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HISTÓRICO DA
FITOTERAPIA
Fernanda Penteado
A fitoterapia cresce em importância na medida em que o homem vai se
tornando pequeno frente ao desenvolvimento tecnológico espantoso, que ele
mesmo criou. Este mesmo conhecimento tecnológico levou-o a perceber o
quanto estava se afastando da natureza, de quem tanto o recebeu.7
A tecnologia que, por um lado torna o homem pequeno, por outro,
quando associada por ele à natureza, nos leva ao fantástico mundo da
moderna fitoterapia. Fitoterapia originada no conhecimento empírico,
respaldada por resultados de cromatografias, cortes histológicos, avaliações
microscópicas e microbiológicas, confirmadas por ensaios farmacológicos e
clínicos. 7
DEFINIÇÃO DE FITOTERAPIA
Fitoterapia é uma palavra que deriva do grego. Phyton significa planta e
Therapeia, terapia. Assim, é chamado de fitoterapia o tratamento das doenças
através das plantas medicinais. Pode-se afirmar que o hábito de recorrer às
virtudes curativas de certos vegetais é uma das primeiras manifestações do
esforço do homem para compreender e utilizar a natureza. 7
Na antiguidade, o homem sempre buscou a solução de seus males na
natureza. As propriedades curativas das plantas foi, no início, meramente
intuitiva ou, observando os animais que, quando doentes, buscavam nas
ervas cura para suas afecções (restaurar suas feridas ou diminuir suas
enfermidades). 7
“Que o teu alimento seja o teu remédio e que o teu
remédio seja o teu alimento” – esta frase, atribuída à
Hipócrates, foi registrada há mais de 3 mil anos, sendo uma
das provas mais antigas de que comida e cura estão
relacionadas desde os primórdios. Desta forma, não se sabe
a data precisa do início da utilização das plantas sob a
forma medicinal, pois a sua história se entrelaça
diretamente à própria história da humanidade, acumulando um
conhecimento de milhares de anos. 5
Acredita-se, entretanto, através dos estudos da arqueologia, que há
mais de 3.000 anos as ervas são utilizadas como alimentos, medicamentos e
cosméticos. 7
Numerosas etapas marcaram a evolução da arte de curar, porém, torna-
se difícil delimitá-las com exatidão, já que a medicina esteve longamente
associada a práticas mágicas, místicas, ritualísticas.9
MITO E MAGIA DAS PLANTAS
O homem primitivo buscava satisfazer todas as suas necessidades
através da natureza. Assim, dependentes
das plantas os seres humanos se
voltaram para o reino vegetal na busca
de ajuda na luta indômita para dominar
o meio ambiente e o destino. 8
A partir da Antiguidade, ou talvez
até antes dela, passou-se a acreditar que
o domínio da magia do reino vegetal
repousava no conhecimento dos espíritos das plantas – habitantes do plano
astral que aspiravam elevar-se até a condição humana. Segundo a crença,
retomada pelo alquimismo e sustentada pelo ocultismo, estes seres, dotados
de inteligência instintiva e de intenso poder sobre o plano material, poderiam
efetuar curas surpreendentes, bastando para isso, serem bem dirigidos. 9 O
domínio do poder mágico das plantas, sem dúvida traria alivio da infelicidade
e da doença, controle do futuro e paz com os deuses. 8 A magia foi
reconhecida como instrumento de saúde, felicidade e sucesso, vinculada a
tabus, superstições, histórias fantásticas, imaginação e folclore. 14
Inúmeras espécies foram testadas por feiticeiros, que esperavam
conquistar esse poder. Muitos nomes de plantas dão
testemunho de tais experiências, mesmo muito tempo depois
de as próprias plantas terem perdido sua fama sobrenatural.
Verbena, por exemplo, é o nome genérico de muitos arbustos
e ervas. Lembra o uso de uma das espécies, a V. officinalis, a
verbena propriamente dita (foto ao lado), em festas religiosas
da Roma antiga. 8
Alguns exemplos típicos relacionados à crença na magia e misticismo
das plantas são citados abaixo:
GIRASSOL (Helianthus annuus L.) – No Peru, os
índios que adoravam o sol, veneravam o girassol como a
encarnação terrena do astro, pois este acompanhava o
movimento do sol no céu;
IPOMÉIAS
No Japão, as ipoméias, também chamadas de “glórias da manhã”, eram
conhecidas como as “jóias do céu”, porque sua beleza atraía a deusa Sol
de volta ao céu ao amanhecer;
ERVAS AROMÁTICAS - cheiro teve muita importância na escolha das
ervas para as curas serem efetuadas. Na Idade Média acreditava-se que
determinados aromas espantavam os espíritos das doenças que acometiam o
corpo. Os antigos egípcios há 4.500 anos a.C., utilizavam grande variedade de
aromas consagrados a certas divindades.
TOMILHO (Thymus vulgaris) - Desde a
Antigüidade, o tomilho tem sido amplamente
usado em terapias por suas propriedades
estimulantes e purificadoras. O aroma desta planta
é considerado energizante. Uma tradição muito
antiga recomendava que, no final de um dia
cansativo, era só amassar levemente entre as mãos
alguns ramos de tomilho e aspirar o perfume para recuperar a energia e
aumentar a disposição para o sexo.
