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Periódico Extensão Rural 2014-2

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O periódico Extensão Rural é uma publicação científica desde 1993, periodicidade trimestral, do Departamento de Educação Agrícola e Extensão Rural (DEAER) do Centro de Ciências Rurais (CCR) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) destinada à publicação de trabalhos inéditos, na forma de artigos científicos e revisões bibliográficas, relacionados às áreas: i) Desenvolvimento Rural, ii) Economia e Administração Rural, iii) Sociologia e Antropologia Rural, iv) Extensão e Comunicação Rural, v) Sustentabilidade no Espaço Rural, vi) Saúde e Trabalho no Meio Rural. Tem como público alvo pesquisadores, acadêmicos e agentes de extensão rural, bem como realizar a difusão dos seus trabalhos à sociedade. http://cascavel.ufsm.br/revistas/ojs-2.2.2/index.php/extensaorural/index

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  • v.21, n.2, abr-jun/ 2014

  • Vol.21, n.2 (abr./jun.2014)

  • DIRETRIO LUSO-BRASILEIRO (Repositrios e Revistas de Acesso Aberto)

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  • Salatiel Turra, Crmem Ozana de Melo

    MENOS MULHERES, MENOS JOVENS, MAIS INCERTEZAS. A TRANSIO

  • Salatiel Turra, Crmem Ozana de Melo

  • 9Revista Extenso Rural, DEAER CCR UFSM, vol.21, n 2, abri- jun de 2014

    AES DE EXTENSO VOLTADAS S TECNOLOGIAS

    AGRONMICAS, ZOOTCNICAS E AMBIENTAIS COM

    AGRICULTORES FAMILIARES EM DOURADOS-MS:

    FRUTICULTURA, HORTICULTURA E S ISTEMAS

    AGROFLORESTAIS1

    Euclides Reuter Oliveira

    Marisa Bento Martins Ramos

    Jos Luis Fornasieri4

    Omar Daniel 5

    Marisa de Ftima Lomba de Farias6

    Resumo

    A agricultura familiar apresenta requisitos relevantes: fortalece o trabalho familiar;

    viabiliza a produo de alimentos para a subsistncia das famlias; e fornece

    sociedade, alimentos de qualidade e economicamente acessveis. Considerando essa

    relevncia em assentamentos e comunidades quilombolas, a partir de 2008 foram

    desenvolvidos trabalhos de extenso nos assentamentos Amparo e Lagoa Grande e

    na Comunidade Quilombola em Dourados-MS. As atividades se pautaram na

    participao dos grupos e da equipe executora, que gradativamente deniram temas

    importantes diante da realidade de cada comunidade. Aps denio dos locais e das

    atividades, coletivamente, iniciou-se a atividade de fruticultura e horticultura no

    assentamento Amparo e comunidade Quilombola e a implantao de sistemas

    agroorestais nalizados com eucalipto e bovinos no assentamento Lagoa Grande.

    Criaram-se espaos sociais de saberes entre as comunidades e a UFGD, propcios

    para a apresentao de tcnicas apropriadas visando a autossucincia em produo

    e na gerao de renda. Parte dos produtos foram consumidos pelas famlias e o

    excedente foi comercializado em diversas pequenas feiras no municpio e na UFGD.

    Palavras-chave: Extenso rural, manejo sustentvel, sistema agroecolgico

    1 Financiado pelo CNPq, MEC, e UFGD

    Docente do curso de Zootecnia Universidade Federal da Grande Dourados, Dourados/MS (FCA-UFGD).

    4 Docente do curso de Agronomia Universidade Federal da Grande Dourados, Dourados/MS (FCA-UFGD).

    5 Docente do curso de Agronomia Universidade Federal da Grande Dourados, Dourados/MS (FCA-UFGD).

    6 Docente do curso de Histria Universidade Federal da Grande Dourados, Dourados/MS (FCH-UFGD).

    Doutorado em Zootecnia (UFLA). Coordenador do projeto: Transferncia de tecnologias agronmicas, zootcnicas e

    ambientais a agricultores familiares em Mato Grosso do Sul CNPq UFGD. E-mail: [email protected]

    Engenheira Agrnoma, Bolsista do CNPq. Mestrado em Agronomia (UFMS). E-mail: [email protected]

    E-mail: [email protected]

    Doutorado em Doutorado em Cincia Florestal (UFV). E-mail: [email protected]

    Doutorado em Sociologia (UNESP). E-mail: [email protected]

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    AES DE EXTENSO VOLTADAS S TECNOLOGIAS AGRONMICAS, ZOOTCNICAS

    E AMBIENTAIS COM AGRICULTORES FAMILIARES EM DOURADOS -MS:

    FRUTICULTURA, HORTICULTURA E SAFs

    EXTENSION ACTION, WITH FAMILY HUSBANDMAN IN

    DOURADOS-MS, TOWARDS TO AGRONOMIC

    TECHNOLOGY, ZOOTECHNICS AND ENVIRONMENT:

    FRUIT-GROWING, HORTICULTURE AND AGROFORESTRY

    SYSTEM

    Abstract

    Family farming has relevant requirements: strengthens family work; enables the

    production of food for the subsistence of the families, and provides to society, food

    quality and affordable. Considering this relevance in rural settlements and quilombolas

    communities, from 2008 were developed extension work in the settlements Amparo

    and Lagoa Grande and Quilombo Community in Dourados, MS. The activities were

    based on the participation of groups and the executive team, which gradually dened

    important issues facing the reality of each community. After dening the locations and

    activities collectively began the activity in fruit growing and horticultural in Amparo

    settlement and Quilombo community and the establishment of agroforestry systems

    nished with eucalyptus and dairy cattle in Lagoa Grande settlement. It created social

    spaces of knowledge between communities and UFGD, conducive to the presentation

    of appropriate techniques aimed at self-sufciency in production and income

    generation. Part of the products were consumed by households and the remainder

    was marketed many small fairs in the city and UFGD.

    Key Words: Rural Extension, Defensible Manegement, Agroecological system

    1. INTRODUO

    A agricultura familiar, atualmente, tem papel fundamental no equilbrio da

    economia local e no incentivo permanncia da populao no campo, dentre os quais

    fornecer alimentos com qualidade nutricional para a subsistncia familiar, de baixo

    custo e de boa qualidade para a sociedade de modo geral, e ainda, a partir da

    produo resultante do trabalho familiar gerar trabalho e renda para todos os seus

    membros.

    O fortalecimento da agricultura familiar depende no s da intensicao das

    polticas pblicas, mas tambm do dilogo entre os saberes populares e o

    conhecimento cientco e tecnolgico, objetivando maximizar o uso de recursos

    locais, produzirem alimentos com mais qualidade e com menor risco para o meio

    ambiente (FONTANETTI; SANTOS, 2010)

    Neste sentido, existe a necessidade de integrao das diversas Instituies

    de Ensino, Extenso e Pesquisa em mbitos Municipal, Estadual e Federal, com o

    objetivo de aperfeioar os recursos humanos disponveis para que os agricultores

    familiares tenham acesso s tecnologias viveis para impulsionar a produo. E

    dessa forma, possibilitar esse grupo conhecer novas tecnologias, quer seja voltadas

    s atividades de pecuria e/ou de agricultura, auxiliando-os na insero no setor

    produtivo com competitividade, sem desqualicar as caractersticas e especicidades

    de seu trabalho, importante para a reproduo social das famlias. Portanto, torna-se

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    Revista Extenso Rural, DEAER CCR UFSM, vol.21, n 2, abri- jun de 2014

    imprescindvel, criar alternativas qualitativas de capacitao aos agricultores

    familiares voltada ao uso de tecnologias viveis produo e princpios

    agroecolgicos considerando as caractersticas da rea e seus saberes, pois muitas

    alternativas so criadas e recriadas no cotidiano das famlias. Alternativas essas

    aprendidas na trajetria de vida, presentes em suas memrias e estruturando um

    saber fazer prprio. De acordo com Buainain et al. (2003), o desenvolvimento da

    agricultura familiar moderna requer o apoio de um conjunto de servios tcnicos

    especializados, alm de equipamentos apropriados sua escala e sistemas de

    produo e consideram ainda necessrio no Brasil a implementao de polticas

    agrcolas e agrrias voltadas para agricultores familiares.

    A agricultura familiar, no Brasil, apresenta perl multifuncional, pois produz

    alimentos e matrias-primas, gerando mais de 80% da ocupao no setor rural e

    favorece o emprego de prticas produtivas ecologicamente mais equilibradas, como a

    diversicao de cultivos, o menor uso de insumos industriais e principalmente a

    preservao do patrimnio gentico. Alm disso, este setor permite uma distribuio

    populacional mais equilibrada no territrio, por demandar maior nmero de

    trabalhadores em relao agricultura patronal, normalmente associada

    monocultura (VILELA; ARAJO, 2006). O potencial de novas formas de mercado para a

    agricultura familiar ainda est para ser explorado. Provavelmente muitas redes de

    produo e comercializao alternativas j constituem uma opo consolidada para

    um amplo leque de agricultores (NIEDERLE, 2009)..

    O fortalecimento da agricultura ecolgica ou orgnica principalmente pelo

    agricultor familiar vem da necessidade de consumo de alimentos saudveis que a

    sociedade moderna exige e por conseqncia da preservao da natureza, bem como

    o aumento do valor da comercializao (BURG; MAYER, 2001).Com a produo

    ecolgica, h um ganho social signicativo, ganham o meio ambiente, os

    consumidores e os produtores (CAPORAL; COSTABEBER, 2007). De acordo com os

    mesmos autores, saber que uma expressiva parcela dos agricultores familiares est

    realizando um processo de transio para estilos de agricultura sustentvel,

    diminuindo impactos ao meio ambiente e sade e preservando os recursos naturais

    , sem dvida, um fator de esperana para as futuras geraes, assim como indica

    um aspecto favorvel para a melhoria de vida, tanto no mbito da segurana alimentar

    quanto na ampliao de renda, das geraes atuais.

    Desse modo, considerando a importncia do fortalecimento da agricultura

    familiar para permanncia de famlias na terra, para nela residir e produzir

    desenvolveu-se atividades de extenso nas comunidades citadas abaixo atravs do

    desenvolvimento de trabalhos sociais e agrcolas, com apoio da Incubadora de

    Tecnologias Sociais e Solidrias (ITESS-UFGD), Agncia de Desenvolvimento e

    Extenso Rural - AGRAER e Prefeitura Municipal de Dourados. Avaliou-se ainda, o

    potencial dessas atividades para o desenvolvimento social e sustentvel do Estado.

