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TIAGO ALCÂNTARA PUB Ter para ler No exame à Secretaria de Florinda Chan os especialistas são unânimes: o tempo esgotou-se para a titular da pasta. Apesar de dividirem responsabilidades pelo que não foi feito, os analistas pedem uma cara nova para o cargo. NOVA ERA ANÁLISE ADMINISTRAÇÃO E JUSTIÇA AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 PUB OPINIÃO ESCOCESES DECIDEM FUTURO QUEIXAS EM TEMPO REAL REPORTAGEM PÁGINAS 2-3 SOCIEDADE PÁGINA 7 PÁGINA 20 TÁXIS DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 SEXTA-FEIRA 19 DE SETEMBRO DE 2014 ANO XIV Nº 3178 hojemacau A Escócia foi ontem a votos para decidir se continua ou não ao serviço de Sua Majestade. Em Macau, as vozes com ligações ao país estão divididas. PUB PÁGINAS 4-5 PAUL CHAN WAI CHI Cisão na Novo Macau? HOJE MACAU

Hoje Macau 19 SET 2014 #3178

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Hoje Macau N.º3178 de 19 de Setembro de 2014

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No exame à Secretaria de Florinda Chan os especialistas são unânimes: o tempoesgotou-se para a titular da pasta. Apesar de dividirem responsabilidades pelo que

não foi feito, os analistas pedem uma cara nova para o cargo.

NOVA ERAANÁLISE ADMINISTRAÇÃO E JUSTIÇA

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

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OPINIÃO ESCOCESES DECIDEMFUTURO

QUEIXAS EMTEMPO REAL

REPORTAGEM PÁGINAS 2-3

SOCIEDADE PÁGINA 7

PÁGINA 20

TÁXIS

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 S E X TA - F E I R A 1 9 D E S E T E M B R O D E 2 0 1 4 • A N O X I V • N º 3 1 7 8

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A Escócia foi ontem a votospara decidir se continua ou nãoao serviço de Sua Majestade.Em Macau, as vozes com ligações ao país estão divididas.

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PÁGINAS 4-5

PAUL CHAN WAI CHI

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hoje macau sexta-feira 19.9.20142 REPORTAGEM

ANDREIA SOFIA [email protected]

J OHN Corbertt atende o telefone do seu gabinete no Departamento de In-glês da Universidade de

Macau (UM), onde é director, e não esconde um certo sentimento de ansiedade sobre o que está a acontecer no seu país. “Vou ouvir a rádio e seguir as notícias hoje [madrugada] à noite”, disse ao HM.

O que causa ansiedade ao do-cente é o referendo sobre a possível independência da Escócia face ao Reino Unido, uma ligação secular que muitos analistas consideram que trará problemas ao conceito de união que vigora no contexto europeu. Mariano Rajoy, primeiro-ministro de Espanha - onde a região da Catalunha também deseja a independência -, disse ontem que a Escócia poderá enfrentar problemas económicos caso se torne num só país.

ESCÓCIA RESIDENTES EM MACAU DIVIDIDOS SOBRE INDEPENDÊNCIA

MacSim ou MacNão?

JASON CHAO E A EXPERIÊNCIA DO REFERENDO EUROPEUDepois de ter protagonizado a organização do referendo civil em Macau sobre a eleição do Chefe do Executivo, tendo mesmo sido preso pelas autoridades, Jason Chao encontra-se na Escócia, onde tem participado como voluntário no referendo, distribuindo panfletos. Ao telefone com o HM, Jason Chao disse que das pessoas com quem falou, “muitas vão votar ‘sim’”, tendo explicado o porquê desta viagem à Europa. “É uma grande oportunidade, porque este referendo incide sobre uma questão histórica. Posso observar a experiência de um referendo sobre o processo de independência de um país”, disse o líder do grupo Macau Consciência e da Sociedade Aberta de Macau.

A Escócia vota hoje se quer ou não continuar a manter uma ligação de 300 anos ao Reino Unido. Jason Chao, que organizou o referendo civil em Macau, está no país como voluntário no processo e garante estar a passar por uma nova experiência. Quatro residentes com ligação à Escócia acreditam que muita coisa está em jogo caso o país se torne independente

alguns amigos que vão votar não, porque pensam que a Escócia vai simplesmente entrar em colapso”, disse Kayleigh Porter.

QUASE TODOS ÀS URNASAs assembleias de voto na Escócia abriram ontem às sete horas (hora europeia) e deverão terminar por volta das 22 horas, início da tarde de hoje em Macau.

Segundo a agência Lusa, as autoridades estimam que se re-gistaram 97% das pessoas com direito de voto – os residentes com mais de 16 anos, bem como os cidadãos da União Europeia e

Já John Corbertt, caso estivesse na Escócia, onde neste momento quatro milhões de eleitores votam, votaria ‘sim’. “Está a acontecer um debate muito vigorante na Escócia sobre o futuro do Reino Unido e penso que o referendo mostrou algumas fendas que existem no

sistema político. No contexto europeu, o ‘sim’ irá trazer muitas mudanças”, frisou o professor.

Também Andrew Scott, director de uma publicação ligada à área do Jogo e filho de um escocês que odiava os britânicos, como o próprio referiu ao HM, votaria a favor da independência. Apesar de ser inglês, Andrew Scott tem seguido de perto a questão escocesa. “A Escócia é uma nação da qual nos devemos orgulhar e penso que nos últimos 300 anos não conseguiu ter uma posição no mundo como deveria ter. [Os escoceses] são grandes e fortes o suficiente para terem essa presença a nível mundial sem per-tencerem ao Reino Unido”, disse o director de uma publicação sobre o jogo, radicado em Macau há cerca de uma década.

OPOSTOSPelo contrário, Mathew Gibson, também docente no Departamento

de Inglês da UM, votaria contra a independência. Apesar de ser britânico, tem muitos familiares escoceses e sente-se ligado a esta questão.

“Votaria não porque temo que isso [a independência] traga problemas noutras situações na Europa. Isso pode causar outros casos de separação de Estados como em Espanha ou em Itália e isso trará uma ruptura. Não quero, porque muitas questões na Europa dependem da unidade. Isso pode ser um exemplo muito mau”, ga-rantiu ao HM.

Kayleigh Porter, outra escocesa que vive em Macau há muitos anos, sente-se tão ligada ao território que nem consegue assumir uma posição à distância. Caso estivesse na Escócia, “provavelmente” não votaria. “Pelo que vejo nas páginas do Facebook de muitos amigos, muitos vão votar no ‘sim’. Mas se é uma boa ideia ou não, não tenho a certeza. Penso que o ‘sim’ vai ganhar, mas haverá uma parte dos escoceses que não pensa no assunto e que não pensa nas consequências dessa independência”, começa por dizer. “Mas também tenho “Está a acontecer

um debate muito vigorante na Escócia sobre o futuro do Reino Unido e penso que o referendo mostrou algumas fendas que existem no sistema político”JOHN CORBERTT Docente no Departamento de Inglês da UM

[Os escoceses] são grandes e fortes o suficiente para terem essa presença a nível mundial sem pertencerem ao Reino Unido”ANDREW SCOTT Director de uma publicação ligada à área do Jogo

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3 reportagemhoje macau sexta-feira 19.9.2014

“Votaria não porque temo que isso [a independência] traga problemas noutras situações na Europa. Isso pode causar outros casos de separação de Estados como em Espanha ou em Itália e isso trará uma ruptura”MATHEW GIBSON Docente no Departamento de Inglês da UM

Como olha para a rea-lização deste referendo no contexto europeu?O ponto interessante é que o referendo foi or-ganizado pelo Governo britânico, e é uma forma de criar um novo Estado por separação. Noutros países, como Espanha, o Governo não só não concordou com a orga-nização do referendo como, do ponto de vista legal, a Catalunha não poderá ser independen-te. Mas o referendo da Escócia é uma situação muito peculiar, que não pode simplesmente ser transposta para outros países.

Que interesses são defendidos por quem quer a independência?Há interesses econó-micos, principalmente porque a Escócia tem acesso a petróleo (nas Ilhas Shetland). Muitas regiões que querem ser independentes são muitas vezes aquelas que têm um melhor de-sempenho económico. Nesse ponto podemos

encontrar semelhanças com a Escócia, porque há questões económicas envolvidas.

Como é que o Governo britânico irá reagir a este referendo?Mesmo que ganhe o ‘sim’ isso não significa que a Escócia fique in-dependente de imediato. Têm de haver várias discussões sobre isso, nomeadamente a moeda da Escócia: não poderá ser o Euro, porque não é membro da UE. Poderia utilizar a libra inglesa, mas aí a Escócia já não faria parte do Reino Unido. Outra questão é a presença de tropas britânicas na Escócia que teriam de sair, bem como as armas nuclea-res. Tudo isso deverá ser alvo de negociações e isso levará muito tempo.

E Bruxelas?A UE não está muito a favor do ‘sim’, porque isso levantaria uma série de questões. Em primei-ro lugar, porque numa primeira fase a Escócia

não será membro da UE, porque será um novo Es-tado, então já não estará sob as fronteiras do Rei-no Unido, e não estará pronta para isso. Como novo país terá de ser aprovado pelos restan-tes Estados-membros. Podem recusar que a Escócia seja membro da UE. Em termos jurídicos e institucionais há mui-tas questões a resolver.

Acredita que a Escócia poderá ser mesmo in-dependente?Vamos ver o que vai acontecer, não seria o primeiro país da Europa a ser criado. Uma das questões a ver é como é que a Escócia poderá ser membro da UE, como é que a economia se vai desenvolver. Em termos políticos terá de existir um novo Go-verno e terão de existir eleições. A Escócia tem tido uma independência nos últimos anos e não acredito que existam grandes problemas caso isso venha a acontecer. - A.S.S.

IDRIS VERHOEVEN, PERITA EM LEGISLAÇÃO DA UE

“Referendo da Escócia é um caso peculiar”

dos países da Commonwealth -, o que reflecte o interesse nesta consulta popular.

Os três principais partidos - Trabalhista, Conservador e Li-berais Democratas - colocaram de lado as diferenças políticas para se unirem na campanha pela permanência da Escócia no Reino Unido, tendo prometido transferir mais poderes caso a independên-cia seja rejeitada. Do outro lado, o Partido Nacionalista Escocês, apoiado pelo partido dos Verdes, o único partido da oposição, e por diversas organizações cívicas e sindicais, fez campanha a favor da criação de um novo “país mais justo e mais próspero” e livre de armas nucleares. Recorde-se que o referendo foi decidido por David Cameron, primeiro-ministro britâ-nico, e Alex Salmond, homólogo escocês.

A PESAR de duas das três pessoas com quem o HM falou estarem a favor do

‘sim’, as dúvidas sobre o futuro de uma nação que quer ser inde-pendente surgem de imediato, principalmente pelo papel que terá no contexto da União Euro-peia (UE). “A Escócia iria ser um Estado independente e poderia aderir à UE, não vejo problema com isso. Tudo dependerá do que querem para eles mesmos sem dependerem de Londres. Eles querem de facto ter uma identidade independente, mas podem continuar a ser próximos de Londres”, disse Andrew Scott ao HM. Já John Corbertt fala de um “caminho no escuro”.

“A Escócia poderá querer estar separada da UE e isso

Independência Posição económica e política da Escócia irá mudar

poderá levar a renegociações. A sua independência poderá causar problemas a Espanha, porque dará esperanças à Catalunha. Sei

que a Catalunha tem seguido com muito interesse este referendo”, referiu o docente de inglês, que lembra: “partir o Reino Unido

vai afectar muita gente, porque há afiliações. Muitos colegas estão mais preocupados do que eu, mesmo não sendo britânicos (risos). A forma do Reino Unido vai mudar inevitavelmente, os pólos políticos vão mudar”, disse ainda John Corbertt.

Mathew Gibson, que está contra a independência, diz mes-mo que o Reino Unido vai “ficar mais pobre” se isso acontecer. “As pessoas que dizem que pode surgir uma nova economia estão a mentir. Os socialistas querem a independência porque têm o sonho de que se vai criar uma república socialista. As duas partes que querem a indepen-dência querem coisas muito diferentes. É uma contradição”, frisou. - A.S.S.

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hoje macau sexta-feira 19.9.20144 POLÍTICAANÁLISE ADMINISTRAÇÃO E JUSTIÇA

JOANA [email protected]

A tão prometida reforma política e administra-tiva não foi cumprida durante o tempo em que

Florinda Chan tutelou a pasta da Administração e Justiça e houve momentos em que a actual Secre-tária se focou mais em trabalho interno do que propriamente na população. As opiniões são de especialistas ouvidos pelo HM, que realçam, contudo, que as responsabilidades não se podem atribuir apenas a Florinda Chan.

“O foco dela foi mais em como é que o Governo deveria funcio-nar e não tanto em fazer leis para a população em geral”, começa por apontar Larry So, sociólogo e ex-professor de Administração Pública do Instituto Politécnico de Macau. “Não estou a dizer que [a Secretária] não quis saber da sociedade, mas a prioridade não foi a população.”

Da mesma opinião é Eilo Yu, académico da Universidade de Ma-cau que ministra o curso de Ciência Política. “A reforma legislativa foi sendo deixada para trás e isso é, em parte, culpa da performance

Reforma estagnadaNem tudo é culpa de Florinda Chan, mas a opinião é geral: ficou muito por fazer na Administração e Justiça. O tempo é também o inimigo mais destacado na análise feita à tutela de Chan: está na hora de deixar o cargo

A CULPANÃO É TUA Nem só de críticas, contudo, se faz a avaliação à Secretária para a Administração e Justiça. Agnes Lam realça, por exemplo, a promessa das LAG em rever o regime de contratação dos funcionários públicos, algo que está já a ser analisado na especialidade pelos deputados da AL, depois de ter sido aprovado na generalidade. “Tentar uniformizar os contratos da função pública foi a decisão correcta, ainda que haja muito para melhorar”, frisa.Também Eilo Yu realça que, apesar de tudo, durante estes 15 anos o Governo “até fez algumas coisas”, como a implementação de subsídios e respectivos aumentos para os funcionários públicos e a introdução de um mecanismo de supervisão dos altos cargos. O académico frisa que se conseguiram “alguns feitos” e que um dos maiores problemas é que Florinda Chan “não conseguiu explicar algumas das políticas à população”, dando a perspectiva de que o Governo não estava a fazer um bom trabalho. “Como as consultas públicas. [Florinda Chan] tentou, de facto, implementar normas para os outros departamentos cumprirem. Mas, [a Secretária] não consegue coordenar outros departamentos sob a tutela de outros Secretários”, explica Yu, justificando o facto de nem sempre serem levadas a cabo consultas públicas e de nem tudo poder ser atribuído à Secretária. Já Gabriel Tong, deputado, não tem dúvidas: em termos gerais, Florinda Chan é muito dedicada no seu trabalho e lidera a equipa administrativa de forma forte e com experiência. O deputado não quis traçar um balanço pormenorizado do trabalho de Florinda Chan por esta ainda estar no cargo até Dezembro.

de [Florinda Chan]”, começa por apontar. “Nestes 15 anos, conti-nuam a haver muitos problemas relacionados principalmente com a reforma do sistema administrativo. Em termos de legislação também, particularmente no que diz respeito à revisão de leis.”

O académico realça que, no geral, em Macau, faltam pessoas com experiência ao nível do Direi-to, o que não ajuda na melhoria das leis, mas considera que também à Secretária para a Administração e Justiça faltou este factor. “A opinião do público quanto a ela não parece ser muito boa. A sua experiência também não é muito forte, pelo que se pode justificar a sua prestação abaixo das expec-tativas nestes últimos 15 anos”, argumenta Eilo Yu, acrescentando que a própria nomeação da Secre-tária em 1999 “foi uma surpresa” devido à falta de experiência que Florinda Chan tinha.

O REGIME FATALSe, por um lado, há aspectos positi-vos destacados pelos especialistas na forma como Florinda Chan tutelou a pasta de que é respon-sável, o facto de as tentativas da Secretária não terem tido sucesso levam a que sejam as críticas que falam mais alto.

“No início do mandato, nos primeiros anos, ela tentou fazer algo. Tentou perceber como po-deria melhorar a função pública e que tipo de leis necessitavam de ser revistas”, começa por frisar Agnes Lam, ex-candidata a deputada, analista política e professora uni-versitária. “Só que esse plano não foi bem feito e as coisas acabaram por não ser revistas como era neces-sário. Ela praticamente falhou em cumprir o que prometeu”, remata.

Este ano, nas Linhas para a Acção Governativa da pasta da Administração e Justiça estava previsto, por exemplo, que iria haver uma revisão na forma de

avaliação dos dirigentes e que iria ser implementado um mecanismo de queixas para os funcionários públicos. Faltam três meses para que Florinda Chan deixe o cargo e destes regimes pouco se sabe.

