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CESA CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA GESTORES DO SISTEMA ESTADUAL DE AGRICULTURA SÉRGIO LUIZ CARNEIRO METODOLOGIA INTEGRATIVA DE EXTENSÃO RURAL NA REGIÃO DE LONDRINA-PR LONDRINA PR 2011

Metodologia integrativa de extensão rural na região de

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Page 1: Metodologia integrativa de extensão rural na região de

CESA – CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA GESTORES DO SISTEMA ESTADUAL DE AGRICULTURA

SÉRGIO LUIZ CARNEIRO

METODOLOGIA INTEGRATIVA DE EXTENSÃO RURAL NA

REGIÃO DE LONDRINA-PR

LONDRINA – PR 2011

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SÉRGIO LUIZ CARNEIRO

METODOLOGIA INTEGRATIVA DE EXTENSÃO RURAL NA

REGIÃO DE LONDRINA-PR

Trabalho de Conclusão de Curso de Pós-Graduação “lato sensu”, Administração Pública para Gestores do Sistema Estadual de Agricultura- Universidade Estadual de Londrina, 2010

Orientador: Prof. Luís Miguel Luzio dos Santos

LONDRINA

2011

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SÉRGIO LUIZ CARNEIRO

METODOLOGIA INTEGRATIVA DE EXTENSÃO RURAL NA

REGIÃO DE LONDRINA-PR

Trabalho de Conclusão de Curso de Pós-Graduação “lato sensu”, Administração Pública para Gestores do Sistema Estadual de Agricultura- Universidade Estadual de Londrina, 2010

COMISSÃO EXAMINADORA

____________________________________

Profº Drº Luís Miguel Luzio dos Santos

Universidade Estadual de Londrina

____________________________________

Profº Drº Fabio Lanza

Universidade Estadual de Londrina

____________________________________

Profª Drª Maria de Fátima S. de S. Campos

Universidade Estadual de Londrina

Londrina, 28 de abril de 2011

Page 4: Metodologia integrativa de extensão rural na região de

AGRADECIMENTOS

Ao Profº Drº Luís Miguel Luzio dos Santos meu sincero agradecimento pelo apoio ao

orientar este trabalho.

Ao Governo do Paraná, por meio da Escola de Governo, na criação e patrocínio

deste curso de especialização.

Aos agricultores pela invariável cordialidade e paciência e pela oportunidade que me

foi dada de adentrar seu universo.

Aos prezados mestres e colaboradores da UEL, em especial ao Prof.º Gerson

Antonio Melatti, sou imensamente grato.

Aos extensionistas da Emater - Unidade Regional de Londrina, que não mediram

esforços e aceitaram o desafio de colocar em prática uma nova proposta

metodológica, em especial aos colegas Ildefonso José Haas, Marli Candalaft Parra

Peres, Paulo Tadatoshi Hiroki, Luis Artur Bernardes da Rosa, Gervásio Vieira,

Fernando Luis M. Costa

Aos colegas do Projeto Redes de Referências, Dimas Soares Júnior e Rafael

Fuentes Llanillo e todos os colaboradores do Iapar e do Projeto Universidade Sem

Fronteira, pelo apoio constante.

Aos colegas de estudo, agradeço pelo convívio e pela amizade.

À minha família, Luciana e Júlia, que colaboraram e compreenderem a minha

ausência.

Page 5: Metodologia integrativa de extensão rural na região de

“A nossa participação no sistema de relação camponeses-natureza-cultura não pode

ser reduzida a um estar diante, a um estar sobre, ou a um estar para, mas a um

estar com eles como sujeitos também da mudança e do desenvolvimento”

PAULO FREIRE

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CARNEIRO, Sérgio Luiz. METODOLOGIA INTEGRATIVA DE EXTENSÃO RURAL NA REGIÃO DE LONDRINA-PR. 2011 59 páginas. Trabalho de Conclusão de Curso de Pós-Graduação “lato sensu”, Administração Pública para Gestores do Sistema Estadual de Agricultura – Universidade Estadual de Londrina, 2011.

RESUMO

Desde 2007, o Instituto Emater da Região de Londrina-PR vem desenvolvendo uma metodologia integrativa de extensão rural, com o objetivo de adequar suas estratégias e táticas em consonância com a Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural. Este trabalho tem o objetivo de descrever o processo de adoção e adaptação da metodologia integrativa de extensão rural, suas potencialidades e limitações.Como resultado inicial, ficou evidenciado nas ações desenvolvidas a integração de visões e de métodos, além de estabelecer as conexões internas e externas entre projetos e áreas de atuação. Palavras-chave: metodologia; extensão rural; redes de referências; desenvolvimento rural; agricultura familiar

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CARNEIRO, Sérgio Luiz. INTEGRATIVE METHODOLOGY FOR RURAL EXTENSION OF LONDRINA REGION, PARANÁ STATE. 2011 59 páginas. Trabalho de Conclusão de Curso de Pós-Graduação “lato sensu”, Administração Pública para Gestores do Sistema Estadual de Agricultura – Universidade Estadual de Londrina, 2011.

ABSTRACT

Since 2007, the Emater Institute of Londrina region in Parana state, have been developing an integrative methodology for rural extension in order to adapt its strategies and tactics in line with the National Policy of Technical Assistance and Rural Extension. This paper aims to describe the process of adoption and adaptation of the integrative methodology of rural extension, its potential and limitations. In the first result was evidenced the integration of visions and methods and the establishment of the connections between internal and external projects and areas. Keywords: methodology; rural extension; reference networks; rural development; family farm.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Etapas metodológicas das Redes de Referências ................................ 23

Figura 2 – Mapa do Paraná com destaque para a região de Londrina, PR ........... 27

Figura 3 – Áreas de Desenvolvimento Integrado na região de Londrina – PR ....... 27

Figura 4 – Metodologia integrativa adaptada das Redes de Referências .............. 28

Figura 5 – Mapa de altitudes ................................................................................. 34

Figura 6 – Mapa de temperatura média anual ....................................................... 35

Figura 7 – Mapa de precipitação pluviométrica .................................................... 35

Figura 8 – Mapa de evapotranspiração ................................................................. 35

Figura 9 – Grupos de sistemas de produção por ADI ............................................. 43

Figura 10 – Caminhada no Assentamento Florestan Fernandes ............................ 46

Figura 11 – Caminhada na Comunidade Barra da Jacutinga ................................. 46

Figura 12 – Caminhadas nas Comunidades Akolá e Serraria ................................ 47

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Variáveis classificatórias da categoria social ........................................ 29

Tabela 2 – Tipificação dos sistemas de produção agropecuários ........................... 41

Tabela 3 – Alcance das metas programadas .......................................................... 47

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Proporção de gênero .......................................................................... 37

Gráfico 2 – Nível de escolaridade ......................................................................... 38

Gráfico 3 – Ocupação da mão-de-obra familiar ..................................................... 39

Gráfico 4 – Principais fontes de renda não-agrícolas ............................................ 39

Gráfico 5 – Índice de qualidade de vida rural ........................................................ 40

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ADI - Área de Desenvolvimento Integrado

ATER - Assistência Técnica e Extensão Rural

EMATER - Intituto Paranaense da Assistência Técnica e Extensão Rural

EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

EMBRATER - Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural

EPAGRI - Empresa de Pesquisa Agrop. e Extensão Rural de Santa Catarina

IAPAR - Instituto Agronômico do Paraná

MDA - Ministério de Desenvolvimento Agrário

PNATER - Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural

PRONAF - Programa Nacional de Apoio a Agricultura Familiar

REDES - Redes de Referências para a Agricultura Familiar

SAF - Secretaria da Agricultura Familiar

SEAB - Secretária da Agricultura e do Abastecimento do Paraná

Page 10: Metodologia integrativa de extensão rural na região de

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 12

1.1 DEFINIÇÃO DE OBJETIVOS .................................................................................... 14

1.1.1 Objetivo Geral ................................................................................................ 14

1.1.2 Objetivos Específicos ..................................................................................... 14

1.2 JUSTIFICATIVAS ................................................................................................... 15

2 REVISÃO DE LITERATURA .............................................................................. 16

2.1 EXTENSÃO RURAL ESTATAL ................................................................................. 16

2.2 METODOLOGIA NA EXTENSÃO RURAL ESTATAL ....................................................... 18

2.3 REDES DE REFERÊNCIAS PARA AGRICULTURA FAMILIAR ......................................... 21

3 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................... 25

3.1 DESIGN E PERSPECTIVA DA PESQUISA .................................................................. 26

3.2 COLETA DE DADOS .............................................................................................. 32

3.2.1 Dados Secundários ....................................................................................... 32

3.2.2 Dados Primários ............................................................................................. 33

3.3 PERGUNTA DE PESQUISA ..................................................................................... 33

3.4 ANÁLISE DOS DADOS ........................................................................................... 33

4 RESULTADOS .................................................................................................... 34

4.1 CARACTERIZAÇÃO REGIONAL ................................................................................ 34

4.2 SELEÇÃO DE COMUNIDADES ................................................................................. 36

4.3 TIPIFICAÇÃO ........................................................................................................ 36

4.4 DIAGNÓSTICO RURAL PARTICIPATIVO ..................................................................... 42

4.5 SELEÇÃO DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO E DE PROPRIEDADES DE REFERÊNCIAS .......... 42

4.6 DIAGNÓSTICO ....................................................................................................... 43

4.7 PLANEJAMENTO .................................................................................................... 44

4.8 ACOMPANHAMENTO .............................................................................................. 44

4.9 SOCIALIZAÇÃO DOS RESULTADOS ........................................................................... 45

4.10 ALCANCE DAS METAS PROGRAMADAS .................................................................. 47

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 48

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 50

ANEXOS .................................................................................................................. 52

Page 11: Metodologia integrativa de extensão rural na região de

ANEXO A – Equipe Técnica ..................................................................................... 53

ANEXO B – Questionário de Tipologia ..................................................................... 54

ANEXO C – Relação de Comunidades Rurais Selecionadas ................................... 59

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12

METODOLOGIA INTEGRATIVA DE EXTENSÃO RURAL NA REGIÃO DE

LONDRINA-PR

1 INTRODUÇÃO

A Assistência Técnica e Extensão Rural (doravante denominada de Ater), na

esfera de governo, é um instrumento de política pública em projetos e programas

voltados ao desenvolvimento rural. A complexidade dos problemas rurais requer da

Ater o domínio de conhecimentos e habilidades para orientar os extensionistas na

tomada de decisões, selecionar prioridades, propor intervenções adequadas às

circunstâncias dos agricultores, avaliar e multiplicar resultados, dentre outros.

