4
Marcos França Silvia Guerreiro Se depender dos coorde- nadores dos quatro festi- vais de cenas curtas realiza- dos no país, a comunicação, a circulação e o intercâmbio serão o tripé que sustentará as ações a partir da estada na Faculdade de Artes Dulcina de Moraes (FADM). O primeiro movimento tem até nome. Atende por Circula Cena – Circuito Nacional de Festivais de Cenas Curtas. Na proposta, os representantes de Manaus, Belo Horizonte, Brasília e Curitiba passariam a visitar as mostras de cada capital e assegurar as trocas das cenas entre as mostras. O projeto, que será enca- minhado à coordenação de Artes Cênicas da Funarte em busca de apoio, nasceu do Encontro de Coordenadores dos Festivais de Cenas Curtas, ocorrido na tarde de ontem, na FADM. Foram discutidas ainda alternativas para supe- rar desafios e traçar novas metas. “A rotina de visitar fes- tivais é uma forma de tro- car, avaliar e fazer as inicia- tivas se fortalecerem”, avalia Leonardo Lessa, do Festival Cenas Curtas do Galpão Cine Horto. “Estimulam também o crescimento de inscrições de projetos de outros estados”, emenda. Para o grupo, o III Festival Dulcina de Cenas Curtas mostrou uma significante mudança contando com cenas de vários estados e ser- viu para conhecer o poten- cial do encontro de coordena- dores. “O momento é de con- fluência e fortalecimento de identidade coletiva, mas tam- bém de reconhecimento das peculiaridades de cada fes- tival”, avalia Márcia Moraes, da Mostra Cena Breve de Curitiba. A articulação nacional do grupo começou com a cone- xão espontânea desses even- tos, seguida da criação de uma rede de troca de experiências que teve início em junho pas- sado em reunião durante o 11ª Festival de Cenas Curtas do Galpão Cine Horto. Estavam presentes: Dyego Monnzaho, do Festival Breves Cenas de Manaus; Márcia Moraes, da Mostra Cena Breve de Curitiba; Francis Wilker, do Festival Dulcina de Cenas Curtas; e Leonardo Lessa, do Festival de Cenas Curtas do Galpão Cine Horto. Intervalos Brasília, 23 de Julho de 2010 Especial Festival Dulcina de Cenas Curtas N o 3 Cenas da noite Página 2 Críticas Páginas 3 e 4 Opiniões do público Páginas 3 e 4 Cena gigante Coordenadores dos festivais de cenas breves de quatro estados propõem ações de troca e de circulação Foto: Thiago Sabino Dyego (AM); Márcia (PR), Francis (DF) e Leonardo (MG) criam o Circula Cena

Intervalos

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Terceira edição do jornal diário editado durante o III Festival Dulcina de Cenas Curtas, em Brasília.

Citation preview

Page 1: Intervalos

Marcos FrançaSilvia Guerreiro

Se depender dos coorde-nadores dos quatro festi-vais de cenas curtas realiza-dos no país, a comunicação, a circulação e o intercâmbio serão o tripé que sustentará as ações a partir da estada na Faculdade de Artes Dulcina de Moraes (FADM). O primeiro movimento tem até nome. Atende por Circula Cena – Circuito Nacional de Festivais de Cenas Curtas. Na proposta, os representantes de Manaus, Belo Horizonte, Brasília e Curitiba passariam a visitar

as mostras de cada capital e assegurar as trocas das cenas entre as mostras.

O projeto, que será enca-minhado à coordenação de Artes Cênicas da Funarte em busca de apoio, nasceu do Encontro de Coordenadores dos Festivais de Cenas Curtas, ocorrido na tarde de ontem, na FADM. Foram discutidas ainda alternativas para supe-rar desafios e traçar novas metas. “A rotina de visitar fes-tivais é uma forma de tro-car, avaliar e fazer as inicia-tivas se fortalecerem”, avalia Leonardo Lessa, do Festival Cenas Curtas do Galpão Cine

Horto. “Estimulam também o crescimento de inscrições de projetos de outros estados”, emenda.