Há dois meses, os Serviços de

“Não estou a dizer que [a Secretária] não quis saber da sociedade, mas a prioridade não foi a população”

“Os trabalhos feitos para os pandas – casa e consulta pública incluída – foram bem melhores do que os feitos para a população” LARRY SO Sociólogoe ex-professorde AdministraçãoPública do IPM

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5 políticahoje macau sexta-feira 19.9.2014

“Ela praticamente falhou em cumpriro que prometeu”AGNES LAM Analista política

A PESAR de ter sido avançado por fontes próximas do nosso jornal que Ho Veng On, comissário de Auditoria, seria o

novo responsável pela pasta da Administração e Justiça, nenhum dos contactados pelo HM admite ponderar neste nome: André Cheong é o actual director dos Serviços de Justiça (DSAJ) e é o seu nome que surge como um dos prováveis sucessores de Florinda Chan.

“[André] Cheong vai ser mais capaz”, conclui imediatamente Larry So, quando questionado sobre um possível sucessor da actual Secretária para a Administração e Justiça. “De certa forma, ele também é mais popular entre a sociedade. Poderá ser o próximo Secretário.”

Da mesma opinião partilha Agnes Lam, ex-candidata às eleições legislativas, analista política e professora universitária. Lam con-sidera André Cheong o “candidato ideal para a posição”, uma vez que há muito trabalho a ser feito na área legal e Cheong tem ocupado a directoria dos Serviços de Justiça por muito tempo.

Se a análise geral ao trabalho de Florinda Chan pode ser um dos motivos por que espe-cialistas consideram que a actual Secretária para a Administração e Justiça deveria deixar o cargo, o tempo de mandato pode ser consi-derado como outra justificação.

TEMPO DE RODAR“Florinda Chan está nessa posição [de Se-cretária] há muito tempo e deveria haver um termo para que [estes cargos] não durem muito tempo”, defende Agnes Lam. “Quem já completou dez anos de mandato, deveria sair,

Administração e Justiça: separar ou não?

“Ele (André Cheong) também é mais popular entre a sociedade. Poderá ser o próximo Secretário”LARRY SO

ANDRÉ CHEONG É O FAVORITO PARA LUGAR DE FLORINDA CHAN

“Capaz e eficiente”

Administração e Função Pública garantiram ao HM que a proposta preliminar do regime de queixas dos funcionários públicos estaria concluído, mas não adiantou datas para que este entre em efectivi-dade.

E, se se pode apontar um caso que foi tido como o maior ‘peca-do’ da Secretária, esse será, sem dúvida, o tão falado Regime de Garantias para os Altos Cargos.

A PASSO DE CARACOL“Florinda Chan teve na posição muito tempo e vimos que a re-forma administrativa e legal foi muito lenta. De facto, diria que não aconteceu mesmo”, realça Larry So. “Ela é responsável por todas as leis e assuntos legais e, nesse caso, não foi feito muito. O caso mais particular é o do Regime de Garantias, que não foi popular entre a sociedade e nem sequer mereceu

A sugestão de separar a pasta da Administração e Justiça foi deixada por alguns académicos e deputados, ao longo de análises feitas ao trabalho do Governo nos últimos cinco anos. Para Larry So, ex-académico do Instituto Politécnico de Macau e sociólogo, esta separação é fundamental. “Sim deveria ser [separado]. Há uma carga de trabalho muito pesada nessa área [da justiça] e há conflitos de interesse”, começa por explicar ao HM. “Iria para uma pasta única na Administração, porque não se deve misturar administração com leis. Na Justiça, fala-se muito de leis e não se deve misturar legislação com administração porque não haverá objectividade.”Larry So admite que a “Administração poderá ser política”, mas realça

que a Justiça “não o deveria ser”. Para o académico, as duas tutelas deveriam ser totalmente separadas. E So justifica a opinião com o que considera ser um dos maiores factores para tal. “A Justiça não deveria ser interrompida por tarefas administrativas. Ambas deveriam ser objectivas.” Já Agnes Lam tem uma posição contrária. A professora e analista política considera que “uma pessoa deveria ser suficiente” para essa área, até porque apesar de os assuntos legais serem muito grandes, a Administração, diz, “não é assim tão grande”. Para a também ex-candidata a deputada, “se separarmos os serviços públicos e as leis em dois, o primeiro iria ser muito pequeno”. - J.F.

mesmo que fosse para outra secretaria. Mas, não se pode deixar que uma mesma pessoa fique na mesma tutela por muito tempo.”

A limitação dos anos de mandato já foi sugerida por deputados, como é o caso de

José Pereira Coutinho. A ideia é que haja ro-tatividade nos cargos, de forma a que novas formas de pensar ajudem a melhorar a socie-dade. Também José Sales Marques, antigo presidente da Câmara Municipal Provisória, tinha defendido à rádio Macau, em Agosto deste ano, que a rotatividade “é sempre um bom princípio”.

A sugestão tem merecido o apoio de várias outras figuras da comunidade. “Qualquer ofi-cial que tenha estado tanto tempo no Governo deve ser substituído”, diz ao HM Larry So, sociólogo e ex-professor de Administração Pública do Instituto Politécnico de Macau. “[Florinda Chan] deve ser substituída por alguém mais capaz e mais eficiente.”

Eilo Yu, académico do IPM, não tem dú-vidas de que André Cheong poderá ser uma peça-chave na gerência dos assuntos legais, mas mostra-se reticente no que diz respeito à forma como poderá o actual director dos Serviços de Justiça lidar com a “necessária” reforma administrativa, se for, de facto, o eleito para substituir a Secretária.

Se Florinda Chan se manterá no cargo ou se a sua pasta vai passar a ser tutelada por outra pessoa só Chui Sai On saberá ao certo. As dúvidas vão dissipar-se na próxima sema-na, quando os nomes dos novos magníficos forem finalmente anunciados pelo Chefe do Executivo. - J.F.

“A reforma legislativa foi sendo deixada para trás e isso é, em parte, culpa da performance de [Florinda Chan]”EILO YU Académico da UM

uma consulta pública”, diz o académico, ime-

diatamente apoiado por Agnes Lam.

“A reforma ad-ministrativa foi muito lenta e não foi na direcção certa, não foi con-sistente. Veja o Re-gime de Garantias: insistiram que o Chefe do Executivo

tivesse compensação quando se reformasse,

enquanto que os fun-cionários públicos não.

Isto não é consistente. A forma como lidaram com os

trabalhos da função pública não foi bem feita.”

O Regime de Garantias, re-corde-se, chegou à Assembleia Legislativa de forma muito rápida e só caiu devido às manifestações de mais de 20 mil pessoas nas ruas de Macau. Na lei, estava previsto, por exemplo, que todos os altos dirigentes recebessem um subsí-dio enquanto estivessem à espera de nomeação, no cargo e após a aposentação.

Eilo Yu também dá como exem-plo a criação desta lei para dizer que Florinda Chan “tem de ser responsabilizada” pela insatisfação

da população, mas deixa um alerta: existem muitos problemas ao nível da estrutura interna do Governo que não deixam que os trabalhos sejam levados a cabo. E um deles, realça, é a questão das consultas públicas. (ver caixa)

FALTAS E PANDASSeja como for, para Agnes Lam há leis que continuam a faltar em Macau e que dizem respeito à Administração. Para a académica, por exemplo, um regulamento

importante seria o da manutenção de arquivos históricos do Governo, como documentos, dos últimos 15 anos desde a transferência de soberania. “Agora, é o Chefe do Executivo que ordena a classifi-cação e tenho receio que muitos documentos e factos históricos - como é que o Governo lidou com as coisas, especialmente nos últimos dez anos - possam ser destruídos

ou desaparecer. Isto é algo muito sério.”

Para Larry So, não há dúvidas que Florinda Chan poderia ter feito muito melhor nos últimos 15 anos e o académico deixa mesmo uma comparação irónica, em jeito de conclusão: “os trabalhos feitos para os pandas – casa e consulta pública incluída – foram bem melhores do que os feitos para a população”.

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hoje macau sexta-feira 19.9.20146 política

Para quando uma consulta pública? Para quando a revisão do crime de assédio sexual? Perguntas que só têm uma resposta: não se sabe. Certeza há só uma, a de que são precisos mais estudos...

FIL IPA ARAÚ[email protected]

A Direcção dos Serviços da Reforma Jurídica e do Direito Internacional (DSRJDI), entidade

competente para a possível revisão ao Código Penal, não consegue clarificar em que fase se encontra a possível revisão do crime de as-sédio sexual. Sabe-se, por agora,

CECÍLIA L [email protected]

A Associação Novo Macau decidiu sepa-rar as suas funções

entre associação activista e escritório de deputados. A decisão está relacionada com a atribuição de dinheiro público aos deputados.

“Os gabinetes dos depu-tados há muito que recebem dinheiro público. O gabinete deve ser muito criterioso e devem ser os próprios deputados a tomar toma conta da administração do espaço”, começa por dizer Ng Kuok Cheong. “A lei

Chui Sai On Li Keqiang já assinou nomeação O primeiro-ministro chinês já assinou o decreto do Conselho de Estado que formaliza a nomeação de Fernando Chui Sai On como 4º Chefe do Executivo da RAEM. A notícia foi avançada ontem pela imprensa de língua chinesa e citada pela rádio Macau. De acordo com o Va Kio, Li Keqiang aproveitou a ocasião para manifestar confiança no líder do Governo, dizendo que Fernando Chui Sai On pode criar “um futuro brilhante para Macau”. Já o jornal Ou Mun destaca o recado deixado pelo primeiro-ministro chinês, no sentido de encorajar Macau a ser um território “pragmático e empreendedor”, diz a rádio. Chui Sai On vai estar em Pequim na próxima segunda-feira, precisamente para receber este decreto de nomeação do Conselho de Estado. Espera-se que, depois desta deslocação do Chefe do Executivo à capital chinesa, possa ficar decidido o elenco da próxima equipa governativa.

Dois novos terrenos para reserva militarO Conselho Executivo informou em nota de imprensa que decidiu delimitar como zona de reserva militar os terrenos situados no Quarteirão 9 da Zona de Aterros do Porto Exterior, em Macau, e o terreno junto à Calçada do Quartel e Estrada da Baía de Nossa Senhora da Esperança, na ilha da Taipa. Na mesma nota, o Conselho Executivo informa ainda que “é constituída uma reserva de uma parcela do terreno ilha da taipa”, situado junto à estrada da Baía de Nossa Senhora da Esperança, já decidido em 2012 como um terreno para utilização pela Guarnição em Macau do Exército de Libertação do Povo Chinês. A decisão foi tomada pelo Executivo e só carece agora de ser publicada em Boletim Oficial para se tornar oficializada.

ASSÉDIO SEXUAL REVISÃO SEM DATA CERTA PARA ACONTECER

Complicações e um passo atrás

HABITAÇÃO PÚBLICA ORDENAÇÃO POR CLASSIF ICAÇÃO A ANM entregou ontem uma petição onde apela ao Governo que volte a introduzir o sistema de ordenação por classificação dos candidatos à habitação económica, que existia antes da entrada em vigor da actual Lei de Habitação Económica. “O Instituto de Habitação deve regressar ao antigo sistema e alinhar as famílias, calculando as necessidades. De acordo com o número de famílias em lista de espera para uma habitação económica, o Governo deve delinear um plano para garantir uma oferta suficiente deste tipo de fracções”, diz Ng Kuok Cheong, citado pela Rádio Macau.

NOVO MACAU SEPARAÇÃO ENTRE ESCRITÓRIO DE DEPUTADOS E ASSOCIAÇÃO

Activismo versus Assembleia

que os trabalhos feitos até agora em matéria de revisão se complicaram e que vão ser precisos mais estudos sobre o tema.

“Este é um assunto muito com-plicado e muito delicado, por isso, apesar de em Julho termos afirmado que a parte inicial do processo já estava concluída, não sabemos quando vamos avançar para a re-visão. São precisos mais estudos. É muito complicado”, explicou a DSRJDI ao HM.

Recorde-se que, tal como o HM noticiou no início de Julho, a DSRJDI confirmou que, na al-tura, estava “terminado o estudo básico sobre a revisão do regime

da matéria penal relativo ao crime sexual” e que em seguida iria ini-ciar o “trabalho concreto sobre a revisão do Código Penal”, sendo que seria realizada oportunamente uma consulta pública. Algo que, até ao momento não aconteceu e nem se sabe, agora, quando irá acontecer.

“Não sabemos quando acon-tecerá a consulta pública”, infor-mou a DSRJDI. Relativamente à possibilidade de criação de uma lei individual, os serviços man-tiveram a mesma posição: não responderam.

É de lembrar que tanto o procu-rador do Ministério Público (MP), Ho Chio Meng, como a deputada Wong Kit Cheng, juntamente com outros deputados, mostraram publi-camente a sua vontade de elaborar uma lei própria para o crime de assédio sexual.

Actualmente, o crime de assédio é punido como se fosse um insulto. Wong Kit Cheng refere que o MP tem registado um tendência de subida em casos de assédio sexual, mas que, como o crime ainda não é um independente, só pode tratar dos casos como se de um crime de injúria se tratasse.

“Este é um assunto muito complicado e muito delicado, por isso, apesar de em Julho termos afirmado que a parte inicial do processo já estava concluída, não sabemos quando vamos avançar para a revisão”DSRJDI

estipula uma determinada quantia de fundos públicos para a gestão dos gabinetes dos deputados e o espaço não deve pertencer a uma associação.”

A polémica surgiu de-pois da saída de Jason Chao do cargo de presidente da Associação Novo Macau. Após uma reunião da direc-ção, esta semana, a associa-ção decidiu uma mudança na cooperação entre a ANM e o escritório dos deputados da ANM. “Tem de ser gerido pelos deputados”, remarca Ng Kuok Cheong. “É isto é que diz a lei.”

Ng Kuok Cheong e Au

Kam San são os dois depu-tados democratas membros da associação.

DECISÕES Por outro lado, o presidente da ANM, Sou Ka Hou, tem outra opinião. “Acho que desde a criação dos gabinetes dos deputados, em 2009, que a gestão é feita com fundos públicos. Os espaços não perten-cem à associação desde o início, mas a associação sempre teve um papel importante na supervisão e na prestação de serviços de assistência aos [deputa-dos]. E é isso que eu quero

firmemente que continue a acontecer.”

Ng Kuok Cheong consi-dera que a mudança do cargo

de presidente da associação casou esta mudança na fun-ção do escritório, porque o presidente actual dá mais atenção ao trabalho de desen-volvimento de democracia, não sendo como o antigo presidente, que se concentra mais no trabalho dos deputa-dos, diz o deputado.

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hoje macau sexta-feira 19.9.2014 7SOCIEDADE

ANDREIA SOFIA [email protected]

U M dos primeiros projectos que será desenvolvido pela recém-criada As-

sociação dos Passageiros de Táxi (MTPA, na sigla inglesa) baseia-se na criação de uma plataforma móvel e online para a entrega de queixas contra os taxistas em tempo real. A garantia foi dada ao HM por Andrew Scott, um dos mentores da associações e do grupo no Facebook que lhe deu ori-gem, intitulado “A vergonha dos condutores de táxi”.

“Vamos desenvolver um website e uma aplicação onde os membros da asso-ciação possam apresentar, em tempo real, através dos seus telemóveis, as quei-xas contra os taxistas e as suas experiências com os táxis de Macau. Esse será o primeiro projecto que queremos desenvolver e será muito mais prático do que o sistema manual que tem sido desenvolvido até aqui”, disse Andrew Scott.

A Universidade de Macau (UM) foi ontem eleita para a presidência da

Associação de Universidades de Língua Portuguesa (AULP) no triénio 2014-2017, disse à agência Lusa o vice-reitor Rui Martins. A eleição dos novos corpos sociais foi realizada por unanimidade, na sequência da apresentação de uma lista única de consenso, durante o XXIV encontro da AULP.

A UM, que ocupava, desde 2006, uma das vice-presidências da AULP para a Ásia-Pacífico, sucede à Universidade Lúrio (Moçambique) na liderança da organização.

A vice-presidência da AULP vai também ser ocupada pela Universidade de Coimbra (Por-tugal), Universidade Federal de Minas Gerais (Brasil), e Univer-sidade Mandume Ya Ndemufayo (Angola).

TÁXIS ASSOCIAÇÃO CRIA PLATAFORMA DE QUEIXAS EM TEMPO REAL

O poder aos passageiros

PEDIDAS MAIS PUNIÇÕES PARA TAXISTASO Conselho Consultivo dos Serviços Comunitários da Zona Central sugeriu ontem que o Governo ajuste o modelo de funcionamento dos táxis por chamadas telefónicas (rádio-táxis), aumente as punições por irregularidades e considere adicionar apenas licenças para os operadores desse tipo de táxis, para que se aumente a qualidade dos serviços do sector. O mesmo grupo sugere ainda que se simplifiquem os processos de queixas e que os taxistas que cometem infracções repetidas sejam punidos de forma diferente.

AULP UM ELEITA PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO ATÉ 2017

Macau a representar o ensinoA secretaria-geral da AULP vai

ser assumida por Cristina Sarmen-to, da Universidade de Lisboa. Já o Instituto Politécnico de Lisboa vai continuar a presidir ao Conselho Fiscal, onde o Instituto Politécnico de Macau vai manter a presença.

PRIORIDADES E APOIOSNo triénio 2014-2017, a AULP vai continuar a dar prioridade à organização dos encontros anuais, tendo a associação decidido ontem que o próximo será realizado em Cabo Verde, entre 15 e 17 de Julho de 2015, afirmou Rui Martins, que vai exercer a presidência da associação em representação do reitor, Wei Zhao.