Portanto, não pode ser vista como uma atividade pouco exigente em termos

científicos, pois a extensão rural, além das atribuições tradicionais, tem o papel de

contribuir na construção de conhecimento científico, quer seja nas ciências sociais

ou naturais. Nesse sentido, a extensão, por formar uma tríade com o ensino e a

pesquisa, necessariamente precisa atuar de forma integrada, em especial com estes

dois segmentos.

A metodologia na extensão rural deve ter um caráter de problematização e de

reflexão, em particular no que diz respeito à intervenção na realidade rural. Além de

ser uma disciplina que estuda os métodos, ao nível ainda mais aplicado, tem um

papel fundamental no modo de conduzir o trabalho, principalmente em equipes

transdisciplinares, que atuam em programas e projetos no âmbito da Ater. Pode

evitar a fragmentação excessiva entre os diversos processos existentes, pois

permite organizar a promoção de ações sistêmicas e integrar seus componentes e

seus atores, levando em consideração os contrastes regionais, os múltiplos produtos

e as várias dimensões que caracterizam o meio rural.

Todavia, metodologia não pode ser confundida com discurso político, pois se

trata da orientação da forma de conduzir o trabalho para melhorar a efetividade dos

procedimentos. Deve evitar o vínculo de propostas de vida curta formatadas por

grupos de interesse momentâneo. Também não deve gerar falsas expectativas de

alcance de resultados aos atores do serviço de Ater. É preciso reconhecer as

potencialidades, limitações ou distorções no uso de métodos e técnicas e na

interpretação de dados e informações coletados.

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A Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural - Pnater,

promulgada em 2003, aponta para a perspectiva de um novo Brasil, rompendo com

a visão da extensão tradicional, produtivista e difusionista. Entre os principais

princípios da Pnater está a utilização de novas metodologias adotando processos

participativos, que valorizem o conhecimento acumulado do agricultor; a participação

dos atores nos processos de decisão, gestão, monitoramento e avaliação das ações

de Ater.

Em 2007, a diretoria do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e

Extensão Rural - Emater buscou instituir uma nova postura, ação denominada de

Reposicionamento Institucional. Neste sentido, a gerência da região de Londrina-PR

promoveu momentos de debate com a participação do quadro próprio de técnicos, e

também de lideranças e de instituições afins, com objetivo de agregar informações e

conhecimentos para aperfeiçoar as estratégias de ação da extensão rural. No

decorrer destes debates, manteve-se um grupo de extensionistas com o objetivo de

consolidar um plano estratégico para atender às prioridades da região. Em cada

etapa de trabalho do grupo acrescentou-se novas idéias, até a decantação de uma

proposta metodológica. Esta proposta teve como característica básica promover a

integração das experiências exitosas, das diretrizes da Pnater e da Secretária da

Agricultura e do Abastecimento do Paraná.

O propósito era a integração de conceitos e de princípios, dentre outros

componentes que permeiam a extensão rural, tais como: enfoque sistêmico e

enfoque analítico; métodos participativos e métodos estruturados; técnicos

generalistas e técnicos especialistas; projetos vetores e áreas transversais;

agricultores, extensionistas e pesquisadores; visão produtivista e visão

desenvolvimentista. A combinação destes conceitos e princípios necessitava de

orientações metodológicas em conformidade com a dinâmica de trabalho da

extensão rural. Sem estas orientações correr-se-ia o risco de complicar o

entendimento e a operacionalização dos planos de desenvolvimento rural.

Uma das motivações de se buscar a adaptação de uma nova metodologia foi

a consciência da complexidade dos problemas relacionados ao meio rural e os

grandes desafios dos extensionistas em dar respostas satisfatórias frente a essa

realidade. Era fundamental o desenvolvimento de uma metodologia mais robusta,

que propiciasse: métodos e ferramentas adequadas de intervenção; processos de

aprendizagem experiencial ou na ação; a elaboração de projetos inteligentes e

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14

inovadores; empoderamento aos agricultores; melhoria ambiental, de renda e de

qualidade de vida; processos de avaliação e de divulgação de resultados da Ater.

A experiência vivenciada em 12 anos de existência do projeto Redes de

Referências para Agricultura Familiar e a combinação de métodos participativos,

comum no âmbito da extensão rural, resultaram em inovações metodológicas

adotadas pelo Instituto Emater na Região de Londrina, em 18 municípios, compondo

33 comunidades e 467 estabelecimentos rurais familiares assistidos.

1.1 DEFINIÇÃO DOS OBJETIVOS

1.1.1 Objetivo Geral

O objetivo principal deste estudo é descrever o processo de adaptação e

introdução de uma metodologia integrativa de extensão rural da Região de Londrina,

estado do Paraná.

1.1.2 Objetivos Específicos

Os objetivos específicos deste trabalho são de avaliar e verificar se a

metodologia em pauta contribuiu para:

identificar os tipos de sistemas de produção agropecuários predominantes

e o perfil socioeconômico dos agricultores familiares para reposicionamento

dos planos de ação extensionistas, em bases locais e/ou regionais;

promover a participação direta dos usuários/beneficiários das ações

extensionistas nos processos de formulação e consolidação de propostas

de inovação tecnológica para o desenvolvimento da agricultura familiar;

ampliar a integração entre a Ater e a pesquisa e produzir conhecimentos

que sirvam de referência para a formulação de planos de ação voltados à

sustentabilidade da agricultura familiar;

constituir núcleos locais de difusão e de aperfeiçoamento para o público

usuário e beneficiário (agricultores, extensionistas e profissionais da

assistência técnica rural especializada);

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15

1.2 JUSTIFICATIVAS

A título de justificativa, um serviço de extensão rural pública mais

conseqüente necessita realizar estudos para avaliar os impactos de suas ações e

adequar suas intervenções. Neste sentido, o presente trabalho tem a intenção de

contribuir no aprimoramento metodológico aplicado no cotidiano do extensionista,

em especial para o planejamento tático do trabalho e para analisar os resultados das

ações realizadas pela extensão rural pública.

Por outro lado, não existe metodologia de extensão rural bem definida e

estruturada como existe no ensino e na pesquisa. Esta ausência compromete o

reconhecimento da Ater em termos de produção de conhecimento e de divulgação

de informações, em especial como forma de interação e de posicionamento na

sociedade científica. A extensão rural ainda é vista como uma atividade pouco

exigente no que se refere á metodologia científica. Este trabalho é um convite à

reflexão no sentido de superar este problema: a carência do conhecimento explícito

e maduro acerca da metodologia nos planos e projetos de Ater.

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16

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 EXTENSÃO RURAL ESTATAL

O termo Extensão Rural Estatal se refere aqui como sendo o serviço de

Assistência Técnica e Extensão Rural - Ater, disponibilizado pelos governos

estaduais à sociedade, em particular à população rural. Optou-se em utilizar este

termo para diferenciá-lo de um sentido mais amplo, tais como o termo extensão rural

aplicados nos órgãos de pesquisa e de ensino.

Desde o seu surgimento em Minas Gerais, no dia 06 de dezembro de 1948,

até os dias atuais, a Extensão Rural Estatal, no Brasil, passou por várias crises. Para

cada momento de crise, ajustes foram necessários no sentido de adequar diretrizes

e rumos às alterações de políticas agrícolas. Em decorrência, as atribuições do

extensionista rural foram acompanhando aos diferentes modelos de

desenvolvimento e de interesses vigentes em cada etapa de sua história (MIGLIOLI,

2009).

Tantas mudanças no decorrer de sua existência atribuíram um caráter

polissêmico ao termo Extensão Rural e também evidenciaram a sua resistência.

Dentre as diversas atribuições do extensionista rural, de acordo com o contexto

histórico e em ordem cronológica, citam-se os seguintes papéis: de educador formal

e informal; de orientador de crédito rural; de difusor de inovações tecnológicas; de

educador dialógico; de comunicador rural e animador de planejamentos

participativos; de mobilizador para a participação sociopolítica da população rural; de

agroecologista; e de articulador do desenvolvimento local. A necessidade de

mudança “possibilitou que a atividade se renovasse teoricamente, e, ao se renovar,

resistiu no tempo” (CALLOU, 2006).

Entre os momentos marcantes da história da Extensão Rural no Brasil,

destaca-se a criação da Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural

– Embrater, em 1975, para coordenar e alocar recursos do Governo Federal neste

setor. Em 1990, porém, a Embrater foi extinta no governo do Presidente Fernando

Collor de Mello, que teve como conseqüência: estadualização da política de

extensão rural; extinção de entidades estaduais; fusão com outros serviços;

mudanças de natureza jurídica e organizacional das entidades estaduais; redução

do orçamento; não renovação do quadro técnico e redução do número de técnicos.

Page 17: Metodologia integrativa de extensão rural na região de

17

Cada entidade estadual buscou seu caminho, com notável fragilidade do serviço de

Ater em muitas delas (MIGLIOLI, 2009).

No estado do Paraná, desde o seu surgimento, em 1956, até os dias atuais, o

serviço público de extensão rural foi e é mantido pelo Governo Estadual. No entanto,

não ficou isento de mudanças de nome, de regime jurídico, de linhas de atuação ao

longo dos seus 54 anos de existência.

Em 1996, foi criado o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura

Familiar Pronaf, que gerou forte demanda para as entidades de Ater em todo o país

(MIGLIOLI, 2009).

Todavia, as políticas de redução do Estado, que iniciaram na década de 90,

com resultados negativos para o serviço público de Ater, se estenderam, pelo

menos, até o ano de 2003, ano em que as atividades de Ater passaram a ser

coordenadas pelo recém criado Ministério de Desenvolvimento Agrário – MDA.

Determinou-se, por meio da Secretaria da Agricultura Familiar – SAF, a necessidade

de implantação de uma Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural -

Pnater, como resposta às necessidades contemporânea do meio rural, em especial

no avanço do processo de democratização e na busca de eqüidade social

(BIANCHINI, 2006).

E o que preconiza esta nova política? A Pnater “pretende contribuir para uma

ação institucional capaz de implantar e consolidar estratégias de desenvolvimento

rural sustentável, estimulando a geração de renda e de novos postos de trabalho”.

Tem como alicerce, potencializar principalmente: as atividades produtivas de

alimentos sadios e de matérias-primas; a agroindustrialização e outras formas de

agregar renda à produção primária; e as estratégias de comercialização. Destaca-se

também o direcionamento de ações para a agricultura familiar, respeitando às

diversidades sociais, econômicas, étnicas, culturais e ambientais do país, que

implica na necessidade de incluir enfoques de gênero, de geração, de raça e de

etnia nas orientações de projetos e de programas. Enfatiza-se ainda, a busca da

inclusão social como elemento central de todas as ações orientadas pela Pnater

(MDA, 2008).