URUCUM (Bixa orellana L.) - O urucum tornou-se muito conhecido graças ao
pigmento extraído de suas sementes. Originária
da América tropical, é planta espontânea na
região que vai das Guianas até a Bahia. A pintura
do corpo com o pó de urucum faz parte das
tradições indígenas, sendo usada há séculos, em
cerimônias e rituais. Na medicina popular, o
urucum é utilizado desde o século XVII. Os
indígenas usam o pó das sementes como afrodisíaco e como um remédio
contra a intoxicação pela ingestão da mandioca-brava
ALHO
O alho (Allium sativum), planta que há muito desfruta da
fama de instrumento de magia branca – teria o poder de
repelir as forças malignas da magia negra. Se a magia está
na capacidade de impedir a má nutrição, o alho é sem
dúvida algo mágico. Durante séculos, essa erva doméstica
não apenas acrescentou vitaminas e minerais aos alimentos,
mas também consta a tradição popular que tenha defendido
pessoas contra vampiros e contra a peste. 8
Para os egípcios, o alho, além de servir de alimento, estimulava a boa
voz e a coragem. Nero, imperador romano, com freqüência comia os bulbos do
alho chegando às vezes interromper o consumo de qualquer outro alimento.
A mandrágora, erva comum em toda região do Mediterrâneo adquiriu
fama de ter poderes mágicos em parte devido a sua
toxicidade. Essa planta potente é capaz de matar os
incautos, embora também tenha servido como
importante fonte de remédios. Aumentando a
mística em torno da mandrágora, há a aparência da
raiz. Grossa e tuberosa, pode-se imaginar que se
assemelha a um pequeno ser humano. Além disso,
é uma planta fosforescente e às vezes, a noite,
substâncias químicas em suas
com o orvalho e emitem luz clara.
Esse fenômeno, hoje explicado pela
ciência, era atribuído a espíritos e forças mágicas.
bagas reagem
8
Flavius Josephus, general, estadista e historiados judeu do primeiro
século d.C. descreveu os perigos da colheita da mandrágora. Embora seu
brilho a tornasse fácil de localizar, a erva se encolhia sempre que alguém se
aproximava dela; e o simples contato podia se revelar fatal. Uma forma de
colher a erva era cavar cuidadosamente em toda a
sua volta, até que só uma parte da raiz
permanecesse coberta. O colhedor amarrava então
um cachorro à raiz e afastava-se. O animal
arrancava a planta, num esforço suicida para
alcançar o dono. Mas em troca de sua morte, o
dono ganhava um amuleto infalível contra os
demônios. Outros acreditavam que a mandrágora
protegia contra ferimentos em combate, curava
todas as doenças, trazia sorte no amor, promovia a
fertilidade, garantia uma pontaria perfeita e permitia o descobrimento de
tesouros enterrados. 8
Segundo relatos, Joana Darc foi considerada
feiticeira e queimada por usar a mandrágora para
atormentar os ingleses, durante as guerras. Essa planta,
assim como o meimendro, era considerada diabólica
devido seu poder mágico.21
A mirra (Myrrha commifora abissynica) desempenhava um papel vital
nas cerimônias religiosas dos egípcios. Quando
queimada, liberava uma fragrância que eles acreditavam
agradar aos deuses. Como não se podia encontra mirra
no Egito, a rainha Hatshepsut mandou cinco navios à
Terra do Ponto, uma região da África equatorial, famosa
MIRRA
pela produção de mirra. Os egípcios trocaram machado, faca, miçangas,
colares e anéis por ébano, marfim, ouro canela, animais, sacos de mirra e 31
mudas da planta.8
BABOSA (Aloe sp) - É considerada uma planta
poderosa há muito tempo. Antigos muçulmanos
e judeus acreditavam que a babosa representava
uma proteção para todos os males e, por isso,
usavam as folhas até penduradas na porta de
entrada da casa. Alexandre, o Grande, teria
conquistado as Ilhas de Socotorá, no Oceano
Índico (século IV a.C.), porque lá vegetava
abundantemente um tipo de babosa que
produzia uma tinta violácea. Há quem diga, entretanto, que na verdade, o
conquistador conhecia os poderes cicatrizantes da babosa e seu principal
interesse nas ilhas era ter plantas suficientes para curar os ferimentos dos
seus soldados após as batalhas.
MITOLOGIA GREGA
Os mitos gregos são histórias criadas para explicar fenômenos naturais
ou ajudar a definir o papel do sobrenatural na vida cotidiana. Sem dúvida os
gregos brilharam na inventividade de superstições com plantas.8
Estes povos, assim como os
romanos, acreditavam que as plantas
aromáticas procediam dos deuses e
deusas. Segundo os gregos, doze deuses
governavam os céus, a terra, o mar e a
região dos mortos, e viviam no cume do
Monte Olimpo, ao norte da Grécia. Cada um dos deuses olímpicos tinha
atributos distinto e uma personalidade especial, além de terem também suas
plantas favoritas.8
Essas plantas aparecem como símbolos de respectivos deuses. Também
eram considerados elos vivos com eles.
A vegetação é protegida pela maioria das
divindades femininas grego-romanas: Deméter
(deusa das alternâncias entre a vida e a morte,
bem como das terras cultivadas, deusa da
agricultura), Afrodite (Vênus, deusa da
fecundidade), Artemis (Diana, selvagem deusa da
natureza), além de algumas entidades
masculinas como Ares (Marte, que simboliza a
força bruta, é, também, protetor das colheitas,
um dos deveres do guerreiro) e Dioniso (Baco,
símbolo das forças de dissolução da
personalidade, deus da fecundidade, da vegetação, das vinhas). 14
ZEUS NO OLIMPO
Acredita-se que os afrodisíacos tenham surgido na Grécia Antiga,
quando os gregos cultuavam Afrodite - a deusa do
amor, da beleza e da fecundidade - com cerimônias e
rituais especiais, nos quais eram ingeridas poções do
amor, na esperança de que
aumentassem o vigor e o
prazer sexual. Ervas, flores
e especiarias regidas por
Afrodite (Vênus, para os
romanos) eram usadas como
ingredientes no preparo
dessas poções e, com isso, ganharam a fama de
"afrodisíacos". A imagem de belas feiticeiras preparando "poções do amor" à
base de plantas e flores faz parte da mitologia desses povos. 17
O povo chegou a consumir tantos materiais aromáticos para perfumar-
se que no ano de 565 foi decretada uma lei que proibia utilizar essenciais
aromáticas pelas pessoas com temor de não ter suficiente incenso para
queimar nos altares das divindades.
EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO
Sem dúvida, a fitoterapia é considerada a medicina mais ancestral por
excelência e Hipócrates, Galeno e Dioscorides são considerados seus
iniciadores.16
Hipócrates, médico grego, considerado o Pai da
Medicina, reuniu a totalidade dos conhecimentos médicos
de seu tempo no conjunto de tratados conhecidos pelo nome
de Corpus Hipocraticum, onde, para cada enfermidade,
descreve um remédio vegetal e o tratamento
correspondente.7 No total os textos de Hipócrates citam 300
a 400 plantas medicinais e suas propriedades.8
Suas doutrinas dão grande ênfase à dieta, estilo de
vida, ao exercício, luz do sol e água. Seus conhecimentos e ensinamentos
atravessaram os tempos e são seguidos até hoje em alguns tratamentos
medicinais. 17
O autor farmacêutico mais influente da Antiguidade (primeiro século
d.C.) foi o médico grego Dioscorides. 8 Ele inventariou, em seu trabalho, De
Materia Medica, mais de 500 drogas de origem vegetal, mineral e animal. 7
Dioscorides
Especificou remédios provindos dos
três reinos da natureza (animal,
vegetal e mineral). Do reino vegetal,
diversas espécies são descritas e seu
modo de aplicação explicado.
Ilustração da De Materia Medica, obra que
descreve as plantas curativas.
Foi médico de Nero (imperador romano) e com ele e seus soldados viajou
por todo o mundo mediterrâneo, colecionando centenas de tipos de plantas. 17
O exemplar mais antigo que se conhece da sua obra De Materia Medica
encontra-se em Viena, está escrito em grego e possui uma grande quantidade
de desenhos ilustrativos.16
Finalmente, o grego Galeno, ligou o seu
nome ao que ainda se denomina “farmácia
galênica”, onde as plantas não são mais
usadas na forma de pó e sim em preparações,
nas quais são usados solventes como álcool,
água ou vinagre, e servem para conservar e
concentrar os componentes ativos das plantas, sendo utilizadas para preparar
ungüentos, emplastros e outras formas galênicas. 7
Galeno (130-200 a.C.) foi um dos mais famosos médicos de seu tempo.
Encontrou inspiração intelectual no pensamento grego, sobretudo na
medicina de Hipócrates, na ciência de Aristóteles e na filosofia de Platão.
Acreditava no método empírico de testar remédios, uma prática bastante
moderna para a época.8
Foi inicialmente médico dos gladiadores e logo passou a corte como
médico dos imperadores Marco Aurélio, Cômodo e Sétimo Severo.16 Escreveu
mais de duzentas obras, sendo que cerca de cem são hoje reconhecidas como
de sua autoria.17
PERSONAGENS IMPORTANTES
ARISTÓTELES
Depois de Hipócrates, veio Aristóteles, cuja obra inclui
uma tentativa de catalogar as propriedades de diferentes
ervas medicinais. 8
Aristóteles de Estagira, 384 a.C. – 322 a.C. filósofo
grego, um dos maiores pensadores de todos os tempos. Suas
reflexões filosóficas — por um lado originais e por outro
reformuladoras da tradição grega — acabaram por configurar
um modo de pensar que se estenderia por séculos. Prestou inigualáveis
contribuições para o pensamento humano, destacando-se: ética, política,
física, metafísica, lógica, psicologia, poesia, retórica, zoologia, biologia,
história natural e outra áreas de conhecimento. É considerado por muitos o
filósofo que mais influenciou o pensamento ocidental.23
AVICENA
Dentre os principais médicos árabes destaca-se Avicena (980-1037).9 A
mais importante de suas obras, o volumoso Cânone da Medicina, baseia-se
nos textos de Hipócrates, Aristóteles, Dioscorides, Galeno e
outros. 8
Aos dezessete anos já era um mestre na arte de
curar, tendo já sua fama se espalhado pelo mundo árabe.
Usava lavanda, camomila e menta em seus preparos e
ficou conhecido por mais de seis séculos como o "Príncipe
dos Médicos".17
Cânone da Medicina foi o livro usado por toda a Europa até meados do
século XVII, e é estudado no oriente ainda hoje. 8
TEOFRASTO
O primeiro cientista botânico conhecido da história foi o filósofo grego
Teofrasto (371 a.C – 287 a.C). Estendendo às plantas um
sistema de classificação criado por seu mestre Aristóteles,
ele escreveu duas obras O Cultivo das Plantas e
Investigação das Plantas, que cobriam cerca de 500 tipos
de vegetais, desde a Europa até a Índia. Essas obras
foram as primeiras a classificar as plantas por forma e
estrutura, prefigurando o sistema de Lineu usado hoje.8,17
Teofrasto foi discípulo predileto de Aristóteles que,
pouco antes de morrer, designou-o seu sucessor e o
encomendou-o a tarefa de cuidar de seu jardim botânico. 16
PARACELSO
No processo de evolução, a arte de curar recebeu um poderoso impulso
dos alquimistas. Estes em seus laboratórios, enquanto procuravam descobrir
a fórmula para transformar metal em ouro e o elixir da longa vida, realizaram
experiências valiosíssimas, introduzindo a aplicação de enxofre, mercúrio,
zinco e outros elementos inorgânicos na cura das doenças. 9
ALQUIMISTA
Dentre os alquimistas destaca-se Theophrastus Bombastus von
Hohenheim, mais conhecido como Paracelso (1493-1541).9 Médico suíço,
realizou um trabalho pioneiro na extração de essências vegetais e no uso de
tinturas. Publicou pesquisas em farmacologia, e seu
inacabado herbário, Das Virtudes das Plantas, Raízes e
Sementes revela um extenso trabalho com fitoterapia,
em laboratório e prática.8
A doutrina das assinaturas nas plantas, baseada
na analogia entre as propriedades curativas de uma
planta ou animal e a sua forma, seu aspecto e sua cor,
está presente muitas vezes em suas obras e nos textos
de seus influentes seguidores. 8,9
Essa doutrina, surgiu na época de Hipócrates. Exemplos da ligação
entre a forma e a cor das flores com a doença a ser tratada, são: as flores
amarelas da calêndula e do dente-de-leão seriam usadas para curar a
hepatite; os frutos e as flores vermelhas, para os males da circulação, e as
raízes retorcidas e cheias de nós das figueiras seria remédio ideal para as
varizes.14
Doutrina das Assinaturas
CALÊNDULA Calendula officinalis L.