O vice-reitor da UM expli-cou que a AULP vai continuar a apoiar o programa de intercâm-bio da CAPES [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior]. “Os programas que estão a decorrer e que foram lançados no mandato anterior, de cooperação, por exemplo, do Brasil e dos países africanos [de Língua Portuguesa] e de Portugal são uma prioridade importante”, sublinhou.

Outro objectivo é o reforço da relação entre os diversos países de língua portuguesa, numa altura em que se assiste a um aumento expo-nencial do número de universidades.

Rui Martins invocou ainda a maior interligação entre a AULP e a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa: “A AULP é mais antiga do que a CPLP, e essa também é uma das áreas que estamos a tentar dinamizar, mas é um plano para o futuro”. - Lusa/HM

Na próxima segunda-feira, a Associação dos Passageiros de Táxi ficará oficialmente criada. Andrew Scott, o seu mentor, confirma que será implementada uma plataforma online e via telemóvel para que as queixas sejam entregues mais rapidamente à DSAT

Todos os utilizadores po-dem escolher se a sua queixa irá ou não directamente para a Direcção dos Serviços

para os Assuntos de Tráfego (DSAT). “Essa informação vai ser entregue de forma voluntária à DSAT, para

que constantemente saibam as novidades relativamente aos bons e maus taxistas”, revelou Andrew Scott, que considera que essa platafor-ma poderá servir de apoio aos fiscais já existentes.

A MTPA já teve a aprova-ção oficial do Governo para a sua criação, devendo passar a existir oficialmente já a partir da próxima segunda--feira, dia 22. “Vamos abrir a nossa associação a mem-bros interessados em breve, mas penso que a maioria dos membros que temos no grupo do Facebook vão

querer juntar-se”, garantiu o responsável. Neste momen-to, o grupo “A vergonha dos condutores de táxi” já conta com 2315 membros.

DSAT COM MAIS ATENÇÃODepois da entrega da com-pilação de queixas sobre taxistas, promovida pelo grupo, e tendo em conta que está a decorrer uma consul-ta pública sobre a revisão do regulamento dos táxis, Andrew Scott não duvida de que o Governo está fi-nalmente a prestar atenção aos problemas provocados pelo mau comportamento dos taxistas.

“A DSAT está a levar esta questão muito mais a sério do que tem vindo a levar até aqui. Há muita publici-dade sobre este problema, têm debatido bastante esta questão, está a decorrer uma consulta pública sobre o assunto e penso que o Go-verno, a um alto nível, está motivado para resolver este problema, que é embaraçoso para Macau e que traz uma má imagem a uma cidade que quer ser um destino internacional de turismo”, disse o responsável.

Em relação à reacção da DSAT sobre o dossiê de queixas entregue, Scott diz

que foi formal. “Tivemos uma resposta formal, mas isso compreende-se porque o processo de consulta pública está a decorrer, é compreensível que a DSAT necessite de tempo para analisar todas as opiniões. Fico contente que tenha sido essa a resposta”, concluiu Andrew Scott.

“Vamos desenvolver um website e uma aplicação onde os membros da associação possam apresentar, em tempo real, através dos seus telemóveis, as queixas contra os taxistas e as suas experiências com os táxis de Macau”ANDREW SCOTT Mentor da Associação dos Passageiros de Táxi

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hoje macau sexta-feira 19.9.20148 sociedade

O magnata do jogo Ste-ve Wynn vai estar

na próxima semana em Macau, onde irá conduzir um seminário no novo campus da Universidade de Macau (UM). O impacto actual e futuro do turismo em Macau serve de mote ao seminário destinado a alunos e professores da Faculdade de Gestão de Empresas da UM que vai ser conduzido, na próxima terça-feira, pelo presidente e CEO da norte-americana Wynn Resorts.

Recorde-se que a Wynn prepara a sua entrada no Cotai, onde todos os ope-radores de jogo já têm ou se preparam para ter um espaço. O novo complexo, o terceiro com a assinatura Wynn, depois do Wynn Ma-

Três novos nomes passam a integrar a direcção da USJ. As entradas coincidem com o fim dos mandatos dos anteriores titulares dos cargos

A Universidade de São José anun-ciou três novos nomes para a di-

recção, entre eles o de Maria Antónia Espadinha, antiga professora da Universidade de Macau, que assumirá o cargo de vice-reitora.

As três substituições foram reveladas numa carta interna, a professores e alu-nos, a que a agência Lusa teve acesso, e confirmadas pelo reitor Peter Stilwell.

Além de Maria Antónia

USJ MARIA ANTÓNIA ESPADINHA É NOVA VICE-REITORA

Ligações comunitárias

“O meu trabalho aqui tem sido sempre em prol da língua [portuguesa], chamando a atenção para o património. Irei fazer algumas coisas na mesma linha, mas quem toma as decisões é o reitor”MARIA ANTÓNIA ESPADINHA

Espadinha, tomam posse a 29 de Setembro Susana Mieiro, como Administradora, e Vin-cent Yang, como pró-reitor para os assuntos académicos.

As novas contratações da instituição católica coinci-dem com o final do mandato da vice-reitora Anna Chan e do Administrador Victor Kuan - os mandatos termina-

ram formalmente em Maio, mas ambos estenderam os cargos na universidade durante os meses do Verão.

REFORÇOS COM EXPERIÊNCIA“Maria Antónia Espadinha é uma pessoa com imensa experiência universitária, conhece Macau lindamente e facilitará a ligação com vá-

rios sectores da comunidade portuguesa”, justifica Peter Stilwell.

O reitor espera que a nova vice-reitora possa reforçar a ligação à língua portuguesa e ao património português em Macau, duas questões em que o trabalho da académica tem incidido.

Já sobre Vincent Yang, profissional de Xangai que

passou também pelo Cana-dá, o reitor espera que traga “uma perspectiva do mundo chinês”. “É um homem conhecedor do mundo da administração e dos estudos internacionais”, indica.

Susana Mieiro já traba-lhava na universidade, liga-da à gestão da distribuição das aulas e dos directores das faculdades. Agora vai

também “articular a parte financeira”, a que o reitor atribui significativa impor-tância.

UM NO CORAÇÃOÀ agência Lusa, Maria An-tónia Espadinha conta que recebeu o convite com sa-tisfação. «É um desafio que me orgulha muito. Tenho muito gosto em colaborar com a Universidade de São José», diz.

Docente na Universida-de de Macau há mais de 20 anos, há dois que trabalhava a tempo parcial, por motivos de idade. “A Universida-de de Macau fica sempre no meu coração, tenho lá muitos amigos”, sublinha a antiga coordenadora do Departamento de Português.

A académica espera continuar a contribuir para as mesmas áreas, mas ainda não tem em mãos nenhum projecto concreto.

“O meu trabalho aqui tem sido sempre em prol da língua [portuguesa], chamando a atenção para o património. Irei fazer algu-mas coisas na mesma linha, mas quem toma as decisões é o reitor”, diz.

Anna Chan vai manter--se na universidade como professora de Teologia e Victor Kuan vai “reforçar” a Fundação Católica - en-tidade titular da São José, criada pela Universidade Católica Portuguesa e a Diocese de Macau - “para ajudar como o novo cam-pus” na Ilha Verde, ainda em construção, explica Peter Stilwell. - Lusa

UM Steve Wynn em Macau para palestra cau e do Encore, representa um investimento na ordem dos quatro mil milhões de dólares e tem a abertura pre-vista para a primeira metade de 2016. O “Wynn Palace” vai incluir 1700 quartos de hotel, uma dezena de res-

taurantes, um ‘spa’, espaços comerciais, clube nocturno e instalações para conven-ções e entretenimento, com Steve Wynn a prometer uma “forte componente de recei-tas provenientes da vertente extra jogo”.

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9 sociedadehoje macau sexta-feira 19.9.2014

FLORA FONG [email protected]

O subdirector dos Servi-ços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), Chiang Ngoc Vai,

afirmou que o organismo tem um plano piloto para criar par-químetros onde é possível pagar apenas dez minutos, sendo que o tempo limite de estacionamento é de uma hora. Estes dez minutos irão custar, segundo o plano, uma pataca.

As declarações foram feitas no programa Fórum Macau no canal chinês de televisão. Chiang Ngoc Vai referiu que, ao colocar em prática o plano, espera que se faça notar um aumento da taxa de rotação

CECÍLIA L [email protected]

O financiamento da Di-recção dos Serviços de Educação e Juventude

(DSEJ) aos alunos que estudam em Portugal é, actualmente, de 200 mil patacas, sendo que o fi-nanciamento da Fundação Macau (FM) é de 100 mil patacas. Num comunicado, a DSEJ explicou as dúvidas em relação aos montan-tes pagos pelas duas entidades públicas, com o que diz serem necessidades reais.

A DSEJ explica que criou o “plano de financiamento para a formação de professores de língua portuguesa e talentos bi-lingues”, sendo que o Fundo de Acção Social Escolar da DSEJ também coopera com a FM e um fundo de apoio a alunos do ensino

Jogo Chinesesafastam-se de MacauOs jogadores chineses de grandes apostas estão a começar a olhar para o mercado do jogo fora de Macau devido à acção do Governo Central em lutar contra a corrupção e extravagância. A notícia é avançada pela agência Bloomberg, que diz que este movimento tem impulsionado cada vez mais o jogo nos casinos das Filipinas e de Las Vegas. A agência noticiosa afirma ainda que há um número cada vez maior de visitantes chineses em Las Vegas e que os casinos de Melbourne e Manila estão numa verdadeira disputa pelos jogadores chineses VIP, que se deslocam através de jactos privados. Segunda a publicação, esta é a razão que explica os três meses seguidos de quebra nas receitas do jogo em Macau.

EUA Cônsul destaca “importante contributo” para Macau

O cônsul-geral dos Estados Uni-dos para Hong Kong e Macau,

Clifford A. Hart Jr., realçou ontem o importante contributo dos investidores norte-americanos para a prosperidade económica do território nos últimos anos. “Estou orgulhoso pelo facto de os investidores norte-americanos terem desempenhado um papel sig-nificativo na recente prosperidade de Macau”, afirmou, durante um almoço da Câmara de Comércio dos Estados Unidos em Macau, sublinhando que “o seu contínuo sucesso é fundamental para a capacidade de Macau de atrair mais investimento estrangeiro”.

“As nossas conquistas conjuntas po-dem ser medidas no tremendo aumento do investimento norte-americano em Macau ao longo da última década que, segundo as estimativas, ascendeu a 10 mil milhões de dólares, colocando os Estados Unidos em segundo lugar, a seguir a Hong Kong, como fonte de investimento directo estrangeiro em Macau”, realçou o diplomata que assu-miu funções no final de Julho de 2013.

Clifford A. Hart Jr. também focou as oportunidades de negócio que se abrem com a integração do Delta do Rio das Pérolas mostrando-se con-fiante de que firmas norte-americanas – nomeadamente dos sectores de cons-trução, engenharia e assuntos jurídicos – podem ter um papel a desempenhar na “gigantesca e realmente histórica” empreitada desenhada a médio/longo prazo para esta região.

“É verdadeiramente impressionan-te”, observou o cônsul, comentando o plano para a região nos próximos 20 anos, ao destacar o “orgulho” face à potencial selecção de empresas norte-americanas no processo e a confiança no seu dina-mismo para os anos que se seguem.

1pataca, custo

do estacionamento

de dez minutos

ENSINO DSEJ EXPLICA FINANCIAMENTO AOS ALUNOS EM PORTUGAL

Mais alto porque é preciso

TRÂNSITO DSAT PONDERA PARQUÍMETROS DE DEZ MINUTOS

Estacionamento rápido e eficaz

“A medida foi pensada tendoem conta os hábitos da vida diáriados residentes” CHIANG NGOC VAISubdirector da DSAT

OPERADORAS RESPONSÁVEIS PELO TRANSPORTE DE TNRChiang Ngoc Vai afirmou ainda que a DSAT está a negociar com as concessionárias de jogo a possibilidade de que estas se responsabilizem pelo transporte dos trabalhadores não residentes envolvidos na construção dos novos empreendimentos de jogo. A ideia é que as empresas utilizem os autocarros turísticos para garantir a deslocação destes funcionários. Chiang garantiu que as operadoras se mostraram positivas à proposta e, por isso, prevê que a medida seja implementada muito em breve.

de veículos em parquímetros, ou seja que haja uma maior circulação de carros.

“A medida foi pensada tendo em conta os hábitos da vida diária dos residentes, como por exem-plo, comprar jornais, comprar as suas refeições ou até tratar de algumas formalidades rápidas”, explicou, salientando que nada está decidido, pois ainda falta ouvir a opinião da sociedade. “Implementar esta medida não será algo que irá causar grande influência ou transformação na vida das pessoas, porque estamos

a falar de apenas dez ou vinte parquímetros”, explicou.

Para já, segundo Chiang é necessário rever os regulamen-

tos do plano para que, caso seja implementado, os residentes possam usar os bilhetes mensais de estacionamentos públicos.

superior que queiram continuar os seus estudos em Portugal.

O plano é, assim, “para formar mais professores no ensino de português e talentos bilingues, para melhorar a qualidade do ensino de português”, tendo sido criado no úl-timo ano lectivo de 2013/2014. Os alunos seleccionados foram para a Universidade Católica Portuguesa (UCP) para frequentarem um ano do curso de língua portuguesa, podendo continuar os estudos de mestrado na mesma área.

TALENTOS JURÍDICOS“O financiamento foi dado pela DSEJ e os alunos seleccionados

vão receber 105 mil patacas antes do curso e depois 200 mil patacas por cada ano de curso. Nesta parte a FM não participa”, garantiu a DSEJ em comunicado.

A DSEJ garante que o objec-tivo do apoio é ainda apoiar a formação de talentos jurídicos. Neste caso, a FM dá a cada aluno uma bolsa de 65 mil patacas, sendo que a DSEJ, através do Fundo de Acção Social Escolar, através do fundo para bolsas extraordinárias, dá entre cinco a sete mil patacas, consoante os cursos. As despesas de resi-dência também são pagas pela DSEJ. Neste ano lectivo, são dadas cerca de 2100 patacas mensais, bem como a ajuda para o voo de ida e regresso, sendo que o máximo pago é 6500 patacas.

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10 CHINA hoje macau sexta-feira 19.9.2014

O Presidente chinês, Xi Jinping, anun-ciou ontem um pa-cote de 200 milhões

de yuan para ajudar a combater a epidemia nos países da África Ocidental.

O pacote, inclui dinheiro, ali-mentos e equipamentos, indicou Xi Jinping, durante a sua visita

O segundo e último dia do julgamento por separatismo

contra o académico uigur Ilham Tohti começou esta quinta-feira na região chi-nesa de Xinjiang sem que se espere que o tribunal anuncie o veredicto.

“Ainda não podemos saber, mas é provável que lhe castiguem com até dez anos de prisão”, declarou o advogado Li Fangping a um grupo de jornalistas e diplomatas, pouco antes de entrar no Tribunal Po-pular de Urumqi, capital de Xinjiang, protegido por um forte dispositivo policial.

Segundo confirmou à Agência Efe outro dos advogados do intelectual, Liu Xiaoyuan, Tohti decla-rou-se inocente das acusa-ções durante o primeiro dia

Índia e China querem solução pacífica para diferendo fronteiriçoO primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, e o presidente chinês, Xi Jingping, asseguraram ontem querer encontrar uma solução pacífica para o seu diferendo fronteiriço, quando centenas de tropas dos dois países estão frente a frente na região de Ladakh. “Dei conta da minha profunda preocupação com os incidentes ao longo da fronteira. Estamos de acordo sobre o facto de que a paz e a tranquilidade na região fronteiriça constituem uma parte essencial da confiança mútua”, disse Modi após um encontro com Xi, em visita a Nova Deli. “Temos de encontrar uma solução rápida para a questão fronteiriça”, adiantou durante declarações à imprensa. O presidente chinês assegurou que o seu país se comprometeu a “trabalhar com a Índia para manter a paz e a tranquilidade” ao longo da fronteira “antes de conseguir resolver o problema”. Os dois países estão envolvidos há muito numa disputa sobre a fronteira na região de Ladakh (norte), com acusações mútuas sobre a entrada de soldados do outro lado no seu território.

Preços de novas habitações caem nas grandes cidades O sector imobiliário chinês mostrou sinais de arrefecimento em Agosto, mês em que um maior número de cidades registou quedas nos preços das novas habitações, em comparação com o mês anterior, segundo publicou ontem o Gabinete Nacional de Estatística chinês. Entre as 70 grandes cidades chinesas analisadas, 68 assistiu à queda dos preços das novas habitações, com a cidade de Xiamen (na província de Fujian) a ser a única onde se registaram subidas (ainda que de apenas 0,2%) e Wenzhou (em Zhejiang) com os preços congelados. Já em Hangzhou, a capital da província de Zhejiang, foi a cidade onde os preços caíram mais, 2,1%. Pequim e Xangai obtiveram descidas de 1,2% e 1,3%, respectivamente. Quanto às habitações já existentes, os valores baixaram em 67 cidades chinesas em Agosto, em contraste com as 65 em Julho. Cantão, capital da província de Guangdong, registou a maior descida deste tipo, 1,4% em comparação com Julho.