Intensificaram as críticas aos métodos antes apreendidos, de difusão de

tecnologia, adaptados ao processo de modernização da agricultura, frente às

exigências do meio rural, que avançou no processo de democratização e na busca

de eqüidade social (MDA, 2008).

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18

E qual deve ser o papel do extensionista nesse contexto? A Extensão Rural foi

desafiada a realizar substituição de enfoques metodológicos e de paradigmas

tecnológicos, ou seja, substituir a linha predominantemente difusionista e produtivista

por uma participativa e desenvolvimentista. Para dar conta desses desafios, os

serviços de Ater foram orientados no sentido de priorizar o uso de metodologias

participativas, devendo o extensionista desempenhar um papel educativo, atuando

como animador e facilitador de processos de desenvolvimento rural sustentável. Ao

contrário da prática convencional de transferir pacotes tecnológicos, a Ater pública

deve atuar partindo do conhecimento e análise dos agroecossistemas, adotando um

[...] enfoque holístico e integrador de estratégias de desenvolvimento, além

de uma abordagem sistêmica capaz de privilegiar a busca de equidade e

inclusão social, bem como a adoção de bases tecnológicas que aproximem os

processos produtivos das dinâmicas ecológicas (MDA, 2008, p.11).

2.2 METODOLOGIA NA EXTENSÃO RURAL ESTATAL

Pretende-se tratar neste item os significados do Conhecimento e da

Metodologia, em particular analisar o uso de métodos no âmbito do serviço de Ater

estatal. Cabe ressaltar que se privilegiou, neste estudo, a Metodologia em Ciências

Sociais, pois possui forte interseção com as características dos serviços de Ater. As

perguntas-chaves aqui são: a extensão rural estatal necessita utilizar metodologia

científica para atender seu papel? Precisa gerar ou dominar o conhecimento

científico para intervir adequadamente na realidade? Estas indagações são

pertinentes, pois no decorrer da história da Ater as atribuições dos extensionistas

sofreram mudanças paradigmáticas. O objetivo é analisar aqui as relações do

Conhecimento e da Metodologia Científica com a rotina do extensionista rural e com

o “novo” serviço de Ater, de acordo com a Pnater.

Segundo Jesus (2006, p. 80), o profissional da extensão rural, no seu cotidiano,

atua com a diversidade de saberes e de conhecimentos que se distinguem pelos

seus processos de produção. Neste aspecto, os conhecimentos podem ter as suas

origens diferenciadas, tais como: o senso comum; o filosófico; o religioso; e o

científico. O referido autor afirma que “ninguém está autorizado a classificar este ou

aquele como conhecimento superior ou inferior”. Complementa ainda, que as

finalidades de se buscar o conhecimento científico são as seguintes:

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compreendê-lo como processo de produção diferenciado de outros tipos de

conhecimento;

contribuir para compreensão e crítica do conhecimento sistematizado a que

se tem acesso;

instrumentalizar-se para sua prática, para seu exercício.

Para Thiollent (2003), a relação do conhecimento e ação está no centro da

problemática metodológica da pesquisa social, que existe tanto no campo do agir

(ação social, política, jurídica, moral) quanto no campo do fazer (ação técnica).

Espera-se, por meio de uma ação planejada, transformar uma realidade levantada

(“a situação está assim...”) em proposições normativas (“temos que fazer isto...”).

Todavia, as normas geralmente pertencem à ideologia, perspectivas políticas ou

culturais, aos movimentos sociais ou ao funcionamento das instituições. O

pesquisador pode ser influenciado pelas exigências daquelas normas, com efeito de

contaminação sobre o estudo proposto. O interventor ou pesquisador deve conhecer

estas fontes de distorções e, se possível, mantê-las sob controle do ponto de vista

metodológico e ético.

Na origem do termo, Metodologia significa “estudo dos métodos, especialmente

dos métodos da ciência” (FERREIRA, 1986).

Em complemento ao conceito enunciado acima, para Demo (1995, p. 11)

Metodologia também tem caráter de problematizar “criticamente, no sentido de

indagar os limites da ciência, seja com referência a capacidade de conhecer, seja

com referência à capacidade de intervir na realidade”. Metodologia distingue-se de

Métodos e Técnicas “por estar em jogo no segundo caso o trato da realidade

empírica, enquanto no primeiro existe a intenção da discussão problematizante, a

começar pela repulsa em aceitar que a realidade social se reduza à face empírica” .

Thiollent (2003, p.25) também buscou esclarecer possíveis imprecisões relativas

aos termos Metodologia, Métodos e Técnicas, que, de um lado, significa “o nível da

efetiva abordagem da situação investigada com métodos e técnicas particulares e,

por outro lado, o metanível, constituído pela metodologia enquanto instância de

Page 20: Metodologia integrativa de extensão rural na região de

20

reflexão”. Ou seja, pode-se distinguir “o nível do método efetivo aplicado na

captação da informação social e a metodologia como metanível, no qual é

determinado como se deve explicar ou interpretar as informações colhidas”. Para o

referido autor, a diferença entre Método e Técnica reside no fato de que a segunda

possui objetivo muito mais restrito do que o primeiro. Salientou que a Metodologia se

relaciona com a epistemologia ou a filosofia da ciência, cujo objetivo consiste em

“analisar as características dos vários métodos disponíveis, avaliar suas

potencialidades, limitações ou distorções e criticar os pressupostos ou as

implicações de sua utilização”. Em nível mais aplicado, a metodologia representa o

conhecimento geral e habilidade “que são necessários para se orientar no processo

de investigação, tomar decisões oportunas, selecionar conceitos, hipóteses, técnicas

e dados adequados”.

Thiollent (2008, p.2), ao tratar dos avanços da metodologia no âmbito da

extensão universitária, afirmou que “a exigência metodológica se traduziu na

adaptação de métodos conhecidos em várias áreas de conhecimento para serem

aplicados em projetos de extensão”. Complementou ainda que numa visão pluralista

adaptável à intervenção em múltiplas realidades, “os métodos escolhidos podiam ser

variados e não necessariamente unificados por determinada filosofia da ciência ou

do conhecimento”. É o caso típico do extensionista rural.

No item anterior deste estudo, foi visto que as orientações metodológicas para

as ações de Ater devem ter, dentre outros elementos, um caráter educativo. Desde

modo, a intervenção do extensionista “deve ocorrer de forma democrática, adotando

metodologias participativas e uma pedagogia construtivista e humanista, tendo como

ponto de partida a realidade e o conhecimento local” (MDA, 2008, p.11).

Segundo informações do MDA (2008, p.11)

[...] “no processo de desenvolvimento rural sustentável atualmente desejável,

o papel das instituições, bem como dos agentes de Ater, do ensino e da

pesquisa, deverá ser exercido mediante uma relação dialética e dialógica

com o público da extensão, que parta da problematização sobre fatos

concretos da realidade”.

Neste aspecto, em todas as fases do trabalho: diagnóstico, planejamento,

execução e avaliação, “é necessário adotar-se um enfoque metodológico que gere

Page 21: Metodologia integrativa de extensão rural na região de

21

relações de co-responsabilidade entre os participantes, suas organizações e as

instituições apoiadoras” (MDA, 2008, p11).

Ainda em MDA (2008, p.11), de acordo com as orientações estabelecidas na

Pnater, deve-se privilegiar “atividades de pesquisa-ação participativas, investigação-

ação participante e outras metodologias e técnicas que contemplem o protagonismo

dos beneficiários e o papel de agricultores-experimentadores”. Destaca-se que o

alcance dos resultados esperados necessariamente depende do comprometimento

dos assessores técnicos com as dinâmicas locais, e dos diversos públicos da

extensão com os objetivos que venham a ser estabelecidos. Neste aspecto, os

serviços de Ater devem, por sua vez, “incorporar uma abordagem holística e um

enfoque sistêmico, articulando o local, a comunidade e território às estratégias que

adotem enfoques de desenvolvimento rural sustentável”.

2.3 REDES DE REFERÊNCIAS PARA AGRICULTURA FAMILIAR

Desde 1980, o governo do Paraná tem realizado experiências na utilização do

enfoque sistêmico em ações de pesquisa e de extensão orientadas ao

desenvolvimento rural. Em 1998, foi criado o projeto Redes de Referências para a

Agricultura Familiar – Redes, um componente metodológico inovador a partir dos

conhecimentos acumulados do: Instituto Paranaense de Assistência Técnica e

Extensão Rural - Emater, na execução de políticas governamentais e nas ações

específicas da extensão rural; Instituto Agronômico do Paraná – Iapar, nas

pesquisas desenvolvidas em sistemas de produção agropecuários; Institut de

l'Elevage, da França, que desenvolveu a metodologia de trabalho em redes de

propriedades de referências (CARVALHO et al, 2000).

As principais características do projeto Redes são: a) enfoque sistêmico,

conectando os aspectos técnicos, econômicos, ambientais e sociais inerentes aos

sistemas de produção agropecuários; b) intervenções planejadas para a melhoria

dos arranjos produtivos com base no trabalho integrado do pesquisador, do

extensionista e do agricultor; c) combinações de métodos de pesquisa adaptativa e

de extensão rural para a elaboração e difusão de referências técnico-econômicas

obtidas nas redes de propriedades acompanhadas a campo (PASSINI, 1997).

Page 22: Metodologia integrativa de extensão rural na região de

22

Resumidamente, uma Rede é um conjunto de propriedades representativas de

determinado sistema de produção familiar, que após processo de intervenção

visando ampliação de sua eficiência e sustentabilidade, servem como referência

técnica e econômica para as outras unidades por elas representadas.

O objetivo prioritário das Redes é de aperfeiçoar, descrever e divulgar o

funcionamento de sistemas de produção agropecuários viáveis para a agricultura

familiar, a partir de informações técnicas e econômicas obtidas a campo, por meio

da organização e dinamização de redes de propriedades de referências. Os

objetivos específicos são: a) disponibilizar informações e propor métodos para

orientar os agricultores na gestão da propriedade rural; b) realizar testes, ajustes e

validação de tecnologias; c) ofertar tecnologias e ou atividades que ampliem a

eficiência dos sistemas de produção agropecuários e melhorem a qualidade de vida

dos agricultores familiares; d) servir como pólo de difusão e capacitação de técnicos

e agricultores; e) levantar demandas de pesquisa a partir de diagnósticos nas

propriedades; f) subsidiar formulação de políticas de promoção da agricultura familiar

(MIRANDA et al, 2001).