Para o grupo, o III Festival Dulcina de Cenas Curtas mostrou uma significante mudança contando com cenas de vários estados e ser-viu para conhecer o poten-cial do encontro de coordena-dores. “O momento é de con-fluência e fortalecimento de identidade coletiva, mas tam-bém de reconhecimento das peculiaridades de cada fes-tival”, avalia Márcia Moraes, da Mostra Cena Breve de Curitiba.

A articulação nacional do grupo começou com a cone-xão espontânea desses even-tos, seguida da criação de uma rede de troca de experiências que teve início em junho pas-sado em reunião durante o 11ª Festival de Cenas Curtas do Galpão Cine Horto.

Estavam presentes: Dyego Monnzaho, do Festival Breves Cenas de Manaus; Márcia Moraes, da Mostra Cena Breve de Curitiba; Francis Wilker, do Festival Dulcina de Cenas Curtas; e Leonardo Lessa, do Festival de Cenas Curtas do Galpão Cine Horto.

IntervalosBrasília, 23 de Julho de 2010 Especial Festival Dulcina de Cenas Curtas

No 3

Cenas da noitePágina 2

CríticasPáginas 3 e 4

Opiniões do públicoPáginas 3 e 4

Cena gigante Coordenadores dos festivais de cenas breves de quatro estados propõem ações de troca e de circulação

Foto: Thiago SabinoDyego (AM); Márcia (PR), Francis

(DF) e Leonardo (MG) criam o Circula Cena

Page 2: Intervalos

Jornal do Festival - INTERVALOS

Secretário executivo FBT: Augusto Lacerda BrandãoDireção FADM: Lúcia AndradeCoordenação geral e produção executiva: Francis WilkerEditores: Marina Severino e Sérgio Maggio

Reportagem: Jéssica Paula, José Reis, Marcos França, Natália Vinhal, Ronan Nascimento, Silvia Guerreiro, Tiago Nery, Victor Carballar e Vinícius RemerProgramação visual: Julio MendesFotógrafo: Thiago SabinoTiragem: 300 exemplares

Expediente Intervalos é uma publicação interna da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes

Beatriz, da Cia. Instrumento de Ver (Brasília, DF)

Numa mistura de teatro, circo e dança, a acrobata profis-sional Beatrice Martins partiu da angústia estrangeira

para criar Beatriz. Inspirada na música homônima de Chico Buarque, que ouvia durante uma turnê nos EUA em 2008, Beatrice quis criar uma cena para externalizar a solidão e a sau-dade do Brasil. A coreografia, explorando novos movimentos no trapézio, surgiu após longo processo de pesquisa do corpo para transmitir o peso e a leveza da vida de artista.

A caixa de Pandora, da Cia de Teatro de Cujus(Curitiba, PR)

Alunos da Faculdade de Artes do Paraná, buscando a cria-ção de um monólogo para desenvolver opções estéticas

e filosóficas, construíram uma releitura da obra homônima de Frank Wedekind. A cena nos apresenta um homem questio-nando a sua não aceitação pela sociedade e a convivência difícil com a família. Aos poucos, ele assume uma postura antes desco-nhecida: a travesti Lulu, que mostra, a partir de questionamen-tos, um sujeito que pensa, sofre e ri.

A dama da noite, de Fernando Martins(Brasília, DF)

À espera, de Hyandra Lo(Brasília, DF)

Cenas da noiteHoje, às 19h, no Teatro Dulcina

2

Foto

: Deb

ora

Am

orim

Foto

: Thi

ago

Sabi

no

Foto

: Thi

ago

Sabi

noFo

to: T

hiag

o Sa

bino

Baseada na obra Solidão, a comédia, de Vicente

Pereira, A Dama da Noite res-gata a obra e homenageia o autor, considerado um dos fundadores do teatro bestei-rol. Com direção e atuação de Fernando Martins e música original de César Lignelia, a cena apresenta Geneviève, uma personagem à espera de alguém que não se sabe se chega ou se já se foi. A angústia pelo encontro revela a solidão e desencadeia uma sucessão de gafes que afastam definiti-vamente o pretendente.