Filho de Jackie Chan formalmente preso

JAYCEE Chan, o filho mais velho do actor Jackie Chan, foi formalmente preso sob acusação de

uso de drogas quase um mês depois da polícia chi-nesa o ter detido por fumar marijuana em Pequim.

A Procuradoria de Dongcheng, na capital chi-nesa, confirmou a prisão de Jaycee Chan, também actor, acusando-o de “alojar consumidores de drogas”, um delito que pode implicar uma pena de prisão até três anos, segundo a imprensa local.

Jaycee Chan, de 32 anos, foi detido a 14 de Agosto com o seu amigo e actor taiwanês Ko Chen--tung, de 23 anos, por consumo de drogas num estabelecimento de massagens de pés em Pequim.

As forças de segurança apreenderam mais de 100 gramas de marijuana na residência de Chan e a operação policial desencadeada em sua casa acaba por lhe imputar acusações mais graves do que as feitas ao seu amigo.

Ko Chen-tung foi castigado com 14 dias de prisão administrativa depois de admitir ter consu-mido a droga. Após a libertação, o actor taiwanês falou aos jornalistas acompanhado dos pais e do seu agente, tendo apresentado desculpas públicas pela sua conduta.

Jackie Chan, pai de Jaycee, foi nomeado “em-baixador anti-droga” em 2008 pelas autoridades chinesas e já apresentou desculpas pela conduta do seu filho, tendo salientado também a vontade de o ajudar a recuperar-se.

ÉBOLA XI JINPING ANUNCIA AJUDA DE 200 MILHÕES DE YUAN

Combate de alto risco

4.985pessoas infectadas

2.461mortos, desde Dezembro último

ÚLTIMO DIA DE JULGAMENTO DE LÍDER UIGUR

Pena imprevisível

de Estado à Índia, revelando que a China também vai fornecer 2 milhões de dólares à Organização Mundial de Saúde (OMS) em dinheiro, a mesma verba a ser entregue à União Africana.

A propagação do Ébola na África Ocidental tem figurado como um grave desafio para a comunidade internacional,

incluindo a China e a Índia, real-çou, em declarações citadas pela agência Xinhua.

O novo pacote de ajuda visa ajudar a Libéria, Serra Leoa, a Guiné-Conacri e outros países no combate ao vírus, aumentando a capacidade de prevenção da epidemia nas nações vizinhas e apoiando as organizações regio-

nais competentes no desempenho de um papel de liderança e coor-denação no combate ao Ébola, afirmou Xi Jinping.

NO TERRENOO porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Hong Lei, disse, esta quarta--feira, que uma equipa de um laboratório, formada por 59 pes-soas, foi destacada para a Serra Leoa para ajudar a melhorar os testes laboratoriais como parte dos esforços.

Anteriormente, a China já tinha enviado materiais médicos e 115 especialistas para a Guiné--Conacri, Libéria, Serra Leoa e Guiné-Bissau.

As Nações Unidas alertaram, esta terça-feira, que são precisos quase 800 milhões de euros para combater a epidemia de Ébola na África Ocidental, estimando que o vírus se propague em áreas habitadas por mais de 22 milhões de pessoas.

Segundo os mais recentes dados da OMS, 4.985 pessoas foram infectadas e 2.461 morre-ram desde o início deste surto de Ébola, em dezembro último.

Dinheiro, alimentos e pessoal especializado são algumas das componentes de um novo pacote de ajuda chinesana luta contra o vírus

de julgamento, no qual a acusação alegou que o intelectual tinha liderado um grupo de separatistas de oito pessoas.

Neste grupo encon-tram-se alguns dos estu-dantes de Tohti na Univer-sidade Minzu de Pequim, especializada em etnias.

DESTINO DESCONHECIDOSegundo alertam orga-nizações de direitos hu-manos, desconhece-se o paradeiro dos estudantes

detidos, que serão pro-cessados por um tribunal diferente do de Tohti num caso à parte.

“Tohti está muito preo-cupado com os seus alu-nos”, disse ontem à Efe um diplomata europeu deslocado para Urumqi para apoiar o intelectual e estar em contacto com os advogados do acusa-do, que está detido desde Janeiro sem poder ver sua família até ontem, primei-ro dia do processo.

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11 chinahoje macau sexta-feira 19.9.2014

14 badaladas para assinalar os 14 anos da guerra sino--japonesa que teve início há 83 anos quando o exército nipónico invadiu o nordeste da China

H Á 83 anos, durante a noite, as tropas ja-ponesas invadiram a região nordeste

da China, criando o “inci-dente de 18 de Setembro” dando início à guerra sino--japonesa. Ontem, várias cidades chinesas realizaram actividades comemorativas para lembrar o episódio histórico.

Às nove horas e dezoito minutos, da manhã, o som de sinos ecoou na cidade de Shenyang, na região nordeste. As 14 badaladas simbolizam os 14 anos da guerra sino-japonesa.

Ao mesmo tempo, os alertas aéreos foram tam-bém tocados nas cidades de Hefei, Wuhu e Dingyuan, no sul, e em Harbin, no

Hong Kong Cinco alegados ladrões de jóias detidos Cinco alegados ladrões de jóias foram detidos esta semana em Hong Kong por tentativa de roubo depedras preciosas na feira da especialidade que começou segunda-feira na antiga colónia britânica. No total, os cinco detidos tentaram apropriar-se de jóias e pedras preciosas com um valor equivalente a 683.000 euros e a polícia acredita tratar-se de um gangue com origem na China continental. A última detenção aconteceu na quarta-feira quando um homem de 41 anos, apresentando-se como comprador tentou trocar uma pedra de cinco quilates com um valor de cerca de 300.000 euros por uma falsificação, revelou o diário de língua inglesa South China Morning Post.

Hunan Quadrilhade droga desmantelada A polícia chinesa prendeu 32 pessoas e confiscou mais de 50 quilos de heroína numa campanha contra uma quadrilha de droga na Província de Hunan, centro do país, informaram as autoridades locais na quarta-feira. A rede de droga envolve três províncias, disse Zhou Xuenong, chefe da polícia da cidade de Hengyang, Hunan. A polícia local passou cerca de quatro meses a investigar a quadrilha. De acordo com as autoridades, os suspeitos presos confessaram as acusações de tráfico e venda de droga. A polícia deteve também dinheiro no valor de cerca de um milhão de dólares durante a operação.

PEQUIM ASSINALA INÍCIO DA INVASÃO JAPONESA

Os sinos da memória

“Não foi nada fácil para a China vencer esta guerra, que demorou tantos anos, e na qual se sacrificaram tantos mártires. (...) Na prática, o povo japonês foi também vítima da guerra. O dia de hoje merece ser assinalado por ambas partes”

nordeste. Em Pequim, a capital chinesa, muitas pessoas visitaram o Museu de Comemoração da Guerra Sino-Japonesa. A senhora Liu, professora de 53 anos, ficou emocionada ao ver a exposição.

“Hoje é o dia comemo-rativo do incidente de 18 de Setembro. Não foi nada fá-cil para a China vencer esta guerra, que demorou tantos anos, e na qual se sacrifica-ram tantos mártires. Acho que devemos salvaguardar a paz. Na prática, o povo japonês foi também vítima

da guerra. O dia de hoje merece ser assinalado por ambas partes.”

DOS SEQUESTRADOSFoi também realizada on-tem uma cerimónia de lançamento da colecção de arquivos dos trabalhadores chineses sequestrados pelo Japão. A colecção com-põe 60 exemplares e com mais de 30 mil páginas. O documento foi escrito pelo governo e empresas japonesas, que distorceram intencionalmente os factos de forçar, escravizar e matar

trabalhadores chineses. A conservação dos arquivos passou por um caminho complexo, e a maioria já foi destruída. O resto foi guardado por Chen Kun-wang durante mais de meio século, até ser doado ao Museu. O vice-director do Museu de Comemoração da Guerra Sino-Japonesa,

Li Zongyuan, falou sobre a publicação dos registos.

“No ano passado, exibi-mos pela primeira vez estes documentos. Após um ano de preparação cuidadosa, publicamos este ano a co-lecção, que serve de prova da história. A publicação permite que mais pessoas tenham acesso aos registos, facilitando os estudos e investigações, e ao mesmo

tempo, revela os crimes cometidos pelo Japão contra os trabalhadores chineses.”

TENDÊNCIAS PERIGOSASNos últimos anos, o go-verno japonês tentou in-terromper as restrições da Constituição da Paz e reforçou a capacidade das forças armadas. O vice-

-director da instituição de pesquisa sobre o Japão da Academia Chinesa de Ciência Social,Yang Bo-jiang, alertou para a tendên-cia do neo-imperialismo do Japão.

“Nos últimos anos, o governo japonês deu passos na quebra de restrições, como a implementação do direito de defesa colectiva e a exportação de armas. To-

das estas medidas reflectem o conceito de imperialismo na mente dos líderes japo-neses. Lembramos o dia comemorativo de 18 de Setembro para valorizar a paz e explorar o caminho do futuro. E, mais importante, aproveitar a maré desta era para nos tornarmos mais fortes.”

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hoje macau sexta-feira 19.9.201412 publicidade

Page 13: Hoje Macau 19 SET 2014 #3178

hoje macau sexta-feira 19.9.2014 13EVENTOS

AS MENINAS • Agustina Bessa-Luís, Paula RegoAs Meninas estão de Volta. Que uma pinta monstros e seres ameaçadores, que a outra imagina e descreve personagens perversos e de uma ironia cruel. São duas mulheres e são ainda duas meninas. Do seu encontro surgiu uma obra única. Aclamado pela crítica, o livro As Meninas regressa finalmente às livrarias, agora num novo formato. “Nunca tinha lido nada da Agustina Bessa-Luís. Só agora é que a estou a ler. E escreve muito bem. Tem uma escrita extremamente visual. Vêem-se imagens muito fortes no livro.” – Paula Rego ao Expresso. “A obra de Paula Rego parte das Meninas como um barco para o país da utopia.” – Agustina Bessa-Luís

ESCRITOS PORNOGRÁFICOS • Boris Vian«Sexualmente, quer dizer com a minha alma», escreveu Vian. É uma alma plena de Liberda-de, título de um dos textos aqui contidos, que o leitor descobre nos Escritos Pornográficos: a liberdade de amar sob todas as formas, de o dizer sem falsos artifícios; a liberdade da dimensão carnal do amor, que revela as suas luzes e sombras. 50 anos depois da sua morte, a primeira tradução portuguesa de Escritos Pornográficos sublinha uma clara evidência: Boris Vian, o alquimista da linguagem e das formas, passou como um meteorito no meio do século XX, deixando um rastro ofuscante, enigmático e inspirador – que nunca se apagará.

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • [email protected]

O QUE FAZER ESTA SEMANA?HOJE

SEMINÁRIO THE REBIRTH OF DOOM,UM PROJECTO ENTRE MACAU E TAIWANCreative Macau, 17h30ENTRADA LIVRE

BRANCA DE NEVE (BAILADO)Centro Cultural de Macau, 20h00150 – 300 PATACAS

AMANHÓSENSE & SENSIBILITY: OTHER WAYS OF ENGAGING THE CITY” (SIMPÓSIO)Centro de Arquitectura e Urbanismo da Universidade de São José09h00 – 18h00ENTRADA LIVRE

CONCURSO DE FOGO DE ARTIFÍCIO DE MACAU Equipa da China Largo da Torre de Macau, 21h00ENTRADA LIVRE

BRANCA DE NEVE (BAILADO)Centro Cultural de Macau, 20h00150 – 300 PATACAS

APRESENTAÇÃO DO CD “NINE DISTINCTIVE MACAU SINGERS. UNIQUE MACAU ORIGINALMELODIES”Praça da Amizade, 17h00ENTRADA LIVRE

BEISHAN JAZZ FESTIVAL Beishan, Zhuhai, China, 14h0080 YUAN

DOMINGOSEMINÁRIO “DESEJO E MEDO DE EXISTIR”PELO FILÓSOFO JOSÉ GIL Centro de Ciência de Macau, 15h00ENTRADA LIVRE

BEISHAN JAZZ FESTIVAL Beishan, Zhuhai, China, 14h0080 YUAN

É uma exposição que reúne as maiores descobertas arqueológi-cas de Guangdong, Hong Kong e Macau e abrirá portas na próxima

semana. A mostra, com o título “Marcas His-

tóricas de Lingnan: Os Mais Notáveis Achados Arqueológicos de Guangdong, Hong Kong e Macau”, marcará presença no Museu de Macau, depois de passar pelo Museu de Cantão e pelo Museu de História de Hong Kong.

Em Macau, está marcada para o dia 25 de Setembro pelas 18 horas. A expo-sição estará disponível até ao dia 11 de Janeiro de 2015.

Palavras populares na internetadicionadas a dicionário de chinês A última versão do dicionário padronizado de chinês incluiu novas palavras usadas frequentemente por cibernautas. Mais de cem expressões “quentes” foram adicionadas à 3ª edição do Dicionário do Chinês Estandardizado Contemporâneo, que foi publicado em Agosto. Os termos mais destacáveis são Tu Cao (pronúncia de Tu Tsao, que significa queixar, gozar ou comentar, conforme os contextos), Wei Xin (WeChat) e Shi Lian (perder contactos), entre outros. Novos significados ou aplicações de algumas palavras antigas também foram acrescentados. Por exemplo, a palavra chinesa Tu Hao significa, originalmente, “pessoas que exploram agricultores, aproveitando-se da sua riqueza ou poder”. Actualmente, também se refere àqueles que são ricos, mas possuem poucos conhecimentos culturais e valores correctos. Para além disto, mais de 400 caracteres, foram também incluídos e são usados principalmente em nomes, toponímias e tecnologia, etc. A nova versão tem mais de 12.000 caracteres individuais, assim como 72.000 expressões chinesas.

FRC Pauta de Históriascom José Tolentino Mendonça

O vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa, José Tolentino Mendonça é o orador convidado para guiar a palestra “O Contributo da Cultura para o desenvolvimento”. A ter lugar no próximo dia 25 de Setembro na Fundação Rui Cunha, a palestra é organizada conjuntamente pela Universidade de São José e pelo Centro de Reflexão, Estudo

e Difusão do Direito de Macau da FRC. O evento tem lugar às 18h30, com entrada livre.

A 29 de Novembro, o Grande Auditório do Centro Cul-tural de Macau (CCM)

abrirá as suas portas ao compo-sitor Jordi Savall, considerado um ícone musical, que se fará

CCM JORDI SAVALL COM HESPÈRION XXI

O ícone que faltavaacompanhar pelo grupo musical Hespèrion XXI, ao qual pertence. O CCM promete uma noite em que os espectadores conseguirão viajar ao som de composições compostas “por instrumentos raros no mundo”.

Jordi Savall é de origem catalã e formou-se em estu-dos superiores de música no Conservatório de Barcelona. O seu percurso na vida musi-cal tem sido marcado pela sua educação na música clássica e antiga. O músico conta já com mais de 25 anos de car-reira, com os quais arrecadou vários prémios. Foi membro do grupo Montserrat Figueras e actualmente lidera o grupo Hespèrion XXI, que tem como principal objectivo “revitali-zar a música antiga”, ou seja, música que surgiu nos séculos VII, VIII e IX.

O também compositor diri-giu as orquestras Gulbenkian, Camerata de Salzburgo, Wie-ner Kammerircheste e a Or-questra Filarmónica de São Francisco.

O evento está marcado para as 20h00 e os bilhetes custam entre 100 a 250 patacas.

EXPOSIÇÃO ACHADOS ARQUEOLÓGICOS DE GUANGDONG, HONG KONG E MACAU

As maiores descobertas

No decorrer da mostra, o Museu de Macau irá também organizar três palestras: “Principais Resultados e Especificidades das Escavações Arqueológicas de Lingnan” (em cantonense), contando como orador

convidado o Director do Heritage Museum de Hong Kong, Chau Hing Wah; “Recons-truindo a História Antiga de Lingnan – As Grandes Descobertas Arqueológicas de Guangdong” (em mandarim), pelo Director do Museu de Cantão, Wei Jun, e “Traba-lhos Arqueológicos Recentes em Macau e Respectivos Resultados” (em cantonense), orientada pela Chefe do Departamento do Património Cultural do IC, Chio Ut Hong. As palestras terão lugar, respectivamente, nos dias 27 de Setembro, 8 de Novembro e 6 de Dezembro das 15h00 às 17h00 horas, na Sala de Conferências do Museu de Macau.

O evento tem entrada livre, bem como as palestras.

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14 hoje macau sexta-feira 19.9.2014

hARTE

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IDEI

AS José simões morais

A Embaixada encontrava-se des-de 29 de Maio de 1587 em Goa, onde passou onze meses, quase quatro anos depois de ali

ter ficado poucos dias, sendo nesse Setem-bro de 1583 recebida pelo Vice-rei da Ín-dia, D. Francisco Mascarenhas (1581-84). O padre Alexandre Valignano S.J., que aí permaneceu pois nomeado Provincial dos Jesuítas, voltava a encontrar-se com os embaixadores e o Padre Nuno Rodrigues, acompanhante da Embaixada desde o Ja-pão como intérprete, que substituíra Va-lignano no cargo de Procurador da Embai-xada japonesa a Roma, vinha agora como Superior, para exercer o cargo Provincial de Goa.