DENTE-DE-LEÃO Taraxacum officinale
Paracelso não escrevia suas observações em latim, a língua culta da
época, mas em linguagem comum e ainda tinha a audácia de comparar
importantes estudos médicos com a sabedoria popular.17 Paracelso introduziu
as tinturas terapêutica como forma galênica. 16
HAHNEMANN
Médico alemão, Samuel Hahnemann (1755-
1843), fundador de um sistema alternativo de
medicina – a homeopatia, colaborou com um resumo
completo de uma nova forma de tratamento. Baseada
na regra de semelhança, combate as causas e os
sintomas das doenças com remédios destinados a
agravar inicialmente as doenças para, então, curá-las. 8,9
Sua obra, Matéria Medica Pura, compreende resumos de “provas” da
eficiência de muitas substâncias, sobretudo de origem vegetal.8
CONHECIMENTO FITOTERÁPICO
A seguir, veremos como foi se originando o conhecimentos botânico e
fitoterápico nas principais culturas da antiguidade.
FITOTERAPIA NA CHINA
Tem-se que o tratamento com remédios de origem vegetal começou na
Índia. Acredita-se que depois a técnica tenha viajado para a China. Ainda
hoje, entretanto, a China é conhecida como o país com mais longa e
ininterrupta tradição nas ervas. 5
Os documentos médicos mais antigos que se referem às propriedades
medicinais das plantas é um tratado médico datado de 3.700 a.C, da China,
escrito por Shen Nung, um imperador sábio que fazia experiências com as
plantas.17 Com o título de Pen-Tsao, nele era dito que para cada enfermidade
havia uma planta que seria um remédio natural. Estão registrados nesse livro
mais de 300 preparados com ervas medicinais, classificados segundo seu
grau de importância, freqüência de administração e/ou
O Pen Tsao, como
grau de toxicidade.16
as farmacopéias que o
seguiram, tenta fornecer uma pesquisa oficial,
desco
atualizada, dos preparados medicinais da época.
Entre muitas outras plantas relacionadas estão o
cânhamo e a papoula, além do ruibarbo e acônito. 14
Ao imperador, também é atribuído a
berta do chá. Conta uma lenda chinesa que no
ano 2737 a.C., Shen Nung ordenou que todos fervessem sua água, antes de
bebê-la, por razões de higiene. Num determinado dia,
enquanto descansava sob uma árvore, e fervia sua água,
uma leve brisa carregou algumas folhas de um arbusto
para dentro do recipiente em que a água era fervida. Um
delicioso aroma teria saído da infusão e, então, Shen
Nung resolveu provar aquela bebida, aprovando o sabor.
Nascia aí, o chá. 5
Esta lenda é divulgada como a primeira referência
de ch
hin-Kei, o “Hipócrates chinês”, é o que existe
e mais destacado na farmacognosia – parte da farmacologia que trata de
à infusão das folhas á verde, provenientes da planta Camellia sinensis,
originária da China e da Índia. 5
A obra do imperador Cho-C
substâncias medicinais que não são manipuladas. Nela, por exemplo, a raiz
de Ginseng é consagrada como a cura para diversas doenças; são
mencionadas ainda as propriedades curativas do ruibarbo, do acônito e da
cânfora. 9,20
GINSENG AMERICANO
Panax quinquefolius L.
RUIBARBO
ACÔNITO
Aconitum napellus
Atualmente, a China mantém diversos laboratórios de pesquisa e grupos
de cientistas trabalhando exclusivamente para o desenvolvimento de novos
produtos farmacêuticos a partir de ervas medicinais da tradição popular. 20
FITOTERAPIA NO EGITO
Na faixa histórica, seguem-se os egípcios, que deixaram papiros
preciosos. Um dos mais famosos, escrito no século XVI a.C, conhecido como
Papiro Ebers, nome do egiptólogo alemão George
Ebers. Este papiro constitui um documento de
extraordinária importância e foi achado em Luxor, no
ano de 1873. 16 Após ter decifrada a introdução, foi
surpreendido pela frase: "Aqui começa o livro relativo à
preparação dos remédios para todas as partes do
corpo humano". Provou-se, mais tarde que este
manuscrito era o primeiro tratado médico egípcio
conhecido.7 Este herbário ainda hoje, está em exibição no Museu de Leipzig.
Media 20 metros e continha entre outras coisas 870 prescrições a base
de mirra, flores de cipreste, azeite de rícino, 16 receitas referentes babosa,
absinto, hortelã, meimendro, mandrágora, óleo de cânhamo. 8
Nele podemos ver que os egípcios utilizavam ervas aromáticas na
medicina, cosmética, culinária e, sobretudo, em sua técnica, nunca superada,
de embalsamento. A arte de embalsamar cadáveres evitava que estes
entrassem em estado
de putrefação. 5
Grande quantidade de
extratos perfumados,
anti-sépticos, gomas e
diversas matérias de
origem vegetal eram
utilizadas no
embalsamento de
múmias. 20
Dentre as plantas mais utilizadas pelos egípcios é indispensável citar o
zimbro, a semente de linho, o funcho, o alho, a folha de sene, o lírio, o
tomilho, o anis, o coentro, o cominho, a papoula e a cebola. 7
CEBOLA Allium cepa L.