“O mundo tal qual eu encontrei” foi a frase

que motivou a criação de À espera. Apoiada na pesquisa do teatro físico de Grotowski, a diretora Hyandra Lourenço explo-rou, nessa cena, um signifi-cado mais sincero atrás das palavras. O enredo é uma livre-adaptação da novela Com a morte em cima, de Luigi Pirandello. Através dos olhos de um homem soli-tário em situação terminal se encontra a sensibilidade para enxergar o dia-a-dia.

Page 3: Intervalos

CrítiCas

3

Fotos: Thiago Sabino

Pronto para mudar (SP)

Planos difusos Sérgio Maggio

A dramaturgia coletiva de Pronto para mudar é o trunfo e simultaneamente o risco da encenação da cena pau-

lista. Misturando planos de realidade e de delírio, a narrativa se desenha ousada em campos difusos. Quando está no nível de uma possível situação trivial de venda de um imóvel, segue em velocidade capaz de arrastar o espectador junto com a atriz. Quando se alterna para um universo onírico, quase absurdo das personagens fantasmas, engasga numa construção de sentido oscilante.

A concepção da cena não consegue diferenciar nem har-monizar essas passagens, o que dá uma sensação de impo-tência no espectador ao tentar fruir junto com a cena. Com espécie de abismo estabelecido, a narrativa segue sem um diálogo possível entre esses planos, acentuando uma atmos-fera nonsense um tanto artificial.

Com tons distantes, as atrizes parecem executar trabalhos totalmente díspares. Apesar do descompasso dramatúrgico entre texto e cena, Pronto para mudar tem uma concepção de cena orgânica, com bom domínio espacial e cenário narra-tivo. A participação do público, por exemplo, o que, em prin-cípio poderia ser um caos, acaba por ser um dos momentos de respiro.

5 cabeças à espera de um trem, da Cia 5 Cabeças (MG)

Ditadura da ansiedade Marina Severino

Os olhos começam arregalados, vidrados em direção ao vazio. Os cinco atores em cena têm pouco mais que os

olhos, expressões e voz para segurar a atenção do público por 15 minutos. O resto do corpo, camuflado por um tecido negro, está inativo para a interpretação.

Mesmo assim, a Cia 5 Cabeças apresenta um bem sucedido domínio de cena, e as 5 cabeças à espera de um trem se tornam corpos completos. Cada palavra, movimentos musculares de rosto e respiração valem como um aceno de impaciência desses personagens do absurdo, que estão há quase 15 anos à beira dos trilhos, num claro diálogo com o universo estético de Samuel Beckett. A sensação de que o momento nunca chega, comum a todos que esperam com ansiedade, é expresso em um relógio literal que não sai das 9h15, e é capaz de evidenciar as mais incô-modas características de cada um.

Um bem resolvido jogo de palavras diverte e brinca com a lógica, sustentada por uma das cabeças que anuncia regras sobre o que os outros sentem ou podem acreditar. Uma ditadura que se quebra pela compaixão, quando uma das cabeças, grávida, sofre pelas contrações.

A criação do norte-americano Byron O’Neill vale como prova de fogo para um exercício cênico e reúne em palco um grupo coeso e equilibrado. Na medida em que a cena corre, fica evidente que, para algumas situações teatrais, é possível transcender a carica-tura e transformá-la em um recurso que não acaba em si mesmo, mas colabora e serve de norte à dramaturgia.

I m p r e s s õ e s :

Acho que das peças dessa noite, 5 cabeças à espera de um trem tinha a melhor direção. Os atores estavam

sintonizados e o texto foi bem construído. Foi a que mais gostei.

Tiago Dieguez, 26 anos, ator

Gostei muito do paralelismo temporal feito em Pronto para mudar. De um lado tinha a normalidade

extrema da corretora e de outro as mulheres vomitando coelhinhos, até que elas se encontram no tempo. Essa temática da loucura e do tempo me atraiu muito.