    Para tanto, objetivou-se criar alternativas coletivas de orientao aos agricultores

    familiares (assentados e quilombolas) na rea de fruticultura, horticultura e sistemas

    agroorestais para o uso de tcnicas apropriadas no processo produtivo,

    demonstrando a eles a eccia de mtodos para insero de modelos agrcolas e

    organizacionais na transio agroecolgica, visando autossucincia na produo

    de alimentos para consumo e gerao de renda.

    Nesse artigo, portanto, registram-se alguns resultados desse processo

    educativo que vem se desenvolvendo nas comunidades dos dois assentamentos,

    Amparo e Lagoa Grande e na Comunidade Quilombola, especialmente, por se tratar

    de uma relao entre teoria e prtica e entre os saberes desses agricultores familiares

    e a universidade.

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    E AMBIENTAIS COM AGRICULTORES FAMILIARES EM DOURADOS -MS:

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    2. CARACTERIZAO DAS COMUNIDADES TRABALHADAS

    A rea de trabalho compreende as regies dos assentamentos (amparo e

    Lagoa Grande) e de uma pequena propriedade (3ha) habitada por famlias de origem

    quilombola, onde suas economias esto muito dependente no desenvolvimento do

    setor agrcola. O municpio de Dourados (Figura 1) est situado geogracamente a

    221216 de latitude Sul, 54482 de longitude Oeste e 452 m de altitude mdia,

    localizada na regio sul do Estado de Mato Grosso do Sul, uma regio

    essencialmente agrcola com predomnio de Latossolo Vermelho distrofrrico,

    derivados do basalto, profundos e argilosos (EMBRAPA,1999), de textura argilosa e

    de topograa plana.

    Figura 1 - Mapa da regio de Dourados destacando comunidades

    comunidade quilombola, assentamento Amparo e Lagoa Grande onde

    foram desenvolvidos o trabalho.

    2.1. Assentamento Amparo

    O Assentamento Amparo est localizado no distrito de Itahum, Municpio de

    Dourados, estado de Mato Grosso do Sul, distante aproximadamente 300 km da

    capital do Estado, 65 km da sede do municpio e 15 km do Distrito com latitude de 22

    e 10 minutos e longitude de 53 e 20 minutos, rea total de 1.126,8933 ha, dividido

    em 67 lotes que variam de 15.0002 ha a 29.6319 ha, rea do centro rural de 2.9998

    ha e 21.0544 ha de estradas vicinais, confrontando ao Norte com Paulo Cervieri; ao

    Sul com Rio Dourados; Leste com Crrego Rego Dgua; Oeste Arno Werner e Rio

    Dourados, anteriormente esta fazenda cultivava, soja, milho, feijo, aveia, trigo, etc.

    Foi adquirida pelo Banco do Brasil e comercializada posteriormente com o INCRA

    onde hoje se encontra o Projeto de Assentamento que recebe o mesmo nome da

    Fazenda Amparo.

    As famlias que compem o assentamento Amparo so na sua totalidade

    pessoas, de baixo grau de escolaridade, baixo poder aquisitivo, com pouco

    conhecimento tecnolgico da agropecuria, mas com tradio por serem lhos de

    produtores rurais. Essas famlias so oriundas de diversos municpios do Estado de

    Mato Grosso do Sul: Bataipor (32) Dourados (29) e Rio Brilhante (06) que so

    compostos na sua maioria pelo casal de um a sete lhos, com idade escolar de 1

    Grau.

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    Revista Extenso Rural, DEAER CCR UFSM, vol.21, n 2, abri- jun de 2014

    Antes de serem assentadas essas famlias trabalhavam como arrendatrios,

    diaristas, pees e outras atividades da agropecuria em seus respectivos municpios

    e tinham muitas diculdades de sobrevivncia com dignidade e de propiciar educao

    de qualidade aos seus lhos. Devido tal situao resolveram procurar o INCRA onde

    se inscreveram com a nalidade de obter um pedao de terra para que dignamente

    pudessem criar e educar seus lhos. No dia 27 de agosto de 1997, um grupo de

    aproximadamente 50 famlias ocupou a Fazenda Amparo e cumprindo as

    determinaes legais do INCRA foram assentadas no dia 31 de outubro do mesmo

    ano, onde hoje localiza-se o Projeto de Assentamento Amparo .

    2.2. Comunidade Quilombola

    A comunidade Quilombola est localizada no distrito de Picadinha, Municpio

    de Dourados, Estado de Mato Grosso do Sul, distante aproximadamente 258 km da

    capital do Estado e 23 km do municpio com rea total de 60 ha. constituda por 12

    famlias remanescentes dos quilombos, descendentes de Dezidrio Felipe de Oliveira,

    que, oriundo de Minas Gerais, se estabeleceu na Picadinha no ano de 1923 e adquiriu

    terras do Estado de Mato Grosso, antes da diviso do estado e se denominava

    Cabeceira So Domingos.

    Essa comunidade desenvolve produo de milho, feijo, mandioca, hortalias

    e criam galinhas poedeiras e frango de corte, alm de cultivarem o pasto para a

    criao de algumas vacas leiteiras, destinadas subsistncia familiar. No seu entorno

    observa-se pequenos produtores chacareiros, envolvidos com atividades

    diversicadas em agricultura e pecuria.

    Uma das caractersticas marcantes dessa comunidade o envolvimento na

    luta por reconhecimento e legalizao de suas terras, sendo que representados por

    um dos lhos mais velho, participam cotidianamente de aes, manifestaes,

    reunies e viagens a Braslia.

    2.3. Assentamento Lagoa Grande

    O Assentamento Lagoa Grande localizado no sudoeste do estado, distante

    0,1 km do Distrito de Itahum, 65 km da sede do municpio de Dourados e 280 km da

    capital do Estado de MS, foi implantado, no ano de 1997, em terras que outrora foi de propriedade do Coronel Osvaldo Pinheiro de Almeida e posteriormente dos seus

    herdeiros O INCRA comprou dos herdeiros 4.111,4285 ha da Fazenda Nova da Lagoa Grande situada no Distrito de Itahum, Municpio de Dourados, Estado do

    Mato Grosso do Sul, distante 0,1 km do Distrito, 65 km da sede do municpio e 280

    km da capital do Estado, com latitude de 22 e 10 min. Com longitude de 53 e 20

    min, confrontando no Norte: com a Fazenda Lagoa Grande e Nei Azambuja, sul:

    Distrito de Itahum, vrias chcaras e Amilton de tal, Leste: Rodovia MS Coronel

    Juca de Matos, Oeste: Crrego Sucuri e Faz. SantAna. Antes de ser adquirida pelo

    INCRA para assentamento dos parceleiros da Lagoa Grande esta Fazenda era usada

    para pastoreio de bovinos de forma intensiva, As famlias que compem o

    assentamento Lagoa Grande so na sua totalidade lhos de produtores rurais com

    pouco conhecimento tecnolgico, baixo grau de escolaridade e pouco poder

    aquisitivo. Essas famlias so descendentes de quase todo territrio nacional e

    oriundo dos municpios de: Bataipor 61; Dourados 70; Rio Brilhante 8; e mais 12

    famlias de outros municpios de Mato Grosso do Sul, totalizando 151, das quais, 20

    participaram das atividades realizadas no local. As famlias de um modo geral e

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    E AMBIENTAIS COM AGRICULTORES FAMILIARES EM DOURADOS -MS:

    FRUTICULTURA, HORTICULTURA E SAFs

    composta pelo casal, variando entre um a cinco lhos com idade escolar do Pr-

    escolar at 8 srie do 1 grau.

    Antes de serem assentadas, essas famlias trabalhavam como

    arrendatrios, diaristas, pees e outras atividades da agropecuria e tinham muitas

    diculdades para criar e educar seus lhos. Devido tal situao procuraram o INCRA

    com a nalidade de conseguir um pedao de terra com objetivo o desenvolvimento

    scio-econmico e, garantir assim, a educao e o sustento dos seus familiares.

    3. DESENVOLVIMENTO

    O trabalho foi realizado pela Universidade Federal da Grande Dourados, com

    apoio da Agncia de Desenvolvimento e Extenso Rural - AGRAER e Prefeitura

    Municipal de Dourados, com implantao de Unidades Demonstrativas (UDs),

    oferecendo-se ocinas, palestras e cursos terico-prtico, com orientaes sobre

    tecnologias, condies ambientais para as plantas, formas de propagao, cuidados

    das plantas durante o ciclo vegetativo, etc.

    A vegetao natural da regio de Dourados-MS caracteriza-se pelo cerrado

    principalmente com sionomias mais abertas, devido forte antropisao ocorrida no

    local. So poucas as propriedades que se pode observar um estado mais conservado

    da vegetao, visto que a predominncia de pastagem, consequentemente a

    produo de leite, a atividade principal da regio. Portanto, estas informaes

    relevam a importncia climtica da regio, para melhor deciso sobre as escolhas das

    culturas que foram inseridas no local, uma vez que esta condio est presente nas

    comunidades envolvidas nas aes de extenso, sendo que h de modo geral,

    intenes desses agricultores familiares de diversicao da produo, que nesses

    locais exige maior ateno e muitas vezes, a correo do solo e a utilizao de

    tcnicas que tenham efeito nessas condies.

    Considerando essa realidade, desde o incio da execuo das aes nas

    comunidades, foram adotados princpios agroecolgicos pautados no manejo de

    sistemas agrcolas, buscando a conservao dos recursos naturais, como o solo, a

    gua e biodiversidade, incorporando princpios biolgicos e aproveitamento dos

    recursos locais, como resduos vegetais, estercos dos animais e algumas plantas com

    efeitos repelentes, inseticidas ou fungicidas, procurando superar decincias no solo.

    Diante da realidade da regio e das comunidades envolvidas, as atividades

    foram, de modo coletivo, denidas, organizadas e realizadas atravs de ocinas,

    reunies, palestras, rodas de conversa, visita tcnica no campo e, gradativamente o

    trabalho foi se efetivando e continua a ocorrer, haja vista que trata-se de um processo

    longo e contnuo, alicerado na valorizao do dilogo orientador de uma prtica

    coletiva, no paternalista, controladora ou produtivista.

    Antes de iniciar o plantio das culturas, procedeu-se a coleta de solos para

    anlise qumica no laboratrio de solos da Faculdade de Cincias Agrrias da UFGD,

    a uma profundidade de 0-20 cm, cujos resultados so apresentados na Tabela 1.

