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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável). Inocência Sempre fui verdadeiro, Prejudicar outros não faz parte de mim. Injustamente, Sou acusado de maldades sem fim. Será de mim? Será dos outros? Desde cedo que ajudo os restantes, Numa amizade real. Isto prova que a justiça não é leal. Vou aqui como um anjo, e carregado De crimes! Com asas de poeta voa-se no céu... De tudo me redimes, Penitência De ser artista! Nada sei, Nada valho, Nada faço, E abre-se em mim a força deste abraço Que abarca o mundo! Tudo amo, admiro e compreendo. Sou como um sol fecundo Que adoça e doira, tendo Calor apenas. Puro, Divino E humano como os outros meus irmãos, Caminho nesta ingénua confiança De criança Que faz milagres a bater as mãos. [José Pedro (10.º 4.ª). O poema sem a estrofe falsa está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 31]

Miguel Torga (ExposiçãO Com Poemas Com Estrofes Dos Alunos Do 10 º Ano Em 2007 2008)

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Inocência Sempre fui verdadeiro, Prejudicar outros não faz parte de mim. Injustamente, Sou acusado de maldades sem fim. Será de mim? Será dos outros? Desde cedo que ajudo os restantes, Numa amizade real. Isto prova que a justiça não é leal. Vou aqui como um anjo, e carregado De crimes! Com asas de poeta voa-se no céu... De tudo me redimes, Penitência De ser artista! Nada sei, Nada valho, Nada faço, E abre-se em mim a força deste abraço Que abarca o mundo! Tudo amo, admiro e compreendo. Sou como um sol fecundo Que adoça e doira, tendo Calor apenas. Puro, Divino E humano como os outros meus irmãos, Caminho nesta ingénua confiança De criança Que faz milagres a bater as mãos. [José Pedro (10.º 4.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 31]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Doutrina Abro o livro da vida, o catecismo Onde qualquer analfabeto lê. Abro, soletro e cismo: Um outro céu, porquê? Tudo aqui tão visível e concreto! Tudo florido em letras de verdade! Um rio passa, e passa a majestade De um Júpiter discreto Que liquefez a própria eternidade. Experiências por praticar, nem todas espero ter, A vida vai continuar E há alegria para a viver. Deixar o certo pelo duvidoso! Trocar a amada por um querubim! E este corpo terroso? E este viril amor que existe em mim? Perguntas e respostas que eu entenda! E nada de mistérios de encomenda Onde uma cobra sorna se enroscou... Pedir a alguém que sofra e se arrependa Por causa da maçã que um outro mastigou!... A bem-aventurança natural. Um Paraíso onde se possa ir: Árvores do bem e do mal, E na porta este aviso paternal: — É proibido proibir! [André (10.º 4.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 41]

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Aferição Tão poético o dia, E sem poesia! Cheio de sol, também um cemitério Parece palpitar... Por detrás desta luz não há mistério. Aquece-me a paixão, mas não me faz cantar. Falta não sei o quê nos olhos de quem passa. A pequenina graça Das pequeninas coisas Não vem à tona. Entre o ser e a expressão Há uma zona De imprecisa e difusa maldição... Ninguém percebe a historicidade Deste local; Sente-se a enfermidade Como claro sinal. Mas só eu sei e sinto a gravidade Do que acontece. Eu, medidor de toda a claridade Onde a vida profunda transparece. [Tiago S. (10.º 4.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 48]

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Canção da Noite Ao som do amor, permanecemos unidos. Num nó de aço, Agarramos desejos vividos. Partilhamos o espaço. As notas ecoam. Suspiram baixinho, Esperanças que voam. Adormecem, por fim, Os amantes. Sonho o teu sonho, mas acordo antes. Volto sozinho à minha solidão. Duram breves instantes As formas da paixão E as ilusões de quem se não ilude. Daqui te vejo, adormecida ainda Na espessura da noite, que não pude Atar à minha volta, como um cinto De castidade. Feliz quem dorme, e nessa eternidade Permanece, Quando, branco, amanhece O desespero, A triste madrugada dos poetas. Feliz quem dorme, e só doiradas setas De alegria O despertam com brandas e discretas Promessas de calor dum novo dia. [João Maria (10.º 4.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 53]

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Monólogo Feiticeiro da vida, que adivinhas? Que descobres nas trevas do futuro? Não digas que também serão mesquinhas As paixões, Ultrapassado ou derrubado o muro Das nossas actuais lamentações! Creio na perfeição, creio nos homens! Um novo dia, que oportunidade! O próprio tempo volta à mocidade Em cada primavera... Feiticeiro, pondera: Não intervenhas com as tuas mágoas Na limpidez das águas Onde lês! Conta, correctamente, Como puro vidente, O que vês. Feiticeiro da vida, que adivinhas? Que descobres nos sonhos do futuro? Não digas que também são as entrelinhas As amoras Colhidas agora pelo guerreiro Das horas! [Ana S. (10.º 4.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 54]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Identidade Matei a lua e o luar difuso. Quero os versos de ferro e de cimento. E, em vez de rimas, uso As consonâncias que há no sofrimento. É o que vai na alma, Destemido e sofrido; Faço as estrofes com calma, Para não me sentir perdido. Universal e aberto, o meu instinto acode A todo o coração que se debate aflito. E luta como sabe e como pode: Dá beleza e sentido a cada grito. Mas como as inscrições nas penedias Têm maior duração, Gasto as horas e os dias A endurecer a forma da emoção. [Xavier (10.º 4.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 55]

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Mensagem Não me posso render, haja o que houver. Salvar a vida pouco me adianta. O pendão que levanta A minha decidida teimosia, Transcende a noite e o dia De uma breve e terrena duração. Luto por todos e também por mim, Mas assim: Desprendido da própria perdição. Consigo ver para além da maldição: É a terra que me deslumbra. E, se de todos os espíritos Nenhum escapar da penumbra, Não se banhem na ilusão, Pois nenhum os guarnirá. É o espírito da terra que eu defendo, Numa cega constância De namorado: Esta causa perdida em cada instância, E sempre a transitar de tempo e de julgado. [Rodrigo (10.º 4.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 63]

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Versos de Amor Versos de amor são grandes inspirações Que nos vêm do inconsciente, Verdadeiras confissões. Qual será a Musa que mereça tais devoções? Tu, meu papel, serás meu confidente. Versos de amor, búzios do coração. Ressoam — mas a onda que passou. Sons da recordação Eternizam apenas a emoção Que a Musa ciumenta estrangulou. Ouvi-los nesta hora, que tristeza! Como era o rosto astral da namorada? Redondo, oval... Que bruma de incerteza! Rimas, ditongos, e areia sem firmeza Que o mar da vida torna mais salgada. [Carlos (10.º 4.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 64]

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Súplica O que não pude erguer nunca se ergueu. Rasas, as coisas são anãs, sem mim. E quando as olho como agora, assim Desiludido, A vida não tem força, nem sentido, E é um calvário vivê-la. Viver a vida como ninguém, Pensando sempre no que depois dela vem, Procurando encontrar a razão Que nos chega num clarão E a visão nos mantém. Vê se brilhas no céu, ó minha estrela De poeta! Sem ti, como há-de ser? Como darei, com esta luz de asceta, Grandeza ao que é preciso engrandecer? [Tiago G. (10.º 4.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 65]

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Relâmpago Rasguei-me como um raio rasga o céu. Iluminei-me todo de repente. Negrura permanente De noite enfeitiçada, Quis ver-me com pupilas de vidente, E arrombei os portões à madrugada. Segui em frente, qual soldado, Impondo a si a valentia. Penetrando no claustro, Continuei Pelo silêncio que apenas Um suspiro quebraria. Mas nada vi. Caverna de pavores, Só com tempo e vagar eu poderia Encarar, Castigar E perdoar Tanta abominação que em mim havia. [Ana C. (10.º 4.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 107]

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Emparedamento Força cercada pela própria força, O drama não tem portas de evasão. Num só corpo cadeia e condenado, Quis a vida que eu fosse outro Sansão, Mas um Sansão contra si mesmo irado. Preso na casca como um vegetal, É o meu avesso que me desafia. Mas nem o muro cede, nem eu cedo; Nem ele deixa de ser o meu degredo, Nem eu o degredado em rebeldia. Preso na parede, preso no muro, Sem sair de mim mesmo Percebo o caminho, A saída do ninho, A entrada a esmo. Assim me desespero e me consumo, E cumpro este destino tumular De não sair de mim, por mais que faça. A golpes de paixão, tento passar; Mas rasgo a carne, e o lutador não passa. [Filipa (10.º 4.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 110]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Folhinha Murchou a flor aberta ao sol do tempo. Assim tinha de ser, neste renovo Quotidiano. Outro ano, Outra flor, Outro perfume. O gume Do cansaço Vai ceifando, E o braço Doutro sonho Semeando. Passam as memórias pelos nossos olhos, A travessia de experiências passadas. Outro ano, Outra flor, Outro perfume. O cume Das esperanças inalcançadas, De alegrias não vividas Nas montanhas da vida. É essa a eternidade: A permanente rendição da vida. Outro ano, Outra flor, Outro perfume, E o lume De não sei que ilusão a arder no cume De não sei que expressão nunca atingida. [Bruno (10.º 4.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 122]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Cordial Sinto a falta de alguém Que me seque as lágrimas, Como um sol que acalme as monções E aqueça os corações. Digo que não Ao medo Que me apavora; E juro ao coração Que virá cedo A calma que demora. O nevoeiro pousa, mas levanta. E por baixo da manta De tristeza, Que redonda certeza Num paraíso Que foi criado porque foi preciso! Não podem ser em vão estes meus versos, Constantes como as flores na primavera. Por alguma razão amadurece O fruto que apetece... E animo a confiança: Há milagres... Sempre a imaginação Imaginou. Sempre nasceram deuses nos desertos E um galo cantou Quando alguém os negou... [Maria (10.º 4.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 124]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Biografia Sonho, mas não parece. Nem quero que pareça. E por dentro que eu gosto que aconteça A minha vida. Intima, funda, como um sentimento De que se tem pudor. Vulcão de exterior Tão apagado, Que um pastor Possa sobre ele apascentar o gado. Mas os versos, depois, Frutos do sonho e dessa mesma vida, É quase à queima-roupa que os atiro Contra a serenidade de quem passa. Então, já não sou eu que testemunho A graça Da poesia: É ela, prisioneira, Que, vendo a porta da prisão aberta, Como chispa que salta da fogueira, Numa agressiva fúria se liberta. Liberta-se em forma de rima Que voa na noite, De volta ao sonho, E adormece em berço tristonho. O vulcão reacende, O pastor recolhe o gado, A poesia galopa pelo prado. E eu aqui ta transmito, Viajo pela imaginação. [David (10.º 4.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 129]