Atualmente, as Redes estão presentes em 19 regiões do Paraná, com cerca

de 270 estabelecimentos familiares acompanhados e de outros 140 que já passaram

pelo trabalho nos 12 anos de funcionamento (CARNEIRO et al., 2010).

As etapas metodológicas do trabalho estão apresentadas na Figura 01.

Inicialmente faz-se um estudo prévio sobre a região onde se instalará o trabalho, por

meio da caracterização dos recursos naturais e das condições socioeconômicas. Na

seguencia, realiza-se a tipificação dos agricultores, levando em conta as atividades

econômicas mais importantes na geração de renda e a categoria social, que permite

a identificação dos principais sistemas de produção, seja pela freqüência com que

ocorrem ou pelo potencial como opção para o desenvolvimento regional. Com o

domínio dessas informações, uma equipe composta de lideres rurais, técnicos e

agricultores, seleciona os sistemas a integrarem as Redes. A participação dos

extensionistas da região é fundamental na escolha dos agricultores que

representarão os sistemas de produção, em número mínimo de quatro por sistema

(MIRANDA et al, 2001).

Page 23: Metodologia integrativa de extensão rural na região de

23

Caracterização

Regional Tipificação Seleção das

Propriedades

Diagnóstico

Planejamento

Referências

DD

II

FF

UU

SS

ÃÃ

OO

SS

uu

bb

ss

íí

dd

ii

oo

ss •Políticas agrícolas •Pesquisa •Extensãooo

Escolha dos

Sistemas

Figura 01: Etapas metodológicas das Redes de Referências.

Fonte: Miranda et al., 2001

Os estabelecimentos escolhidos passam por um diagnóstico, com base em

informações dos agricultores e por observações feitas pelos extensionistas e

pesquisadores das Redes, em visita de campo. Este diagnóstico servirá de base

para a formulação de um plano de melhorias de curto prazo, que visa principalmente

a redução de perdas e a correção de possíveis incoerências.

No processo de implantação desse plano, dados e informações são

registrados de forma a permitir a confirmação dos resultados positivos em relação ao

estado inicial. Esse período de acompanhamento permite a ratificação e/ou

retificação do diagnóstico inicial. Ao final de um ano já há condições para a

formulação de um projeto de médio e longo prazo buscando a otimização no uso dos

recursos da propriedade para obtenção dos melhores resultados, de acordo com os

objetivos dos agricultores e suas famílias. As propostas elaboradas em conjunto,

técnico e agricultor, são implantadas num processo que pode levar de três a cinco

anos, dependendo da complexidade do sistema atual e daquele que se pretende

construir. Durante todo este período registros técnicos e econômicos são efetuados.

Page 24: Metodologia integrativa de extensão rural na região de

24

Validadas as propostas implantadas, os conhecimentos resultantes do processo

constituirão as referências técnicas e econômicas que servirão para orientar

agricultores com características semelhantes (MIRANDA ; DOLIVEIRA, 2005).

O domínio de metodologia, conceitos e princípios acerca da abordagem

sistêmica na extensão rural constitui-se dos principais resultados advindos da

instalação do projeto Redes de Referências para Agricultura Familiar no Paraná.

Esse domínio de conhecimento habilita a Emater introduzir novos processos

metodológicos integradores e geradores de ações propositivas, fundamentais para

promover inovações no meio rural nas dimensões sociais, ambientais, técnicas e

econômicas. Além disso, acrescenta aos extensionistas os papéis de gestor e

sistematizador de processos, que solidificam e engrandecem ainda mais suas

atribuições. Os extensionistas que dominam a abordagem sistêmica e atuam em

redes organizacionais estão mais preparados para enfrentar os problemas

complexos do dia-a-dia da extensão rural. Conseguem entender melhor à realidade

e propor intervenções mais adequadas (CARNEIRO et al, 2010).

É alvo de atenção e de esforço a intensificação de parcerias intra e

interorganizacionais. Na sua essência, o projeto Redes é fruto dessa modalidade de

parceria, com forte integração do Iapar e da Emater. Outras organizações são

parceiras em ações que variam de nível (estadual, mesorregional e regional) e de

tema, tais como: Embrapa Floresta; Embrapa Soja; Itaipu Binacional; Cooperativas;

Universidades, dentre outras. A metodologia das Redes de Referências está sendo

aplicada em diversas regiões contrastantes, enfrentando os desafios de buscar

respostas aos problemas complexos da agricultura paranaense. Após doze anos de

aprendizagem e de acúmulo de experiência, o projeto vem adquirindo maturidade e

está em condições de contribuir na intensificação e ampliação do uso dessa

estratégia metodológica no Paraná e no Brasil. Tem conquistado o respeito e o

reconhecimento de diversas instituições, principalmente no que se refere à

integração Pesquisa & Extensão Rural (CARNEIRO et al., 2010).

Adverte, porém, que a metodologia deve se restringir aos objetivos já

apresentados, sob pena de ser confundida com os processos tradicionais de

assistência técnica e de administração rural. Os conhecimentos e as contribuições

que emergem nos sistemas de produção agropecuários validados, além da difusão

por meio impresso, precisam de uma rede de transferência e de multiplicação para

Page 25: Metodologia integrativa de extensão rural na região de

25

alcançar, com eficiência, o maior número possível de agricultores (CARNEIRO et al,

2010).

A principal limitação desse dispositivo de pesquisa aplicada e de extensão

rural está na disponibilidade de técnicos para atendimento ao grande número de

agricultores que seriam necessários para representar as mais diversas realidades

regionais ou territoriais existentes no Paraná. Os técnicos gestores das propriedades

rurais monitoradas nas Redes precisam do apoio de pesquisadores e de

extensionistas especialistas na elaboração dos diagnósticos e dos planos de

melhoria dos sistemas de produção agropecuários, para facilitar a introdução de

inovações e de boas práticas agronômicas. Sem isso, o salto de qualidade e de

resultados positivos esperados no processo de intervenção pode não acontecer

(MIRANDA ; DOLIVEIRA, 2005).

3. MATERIAL E MÉTODOS

As características básicas de uma pesquisa são de fundamental importância

para a definição da estratégia de investigação a ser adotada. Esta é uma pesquisa

que investiga um fenômeno contemporâneo, o avanço da metodologia na extensão

rural, dentro de seu contexto da vida real, ou seja, a adaptação e introdução de um

processo metodológico integrativo no cotidiano do extensionista rural. É uma

pesquisa que enfrenta uma situação de múltiplas variáveis de interesse, várias

fontes de evidências e se beneficia do desenvolvimento prévio de proposições

teóricas para conduzir a coleta e a análise de dados. Assim, as características acima

apresentadas, são próprias para o estudo de caso (YIN, 2001).

Segundo Chizzotti (1998, p. 102), o estudo de caso é

uma caracterização abrangente para designar uma diversidade de pesquisa que coletam e registram dados de um caso particular ou de vários casos a fim de organizar um relatório ordenado e crítico de uma experiência, ou avaliá-la analiticamente, objetivando tomar decisões a seu respeito ou propor uma ação transformadora.

Goldenberg (2003, p.33) relata que o estudo de caso foi adaptado da tradição

médica, tornando-se uma das principais modalidades de pesquisa qualitativa em

ciências sociais. Para a autora, o estudo de caso é uma “análise holística, [...] reúne

Page 26: Metodologia integrativa de extensão rural na região de

26

o maior número de informações detalhadas, por meio de diferentes técnicas de

pesquisa, com o objetivo de apreender a totalidade de uma situação e descrever a

complexidade de um caso concreto”.

Segundo Triviños (1987), o estudo de caso não foi uma classe de pesquisa

típica do modelo positivista, tão inclinado à quantificação das informações. A

pesquisa quantitativa caracteriza-se fundamentalmente pelo emprego, de modo

geral, de uma estatística simples, elementar. Por isso, com o desenvolvimento da

investigação qualitativa, o estudo de caso, que estava numa situação de transição

entre ambos os tipos de investigação, constituiu-se numa expressão importante

dessa tendência.

3.1 DESIGN E PERSPECTIVA DA PESQUISA

Este trabalho constitui um estudo de caso, cuja finalidade foi descrever o

processo de construção de uma metodologia integrativa de extensão rural da Região

de Londrina-PR.

Esta é uma pesquisa exploratória que buscou ampliar as informações sobre

as potencialidades e as limitações da adoção de uma metodologia integrativa no

âmbito da Ater estatal. Segundo Bastos (1999, p.66),

a investigação exploratória, que pode ser basicamente ilustrada através do estudo de caso, uma vez em curso, colabora bastante na delimitação, no aprimoramento do assunto de pesquisa, seja trabalhando a definição dos objetivos, seja formulando e reformulando a questão de estudo, seja trazendo novos dados que podem ampliar nossa percepção sobre o assunto em pauta.

É uma pesquisa participativa. O pesquisador é um dos atores do contexto

pesquisado, pois desde 1992 está acompanhando a dinâmica interna da equipe de

extensionistas da Unidade Regional de Londrina.

A Região de Londrina, composta por 19 municípios, está localizada no norte

do estado do Paraná, conforme retrata a Figura 2.

Page 27: Metodologia integrativa de extensão rural na região de

27

ADI - Região de Londrina

Escala:

N

1:3600000

Guaraci

Jagu apitã

Lupionópol is

Pit angueiras

Miraselva

Prado Ferrei ra

Cambé

Londri na

Bela Vist a do Paraíso

Porecat u

Cafeara Centenár i o do SulAlvorada do Sul

Florestópol is

Sert anópol is

Pri mei ro de Maio

Ibi porã

Tamarana

Rolândi a

Figura 2 – Mapa do Paraná com destaque para a região de Londrina, PR.

Fonte: Dados desta pesquisa

Para o planejamento de trabalho do Instituto Emater em territórios com

características homogêneas, a região de Londrina foi subdividida em três Áreas de

Desenvolvimento Integrado (ADI), ilustradas na Figura 3.