PAPOULA Papaver rhoeas
ALHO Allium sativum L.
COENTRO Coriandrum sativum
LIRIO COMINHO Cominum cyminum
ZIMBRO-COMUM Juniperus communis L.
SENE Cássia occidentalis L.
FUNCHO Foeniculum vulgare
Quando o Egito se fez um país forte, seus
governantes importaram de terras distantes
incenso, sândalo, mirra e canela. Esses tesouros aromáticos eram exigidos
como tributo aos povos conquistados e se trocavam inclusive por ouro. Os
faraós se orgulhavam em oferecer às deusas e aos deuses enormes
quantidades de madeiras aromáticas e perfumes de plantas, queimando
milhares de caixas desses materiais preciosos. Muitos chegaram a gravar em
pedras semelhantes façanhas. 15
Os materiais das plantas aromáticas eram entregues como tributos ao
estado, e doados a templos especiais, onde se conservavam sobre altares
como oferendas aos deuses e deusas. Todas as manhãs as estátuas eram
untadas pelos sacerdotes com óleos aromáticos. Queimava-se muito incenso
nas cerimônias do templo, durante a coroação dos faraós e rituais religiosos.
Queimava-se em enterros para extrair do corpo mumificado os espíritos
negativos. 15
Sem dúvida o incenso egípcio mais famoso foi o Kyphi. O Kyphi se
queimava durante as cerimônias religiosas para dormir, aliviar ansiedade e
os. iluminar os sonh
Cleópatra foi a última Rainha da Dinastia
ptolomaica que dominou o Egito após a Grécia ter
invadido aquele país. Tinha uma grande preocupação com
o luxo da corte e com a vaidade. Costumava enfeitar-se
com jóias de ouro e pedras preciosas (diamantes,
esmeraldas, safiras e rubis), que encomendava de
artesãos ou ganhava de pessoas próximas e familiares. 14
Cleóprata motivou a pesquisa cosmética e, um
primeiro formulário Cleopatre gynoecirium libri foi
editado durante seu reinado. Nesse formulário foram
descritos cuidados higiênicos e tratamentos de diversas
afecções da pele, sem, no entanto, dispensar pomadas
coloridas e linimentos à base de plantas e óleos vegetais, com finalidade
terapêutica e cosmética. 7
Cleópatra fazia uso da Beladona (Atropa belladona), pois esta planta
possui virtudes embelezadoras. Seu fruto era colocado em água e a
solução era aplicada sobre os olhos, causando efeito midriático. 16
Os pergaminhos egípcios, contendo conhecimentos médicos e
citações de determinadas ervas ficaram de herança para os gregos,
babilônicos e mais tarde, para os romanos. 5
Em 1924, na Inglaterra, os técnicos do Museu Britânico conseguiram
identificar 250 vegetais, minerais e substâncias diversas cujas virtudes
terapêuticas eram conhecidas pelos médicos babilônios. Nos pergaminhos da
época são citadas ervas como o cânhamo indiano, utilizado como analgésico,
nos casos de reumatismo. 7
FITOTERAPIA NA MEDICINA SUMÉRIA, ASSÍRIA E BABILÔNICA
Esses povos faziam menção as virtudes terapêuticas de
aproximadamente 250 espécies vegetais, entre as quais se destacavam: mirra,
aloe, beladona, entre outras.16
As placas de barro babilônicas, de 3.000 a.C., ilustravam tratamentos
médicos e registram importações das ervas. A farmacopéia babilônia abrangia
cerca de 1400 plantas. Em 700 a.C., o rei da Babilônia tinha um jardim com
pepinos, limões, tomilho, açafrão, romazeira, beldroega, loureiro-rosa, mirra,
cana, alcaçuz, zimbro, etc. Tudo para fins medicinais. 16,17
Relatos de historiadores da Antigüidade, ao descreverem os Jardins
Suspensos da Babilônia, construídos por Nabucodonosor, fazem referência ao
fato de que, entre flores e árvores, eram plantados o alecrim e o açafrão.16
JARDINS SUSPENSOS DA BABILÔNIA Os Jardins Suspensos da Babilônia foram construídos pelo Rei
Nabucodonosor, no século VI a.C, para agradar e consolar uma de suas mulheres,
Semiramis, que sentia saudades das montanhas de sua terra. O jardim eram seis
montanhas artificiais, apoiadas em colunas de 25 a 100 metros de altura, ao sul do
rio Eufrates. Ficavam a duzentos metros do palácio real. Os terraços foram
construídos um em cima do outro, e eram irrigados pela água bombeada do rio
Eufrates. Nesses terraços estava plantadas árvores e flores tropicais, assim como
alamedas de altas palmeiras.
Dos jardins podia-se ver as belezas das cidades abaixo. Conta-se que
Nabucodonosor enlouqueceu ao contemplar essa obra. Alguns historiadores, no
entanto, atribuem o trabalho a rainha Semiraris. Tudo foi destruído em data
desconhecida. 22
Na Mesopotâmia, os sumérios tiveram uma grande influência dos
babilônios, e transcreveram muita da literatura dos seus antepassados para o
idioma sumério. Ambos os povos usavam o incenso. Os sumérios ofereciam
bagas de junípero como incenso à deusa Inanna. Mais tarde os babilônios
continuaram um ritual queimando esse suave aroma nos altares de Ishtar. 16
Nos escritos sumérios há referências à erva-doce, beldroega e alcaçuz.5
ALCAÇUZ Glycyrrhiza glabra L.
ERVA DOCE
Pimpinella anisum L.