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Alvo O arco, a corda e a seta... Mas erraste, Poeta! Em vez de ser no coração do mundo Que acertaste, Foi o teu que rasgaste. E tão frágil que ele era! Rubra quimera Aberta à desventura Do eterno desdém, Pedia aquele cuidado que se tem Junto dum berço ou de uma sepultura. E tu, poeta, Falhaste um alvo tão exuberante: Era só estar atento atento à seta E acertar nesse coração gigante. Mas desferiste o golpe enraivecido, Sem reparar Que o agressor é sempre o agredido, Quando agride a cantar. [António (10.º 4.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 130]

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Guerra Civil E contra mim que luto. Não tenho outro inimigo. O que penso, O que sinto, O que digo E o que faço, É que pede castigo E desespera a lança no meu braço. Absurda aliança De criança E adulto, O que sou é um insulto Ao que não sou; E combato esse vulto Que à traição me invadiu e me ocupou. Infeliz com loucura e sem loucura, Peço à vida outra vida, outra aventura, Outro incerto destino. Não me dou por vencido, Nem convencido, E agrido em mim o homem e o menino. Apenas não quero outra como esta, Que triste e ferido me deixou, Arrependido do que fiz. Mas a mim a guerra não largou. Agora, incerto no outro destino, Só espero ser feliz. [Gonçalo (10.º 4.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 131]

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Sondagem Angústia marginal dos mares humanos... É mais dentro e mais fundo que me dói. Nem ondas, nem destroços Dos meus ossos Na mortalha passiva do areal. O largo desespero inconformado, Onde cada queixume enrodilhado É um soluço abissal. Progressiva adição do sofrimento, É como se os ribeiros, E as torrentes, E os rios, E os lagos que há no mundo Se juntassem num trágico oceano Sem margens de sossego. Oceano maldito e penitente Que o vento persistente Da ilusão Lavra e semeia De versos e de acenos de sereia. Terra seca e mais que infértil, De montes e montes sem um fim; Neles já foram cultivadas, E também muito amadas, Planuras verdes pelo mundo fora. Será mais um ponto no Universo? Ou porque nem se viu o outro verso? Este era o mundo de outrora. [Bernardo (10.º 4.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 132]

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Diálogo Pergunto... Mas quem me poderia responder?! Tu não, rio sem asas, Que permaneces A passar... Nem tu, planeta alado, Que pareces Parado A caminhar... Humano, só de humanos meus iguais Entendo a fala, Os gestos E o destino. E esses, como eu, Olham a terra e o céu, Os rios e os planetas, E perguntam também... Perguntam, mas a quem? A alguém, Deste mundo Ou do outro, À espera de uma resposta, Que tarda a aparecer. Desespero, Colapso, Procuro refúgio, No diálogo da morte. [Daniel (10.º 4.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 135]

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Depoimento Foi na vida real como nos sonhos: Nunca pisei um chão de segurança. Procuro na lembrança Um sólido caminho percorrido, E vejo sempre um barco sacudido Pelas ondas raivosas do destino. Um barco inconsciente de menino, Um barco temerário de rapaz, E um barco de homem, que já não domino Entre os rochedos onde se desfaz. Mas o céu era belo Quando à noite o seu dono o acendia; E era belo o sorriso da poesia, E belo o amor, dragão insatisfeito; E era belo não ter dentro do peito Nem medo, nem remorsos, nem vaidade. Por isso digo que valeu a pena A dura realidade Desta viagem trágico-terrena Sempre batida pela tempestade. Aí um barco rumava, Por águas pouco profundas navegava; E os tripulantes perguntavam Se àquele pesadelo Conseguiriam sobreviver. Foi quando um raio de luz surgiu E a esperança devolveu aos homens; Assim se conseguiram salvar E numa ilha se foram abrigar. [Afonso (10.º 4.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 136]

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Profissão Brilha o poema como um novo astro No céu da eternidade... Tenacidade Humana! Tanto fiz E desfiz, Que ninguém diz Que já foi minha a luz que dele emana. Escrevo, Apago, No pensamento vago. É arte sem relevo. Tanta magia, Tanta alegria. Que me guia, Por estas linhas, Sobre ideias minhas. Amo O duro ofício de criar beleza, Sina igual à do ramo Que desprende de si o gosto do seu fruto. E lapido no torno da tristeza As lágrimas em bruto Que recolho dos olhos Com secreta Ironia. Transfiguro o meu pranto, e sou poeta: Começa a noite em mim quando amanhece o dia. [Guilherme (10.º 4.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 137]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Harmonia Feliz canto das aves, Sem possível Compreensão; Feliz rumo dos astros, Sem possível Desvio; Feliz fúria do vento, Sem possível Arrependimento. Triste guerra no mundo, Sem possível Paz alguma vez; Triste fome no mundo, Sem possível Entendimento; Triste fatalidade, Sem possível Contrariedadade. E feliz o poeta Que ninguém lê. Que sozinho contempla O nascimento e a morte Dos seus versos. Pai acabado que no próprio corpo Gera os filhos E lhes dá ternura Do berço à sepultura. [Duarte B. (10.º 4.ª).O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 138]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Barreira Nem o puro silêncio te sepulta, Nem a pura palavra te revela, Culpa sem confissão, vergonha oculta, Luz envolvida em crepes de cautela. Cilício de não sei que penitência De não sei que secreta covardia, Moras dentro da própria consciência Como num limbo de melancolia. Quer a alma e não pode ir mais além Do seu pobre limite De humano resplendor que apenas tem A pureza que o barro lhe permite. Na triste sentença triste, Circundado pela sua própria barreira, Nem o mais forte resiste E resigna-se a vida inteira. [Beatriz (10.º 5.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 141]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Limbo É o pranto Que ninguém chora Que eu agora Canto. E aquele amor constante, Desenganado, Que nunca teve amante Nem amado. E o gesto cordial que se não fez, Nem faz, E fica por detrás Da timidez. E o imortal poema Por acontecer, Irmão do vento, seu rival sem asas: Lume a fugir das brasas Antes de a lenha arder. Será tarde demais Para corrigir tais assuntos? Faltam os sinais De que estamos juntos. [Catarina (10.º 5.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 142]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Jogo Bem-me-quer, Mal-me-quer... Salta o abismo quem assim fizer A temerária prova Do seu amor. Se, em vez de acrescentar, Tirar pétalas à flor. Apaixonado Doutra maneira, Também eu Desafio o destino: Bem-me-quer, Mal-me-quer, E desfolho o poema... Viciado Pelo jogo, Fingindo ser O que me arrogo. Bem-me-quer, Mal-me-quer, E no futuro me afogo. Até que inteiramente nua de palavras, A poesia Ou de todo se entrega, Ou de todo se nega, Sem aquele meio-dia Onde a alma sossega. [Diogo (10.º 5.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 149]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Lago Turvo Angústia marginada, Meu canto é um lago turvo Que devolve a paisagem, como um eco Silencioso. Um lago onde me afogo Sem vontade, Puramente impelido Por não sei que fatal necessidade De me sentir poeta e possuído. Mar sem nascente e só do meu tamanho, A doçura que tem é um sal sem gosto. E a estranha inquietação de que se anima, E o céu olha de cima, São rugas que se agitam no meu rosto. Olho para o meu reflexo no lago E vejo uma imagem diferente, Desfocada e irreal; Olhando para o reflexo, sinto-me incompleto: Talvez seja aquela A minha verdadeira imagem. [Júlia (10.º 5.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 151]

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Pastoreio Uma cabra-montesa no pascigo; Fiel ao seu balido, Um fauno apaixonado; Entre os dois, um açude adormecido, Imagem do instinto represado. Corcunda como a vida, Uma ponte arqueada de suspiros A ligar as arribas do desejo; E um guarda ao passadiço, uma presença humana, — O pastor, a moral quotidiana... Todos os dias, pela madrugada, Olhava e via a escuridão; Aquela noite era diferente e complexa, À tua espera estava o meu coração. [Joana B. (10.º 5.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 152]

