão teatral, seus interiores caracterizaram-se pelo contraste entre

claros e escuros, formas concóides e rebeldia compositiva, acentuando-se no ROCOCÓ

(de 1730 em diante).

Nascida em Roma, a arte barroca correspondeu à

CONTRA-REFORMA que,

nos espaços religiosos, propôs uma expressão mais popular,

preocupada em conseguir maior adesão das pessoas aos valores espirituais, através de efeitos de surpresa e apelos à

emocionalidade.

Baldaquino de S. Pietro (1624/33, Vaticano – Roma) Gianlorenzo Bernini (1598-1680)

Francesco Borromini (1599-1667) Oratorio di S. Filippo Neri (1637/40, Roma, Itália)

Tanto os interiores sacros como laicos (palazzi) foram marcados por decorações

repletas de talhas e esculturas; colunas

salomônicas (torcidas) e em stucco lustro – técnica criada

por Guido Fassi (1584-1649) –; e pinturas em

Trompe-l'œil (simulação de tetos ou céus povoados de

figuras planantes), principalmente de Andrea

Pozzo (1642-1709).

Andrea Pozzo (1642-1709) L’Apoteosi di San Ignazio (1690)

La Casa Professa del Gesù a Roma (1680)

Palazzo Barberini (1628/30, Roma, Itália) Carlo Mardeno (1556-1630) et al.

Trionfo della Provvidenza Divina (1633/39)

Pietro della Cortona (1596-1669)

Na França, cada vez que um novo rei subia ao trono, modificava seus palácios, encarregando decoradores de criarem novos estilos: A decoração barroca floresceu a partir do reinado de Louis XIV, o Rei Sol, que durou de 1643 a 1715; e teve sua

máxima expressão no Palais de Versailles.

Palais de Versailles (1661/85)

Busto de Louis XIV

Galerie des Glaces

PALAIS DE VERSAILLES (1661/85, 20km Paris, França)

Louis Le Vau (1612-70), André Le Nôtre (1613-1700), Charles

Le Brun (1619-90) et Jules-Hardouin Mansart (1646-1708)

Cour Royale

Palais de Versailles

Salon de la Paix

Salon de Diane

Salon de la Guerre Salon de Venus

Na França do século XVII, houve o surgimento de

palácios de campo (palais) e de cidade (hôtels) menores e mais sóbrios, renunciando às formas decorativas italianas, embora mantendo os capitéis

coríntios e as cornijas pesadas, com entablamentos imitando os da Antiguidade

clássica.

Salomon de Brosse (1571-1626) Palais des Médicis ou du Luxembourg (1615/20, Paris, França)

Hôtel de Balleroy (1645/50, Paris, França) François Mansart (1598-1666)

François Mansart (1598-1666) Palais de Maisons-Lafitte (1642/50, Paris, França)

Palais de Vaux-le-Vicomte (1657/71, Maincy, Seine-et-Marne)

Louis Le Vau (1612-70)

O século XVIII foi

considerado o GRAND SIÈCLE para os franceses,

pois o fim das guerras religiosas iniciou um período de grande riqueza e poder.

Através de uma decoração pomposa e um mobiliário

mais impressionante do que confortável, a França

acabou influenciando toda Europa.

Cabinet Fauteuil

Louis XIV

Interior Louis XIV

Móveis em linhas retas carregadas de ornamento apresentavam pés em forma de S estirado, mais tarde

arrematados por um disco, taco ou voluta, depois substituídos por garra ou esfera, o que passou a ser

conhecido como perna CABRIOLET (pé-de-cabra).

Pernas cabriolet

Rocaille

Estilo Louis XIV Refere-se ao reinado do Rei Sol,

que durou de 1643 a 1715, dividindo-se em três períodos:

Fase Inicial (1643/60): Durante a menoridade do rei, marcada pela persistência das formas Louis XIII e influência italiana

Fase Triunfante (1660/90): Apogeu, através de uma arte de corte brilhante e ostentatória (Palais de Versailles)

Fase Final (1690-1715): Transição marcada pela leveza das formas e fantasia das linhas. Louis XIV (1638-1715)

Rigorosamente simétricos, os interiores eram definidos pela riqueza dos materiais e busca

do monumental.

Houve o emprego de adornos de mármore e jogos

policrômicos deste com ouros, bronzes, pinturas e espelhos.

Às ordenações de colunas, pilastras e nichos,

acrescentou-se cornijas, cimalhas, painéis pictóricos e

ornatos com putti.

Salon de Venus (Palais de Versailles)

Salon de Mars (Palais de Versailles)

Os tecidos (Textile) preferidos foram as

fazendas com motivos coloridos, veludos de

Gênova e seda trabalhada em fios de ouro e prata.

A tapeçaria (Savonnerie) era feita à mão e usada nos assentos de luxo, tendo como motivos

decorativos: flores, buquês e listras, em vermelho vivo ou tons naturais, como do

veludo verde-musgo.

Poltrone Amand (Confessionnal)

Fauteuil Louis XIV

Savonnerie

Os motivos decorativos do LOUIS XIV eram:

Máscaras e cabeças de deuses combinadas aos atributos do monarca: Águia de Júpiter, Leão, Galo e máscara de Apolo, além de monogramas coroados e bastões cruzados.

Troféus, elmos guerreiros, ramos de carvalho simbolizando a vitória, carcases (estojo para flechas e arcos) e maças (claves) de armas, feitos em bronze dourado ou madeira.

Conchas (principal elemento e sinônimo de flexibilidade e fantasia), em geral combinadas com arabescos e fantasias lineares ou exóticas.

Folhas de acanto, além da figura do Sol (geralmente tendo esculpida no centro uma cabeça de mulher) e as iniciais de Louis XIV.

Destacou-se o uso de

MÓVEIS MACIÇOS

(carvalho, mogno, nogueira, pereira e

ébano) com ornamentação opulenta, esculpidos e dourados.

Houve madeiras coloridas e marchetaria de duas origens: animal (a tartaruga, o chifre, o marfim e o osso) e mineral (o cobre, o

estanho e o bronze).

Armoire Boullé André-Charles Boullé (1642-1732)

Buffet Boullé

Cabinet Boullé

O interesse por materiais orientais (seda e marfim) era grande e as lacas vermelha e

preta foram usadas para decorar cabinets (gabinetes

ou armários de várias finalidades) e commodes (sucessoras das arcas com

gavetas).

Apareceram os bibelots e os espelhos para acompanhar

castiçais e candelabros, porcelanas chinesas e objetos

de ouro e prata, colocados sobre consoles (aparadores).

Andirons

Console

Commode

No mobiliário, pés em soco complicaram-se com óvalos, caneluras e folhagens. A travessa em H evoluiu para X e os

braços, em geral arqueados, terminavam em ponta encurvada ou voluta. Despontou a BERGÈRE (poltrona estofada com abas

largas, sem nenhum espaço entre o encosto e o espaldar).

Bergère Louis XIV

Poltrone Bordeaux

Pés em soco

Fauteuil Louis XIV

Travamento em X

Estilo Louis XIV

Fauteuil

Bureau Console

Commode

Canapé

Estilo Régence

Durante os oito anos da regência do Philippe II (1674-1723), o Duque de Orleáns, entre 1715 e

1723, surgiu este estilo de transição, em que a pompa

diminuiu e o mobiliário adquiriu curvas mais suaves.

Os móveis tornaram-se menores, mais claros e leves, além das

travessas das cadeiras e mesas praticamente desapareceram.

Philippe II, Duque de Orleáns

Style Régence