Aqui os embaixadores japoneses rece-beram cartas do seu país, ficando a saber da morte de Oda Nobunaga e estar o Ja-pão a ser governado pelo Shogun Toyo-tomi Hideyoshi. A Embaixada procedia já aos preparativos para a última jornada da viagem quando chegou a notícia que o

CHEGADA AO JAPÃODA EMBAIXADA JAPONESA

Shogun Hideyoshi a 25 de Julho de 1587 decretara a expulsão do Japão e o dester-ro de todos os missionários. Tal levou a uma mudança de planos para enviar de volta a Embaixada japonesa. Ao saber das mudanças políticas no Japão e da perse-guição aos cristãos, o Padre Visitador Va-lignano conseguiu do Vice-rei da Índia, D. Duarte de Menezes, as credenciais de embaixador, para prevenir as dificuldades de entrar no Japão como sacerdote e ter ainda uma maior dignidade na recepção com o Shogun Hideyoshi.

A Embaixada, acompanhada por dezassete jesuítas, saiu de Goa a 22 de Abril de 1588 numa nau de Aires Gon-çalves de Miranda e após setenta dias de viagem estava no porto de Malaca, ficando hospedada durante doze dias no Colégio da Companhia. A 4 de Maio partiu para Macau, onde chegou a 28 de Julho, ou a 11 de Agosto de 1588, como refere António J. Figueiredo.

Em Macau, os embaixadores foram recebidos com grande afecto, tendo permanecido durante ano e meio na Ci-

dade do Nome de Deus para Valignano melhor se inteirar sobre a situação no Ja-pão. Como embaixador do Vice-rei da Índia, o padre jesuíta enviou de Macau uma carta ao Shogun Hideyoshi a soli-citar entrada no Japão, mensagem que foi levada em 1588 na nau de Jerónimo Pereira.

Durante a estadia em Macau, Valig-nano continuou os seus estudos inicia-dos em Goa para aprender japonês. De referir que no ano de 1589 não houve viagem da Nau do Trato. Nas vésperas de regressar ao Japão, o Irmão Jorge Loyola morreu. Já com a resposta afirma-tiva, a embaixada partiu de Macau por volta do dia 8 de Julho de 1590, numa nau de Macau capitaneada por António da Costa.

CHEGADA AO JAPÃO

A Embaixada, após uma longa viagem em que visitara as principais cortes eu-ropeias, assim como em Roma estivera com dois Papas, regressava de novo ao Japão, aportando em Nagasáqui a 21 de Julho de 1590, oito anos depois de daí ter partido.

A nau de Macau entrou no porto de Nagasáqui trazendo a Embaixada e o Vi-sitador, Padre Alexandre Valignano, que fora o mentor da viagem e agora chega-va também como emissário do Vice-rei da Índia. Esperava-se que conseguisse acalmar a ira de Toyotomi Hideyoshi, o qual, três anos antes havia decretado o desterro de todos os missionários.

Nagasáqui estava em festa. Regressa-vam Mancio Itoo, enviado do Dáimio de Bungo, D. Francisco Otomo Yoshishige, Miguel Chijiwa, enviado de D. Prota-sio Arima Harunobu, Dáimio de Arima e de D. Bartolomeu Sumitada, Dáimio de Omura e com eles, no cais, os seus dois companheiros, Martin Hara e Ju-lian Nakaura, ambos filhos de vassalos de Omura, assim como o ajudante Con-stantino Dourado. Faltava o Irmão Jorge Loyola.

Saíram crianças, regressavam ho-mens. Amadurecidos pela longa viagem, o acolhimento que os seus compatriotas lhes dispensaram tornou-os conscientes da missão que tinham para realizar.

Oito anos e meio tinham passado e o ambiente que vieram encontrar no Japão era muito diferente. Na sua ausência, muitas coisas mudaram. Morrera Oda Nobunaga, o homem que governava o

OITO ANOS E MEIO TINHAM PASSADO E O AMBIENTE QUE VIERAM ENCONTRAR NO JAPÃO ERA MUITO DIFERENTE. (...)A IGREJA, QUE NA ALTURA DA PARTIDA DA EMBAIXADA ESTAVA FLORESCENTE E PLENA DE PROMESSAS, VIA-SE AGORA PROSCRITA PELO ÉDITO DE HIDEYOSHI, QUE BANIA OS PADRES DO JAPÃO, APESAR DE ESTE NÃO SER CUMPRIDO

GOA

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15 artes, letras e ideiashoje macau sexta-feira 19.9.2014

Japão quando eles partiram e no seu lu-gar, como shogun, estava o seu ajudante de campo, Toyotomi Hideyoshi. O se-minário de Azuchi, assim como a cida-de, fora destruída, tal como Nagasáqui ardera totalmente em 1583. Os dáimio de Otomo e Omura tinham também fa-lecido, sendo Protasio Arima Harunobu o único sobrevivente. A Igreja, que na altura da partida da Embaixada estava florescente e plena de promessas, via-se agora proscrita pelo édito de Hideyoshi, que bania os padres do Japão, apesar de este não ser cumprido.

A notícia da chegada da nau e dos enviados espalhou-se rapidamente. De todas as partes vieram cristãos para os ver. No dia seguinte apresentou-se em Nagasáqui, para saudar o seu primo Mi-guel Chijiwa, o Dáimio de Omura, D. Sancho Yoshiaki, filho de D. Bartolomeu Sumitada. Um dia mais tarde chegou D. Protasio Arima Harunobu com o seu ir-mão D. León, apesar de não ser costume sair dos seus domínios.

À chegada, Miguel Chijiwa estava doente, o que não impediu que o Dái-mio de Arima fosse ao seu camarote e conversasse com ele durante várias ho-ras.

Vieram igualmente outros parentes dos legados, que devido às mudanças do longo tempo que estiveram fora, não re-conheceram os seus familiares. O Padre Fróis refere que a mãe de Dom Miguel não reconheceu o seu filho, tal como ocorreu com ele e os seus primos e ape-nas “bem conheceu logo a Arimandono, porque o deixava já homem ao tem-po que do Japão partiu. E Dom Martin não conheceu seu irmão, nem seu irmão a ele”, passando o mesmo com os seus pais. As irmãs de Dom Julian não o reco-nheceram e o mesmo aconteceu depois a Dom Mancio, quando sua mãe, do reino de Fiunga, o veio visitar a Nagasáqui.

A festa de recepção aos embaixado-res japoneses, que tinham ido a Roma visitar o Sumo Pontífice, continuava em Nagasáqui. Os dáimio de Omura e Ari-ma queriam realizar logo ali a cerimónia solene de recepção dos seus legados, mas “Valignano não desejava que o impacto da delegação se perdesse em acções de menor importância. O objectivo funda-mental era conseguir a todo o custo ob-ter de novo os favores de Toyotomi Hi-deyoshi; por isso, decide unir aos jovens

legados à embaixada que ele trazia da parte do Vice-rei da Índia”. Nesta altura, D. Duarte de Meneses tinha já falecido; morte ocorrida em Goa a 4 de Maio de 1588. A apresentação da resposta do Papa aos dois dáimios é adiada para de-pois da audiência com Hideyoshi.

Como o Shogun Hideyoshi não ti-nha pressa em receber Valignano, os jovens legados fizeram primeiro umas visitas de cortesia a Arima e Omura.

Em Arima, Miguel Chijiwa foi re-cebido com muitas honras por Protasio Harunobu, o único sobrevivente dos três dáimio ligados à legação.

VIAGEM ATÉ QUIOTO

A 17 de Fevereiro de 1591, Valignano e os quatro legados prosseguiram por caminhos diferentes a sua viagem até Osaca, onde foram visitados por figuras ilustres que quiseram ouvir de viva voz o relato da viagem. Reuniram-se de novo em Ximonoseque e no porto de Muro esperaram dois longos meses pela res-posta de Hideyoshi. Daí foram pelo rio até Toba, já às portas de Quioto. Estava próximo o Novo Ano, altura em que os dáimio iam à capital felicitar o Shogun Hideyoshi. Dez anos antes, o Padre Va-

lignano fora recebido em Quioto por Oda Nobunaga.

Valignano, investido no cargo de embaixador do Vice-rei da Índia, prepa-rara com extremo cuidado a sua delega-ção para ir visitar Toyotomi Hideyoshi, mostrando representar um poderoso se-nhor. A sua comitiva ia toda ela ricamen-te trajada e os presentes que levava eram luxuosos e invulgares.

A 3 de Março de 1591 foram recebi-dos no palácio de Hideyoshi e durante a recepção, os jovens embaixadores to-caram instrumentos musicais ocidentais, cravo e harpa, alaúde e rabequinha, vio-las de arco e realejo, o que muito agra-dou ao shogun. A troca de presentes foi efectuada, tendo Valignano entregue os que trazia do Vice-rei, recebendo em troca outros. No entanto, não se com-pararam com o valor da reconciliação de Hideyoshi para com os cristãos, apesar de formalmente se manter o édito de 24 de Julho de 1587, decretado pelo mes-mo shogun.

Durante os relatos que fizeram a Hideyoshi sobre a viagem, nas memó-rias dos embaixadores terão passado as lembranças de momentos inesquecíveis

(Continua na página seguinte)

A 3 DE MARÇO DE 1591 FORAM RECEBIDOS NO PALÁCIO DE HIDEYOSHI E DURANTE A RECEPÇÃO, OS JOVENS EMBAIXADORES TOCARAM INSTRUMENTOS MUSICAIS OCIDENTAIS, CRAVO E HARPA, ALAÚDE E RABEQUINHA, VIOLAS DE ARCO E REALEJO, O QUE MUITO AGRADOU AO SHOGUN

OS DOIS PRINCIPAIS OBJECTIVOS QUE VALIGNANO TRAÇARA PARA A REALIZAÇÃO DA EMBAIXADA JAPONESA A ROMA TINHAM SIDO ALCANÇADOS. EM ROMA E EM MADRID, APÓS APRESENTAR A DELEGAÇÃO JAPONESA COMO FRUTO DA EVANGELIZAÇÃO, TINHA CONSEGUIDO NOVAS AJUDAS FINANCEIRAS PARA A PROPAGAÇÃO DA FÉ CATÓLICA NO JAPÃO

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16 hoje macau sexta-feira 19.9.2014h

como, a audiência de Filipe II, na qual Mancio Itoo corou quando o rei curio-so examinou o seu traje japonês e as infantas riram traquinas enquanto Jorge Loyola lia em japonês a mensagem dos dáimios, assim como o abraço paternal do Papa Gregório XIII.

Os dois principais objectivos que Valignano traçara para a realização da Embaixada Japonesa a Roma tinham sido alcançados. Em Roma e em Madrid, após apresentar a delegação japonesa como fruto da evangelização, tinha con-seguido novas ajudas financeiras para a propagação da fé católica no Japão. O Papa Sixto V, pela bula Hodie Sanctissi-mus in Christo Pater de 14 de Fevereiro de 1588, tinha separado do bispado de Macau o território japonês, criando o bispado de Funai, na província de Bun-go. O segundo objectivo, que era o de dar ao Japão testemunhos japoneses do esplendor daqueles países cristãos, de onde tinham saído os missionários, de-pendia agora da atitude que os enviados japoneses tomassem no Japão.

No dia seguinte Hideyoshi chamou novamente Mancio, que se apresentou com o irmão João Rodriguez, para que o ensinassem a manejar um relógio que lhe tinha oferecido Valignano. Nessa ocasião, o shogun aproveitou para pedir novamente a Mancio que entrasse ao seu serviço, mas este, com diplomacia, con-tornou o problema.

No dia 5 de Março, Hideyoshi teve que sair de Quioto e assim os legados puderam empreender o regresso a Na-gasáqui. No caminho tiveram uma ac-tuação em Hirado, na presença do velho dáimio Matsura Takanobu, aquele que ti-nha recebido S. Francisco Xavier. Apesar de viver retirado, ao ouvir que os jovens embaixadores estavam de passagem em Hirado, convidou-os e esteve com eles até à meia-noite. A viagem de regresso a Nagasáqui, devido ao vento favorável, demorou apenas um dia. Era em Nagasá-qui que Valignano tinha que esperar pela resposta de Hideyoshi e por isso, resol-veu ir a Arima fazer a entrega solene aos dáimios de Arima e Omura dos objectos, relíquias e Breve que Sua Santidade lhes tinha enviado. Valignano regressou a Nagasáqui, enquanto os legados ficaram durante uma semana em Arima.

Em 1592, os quatro membros da em-baixada japonesa entraram na Compa-nhia de Jesus e a 25 de Julho de 1593 fizeram os votos religiosos.

Em 1601, Valignano enviou para Ma-cau dezassete irmãos para que comple-tassem os seus estudos e entre eles esta-vam Mancio Itoo e Julian Nakaura, que durante três anos estudaram Teologia e regressaram em 1604 ao Japão, na nau de João Caiado de Gamboa, quando Va-lignano se encontrava de novo em Ma-cau. O Padre Mancio Itoo faleceu por doença por volta de 1612, Julião Nakau-ra morreu em 18 de Outubro de 1633 como mártir, enquanto Miguel Chijiwa apostatou. Já Martin Hara sofreu exem-plarmente em silêncio, tendo em con-junto com outros missionários abando-nado Nagasáqui em Outubro de 1614,

na altura da perseguição geral contra o cristianismo e seguido para Macau, aí permaneceu até falecer a 23 de Outubro de 1629.

Com a Embaixada vinha uma tipo-grafia móvel, a primeira do Japão, que ficou instalada em Amacusa e o primeiro livro aí editado na tipografia dos jesuítas foi impresso em 1591, ou 1592, ficando Constantino Dourado no ofício de tipó-grafo, aprendido em Lisboa. Constantino foi ordenado sacerdote e após seguir para Macau, aí foi nomeado reitor do Colégio.

A RAZÃO PARA ESTA SÉRIE DE ARTIGOS

Valignano levava já impressa a edição em japonês da descrição da viagem. O origi-nal, escrito em espanhol por este padre jesuíta entre 1588 e 1589, foi redigido a partir das cartas e explicações orais do Padre Diogo de Mesquita, o único re-ligioso que acompanhou a Embaixada durante toda a viagem e das notas dos embaixadores japoneses. Traduzido para latim pelo Padre Duarte Sande com o

título “De Missione Legatorum Japonen-sium ad Romanam Curiam... dialogus”, foi esta versão usada para a tradução em japonês, sendo mil exemplares impres-sos e distribuídos no Japão.

Em Macau, o Padre Sande S.J., do texto latino traduziu ainda para portu-guês, sendo a licença de impressão de D. Leonardo de Sá, Bispo da China e do Japão e a data de edição, 1590. O título do livro é “Da Embaixada Japonesa à Cú-ria Romana, e das coisas observadas na Europa e em toda a viagem, Diálogo co-ligido do Diário da mesma Embaixada e vertido na língua latina pelo Padre Duar-te de Sande, da Companhia de Jesus.”

O Padre Luís Fróis, nos seus “Appa-ratos” e no “Tratado”, escreveu também sobre esta Embaixada fazendo o relato da viagem, apesar deste jesuíta não ter tido nenhum contacto directo com esta Embaixada. Esses escritos de Fróis, fo-ram traduzidos para japonês por M. Y. Okamoto.

O diálogo composto em Macau pelo Padre Duarte de Sande (o primeiro Su-

perior da Missão da China de 1585 a 1598), sob a inspiração de Valignano, juntamente com alguns capítulos dos “Apparatos” de Fróis, serviram de base para inúmeros livros e artigos. Antó-nio José de Figueiredo usou o trabalho do Padre Sande e publicou em 1862 no Archivo Pittoresco uma versão portu-guesa resumida com o título “Primeira Embaixada do Japão à Europa”. Citada frequentemente por historiadores, não conseguimos encontrar nenhum exem-plar nas bibliotecas públicas de Macau. Tínhamos deixado de lado este assunto quando, ao consultar o ficheiro de livros da Biblioteca Ricci, nos apareceu a refe-rida obra publicada em Macau no ano de 1961. Não fosse o número e o lugar na estante, nunca a teríamos encontrado na vasta colecção de livros, mas agora o problema estava em que só a poderíamos consultar no local.

Ao ler o manancial de informações sobre o século XVI que ela encerra e as notas que o Padre Benjamim Videi-ra Pires e José Maria Braga aí aditaram, pensámos ser interessante relembrar essa viagem, que temos vindo a seguir ao lon-go dos últimos dez artigos.

Usamos muita outra bibliografia como suporte ao relatado escrito por António J. de Figueiredo, que seria aqui fastidioso enumerar.

Esperando não ter maçado em dema-sia os nossos leitores, terminamos aqui a descrição da viagem da primeira Embai-xada japonesa à Europa.