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Procura Perdi-me tanto, que já não me encontro. Agulha humana que se foi sumindo No palheiro do tempo, Hoje, amanhã, depois — Aqui a meninice, Ali a mocidade —, Não houve sombra que me não cobrisse, Nem sol que me trouxesse a claridade. Mas não posso, nem quero conformar-me. E como um cão fiel que escava a sepultura Do dono, Assim, desesperado, Eu tento Desenterrar A imagem do que sou, de não sei que momento Ou que lugar... Procuro-me, Ando a vaguear. Por fim, encontro-me Longe do meu lugar. Já sei de onde vim E sei para onde caminhar. [Ricardo (10.º 6.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 155]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Brasil Pátria de emigração, E num poema que te posso ter... A terra — possessiva inspiração; E os rios como versos a correr. Sobre ti nunca minto, Pois, cheio de alegria, Calorosamente te pressinto Em poderosa magia. Achada na longínqua meninice, Perdida na perdida juventude, Guardei-te como pude Onde podia: Na doce quietude Da força represada da poesia. E assim consigo ver-te Como te sinto: Na doirada moldura da lembrança, O retrato da pura imensidade A que dei a possível semelhança Com palavras e rimas e saudade. [Dulce (10.º 5.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 156]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Miniatura Quando sorriem para mim, Não disfarço o meu ar sisudo. São tantas, crianças sem fim, Que me acham carrancudo; Mas não é por ser mesmo assim. Pois eu gosto de crianças! Já fui criança, também... Não me lembro de o ter sido; Mas só ver reproduzido O que fui, sabe-me bem. É como se de repente A minha imagem mudasse No cristal duma nascente, E tudo o que sou voltasse À pureza da semente. [Carolina (10.º 5.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 157]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Ficha Poeta, sim, poeta... É o meu nome. Um nome de baptismo Sem padrinhos... O nome do meu próprio nascimento... O nome que ouvi sempre nos caminhos Por onde me levava o sofrimento... Poeta, sem mais nada. Sem nenhum apelido. Um nome temerário, Que enfrenta, solitário, A solidão. Uma estranha mistura De praga e de gemido à mesma altura O eco de uma surda vibração. Poeta, como santo, ou assassino, ou rei Condição, Profissão, Identidade, Numa palavra só, velha e sagrada, Pela mão do destino, sem piedade, Na minha própria carne tatuada. Tenho vivido com ele E continuarei a viver, Tenho orgulho em ler O poeta que em mim Nasceu e irá morrer. [Tiago (10.º 5.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 178]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Fogo Preso Céu alto da integral levitação! Céu largo da infinita liberdade! Ali, pairam seguras As loucuras Que triunfam das leis da gravidade... Lá sobem e descem sonhos E chamas de perdição; Lá param olhares Que, nos seus lugares, Deixaram as almas em inacção. Ali, cintilam vidas Abrasadas de luz universal... Ali, voam as aves E as naves Que sobem do real ao irreal... Cega e sem asas, roda a inspiração À volta do seu térreo pelourinho... Ah! céu distante, olímpica ambição De quem no próprio chão Não tem caminho! [João G. (10.º 5.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 182]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Plateia Não sei quantos seremos, mas que importa?! Um só que fosse, e jí valia a pena. Aqui, no mundo, alguém que se condena A não ser conivente Na farsa do presente Posta em cena! Nas palmas e nas almas, Indiferente é a sua honestidade, E nos olhos põe a simplicidade Do mundo em frente, No coração, o fulgor do espectáculo, Cujo obstáculo Está sempre presente. Não podemos mudar a hora da chegada, Nem talvez a mais certa, A da partida. Mas podemos fazer a descoberta Do que presta E não presta Nesta vida. E o que não presta é isto, esta mentira Quotidiana. Esta comédia desumana E triste, Que cobre de soturna maldição A própria indignação Que lhe resiste. [Patrícia (10.º 5.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 186]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Sondagem Preso à corda da vida, vou descendo À fundura do poço. Num crescente alvoroço, Verifico Que por dentro de mim é que sou rico. Rico desta fortuna dos poetas Sésamos naturais Eternamente E generosamente Abertos à pobreza dos mortais. Rico da graça Dessa condição, Que povoa de imagens E miragens O deserto da humana solidão... Rico de simples palavreado poético Que me dá os sorrisos Cheios E alheios A tudo o que nos deixe indecisos. [Filipa A. (10. 5.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 198]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Lastro Depois da noite, o dia, a claridade! A bênção de acordar E de ter vida! Olhar E descobrir a eternidade Em cada contingência renascida. Não sei por que penso assim! Talvez porque já muito vivi: Sei que um dia morrerei! Do som da minha vida me esqueci, Talvez por saber que não penso em mim. Mas, em outra vida, ouvirei... A música concreta dos ruídos... A frescura dos frutos orvalhados... O perfume da brisa que perpassa... E os sentidos Felizes, excitados Como podengos que farejam caça. Assim dentro de nós o soi nascesse E apagasse, Nessa madrugada, A teimosa e penosa consciência Da existência Passada! [Susana (10.º 5.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 208]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Prova Não me queiras, abismo! Repele a tentação... Obriga-me à normal aceitação Do negro pesadelo de viver. Cega, mina a toupeira o chão À procura dos olhos que perdeu. Assim amaldiçoa a maldição... Assim se justifica o que nasceu. O que é a vida? É um mar de espinhos ou uma rosa? A vida, para muitos, não é sentida; Outros a gozam, preguiçosa, Outros vencem a lida, De forma quase gulosa. Nega-me o teu abraço Caridoso. Mesmo odioso, O mundo vale a pena. E uma arena Sem esperança Onde o corpo exercita A confiança Que lhe merece a alma que o habita. [João M. (10.º 5.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 212]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Comunicado Sempre com coragem no peito, Em nome da pátria continuarei E, jamais deitado no leito, Luto e lutarei. Falta um combate ainda, o decisivo. Ganhei quantos perdi, porque resisto. Mesmo cansado e mutilado, existo, Num vitalismo cósmico ostensivo. Filho da Terra, minha mãe amada, É ela que levanta o lutador caído. Anteu anão, Toco-lhe o coração, E ergo-me do chão Fortalecido. Mas há fúrias hercúleas contra mim: O tempo, a morte, e o próprio desencanto De viver... Pode, porém, ainda acontecer Que, mesmo nessa hora, a consciência Negue, de frente, a própria violência Que me vencer... [Joana C. (10.º 6.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 213]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Danação Neste mundo de contrários Há justiça de modos vários, E todos queremos prevalecer no fim. Nunca a lei me poderá punir; Nasci deste modo, nasci assim, De fazer o que quero Nenhum código me vai impedir. Morro sem contrição. Confessar-me a que deus, a que juiz? O que fiz, O que faço E o que farei Não pode ser punido pelo braço De nenhuma lei. Singular de nascença, apenas cumpro A dura condição De ser assim. Vim, Como vem, por vital condenação, Qualquer erva ruim. Inocente, portanto, Vive em mim, No entanto, Um desespero penitente, Que uma voz cordial talvez pudesse Tornar menos pungente Se, límpida, me desse O perdão fraternal Que, em pecado mortal, Todo o homem merece. [Inês (10.º 6.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 214]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Pedagogia Brinca, enquanto puderes. Enquanto não tens problemas, E tudo é mais fácil. Aproveita, vive a infância, Sorri e, acima de tudo, Diverte-te, sem ânsia. Faz amizades, sobretudo. Brinca enquanto souberes! Tudo o que é bom e belo Se desaprende... A vida compra e vende A perdição. Alheado e feliz, Brinca no mundo da imaginação, Que nenhum outro mundo contradiz! Brinca instintivamente Como um bicho! Fura os olhos do tempo, E à volta do seu pasmo alvar De cabra-cega tonta, A saltar e a correr, Desafronta O adulto que hás-de ser! [João Carlos (10.º 6.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 220]

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Serão Frios versos de inverno... Que Musa me regela O coração? Ah, quem me dera aquela Ida e primaveril inspiração! É frio, é noite, É mais Inverno ou um não-Verão. Que Musa gela O meu coração? Triste e mortiça, A minha voz fumega Como lenha molhada. A fogueira não pega... Arde assim, apagada. [Ion (10.º 5.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 224]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Instrução Primária Não saibas: imagina... Deixa falar o mestre, e devaneia... A velhice é que sabe, e apenas sabe Que o mar não cabe Na poça que a inocência abre na areia. Sonha! Inventa um alfabeto De ilusões... Um á-bê-cê secreto Que soletres à margem das lições... Voa pela janela De encontro a qualquer soi que te sorria! Asas? Não são precisas: Vais ao colo das brisas, Aias da fantasia... Chama um amigo E ensina-o a voar; Passarão o tempo assim, Procurando encontrar O que não tem nenhum fim. [Marta M. (10.º 5.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 232]

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Recreio Chilreio de crianças numa escola. Brincam no intervalo. Largam da mão O Pássaro da Ilusão, E vão depois, felizes, agarrá-lo. O mestre aquece os pés ao sol do inverno. Já foi também menino... Mas cresceu, Aprendeu, E descobriu as manhas do destino... Sabe que ele nos engana, Seja qual for o oiro que nos dê. O Pássaro da Ilusão E uma ilusão: Só a inocência o vê, porque não vê... E tem um poder que o mal não imagina; A canalha continua nos seus afazeres, O mestre observa qualquer devaneio E termina o recreio! Lá se acabam os prazeres... [Pedro (10.º 6.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 237]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

O Achado Traziam nova terra e nova luz Nos românticos olhos lusitanos; E uma cruz Que depois carregaram largos anos. Traziam todo o anseio que os levou, E que nenhuma Índia satisfez. E traziam a fé que lhes sobrou Da fé sem fim dessa primeira vez. Traziam o sonho de mergulhar, Para os peixes poder ver E mais tarde recordar Uma aventura a não esquecer. Traziam a promessa de voltar A ver se a cor do sonho se mantinha: O puro azul de que se veste o mar Quando o fim da aventura se avizinha... [Vanessa C. (10.º 6.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 260]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Tormenta Noite medonha, aquela! O mar tanto engolia a caravela Como a exibia à tona, desmaiada! No abismo do céu nem uma estrela! E a cruz de Cristo, a agonizar na vela, Suava sangue sem poder mais nada! A fúria cega dum tufão raivoso Vinha das trevas desse Tenebroso E varria a quimera do convés... O mastro grande que Leiria deu Era um homem de pinho, mas caiu Quando um raio o abriu de lés a lés... Novo guarda dos rumos da Nação, O piloto guiava a perdição Como um pai os destinos do seu lar... Até que o lar inteiro se desfez. Até que ao pai chegou também a vez De fazer uma prece e descansar... O gajeiro sem gávea, dessa altura Que a alma atinge ao rés da sepultura, Olhou ainda a bruma em desafio... Mas a Sereia Negra, que cantava No coração do mar, tanto chamava, Que ele deu-lhe aquele olhar cansado e frio. O naufrágio alargou-se ao mar inteiro. E o corpo morto dum herói, primeiro Cruzado da unidade deste mundo, No dorso frio duma onda irada, Mandou aos mortos, com a mão na espada, Boiar o sonho, que não fosse ao fundo. Tudo se perde da vista, Mas logo costa se avista: É algo que o herói merece, Depois de tanta tormenta, Depois da noite sangrenta, Ouvirem todos a sua prece. [Tiago S. (10.º 1.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 261]