Guaraci

Jaguapitã

Lupionópolis

Pitangueiras

Miraselva

Prado Ferreira

Cambé

Londrina

Bela V ista do Paraíso

Porecatu

Cafeara Centenário do S ul

Alvorada do S ul

Florestópolis

Sertanópolis

Primeiro de Maio

Ibiporã

Tamarana

Rolândia

1:600000

N

Escala:

ADI - Região de Londrina

Figura 3 – Áreas de Desenvolvimento Integrado na região de Londrina – PR

Fonte: Dados desta pesquisa

Page 28: Metodologia integrativa de extensão rural na região de

28

Esta pesquisa não se propõs à analisar hipóteses, não foi quantitativa e nem

estava fundamentada em análise estatística. A análise quantitativa apenas

compreendeu a avaliação do quanto foi possível cumprir da seguinte meta projetada,

com base na seleção de 33 comunidades rurais:

Tipificar 600 propriedades rurais;

Selecionar 33 propriedades como Unidades de Referências;

Diagnosticar individualmente 33 Unidades de Referências;

Planejar individualmente 33 Unidades de Referências;

Optou pelo enfoque qualitativo, tendo em vista o caráter estritamente

particular da investigação, além de possibilitar descrever a complexidade do

problema e analisar as interações existentes em processos dinâmicos vividos por

grupos sociais (RICHARDSON, 1999).

Destacaram-se neste estudo os aspectos qualitativos e descritivos extraídos

dos resultados advindos da aplicação das etapas metodológica que constituíram a

metodologia integrativa. Estas etapas estão retratadas na Figura 4.

Figura 4 – Adaptações no processo metodológico das Redes de Referências

Caracterização

Regional

Seleção de

Comunidades

Seleção de

Sistemas e de

Propriedades

Diagnóstico

Planejamento

Compartilhar

informação com a

comunidade:

Ajustes Aprendizagem Transferência

Informações para orientar as ações de:

Extensão rural

Pesquisa

Políticas

agrícolas

Elaboração de

Referências

DRP

Tipificação

Socialização dos

resultados Figura 4 - Metodologia integrativa adaptada das Redes de Referências

Fonte: Dados desta pesquisa

Page 29: Metodologia integrativa de extensão rural na região de

29

Resumidamente, cada etapa metodológica, apresentada na Figura 4, está

descrita a seguir:

Caracterização Regional: teve por objetivo levantar os contrates regionais

nos aspectos edafoclimáticos e socioeconômicos, que auxiliaram na

seleção das comunidades rurais prioritárias de atendimento público;.

Seleção de Comunidades: a partir da caracterização regional e do

conhecimento dos extensionistas municipais foram selecionadas as

comunidades rurais mais carentes e com predominância de agricultores

familiares.

Tipificação: o método de tipificação de sistemas de produção

agropecuários foi elaborado pelo Iapar, com base no trabalho de Yu e

Sereia (1993), e é amplamente utilizado no Projeto Redes de Referências.

As variáveis classificatórias de categoria social dos agricultores, presentes

no método de tipificação em pauta, são: força de trabalho; capital; área

(ha), retratadas na Tabela 1

Tabela 1 - Variáveis classificatórias da categoria social

CATEGORÍA SOCIAL

ÁREA

(ha)

CAPITAL USO DE

MÃO-DE-OBRA

FAMILIAR (%)

Benfeitorias

produtivas (R$)

Equipamentos

agrícolas (R$)

Produtor Simples de Mercadoria 1 (PSM1) < 15 < 12.150,00 < 9.720,00 > 80

Produtor Simples de Mercadoria 2 (PSM2) < 30 < 29.160,00 < 29.160,00 > 50

Produtor Simples de Mercadoria 3 (PSM3) < 50 < 97.200,00 < 87.480,00 > 50

Empresário Familiar (EF) > 50 > 97.200,00 > 87.480,00 > 50

Empresário Rural (ER) > 50 > 97.200,00 > 87.480,00 < 50

Fonte: SEAB / Projeto Paraná 12 Meses (1999).

Escolha dos Sistemas – foi realizada com base no resultado da tipificação

e contemplou as situações mais importantes, seja pela freqüência com que

ocorrem ou pelo potencial na viabilização da produção familiar.

Diagnóstico Rural Participativo DRP – foi realizado pelos extensionistas

nas comunidades rurais selecionadas para legitimar as informações

coletadas nas etapas anteriores, levantar novas demandas e planejar

ações coletivas.

Page 30: Metodologia integrativa de extensão rural na região de

30

Seleção de Propriedades – foram selecionadas propriedades

representativas dos sistemas que seriam analisados. Esta escolha levaram

em conta o enquadramento da propriedade nos sistemas eleitos, a

disposição dos agricultores em fazer registros, fornecer informações e

exporem suas propriedades nos processos de difusão, além de outros

aspectos práticos, tais como facilidade de acesso e aceitação dos

agricultores nas comunidades.

Diagnóstico dos Sistemas de Produção – consistiu na descrição e análise

do sistema de produção quanto à sua estrutura e dinâmica organizacional e

o itinerário técnico dos agrossistemas. Foi realizado em duas etapas:

diagnóstico expedito, em visita de campo e utilizando-se questionário semi-

estruturado e técnicas de diagnóstico rural participativo, logo no início dos

trabalhos; e diagnóstico por acompanhamento, durante o primeiro ano,

período em que também foram implantadas as alterações previstas no

plano de coerência, descrito a seguir.

Plano de Melhoria do Sistema – foram elaborados projetos de

melhoramento dos sistemas de produção, levando em conta os objetivos e

os recursos dos agricultores e contemplando um processo de transição. A

execução destes planos contou com a participação dos técnicos das

Redes, de pesquisadores e de especialistas do Instituto Emater.

Acompanhamento das Propriedades (fase de intervenções e registros) – os

extensionistas (agentes de Ater) orientaram a implementação dos projetos

e acompanharam os registros dos resultados obtidos nas propriedades,

que servirão para a elaboração das referências. Os dados foram

processados por meio de software de contabilidade agrícola - Contagri,

desenvolvido pela Epagri.

Elaboração das Referências – as referências serão escritas quando o

processo atingir cerca de cinco anos e serão apresentados por meio da

descrição dos sistemas de produção, os denominados “sistemas de

referência”.

Difusão das Referências – os resultados do trabalho foram levados ao

conjunto de agricultores representados por aqueles que integram esse

Page 31: Metodologia integrativa de extensão rural na região de

31

processo, por meio de métodos de comunicação da extensão rural,

adequados à agricultura familiar.

A equipe técnica que estava envolvida neste estudo, composta principalmente

por extensionistas do Intituto Emater e pesquisadores do Iapar, está apresentada no

Anexo A.

Foi necessário definir e orientar os atores acerca das atribuições de cada

agente envolvido no processo metodológico, ou seja, os agricultores familiares

colaboradores; os técnicos gestores; os técnicos articuladores/apoiadores; e os

técnicos especialistas:

Agricultores colaboradores: são aqueles que foram selecionados a partir da

definição dos sistemas de produção agropecuários a serem analisados, e

que após receberem convites, aceitaram participar da proposta

apresentada, incluindo o plano de melhoria da propriedade e realizar

controles de despesas e receitas, disponibilizando essas informações aos

técnicos gestores;

Técnicos gestores: são os extensionistas municipais responsáveis pela

gestão e operacionalização dos planos de trabalhos nas comunidades e

nas propriedades de referências. São eles que orientam e negociam a

execução das ações com os agricultores envolvidos. Organizam as

atividades de intervenção estruturada e de construção participativa junto às

comunidades e propriedades de referências. Acompanham ativamente o

desenvolvimento dos trabalhos nas comunidades e nas propriedades de

referências. Para tanto, contam com o apoio dos técnicos

articuladores/apoiadores e dos técnicos especialistas.

Técnicos articuladores/apoiadores: são extensionistas (um extensionista

por ADI) com a responsabilidade de gestão do processo metodológico

estruturado nas ADIs, apoiando os técnicos gestores no acompanhamento

das propriedades de referências, nos registros e nas coletas de dados.

Têm também a responsabilidade pelo processamento, análise e retorno

das informações, realimentando o processo de aprendizagem coletiva e de

busca de resultados, em sintonia com os técnicos gestores e agricultores

familiares. Têm importante papel na articulação e interlocução entre os

Page 32: Metodologia integrativa de extensão rural na região de

32

técnicos gestores e os técnicos especialistas. São, portanto, apoiadores

dos técnicos gestores na busca de respostas aos problemas técnicos

verificados no processo de melhoria dos sistemas de produção

agropecuários. Os técnicos articuladores/apoiadores devem organizar

eventos que promovam a difusão de resultados e a troca de experiências

bem sucedidas.

Técnicos especialistas: são extensionistas e pesquisadores que dominam o

conhecimento de determinada especialidade, que, de forma planejada,

auxiliam na elaboração de diagnósticos e de planos de melhoria de

sistemas de produção, no desenvolvimento das ações, na solução de

problemas técnicos e na busca e inovações. Executam ações programadas

nos planos das Propriedades de Referências. Sendo necessário e

realizado acordo entre os atores, poderá haver envolvimento maior de

pesquisadores, em especial nos processos de validação de tecnologia

inovadoras.

3.2 COLETA DE DADOS

Os dados obtidos e apresentados nos resultados não foram utilizados para

comparações e muito menos para analisar hipótese de pesquisa. Foram sim para

validar qualitativamente a aplicação de uma metodologia no âmbito do serviço de

extensão rural.

Os dados coletados foram de dois tipos: secundários, que são os dados

encontrados em manuais, relatórios e outros documentos já publicados; e primários,

que são os dados coletados em primeira-mão, aqui neste estudo, pela equipe de

técnicos envolvidos no trabalho de pesquisa e de Ater.

3.2.1 Dados Secundários

Além dos dados que constitui a revisão de literatura desta pesquisa, os dados

relativos à Caracterização Regional foram obtidos de fontes secundárias.

Page 33: Metodologia integrativa de extensão rural na região de

33

3.2.2 Dados Primários

Os principais dados primários apresentados neste estudo foram coletados

durante o processo de tipificação, por meio da aplicação de um questionário

estruturado (Anexo B). As coletas de dados foram realizadas em reuniões nas

comunidades rurais, com equipes de entrevistadores formadas principalmente por

extensionistas e pesquisadores Em especial, por se tratar de uma pesquisa

participativa, também foram coletadas informações por meio da observação direta do

pesquisador. Segundo Richardson (1999), a observação é “imprescindível em

qualquer processo de pesquisa científica, podendo conjugar-se a outras técnicas de

coleta de dados como pode ser empregada de forma independente e/ou exclusiva”.

.

3.3 PERGUNTA DE PESQUISA

Este estudo foi orientado a responder à seguinte pergunta de pesquisa: quais

as limitações e as potencialidades da “metodologia integrativa” proposta pela

Emater/Regional de Londrina no cotidiano do extensionista rural? O investigar

procurou apurar a amplitude dos resultados que seriam possíveis de serem

alcançados por meio da nova orientação metodológica, tendo em vista as limitações

que cercam os extensionistas rurais, tais como as dificuldades rotineiras para

atender as múltiplas ações programadas e as imprevisíveis demandas do ambiente

de trabalho.