    Em virtude da alta fertilidade do solo do assentamento Amparo e Comunidade

    Quilombola, no foi necessrio fazer calagem para elevar a saturao de base,

    optando pela adubao orgnica para manuteno do solo. J no assentamento

    Lagoa Grande, por ser um solo altamente arenoso, foi necessrio todos os

    procedimentos para correo do mesmo conforme descrito a seguir:

    calagem (3 t.ha-1

    ) de calcrio dolomtico com PRNT 80%, incorporado a 20 cm de

    profundidade em toda a rea, adubao com Superfostato triplo (365 kg.ha-1

    ) e

    Cloreto de Potssio - KCl (105 kg.ha-1) alm de NPK 4-14-8 (150g/cova) e Boro (cido

    brico (10g/cova)) distribudos nas covas e misturados com terra antes do plantio.

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    Revista Extenso Rural, DEAER CCR UFSM, vol.21, n 2, abri- jun de 2014

    Tabela 1 - Caractersticas qumicas de amostras de solo coletadas no

    assentamento Amparo, Lagoa Grande e comunidade Quilombola.

    UFGD, Dourados, MS, 2008.

    pH

    CaCl2

    pH

    H2O

    P

    (mg dm-3

    )

    K Al Ca Mg H+Al SB T V%

    mmolc dm-

    Assentamento Amparo

    5,3 6,2 9,0 4,7 0,0 60,0 26,0 33,0 90,7 123,7 73,0

    Quilombolas

    5,3 5,9 3,0 0,9 0,0 102,0 24,0 40,0 126,9 166,9 76,0

    Assentamento Lagoa Grande

    4,4 4,99 1,71 0,3 8,4 26 0,9 27,8 3,85 31,6 12,2

    3.1. Atividades desenvolvidas na forma de unidades demonstrativas

    3.1.1 Fruticultura

    Essa atividade foi iniciada no assentamento Amparo e comunidade

    Quilombola, a partir de julho de 2008 no sistema agroecolgico de produo.

    Inicialmente, no assentamento Amparo, foi proferida uma palestra sobre a importncia

    de consumo e produo de frutas em pequenas propriedades. Aps trmino da

    palestra, houve interesse dos participantes presentes que totalizavam 10 famlias

    moradoras no local, sobre o cultivo de frutferas. Ento, decidiu-se a implantao de

    uma UD no local e um dos participantes foi sorteado para desenvolvimento da

    atividade. A famlia contemplada cedeu uma rea de 6.592m de sua propriedade

    tendo como responsveis todo participantes do grupo para a implantao e

    manuteno do pomar. Aps o plantio das mudas, mesmo com rea cercada, houve a

    entrada de gado, danicando a maioria das plantas. Para que no houvesse

    desnimo do grupo, decidiu-se a implantao de uma segunda UD em outra

    propriedade familiar, escolhidas por eles, onde foi cedida uma rea de 1.464m, em

    local oposto primeira, porm mais acessvel s famlias envolvidas, uma vez que

    ainda havia recursos para essa nalidade.

    Na comunidade Quilombola, uma vez que a maioria trabalha em emprego

    xo, foi agendada uma data em que todos estivessem presentes e realizou-se uma

    ocina terico-prtica com o plantio das mudas e orientaes necessrias no manejo

    durante o desenvolvimento das plantas. Nesta localidade foi instalada uma UD, numa

    rea de 5.000 m2. Com a presena do grupo de agricultores familiares fez-se

    demarcao da rea, preparo do solo, coveamento (covas de 50x50x50), adubao

    da cova e plantio das mudas. Em cada cova adicionou-se 2 litros de esterco bovino

    curtido, que foi misturado com o solo retirado e depois devolvido na cova e em

    seguida feito o plantio das mudas.

    Tanto no assentamento Amparo como na comunidade Quilombola, o

    procedimento do plantio foi executado de acordo com as recomendaes

    agronmicas indicadas para cada espcie. Foi destinada, de acordo com a adaptao

    climtica e de solo em cada UD, 20 espcies de frutferas, distribudas em 40

    variedades diferentes, totalizando em 180 plantas.

    As frutferas selecionadas de acordo com as adaptaes regionais foram

    mangueiras - Mangifera sp (var. corao de boi, Hadem, Palmer, Kent, Keit, Tommy

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    AES DE EXTENSO VOLTADAS S TECNOLOGIAS AGRONMICAS, ZOOTCNICAS

    E AMBIENTAIS COM AGRICULTORES FAMILIARES EM DOURADOS -MS:

    FRUTICULTURA, HORTICULTURA E SAFs

    atkins e Boubom); citros Citrus sp (laranja de mesa, natal e pra rio, mexerica,

    muricota, limo itaiti e galego); abacateiro Persea sp (var. manteiga, margarida,

    pollok, quintal e plora); goiabeira Psidium SP (branca e vermelha); nespereira -

    Eriobotrya japonica Lindl; pessegueiro - Prunus persica L. Batsch; aceroleira -

    Malphigia glabra L.; gueira - Fcus carica L.; caramboleira - Averrhoa carambola L;

    gravioleira - Annona muricata; coqueiro - Cocos nucifera; jabuticabeira Myrciaria sp;

    tamarindo - Tamarindus indica L; palmito (pupunha - Bactris gasipaes Kunth e juara -

    Euterpe edulis), uvaia - Eugenia pyriformis; bananeira - Musa sp (var. caturra, nanica,

    Annona muricata e prata), cajueiro - Anacardium occidentale L; pitangueira - Eugenia

    uniora L e jaqueira - Artocarpus heterophyllus que foram espcies caracterizadas de

    interesse local e com potencial econmico. A distribuio das plantas na rea de

    plantio foi feita de forma que as de porte maiores cassem em posio de quebra

    ventos, protegendo as de portes menores ou mais sensveis, principalmente de

    geadas e ventos frios.

    Quinzenalmente eram feitas pulverizao foliar com biofertilizante

    supermagro proveniente de prticas de curso realizado nas propriedades e noventa

    dias aps plantio, fez-se adubao de manuteno incorporada ao solo ao redor das

    plantas, com trs litros de esterco bovino curtido. Dez meses aps plantio, foi

    realizada uma poda, dos ramos ladres, e na ocasio, fez-se uma adubao de

    cobertura utilizando trs litros de compostagem produzida na propriedade utilizando

    resduos vegetais e estercos animais.

    As mudas de frutferas foram oriundas de viveirista comercial de Dourados,

    do viveiro da prefeitura municipal da cidade e da Escola Agrcola Padre Anchieta de

    Dourados.

    Desde a aquisio das mudas at que as plantas estivessem com

    pegamento denitivo, as famlias eram visitadas semanalmente por professor

    especfico da rea de fruticultura, estagirios bolsistas e voluntrios discentes da

    UFGD e tcnicos da Agraer para avaliao e orientao necessria acerca dos

    problemas tossanitrios que porventura poderiam aparecer. Aps adaptao das

    plantas, as visitas ocorriam quinzenalmente. Nessas ocasies, eram proferidas

    palestras na forma terico-prtica, enfatizando alternativas corretas de plantio como

    espaamento adequado entre plantas conforme a espcie, tipos de podas conforme

    necessrio, adubao de manuteno e controle alternativo de pragas e doenas

    quando. Em locais que no houve pegamento das plantas, as mesmas foram

    substitudas por novas mudas. No foi utilizado agrotxico para controle tossanitrio.

    Durante o desenvolvimento vegetativo das plantas, visando diversicar a

    produo na propriedade, eram cultivadas nos espaos entre as linhas, culturas como

    milho, feijo, berinjela, jil, batata doce, amendoim e brcolis. Alm dessas culturas,

    houve incluso de algumas espcies de adubao verde como feijo de porco,

    guandu, crotalrias e nabo forrageiro, que eram cortadas antes do orescimento e

    deixadas no solo.

    importante ressaltar que toda a prtica extensionista foi pautada na

    presena constante da equipe executora, criando situaes propcias para que os

    agricultores familiares participassem, demonstrassem suas dvidas, com momentos

    de ampla participao de todas as pessoas, inclusive de aprendizado para bolsistas

    que tiveram a oportunidade de relacionar os contedos estudados em sala de aula

    com a realidade concreta, envolvida por desaos sociais, econmicos e relativos

    natureza.

  • 17

    Revista Extenso Rural, DEAER CCR UFSM, vol.21, n 2, abri- jun de 2014

    Essa atividade foi desenvolvida no assentamento Amparo e na Comunidade

    Quilombola, a partir de maio de 2008 no sistema agroecolgico de produo.

    A rea destinada para instalao da UD foi escolhida pelas comunidades e

    foi desenvolvida em propriedade familiar. A atividade constou com a participao de

    10 e oito famlias para a comunidade Amparo e Quilombolas, respectivamente. A rea

    destinada ao desenvolvimento da UD foi de 400 m2 e de 2000 m

    2 do assentamento

    Amparo e comunidade Quilombola, respectivamente.

    As atividades foram realizadas na forma de curso terico-prtico enfatizando

    o preparo do solo, formao de canteiros, calagem, resduos orgnicos

    (compostagem), biofertilizante foliar, hmus, caldas, semeadura, plantio, transplante,

    desbaste, cobertura do solo, irrigaes, capinas, colheita, beneciamento e

    escoamento da produo. Nas UDs foi destinado um local denitivo de 50m2 para as

    plantas medicinais, aromticas e condimentares e o restante da rea foi trabalhado na

    forma de rotao de culturas entre as espcies, consrcio e utilizao de adubao

    verde (feijo de porco, guand, crotalrias, nabo forrageiro e mucunas), durante o

    pousio dos canteiros, com o intuito de demonstrar aos agricultores a importncia da

    biodiversidade em pequena rea.

    Inicialmente a rea foi preparada com uma arao e uma gradagem, uma

    vez que o local era constitudo de pastagem, sendo necessrio esse procedimento

    Em seguida, confeccionou-se os canteiros manualmente com o uso de enxadas no

    assentamento Amparo e com rotoencanteirador na comunidade Quilombola e fez-se a

    adubao nas duas reas conforme descrito abaixo. Nas reas de pousio que foi

    cultivada plantas para adubao verde, as mesmas foram roadas no incio do

    orescimento e deixadas sobre o solo por tempo indeterminado, e depois incorporado

    ao mesmo no momento da confeco dos canteiros.