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Mar Mar! Tinhas um nome que ninguém temia: Era um campo macio de lavrar Ou qualquer sugestão que apetecia... Mar! Tinhas um choro de quem sofre tanto Que não pode calar-se, nem gritar, Nem aumentar nem sufocar o pranto... Mar! Fomos então a ti cheios de amor! E o fingido lameiro, a soluçar, Afogava o arado e o lavrador! Mar! Na luta e na glória Com o verbo amar Sempre na memória. Mar! Enganosa sereia rouca e triste! Foste tu quem nos veio namorar, E foste tu depois que nos traíste! Mar! E quando terá fim o sofrimento! E quando deixará de nos tentar O teu encantamento! [André (10.º 6.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 262]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Inês de Castro Antes do fim do mundo, despertar, Sem D. Pedro sentir, E dizer às donzelas que o luar É o aceno do amado que há-de vir... E mostrar-lhes que o amor contrariado Triunfa até da própria sepultura: O amante, mais terno e apaixonado, Ergue a noiva caída à sua altura. Seu nome bem alto berra, A saudade perdurará, omnipresente. Acabou a apaixonada guerra, Mas sempre o terá na mente. E pedir-lhes, depois, fidelidade humana Ao mito do poeta, à linda Inês... À eterna Julieta castelhana Do Romeu português. [Sofia (10.º 6.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 266]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

O Infante No mundo dos que gritam Há uma alma mais poderosa Mais chorada pelo povo E saudosa. A sua arte é a busca do mundo novo. Na bandeira das almas há uma alma Que pesa mais no prato da balança; Irradia vontade e confiança, E os seus olhos videntes Iluminam os outros penitentes. O além do mundo, embora mundo É tenebroso. E só o génio animoso Dum inspirado Tem a coragem nova de enfrentar O medo acomodado Que não deixa passar. Segue ele à frente, pois, o espírito audaz, Que só ele é capaz De ir à frente e de ser o derradeiro. Guia de todos os descobrimentos, E sempre eie o gajeiro, Com nomes vários nos vários momentos. [Sara (10.º 6.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 268]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Portugal Avivo no teu rosto o rosto que me deste, E torno mais real o rosto que te dou. Mostro aos olhos que não te desfigura Quem te desfigurou. Criatura da tua criatura, Serás sempre o que sou. E eu sou a liberdade dum perfil Desenhado no mar. Ondulo e permaneço. Cavo, remo, imagino, E descubro na bruma o meu destino Que de antemão conheço: Teimoso aventureiro da ilusão, Surdo às razões do tempo e da fortuna, Achar sem nunca achar o que procuro, Exilado Na gávea do futuro, Mais alta ainda do que no passado. Sou incapaz de espelhar O que neste futuro vejo. Agarrado a teus grandiosos feitos. Não gosto de mudanças, Porque ainda tenho esperanças Que voltemos a ser perfeitos. [Tiago (10.º 6.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 302]

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Ambição Meu canto, bafo da terra, Não pára, não tem sossego. Nestes campos do Mondego, Nas serras de Trás-os-Montes, Cada vez quer mais pureza E largueza De horizontes. Cada vez vem de mais fundo E quer chegar mais além; Cada vez quer mais alguém A ouvi-lo E a repeti-lo, E a enriquecê-lo, também. Cada vez deseja ter Mais força de inspiração, Mais poder de encantação, Mais livre sinceridade. E ser, nessa liberdade, Hálito de comunhão Do mundo, da humanidade. Meu canto, bafo da terra, Terá todo o protagonismo. Jamais esquecido, cairá no abismo. Alcançará o pico E, cada vez mais rico, Voará pelo tempo escuro, Voará livre pelo futuro. [Joana L. (10.º 6.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 306]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Longo Vai o Meu Canto Longo vai o meu canto, Sem eco na paisagem que atravesso. Nele me despeço Lentamente da vida. De todas as riquezas que ela tem, E ninguém Possui senão de vista e de fugida. Longo vai o meu canto Sem eco, feito de fios Que tecem a ementa de Cupido, De tempos já vazios, No templo já destruído. Longo vai o meu canto, Sem eco, porque nunca foi ouvido. Nele, humano e dorido. Protesto contra a minha condição De mortal sem nenhuma garantia... Longo vai o meu canto E o desencanto Desta longa porfia... [Cátia (10.º 6.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 324]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Cantilena da Pedra Sem musa que me inspire, Canto como um pedreiro Que, de forma singela, Embala a sua pedra pela serra fora... Upa! que lá vai ela! Upa! que vai agora! A pedra penitente que eu arrasto Tem o tamanho duma vida humana. E só nesta toada a movimento, Embora o salmo já me saia rouco. Upa! meu sofrimento! Upa! que falta pouco... Pedra, como te admiro, Acompanhas-me desde que respiro, Sem ti não imagino a minha vida, Quero-te sempre a meu lado. Upa! lá vai ela distraída, Upa! não me deixes isolado. [Vranda (10.º 6.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 326]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Brasil Brasil onde vivi, Brasil onde penei, Brasil dos meus assombros de menino: Há quanto tempo já que te deixei, Cais do lado de lá do meu destino! Águas passadas, terras vividas, Pessoas marcantes na passagem do destino, Guardadas no coração e nunca esquecidas, Brasil onde vivi o meu tempo de menino. Que milhas de angústia no mar da saudade! Que salgado pranto no convés da ausência! Chegar. Perderte mais. Outra orfandade, Agora sem o amparo da inocência. Dois pólos de atracção no pensamento! Duas ânsias opostas nos sentidos! Um purgatório em que o sofrimento Nunca avista um dos céus apetecidos. Ah, desterro do rosto em cada face, Tristeza dum regaço repartido! Antes o desespero naufragasse Entre o chão encontrado e o chão perdido. [Tânia (10.º 6.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 337]

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Natal Natal divino ao rés-do-chão humano, Sem um anjo a cantar a cada ouvido. Encolhido À lareira, Ao que pergunto Respondo Com as achas que vou pondo Na fogueira. O mito apenas velado Como um cadáver Familiar... E neve, neve, a caiar De triste melancolia Os caminhos onde um dia Vi os Magos galopar... Observo a rua, Os mendigos desalojados; Penso, reflicto, admiro A sorte que tenho em ter Uma lareira para me aquecer. Como e saboreio o momento, Que faz esquecer meu tormento. [Catarina F. (10.º 2.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 342]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Estertor Meu jeito de cantar, minha fortuna! A única que tive... Vai-me roubar a morte, qualquer dia, Esta imensa riqueza que aumentava Quanto mais a gastava E repartia... No meu leito final, Na minha sepultura, Um poema banal. Abençoada criatividade: Contra minha vontade, A perco afinal. Meu condão de poeta! Meu carisma! Minha chama divina! E terei de perder Este dom de criar a claridade Na densa opacidade Do meu ser! [Raquel (10.º 6.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 376]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Exorcismo Canto O meu desencanto. Este cansaço Lasso De tudo quanto. Esta melancolia Penitente De quem sente Que luta e que porfia Inutilmente. Esta baça impressão De que nada vale nada. Esta tristeza triste Que resiste As razões da razão inconformada. Entram espíritos, saem espíritos; No meu ser o pânico está instalado: Medo, receio, conflitos; Nos meus sonhos, sinto-me encurralado. E acordei, surdo, no meio de gritos. [Zé Diogo (10.º 6.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 385]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Solidão Não aprendo a lição. A vida bem me ensina Mas a minha atenção Perde-se em cada esquina Do caminho. Adivinho O que sei. E nunca sei senão que me enganei E que vou mais sozinho. Por isso canto a dar sinal de mim E a exorcizar o medo. Este medo Em segredo Que me atormenta. Medo animal, Primordial, Carnal, Que quanto mais avanço mais aumenta. Perdi-me do mundo E o mundo perdeu-se de mim; Tento sorrir de tudo, Tento chegar a ti. Mas não te alcanço E sinto medo. Fugiste do meu abraço, Sinto que não te perdi. [Mónica (10.º 6.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 389]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Luta O que eu sonho! A fé que ponho Na imaginação! Digo à razão Que sim, que desvario Nesta humana aventura, E ergo mais a lança em desafio E desço mais o elmo da loucura. Nada conquisto, porque são moinhos Os gigantes que encontro nos caminhos Das minhas digressões. Mas combato, Combato E desbarato As próprias ilusões. Vou procurando, Nada encontrando. Tento não desistir, Mas temo não conseguir. Até que ganho coragem, Para seguir em frente. Não é esta a minha paragem, Espero outra, ansiosamente. [Catarina T. (10.º 2.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 400]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Magnificat Ai, a vida! Quanto mais me magoa, mais a canto. Mais exalto este espanto De viver. Este absurdo humano, Quotidiano, Dum poeta cansado De sofrer, E a fazer versos como um namorado, Sem namorada que lhos queira ler. Cego de luz, e sempre a olhar o sol Num aturdido Deslumbramento. Cada breve momento Recebido Como um dom concedido Que se não merece. Ai, a vida! Como dói ser vivida, E como a própria dor a quer e agradece. Ai a vida! Quando estou perto, mais me afasto, Até que me desgasto E fico sem fôlego: Um caminho pesaroso, O futuro tumultuoso. Porquê continuar? Valerá a pena? Sei que me cansar, Quero a vida serena. [Pedro S. (10.º 2.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 403]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Sina Avivo na memória A longa trajectória Da minha vida, Curva dum penitente Impenitente Que renega à chegada Inconformada A hora involuntária da partida. Qual o sentido da vida? Não sei o porquê da partida: Uma vida de sofrimento, Sem saborear um momento; Vens ao mundo sem pedir Mas há um dia em que havemos de ir Tristes, abandonados, sozinhos E sem subir os caminhos. O que pode um mortal! Desafiar anos a fio o natural, Por teimosia, Rebeldia E brio, A saber Que o destino é morrer No fim do desafio... [Alexis (10.º 2.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 411]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Maceração Breves dias da vida. Aprendi neles apenas a morrer. Desde a manhã brumosa da partida A este anoitecer Sombrio da chegada, Foi sempre o pesadelo de antever O desfecho fatal da caminhada. E pergunto a que vim Assim Clarividente. Perdido e consciente Da minha perdição, Contra o instinto de conservação A durar no meu corpo eternamente. Pergunto ainda o porquê, O que é a vida, O que levo daqui. Uma pequena recordação despida, Uma felicidade ali, Uma tristeza acolá. Talvez nem para aproveitar dê, Mas, ao partir, levo uma certeza: vivi. [Bernardo (10.º 2.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 425]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Comunhão A vida e a morte, Sempre em comunhão: Vivo uma hora, Morro sem demora, É esta a minha inquietação. Inquieto e perturbudo, Digo no poema Todo o sofrimento Que me domina o coração. Não paro, nem sossego. Nasci assim, aflito. Morro e ressuscito Em cada hora. A paz não mora No meu coração. Quando vem, Traz também Não sei que disfarçada inquietação. E os versos o dizem. Cada poema é sempre um desespero Impaciente Que de repente Quebra o cadeado. Um desespero tão desesperado Que já nada limita. Um grito de alma, que necessita De ser ouvido e ser compartilhado. [Miguel (10.º 2.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 442]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Termo Pára, imaginação! Não há mais aventura, nem poesia. A hora é de finados, Com versos apagados Na lareira onde a fogueira ardia. Pára, é da lei. Agora é só cansaço desiludido E memória teimosa que entristece O nada que acontece E o muito acontecido. Pára, porque findou O tempo intemporal Do amor e da graça concedida A quem nele, no seu barro original, Modela a própria vida. Pára, se existes. Oh! Universo infinito! Desconhecido, bonito, Quem te conhece é sortudo. Pára! Tu que és nada em tudo! [Mariza (10.º 1.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 477]