3.4 ANÁLISE DOS DADOS

Para responder a pergunta de pesquisa, por meio dos resultados alcançados,

foram analisados: como ocorreram as execuções das propostas, o quanto foi

possível alcançar a meta programada; quais etapas da metodologia não foram

integralmente atendidas. Com tantas atribuições que comprometem grande parte do

tempo que o extensionista dispõe para o serviço de Ater, somente pondo à prova a

aplicação da metodologia seria possível avaliar as suas limitações e potencialidades

Em articulação com a realidade empírica, os resultados também foram analisados a

partir das informações levantadas no referencial teórico.

Page 34: Metodologia integrativa de extensão rural na região de

34

4. RESULTADOS

Os primeiros trabalhos que antecederam a metodologia em pauta foram

iniciados em maio de 2006, por meio das ações desenvolvidas pelo Projeto Redes

de Referências, que tipificou cerca de 250 sistemas de produção agropecuários em

assentamentos rurais, na Região de Londrina. Porém, o envolvimento da Equipe

Regional do Instituto Emater de Londrina na estratégia metodológica apresentada

aconteceu a partir de 2007.

Descreve-se a seguir as etapas metodológicas que foram possíveis de serem

realizadas e os principais resultados obtidos.

4.1 CARACTERIZAÇÃO REGIONAL

A caracterização regional, que descreve principalmente os contrastes naturais,

foi levantada por meio de dados secundários, em particular pela consulta de uma

publicação das Redes de Referências (CARVALHO ET AL, 2001). As informações

oriundas da referida fonte estão disponíveis de forma organizadas, em especial com

dados da evolução histórica, da estrutura fundiária, do clima, do solo; do pessoal

ocupado; e da produção regional. Dados socioeconômicos complementares estão

disponíveis nos sites do IBGE, em especial os levantamentos socioeconômicos tais

como: escolaridade; índice de qualidade de vida (IDH), valor bruto da produção

(VBP), dentre outros. A título de exemplo, apresentam-se os mapas temáticos

referentes ao clima, conforme demonstrado nas Figuras 5, 6, 7 e 8, a seguir:

Altitudes

300 a 400m400 a 500m

600 a 700m700 a 800m800 a 900m900 a 1000m

1000 a 1100m1100 a 1200m1200 a 1300m

HIPSOMETRIA

S.Seb.d aAmo re ira

Sapope ma

Cornél ioProcópio

Aba tiá

Bandeirantes

Rib.doPinha l

Congonhinhas

NovaFátima

N.Américada Colina

Uraí

Jataizinho

Assaí

AndiráItamba ra cá

Leó polis

Sertaneja

RanchoAlegre

Sto Antôn iodo Paraíso

Sta Amélia

Sta Ce cíliado Pavão

N.StaBárbara

StaMariana

S.Jerônimo da Serra

Arapongas

Califórnia

Marilâ nd ia do Sul

Rio Bom

CambiraJandaia do Sul

Marumbi

NovoItacolomi

Bom Sucesso

KaloréMauá da Serra

Sabáudia

Apucarana

B.V. do Paraíso

Cambé

Rolândia

Porecatu

Florestópolis

Mira selva

PradoFerreiraJaguapitã

Guaraci

Centenário do Sul

Lup ionóp olis

Cafeara

Alvo ra dado Sul

Pita ng ueira s Ibiporã

Tam arana

Lon drin a

Primeiro de Maio

Sertanópolis

500 a 600m

Figura 5 - Mapa de altitudes

Fonte: Caralho et al, 2001

Page 35: Metodologia integrativa de extensão rural na região de

35

Temperatura Média Anual

ESCALA TERMOMÉTRICA

23 a 24 C22 a 23 C21 a 22 C20 a 21 C19 a 20 C18 a 19 C

B.V. do Paraíso

Cambé

Rolândia

Porecatu

Florestópolis

Mira selva

Pr adoFerr eiraJaguapitã

Guaraci

Centenário do Sul

Lup ionóp olis

Cafeara

Alvo ra dado Sul

Pita ngueira s Ibiporã

Tam arana

Lon drin a

Pr imeiro de Maio

Ser tanópolis

Arapongas

Califórnia

Marilâ nd ia do Sul

Rio Bom

CambiraJandaia do Sul

Marumbi

NovoItacolomi

Bom Sucesso

KaloréMauá da Serra

Sabáu dia

Apucarana

S.Seb.d aAmo re ira

Sapope ma

Cornél ioP rocópi o

Aba tiá

Bandeirantes

Rib.doPinha l

Congonhinhas

NovaFátima

N.Amér icada Colina

Uraí

Jataizinho

Assaí

Andirá

Itamba ra cá

Leó polis

Sertaneja

RanchoAleg re

Sto Antôn iodo Paraíso

Sta Amélia

Sta Ce cíliado Pavão

N.StaBárbara

StaMariana

S.Jerônimo da Serra

Figura 6 - Mapa de temperatura média anual

Fonte: Caralho et al, 2001

Precipitação

12 00 a 1 400 m m14 00 a 1 600 m m16 00 a 1 800 m m

E SC ALA PLU VIO MÉ TRICA

B.V. do Paraíso

Cambé

Rolândia

Porecatu

Florestópolis

Mira selva

Pr adoFerr eiraJaguapitã

Guaraci

Centenário do Sul

Lup ionóp olis

Cafeara

Alvo ra dado Sul

Pita ngueira s Ibiporã

Tam arana

Lon drin a

Pr imeiro de Maio

Ser tanópolis

Arapongas

Califórnia

Marilâ nd ia do Sul

Rio Bom

CambiraJandaia do Sul

Marumbi

NovoItacolomi

Bom Sucesso

KaloréMauá da Serra

Sabáu dia

A pucarana

S.Seb.d aAmo re ira

Sapope ma

C ornél ioP rocópi o

Aba tiá

Bandeirantes

Rib.doPinha l

Congonhinhas

NovaFátima

N.Amér icada Colina

Uraí

Jataizinho

Assaí

Andirá

Itamba ra cá

Leó polis

Sertaneja

RanchoAleg re

Sto Antôn iodo P araíso

Sta Amélia

Sta Ce cíliado Pavão

N.StaBárbara

StaMariana

S.Jerônimo da Serra

Figura 7 - Mapa de precipitação pluviométrica

Fonte: Caralho et al, 2001

Evapotranspiração

1400 a 1500 m m1300 a 1400 m m1200 a 1300 m m1100 a 1200 mm1000 a 1100 mm

E VA PO TR ANS P IRA ÇÃO

B.V. do Paraíso

C ambé

Rolândia

Porecatu

Florestópolis

Mira selva

Pr adoFerr eiraJaguapitã

Guaraci

C entenário do Sul

Lup ionóp olis

C afeara

Alvo ra dado Sul

Pita ngueira s Ibiporã

Tam arana

Lon drin a

Pr imeiro de Maio

Ser tanópolis

A rapongas

C alifórnia

Marilâ nd ia do Sul

Rio Bom

C ambiraJandaia do Sul

Marumbi

NovoItacolomi

Bom Sucesso

KaloréMauá da Serra

Sabáu dia

A pucarana

S.Seb.d aAmo re ira

Sapope ma

C orné l ioP rocópi o

Aba tiá

Bandeirantes

Rib.doPinha l

C ongonhinhas

NovaFátima

N .Amér icada C olina

Uraí

Jataizinho

A ssaí

A ndirá

Itamba ra cá

Leó polis

Sertaneja

R anchoA leg re

Sto A ntôn iodo P araíso

Sta Amélia

Sta Ce cíliado Pavão

N.StaBárbara

StaMariana

S.Jerônimo da Serra

G IOVAN A/2 00 1

Figura 8 - Mapa de evapotranspiração

Fonte: Caralho et al, 2001

Page 36: Metodologia integrativa de extensão rural na região de

36

A caracterização regional, em especial a caracterização edafoclimática, foi

fundamental para delimitar as áreas de abrangência de determinadas

recomendações tecnológicas, principalmente no que diz respeito ao zoneamento

agrícola. Ao observar estas informações, pode-se evitar equívocos e frustrações na

orientação aos agricultores, em particular na fase de planejamento de melhoria dos

sistemas produtivos.

O conhecimento tácito do extensionista municipal acerca da realidade rural e o

conhecimento explícito da caracterização socioeconômica, que também compõe a

caracterização regional, em especial a taxa de pobreza na área rural, serviram de

base para os extensionistas selecionarem as 33 comunidades rurais (grupos de

agricultores familiares e assentamentos rurais), que passariam a ter prioridade de

atendimento pelo Instituto Emater na metodologia prosposta.

4.2 SELEÇÃO DE COMUNIDADES

A seleção de comunidades rurais de referências foi baseada principalmente no

conhecimento dos extensionistas, levando em conta a concentração de agricultores

familiares mais carentes. Buscou-se selecionar uma comunidade por extensionista.

No município de Londrina, o trabalho foi desenvolvido junto com a Prefeitura

Municipal, por meio da Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento. O

Anexo C apresenta a relação de comunidades Rurais selecionadas.

Parte dos assentamentos rurais já estava com a etapa de tipificação

concluída antes do processo de seleção. Todavia, na maior parte das comunidades

de referência, o processo de tipologia foi iniciado após a seleção ocorrida em no

início de 2008.

4.3 TIPIFICAÇÃO

Em 2008, após a definição das Comunidades de Referências, intensificou-se

a tipificação dos sistemas de produção, por meio do levantamento em 467

estabelecimentos rurais. Este estudo permitiu o detalhamento da situação

socioeconômica inicial das famílias residentes nas comunidades de referência

(marco zero), tais como: composição familiar, força de trabalho, nível de instrução,

Page 37: Metodologia integrativa de extensão rural na região de

37

rendas agrícolas e não-agrícolas, uso do solo, produção agrícola, qualidade de vida,

dentre outras. As informações processadas ofereceram uma base robusta de leitura

da realidade, indispensável na tomada de decisões para o planejamento tático da

extensão rural.