FIM

COM A EMBAIXADA VINHA UMA TIPOGRAFIA MÓVEL, A PRIMEIRA DO JAPÃO, QUE FICOU INSTALADA EM AMACUSA E O PRIMEIRO LIVRO AÍ EDITADO NA TIPOGRAFIA DOS JESUÍTAS FOI IMPRESSO EM 1591, OU 1592, FICANDO CONSTANTINO DOURADO NO OFÍCIO DE TIPÓGRAFO, APRENDIDO EM LISBOA. CONSTANTINO FOI ORDENADO SACERDOTE E APÓS SEGUIR PARA MACAU,AÍ FOI NOMEADO REITOR DO COLÉGIO

NAGA

SAKI

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17 artes, letras e ideiashoje macau sexta-feira 19.9.2014

Thomas Lim*

OS SEGREDOS DE UM ACTORCapítulo XII – Como tornar-se conhecido e entrar num mercado maior

*actor e realizador

E STE capítulo é um pouco sub- jectivo e aborda um tema que aprendi quando comecei a trabalhar no teatro, há 15

anos. Logo aí, apercebi-me, ainda an-tes de começar a trabalhar na televisão e no cinema, que um actor tem que conseguir entrar em grandes mercados para se poder sustentar desta carreira. Especialmente se não tiver outra fonte de rendimento.

Seja como for a forma como abor-darmos a questão, temos que admitir que a fama é muito importante para um actor. Só depois de se ganhar algum protagonismo, mesmo que seja apenas dentro daqueles círculos que trabalham na indústria, é que um actor pode ser mais selectivo nos papéis que aceita, o que o ajuda a melhorar as suas técnicas de representação. Enquanto isto não acontece, um actor é forçado a aceitar qualquer tipo de trabalho, mesmo que seja mal pago. Mas as remunerações sobem em proporção com a fama do actor.

Suponho que a maior parte dos leitores deste artigo vivem na China, Europa, Estados Unidos ou Singapura - todos países desenvolvidos e caros que pertencem ao que apelidamos de “pri-meiro mundo”. Torna-se, assim, essen-cial para o actor estabelecer um equilí-brio entre as necessidades da sua vida quotidiana e a sua vida profissional.

Se já trabalha como actor em Ma-cau, é provável que desempenhe as suas funções em teatro com bastante regularidade. Mas arrisco dizer que é também provável que tenha uma ou-tra ocupação que o impede de apostar ainda mais tempo e energia no seu tra-balho como actor, o que imagino ser o que mais deseja fazer. Uma maneira de resolver esta situação seria mudar--se para um mercado maior, onde o seu trabalho seria mais bem remunerado e onde as produções envolvessem mon-tantes maiores.

Pessoalmente, acredito que os ac-tores se devem esforçar por escolher a plataforma que lhes for mais adequada para o seu crescimento, em termos de técnica, mas também de salário.

Para actores de etnia chinesa, pen-so que os três melhores mercados de trabalho estão localizados na China, em Hong Kong e em Taiwan. Hong Kong ocupou a posição de Hollywood do Oriente por bastante tempo, ainda que, recentemente, tenha visto a China

SEJA COMO FOR A FORMA COMO ABORDARMOS A QUESTÃO, TEMOS QUE ADMITIR QUE A FAMA É MUITO IMPORTANTE PARA UM ACTOR

roubar essa distinção (apesar de alguns afirmarem que esse título pertence à Coreia do Sul). Já Taiwan tem sido, desde há várias décadas, o maior pro-dutor de estrelas pop da região.

Devido aos números envolvidos, se conseguir trabalhar num bom projecto na China, especialmente se a produção for apresentada nas televisões ou nos cinemas locais, vai ter automaticamen-te um grande número de espectadores a apreciar o seu trabalho. Se apenas 1% da população chinesa o conhecer, dentro de um universo de 1,3 mil mi-lhões de habitantes, isso já representa 13 milhões de pessoas - mais do que a população de Portugal. Mas, se por-ventura, for de etnia ocidental, então acredito que todo o Ocidente está à sua disposição.

Quando um actor muda de localida-de, enfrenta um universo que não lhe é familiar, entrando ao mesmo tempo em competição com um grande número de locais que conhecem melhor as especi-ficidades do país. Mas isto pode tam-bém ser uma vantagem, pois o recém--chegado terá talentos e uma aparência que não se encontram facilmente no mercado local.

Vamos analisar as dificuldades que um actor tem de enfrentar quando

se muda para outro país à procura de trabalho. Nestas situações, os maiores problemas rondam o domínio da lín-gua e da cultura – e, claro, de vistos.

Se, por exemplo, um chinês de Ma-cau pretender ir trabalhar para Hong Kong, a linguagem não deve ser um problema, visto que é usado canto-nense nas duas regiões. Mas, se tiver intenções de ir trabalhar para a China, vai necessitar de dominar o mandarim como se fosse a sua língua materna, o que pode ser muito difícil de fazer. É possível viver na China, como turista ou até trabalhando noutra indústria, com um domínio básico do mandarim. Mas para trabalhar como actor neste país, tem que ser proficiente em man-darim – tanto, para que consiga até sonhar nesta língua - visto não haver muitos papéis disponíveis para um in-divíduo com feições asiáticas que não saiba falar mandarim fluentemente. Este nível de domínio da língua é es-

perado em toda a parte do mundo e aplica-se a quase qualquer país: o actor vai ter de dominar a língua local com a mesma proficiência do que os outros locais.

Porém, esta exigência é invertida se estiver a tentar obter trabalho num país em que você é obviamente diferente dos locais. Até nos Estados Unidos, as audiências não se importam de ver um actor asiático falar inglês com um sotaque asiático, ou um actor europeu fazer o mesmo com um sotaque euro-peu. Na verdade, estes imigrantes são às vezes escolhidos exactamente por conseguirem falar com um sotaque estrangeiro. Mas estes papéis não são muito frequentes e não costumam ter muita importância.

Como forma de conclusão, diria para investir sempre na aprendizagem da linguagem local do sítio onde pre-tende trabalhar. Se a dominar bem e se a sua aparência permitir que passe por um dos locais, então as suas hipóteses de obter papéis mais importantes au-mentam consideravelmente.

Se for novo e reunir os atributos necessários, pode também optar por tentar entrar num mercado estrangeiro trabalhando como modelo. Todos co-nhecemos alguns modelos estrangeiros que acabaram por conseguir entrar na indústria cinematográfica, por vezes mesmo não dominando a linguagem local completamente. O facto de já serem famosos como modelos ajuda muito, visto que isto lhes permitiu co-nhecer as pessoas certas na indústria cinematográfica.

Mais uma vez, a notoriedade é mui-to importante para a carreira de um actor, mas não me refiro apenas à sua vaidade pessoal. Por vezes, um actor quer continuar a ser famoso apenas para poder continuar a trabalhar neste ramo. O que estas pessoas pretendem é ter muitos papéis diferentes à sua dis-posição, de modo a poderem escolher aquele que mais lhes interessa.

O estatuto de um actor dentro de uma produção é muito interessante. Antes de este ganhar fama, vai ser pos-to em posições mais baixas, onde a sua opinião não tem nenhuma importân-cia. Mas se conseguir tornar-se famoso, vai ter acesso ao poder e dinheiro nor-malmente reservados para as camadas mais prestigiadas da sociedade.

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18 DESPORTO hoje macau sexta-feira 19.9.2014

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COMISSÃO DE REGISTO DOS AUDITORES E DOS CONTABILISTASAviso

Torna-se público, de acordo com o n.º 4 do ponto 5.º dos Regulamentos para a prestação de provas para inscrição inicial ou revalidação de registo como auditor de contas, contabilista registado e técnico de contas, elaborados nos termos do artigo 18.º do Estatuto dos Auditores de Contas, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 71/99/M, de 1 de Novembro, do artigo 13.º do Estatuto dos Contabilistas, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 72/99/M, de 1 de Novembro, e da alínea 3) do artigo 1.º do Regulamento da Comissão de Registo dos Auditores e dos Contabilistas, aprovado pelo Despacho do Chefe do Executivo n.º 2/2005, de 17 de Janeiro, que se encontra afixada, na sobreloja da Direcção dos Serviços de Finanças, sito na Avenida da Praia Grande nºs 575, 579 e 585, e colocado no respectivo “Web-site”, no local relativo à CRAC e para efeitos de consulta, a lista provisória dos candidatos à prestação de provas para inscrição inicial ou revalidação de registo como Auditor de Contas, Contabilistas Registado e Técnico de Contas no ano de 2014, elaborada e homologada por deliberação do Júri designado para o efeito. Em caso de dúvidas, agradecemos o contacto com a CRAC, durante as horas de expediente, através do telefone número 85995343 ou 85995344. Direcção dos Serviços de Finanças, aos 17 de Setembro de 2014.

O Presidente do Júri,Iong Kong Leong

MARCO [email protected]

O Windsor Arch Ka I man-tém-se na corrida por um lugar nas meias-finais do principal campeonato de

futebol de sete do território, depois de ontem ter levado a melhor sobre a sempre difícil formação do Grupo Des-portivo da Polícia de Segurança Pública.

Na semana passada, a formação orientada pelo veteraníssimo Chan Man Kin caiu para a segunda posição

A SAD do Benfica anunciou na quarta--feira à Comissão do

Mercado de Valores Mobi-liários (CMVM) um resul-tado consolidado positivo

Solskjaer deixa comando técnico do CardiffO treinador norueguês Ole-Gunnar Solskjaer demitiu-se ontem do comando técnico do Cardiff, na sequência dos maus resultados, anunciou o clube do segundo escalão do futebol inglês. “Agradeci ao proprietário, Vicent Tan, a possibilidade que me deu de treinar a equipa. Ele tem todo o meu respeito, mas temos opiniões diferentes sobre o futuro do clube”, afirmou o técnico de 41 anos. Solskager, que enquanto futebolista alinhou 11 épocas no Manchester United, assumiu o comando técnico do Cardiff em Janeiro, não tendo conseguido evitar a despromoção da equipa da Liga inglesa. Na “Championsihp”, a formação de Cardiff ocupa a 17.ª posição, com oito pontos em sete jogos disputados.

Tenista Na Li vai anunciar fim da carreira A tenista chinesa Na Li, sexta da hierarquia mundial, vai anunciar na sexta-feira o fim da sua carreira, noticiou ontem a televisão pública chinesa, CCTV, na Internet. De acordo com a CCTV, o abandono de Na Li, que em 2011 se tornou na primeira chinesa a vencer um “Grand Slam” ao triunfar em Roland Garros, está relacionado com problemas físicos. O canal televisivo, que cita fontes próximas da tenista, Na Li, de 32 anos, deverá fazer o anúncio na sexta-feira, em conferência de imprensa. Depois de em Janeiro ter vencido o Open da Austrália, a chinesa falhou os torneios de Montreal e Cincinnati, bem como o US Open devido a uma lesão no joelho. Na Li foi duas vezes, em 2005 e 2006, finalista derrotada do Portugal Open, o mais importante torneio de ténis realizado em Portugal.

Torneio de Metz João Sousa passa aos quartos de finalJoão Sousa, sexto cabeça de série, garantiu a passagem aos quartos de final do torneio de Metz, ao bater Igor Sijsling, em três sets, pelos parciais de 6-3, 3-6 e 7-6 (7-3). O duelo entre o português e o holandês durou 2:07 horas. O próximo adversário de João Sousa será o francês Paul-Henri Mathieu, que bateu o checo Lukas Gosol, pelos parciais de 6-3 e 6-4.

LAM PAK ESTREOU-SE A VENCER NA “BOLINHA”

Ka I derrotou Polícia

BENFICA SAD COM LUCROS DE 14,1 MILHÕES DE EUROS

Regresso positivode 14,1 milhões de euros, no exercício de 2013/2014, recuperando cerca de 24,6 milhões face ao ano anterior.

“Este desempenho re-presenta um importante contributo para o equilíbrio económico da Benfica SAD, baseado no crescimento das receitas operacionais, na presença assídua na Liga dos Campeões e na obtenção de ganhos com a alienação de atletas”, refere o comunicado enviado à CMVM.

A SAD “encarnada” informa também que au-mentou o passivo em perto de nove milhões de euros, em comparação com Junho de 2013, passando de 440,4 para 449 milhões de euros.

Em contrapartida, o acti-vo também cresce, de 416,6 milhões para 440 milhões, o que faz com que o capital próprio seja negativo em apenas 8,4 milhões (há um

ano era também negativo, mas de 23,8 milhões).

Os resultados operacio-nais, incluindo as transações de jogadores - nomeada-mente do sérvio Matic, ao Chelsea, e de Rodrigo e André Gomes, a um fundo de investimento - foram francamente superiores aos

dois exercícios anteriores: agora 33,5 milhões de euros, contra sete em 2013 (um aumento de 374 por cento) e 5,1 em 2012.

Excluindo as vendas de jogadores, os rendimentos operacionais chegaram aos 105 milhões de euros, também em clara alta, comparando com os 85,9 de 2013 e os 89,9 de 2012. Pela primeira vez na his-tória da Benfica SAD é passada a barreira dos 100 milhões.

nas contas da série B da “Bolinha”, depois de ter sido derrotada pelo arqui-rival Monte Carlo, mas o de-saire frente ao sete “canarinho” não afectou a moral dos actuais titulares da competição. O Ka I aposta forte na revalidação do título conquistado há um ano – a própria continuidade do projecto poderá estar dependente do triunfo na prova – e ontem, no relvado do campo do Colégio D. Bosco, não deixou créditos por mãos alheias. A formação orientada por Chan Man Kin derrotou o sete das forças de

segurança por duas bolas a zero, num desafio exigente.

SEMPRE NO COMANDOO Ka I nunca perdeu verdadeiramente o controlo das operações, mas só na segunda parte conseguiu desfalcar a baliza à guarda de Leong Chon Kit. O primeiro golo da partida só foi celebra-do aos 39 minutos e teve origem numa falta cometida por um atleta da Polícia no seu último reduto. Chamado a cobrar o lance, Bruno Nogueira não defraudou e colocou o Ka I em vantagem.

O golo da tranquilidade da forma-ção negro-rubra surgiu apenas na recta final do desafio. Samuel Ramosoeu voltou a mostrar veia goleadora e encerrou a contagem a dois minutos dos cinquenta regulamentares, confir-mando o triunfo dos actuais titulares do Campeonato da “Bolinha”.

O outro encontro ontem disputado no relvado do campo do Colégio D. Bosco colocou frente-a-frente duas formações da cauda da tabela no âmbito das contas do Grupo A e o triunfo sorriu à formação com um palmarés mais sig-nificativo. O Grupo Desportivo Lam Pak estreou-se a vencer na edição de 2014 do Campeonato de Futebol de Sete, ao levar a melhor sobre o Artilheiros pela margem mínima, com um golo apontado por Ho Man Hou aos 18 minutos.

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TEMPO POUCO NUBLADO MIN 26 MAX 33 HUM 60-90% • EURO 10.3 BAHT 0.2 YUAN 1.3

ACONTECEU HOJE 19 DE SETEMBRO

Pu Yi

LÍNGUADE gATO

hoje macau sexta-feira 19.9.2014 (F)UTILIDADES 19

U M D I S C O H O J E

João Corvo fonte da inveja

A mentira é um processo interminável.

Morre o primeiro astrónomo a medir a velocidade da luz• O astrónomo dinamarquês Ole Rømer morreu em Copenhaga, a 19 de Setembro de 1710. Foi o primeiro cientista a medir a velocidade da luz, provando que a mesma é finita.Ole Rømer estabeleceu, em 1676, apresentando provas científicas, que a velocidade da luz é finita, ainda que extremamente elevada. Conseguiu este avanço através da observação do planeta Júpiter, sobretudo de uma das suas luas: Io.Rømer observou que a lua Io se eclipsava com Júpiter, a cada 28 horas, e num definido período da órbita terrestre, onde o ponto de observação na Terra para Júpiter era impedido pelo Sol (que estaria entre a Terra e Júpiter, impedindo a observação).Para calcular a velocidade da luz, faz uma previsão da hora e dia em que seria possível ver o próximo eclipse de Io. Após verificar os seus cálculos, Ole Rømer retirou as primeiras conclusões científicas sobre a velocidade da luz.Rømer foi contratado pelo governo francês, que reconheceu a excelência do seu trabalho. Participou, também, nas construções das fontes do Palácio de Versalhes. É um dos astrónomos mais reconhecidos do seu tempo e muitas vezes esquecido.Nasceram a 19 de Setembro Antonino Pio, imperador Romano (86), D. Miguel II de Bragança, pretendente ao trono português (1853), Ludwig von Bertalanffy, biólogo austríaco (1901), Masatoshi Koshiba, físico japonês (1926), e Jeremy Irons, actor britânico (1948).Morreram neste dia James A. Garfield, ex-presidente norte-americano (1881), Auguste Scheurer-Kestner, químico, industrial e político francês (1899), Konstantin Tsiolkovsky, físico russo (1935), e Italo Calvino, escritor italiano (1985).