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Vela Rondo. Mas nem sei o que guardo, nem conheço Quem me manda ficar de sentinela... Sei apenas que é um crime se adormeço E deixo de espreitar pela janela. Rondo, Como soldado lírico que sou. Se é manhã, Se é poema, Se é luar, o que vem, — Sabe-o quem me acordou, Se foi alguém... Rondo, À toa. Vejo algo que não sei, Mas não desisto. E não renego a convicção que sinto. [João Miguel (10.º 2.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 151]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Convalescença Hora a hora, Nasce outra vez em mim a vida. Devagar, Como um gomo de vide a rebentar, Cobre de verde a cepa ressequida. Segundo a segundo, Vão as forças a mim voltando. O vagar passa devagar, Como o desgaste das rochas pelo mar, à medida que o tempo vai passando. É um fruto que acena? É uma flor que há-de ser? — Fui eu que disse que valia a pena Viver! [Pedro G. (10.º 2.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 152]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Condição É de pedra esta triste melodia Onde rasgo o volume do meu canto; E dum granito negro que vigia A pureza maciça do meu pranto. E é negra a bruma de meu coração, Cheio agora de melancolia; Que o meu canto não seja em vão, Ou será em vão minha vigia. Dura, Solitária e cerrada, Tem beleza e ternura, Mas é fraga pisada... Fraga velha e batida Pela dor de almocreves e carreiros, Só nela eu posso eternizar a vida, Minha e dos companheiros... [Jorge (10.º 2.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 154]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Por Uma Papoila Não a façam sofrer. Não olhem a nudez da sua cor. Se a quiserem ver Adivinhem de longe o seu pudor. Se se quiserem mesmo aproximar, Vão lentamente, Pois ela vai tremer ou chorar, Se alguém a assustar bruscamente Olhos nos olhos, não: Cora, descora, agita-se de medo, E é toda o desespero e a solidão De ter na própria vida o seu degredo. É uma donzela que não quer casar. Veio ao mundo viver A beleza gratuita de passar Sem nenhuma paixão a conhecer. [Rita (10.º 2.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 155]

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Luar É de puro luar este poema. É deste irmão quimérico dos sóis, Branco e fechado como um teorema, E a ter corpo na voz dos rouxinóis. É deste alado raio x do céu, Onde fica de nós o que é divino. É deste leite que se não bebeu Quando se foi menino. É deste aceno íntimo do alto Que aligeira o tormento que em mim há De conceber o salto Que me suba até lá. É esta a minha crença na evolução, Que me faz sonhar e acreditar Que um dia alguém me estenderá a mão Para eu subir ao luar. [Carlota (10.º 2.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 158]

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Intimidade Meu coração tem quantos versos quer; Ë só pulsá-los com medida e rumo. E só erguer-se a pino a um céu qualquer, E desse alado azul cair a prumo. É viver o mundo na palma da mão E sentir um olhar no âmago do ser, Deixando que tão nobre sensação Se eleve das entranhas do querer. Logo se desvanece o negro encanto Que os tinha ocultos no condão da bruma; Logo o seu corpo esguio rasga o manto, E mostra a humanidade que ressuma. Mas quanto ele sangra para os orvalhar De ternura, de sonho e de ilusão, São outros versos... para segredar A quem é seu irmão. [Marta (10.º 2.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 159]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Eleição Sou eu e ela, aqui no bairro. Sós, Quando o luar me acorda e lhe prateia o lombo, Cantamos nós, Eu um poema agudo, e ela um rombo. Aos saltos no lago, Eu a caminhar na estrada; Um momento vago, Uma história parada. Rã, como a gerou a natureza, Homem, porque eu assim o quis, Somos os dois poetas da tristeza Que há na gente infeliz. Não era terra que a poesia olhasse O lodo de que é feita e de que sou; Mas a semente nasce Onde o vento a deixou... [Joana O. (10.º 2.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 160]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Meditação Para que o corpo lhe não suba ao Céu, O santo põe cilícios sob as asas. Não pode o homem apagar as brasas Da fogueira em que ardeu. Pode menos ainda, se é poeta, Libertar-se da terra onde vegeta, Mudar o tempo e a forma dos seus frutos. Arbusto de dois pés, é condenado A ver escarnecido pelos brutos O seu pudor corado. A sofrer, vendo a morte a seu lado E o céu cada vez mais longe, Enclausura-se como um monge, Entre muros de silêncio desolado. [Mariana (10.º 2.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 165]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Dilema É uma voz que me chama e me defende: — Vem... mas não venhas...; cada sonho é Tanto mais vivo quanto mais se estende A dura rota que nos leva ao pé. Peço-lhe que volte e desespero, Enquanto não voltar; Sinto-me só, mas espero Pela voz que oiço a sonhar. E eu ouço a voz que prega no deserto, E não paro nem volto; apenas sinto Que se chego, desperto, E se não chego, minto. [Sara C. (10.º 2.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 166]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Vindima Mosto, descantes e um rumor de passos Na terra recalcada dos vinhedos. Um fermentar de forças e cansaços Em altas confidências e segredos. Laivos de sangue nos poentes baços. Doçura quente em corações azedos. E, sobretudo, pés, olhos e braços Alegres como peças de brinquedos. Homens cansados, longos traços, Homens vividos, sem medos, Trazendo sempre, nos regaços, O vinho e o sangue dos seus degredos. Fim de parto ou de vida, ninguém sabe A medida precisa que lhe cabe No tempo, na alegria e na tristeza. Rasgam-se os véus do sonho e da desgraça. Ergue-se em cheio a taça À própria confusão da natureza. [Cláudia (10.º 2.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 168]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Renovo Numa primeira vida sem folhagem, Em que tudo é imposto, Talvez os sonhos viajem, Por um caminho suposto. Outra vida começa, e outra imagem O poeta descobre no seu rosto. A cada novo olhar, nova paisagem, A cada novo fruto, novo gosto. Se outra porta infernal nos dá passagem, Se é outro vinho, feito de outro mosto O que nos embriaga de coragem, Troquemos por sol-nado o que é sol-posto! Condição deste mundo é ser do mundo. É ser do tempo, e ser no tempo fundo Como um poço que rega na janela O cravo roxo que perfuma o céu. É ter nos braços novos a donzela Filha doutra donzela que morreu. [Pedro M. (10.º 2.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 169]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Exaltação Venha! Venha uma pura alegria Que não tenha Nem a senha Nem o dia! Abra-se a porta da vida Sem se perguntar quem é! E cada qual que decida Se quer a alma aquecida No lume da nova fé. Venha! Venha um sol que ninguém tenha No seu coração gelado! Venha Uma fogueira da lenha De todo o tempo passado! Fecha-se a porta da vida: Com a tristeza reprimida, Volta a vontade de viver E, como floresta ardida, Cura-se a terrível ferida, Que há-de desaparecer. [Francisco F. (10.º 2.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 170]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Fascinação Canta-lhe o vento as árias que conhece, E nenhuma perturba aquele olhar. Nenhuma o transfigura ou adormece E o tira de sentir e de fitar. Terra de consciência iluminada, Limpa na sua luz pensada e fria, A celeste canção enluarada Nenhuma paz humana lhe daria. Não, porque o vento só conduz aladas Forças que oscilam a raiz; E aquele olhar quer descobrir paradas Seivas da vida que a razão lhe diz. Luz forçosa e penetrante Cega a fundura, escura e gelada; À iluminada canção dançante Nem a tristeza é poupada. [Francisco C. (10.º 2.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 172]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Rumo Rasga o pano da noite um grito agudo. É o apelo de alguém. Mas um aceno amargo não é tudo, Demais a mais na bruma de onde vem. Pode ser consciente, ou ser de quem Sabe de gritos o que sabe um mudo. Pode ser justo, e pode ser também Vestido de injustiças de veludo. Por isso ninguém corre àquela voz. A sua imprecisão passa veloz Pelo caminho vago da ilusão. É agreste, não é tão simples assim, É um grito sem fim, Um caminho para a frustração. Fogo que queima é fogo que se exprime. O sentido do sangue é que redime A angústia pendular do coração. [Inês (10.º 2.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 173]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Lua Nova Desenha-se no céu a lua nova, Límpida, casta, tenra como um gomo De um alto, doce e sumarento pomo Que a gula adeja, violenta e prova. Vem doutra lua velha, sonolenta, Com versos gastos, poeirentos, frios; Vem com os seus bicos doutros céus vazios Onde a seiva cansada não fermenta. Puro crescente branco da vontade, Enquanto a noite, horizontal, ressona, Mais se precisa, mais exibe à tona A sua genuína mocidade. Diabos descem em voo picado, Enquanto a lua continua a cintilar; Seus mortos nos túmulos a despertar Para anunciar o crime do pecado. [Laura (10.º 1.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 176]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Voz Era uma voz que doía, Mas ensinava. Descobria, Mal o seu timbre se ouvia No silêncio que escutava. Paraísos, não havia. Purgatórios não mostrava. Limbos, sim, é que dizia Que os sentia, Pesados de covardia, Lá na terra onde morava. E morava neste mundo Aquela voz. Morava mesmo no fundo Dum poço dentro de nós. Era uma voz afinada, Que contava Na alegria da madrugada. Mas quase não falava, Quando estava desolada. [Brigitta (10.º 1.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 178]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Lei Nascer e ficar aqui Onde os pés sentem firmeza. Subir ao céu em beleza, Mas em sonhos, em mentira, Não vá deixar-nos a lira De mal com a natureza. Ser homem como outros homens Na terra onde se alimenta O sangue que nos sustenta A pele e o coração. Lutar por todo aquele pão Que corre da placenta. Dar a alma a um deus dos nossos Por uma religião Com bases na condição E na dureza dos ossos. E não rezar padre-nossos Qualquer que seja a razão. Trabalhar quanto é preciso Com alegria e justiça. Ter um pouco de preguiça Quando o sol se descobrir. E dar o sexo à mulher Que mais fundo nos pedir E mais fundo nos souber. Adormecer numa noite, Fria e de lua cheia; Acordar numa teia De luz, a ofuscar O caminho para chegar Ao fogo da tua ceia. [Carla (10.º 2.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 184]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