A título de exemplo apresenta-se os Gráficos 1, 2, 3, 4 e 5, que retratam

dados sociais dos estabelecimentos rurais tipificados

Gráfico 1 - Proporção de gênero

Fonte: dados deste estudo

A proporção de homens (52%) foi um pouco superior às mulheres (48%),

porém sem caracterizar um processo acentuado de masculinização no campo. A

importância das mulheres na agricultura familiar evidenciou a necessidade de

programar ações que promovam a melhoria de renda da família e que valorizem o

trabalho das mulheres. Elas se envolveram na gestão da propriedade, na produção

agrícola e na transformação de produtos, em especial, na produção de doces e de

queijos. Além disto, observou-se atividades que geralmente foram desenvolvidas

pelas mulheres e que representaram rendas não financeiras, tais como: os cuidados

com a casa e com a alimentação da família; e a produção de autoconsumo.

Page 38: Metodologia integrativa de extensão rural na região de

38

Gráfico 2- Nível de escolaridade

Fonte: dados deste estudo

Os dados relativos ao nível de escolaridade indicaram a necessidade de se

priorizar ações que possam reduzir o baixo nível de escolaridade no meio rural

pesquisado, onde apenas cerca de 20% da população atingiram o ensino médio e

1% o nível superior. Atualmente, gerenciar uma propriedade agrícola se tornou uma

atividade que requer uma boa base de formação escolar para compreender os

princípios multidimensionais (ambiental, social, econômico e tecnológico) que afetam

a responsabilidade legal e que comprometem a renda dos agricultores. A extensão

rural não é responsável pelo ensino formal, mas pode contribuir com os agricultores

no acesso aos serviços públicos. Aos extensionistas caberia a articulação com

outras organizações municipais, estadual e federal, no intuito de incluir na pauta dos

Planos de Desenvolvimento Rural, ações que poderiam dar respostas às

deficiências diagnosticadas no processo metodológico de estudo da realidade.

Page 39: Metodologia integrativa de extensão rural na região de

39

Gráfico 3 - Ocupação da mão-de-obra familiar

Fonte: dados deste estudo

Notou-se que cerca de 50% da mão-de-obra familiar estão ocupadas com

trabalho fora da unidade produtiva. Supõe-se que o baixo rendimento das atividades

agrícolas, nos casos analisados, motivou a busca da complementação da renda por

meio da venda de parte da mão-de-obra familiar. Desta forma, a inclusão de ações

que buscam a melhoria dos sistemas de produção agropecuários, e

consequentemente da renda e da ocupação de mão-de-obra familiar, seria outra

prioridade da extensão rural.

Gráfico 4 - Principais fontes de renda não-agrícolas

Fonte: dados deste estudo

Page 40: Metodologia integrativa de extensão rural na região de

40

Dentre as fontes de rendas não-agrícolas, destacou-se a aposentadoria com

41% das ocorrências. Todavia, a venda de mão-de-obra foi outra forma constatada

na pesquisa, que adicionou um importante valor monetário na renda familiar. Em

ambos os casos, a extensão rural deve-se comprometer com ações organizadas

visando orientar a população rural na obtenção de documentos que garantam os

direitos dos trabalhadores, e também, a capacitação para qualificar a mão-de-obra.

Gráfico 5- Índice de qualidade de vida rural

Fonte: dados deste estudo

Com relação ao Índice de Qualidade de Vida Rural, observou-se que a média

geral (5,96) está próximo do nível satisfatório (6,00). Porém, os dados coletados

evidenciaram que é possível e necessário desenvolver ações para acrescentar

qualidade de vida no meio rural, com prioridade aos subitens lazer, destino do lixo e

acesso aos serviços básicos (educação e saúde)

A tipificação dos sistemas de produção agropecuários (que

metodologicamente considera a categoria social dos agricultores e as atividades

agropecuárias que contribuem com mais de 30% da renda bruta familiar) está

retratada na Tabela 2

Page 41: Metodologia integrativa de extensão rural na região de

41

Tabela 2 - Tipificação dos sistemas de produção agropecuários da Região de

Londrina

Fonte: Dados deste estudo

Legenda: Eq.H = equivalente-homem; RBP = renda bruta da produção; OR = outras rendas; SM =

salário mínimo; PSM (1,2 e 3) = produtor simples de mercadoria (níveis 1,2 e 3); EF = empresário

familiar; ER = empresário rural

Com o objetivo de promover o aumento da renda agrícola, ficou evidente a

importância de se buscar a melhoria de sistemas cujas atividades principais eram o

leite; o café; os grãos (soja, milho, trigo e feijão); e as olerícolas.

As informações advindas desse processo metodológico foram determinantes

na definição de foco das atividades que passaram a receber atenção adicional na

intervenção da Ater, em especial na escolhas de propriedades e de sistemas de

produção agropecuários de referência.

Page 42: Metodologia integrativa de extensão rural na região de

42

4.4 DIAGNÓSTICO RURAL PARTICIPATIVO

Para complementar e legitimar as informações obtidas nas etapas anteriores

promoveu-se reuniões com os agricultores nas comunidades, aplicando métodos

participativos. Buscou-se o comprometimento desses agricultores nas próximas

etapas da estratégia metodológica, em particular nas seleções de propriedades de

referências e de prioridades a serem desenvolvidas em curto prazo.

Como era de se esperar, verificou-se nessa etapa metodológica a inclusão, por parte

dos agricultores, de novos temas a serem tratados, caracterizados por investimentos

coletivos, tais como: melhoria de estradas rurais, organização dos agricultores para

produção e comercialização, inclusão digital, alfabetização de adultos, segurança,

saneamento básico, estruturas de lazer, dentre outros.

4.5 SELEÇÃO DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO E DE PROPRIEDADES DE REFERÊNCIAS

A seleção dos sistemas de produção agropecuários a serem investigados e

melhorados foi fundamentada pelo trabalho de tipologia, conforme resultados

apresentados na Tabela 2

Para efeito de simplificação estratégica optou-se por definir os produtos

agropecuários âncoras, ou seja, aqueles com maior contribuição na geração da

renda bruta do estabelecimento rural. Estes produtos deram o nome aos principais

grupos de sistemas que seriam analisados com maior profundidade. A Figura 9

apresenta os principais grupos de sistemas de produção por Área de

Desenvolvimento Integrado - ADI.

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43

Figura 9 - Grupos de sistemas de produção por ADI

Fonte: Dados deste estudo

A partir desta leitura, selecionou-se os 33 agricultores colaboradores, cujas

propriedades rurais foram então denominadas de Unidades de Referências. Estas

unidades passariam pelas etapas seguintes: diagnóstico, planejamento e

acompanhamento.

4.6 DIAGNÓSTICOS

Depois da seleção das Unidades de Referências, iniciou-se a etapa de

diagnóstico, por meio de equipes transdisciplinares. O gerente regional da Emater foi

o principal articulador de especialistas regionais, da extensão e da pesquisa, nas

atividades agropecuárias prioritárias. Os especialistas visitaram as propriedades,

coletaram amostras de solos estratificadas e relacionaram os pontos a serem

melhorados para cada sistema. De forma geral, esta etapa foi bem atendida, porém

cerca de 20% das Unidades de Referências não foram diagnosticadas por vários

Page 44: Metodologia integrativa de extensão rural na região de

44

motivos, mas principalmente pelo fato dos extensionistas estarem ocupados com

outras atividades.

4.7 PLANEJAMENTO

O planejamento das Unidades de Referências teve como base principal o

conhecimento dos objetivos dos agricultores colaboradores. Definiu-se, a partir desta

premissa, os planos estratégicos de cada unidade. Na seqüência, estabeleceram-se

os planos táticos e operacionais para alcançar os resultados desejados.

Esta etapa teve inicio em meado de 2008, com destaque para as doze

Unidades de Referência dos sistemas leiteiros em assentamentos rurais, no

município de Tamarana, cuja interação produtor, pesquisador e extensionista

ocorreu de forma exemplar. Os planos de melhoria dos sistemas foram

apresentados e discutidos com os agricultores coletivamente. A partir desta ocasião,

o plano operacional ficou formalmente contratado com os agricultores, com

recomendações técnicas bem detalhadas e com calendário de épocas críticas das

ações.

Nos outros sistemas produtivos, o trabalho precisou ser revisto. Notou-se a

necessidade de aprofundar a capacitação dos extensionistas no planejamento de

unidades de referências. Foram então criados cursos específicos para os técnicos,

nas seguintes atividades: leite, olerícolas, grãos e agroecologia.

4.8 ACOMPANHAMENTO

Observou-se no decorrer do processo que a falta de um critério coletivo no

acompanhamento das Unidades de Referências poderia trazer resultados negativos.

Assim, a etapa de acompanhamento foi definida a partir das seguintes premissas:

cada Unidade de Referência deve receber visita, no mínimo, a cada 40 dias

pelo técnico gestor e pelo técnico articulador;

haja pelo menos uma reunião semestral em cada comunidade de

referência;

sejam feitas reuniões bimensais com o gerente regional, coordenadores de

ADIs e técnicos articuladores/apoiadores (última sexta-feira do bimestre);

Page 45: Metodologia integrativa de extensão rural na região de

45

todos os envolvidos se reuniam semestralmente para análise das

informações, avaliações e ajustes;

De forma geral, os acompanhamentos ocorrem sistematicamente, com

resultados satisfatórios em pelo menos metade das unidades acompanhadas.

Para o acompanhamento contábil, optou-se por utilizar um software de

administração rural afim de garantir padronização das informações. Além disso,

foram elaborados os mapas de cada propriedade, por meio de GPS e de mapas de

satélites disponíveis na Emater.

4.9 SOCIALIZAÇÃO DOS RESULTADOS

As informações e os resultados obtidos foram compartilhadas com os

agricultores por meio de três grandes encontros regionais, um em cada ADI, que

geraram novas trocas de experiências, depoimentos de casos concretos,

identificação de propostas e de compromissos de trabalho.

No final de 2009 e começo de 2010, a Emater organizou quatro eventos

denominados de “Caminhada na Comunidade Rural” com a participação de

aproximadamente 600 agricultores, representantes de todas as comunidades

envolvidas com objetivo de apresentar os casos de sucesso, realizar avaliações,

compartilhar experiências e estimular os participantes no avanço do processo de

melhoria da renda rural. As unidades de referências foram abertas para visitação. As

apresentações eram feitas pelos agricultores que explicavam para os visitantes

como os sistemas de produção funcionavam, os investimentos e as melhorias

realizadas, a origem da renda familiar, as limitações existentes, dentre outras. Os

extensionistas contribuíram na montagem dos materiais gráficos (álbum seriado).