    Inicialmente a adubao foi realizada com estercos bovinos (10 t.ha-1),

    apenas para manuteno do solo e posteriormente a partir de 120 dias aps incio das

    atividades, optou-se pela compostagem, que um adubo orgnico obtido a partir de

    restos de culturas e dejetos animais, quando estas j estavam bem decompostos. O

    composto orgnico foi preparado da seguinte forma: 3 camadas alternadas de 30 cm

    de resduos vegetais secos e frescos triturados ou no, intercalados , intercalados

    com 200g de fosfato natural, 5cm de estercos bovino, cama de frango, esterco de

    carneiro e de coelho e carvo vegetal, adquiridas nas propriedades dos produtores e

    parte cedida pela UFGD. O composto formado contou com uma altura de 1m, sendo

    umedecida e revirada quando a temperatura estava elevada o que ocorria entre sete a

    dez dias. Em torno de 120 dias o material j estava completamente decomposto

    pronto para uso. Alm do composto, foi preparado o hmus utilizando um litro de

    minhocas (Eisenia foetida), cedidas pela Embrapa CPAO de Dourados, por m3 de

    esterco fresco de bovino.

    Quinzenalmente utilizava-se adubao foliar, com o biofertilizante

    supermagro, na dosagem de 5 a 10% conforme a exigncia das espcies, preparado

    durante a realizao de cursos e ocinas, utilizando os macronutrientes (Cloreto de

    clcio, Sulfato de magnsio e Enxofre) e os micronutrientes (cido brico, Molibdato

    de sdio, Sulfato de cobalto, Sulfato de cobre, Sulfato ferroso, Sulfato de mangans, e

    Sulfato de zinco), cinzas, acar mascavo e leite. Aps 30 dias, o lquido foi coado e

    armazenado em garrafas pet de 2 litros.

    Para o plantio, foi realizada semeadura direta (em local denitivo) e indireta

    em bandejas de isopor com clulas, ou sementeiras em canteiros preparados para

    esse m, conforme as indicaes das espcies, onde foram feitas repicagens das

    plntulas que germinaram em alta populao deixando somente a mais vigorosa para

    posterior plantio em local denitivo.

    3.1.2. Olericultura, plantas medicinais, aromticas e condimentares

  • 18

    AES DE EXTENSO VOLTADAS S TECNOLOGIAS AGRONMICAS, ZOOTCNICAS

    E AMBIENTAIS COM AGRICULTORES FAMILIARES EM DOURADOS -MS:

    FRUTICULTURA, HORTICULTURA E SAFs

    Dentre as espcies de hortalias que foram cultivadas, cita-se a berinjela, jil,

    alface, almeiro, chicria, repolho, couve comum, couve-or, abboras, cebola,

    cebolinha, salsinha, brcolos, cenoura, beterraba, feijo vagem, pepino, quiabo,

    rabanete, coentro e rcula, utilizando-se sementes oriundas do mercado local.

    As seguintes plantas medicinais aromticas e condimentares foram inseridas

    para serem cultivadas no local: manjerico (Ocimun basilicum), manjerona (Origanum

    majorona), tomiho (Tymus vulgaris), hortel (Mentha sp), slvia (Salvia ocinalis),

    alecrim (Rosmarinus ofcinalis), Camomila (Matricaria chamomilla), losna (Artemisia

    absinthum), arnica (Solidago microglosa), confrei (Symphytum ofcinale L.), citronela

    (Cymbopogon nardus), capim cidreira (Cymbopogon citratus), melissa (Melissa

    ofcinalis), cidr/erva-lusa (Aloysia triphylla), cnfrinho (Mentha canforata), segurelha

    (Satureja montana L.), anador (Justcia pectoralis), mil folhas (Achillea millefolium),

    pulmonria, bardana (Arctium lapa), com mudas oriundas do horto de plantas

    medicinais da UFGD. Todas as plantas medicinais, aromticas e condimentares foram

    identicadas conforme nomenclatura botnica.

    As irrigaes foram feitas utilizando o sistema de asperso (santeno)

    conforme necessidade das culturas. Para esta etapa, no Assentamento Amparo foi

    concedida uma bomba anlgera que foi imersa na gua do posso, com 10 metros de

    profundidade, para conduo de gua at uma caixa dgua suspensa a uma altura

    de 3 metros de altura do solo com uma capacidade de 1000 litros, com 50 metros de

    distncia do local a ser irrigado e na Comunidade Quilombola foi adquirido uma roda

    dgua via projeto, e esta leva gua at uma caixa dgua com capacidade de 10.000

    litros, localizada 100 metros distante do local que foi feita a implantao da UD, por

    meio de canalizao da gua para esse destino.

    As plantas invasoras foram controladas mediante capina e arranquio sempre

    que necessrio.

    Para o controle de pragas e doenas, as famlias foram orientadas a utilizar

    biofertilizante e defensivos naturais como caldas de alho (Allium sativum), cebolinha

    (Allium cepa) pimentas e nim (Azadirachta indica), triturados em liquidicador, alm de

    ch de losna (Artemisia absinthum), camomila, etc.

    3.1.3. Sistemas Agroorestais

    Os sistemas agroorestais (SAF) caracterizam-se pelo consrcio entre

    componentes animais, culturas agrcolas e/ou plantas lenhosas, visando a

    sustentabilidade, conforme Silva et al. (2010), que demonstraram diversos conceitos

    aplicados na literatura. Os SAF podem ser distribudos em trs sub-sistemas:

    silvipastoril (silvicultura e animais), agrissivipastoril (culturas agrcolas, animais e

    plantas lenhosas) e o agrissilvicultural (culturas agrcolas e plantas lenhosas).

    Os SAF foram implantados no assentamento rural Lagoa Grande, por meio

    de unidades demonstrativas (UD) utilizando sub-sistema agrissilvipastoril, tendo como

    componente arbreo o eucalipto integrado com gado leiteiro.

    Para denio comunitria a respeito dos sistemas a serem implantados

    primeiramente foi realizada uma palestra onde foram expostos os conceitos sobre o

    tema, as diferentes composies de espcies animais e vegetais para os SAF,

    vantagens, desvantagens e anlise econmica. Aps explanao do assunto, vrios

    produtores participantes do evento se interessaram em implantar o sistema. Na

    ocasio estavam presentes 22 participantes. Ento decidiu-se pela realizao de um

    sorteio entre eles e trs foram contemplados para a instalao das UDs em dois h de

    seus lotes.

  • 19

    Revista Extenso Rural, DEAER CCR UFSM, vol.21, n 2, abri- jun de 2014

    Em seguida analisaram-se os solos dos lotes, caracterizados ento como

    Latossolo Vermelho distrco textura mdia (LVd). A partir da anlise de solos

    (Tabela 1) decidiu-se pela calagem (3 t.ha-1

    ), supertriplo e Cloreto de potssio

    conforme citado acima.

    Para o plantio orestal, foram utilizadas mudas de eucalipto hbrido

    urograndis, plantadas no quarto trimestre de 2008 nas trs propriedades

    contempladas, com apoio dos grupos participantes. O espaamento utilizado foi de 9

    m nas entrelinhas e 4 m entre plantas. O prepara do solo foi o convencional.

    Foi aplicado gel nas covas para melhorar a reteno de umidade e

    consequente sobrevivncia das plntulas, em funo do baixo nvel de precipitao

    (Figura 2) e alta temperatura (Figura 3) na poca do plantio. Foi necessrio irrigar via

    regador com capacidade de 5 litros, duas vezes ao dia, at que as plantas

    apresentassem condies de sobreviver.

    Os agricultores foram orientados a cultivar outras culturas nas entre linhas

    at que as plantas tivessem altura suciente para plantao da pastagem.

    Figura 2 - Precipitao e evapotranspirao ocorrida na poca do plantio de

    eucalipto no assentamento Lagoa Grande

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    E AMBIENTAIS COM AGRICULTORES FAMILIARES EM DOURADOS -MS:

    FRUTICULTURA, HORTICULTURA E SAFs

    Figura 3 - Temperaturas ocorrida na poca do plantio de eucalipto no

    assentamento Lagoa Grande

    Os agricultores foram orientados a cultivar outras culturas nas entrelinhas at

    que as rvores atingissem altura suciente para a introduo das forrageiras, tais

    como: melancia, abbora, amendoim e mandioca.

    Por opo de cada um os sistemas foram distribudos da seguinte forma: a)

    em um dos lotes permitiu-se a revegetao de gramneas forrageiras do gnero

    Urochloa anteriormente existente na rea do plantio orestal, atendendo a aptido

    pecuria da regio, especicamente leiteira; b) em outro lote as mudas foram

    plantadas em rea com vegetao remanescente de cerrado, priorizando a

    preservao natural do local; d) no lote do terceiro sorteado foi trabalhado o consrcio

    de culturas agrcolas. Em todos os casos foi realizado o controle de formigas

    cortadeiras quando necessrio, bem como a capina ao redor das plantas num raio de

    um metro.

    Aps o plantio das mudas de eucalipto a regio foi penalizada por um

    veranico de 55 dias, resultando no replantio de grande parte das mudas. Quando as

    plantas alcanaram em torno de um metro de altura, em agosto de 2009, foi realizada

    uma adubao de cobertura para superar a queda no desenvolvimento em funo de

    forte seca na poca de plantio, com 36g de KCl, 22g de uria e 28 gramas de

    superfosfato simples, distribudos em duas covetas laterais a cada planta nos trs

    lotes beneficiadas.

    Em dezembro de 2009, por meio de uma visita tcnica, os agricultores foram

    orientados sobre os procedimentos de desrama e detectou-se a necessidade de outra

    adubao de manuteno, principalmente em algumas plantas com desenvolvimento

    comprometido. Durante o desenvolvimento das plantas as UD eram visitadas, de 30

    em 30 dias, pelos prossionais e extensionistas para vericar o desenvolvimento das

    plantas.

    As avaliaes foram tabuladas e analisadas por meio de estatstica

    descritiva.

    Todas as atividades tiveram parcerias nanciadas do CNPq, MEC e UFGD.

  • 21

    Revista Extenso Rural, DEAER CCR UFSM, vol.21, n 2, abri- jun de 2014

    4. RESULTADOS E DISCUSSO

    Os locais trabalhados compreendem regies predominantes da agricultura

    familiar onde suas economias esto dependentes no desenvolvimento do setor

    agrcola, sendo que a pecuria leiteira sempre foi a principal atividade econmica

    desenvolvida por eles.