Paulo Carvalho, 23 anos, estudante de direito

Apesar do descompasso dramatúrgico entre texto e cena, Pronto para mudar tem uma concepção orgânica com bom domínio espacial e cenário narrativo.

Page 4: Intervalos

4

CrítiCasFotos: Thiago Sabino

I m p r e s s õ e s :

Duas palhaças e um pequeno príncipe foi a mais diver-tida. Os diálogos deixaram o texto mais rápido e foi

muito engraçado. Acho que para um tempo curto, cenas como Pronto para mudar ficam inapropriadas.

Vinicius Lopes, 34 anos, analista de sistemas

Gostei muito de ter um tempo pequeno para as cenas. Acho que em 15 minutos é possível atingir

um grau de objetividade bem maior. Foi o que senti em O ninja, os 15 minutos foram bem aproveitados.

André Nahur, 29 anos

O ninja, de Marcos Davi R. L. de Lopes

Para espairecer Sérgio Maggio

O trabalho corporal de Marcos Davi é mesmo o centro dra-mático da cena O ninja. Desde o primeiro segundo em

que ele surge no palco, fisga a atenção da plateia e estabelece o grande desafio. Segurar o fôlego do espectador dentro de uma linguagem extremamente complexa, que é a mímica dramática. De alguma forma, ele consegue o objetivo pela extrema habili-dade técnica com que se movimenta, construindo os quadros dramatúrgicos. Dialogando com gags de clown e a remissão à estética dos quadrinhos, escreve visualmente, com o corpo, uma histórica nítida e de comunicação imediata com a platéia.

É exatamente neste ponto que Marcos Davi enfrenta a princi-pal dificuldade. Superar uma dramaturgia extremamente óbvia, com reminiscências clássicas, como a do cachorro que se agarra a perna do ladrão. Sem a possibilidade de construir significados ou reflexões, a cena O ninja acaba por restringir a virtuose de Marcos Davi e a um esquete, sobretudo, cômico.

A cena se expõe ainda mais porque, imediatamente anterior, fora apresentada Duas palhaças e um pequeno príncipe que, numa simplicidade devastadora de gestos e palavras, estabeleceu uma reflexão crítica tão tocante sobre a existência humana que O ninja parece um belo e leve quadro para espairecer.

Duas palhaças e um pequeno príncipe, de As Marias da Graça (RJ)

Humor singelo Marina Severino

Shoyu é uma palhaça doce, não contém as reações e res-ponde a uma pergunta mesmo quando não direcionada a

ela. Ao lado de Indiana, que narra a famosa história do pequeno príncipe e da raposa de Saint-Exupéry, poderia ser abafada pelo olhar repressor da sisuda companheira de cena.

Mas duas palhaças demonstram um equilíbrio singelo, refor-çado pela empatia das atrizes Karla Concá e Vera Ribeiro. A cena não se limita a um argumento singular, bem comum às cenas apresentadas em tempo curto. A montagem é plural e rompe o palco com piada sobre as regras das cenas curtas, quando as palhaças pedem para alguém do público contar o tempo. Afinal, elas não saíram do Rio de Janeiro para perder pontos por falar demais.

A cada minuto mais próximas do público, as palhaças contam uma das histórias mais populares do mundo com o calor de uma novidade. Sem se preocupar em manter sintonia com um ritmo acelerado, se seguram em olhares, numa ascendente intimidade entre si e com a plateia.

Elementos que poderiam ser chamativos no visual clown – o cabelo desarrumado de uma, as meias da outra – compõem a cena de forma discreta. Nada de puxar suspensórios ou se escon-der atrás do nariz. As duas expõem assim a força do texto clássico da literatura em harmonia com uma nova interpretação. É difícil não se encantar mais uma vez com a história de Exupéry.

Desde o primeiro segundo em que Marcos Davi surge no palco, fisga a atenção da plateia e estabelece o grande desafio: segurar a atençao do espectador com linguagem complexa