Ao final de cada caminhada, os participantes foram divididos em grupos por

afinidade, para debater pontos de interesse da comunidade. Na seqüência, todos se

reuniram para assistir as apresentações dos produtos dos grupos. Com esta

dinâmica, verificou-se que foi possível a abordagem sistêmica, conectando temas

sociais e ambientais concomitantemente aos avanços na tecnologia de produção. As

Figuras 10, 11 e 12 a seguir retratam estes processos de socialização do

conhecimento e dos resultados.

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46

Figura 10 - Caminhada no Assentamento Florestan Fernandes

Fonte: Dados deste estudo

Figura 11 - Caminhada na Comunidade Barra da Jacutinga

Fonte: Dados deste estudo

Page 47: Metodologia integrativa de extensão rural na região de

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Figura 12 - Caminhadas nas Comunidades Akolá e Serraria

Fonte: Dados deste estudo

4.10 ALCANCE DAS METAS PROGRAMADAS

Com base nos resultados obtidos verificou-se que todas as etapas

metodológicas previstas na metodologia integrativa foram executadas, mesmo que

parcialmente. Em resumo, a Tabela 3 retrata o alcance das principais metas

programadas.

Tabela 3 - Alcance das metas programadas

Principais Atividades Meta Programada Meta Executada (%)

Tipificação 600 78

Unidades de Referências 33 100

Diagnósticos 33 81

Planejamentos 33 69

Fonte: Dados deste estudo

Em que pese as inúmeras atribuições dos extensionistas rurais, que subtraem

grande parte do tempo disponível e interferem na execução de novas propostas, o

alcance das metas programadas foram satisfatórios atingindo, em média, 82% de

execução.

Page 48: Metodologia integrativa de extensão rural na região de

48

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se concluir, por meio dos resultados apresentados, que faz sentido

aplicar a metodologia integrativa desenvolvida na região de Londrina-PR, pois

garante a construção de uma base segura de informações e de conhecimentos para

o planejamento de intervenção na realidade rural.

O processo metodológico, com etapas estruturadas e complementadas por

métodos participativos, atende às premissas da Pnater apresentadas no referencial

teórico deste estudo.

Podia se esperar que as variadas atribuições quotidianas dos extensionistas

rurais, que os afastam de uma ação mais estruturada, fossem representar uma

limitação fatal na execução da metodologia proposta, porém não foi isto que se

concluiu por meio do alcance das metas programadas, que atingiram em média 82%

de execução

O objetivo principal deste estudo de descrever o processo de construção de

uma metodologia integrativa de extensão rural foi alcançado. Os resultados

demonstraram que as expectativas de se alcançar os objetivos específicos também

foram confirmadas.

Concretamente, o Instituto Emater na região de Londrina está incorporando

em sua cultura o enfoque sistêmico, de forma gradual, sem descartar as virtudes do

enfoque analítico. Também foram visíveis as ações multidimensionais, com a

atuação em equipes transdisciplinares.

O conjunto de procedimentos que estão sendo adotados já permite realizar

análises de trajetória dos sistemas de produção agropecuários e da dinâmica

socioeconômica das comunidades rurais assistidas, que são fundamentais para

mensurar os impactos e para aprimorar o processo de intervenções da extensão

rural. Este será o próximo passo, de forma objetiva, avaliar os resultados das ações

em redes de comunidades de referências nos indicadores de desenvolvimento rural,

em particular nas ações da extensão rural e da pesquisa.

Pelo lado negativo, notou-se que o processo de adoção da metodologia não

foi adequadamente socializado e entendido entre todos os extensionistas

envolvidos. Esta imperfeição provocou conflitos e falhas na execução do que seria

desejável.

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49

Para evitar as imperfeições desta iniciativa, sugere-se a ampla socialização e

entendimento da proposta entre os extensionistas envolvidos, procurando reduzir as

ansiedades e as dúvidas que ocorrem naturalmente nos momentos de mudança. A

adoção de uma metodologia integrativa de extensão rural, da forma descrita neste

trabalho, precisa percorrer um processo de capacitação, de envolvimento e de

amadurecimento do quadro de técnicos, em todos os níveis institucionais e junto aos

parceiros da extensão rural.

Page 50: Metodologia integrativa de extensão rural na região de

50

REFERÊNCIAS

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Page 51: Metodologia integrativa de extensão rural na região de

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ANEXOS

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ANEXO A

Equipe Técnica

Extensionistas/Pesquisadores Instituição Formação/Atuação profissional

Alcides Bodnar Emater Agrônomo/Extensionista

Antonio Carlos Rebeschini Emater Agrônomo/Extensionista

Antonio Carlos Ubrich Emater Zootecnista/Extensionista

Cristina Célia Krawulski Emater Agrônoma/Extensionista

Cristovon Videira Ripol Emater Agrônomo/Extensionista

Dimas Soares Junior Iapar Agrônomo/Pesquisador

Edson Pellegrini de Oliveira Emater Agrônomo/Extensionista

Edson Vendrame Emater Agrônomo/Extensionista

Elcio Félix Rampazzo Emater Agrônomo/Extensionista

Fernando Luis M. Costa Emater Agrônomo/Extensionista

Gervásio Vieira Emater Agrônomo/Extensionista

Gilberto São João Emater Agrônomo/Extensionista

Ildefonso José Haas Emater Agrônomo/Extensionista

Iolder Colombo Emater Agrônomo/Extensionista

Juvaldir Olímpio Emater Tec. Agropec./Extensionista

Lorian Voigt Gair Emater Agrônoma/Extensionista

Luis Artur B. Rosa Emater Agrônomo/Extensionista

Luis Fernando Barbin Emater Agrônomo/Extensionista

Luiz E. G. Sá Barreto Emater Engº Pesca/Extensionista

Marcelo Campos Emater Agrônomo/Extensionista

Maria I. Zambrin Henrique Emater Assist. Social/Extensionista

Marli C. A. Parra Peres Emater Agrônoma/Extensionista

Mauro Jair Alves Emater Tec. Agropec./Extensionista

Paulo Roberto Mrtvi Emater Tec. Agropec./Extensionista

Paulo Tadatoshi Hiroki Emater M. Veterinário/Extensionista

Paulo Tadeu dos Santos Marcondes Emater Agrônomo/Extensionista

Pedro Aureliano da Silva Nunes Emater Tec. Agropec./Extensionista

Rafael Fuentes Llanillo Iapar Agrônomo/Pesquisador

Reinaldo Neris dos Santos Emater Tec. Agropec./Extensionista

Romeu de Souza Emater Tec. Agropec./Extensionista

Romeu Gair Emater Agrônomo/Extensionista

Rosangela Arimateas Emater Assist. Social/Extensionista

Rubens Lopes da Silva Emater Tec. Agropec./Extensionista

Sergio de Souza Lopes Emater Agrônomo/Extensionista

Sérgio Luiz Carneiro Emater Agrônomo/Extensionista

Fonte: dados deste estudo

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ANEXO B

Questionário de Tipologia

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5.9. Quais os meios de transporte de que a família dispõe ?

5.10. Quais os equipamentos a família dispõe ?

5.11. Atividades de lazer

Não tira férias

5.12. Integração Social

Sim Não

6. SUCESSÃO FAMILIAR

Qual é a expectativa para o futuro de seus filhos ? (somente aquele(s) que ainda está(ão) na propriedade)

Continuar morando na prop. e trabalhar fora dela em ativ. agrícolas

Continuar moran. na prop. e trabalhar fora dela em ativ. não agríc.

Outras (descreva)

Continuar trabalhando na propriedade em atividades agrícolas Deixar a propriedade e continuar no campo

Deixar a propriedade e ir para a cidade

Filhos já estão desligados das atividades da propriedade

Cooperativa

Sindicato

Associação Comunitária

Conselhos Municipais

Outras entidades

Exerce alguma função

Associação de Produtores

freqüenta Qual ?

Quais os dias semanais de descanso da família ?

Computador

Televisão

Fogão à lenha

Geladeira

Freezer

Batedeira

Telefone fixo

Telefone celular

Quais as três principais atividades do período de férias ?

Número médio de dias / férias

Uma vez por ano - 30 dias de descanso Uma vez a cada 3 anos

Quais as três principais atividades destes dias ?

Uma vez por ano - pelo menos 7 dias de descanso Esporadicamente, períodos curtos para passeio

Rádio Outros

Qual a periodicidade de descanso prolongado da família ?

Um veículo (Passeio ou Transp. de mercadorias)

Motos e assemelhados Sem meio de locomoção próprio

Fogão à gás Aparelho de som

Carroça / Cavalo

Liquidificador Outros

Qual foi o último ano em que a família tirou férias ?

Mais de um veículo (Passeio/Transp. de mercadorias) Bicicleta

Uma vez a cada 2 anos

Igreja

O produtor participa /

Sim Não Qual (is) ?

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ANEXO C

Relação de Comunidades Rurais Selecionadas

MUNICÍPIOS COMUNIDADES SISTEMAS

1 Alvorada Assentamento Iraci Salete Café/Grãos

2 Bela Vista Córrego Minas Café/Grãos

3 Cafeara Assentamento. Novo Horizonte Leite

4 Cambe Mimoso Café/Grãos

5 Cambe Saltinho Café

6 Centenário Banco da Terra Sto Expedito Café/Grãos

7 Centenário do Sul Banco da Terra Sol Nascente Grãos/Café/Leite

8 Florestopolis Banco da Terra Mazar Café/Leite/Seda

10 Florestopolis Florestan Fernandes Leite

11 Ibipora Barra do Jacutinga Grãos/ Banana

12 Londrina Assentamento Pó de Serra Olericultura

13 Londrina Assentamento Akolá Olericultura

14 Londrina Água dos Caetanos Café/Grãos

15 Londrina São Luiz Café

16 Londrina Bairro Franco Grãos/Olericult.

17 Londrina Assentamento.Parí-Paró Grãos/Olericult.

18 Londrina 80 Alqueires Grãos

19 Londrina Guairacá Grãos/Leite/ Vasoura

20 Londrina Fazenda Aliança Café

21 Londrina Laranja Azeda Café

22 Miraselva Água Do Pernambuco Frango/Café/Seda

23 Pitangueiras Água Laranjeiras Café

24 Primeiro Maio Assent. Barra Bonita Café/Grãos/Horta

25 Rolandia Bartira Café

26 Rolandia Bandeirantes Leite

27 Sertanopolis Água do Tigre Grãos/Café

28 Tamarana Banco da Terra Renascer I Olericultura

29 Tamarana Água da Prata Leite

30 Tamarana União Camponesa Leite

31 Tamarana Assent.Cruz De Malta Leite

32 Tamarana Serraria Olerícolas

33 Tamarana Tesouro Olerícolas

Fonte: dados deste estudo