    Ao conhecer a realidade atual dos assentamentos e comunidades

    quilombolas, observou-se uma necessidade geral de insero de atividades agrcolas

    e de criao de animais diversicadas. E mais, detectou-se o anseio pelo

    acompanhamento de prossionais tcnicos da rea de extenso, que os auxiliassem

    na preservao do meio ambiente, na implantao de atividades que promovesse a

    agregao familiar, bem como a reduo no uso agrotxicos. Consequentemente,

    demonstraram interesse em novas alternativas de renda e aproveitamento alimentar,

    resgatando costumes antigos e naturais.

    As aes executadas nas propriedades por meio das UDs permitiram

    detalhar o perl dos agricultores que residem em pequenas reas, especialmente no

    que se refere aos hbitos de consumo alimentar, de produo agrcola e suas

    expectativas relacionadas ao uso de inovaes tecnolgicas no campo.

    Como esperado em qualquer ao de transio para a agroecologia, vrias

    diculdades foram surgindo principalmente relacionado com a insegurana e a

    incerteza dos resultados que o modelo agrcola pode proporcionar, pois normalmente

    as pessoas fazem aquilo que esto acostumadas, sentindo-se mais seguras. Essa

    mudana no ocorre de imediato, Trata-se de uma reeducao para a agricultura, da

    maneira de ver e lidar com a propriedade rural (PADOVAN, 2007).

    Observou-se tambm o esprito da individualidade e competio entre as

    famlias, alm da variao climtica que ocorreu na epoca em que iniiou-se as

    atividades, o que propiciou um atraso no desenvolvimento inicial das plantas. Esses

    fatores inuenciaram no desenvolvimento das atividades, conforme a programao

    elaborada.

    Assim, puderam ser identicados os principais problemas e expectativas das

    famlias agricultoras, permitindo propor aes que podem melhorar a vida familiar no

    campo, a permanncia dos jovens na propriedade rural, alm de oferecer alternativas

    de sistemas de produo agroecolgicas para a regio.

    As quantidades de cursos, palestras e visitas tcnicas realizadas durante as

    atividades extensionistas nas comunidades so apresentadas conforme a Tabela 2.

    Tabela 2 - Aes desenvolvidas de fruticultura (F), horticultura (H) e sistema

    agroorestais (SAFs) entre o perdo de 2008 a 2010.

    Ao/

    Atividade

    Assentamento

    Amparo

    Assentamento

    Lagoa grande

    Comunidade

    Quilombola

    F H SAFs F H SAFs F H SAFs

    Cursos 1 3 0 0 0 1 1 3 0

    Palestras 1 4 1 0 0 1 1 4 0

    Visitas

    tcnicas

    24 81 0 0 0 26 24

    81 0

    Essas aes permitiram melhor interao com as famlias que esto no

    campo, esperando por oportunidades de aprendizado e capacitao relacionados com

    as atividades, despertando interesse em alguns que deram prosseguimento nas

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    AES DE EXTENSO VOLTADAS S TECNOLOGIAS AGRONMICAS, ZOOTCNICAS

    E AMBIENTAIS COM AGRICULTORES FAMILIARES EM DOURADOS -MS:

    FRUTICULTURA, HORTICULTURA E SAFs

    atividades do modelo agroecolgico e fuga de outras pessoas que preferiram

    continuar no modelo convencional.

    4.1. Perl das famlias assentadas

    Das 35 famlias envolvidas, a maioria era constituda do sexo masculino, em

    torno de 82,2%, enquanto que do sexo feminino, apenas 17,8% se envolveram nas

    atividades. Dentre esses, 93,7% eram chefe de famlia com idade entre 35 e 60 anos

    e 5,9%, constitua-se de jovens com faixa etria de 14 a 26 anos. Entre adultos, 3,2%

    eram aposentados e/ou pensionista. Entre essas famlias, detectou-se que a renda

    familiar mensal variavam entre 0,5 a 2 salrios mnimos mensal.

    4.2. Olericultura

    No assentamento Amparo, depois da implantao da UD, houve uma

    disperso do grupo, sendo necessria, a formao de novo grupo. Algumas pessoas

    pemaneceram e como houve interesse de outras famlias que se uniram deu-se a

    continuidade do trabalho. As produes obtidas durante o desenvolvimento do

    trabalho foram distribudas igualmente entre todos os participantes e o excedente

    comercializado dentro do assentamento e no restaurante universitrio da

    Universidade Federal da Grande Dourados.

    Na Comunidade quilombola, por se localizar prximo a rea urbana, desde o

    incio das atividades, medida que houve excedente de produo, as famlias foram

    incentivadas a comercializao dos produtos, semanalmente, em espao cedido

    dentro da universidade (UFGD), em uma feira organizada pelo projeto de incubadora,

    desenvolvido pela faculdade de cincias humanas (FCH), e trabalha com a parte

    social das famlias do campo.

    Como o sistema de produo foi conduzido utilizando alternativas naturais

    como compostagem, biofertilizante e caldas obtendo boa resposta, os produtos foram

    oferecidos de forma a divulgar as possibilidades de obter produo sem uso de

    agrotxicos, minimizando o impacto ambiental. Para Valarini et al. (2011) as prticas

    agrcolas tais como preparao mecanizada e intensiva e a falta de cobertura do solo,

    a ausncia de rotao de culturas com diferentes sistemas radiculares e o baixo uso

    de adubao verde proporciona degradao do solo. Desta forma, pode se vericar

    que a produo das hortalias obtida proporcionou ao grupo participante o

    aprendizado das tcnicas de produo de hortalias de forma ecolgica alm de

    beneciar as famlias com alimentos saudveis.

    Resultados contrrios so descritos por Ferreira et al. (2011) em estudos

    com vrios tipos de adubao orgnica avaliadas nas doses de 5, 10 e 15 t ha-1

    (base seca) com a cultura do rabanete detectaram que o preparo convencional do

    solo expressou resposta linear s doses de composto e a utilizao do plantio direto

    sobre palhada de plantas espontneas, independente da dose de composto,

    promoveram maiores produtividades e massa fresca de raiz comercial, que o plantio

    direto quando utilizado a cobertura viva com amendoim forrageiro e de plantas

    espontneas.

    No entanto, para Zuba et al. (2011) o emprego de adubos orgnicos e

    minerais reduziu signicativamente a incidncia de podrido bacteriana e o ataque de

    pragas no tomateiro em relao aos adubos qumicos. Esta comparao com

    resultados de efeito de adubao ilustra a meta alcanada com uso de insumos

    naturais.

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    Revista Extenso Rural, DEAER CCR UFSM, vol.21, n 2, abri- jun de 2014

    Observou-se tambm por meio de acompanhamento constante, mais unio e

    valorizao do trabalho coletivo por meio da participao das famlias dos assentados

    acrescidos pelo aumento da participao dos lhos no contexto familiar. De acordo

    com Buainain et al. (2003), o desempenho da agricultura familiar reete um conjunto

    amplo de condicionantes, desde a disponibilidade de recursos, a insero

    socioeconmica, a localizao geogrca, as oportunidades e a conjuntura

    econmica, as instituies e valores culturais da famlia, do grupo social e at mesmo

    do pas.

    A ocorrncia de pragas e doenas nas plantas cultivadas durante a conduo

    do projeto, principalmente na fase inicial, tambm se constituiu num grande desao,

    pois o manejo convencional de reas adjacentes geralmente favorece o aumento da

    populao desses organismos, devido ao uso constante de agroqumicos que causam

    desequilbrio na natureza. Dentre as pragas observadas, citam-se vaquinhas

    (Diabrtica speciosa), curuquer da couve (Ascia monuste orseis), cochonilhas (Icerya

    purchasi, Planococcus citri) trips sp, pulges (Brevicoryne brassicae), percevejos

    (Pachylis pharaonis Euchistos heros, Pachicorisem torridus, Edessa meditabunda,

    Thyanta perdictor, e Oebalus poecilus) e as doenas observadas foram odio

    (Sphaerotheca fugilinea), em abboras e quiabo, Cercosporiose em alface, e

    Alternaria sp em cebola. O problema foi controlado com a utilizao de protetores de

    plantas, isto , biofertilizante supermagro, calda bordaleza e extratos vegetais a base

    de alho, cebolinha, nim, etc, alm disso, incluiu-se uso de compostagem, adubos

    verdes e urina curtida de vaca que fornece nitrognio para as plantas e tem ao

    repelente de insetos. Esse procedimento foi orientado na forma de curso terico

    prtico. Com o ambiente mais equilibrado, a incidncia de pragas diminuiu e

    observou-se nvel de controle satisfatrio e os produtores tm demonstrado grande

    capacidade de enfrentar os desaos na transio agroecolgica.

    Dentro deste contexto, Burg e Mayer (2001) citam que a urina de vaca

    contm fenis que so substncias que aumentam a resistncia nas plantas e age

    como repelentes de insetos e controle de doenas provocadas por fungos, o

    biofertilizante atua como defensivo natural inibindo o crescimento de fungos e

    bactrias causadores de doenas e tambm aumenta a resistncia contra insetos e

    caros.

    De acordo com Souza e Rezende (2006), a utilizao de composto orgnico

    nas adubaes produz mltiplos efeitos sobre o solo e as plantas cultivadas, atravs

    do aumento da permeabilidade do solo, agregao das partculas minerais,

    fornecimento de macro e micronutrientes, correo da acidez, incremento na

    populao de microorganismos e elevao da ecincia na absoro de nutrientes e

    as funes da adubao verde. de proteger o solo das chuvas de alta intensidade,

    manter elevada a taxa de inltrao de gua no solo, promover grande e contnuo

    aporte de tomassa, de maneira a manter ou at mesmo elevar, ao longo dos anos, o

    teor de matria orgnica do solo, melhora a condio biolgica, propriedades fsicas e

    qumicas do solo, diminui a lixiviao de nutrientes e alguns adubos verdes apresenta

    potencial de utilizao mltipla, podendo ser utilizada na alimentao animal, humana

    e na produo de madeira e carvo vegetal.

    Conforme Primavesi (2002), alm do aspecto ecolgico do solo, o sistema

    orgnico mostra-se como alternativa vivel para cultivo agrcola de hortalias levando-

    se em considerao tambm os aspectos econmicos.