À Música Melodia, melodia... Como é simples e tu vens! Como nasces da harmonia Das formas que nunca tens! Como vive a eternidade Na fugidia presença Da tua realidade Irreal logo à nascença! Não se vê quem te levanta Nem quem tece o teu destino; Mas alguém te desencanta, Te revela e te faz hino Do nosso amor, melodia! Não se ouve quem te canta Nem quem alerte o teu pensar, Mas alguém te encanta Te esconde e faz lembrar O nosso sofrimento, melodia. Vai cantando! Vai passando e vai durando, Asa branca deste dia! [Tomás (10.º 2.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 232]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Noite Noite, manto do nada Onde se acolhe tudo, Melodia parada Nos ouvidos dum mudo. Mãe do regresso, paz Da batalha perdida; Leiva morta onde jaz A renúncia da vida. Pecado sem perdão. Aceno sem ternura; Noite, o meu coração Anda à tua procura. É em ti que resguardo Todo o meu sentimento; És tu que conheces o fardo Que é parte do meu sofrimento. [Ana M. (10.º 6.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 244]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Ordem Este relógio de sala Que marca as horas passadas Aqui ao lado, Fala Como um deus aos seus fiéis. De silêncios abismais, Coberto de majestade, Sem dizer com que verdade, Bate as seis. E verdadeiramente me acorda Desta poltrona aconchegada! A verdade é que sinto a chamada Duma força que não sei qual é. Acorda-me de infinita depressão, Diz que sim, Está a chamar-me a mim. Vem, retira-me esta motivação. E o que é certo é que desperta A vida na sua cama! O que é certo é que me chama Para não sei que rigor De infindável penitência. E me faz Mais algum tempo capaz De suor e paciência. [Ana (10.º 1.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 245]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Marão Serra, seio de pedra Onde mamei a infância. Amor de mãe, que medra Quando medra a distância. Dura severidade Tapetada de acenos Às ilusões da idade E aos deslizes pequenos. Momentos de alegria, No balançar dos arvoredos. Minha serra me oferecia Entre os seus penedos. Velha raiz segura À universal certeza De um gesto de ternura E um pouco de beleza. [Eliana (10.º 1.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 248]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Soluço Meu coração de lágrimas redondas, Mar salgado a bater: Deixa que o vento endemoninhe as ondas, O mal é nenhum sonho te beber! Tal como as ondas chegam à praia E logo morrem nela, Também eu sou cobaia Do nosso amor sem cautela. Secasses tu na boca de uma estrela, Ou na concha da mão de uma sereia! Mas a doçura de morrer vais tê-la Sobre um corpo de areia... [Tiago (10.º 2.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 247]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Romance Um cavaleiro e uma dama, Cada qual na sua cama, Lado a lado; Mas voltados, De modo que ele a não veja E ela tenha de o ver. Isto à sombra de uma igreja Que os há-de absolver! Tanta crença num romance Para depois o desfazer, Para o amor, Que parecia nascer; Deu tanta dor e sofrimento À bela dama sepultada, Que não pôde deixar de ser ignorada Pelo cavaleiro honrado e violento. Traição dela? Excesso dele? Segredos que o tempo leva, Mas deixam mágoas de pedra... Até numa sepultura A raiz duma amargura Encontra o sol de que medra. Dorme, dorme, cavaleiro, Com tuas barbas honradas; Dorme, também, linda dama, Com tuas contas passadas E teus véus medievais. E o pecado Deixai-o assim acordado Para exemplo dos mortais. [Luís (10.º 1.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 249]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Solidão Só, como a fonte no areal sem vida. Só, como o sol no céu deserto. Só, de cabeça erguida, Humanamente certo. Só, a nascer, a ser e a morrer, Recto como um pinheiro que brotou E cresceu e caiu, sem se torcer Ao tempo vário que por ele passou. Só, como um olhar sem emoção. Só, como o assobio do vento. Só, de mão no coração. Já nem sei se tento. [Carolina (10.º 1.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 250]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Embalo Sono ao cantar das águas, ópio leve A quem se empresta à vida... Brando Deus que nos compra e que nos deve À nossa Deusa mãe adormecida. Frescos, os sonhos passam Na tela etérea e branca das espumas... Frescas mãos de ninguém os amordaçam E apagam nos abismos e nas brumas. Embalados, já não pensamos, Apenas fazemos movimentos: De olhos fechados, dançamos, Temos os nossos momentos. Um pesadelo só de vez em quando: E se o Deus adormece? Mas o Deus acordado vai cantando A música imortal que nos merece... [Soraia (10.º 1.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 251]

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Pergunta Duna que Deus criou, o grande criador, Mas tudo o que existe é arenoso: Versos aqui?, ou sinto o calor, E sou apenas um ser sequioso? Duna que o vento ergueu, monte de vento, Onde tudo que nasce é movediço: Versos aqui?, ou sigo o movimento, E sou mais uma areia ao teu serviço? Duna em que sou arado À procura da terra da firmeza: Versos aqui?, ou vou melhor calado, Cheio de desespero e de certeza? [Cláudia (10.º 1.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 256]

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Douro Cai o sol nas ramadas. O sol, esse Van Gogh desumano... E telas amarelas, calcinadas, Fremem nos olhos como um desengano. As árvores ganham outra cor; As caras reflectem alegria imensa, Na companhia daquele senhor E da visão que hoje compensa. A cor da vida foi além de mais! Lume e poeira, sem que o verde possa Refrescar os craveiros e os tendais De uma paisagem mais secreta e nossa. Apenas uma fímbria namorada, Vermelha e roxa, se desenha ao fundo... O mosto de uma eterna madrugada Que vem do incêndio refrescar o mundo. [Joana (10.º 1.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 258]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Conquista De que abismos irrompe a madrugada E, feliz, amanhece! Favorita velada Do loiro sol que a aquece Do seu alto passeio, Vem da noite orvalhada E rasga o manto onde escondia o seio. Inunda a terra de felicidade, Enche os animais de alegria E, com muita amabilidade, Acorda quem nos sonhos se refugia, Quem o sossego aprecia. E o seu corpo presente Brota como as ervilhas nos canteiros. Alvo de amor, contente, Dá flores, dá frutos, sente, E cantam-lhe aves nos pendões cimeiros. Alegria é o seu nome verdadeiro. Frescura a sua imagem natural. Lutou pelo caminho traiçoeiro, Quase um sapo a comeu num lodaçal. Mas o dia rompeu, E o mundo, agora, é luminoso e seu! [João Af. D. (10.º 1.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 260]

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Fantasia Canto ou não canto o limoeiro Aqui ao lado? Ele é tão delicado! Tem um jeito tão puro De se encostar ao muro Onde vive encostado... Canto ou não canto as tetas de donzela Que daqui da janela Vejo no limoeiro? Elas são tão maduras... E tão duras... Têm uma cor e um cheiro... Imagens eróticas causam alegria, Dando vida à minha fantasia; Mulher sensual instiga a minha imaginação. Tão bela, A voluptuosa donzela, Que me causa esta inexplicável sensação... Canto! Nem serei o primeiro, Nem eu sou nenhum santo! [Micaela (10.º 1.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 263]

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Maldição Quebrar a calma deste lago morto! Fazê-lo rio, eterno caminhante! Barco inquieto que não tenha porto, Corpo com frio quando o sol levante! Uma pedra, talvez... Uma ironia, Um poema, uma prece... Mas nem Deus poderia Salvar o que é feliz porque apodrece. Assim é o corpo do defunto... É não é como o mel! Só com a vida pode estar junto, Mas, no fim, sempre parece cruel! [António (10.º 1.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 274]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Condição A onda vem, lambe o areal e parte; A mágoa vem, morde o meu corpo e fica; A mágoa ateima, ateima, e quer ser arte, A onda envergonhou-se de ser bica. E nem a areia seca se revolta, Nem o meu corpo pode protestar; A onda anda no mar, à solta, E a mágoa já tem casa onde morar. O corpo encontra-se e foge à frente da dor, A areia deixa-se levar; O corpo esconde-se no esplendor Do azul e verde do mar. Forças sem coração e sem governo Jogam no pano que lhes apetece; Pobre de quem padece O seu capricho eterno... [Paulo (10.º 1.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, 274]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Poesia A manhã é como a poesia, O espaço é como o dia, As sensações são perdidas no momento, Os sons dão-me alento, A inspiração arrepia. É dia no outro mundo Dos versos. Abriu-se a noite num halo De véu caído, E uma mensagem de charco Purificado Entra, branca, no ouvido... E há um ouvido acordado. Pelos fios do luar Etéreos sons, melodias, Vão chegando. E são as valas sombrias E os juncos negros da lama Que se iluminam na chama Dessa fogueira secreta Que queima os lençóis da cama Do Poeta. Sinais perdidos no espaço? Mas é no morse de imagens, Na espectral telegrafia, Que são reais as paisagens Da Poesia. [João G. (10.º 1.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 285]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Magia Quando era pequenino, O mundo para mim era só magia, Do vinho já bebia o quinino, De tudo saía uma doce melodia. Às vezes parava o tempo Como um levita esquecido Na comunhão. Parava-o, e ficava atento, A ver a cor do milagre A desmaiar-lhe na mão. Era só erguer a pena Dum verso já começado, Dobrar a ponta da antena No telhado. Parava o tempo, e parava O movimento de tudo; O povo ficava mudo, A beleza por cantar; Era um mundo que lembrava Um verso por acabar. [Pedro C. (10.º 1.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 287]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Juventude Seu puro entusiasmo de criança Durou-lhe enquanto teve coração. Cada hora trazia a nova lança Para a nova ilusão. E a sua vida foi como um cinema De façanhas perdidas. Comoventes imagens coloridas Dum Quixote de trágica figura. Saltos vãos sobre o abismo, De loucura E lirismo. Desde pequeno, Quando vivia num mundo de magia, Conhecia bem o seu terreno, Mas acabará por perder a fantasia. [João A. (10.º 1.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 295]