“BLOSSOMY” S.H.E. (2012)

S é para Selina Jen, H é para Hebe Tien e E é para Ella Chen. Uma banda de três cantoras únicas, que tem feito muito sucesso em Taiwan. O álbum “Blossomy” contém dez canções e é já o décimo terceiro álbum do grupo. Curiosamente, surge depois de um acidente – uma explosão – que envolveu Selina Jen e fala de coragem, confiança e o regresso da bela amizade entre as três. - Flora Fong

C I N E M ACineteatro

SALA 1THE MAZE RUNNER [B]Um filme de: Wes BallCom: Dylan O’Brien, Kaya Scodelario14.30, 16.30, 19.30, 21.30

SALA 2A WALK AMONGTHE TOMBSTONES [C]Um filme de: Scott FrankCom: Liam Neeson14.30, 16.30, 19.30, 21.30

SALA 3CAFE • WAITING • LOVE [B]FALADO EM MANDARIM E LEGENDADO EM CHINÊSUm filme de: Chiang Chin LinCom: Vivian Chow, Megan Lai, Pauline Lan, Lee Luo14.30, 19.15

BEGIN AGAIN [C]Um filme de: John CarneyCom: K. Nightley, M. Ruffalo, H. Steinfeld16.45, 21.30

THE MAZE RUNNER

Ser saudávelNão é difícil encontrar pessoas a praticar desporto nas ruas de Macau. Não nego que me sinto feliz por pertencer a um território que se mostra adepto e preocupado com estas questões desportivas e de bem-estar. Temos parques, ciclovias, espaços desportivos, belos lagos onde podemos dar grandes passeios ou até corridas. Nas minha passeatas em que aproveito para exercitar as minhas perninhas – gato que se preze anda em forma – dou por mim muitas vezes a contemplar a nossa terra. Há um silêncio incomum para um mundo que nunca dorme. As luzes dos nossos casinos iluminam o céu e o seu reflexo no lago é impagável. Se algum dia, em uma das minhas sete vidas, tiver que abandonar Macau e mostrar a classe de felino noutra terra, nunca serei capaz de fazer os outros entender o que este espacinho nos faz sentir.Olho em meu redor e acredito que todos aqueles “passeadores” e corredores, que ali estão a exercitar o seu corpo, estão também a exercitar a mente, e sem dúvida, a cultivar o amor pela cidade. As cidades são assim, provocam-nos paixões fervorosas e arrebatadoras. Fazem-nos querer ser parte das suas entranhas e, nos dias maus, arrancá-las do nosso peito, a elas e a tudo o que nos dão. Sou um gato de sorte. Estou apaixonado pela minha cidade, pelo seu silêncio, pelo seu bom e mau, e por fazer, de mim, um felino saudável.

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20 OPINIÃO hoje macau sexta-feira 19.9.2014

E M Setembro passado, vários jornalistas perguntaram-me como me sentia devido ao facto de não ter conseguido ser reeleito para a Assem-bleia Legislativa. Expliquei--lhes então que “prefiro ser um político derrotado do que ter sucesso nestas lides”. Eu guio-me por este princípio,

mas as coisas e as pessoas à minha volta passaram por mudanças profundas.

Participei na reunião da Associação de Novo Macau (ANM) que teve lugar no dia 16 de Setembro à noite. Durante este encontro, os dois deputados eleitos através desta associação comunicaram aos restantes que já se tinham registado independentemente como “pessoas colec-tivas”, uma prática nunca antes utilizada. Houve muita discussão sobre este facto, mas como já estava consumado, não podia ser alterado. Propus então que fosse removido o antigo sinal de Escritório de Deputado, visto este ainda conter os nomes de três deputados. Relembro outra vez aos leitores

*Ex-deputado e membroda Associação Novo Macau Democrático

um gr i to no desertoPAUL CHAN WAI CHI*

A razão para a cor amarela das águas do Rio das Pérolas

A chuva que cai do céu deve ser pura, assim como as águas do Rio das Pérolas devem ser frescas e límpidas. Se isto é verdade, então porque razão é que a chuva e a água dos poços se tornam impróprias para consumo?

que a nossa Associação apenas conseguiu obter a nomeação de dois candidatos nas eleições de 2013, e que estes optaram por se registar como “pessoas colectivas” por si próprias. O presidente da ANM aceitou a minha proposta e o sinal foi removido. Levei-o para casa como uma recordação da nossa história.

Gosto muito de história, e tento sempre perceber as razões que fazem com que a

cultura política chinesa seja tão obcecada na obtenção de bens materiais. Durante a minha investigação sobre a evolução da política na China, encontrei muitos políticos que perderam os seus valores com a maior das facilidades. Procurei explicações para estes acontecimentos através da consulta de trabalhos históricos, tendo ainda visi-tado a Academia de Donglin em Wuxi e recorrendo também à minha experiência de quatro anos como deputado da Assembleia Legislativa.

Não sei se os chineses estão ou não destinados a ter pouca sorte, visto os mo-narcas de diferentes dinastias gostarem de se rodear de pessoas obedientes e subser-vientes, não mostrando grande apreço por aqueles que optavam por pensar indepen-dentemente. Mas, de uma maneira geral, até estes “fiéis funcionários” acabavam por ser abandonados pelo próprio monarca, ou então eram derrotados, expulsos ou perseguidos na consequência de conflitos políticos que pretendiam manter a justiça e a moral. Apenas um número muito re-duzido tinha a boa fortuna de conseguir

manter os seus cargos políticos até à re-forma, para depois se dedicarem ao ensino nas suas terras natais. Além disto, aqueles que ambicionavam ser mais correctos pois valorizavam os seus valores morais acima de tudo, encontravam grandes di-ficuldades caso conseguissem ser aceites como funcionários públicos para trabalhar na área da política. O tipo de estatuto e autoridade pública que um indivíduo de-tém pode-lhe trazer fama e dinheiro, além de inúmeros outros benefícios. Se esta pessoa for vaidosa ou quiser obter fama e fortuna, vai certamente passar por uma série de mudanças graduais, podendo até nem se aperceber do que está a acontecer. Ao mesmo tempo, se uma pessoa se tornar viciada em álcool ou sexo ou se se tornar muito orgulhosa ou avarenta, a sua inte-gridade vai ser arruinada. Não é difícil de imaginar o que acontece aqueles que se deixam seduzir por um ou vários destes vícios. Ora, também os políticos são for-mados de acordo com a sua indulgência.

É por isso que, durante os meus quatro anos como deputado, sempre me relembrei que esse cargo não devia ser encarado como uma maneira de ganhar prestígio, mas sim como uma posição que permite ao seu detentor intervir na vida política de modo a servir os interesses da população. Não vou aqui optar por um discurso populista de modo a defender a minha própria inte-gridade. Em vez disso vou tentar explicar o que um deputado é suposto fazer, visto eu ainda acreditar nestes valores, mesmo apesar de não ter conseguido ser reeleito para a Assembleia Legislativa.

A chuva que cai do céu deve ser pura, assim como as águas do Rio das Pérolas devem ser frescas e límpidas. Se isto é verdade, então porque razão é que a chuva e a água dos poços se tornam impróprias para consumo? Porque é que os peixes do Lago Nam Van não podem ser comidos e porque é que as águas do Rio das Pérolas estão tão turvas e amarelas? A resposta é que todos acabaram por estar sujeitos à poluição. Só pessoas bem intencionadas é que estão dispostas a perder tempo para encontrar soluções para limpar a água do rio, assim como as práticas políticas do local em que residem. Apesar de alguns abandonarem a luta pela democracia, estes são rapidamente substituídos por sangue mais novo. Mas todos somos responsáveis por não deixar que estas pessoas recém--chegadas esqueçam as razões originais que as fizeram escolher este caminho nem tão pouco os seus próprios valores morais, que devem manter até ao fim do seu percurso.

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21 opiniãohoje macau sexta-feira 19.9.2014

contramãoISABEL [email protected]

S Ó comecei a valorizar a minha língua quando vim viver para Macau. Não sendo especialis-ta em português, no sentido em que não faço da língua a minha vida, parece-me agora normal que, até ter saído de Portugal, o idioma fosse uma espécie de dado adquirido. Nunca sentimos falta daquilo

que temos aos molhos.Vim para Macau porque falo e escrevo

em português. Foi essa a razão que justifi-cou a minha autorização de residência. Não fazendo da minha língua a minha profissão, exerço a minha profissão na minha língua. A percepção deste facto levou-me a olhar para o português de uma outra maneira. Ainda assim, de um modo muito pessoal, muito meu – a minha língua, a minha vida, a minha profissão, a minha mudança de país e de continente.

Com o tempo as coisas mudam e as nos-sas percepções também. Compreendi que a minha língua podia ser uma mais-valia para quem teve outra à nascença. Eu, que cresci a aprender mais duas línguas que não a minha, só comecei a dar valor ao mundo que outros idiomas me permitiram conquistar quando vim para cá viver.

Mas também foi rápida a percepção de uma outra realidade, menos simpática: quando aqui cheguei, apesar de o português ser língua oficial, eram vários os dirigentes públicos que ignoravam a presença de jor-nalistas portugueses nas conferências de imprensa para as quais tinham sido convi-dados. Chui Sai On era um deles – há uma conferência de imprensa sobre a pneumonia atípica (que não conhecia língua para atacar a matar) que ficou bem gravada na memória de alguns por causa da ausência de tradutores e de um finca-pé que, felizmente, ajudou a atenuar alguns maus hábitos.

Com o tempo as coisas mudam e as per-cepções dos outros também. Houve alguém lá em cima que chegou à conclusão de que a língua portuguesa é um valor acrescentado na conquista do mundo lusófono – e toca a abrir cursos de Português, a incentivar os miúdos para a aprendizagem de uma língua de que só tinham ouvido falar porque gostavam dos jogadores da bola. O número de estudantes cresceu e a gente bate palmas, dizem-me que, por essa China acima, muitos dos créditos se devem aos esforços do Brasil, é verdade que Portugal tem a péssima tradição de não aproveitar bem aquilo que foi dando ao mundo, Macau levou com o carimbo de ponte para a lusofonia e a gente aplaude outra vez, que é bom que alguém valorize o que é nosso, sobretudo quando aquilo que é nosso não existe aos molhos. Algumas instituições académicas locais esforçam-se hoje para que haja mais português em Macau. Outras nem por isso.

Acaba hoje em Macau mais um encontro da Associação de Universidades de Língua Portuguesa, organização da qual fazem

Um bambum na língua

Dizem-me que não vale a pena. Que nada vai mudar. Que não vale a pena perder tempo com isto, que as coisas são mesmo assim, e eu não concordo – chateio-me e quero mesmo que as coisas mudem, porque a minha língua é a minha mais-valia, mas é também a mais-valia de muitos outros, de outros que não nasceram com o português aos molhos

parte as três instituições públicas de ensino superior do território. O encontro teve como principal espaço de realização a Universi-dade de Macau, instalada que agora está na Ilha da Montanha. É bom que os académicos lusófonos venham cá, para que isto da língua não seja apenas a retórica de negócios que ninguém contabiliza. Por mais distantes que possamos estar da lusofonia académica, é uma lusofonia que vai além dos vinhos, de pontes, de casas e da exploração de recursos naturais.

Estive na cerimónia de abertura deste encontro. Com toda a pompa e circunstância

locais, os discursos seguiram-se, ouviu-se o coro da universidade e entregaram-se presentes às mais ilustres personagens do evento. Aos jornalistas, bem arrumadinhos atrás de umas fitas delimitadoras do espaço para a imprensa – não fosse algum de nós ter um acesso lírico e saltar para o meio do coro –, foram entregues cópias dos discursos dos representantes da casa: o discurso de Cheong U e o discurso do reitor da Universidade de Macau. O primeiro em português e o segundo em inglês. Num encontro de académicos de língua portuguesa, não havia disponível uma versão em português do discurso do reitor da

universidade que acolhe o evento. Eu, que não tinha nada que ver com o assunto – e que até estava atrás de umas fitas, não fosse ter um impulso vocal e juntar-me ao coro de jovens estudantes –, senti-me envergonhada. Uma vergonha solitária.

Com um finca-pé quase que se resolvia o problema: uma hora depois da distribuição dos escritos do reitor, as prestáveis relações públicas do evento, espantadas com a minha indignação lusófona, vieram explicar aos lusófonos jornalistas que estavam a ser feitas cópias da versão do discurso em português. Ou que, em alternativa, seria posteriormente enviada por email.

O episódio não surpreende: há alguns anos, não muitos, a Universidade de Macau – a maior instituição pública de ensino supe-rior do território – não tinha informação em português no seu site. Hoje, agora mesmo, muitos dos textos da versão portuguesa da página na Internet são em inglês. O portu-guês é, claramente, um problema para esta escola de futuros talentos: apesar de haver cursos leccionados no idioma e pessoas que dominam a língua dentro da estrutura, a universidade não consegue comunicar em português. São frequentes as notas de imprensa em inglês. E eu não percebo o que é que custa ter alguém ali dentro com a missão específica de garantir que a comu-nicação passa a ser trilingue. Não percebo o que é custa, mas sei quanto custa – custa muito pouco a uma universidade que não se depara com problemas financeiros, nem restrições orçamentais.

Fora da universidade, temos os outros – os outros que se esforçam por garantir informação em português e que, por isso, merecem a compreensão, o afecto e o sorriso condescendente quando a coisa corre mal. Porque a minha língua é a minha mais-valia, mas também a mais-valia de muitos outros que aqui vivem, e também o valor acrescenta-do de Macau, já não consigo sorrir ao receber mensagens de organismos públicos que me apresentam, em noite de tufão, o perigo de levar com um “bambum” na cabeça ou de um “guindache” prestes a cair. As línguas também merecem respeito. Mais uma vez, não percebo o que é custa, mas sei quanto custa – custa muito pouco ter alguém que reveja traduções manhosas que deixam ficar mal todos os tradutores que desempenham bem o seu trabalho.

Dizem-me que não vale a pena. Que nada vai mudar. Que não vale a pena perder tempo com isto, que as coisas são mesmo assim, e eu não concordo – chateio-me e quero mesmo que as coisas mudem, porque a minha língua é a minha mais-valia, mas é também a mais-valia de muitos outros, de outros que não nasceram com o português aos molhos.

O discurso do português é muito bonito, mas não chega. Embora seja bom que os discursos também sejam em português. E que o “bambum” e os “guindaches” não caiam ao chão.

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22 opinião hoje macau sexta-feira 19.9.2014

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Cecília Lin; Flora Fong (estagiária); Leonor Sá Machado Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Hugo Pinto; José Simões Morais; Marco Carvalho; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Tiago Quadros Colunistas Agnes Lam; Arnaldo Gonçalves; Correia Marques; David Chan; Fernando Eloy ; Fernando Vinhais Guedes; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho Cartoonista Steph Grafismo Catarina Lau Pineda; Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva ([email protected]) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail [email protected] Sítio www.hojemacau.com.mo

G OSTO de partilhar com os amigos livros e discos. Os livros são um pedaço de nós próprios e dizem coisas que gostaríamos de ter escrito. Pelo menos os de reflexão no campo das ciências sociais ou da filosofia. Acho indispensá-vel um regresso a um certo exercício do filosofar que é

o contraponto da trepidação (ou da abulia) do dia-a-dia. Porque quando nos focamos no real, isto é na realidade do 1%, perdemos a dimen-são do que verdadeiramente importa, isto é, a realidade encoberta dos 99% onde a geração da vida e dos universos se joga.

Temos a obsessão que os homens do pensamento são inúteis porque o que inte-ressa é a economia, são os resultados das aplicações financeiras e dos investimentos na vida das empresas ou das famílias. Quer dizer a ‘praxis’. Depois um banco, depois outro, vão à falência com a sofreguidão e gula dos seus ‘’CEO” e ficamos incomoda-dos porque não percebemos como e porquê aconteceu. Focámo-nos excessivamente na segurança dos nossos investimentos e poupanças enquanto fulano e beltrano entretiveram-se a tratar da sua vida e a pôr os seus réditos num qualquer paraíso fiscal nas Bahamas. Ficamos ainda mais surpreendidos quando nos vêm dizer que o Estado tem de actuar nesta situação por causa do efeito de alastramento ‘a todo o sistema financeiro’.

Confesso que nunca percebi o que é essa coisa do “sistema financeiro’. Por uma interpretação lógica deveria ser o conjunto dos bancos e das entidades financeiras que não se podem classificar como tal e actuam num dado mercado definido pelas fronteiras de um país. Mas se o mercado é aberto e os bancos concorrem uns com os outros pelas quotas de mercado como é que há efeito de propagação a todo o sistema financeiro? Desconfio que é uma espécie de Ébola de folhas verdes mas a explicação é porventura simplista. O que acontece é que ainda não ouvi (ou vi) um economista ou comentador a explicar - preto no branco - porque é que eu, contribuinte, tenho de pagar as dívidas de um banco que não é o meu, que nunca me prestou qualquer serviço financeiro e de que não tenho qualquer acção na minha car-teira de acções. Acrescento que não o ouvi, também, do Primeiro-Ministro do meu país.