    Desta forma, atravs da observao do comportamento das famlias que

    participaram das aes, pode se vericar que a produo das hortalias obtida

    proporcionou ao grupo o aprendizado das tcnicas de produo de hortalias de

    forma ecolgica alm de beneciar as famlias com alimentos saudveis alm do

    melhor convvio local entre elas. Essas constataes ocorreram no dia a dia, no

  • 24

    AES DE EXTENSO VOLTADAS S TECNOLOGIAS AGRONMICAS, ZOOTCNICAS

    E AMBIENTAIS COM AGRICULTORES FAMILIARES EM DOURADOS -MS:

    FRUTICULTURA, HORTICULTURA E SAFs

    contato direto com os agricultores familiares que dialogavam constantemente com a

    equipe, e ainda, destacaram esses benefcios vericados em sua prpria prtica de

    produo. Perceberam ainda, que as hortalias apresentavam qualidade superior

    daquelas que antes produziam, e ainda, muitos desses agricultores entregaram seus

    produtos para a merenda escolar, e vericaram que produtos orgnicos so mais

    valorizados e procurados, especialmente quando participam de programas

    governamentais. Um quilombola, arma ter parceria com as lagartas, pois divide sua

    produo com elas, mesmo assim, no deixa de produzir hortalias organicamente.

    Lago et al. (2006) realizaram um estudo de casos com nove agroindstrias

    familiares orgnicas e citam que apesar dos avanos na agricultura orgnica nos

    ltimos anos, associados ao intenso trabalho de cooperao e parcerias das

    entidades e dos agricultores familiares envolvidos, muitos problemas ainda

    necessitam serem enfrentados. Dentre eles destacam-se: controle de pragas e

    estiagem, regulamentao dos produtos orgnicos, falta de pesquisa nesta rea, falta

    de linhas de crdito especca, falta de mo-de-obra especializada, incluso dos

    produtos na merenda escolar, legislao (inspeo municipal, que probe atuar em

    outros municpios) e a falta de orientao, informaes adequadas ao consumidor de

    produtos orgnicos, alm de incentivos governamentais para torn-los, cada vez mais,

    acessveis economicamente.

    Os mesmos autores citam que a vantagem estratgica estabelecida pela

    diferenciao dos produtos orgnicos foi e uma dos grandes impulsionadores deste

    setor que vem crescendo a uma taxa mdia em torno de 20% ao ano no Brasil e no

    mundo; e atentos a este crescimento do mercado, bem como nas particularidades e

    necessidades do mercado consumidor destes produtos, que se estabelece a

    necessidade e a importncia de construo de um olhar integrado ao marketing a este

    setor e que ao analisar a agricultura familiar produtora e comercializadora de produtos

    orgnicos. No caso estudado, percebe-se que a sua principal vantagem competitiva

    est vinculada diferenciao dos produtos comercializados. Diferenciao esta que

    pode melhorar estas aes ainda bastante incipientes, presentes nas agroindstrias

    estudadas.

    Com o desenvolvimento das atividades obteve-se as perspectivas

    alcanadas no quesito produo de hortalias na agricultura familiar, considerando um

    incremento na alimentao das famlias e comercializao do excedente, dentro da

    prpria comunidade e em feiras externas. Um dos entraves encontrados pelos

    produtores foi a problemtica de comercializao, relacionado ao diferencial de valor

    de produtos orgnicos, como falta de conscientizao do consumidor em pagar o

    preo vlido, tendo que comercializar pelo valor dos produtos convencionais. De

    acordo com Lago et al. (2006), apesar dos avanos na agricultura orgnica nos

    ltimos anos, associados ao intenso trabalho de cooperao e parcerias das

    entidades e dos agricultores familiares envolvidos, muitos problemas ainda

    necessitam serem enfrentados. Esses autores citam que estes problemas so de

    ordem tecnolgica, comercial e poltica.

    As espcies que tiveram maior produo e aceitao pelo consumidor foram

    alface, cenoura, couve, beterraba e almeiro, com colheita semanal de acordo com a

    Tabela 3.

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    Revista Extenso Rural, DEAER CCR UFSM, vol.21, n 2, abri- jun de 2014

    Tabela 3 - Produo de Olercolas mais consumidas pelas comunidades e

    comercializadas em feiras externas.

    Nome comum e Nome

    cientco

    Unid

    Produo

    Semana

    Consumo

    (Unid)

    Excedente

    (Unid)

    Alface - Latuca sativa P 20 5 15

    Almeiro - Cichorium intibus P 20 3 18

    Beterraba Beta vulgaris Raiz

    kg

    15 3 12

    Cebolinha - Allium

    schoenoprasum

    Folhas

    masso

    18 2 16

    Cenoura - Daucus carota Raz

    kg

    15 3 12

    Chicria/

    Escarola -

    Cichorium endvia

    P

    15

    3

    12

    Coentro - Coriandrum

    sativum

    Folhas 15 2 14

    Couve - Brassica oleracea

    var. acephala

    Folhas

    masso

    25 4 21

    Rabanete -Raphanus

    sativus

    Raiz

    kg

    10 2 8

    Rcula - Eruca sativa Masso 20 4 16

    Salsinha - P. crispum (Mill.) Folhas 18 2 16

    Aquelas de produo anual tambm tiveram boa aceitao conforme Tabela 4.

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    E AMBIENTAIS COM AGRICULTORES FAMILIARES EM DOURADOS -MS:

    FRUTICULTURA, HORTICULTURA E SAFs

    Tabela 4 - Hortalias de produo anual inseridas nas comunidades familiares.

    Nome comum

    Nome cientco

    Produo

    (Kg)

    Consumo

    (Kg)

    Excedente

    (Kg)

    Abboras -Cucurbita spp 10

    5

    5

    Berinjela - Solanum

    melongena

    10 4 6

    Brcolis - Brassica oleracea 10 4 6

    Cebola - Allium cepa 20 10 10

    Couve or - Brassica

    oleracea

    10 2 8

    Feijo vagem - Phaseolus

    vulgaris L

    15 5 10

    Jil - Solanum gilo 10 2 8

    Pepino - Cucumis sativus 20 5 10

    Quiabo - Abelmoschus

    esculentus

    25 10 15

    Repolho - Brassica oleracea

    var. Capitata

    12 2 10

    Tomate cerejinha - L.

    esculentum

    20 3 17

    Diante, de tal situao, observa-se que o cultivo e a comercializao direta

    das hortalias, nas condies atualmente existentes na agricultura familiar da regio,

    no conseguem proporcionar uma renda agrcola estvel a esses agricultores.

    Em relao s atividades exercidas pelas famlias, a princpio observou-se que antes

    do envolvimento do trabalho era apenas a produo de leite alcanando 100%.

    Quanto produo de hortalias e de frutferas, apenas em torno de 2% das famlias

    tinham para consumo da famlia. Conforme Filgueira (2003), o nvel de consumo de

    hortalias relaciona-se no s com a renda pessoal, que, por sua vez, depende do

    progresso geral de um pas, como tambm com o grau de escolaridade e de cultura

    geral de sua populao.

    4.3. Plantas medicinais, aromticas e condimentares

    Considerando o uso de medicamentos a base de ervas medicinal, como

    parte da cultura regional, o cultivo destas plantas foi includo aps por solicitao das

    famlias. Com isso, puderam adquirir conhecimentos, atravs de cursos, quanto aos

    cuidados na manipulao e uso de plantas e sua classicao botnica,

    proporcionando assim a diminuio do extrativismo. Atravs das aulas prticas de

    preparo artesanal de toterpicos, as famlias passaram a produzir temperos, vinagres

    aromticos e xaropes. Esses eram utilizados pela prpria famlia ou visinhos que

    solicitavam. As plantas cultivadas na propriedade e mais utilizadas foram as

    condimentares como mangerona, manjerico, alecrim, etc. Tabela 5.

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    Revista Extenso Rural, DEAER CCR UFSM, vol.21, n 2, abri- jun de 2014

    Tabela 5 - Plantas medicinais e condimentares cultivadas no assentamento

    Amparo e comunidade Quilombola, na regio de Dourados-MS.

    Variedades Nome cientco Consumo

    %

    Processada %

    Mangerona Origanum majorana 10,8 16,8

    Mangerico Ocimum basilicum 10,6 15,8

    Boldo Pneumus boldo 10,4 0

    Alecrim Rosmarinus ofcinalis 8,7 14,6

    Citronela

    Slvia

    Cymbopogom nardus

    Salvia ofcinalis

    6,2

    7,8

    9,8

    13,8

    Tomilho Tymus vulgaris 7,6 12,5

    Capim cidreira

    Guaco

    Cymbopogom citratus

    Mikania glomerata

    7,4

    8,6

    0

    11,9

    Sabugueiro Sambucus nigra 5,9 8,9

    Hortel Mentha piperita 5,7 8,7

    Poejo Mentha pulegium 5,6 7,9

    Carqueja Baccharis trimera(Lees) 3,9 5,6

    Cidr Lippia citriodora 5,8 0

    Arnica Solidago microglosa 4,2 0

    Outros 3,8 4,8

    Ao visitar as propriedades antes do desenvolvimento das atividades, foi

    observada que em 66,3% das propriedades havia pequenos espaos com algumas

    plantas desta categoria como hortel (Mentha sp), carqueja (Baccharis trimera), boldo

    (Coleus barbatus), capim cidreira (Cymbopogon citratus), mangerona (Origanum

    majorona). De acordo com Correa Jnior et al, (2006), a grande maioria das famlias

    tem alguma planta medicinal cultivada em sua horta caseira, para qualquer

    eventualidade. Costa e Mayworm (2011) observaram que o conhecimento medicinal

    das plantas, na comunidade, vem sendo adquirido e transmitido de gerao a gerao

    por familiares (58%), amigos e vizinhos (38%) e atravs da literatura e meios de

    comunicao (4%). E que a utilizao das plantas medicinais pela maioria das

    pessoas foi relacionada precariedade do sistema de sade da cidade, ou distncia

    para buscar atendimento mdico. Para Albertasse et al. (2010), embora o emprego

    das plantas com ns teraputicos ainda seja parte importante do cotidiano de grande

    parte das pessoas, existem outras opes disponveis de tratamento e a escolha de

    uso entre cada tratamento feita com base na necessidade de urgncia de efeitos e

    na disponibilidade de cada um, seja pela sazonalidade das plantas ou custo de

    compra do medicamento.

    As ervas aromticas e condimentares tambm so utilizadas com freqncia

    no preparo de alimentos dando-lhes aroma, sabor e aspecto mais agradvel, alm de

    ajudar na sua conservao.

    No entanto, vale ressaltar que as plantas medicinais tm sido alvo de

    interesse de produo com enfoque comercial na regio.

    A idia de trabalhar com hortalias e plantas medicinais aromticas e

    condimentares busca resgatar costumes tradicionais, como o uso de chs, xaropes e

    temperos e que pode contribuir substancialmente para o desenvolvimento rural

    sustentvel.