AÇAFRÃO
CONTRIBUIÇÃO GREGA
Cabe ressaltar, que a história grega está embutida nas concepções
mágico-religiosas que deram origem a mitologia grega. 16 O deus
Esculápio, filho de Apolo, era considerado o deus
da cura. Tinha como símbolo à serpente
enroscada num bastão – o caduceu, ainda hoje
símbolo da medicina .8
ESCULÁPIO
Os médicos gregos tornaram-se célebres pelo seu renome e pelos
sucessos obtidos em todos os países do Mediterrâneo e fixaram-se
principalmente em Roma, onde muitos deles fizeram uma brilhante carreira.
Os gregos adquiriram seus conhecimentos de ervas na Índia, Babilônia,
Egito e até na China. Tais conhecimentos resultaram no “Corpus
Hipocratium”, um estudo feito por Hipócrates, que cita um remédio diferente
para cada doença e qual seria o seu tratamento.5
Das obras médico-botânicas escritas na Grécia se considera a mais
antiga a pertencente a Teofrasto, que em seu livro História das Plantas
(dividido em 9 volumes) faz menção de 455 plantas, entretanto, em sua
maioria são de confusa interpretação. 16
No primeiro século a.C., a Grécia produziu a precursora de todas as
farmacopéias modernas, e o que se tornou o texto oficial da medicina
botânica. De Materia Medica, essa obra apresentou centenas de plantas
medicinais. Seu autor, Dioscorides, um dos últimos gregos antigos a inspirar
os futuros criadores da medicina moderna.8
Galeno foi um importante médico grego. A ele se atribui as primeiras
preparações obtidas pela mistura de diferentes ervas medicinais em um
mesmo preparado, surgindo assim, as formulações galênicas.16
Em resumo, aos gregos se deve, de alguma maneira, a transição do
período mitológico para o cientifico, pois os primeiros pensadores gregos
tentaram associar as doenças com as relações humanas. Assim, o homem
começou a entender a função dos elementos lógicos-pragmáticos, separando-
os das questões mágico-religiosas.16
FITOTERAPIA NA ÍNDIA
Os Vedas, poemas épicos encontrados em escavações arqueológicas em
cidades da Índia, referem-se ao emprego de plantas medicinais desde a
Antiguidade. Acredita-se que esses escritos correspondem aos anos de 1500-
1000 a.C. Fazem menção de plantas aromáticas com fins alimentícios:
gengibre, noz moscada, pimenta, alho, cominho, etc. 16
GENGIBRE Zingiber officinale Roscoe
PIMENTA
Na Índia, muitas gerações de tradição médica foram registradas no
Ayurveda, uma coletânea de saber médico hindu, compilada pela primeira vez
por volta da época de Cristo. Os Vedas, escritos originalmente em sânscrito,
também faziam muitas referências a plantas curativas, incluindo a raiz
Rauvolfia sepentina, usada na Índia para tratar picadas de cobras, epilepsias,
problemas mentais e outras doenças. A R. reserpina é fonte de reserpina,
agente tranqüilizante e hipotensivo, largamente empregado na farmácia
moderna. 8
Rauvolfia serpentina
CONHECIMENTO E PROGRESSO ROMANO
A prática médica romana incluía dieta, medicamentos e cirurgia.
Foi nessa época de ascensão de Roma que surgiu a triaga, um
tratamento para mordidas de animais. A triaga era uma combinação de
muitas ervas, sobretudo opiáceos e antiespasmódicos. Era tida com a
panacéia de tudo.
Uma famosa triaga, conhecida como “Antídoto de Mitridates” foi criada
no primeiro século a.C., por Mitridates Eupator, rei do Ponto, um reino nas
margens do Mar Negro conquistado pelo general romano Pompeu em 66 a.C.
O soberano Mitridates com medo de ser envenenado tomava doses diárias
crescentes de um antídoto preparado com plantas tóxicas para tentar se
tornar imune aos venenos. 8
Dentre os médicos que merecem destaque estão: Galeno, grego que
passou a residir em Roma (revolucionou a medicina fazendo experiências
com animais, além de vegetais, desenvolvendo as primeiras teorias médico
científicas baseadas em experimentação científica) e Dioscorides, médico de
Nero, viajou por todo o mundo mediterrâneo, colecionando centenas de tipos
de plantas, catalogando-as em sua obra "De Materia Médica". 14,17.
O romano Plínio era um grande estudioso da natureza. Sua obra,
História Natural, escrita em I d.C., era a compilação de milhares de tratados
gregos e romanos. Composta de 37 volumes, foi uma grande fonte para
botânicos e herbolários desde os tempos medievais até o século XVII. Seus
livros tratam de botânica e farmacologia das plantas. Defendia a idéia de que
a natureza é serva dos seres humanos, ou seja, as plantas existem para
satisfazer as necessidades das pessoas, e todas as que não são visivelmente
úteis como alimento, roupa e abrigo podem possuir propriedades
medicinais.8,16
PLINIO
MEDICINA ÁRABE
Com o declínio do Império Romano, no século V, e a desestruturação de
sua sociedade pelas invasões bárbaras, a importância da medicina retornou
ao Oriente, tendo em Avicena seu médico maior (autor do Cânone da
Medicina). 14
O centro da cultura migrou para Constantinopla e Pérsia onde se
conservaram as idéias de Galeno e Hipócrates. A elas se somou a tradição
judaica, de grande importância, sobre os hábitos de higiene para prevenção
das enfermidades, sobretudo das infecciosas. 16
Tanto os árabes quanto os persas agregaram como fruto de sua
experiência, as propriedades terapêuticas do almíscar, noz vomica, entre
outras. Foram os árabes que induziram na Europa as bases dos processos
químicos extrativos tais como destilação e sublimação. 16 Foram os
iniciadores dos cultivos de cana-de-açúcar, arroz, algodão e açafrão. 8
NOZ VOMICA Strychnos nux-vomica
ALGODÃO Gossypium hipersutum L.
ARROZ Oryza sativa
Por intermédio dos árabes criou-se a peculiar mistura de filosofia e
química conhecida como alquimia. Muitos médicos árabes foram alquimista,
entre eles Avicena e Rhazes. Fizeram experiências com usos medicinais dos
minerais, tentando transformá-los para que funcionassem com mais eficácia.