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À Vida Às portas do silêncio, como um bicho No limiar do fojo, Pára! Tira a máscara da cara E olha novamente o teu arrojo. A flor da vida que queres dar à morte, Mesmo fanada, tem o seu perfume. Não há desmaio que lhe apague o lume, Nem secura da seiva que lhe importe. É uma flor. Uma presença pura. Nenhuma concebida sepultura A merece. O que tem, ou já teve formosura, Só fica bem ao sol onde se aquece. Assim, a tristeza desaparece, Perante o coração aquecido, Da pequena flor que se desvanece. E o olhar, entristecido, Acaba por fomentar o ardor constrangido, Que a singela flor aquece. [Alexandra (10.º 1.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 314]

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Há Ratoeiras! Quando vierem, como feiticeiros, Tirar-te o espírito do corpo, Obstina-te, irmão! Não, Não E não, Seja qual for a habilidade E a humanidade Da encantação. Luta contra o que te é oposto, E não te deixes ir pelo infinito; Não te fies na verdade de um rosto Prefere o que nele está inscrito. Lembra-te dum cortiço! O que ferve lá dentro e dá favos de mel, E que presta. Mas se querem a festa Da tua morte, Então, Que levem tudo no caixão: A alma e o suporte! [Pedro A. (10.º 1.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 377]

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Tempo Tempo — definição da angústia. Pudesse ao menos eu agrilhoar-te Ao coração pulsátil dum poema! Era o devir eterno em harmonia. Mas foges das vogais, como a frescura Da tinta com que escrevo. Fica apenas a tua negra sombra: — O passado, Amargura maior, fotografada. Tempo... E não haver nada, Ninguém, Uma alma penada Que estrangule a ampulheta de uma vez! Passado... E não lembrar nada. Alguém, Uma silhueta abençoada Que atire fora o pêndulo de uma voz. Que realize o crime e a perfeição De cortar aquele fio movediço De areia Que nenhum tecelão É capaz de tecer na sua teia! [Tiago P. (10.º 1.ª). O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 391]

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Lamento Nem tu, amor, me deste aquele sossego Que te pedi! No grande cais da vida onde aportei Eram tantos os braços e os acenos Que me cansei A responder a todos, e a nenhum... Puras miragens, puros impossíveis, Um a um Foram morrendo, sem deixar ao menos Traços visíveis Da ilusão fugaz. E ali fiquei, de coração vazio, À espera de chegar outro navio... E sem paz. [O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 56]

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Prelúdio Reteso as cordas desta velha lira, Tonta viola que de mão em mão Se afina e desafina, e donde ninguém tira Senão acordes de inquietação. Chegou a minha vez, e não hesito: Quero ao menos falhar em tom agudo. Cada som como um grito Que no seu desespero diga tudo. E arrepelo a cítara divina. Agora ou nunca meu refrão antigo. O destino destina, Mas o resto é comigo. [O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 104]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Cântico Mundo à nossa medida. Redondo como os olhos, E como eles, também, A receber de fora A luz e a sombra, consoante a hora. Mundo apenas pretexto Doutros mundos. Base de onde levanta A inquietação, Cansada da uniforme rotação Do dia-a-dia. Mundo que a fantasia Desfigura, A vê-lo cada vez de mais altura. Mundo do mesmo barro De que somos feitos. Carne da nossa carne Apodrecida. Mundo que o tempo gasta e arrefece, Mas único jardim que se conhece Onde floresce a vida. [O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 134]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Prospecção Não são pepitas de oiro que procuro. Oiro dentro de mim, terra singela! Busco apenas aquela Universal riqueza Do homem que revolve a solidão: O tesoiro sagrado De nenhuma certeza, Soterrado Por mil certezas de aluvião. Cavo, Lavo, Peneiro, Mas só quero a fortuna De me encontrar. Poeta antes dos versos, E sede antes da fonte. Puro como um deserto. Inteiramente nu e descoberto. [O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 143]

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Manancial E o caudal da poesia continua! Há muito pranto ainda soterrado... Há muito desespero sufocado Por este mundo além, Que abre caminho e vem À tona do silêncio conformado! Rasga-se inesperadamente a chã E começa uma fonte A sussurrar; Fonte que se avoluma noutras fontes Doutros montes Com chagas também fundas, a sangrar. E o rio que assim nasce e não tem foz, Corre sem direcção, A debruar de pura inquietação A calma da planura adormecida. E é nele que se reflecte a solidão Do céu, que só é céu longe da vida. [O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 181]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Advento Deixa descer à Terra o espírito do céu! Deixa encarnar o que desencarnou! Porque a folha tremeu, É que a brisa passou... Só com raízes se alimenta a vida. Só do chão se levanta o pensamento. Só a dor que é sentida Resgata o sofrimento. Todo o sonho que paira quer pousar. Deixa pousar a pomba imaculada, Que já daqui partiu, imaginada, E teima em regressar. [O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 193]

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Contemplação Ganges sagrado do desassossego. Vem dos confins do nada Em direcção ao grande mar vazio... E à tona da barrenta omnipotência Leva a cega inocência Naufragada De cada vida nele purificada. Vejo passar o tempo, o rio calmo Onde se afoga o desespero humano; Imagino-lhe a foz, no trágico oceano Da morte; E a nenhum Sul ou Norte Consciente Consigo vislumbrar-lhe a lírica nascente. Já caudaloso em cada latitude, Em vão procuro a fonte Que lhe dê começo: A madrugada duma telha Hesitante Antes do grande dia Que toda a madrugada principia. de água, [O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 191]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Desfecho Não tenho mais palavras. Gastei-as a negar-te... (Só a negar-te eu pude combater O terror de te ver Em toda a parte.) Fosse qual fosse o chão da caminhada, Era certa a meu lado A divina presença impertinente Do teu vulto calado E paciente... E lutei, como luta um solitário Quando alguém lhe perturba a solidão. Fechado num ouriço de recusas, Soltei a voz, arma que tu não usas, Sempre silencioso na agressão. Mas o tempo moeu na sua mó O joio amargo do que te dizia... Agora somos dojs obstinados, Mudos e malogrados, Que apenas vão a par na teimosia. [O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 199]

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Tarefa Ergo o meu canto no areal do tempo, Conforme com as leis da natureza. Poeta da incerteza, É um hino incerto Que deixo no deserto Onde apenas a morte tem firmeza. Foi outro sonho que sonhei outrora, Antes de conhecer o duro preço Que pagamos por cada insensatez. Sonhei que a Eternidade Era verdade, E que chegara nela a minha vez. Mas, a despeito da desilusão, Ponho argamassa, aprumo a inspiração E assento os versos com rigor dobrado. É não sei que sagrada confiança Em não sei que sagrada segurança Do trabalho acabado. [O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 204]

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Encontro Rasgo todos os véus da minha vida, Como quem despe a noiva em pensamento. Eterno adolescente, desatento Aos adultos conselhos da razão, Violento O pudor que lhe vela a imperfeição. Quero a sua nudez desencantada, Bosque sem folhas, onde a claridade Desça à raiz das sombras e as desfaça. Quero ver a pureza Da impureza, A íntima brancura da desgraça. E descubro o que sou no que ela é: O triste dia-a-dia Deste absurdo humano: Erguida pelo vento da loucura, Uma onda à procura De oceano. [O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 205]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Apocalipse É o cavalo do tempo a galopar... Ninguém pode detê-lo. Vê-lo, É ver, a sonhar, Um relâmpago a rasgar O céu dum pesadelo. Deixa a desolação por onde passa. Torna os sonhos maninhos. Desmente os adivinhos Que, na divina graça De feiticeiras alucinações, Prometem duração às ilusões. Besta infernal, Com asas de morcego E raiva desbocada, Largou do prado onde pastava ausente, E corre, corre, em direcção ao nada, Única direcção que a fúria lhe consente. [O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 206]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Iberia Terra. Quanto a palavra der, e nada mais. Só assim a resume Quem a contempla do mais alto cume, Carregada de sol e de pinhais. Terra-tumor-de-angústia de saber Se o mar fundo e ao fim deixa passar... Uma antena da Europa a receber A voz do longe que lhe quer falar... Terra de pão e vinho (A fome e a sede só virão depois, Quando a espuma salgada for caminho Onde um caminha desdobrado em dois). Terra nua e tamanha Que nela coube o Velho Mundo e o Novo... Que nela cabem Portugal e Espanha E a loucura com asas do seu Povo. [O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 245]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

A Raça Enxame rumoroso num cortiço De paredes de espuma, Que tropismo secreto e movediço Trouxe da bruma A abelha-mestra que o começou? Que carinhoso aceno Lhe faria este chão, seco e moreno, Onde com asas de ilusão pousou? Talvez que no silêncio lhe dissesse Que só daqui, materna, poderia Embarcar o enxame Que nascesse, No velame Doutra ilusão que o tempo lhe daria... [O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 248]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Fado Tem cada povo o seu fado Já talhado No livro da natureza. Um destino reservado, De riqueza Ou de pobreza, Consoante o chão lavrado. E nada pode mudar A fatal condenação. No solo que lhe calhar, A humana vegetação Tem de viver, vegetar, A cantar Ou a chorar Às grades dessa prisão. [O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 249]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Sagres Vinha de longe o mar... Vinha de longe, dos confins do medo... Mas vinha azul e brando, a murmurar Aos ouvidos da terra um cósmico segredo. E a terra ouvia, de perfil agudo, A confidencial revelação Que iluminava tudo Que fora bruma na imaginação. Era o resto do mundo que faltava (Porque faltava mundo!). E o agudo perfil mais se aguçava, E o mar jurava cada vez mais fundo. Sagres sagrou então a descoberta Por descobrir: As duas margens da certeza incerta Teriam de se unir! [O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 255]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