A reflexão filosófica é em comparação mais aquietada, mais profunda, porque procura interrogar os ‘como ‘, os ‘porquê’ da origem da vida, da extraordinária ordem do cosmos, da ligação do Homem a um ser divino que todas as culturas, todos as civi-lizações, procuraram perscrutar e definir. Os gregos chamaram-lhe o ‘amor à sophia’, no sentido do amor ao conhecimento ou à sabedoria (φιλεῖν σοφία). A filosofia tem sobre as chamadas disciplinas práticas uma enorme vantagem porque não procura resol-ver problemas físicos, históricos, jurídicos

crepúsculo dos ídolosARNALDO GONÇALVES

Praxis e Gnosis

Confesso que nunca percebi o que é essa coisa do “sistema financeiro’. (...) Desconfio que é uma espécie de Ébola de folhas verdes mas a explicação é porventura simplista

ou económicos mas estudar os conceitos que dão forma e discernimento a essas mesmas disciplinas e tornam mais claros os seus pressupostos e fundamentos. É uma forma de ‘sophia’ mais fina, mais exigente, calibrável, aberta a todos os conteúdos e contributos possíveis e, portanto, não finalizada.

Adquiri recentemente nas minhas habi-tuais peregrinações pelas livrarias dos países que visito um pequeno livro de 120 páginas de um filósofo, espiritualista e teólogo fran-cês, Jean-Yves Leloup, que é provavelmente, com Elaine Pagels, uma das duas autorida-

des mundiais em cristianismo primitivo, gnosticismo e antigas religiões. Comprei-o na edição francesa porque continua a ser a língua (e a cultura) que dá mais importância à reflexão em geral e à filosófica em particular. Tem também a enorme vantagem de partilhar com o português a mesma etimologia latina possibilitando uma leitura quase vocalizada, balbuciada, do texto que não é possível, por exemplo, no inglês.

O livro saído em Marco de 2014 na pe-quena editora Almora, de Paris, chama-se “De Nietzsche a Maitre Eckhart”. É um exercício absolutamente apaixonante de decantação do discurso aparentemente ‘anti-crístico’ de Nietzsche e da refutação de Deus e do divino que o filósofo alemão faz em ‘Ecce Homo’, uma das suas obras emblemáticas. O interesse em adquiri-lo foi despertado pela memória de uma afirmação de um amigo teólogo, o Dr. Joaquim Teixeira, que a propósito do também importante ‘Assim falava Zaratustra’ defendia que há uma dimensão divina encoberta no discurso aparentemente refutista de Nietzs-che, no sentido que o Deus que ele denega e esconjura é um Deus que não está lá. Porque o que lá está replica o teólogo português é um Outro que ele não alcançou.

Mas afinal o que é o ateísmo? Diz Jean--Yves Leloup que a palavra ‘ateu’ (athée) significa ‘sem visão’ e descreve uma en-fermidade ou uma refutação de ver o Real na sua integridade visível e invisível. Daí a confusão de se associar a palavra ‘dieu’ com o grego ‘theos’ quando ‘a contrario’ a palavra deriva de ‘dies’, que significa ‘o dia’. Na elaboração de Leloup ‘ver Deus é ver ‘o dia’ e na sua luz ‘as mil e uma coisas’ que aparecem. A palavra ‘dieu’ é associável ao nomen sânscrito ‘avidya’ que é traduzido habitualmente por ‘ignorância’, isto ém a ausência de visão (a-vidya). O ateísmo é, assim, numa interpretação etimológica uma forma de ignorância, a ignorância das coisas que aparecem no dia e ignorância do dia que nos permite ver todas as coisas.

A noção de Deus foi inventada como antítese da vida afirma Nietzsche. Mas a que Deus se refere? lembra Leloup. Ao da Bíblia; ao seu? Seguramente ao Deus do seu pai, da sua mãe, da sua família, da sua época, da sua Igreja, do seu país, do seu meio. Pode-se assim afirmar que o conceito de ‘Deus’ não é axiologicamente neutro, descontextualizado, abstracto. Porque é uma imagem, uma ideia, uma representação que foi formada num determinado contexto sistémico, ao caso a experiência pessoal, aparentemente traumática, de Friedrich Wilhelm Nietzsche e da sua relação com o pai, o pastor luterano Carl Nietzsche. De certa forma a refutação do Deus (dos seus pais) é um exercício de alienação, de ‘desancoramento’ e do ponto de vista exegético, subjectivo.

Porventura a afirmação deve ler-se, a contrario, no sentido que a noção de Deus foi inventada para celebrar a vida. No sentido que lhe é atribuído no Prólogo de João ‘o Logos é a vida, por ele tudo existe e sem ele nada…de todo o ser ele é a vida e a vida é a luz dos homens’. Nas palavras de Yeshua ‘eu sou a vida; vim para vos dar a vida, a vida em abundância’ uma vida não exclusivamente carnal logo mortal mas espiritual ‘a sua cadeira e o seu sangue’. Na linguagem da época a acção (a praxis) e a contemplação (a gnosis), o ensinamento.

Porque é que este sentido original do Logos se perdeu no sentido de que Nietzsche caustica, uma prática descurada de ética, de valores à custa da vida e do seu gozo? Porque se instalou a convicção no cristianis-mo institucional que tudo poderá e deverá ser sacrificado à salvação da alma. Como se o corpo nada tivesse a ver com a alma. Instalou-se o que o teólogo francês chama uma esquizofrenia da dissociação da alma do corpo, multiplicada por congregações cada vez mais exclusivistas e equivocamente piedosas.

Neste sentido é indispensável devolver ao pensamento de Nietzsche o seu sentido mais profundo e crístico: a exaltação da vida humana enquanto cadinho da combinação da praxis com a gnosis.

Um livro a ler e a reflectir.

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hoje macau sexta-feira 19.9.2014 23PERFILJORGE CHANG, JURISTA EM PORTUGAL

E FILHO DE IMIGRANTES DE MACAU

“SOU UM NÓMADA DA VIDA”CECÍLIA L [email protected]

É ainda um jovem, mas o juristas Jor-ge Chang já leva uma vida muito interessante: nasceu em Macau,

fruto de uma família de imigrantes de Wuhan, na província de Hubei. Estudou alguns anos no continente e por cá e agora trabalha em Lisboa, sendo sócio de uma sociedade de advogados no Marquês de Pombal.

Ao contar-nos a sua vida, é-nos di-fícil imaginar que Chang começou por sobreviver no território como vendedor ilegal. “Vivi com a minha avó desde bebé e, como ela não sabia ler, recolhia papéis para reciclagem para sobreviver. Mas, eu também ia para Zhuhai vender coisas de Macau, quando ainda era criança.”

Com apenas 24 anos, a maturidade de Chang já se nota na sua cara. Jorge Chang não esconde que, no início, a sua vida era vivida na pobreza e, hoje, diz estar orgulhoso pelo que tem. “Estou feliz com a minha mulher e com o nosso bebé, que vai nascer no próximo mês. Há um ditado chinês que diz que ‘o homem tem primeiro de se casar e depois criar a sua carreira’. Eu realizei isso e estou feliz.”

Gostava de aproveitar todas as vantagens da terra: por exemplo, a coragem de Wuhan, o bilinguismo de Macau e as pessoas mais simples em Portugal

clientes chineses. Por exemplo, com a minha mulher”, conta-nos.

A esposa de Chang também é do continente, da província de Guangdong. É também de uma segunda geração de imigrantes, falou cantonês durante toda a sua vida e começou a falar mandarim depois de trabalhar num escritório de advogados.

O facto de saber muitas línguas é positivo para Chang. “As línguas que domino - cantonês, mandarim, dialecto de Wuhan e português - ajudam-me muito a comunicar com as pessoas de países diferentes. Como já vivi em tantos lugares, sei que as culturas são diferentes e não consigo dizer qual o local ideal para mim. Gostava de aproveitar todas as vantagens da terra: por exemplo, a coragem de Wuhan, o bilinguismo de Macau e aa pessoas mais simples em Portugal. Até estou a pensar um dia viver e fazer negócios no Brasil, onde poderei ter muitos amigos brasileiros, como já tenho alguns em Portugal.”

Uma coisa é certa: Jorge Chong as-segura que a sua vida não se vai manter estática, nem em Macau, nem em Por-tugal. “Na vida, precisamos sempre de nos mexer e eu sou um nómada da vida”, brinca este jovem e futuro pai.

Macau, uma cidade onde viveu mais de dez anos, tem coisas que Chang não gosta. “Não há estacionamento suficien-te, há poluição, o preço da habitação é alto e nem uma classe média pode aguentar uma casa nova no território. Também faltam escolhas profissionais para os membros da classe média e jo-vens. Claro que, pronto, o resto é tudo mais barato do que na Europa e aqui tenho familiares e amigos.”

Contudo, Chang já decidiu que a próxima paragem será o Brasil. “Quero experimentar como é viver em todo o mundo e a minha mulher também não se importa porque gosta de viajar comigo. Acho que ainda há emprego para mim em Portugal, porque ainda faltam pes-soas bilingues, como eu, mas o trabalho também não vai durar muito tempo.”

Chang contou ao HM que a ideia é, antes dos 30, conseguir ter uma empresa mais estável, em vez de ser apenas sócio, podendo, assim, dar mais tempo à família e à sua vida pessoal. Até porque também para esta tem planos. “Estou a pensar ter mais um filho. O primeiro vai nascer aqui em Macau, o segundo vai nascer em Portugal. Já fizemos o Golden Visa por investimento em habitação em Lisboa e, no final, quero comprar uma grande casa aqui, em Macau.”

O rapaz que ainda agora acabou o curso, não hesita quando toca a planear a sua vida para o futuro.

De Macau, o jovem jurista partiu para Portugal. Ao HM, conta porque escolheu tirar o curso em terras lusas. “Queria ir para um local longe da família, para descobrir o mundo. Como o fundo do ensino superior tem bolsas para alunos qualificados para o curso de Direito em Portugal, desisti da Universidade de Wuhan e escolhi ir para Portugal. Depois, vi que a minha escolha não foi má.” Chang admite que a experiência de imigrante o ajudou muito nos estudos e trabalho.

“Como tinha estudado no continente, conheço a cultura de lá e sei a lógica dos chineses do continente. Agora, ajudo muito no processo de imigração dos chineses em Portugal, que é o que faço agora como trabalho. Se fosse só residente de Macau, só tendo vivido em Macau e nunca vivido noutros lugares, teria dificuldade em comunicar com os

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hoje macau sexta-feira 19.9.2014

cartoon por Stephff

Detectado residente com febre de dengueUm homem de 24 anos que trabalha numa oficina de manutenção de veículos na Ilha Verde foi diagnosticado com febre de dengue. O homem é um trabalhador não residente e é o oitavo caso de febre de dengue no território, ainda que não haja informações se este se trata de um caso “importado” ou não. Os Serviços de Saúde alertam que o risco de transmissão de febre de dengue em Macau é elevado e apelam à população para ter particular atenção à higiene.

Ucrânia Japãocom mais sanções contra MoscovoO Japão anuncia sexta-feira novas sanções contra a Rússia devido ao seu papel na crise da Ucrânia, mantendo-se em sintonia com as decisões recentes dos Estados Unidos e da União Europeia. Como membro do G7, o Governo de Shinzo Abe, que actualmente mantém congelados os activos de 40 pessoas e duas entidades vinculadas ao Governo russo e envolvidas na anexação da Crimeia, aplicará sanções adicionais como decidiram Washington e Bruxelas a 12 de Setembro. Entre as possibilidades abertas estão o aumento da lista de pessoas e grupos com activos congelados e a aplicação de sanções ao sector financeiro e energético. As novas sanções deverão, contudo, ser mais restritas do que as aplicadas pelos Estados Unidos e União Europeia já que Tóquio não tem interesse em prejudicar os seus laços com Moscovo no que toca a uma solução para a disputa territorial sobre um conjunto de ilhas, denominadas pelos japoneses como Territórios do Norte.

Direcção dasForças de Segurançavai criar 100 postos

de trabalho

SÃO oito as empresas que estão na corrida do concurso

para as obras de ampliação e renovação do edifício da Direc-ção dos Serviços das Forças de Segurança de Macau (DSFSM). As construtoras Kin Fong, AD & C, Tong Lei, On Nong, J&T, Hoi Tek, San Kei Ip, Lek Pou Wai foram as empresas que viram a sua candidatura aprova-da, ao contrário da construtora Free Form, a única candidata excluída por não ter entregue os documentos exigidos.

O maior valor apresentado foi de cerca de 29 milhões de pata-cas, pela empresa Tong Lei e os restantes montantes variam entre os 23 milhões e os 27 milhões de patacas. A obra tem início previs-to para o final do presente ano, conforme indica a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), e será dividida em duas fases.

A primeira pretende recupe-rar a fachada exterior do edifício e demolir a oficina de reparação e cantina actualmente existentes no local, que serão substituídos por novas em dois pisos que serão construídos. “Segundo as estimativas, a obra da 1.ª fase poderá ter início em finais do corrente ano ou princípios do próximo ano, sendo o prazo de execução de cerca 280 dias e poderá criar 100 postos de trabalho”, explica a DSSOPT em comunicado.

A abertura do concurso que aconteceu ontem apenas corres-ponde à primeira fase da obra prevista no edifico.

Dalai Lama pede a Xi Jinping mentalidade mais aberta

A Associação Tou In Fong Weng Sin Tong convocou ontem uma conferência de imprensa para explicar o conflito de propriedade que existe no templo I Leng.

Leong Mei Cheng, presidente da associação, disse que o espaço tem sido cuidado por um assistente, de quem recebia as rendas, sendo que o contrato de arrendamento termina no próximo ano. Contudo, quando foi descoberta a destruição do templo, a associação quis recuperar o direito de gestão, mas tal foi-lhe recusado.

Leong Mei Cheng disse que já foram feitas várias queixas ao Instituto Cultural (IC), ques-tionando o porquê da gestão do templo I Leng ter sido entregue à Associação Fu Ian Se. Outro

responsável pelo templo, de apelido Un, referiu que o caso já está nas mãos de um advogado, tendo sido entregue uma queixa junto do Minis-tério Público (MP).

Segundo o canal chinês da Rádio Macau, ainda não há qualquer resposta sobre o processo judicial. À rádio, o IC garantiu que o caso está em processo judicial, tendo garantido que, independentemente de quem for o proprietário, a gestão do templo terá de respeitar a nova Lei da Salvaguarda do Património Cultural.

Foi ainda referido que o IC nunca deu apoio financeiro à Associação Fu Ian Se, esperando que o conflito de propriedade não venha a influenciar de forma negativa a protecção do templo. - F.F.

É já a partir do próximo dia 6 de Outubro que vai entrar em vigor a

proibição do fumo nas zonas do jogo de massas, com base nas mudanças ao Regime de Prevenção e Controlo do Tabagismo. Em relação às salas VIP vai continuar a ser permitido o fumo, mas, ao que parece, esta permis-são está a estender-se e a

TABACO FAOM SUSPEITA DOS CASINOS

As falhas da leiO Dalai Lama, líder espi-ritual do Tibete, pediu

ao Presidente chinês para ter “uma mentalidade mais aberta”, no dia em que Xi Jinping iniciou uma visita à Índia.

O presidente da Re-pública Popular da China encontrou-se ontem com o primeiro-ministro indiano Narenda Mori, numa das raras visitas de um estadista chinês à Índia.

“As abordagens de Xi Jinping são mais realistas e mais moderadas” disse o líder espiritual do Tibete aos jornalistas em Mumbai, comparando o actual presi-dente chinês com o chefe de Estado anterior, Hu Jintao.

“Apesar de tudo, as rela-ções sino-indianas baseadas numa nova confiança são importantes e essenciais”, acrescentou o Dalai Lama, quando questionado sobre a visita de três dias de Xi Jinping à Índia.

O Dalai Lama vive no norte da Índia desde 1959, data da ocupação do Tibete pelas forças da República

Popular da China, facto que tem provocado tensões po-líticas entre Pequim e Nova Deli ao longo das últimas décadas.

O Prémio Nobel da Paz defende um estatuto de au-tonomia para o Tibete mas a China acusa o Dalai Lama de defender a independên-cia tibetana e, por isso, considera-o um separatista.

Durante o encontro en-tre o Xi e Modi, um grupo de estudantes tibetanos manifestou-se contra a ocupação do Tibete nas ruas de Nova Deli.

Cerca de 20 jovens com bandeiras tibetanas pediram justiça mas foram afastados pela polícia.

Federação das Associações de Operários de Macau (FAOM) não acredita que seja bem assim.

Em conferência de im-prensa realizada ontem, a FAOM diz considerar que “há lacunas na lei” e afirma que as operadoras de jogo têm planos para usar divi-sórias nos espaços de altas apostas nas salas de jogo de massas, onde se poderá fumar. Os representantes da FAOM afirmam ainda que as empresas pretendem transformar esses espaços de altas apostas em salas VIP.

“Achamos que há la-

cunas na lei e esperamos que o Governo aprove com rigor as regras nas salas VIP. Os espaços de altas apostas pertencem às salas do jogo de massas, mas as empresas podem aproveitar as lacunas da lei e violar a proibição total do tabaco nas salas de jogo de massas, sem consciência. Porque é que as empresas vão transformar as zonas do jogo de massas em zonas para fumadores? Isso vai prejudicar o direito dos funcionários”, disse Choi Kam Fu, presidente de uma das associações de operários. - F.F.

TEMPLO I LENG COM CONFLITO DE PROPRIEDADE

Luta pelo património

ENCONTROÍNDIA/CHINA