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    E AMBIENTAIS COM AGRICULTORES FAMILIARES EM DOURADOS -MS:

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    4.4. Fruticultura

    Houve poucas mortes de plantas nas duas comunidades trabalhadas, fator

    esse favorecido com a poca de plantio que ocorreu precipitao suciente para

    estabilizao das mudas, havendo desenvolvimento das mesmas conforme previsto.

    As que no resistiram, foram substitudas por novas mudas. J no

    Assentamento Amparo, na primeira unidade, as plantas foram mais penalizadas

    principalmente no perodo de seca, sendo necessrio o replantio de quase todas, em

    torno de 80 %.

    Na segunda unidade de 1485m2, houve melhor pegamento das plantas,

    provavelmente devido a maior precipitao na poca do plantio ou mais dedicao por

    parte do grupo envolvido. Essas plantas ainda no iniciaram a produo o que deve

    ocorrer a partir do 3 ao 5 ano de plantio, dependendo da espcie de frutfera. Em

    torno de trinta e seis meses aps o plantio das mudas, observou-se o primeiro

    orescimento de algumas espcies frutferas como pessegueiro e mangueiras.

    Ferreira et al. (2003), analisaram a importncia do cultivo de diversas

    espcies de frutferas como alternativa para o aumento de renda da agricultura

    familiar com as comunidades e concluram que o maracujazeiro, a goiabeira e a pinha

    foram identicadas como as melhores alternativas para os produtores familiares,

    espcies essas utilizadas no processo de implantao nas UDs.

    O uso de composto orgnico no solo e do biofertilizante super magro e

    caldas preventivas via foliar propiciaram o bom desenvolvimento vegetativo das

    plantas nos primeiros anos aps implantao, no sendo necessrio uso de adubos

    qumicos e produtos para controle tossanitrio. Auler et al. (2011) estudando a

    ocorrncia do declnio dos citros no polo citrcola da regio noroeste do Estado do

    Paran, em pomar experimental, observaram os sintomas da primeira ocorrncia da

    doena aos sete anos aps o plantio, e aos quinze anos atingiu 31% das plantas.

    Andrade et al. (2010), observaram que o uso de calda sulfoclcica, apesar de ser

    capaz de reduzir a populao do caro-da-leprose abaixo do nvel de controle aps as

    aplicaes, no foi capaz de reduzir a populao a zero, como constatado nos

    tratamentos com spirodiclofen e cyhexatin. Alm disso, a frequente aplicao de calda

    sulfoclcica pode ter aumentado a frequncia de caros resistentes, tanto a dos

    caros-praga como a dos predadores, explicando, em parte, a maior ocorrncia dos

    caros predadores nos tratamentos com aplicaes sucessivas de calda sulfoclcica.

    No entanto a calda sulfoclcica mantm a populao de caros (Brevipalpus

    phoenicis) abaixo do nvel de controle, porm no evita o surgimento de leses de

    leprose em ramos, folhas e frutos

    O sistema de consrcio de culturas com as frutferas est proporcionando

    uma posterior agregao de renda e incluso de alimentos saudveis na mesa das

    famlias das comunidades envolvidas, alm de despertar interesse dos vizinhos

    adjacentes.

    O milho e o feijo que foi semeado nas entre linhas na UD da comunidade

    Quilombola tiveram pouca geminao, provavelmente por ter ocorrido um longo

    perodo de seca aps o semeio acrescido pela presena de aves no local. Com isso, a

    rea foi novamente preparada e posteriormente, plantada mudas de tomate variedade

    de mesa e cerejinha. A mandioca e as abboras que foram implantadas na ocasio da

    implantao do pomar, pelo sistema de consrcio, j esto sendo consumidas e

    comercializadas pela comunidade. J no Assentamento Amparo, a ervilha que foi

    semeada nas entrelinhas, numa rea de 15m2, foi colhida em torno de 30 kg de frutos

    secos, alm do consumo da leguminosa ainda verde na vagem. Semeado em poca

    diferente, foi colhido em torno de 80 kg de amendoim.

  • 29

    Revista Extenso Rural, DEAER CCR UFSM, vol.21, n 2, abri- jun de 2014

    O excedente da produo de quiabo em torno de 20 kg por semana foi

    fornecido para o restaurante da UFGD e mercado da cidade. A berinjela, o jil e a

    couve or, foram distribudos entre as famlias envolvidas, como parte da subsistncia

    familiar conforme gura 4.

    Figura 4 - Produo de culturas nas entrelinhas das plantas

    frutferas no sistema de consrcio.

    De acordo com Schreiner (1994), o sistema de cultivo em consrcio se

    constitui uma boa alternativa para as propriedades rurais, pois oferece integrao

    entre preservao ambiental e cultivos agrcolas, para enfrentar os problemas

    crnicos de baixa produtividade, escassez de alimentos e degradao ambiental

    generalizada. Esses sistemas podem alcanar bons nveis de sustentabilidade nos

    seguintes aspectos: agronmico, pela reduo de riscos de pragas e doenas e

    melhor ciclagem de nutrientes; econmico, pela diversicao das fontes de renda;

    social, conseqente da diversicao de mercados e servios; e ecolgico, atravs da

    melhoria no balano hidrolgico, conservao do solo e condies para micro e macro

    faunas e oras.

    Esse cultivo simultneo de duas ou mais culturas, permite assegurar uma

    subsistncia mais estvel em termo de renda e alimento, minimizando os riscos

    decorrentes do monocultivo (COELHO et al. 1994)

    Na escolha das espcies frutferas para a implantao das UDs, procurou-se

    utilizar as frutas de maior potencial econmico e as espcies que apresentavam

    maiores teores de vitaminas, sais minerais e protenas, alm da possibilidade de

    utilizao in natura ou de serem aproveitadas na forma de doces, licor, compotas,

    gelia e tambm a produo de frutas ao longo do ano. Tambm buscou-se a

    utilizao de espcies de frutas bastante apreciadas pela famlia e ainda a introduo

    de espcies no tradicionais mas com potencial econmico ou medicinal e que

    produzam em pocas de entre safra da maioria das espcies.

    4.5. Sistemas Agroorestais

    No Assentamento Lagoa grande, observou-se vrias espcies nativas como

    o Pequi (Caryocar brasiliense - Caryocaraceae), Mangaba (Hancornia speciosa

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    E AMBIENTAIS COM AGRICULTORES FAMILIARES EM DOURADOS -MS:

    FRUTICULTURA, HORTICULTURA E SAFs

    Apocynaceae), Marolo (Annona coricea - Annonaceae), Marmelo (Alibertia edulis (L.

    Rich.) A. Rich Rubiaceae), ip amarelo (Tabebuia chrysotricaha Bignoniaceae),

    ip roxo (Tabebuia impetiginosa - Bignoniaceae) angico (Albizia polycephala), aroeira

    (Anadenathera sp -, jatob (Hymenaea courbaril L. var. stilbocarpa (Hayne) Lee et

    Lang - Fabaceae - Caesalpinioideae), barbatimo (Stryphnodendron barbatiman Mart

    - Fabaceae), guapeva (Pouteria ramiora radlk), pau terra (Qualea grandiora),

    candeia (Gochnatia polimorpha) - Compositae, etc. adjacentes as UDs

    Aps a implantao das UDs do SAFs, nos lotes determinados houve muitos

    dias de seca, onde as plantas passaram por uma restrio hdrica mesmo ocorrendo a

    irrigao manual, acarretando a morte de muitas plantas, em torno de 80%, sendo

    necessrio a reposio quase total do stand. Em uma das unidades, em que havia

    vegetao de cerrado e que o eucalipto foi plantado sem mexer na ora houve perda

    total, no sendo possvel reposio.

    Os produtos resultantes dos cultivos agrcolas nas entre linhas do eucalipto

    como mandioca, melancia, abboras e amendoim, foram utilizadas pelas prprias

    famlias do assentamento.

    Em uma das UDs, houve desenvolvimento espontneo de Urochloa

    decumbens, tendo sido orientado o trabalho de capinas em cora de 1 m ao redor das

    plantas de eucalipto para diminuir a competio.

    De acordo com Vieira et al. (2007), essa diversicao dos sistemas permite

    um maior aproveitamento da rea cultivada, ao invs de ser feito o replantio das

    espcies de um determinado sistema, o agricultor prefere cultivar outras espcies,

    frutferas, em geral a banana, de forma a ocupar aquele espao. Com isso, o

    agricultor pode obter diferentes produtos, alm de aumentar a diversidade de

    espcies e aperfeioar o uso da rea destinada a este sistema.

    Oliveira et al. (2000), vericaram a viabilidade econmica de implantar

    sistemas agro-silvo-pastoril com eucalipto (consrcio de eucalipto com arroz, soja e

    pastagens) em reas de cerrado, visando a produzir madeira para serraria e para

    energia. Os resultados encontrados permitiram concluir que implantar sistemas agro-

    silvo-pastoris com eucalipto em regio de cerrado uma opo vivel

    economicamente, desde que, pelo menos, 5% da madeira produzida seja usada para

    serraria e a madeira restante seja usada para energia ou para outro m que alcance

    valor igual ou mais alto no mercado. Resultado encontrado tambm por Bolfe e

    Batistela, (2011), em estudos com sistemas na regio de so Tom-A - PA. Os

    autores indicam um sistema de produo diferenciado com potencial econmico e

    ambiental, se adotado manejo adequado e racional, considerando-se a estrutura e as

    potencialidades de produo diversicada.

    De acordo com Abdo et al. (2008), os Sistemas Agroorestais podem ser

    uma tima opo para o pequeno agricultor e para o equilbrio ecolgico das

    propriedades o que o torna uma opo que poder ser amplamente adotada em

    propriedades que tenham sua forma de produo classicada como agricultura

    familiar. Como benefcio na adoo de SAFs pode-se citar a variabilidade de espcies

    utilizadas nos modelos de plantio, a melhoria da capacidade produtiva da terra,

    otimizao da utilizao dos recursos naturais disponveis, se adaptado s condies

    ecolgicas e dos produtores, obtendo assim uma maior produo por unidade de

    rea.

    Por m, cabe salientar que o presente trabalho permitiu evidenciar a

    importante diversidade de situaes vividas pelos agricultores familiares, alm de

    promoverem a valorizao de trabalho em grupo, da auto-estima e da criao de uma

    nova fonte de renda.

    Uma pesquisa realizada por Filgueira et al. (2011) revela que a

    sustentabilidade inserida em comunidades rurais do Paran como um modelo nos

  • 31

    Revista Extenso Rural, DEAER CCR UFSM, vol.21, n 2, abri- jun de 2014

    agropolos um importante fator para atingir a forma de desenvolvimento, que tem

    como um dos objetivos manter os recursos naturais para as geraes futuras e

    agregar economicamente o processo produtivo.