A Largada Foram então as ânsias e os pinhais Transformados em frágeis caravelas Que partiam guiadas por sinais Duma agulha inquieta como elas... Foram então abraços repetidos À Pátria-Mãe-Viúva que ficava Na areia fria aos gritos e aos gemidos Pela morte dos filhos que beijava. Foram então as velas enfunadas Por um sopro viril de reacção Às palavras cansadas Que se ouviram no cais dessa ilusão. Foram então as horas no convés Do grande sonho que mandava ser Cada homem tão firme nos seus pés Que a nau tremesse sem ninguém tremer. [O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 256]

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Natal Fiel das horas mortas Desta noite comprida, Pergunto a cada sombra recolhida Que sol figura o lume Que da lareira negra me sorri: O do calor cristão? O do calor pagão? Ou a fogueira é só a combustão Da lenha que acendi? Presépios, solstícios, divindades... A versátil natureza Do homem, senhor de tudo! Cria mitos, Destrói mitos, Nega os milagres que fez, E depois, desesperado, Procura o mundo sagrado Nas cinzas da lucidez. [O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 348]

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Pátria Foste um mundo no mundo, E és agora O resto que de ti Já não posso perder: A terra, o mar e o céu Que todo eu Sei conhecer. Foste um sonho redondo, E és agora Um palmo de amargura Retornada. Amargura que em mim Também nunca tem fim, Por ter sido comigo baptizada. Foste um destino aberto, E és agora Um destino fechado. Destino igual ao meu, amortalhado Nesta luz de incerteza E de certeza Que vem do sol presente e do passado. [O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 375]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Semelhança Quero que te pareças no poema. Plena de juventude em cada verso E pura em cada imagem. Transcrita tal e qual Na tua humanidade, Toda de claridade Matinal. Por isso é que lavei as mãos e o coração, Limpei a pena, Aguardei, paciente, Que a inspiração viesse, E dou, agora, Compenetradamente a esta hora Um sentido de prece. Fica, pois, como és, Branca de corpo e alma, Sem apagar nos olhos A luz adolescente. Eva, antes da tentação... Longe ainda do Adão, E ainda mais longe da serpente... [O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 338]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Rogo Não, não rezes por mim. Nenhum deus me perdoa a humanidade. Vim sem vontade E vou desesperado. Mas assinei a vida que vivi. Doeu-me o que sofri. Fui sempre o senhorio do meu fado. Por isso, quero a morte que mereço. A morte natural, Solitária e maldita De quem não acredita Em nenhuma o ração De salvação. De quem sabe que nunca ressuscita. [O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 391

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Rememoração Sim, a vida não presta. Mas foi bonita a festa Da mocidade. O corpo são, a alma sã, e todos os sentidos Na sua virgindade Castamente despidos. Lembrá-lo, agora, dá não sei que paz. Esta paz medular De já ter sido, E ter sido capaz De uma hora solar Gravada a fogo no tempo perdido. [O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 401]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Arte Poética Fecho os olhos e avanço. E começa o poema. Rodeiam-me os fantasmas Fugidios Dos versos que persigo. A regra é caminhar E chegar sem saber. De tal modo é cruzada A encruzilhada Onde o milagre pode acontecer. Mas sendo, como é, de cabra-cega O jogo, E é um destino jogá-lo, E sempre incerto que o principio. Tacteio no vazio Da expressão, Vou seguindo, Seguindo, E ganho quando sinto a salvação No próprio gosto de me ir iludindo. [O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 415]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Natal Nasce mais uma vez, Menino Deus! Não faltes, que me faltas Neste inverno gelado. Nasce nu e sagrado No meu poema, Se não tens um presépio Mais agasalhado. Nasce e fica comigo Secretamente, Até que eu, infiel, te denuncie Aos Herodes do mundo. Até que eu, incapaz De me calar, Devasse os versos e destrua a paz Que agora sinto, só de te sonhar. [O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 444]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Informação Cumpriu-se a profecia: Na data adivinhada, O poeta nascia E seria Uma humana heresia Desmascarada. E nem sequer morreu, quando morreu. Deixou versos a perpetuar O escândalo universal Da sua vil presença intemporal No mundo. E quem até ao fundo Os lê, Peca por consciente conivência Ou incauta inocência. [O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, II, 2007, p. 451]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Voz Era o céu que sorria nos seus olhos, Eram junquilhos trémulos aos molhos, As flores do rosto que eu beijava. Fresca e gratuita como um hino à lua, Nua, Era um mundo de paz que se entregava. Oh! perfume da Vida! — gritei eu. Oh! seara de trigo por abrir, Quem te fez todo o pão da minha fome? Mas os seus braços, longos e contentes, Só responderam, quentes: Come. [O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 156]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Abandono Ave maluca que pousou sozinha Na praia triste, e debicava a espuma Que uma onda deixou, O bando olhou-a lá do céu que tinha, Viu-a perder as horas uma a uma, E voou. Era um trigal inteiro que acenava À prática avidez do seu destino! Ficasse quem comia solidão. Ficasse singular quem desejava, Peregrino, Na flor das vagas encontrar o pão. [O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 162]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Drama A quem falo no mundo? Por quem foi Esta bandeira branca de poeta? A quem descubro a chaga que me rói Por não ser seu artista e seu profeta? A quem arranco com beleza a seta Do calcanhar humano que lhe dói? A quem vejo chegado à sua meta, Novo senhor da terra e novo herói? A nenhum homem, que a nenhum conheço. Água de um rio que não tem começo, Nas duas margens sinto o mesmo não. Mas na direita a vida é gasta e velha... Só na outra uma chama se avermelha Capaz de me aquecer o coração. [O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 167]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Hino Sobe a canção a mundos de vertigem. Jovem canção, tem asas e destino. Foi uma nota humilde a sua origem, Mas com força de sonho ergueu-se a pino. Em baixo fica o sopro que a levanta: A carne que a sustém, lama da rua; A solidão onde a negrura é tanta Que nem a luz do sol pode ser sua. Ela, porém, com seu perfil de lança, Rasga as nuvens do mito e da tristeza; E firme, e alto, o seu ardor alcança O secreto sentido da beleza. [O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 174]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Perenidade Nada no mundo se repete. Nenhuma hora é igual à que passou. Cada fruto que vem cria e promete Uma doçura que ninguém provou. Mas a vida deseja Em cada recomeço o mesmo fim. E a borboleta, mal desperta, adeja Pelas ruas floridas do jardim. Homem novo que vens, olha a beleza! Olha a graça que o teu instinto pede. Tira da natureza O luxo eterno que ela te concede. [O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 182]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Bilhete Nada me dês nem peças. E não meças O que podias dar e receber. Fecha a própria riqueza do teu ser. Um de nós era a mais À lírica janela... Olharam-se os zagais, Mas não houve novela. A vida assim o quis, A vida sem amor. Não regues a raiz Do que não teve flor. [O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 243]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Lar Na copa da floresta o tempo tece... Tece um ralo de sonhos a quem olha... Frémitos largos, cor do sol que desce Boémio e loiro sobre cada folha. Musgo no pé do que subiu mais alto. A lenta e certa maldição dos limos... Quem se liberta na ilusão de um salto, Paga na terra a solidão dos cimos. Porque a frescura do telhado verde Tem um calmo destino: Cobrir quem é de casa e se não perde Nas malhas do seu sono de menino. [O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 257]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Fantasia Canto ou não canto o limoeiro Aqui ao lado? Ele é tão delicado! Tem um jeito tão puro De se encostar ao muro Onde vive encostado... Canto ou não canto as tetas de donzela Que daqui da janela Vejo no limoeiro? Elas são tão maduras... E tão duras... Têm uma cor e um cheiro... Canto! Nem serei o primeiro, Nem eu sou nenhum santo! [O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 263]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Amor Dorme a vida a meu lado, mas eu velo. (Alguém há-de guardar este tesoiro!) E, como dorme, afago-lhe o cabelo, Que mesmo adormecido é fino e loiro. Só eu sinto bater-lhe o coração, Vejo que sonha, que sorri, que vive; Só eu tenho por ela esta paixão Como nunca hei-de ter e nunca tive. E logo talvez já nem reconheça Quem zelou esta flor do seu cansaço... Mas que o dia amanheça E cubra de poesia o seu regaço! [O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 270]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Cântico de Amor Carnal Quando te deres inteiramente, sim. Terás então a chave do mistério. Verás um passo da ressurreição Dentro de ti, homem sem divindade. Na força efémera do teu coração Há-de pulsar a própria eternidade. Morto de amor, no espasmo, Virás depois à tona acrescentado. O corpo, no clarão, purificado; O espírito coberto doutro manto! Um, encantado, Outro a sair do encanto! Só quem sobe à montanha toca o céu! Na terra chã ninguém se transfigura! Cada beijo é um punhal que te procura, Cada entrega é uma morte. Vai, na tua candura, Ao encontro do gume que te corte! [O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 307]

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Cada um destes cem poemas de Miguel Torga tem uma estrofe falsa — criada por um aluno das turmas 1, 2, 4, 5, 6 do décimo ano. A estrofe foi escrita de modo a que não fosse fácil distingui-la das restantes estrofes do poema, as verdadeiramente torguianas. Se o leitor conseguir reconhecê-la, significa que o trabalho não está bem feito (ou que Torga é inimitável).

Presença É um herói singular: Morto há mil anos, e combate ainda! Mas a guerra que o tempo lhe moveu É uma luta sangrenta que não finda Quando o corpo morreu. Cada leitor que vem, seu inimigo, Quer deslindar consigo O mistério sombrio Da criação; E lança-lhe direita ao coração A luva de um soberbo desafio E o golpe de uma nova indecisão. Mãos vazias de vida, pés de fumo Movem-se então dentro da fortaleza. Ergue-se a espada branca da verdade, E a beleza Resiste novamente à eternidade. [O poema — sem a estrofe falsa — está em: Miguel Torga, Poesia Completa, I, 2007, p. 331]