O principal entre esses minerais era o mercúrio, que empregaram
extensamente no tratamento de doenças da pele.8 As primeiras farmácias,
instaladas em Bagdá, datam desta época.16
ALQUIMISTA
CONHECIMENTO INDÍGENA
Cerca de três quartos de todas as drogas medicinais de origem vegetal
hoje conhecidas provêm de fórmulas
aperfeiçoadas pelos índios. Com exceção de
algumas rubiáceas, não há nenhuma espécie
empregada na moderna farmacopéia cujas
propriedades não eram conhecidas pelos
índios – pelo contrário, há muitas espécies
cujo uso conhecem e que permanecem
desconhecidas pelos ocidentais.25
A primeira referência ao uso de ervas
medicinais na América é o Manuscrito
Badanius, o herbário asteca, do século XVI.
Acredita-se, portanto, que as ervas eram utilizadas por muitas tribos
indígenas da América do Sul. No Brasil, desde a época do descobrimento, os
colonizadores observavam e anotavam o uso freqüente de ervas pelos Índios.5
Entre 1560 e 1580, o padre José de Anchieta detalhou as plantas
comestíveis e medicinais do Brasil em suas cartas ao Superior Geral da
Companhia de Jesus. Descreveu em detalhes alimentos como o feijão, o trigo,
a cevada, o milho, o grão-de-bico, a lentilha, o cará, o palmito e a mandioca,
que era o principal alimento dos índios. Anchieta citou também verduras
como a taioba-roxa, a mostarda, a alface, a couve, falou das frutas nativas
como a banana, o marmelo, a uva, o citrus e o melão, e mostrou a
importância que os índios davam às pinhas das araucárias. 24
Os índios aperfeiçoaram remédios e drogas de todos os tipos. Eméticos
(a ipecacuanha é o mais conhecido), purgantes (salsaparrilha, batata-de-
purga, látex de ficus, entre outros), controladores de distúrbios gástricos
(como a hortelã-pimenta), bálsamos cicatrizadores (jaborandi, por exemplo),
adstringentes (cambará), anti-hemorrágicos, colírios, anti-térmicos (sobretudo
a quinina), anti-diarréicos, antídotos, sedativos, afrodisíacos,
anticoncepcionais, anestésicos etc. A farmacopéia indígena incluía também
drogas cerimoniais, algumas das quais tiveram seu uso difundido no mundo
ocidental; o tabaco e a coca são as mais conhecidas, embora outras fossem
empregadas. Os índios conheciam também uma grande variedade de venenos
(entre eles o curare e o timbó), além de tônicos e estimulantes, como por
exemplo, o guaraná e a erva-mate, que acabaram fazendo parte da dieta
ocidental. 14,24
JABORANDI
Pilocarpus jaborandi
GUARANÁ ERVA-MATE
MEDICINA X IGREJA
De cerca de 400 a 1500 d.C., período que inclui a Inquisição e as
Cruzadas, a Igreja controlou praticamente todo o conhecimento médico, e
aspirou ao domínio absoluto em seu campo. Como os males e as doenças
eram vistas como castigos para o pecado, acreditava-se que podiam ser
curados com preces e arrependimentos. 8
Assim, na Europa, os progressos em relação a um maior conhecimento
das propriedades das ervas foram dificultados pelas Instituições Religiosas,
que condenavam a aprendizagem científica. 5 A medicina sofreu um processo
de estancamento, onde poucos tinham acesso as obras escritas em latim,
grego e árabe.16
A utilização das ervas estava reduzida aos mosteiros (monges e clérigos)
e curandeiros isolados.5 Os estudiosos dos mosteiros tinham a função de
transcrever, copiar e traduzir os documentos antigos de médicos gregos e
latinos preservando assim o conhecimento. 8 Dessa maneira é que se pôde
conhecer nos dias de hoje obras clássica de Hipócrates, Dioscorides e Galeno. 16
Embora a Igreja fizesse questão de desacreditar grande parte do
progresso dos estudiosos não-cristãos, suas leis oficiais não chegavam aos
jardim de ervas dos mosteiros e dos camponeses. Ali, a fitoterapia continuou
em grande parte imperturbada, embora com uma crescente orientação cristã. 8 Dentre os monastérios com jardins de ervas medicinais se destacam o St.
Gallen (França), construído no ano de 829 e o de Schaffhausen (Alemanha).
Este último, com o passar dos anos foi tomando grandes dimensões e passou
a ser dirigido por Leonhard Fuchs, considerado um dos pais da botânica.16
FITOTERAPIA NA ÉPOCA DO RENASCIMENTO
Durante o século XV, houve uma retomada aos estudos das
propriedades medicinais das ervas, a partir da observação dos remédios a
base de plantas já utilizados na época. Este período foi chamado de
Renascimento. Entretanto, as mulheres eram proibidas de estudar, e os
curandeiros populares eram considerados hereges.5
O período do Renascimento até os tempos modernos foi de acaloradas
disputas na medicina. O estabelecimento de escolas de medicina e de um
sistema de educação médica formal, combinado a uma compreensão cada
vez mais precisa da fisiologia humana, fazia com que a prática médica
passasse da arte a ciência e profissão. 8
Durante esses anos, figuras como Copérnico, Kepler e mais tarde
Galileu, deram origem ao que é chamado de Ciências Naturais, e este talvez
foi momento que a filosofia e a religião decidem se parar e tomar caminhos
próprios. A igreja como instituição, não podia dar uma resposta intelectual a
tantas mudanças, assim, ela não teve mais o que fazer a não ser censurar a
ciência.16
Nesta época, inicia-se a reforma da igreja, que dá lugar a fanatismos
religiosos e começa a forjar-se como instituição própria e implantar a Santa
Inquisição.16
MEDICINA MODERNA
A curiosidade científica despertada durante o Renascimento foi aos
poucos aumentando os conhecimentos que as pessoas tinham de si mesmas.