    Outra forma de expressar os trabalhos vivenciado pelo meio acadmico foi

    pesquisado por Moraes et al. (2011) que detectaram como estratgia alternativa de

    difundir o conhecimento oriundo de estudos ser por meio de publicao de artigos

    cientcos, representado em 78,6%

    5. CONSIDERAES FINAIS

    Considera-se que a perspectiva agroecolgica e a implantao de SAFs

    uma aliada da agricultura familiar, propiciando a preservao do meio ambiente e a

    qualidade de vida das famlias, por viabilizar a produo de produtos com qualidade

    nutricional, preos justos e com potencial para ampliar a renda familiar. Entretanto, a

    adoo destas prticas pressupe um processo educativo e de percepo de suas

    potencialidades, alm de exigir a denio de estratgias de resistncias frente ao

    uso de agrotxicos nos cultivos e a incluso da diversicao de culturas na

    propriedade rural. Portanto, a participao dos grupos indica, reiteradamente, que a

    metodologia qualitativa um aspecto positivo determinante no processo produtivo,

    propiciando um despertar para diversicao de cultivos, necessrias para a

    sustentabilidade econmica e social ambiental.

    Neste contexto, a equipe executora procurou valorizar essas potencialidades

    da produo agroecolgica, sem desrespeitar os saberes tradicionais, o modo de vida

    e as expectivas dos grupos envolvidos, ou seja, buscou-se fomentar o dilogo

    constante para a denio das atividades e as alternativas produtivas.

    6. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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  • 32

    AES DE EXTENSO VOLTADAS S TECNOLOGIAS AGRONMICAS, ZOOTCNICAS

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  • 34

    EXTENSO RURAL E CONHECIMENTO LOCAL:

    TECNOLOGIAS ADAPTADAS PARA A CONVIVNCIA

    ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADA NO SEMIRIDO

    PERNAMBUCANO1

    Cynthia Xavier de Carvalho

    Sebastio Alves Santos

    Ivone Sulamita Farias4

    Andson Freitas Melo5

    Georgia Cavalcanti Alves de Miranda 6

    Resumo

    Partindo da premissa de que a sociedade rural palco de grande heterogeneidade, o

    presente artigo busca contribuir com o debate acerca da utilizao de tecnologias

    apropriadas como instrumento de desenvolvimento local, considerando as

    especicidades e os meios de produo menos danosos. Sero expostos resultados

    preliminares de um estudo de caso, em Tupanatinga, Pernambuco, desenvolvido no

    mbito de um projeto de pesquisa e extenso inovadora, que visa catalogar e

    sistematizar tecnologias adaptadas ao semirido pernambucano. Para o

    desenvolvimento da pesquisa foi utilizada a pesquisa-ao. Observou-se que a

    tecnologia implantada possui viabilidade econmica e ambiental, no que se refere a

    sua instalao, execuo e manuteno.

    Palavras-chave: Heterogeneidade, viabilidade, pesquisa-ao.

    A pesquisa contou com apoio nanceiro do CNPq

    Professora do curso Economia Ncleo de Gesto (UFPE/CAA). Integrante do NUPEFEC - UFPE. Doutorado em

    Bolsista ATP CNPq. Licenciatura Plena em Biologia. Servio de Tecnologia Alternativa (SERTA). Integrante

    4 Bolsista IEX-CNPq. Graduao em Matemtica. Servio de Tecnologia Alternativa, Servio de Tecnologia Alternativa

    5 Bolsista IEX CNPq. Graduao em Cincias Econmicas (UFPE). E-mail: [email protected]

    6 Economista. Agncia CONDEPE/FIDEM. E-mail: [email protected]

    Revista Extenso Rural, DEAER CCR UFSM, vol.21, n 2, abri- jun de 2014

    Sociologia (UFPB). E-mail: [email protected]

    NUPEFEC UFPE. E-mail: [email protected]

    (SERTA). E-mail: [email protected]

  • 35

    RURAL EXTENSION AND LOCAL KNOWLEDGE: ADAPTED

    TECHNOLOGY FOR ECOLOGICALLY BALANCED LIVING IN

    THE PERNAMBUCANO SEMIARID

    Abstract

    Assuming that rural society is the scene of great heterogeneity, this article aims to

    contribute to the debate about the use of appropriate technologies as an instrument for

    local development, considering the specicities and the production means less

    damaging. Preliminary, will be exposed the results of a case study in Tupanatinga,

    Pernambuco, developed in the context of a research project and innovative extension,

    which aims to catalog and systematize adapted technologies to semiarid. For the

    development of the study it was used the methodology of action research. The

    technology installed has economic and environmental viability, regarding its

    installation, implementation and maintenance.

    Key words: Diversity, viability, action research.

    1. INTRODUO

    O presente artigo visa divulgar resultados preliminares das atividades

    desenvolvidas no mbito do projeto de pesquisa e extenso inovadora: projeto ciclos:

    implementao de tecnologias apropriadas ao semirido pernambucano, vinculado

    Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Com apoio nanceiro do CNPQ, a

    pesquisa esteve em dilogo com o projeto educao do campo, agroecologia e

    agricultura familiar: ncleo de integrao de saberes (proext/UFPE), alm de contar

    com parcerias de instituies como o serta (Servio de Tecnologia Alternativa) e a

    agncia estadual de planejamento e pesquisas de Pernambuco (agncia

    condepe/dem), dentre outras.

    O projeto, com vigncia at gosto de 2013, teve como objetivo catalogar e

    sistematizar as iniciativas locais e as oportunidades de fortalecimento da produo

    familiar, atravs de tecnologias adaptadas s propriedades e localidades. Sua rea de

    atuao foi em propriedades rurais situadas em 11 municpios inseridos nos territrios

    da cidadania do agreste meridional (tcam) e do serto do paje (tcsp). A metodologia

    ser esboada adiante, mas antecipa-se que aqui sero inseridos resultados dos

    trabalhos desenvolvidos em uma propriedade rural situada no municpio de

    Tupanatinga PE (denominada de pr-2). O objetivo da pesquisa como um todo foi

    sistematizar e divulgar resultados das atividades extensionistas, atravs da

    implantao de tecnologias com foco na agricultura familiar. Para tanto, buscou-se

    delimitar reas experimentais, bem como analisar e dialogar acerca de estratgias,

    face s caractersticas, potenciais e diculdades identicadas.

    O caso aqui abordado refere-se tecnologia do biodigestor, voltada para o

    aproveitamento dos resduos slidos resultantes da criao bovinos. Estes, vistos

    simplesmente como descarte, com impacto danoso ao meio ambiente, passaram a

    ser transformados em matria-prima, sendo agora geradores de servio ambiental. o

    EXTENSO RURAL E CONHECIMENTO LOCAL: TECNOLOGIAS

    ADAPTADAS PARA A CONVIVNCIA ECOLOGICAMENTE

    EQUILIBRADA NO SEMIRIDO PERNAMBUCANO

  • 36

    intuito contribuir para minimizar a equao insolvel e catastrca do uso da energia

    no renovvel (petrleo, gs natural, carvo, dentre outras) e do impacto da produo

    no meio ambiente.

    Com foco na agricultura familiar, defende-se a utilizao de tecnologias que

    sejam apropriadas, de forma a incorrer em contribuies ao meio ambiente

    considerando o lcus em que se aplica, mas tambm no que concerne ao carter

    endgeno da inovao (valorizando as proposies e o protagonismo dos atores no

    pensar e no desenvolver a tecnologia). Espera-se contribuir para o repensar e a

    valorizao das aes extensionistas, em especial com a participao da universidade

    como instituio de extenso rural. Para entender o cenrio, segue contextualizao

    histrica da agricultura para a regio foco.

    2. CONTEXTUALIZAO HISTRICA DA AGRICULTURA FAMILIAR EM

    DIREO AO SEMIRIDO PERNAMBUCANO

    Palacios (1987) mostra o processo de formao do campesinato em

    Pernambuco para o perodo de 1700 a 1875. Ele traz uma importante contribuio

    para se entender as bases da dinmica e da diversidade da agricultura familiar na

    regio semirida de hoje. Para o autor, o campesinato autnomo no estado, na poca,

    foi se desenvolvendo em meio a um processo de luta contra as plantations escravistas

    e o estado. Embates que, se no vencidos, ao menos colocaram em questo a

    estrutura de poder no nordeste do brasil. o autor mostra que a histria agrria dos

    sculos xviii e xix foi resultante das contradies existentes entre as comunidades

    camponesas autnomas e as plantations escravistas.

    Fazendo um resumo da exposio de Palacios (1987), um primeiro perodo

    que merece destaque decorre de 1700 a 1760. poca em que ocorre crise da

    plantation e a emergncia da agricultura de base camponesa. Para o autor, neste

    perodo, os chamados cultivadores pobres livres passaram a formar comunidades

    coesas e autnomas, independentes das determinaes das plantations. Sua

    emergncia foi explicada pela ampliao da procura por alimentos, decorrente do

    trco de escravos e das migraes interatlnticas, associada aos avanos da

    acumulao que se dava no mercado mundial. J os anos decorridos entre 1760 e

    1810, foram caracterizados por uma expanso do campesinato livre do nordeste

    oriental, impulsionada pela demanda do mercado mundial por algodo proveniente da

    revoluo industrial. Isto, alm do cultivo de produtos de subsistncia, como a

    mandioca, destinadas alimentao da populao local, especialmente dos escravos.

    O algodo, por ser uma cultura fcil e passvel de ser associada com outros cultivos,

    permitiu a ascenso econmica de muitos cultivadores no nordeste.

    Segundo Andrade (1986), nos sculos XVII e XVIII, a economia nordestina

    travou uma luta entre cana-de-acar e algodo, que se expandiam quando o ciclo da

    cana declinava. Esse processo histrico de ocupao e de desenvolvimento da

    agricultura no nordeste contou, para o caso do serto, com a contribuio da

    pecuria. Na primeira metade do sculo xix, Palacios (1987) cita a ocorrncia de dois

    processos: de um lado, a diferenciao social, que resultou em trs grupos ditos como

    principais e que decorreram da expulso de cultivadores pobres livres das suas terras,

    a saber: (1) indivduos que resistiram ao conjunto de medidas subordinadoras do

    estado (a exemplo da proibio dos plantios de algodo, visando no prejudicar o

    fornecimento de bens de primeira