O avanço da ciência promovido por Galileo, Bacon, Newton e Descartes,
determinou que o melhor caminho para se chegar ao conhecimento efetivo era
através do Método Científico. Dessa maneira surge a metodologia que se
define como “aquela parte da lógica encarregada de estudar os métodos de
maneira sistemática e crítica.” 16
Com a criação do microscópio o ritmo das descobertas se aceleraram de
maneira impressionante. Microrganismos patogênicos foram descobertos, o
uso do éter como anestésico em cirurgias, os conceitos de assepsia, e o
aparecimento de instrumentos para diagnóstico
como o raio X.
Paralelamente à súbita explosão científica e
tecnológica, a história das plantas como
medicamentos continuou se desenvolvendo,
discreta e independentemente.
Assim, os químicos aprenderam a isolar substância e produtos
farmacêuticos sintéticos se espalharam pelo mercado. Surgiu uma verdadeira
farmácia, dedicada à compreensão de como as drogas atuam e porque o corpo
reage a elas de determinadas maneiras. 8
MEDICINA FITOTERÁPICA HOJE
A expansão do uso da medicina tradicional, e de plantas, vêm ao longo
dos anos ganhando reconhecimento global. Não somente as
plantas medicinais continuam sendo utilizadas em países em
desenvolvimento, mas também em países onde a medicina
convencional é predominante. 10
O interesse em medicamentos oriundo de plantas deve-se a algumas
razões: por ser a medicina convencional às vezes ser ineficiente devido aos
seus efeitos adversos, uso abusivo e mesmo incorreto por parte da população
levando à efeitos indesejáveis, além de muitos outros problemas. 1
O mercado global de medicamentos está estimado hoje em US$ 280
bilhões, dos quais cerca de US$ 14 bilhões (cerca de 5% do global) referem-se
a medicamentos fitoterápicos. Somente a Alemanha é responsável por 50% do
mercado europeu e mais de 20% do mercado mundial de fitoterápicos (mais
de US$ 3 bilhões), com consumo anual per capita deUS$ 39,00. 3
Aproximadamente 25% dos medicamentos prescritos no mundo inteiro,
originam-se de plantas, sendo 121 compostos ativos utilizados em uso
comum.1 De 252 medicamentos considerados como básicos e essenciais pela
Organização Mundial de Saúde (OMS), 11% são exclusivamente obtidos de
plantas medicinais e um número significante são drogas sintéticas obtidas de
fonte natural.1,2 Ainda de acordo com a OMS,
aproximadamente 80% da população mundial utiliza
medicamentos tradicionais, básicos para a saúde, a
maioria envolvendo uso de extrato de plantas ou
compostos ativos isolados das mesmas.4
Dentre os produtos naturais isolados de plantas
superiores destacam-se a quinina e quinidina (extraído da Chinchona spp.), a
atropina (da Atropa belladona), digoxina (obtido da Digitalis spp.), morfina e
codeína (da Papaver soniferum), vincristina e vinblastina (da Catharanthus
roseus), além de muitas outras.
Atropa belladona Extração da atropina
Para se ter uma idéia da potencialidade dos produtos naturais, dentre
520 novos fármacos aprovados, no período de 1983-1994, pelo FDA ou outra
entidade comparável de outros países, 196 vieram direta ou indiretamente de
fonte natural. 6
De acordo com Information Resources Inc. hoje em dia, dez fitoterápicos
mais vendidos são: Ginseng, Alho, Gingko biloba, Echinacea, Erva-de-São-
João, Serenoa repens, Hidrastis canadensis/echinacea, Extrato de semente de
Vitex, Hidrastis canadensis e Oenothera biennis. 10
No Brasil, a fitoterapia
desenvolveu-se muito até
meados do século XX, com
grande número de médicos,
farmacêuticos dedicados ao
estudo e utilização dos vastos
recursos da nossa flora, além de
contar com vários laboratórios
especializados trabalhando na
produção de fitoterápicos. 8
Entretanto ainda não há
estrutura cultural suficiente
entre os cientistas e indústrias
para gerar pesquisas e colocá-
las à disposição do país. Há resistência política à colaboração com o setor
industrial e mesmo oposição ideológica contra a idéia de patentes, o que tem
inviabilizado o uso da potencial diversidade da flora brasileira. Essas
contradições vêm sendo usadas pelas indústrias internacionais, que têm
investigado, descoberto e patenteado muitas plantas brasileiras, como por
exemplo, a camu-camu da Amazônia (Myrciaria dúbia). Está planta
caracteriza-se por possuir um fruto avermelhado, rico em vitamina C. Está
patenteada pelo Japão desde o ano de 1992 como matéria-prima de sucos e
sobremesas.3
CAMU-CAMU
Myrciaria dúbia
Apesar dos avanços da química, biologia molecular, pesquisa de
genomas, as plantas medicinais permanecem ainda como importante
alternativa de estudos, principalmente devido a sua grande diversidade
química. 12
A tendência observada para a fitoterapia é que esta, assim como no
passado, desempenhará um papel cada vez mais importante na assistência à
saúde da população.10 Seguindo esse pensamento, o futuro dos fármacos,
oriundos de plantas, requer a utilização de métodos seguros para o
isolamento e caracterização e exploração dos métodos qualitativos e
quantitativos que possam contribuir para uma eficiente descoberta,
desenvolvimento e comercialização de fitoterápicos.13
É importante a avaliação dos efeitos terapêuticos de cada um dos
fitoterápicos, através de estudos randomizado, duplo-cego e controlado por
placebos, envolvendo um número significante de pessoas, garantindo assim,
dados farmacocinéticos, farmacodinâmicos e toxicológicos desses produtos. 10
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