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Neurofisiologia do controle motor
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A COMPLEXIDADE NO ESTUDO DO CONTROLE MOTOR HUMANO
Alexandre Matos1 [email protected] Sena1 [email protected]
Francisco Antnio Pereira Fialho2 [email protected] Ramos Arajo1 [email protected]
Milena Alves [email protected] Martins Gueudeville1 [email protected]
Resumo
A evoluo das teorias que procuram explicar o controle motor partiu do pensamento cartesiano positivista e caminharam para uma abordagem mais ampla e holstica. Nas teorias do controle motor mais atuais como a teoria ecolgica possvel notar a preocupao com os fatores ambientais e cognitivos. O objetivo deste artigo entender o organismo humano e para tal foi realizado uma reviso bibliogrfica em livros e artigos. Como resultado verificou-se que o controle motor humano dever ser compreendido como um sistema complexo e como tal est sujeito a uma organizao baseada na dinmica no linear. Assim este artigo colabora para uma melhor compreenso do movimento e em especial das teorias do controle motor.
Palavras-chave: Controle Motor; Movimento; Complexidade.
INTRODUOO movimento a mudana de posio ou postura que envolve gasto energtico,
controle e produo de fora (HAMILL, 1999). De uma maneira geral o movimento
humano pode ser entendido como uma comunho de vrios sistemas orgnicos:
neurolgico, biomecnico e bioqumico em associao com as caractersticas
ambientais.
O controle motor responsvel pelo movimento humano vem sendo analisado por
muitos estudiosos na tentativa de descrever como o movimento adquirido,
desenvolvido e durante o ato motor como ele planejado e executado. Para tal, muitas
teorias foram elaboradas na tentativa de explicar de que forma os movimentos so
controlados, ou seja, como ocorre o Controle Motor.
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METODOLOGIAA pesquisa bibliogrfica foi realizada em livros, artigos, revistas, dissertaes,
teses e sites sobre o Controle Motor Humano, Complexidade e Movimento.
Teorias do Controle MotorEstas teorias so um grupo de hipteses ou idias que tentam descrever a
interao dos sistemas orgnicos e o ambiente na elaborao e controle do movimento.
Teoria do ReflexoNesta teoria os reflexos so considerados a unidade bsica do movimento,
assim os movimentos mais complexos seriam formados por uma juno de reflexos.
(FREDERICKS, 1996).
Um exemplo desta teoria seria o sapo que ao ver uma mosca, desencadeia um
estmulo, que produz a ativao reflexa do impulso da lngua para capturar a mosca, o
que corresponde resposta, caso seja realmente capturada (SHUMWAY-COOK E
WOOLLACOTT, 2003). Entretanto, esta teoria possui diversas limitaes, pois no
explica os movimentos voluntrios e os movimentos que acontecem na ausncia de um
estmulo sensorial.
Teoria HierrquicaA teoria hierrquica prope que no Sistema Nervoso existe uma hierarquia, onde
os centros superiores (crtex, reas motoras frontais e reas responsveis pela
conscincia) comandam os centros inferiores (medula espinhal e nervos cranianos).
Umphred (2004) relata que nesta teoria o centro superior contm toda a informao
necessria para o movimento e pode ou no usar o feedback externo ou interno para
regular o movimento.
Conforme esta teoria os centros superiores e inferiores no interagem, no
existindo controle de baixo para cima e apenas de cima para baixo. Alguns
pesquisadores uniram as teorias acima citadas, formando a teoria reflexo-hierrquica,
sugerindo que o controle motor ocorre devido a reflexos organizados hierarquicamente
no sistema nervoso, mas no esclarece a dominncia do comportamento reflexo que
acontece em algumas situaes como no exemplo da pisada em um prego que leva a
uma resposta reflexa estereotipada de retirada imediata da perna.
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Teoria da Programao MotoraIndica que o movimento acontece devido a programas motores que so ativados
por processo central e estmulo sensorial, assim pode ocorrer na ausncia de uma ao
reflexa.
Bernstein (1967 apud SHUMWAY-COOK E WOOLLACOTT, 2003) um dos
criadores desta teoria, descreve sua limitao, para ele o programa central no pode
ser considerado a nica determinante da ao motora, uma vez que dois comandos
iguais para uma regio especfica do corpo pode produzir movimentos diferentes, por
exemplo a flexo do joelho pode ser executada ou controlada por aes musculares
diferentes a depender se o p estiver fixo no solo a flexo controlada por uma ao
muscular excntrica do quadrceps e se estiver com a extremidade inferior livre a flexo
produzida por uma contrao dos msculos isquiotibiais.
Teoria dos SistemasSugere que vrios sistemas atuam no controle motor, tanto os componentes internos
como musculares, neurais quanto externos, gravidade e inrcia e que diferentes
comandos podem resultar no mesmo movimento (FREDERICKS, 1996).
Uma grande limitao desta teoria o no aprofundamento na interao do organismo
com o ambiente.
Teoria da Ao DinmicaAborda variveis denominadas parmetros de controle, que segundo esta teoria,
regulam as alteraes no comportamento de todo o sistema. Uma alterao critica
destas variveis em um dos sistemas induz a um novo movimento. Este ponto crtico
seria o limite mximo que os sistemas suportariam naquele determinado movimento
quando ento haveria a transio para um novo estgio de movimento.
Esta teoria faz referncia ao estado atrator que seria aquele padro preferido do
movimento, que poderia ser entendido como aquele ritmo preferido para realizar as
atividades da vida cotidiana. Por exemplo, poderamos caminhar com diversos tipos de
velocidade de macha, mas normalmente caminhamos em um ritmo preferido que
individual e pode variar segundo exigncias ambientais.
Shumway-Cook e Woollacott (2003) relatam que uma limitao deste modelo
pode ser a suposio de que o Sistema Nervoso cumpre uma funo
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consideravelmente irrelevante e que a relao entre o sistema fsico do animal e o
ambiente no qual ele funciona determina principalmente o comportamento do animal.
Teoria EcolgicaSurgida em 1960 com estudos do psiclogo James Giibson, que pesquisou as
interaes do sistema motor com o meio ambiente (GIBSON, 1986). Esta teoria
posteriormente desenvolvida por dois alunos de Gibson foi conhecida como teoria
ecolgica do controle motor e caracterizada pela grande nfase percepo que ao
contrario das demais teorias que apontavam a sensao como fator mais importante no
controle motor. Segundo Shumway-Cook e Woollacott (2003), a perspectiva ecolgica
ampliou o nosso conhecimento sobre o Sistema Nervoso Central que deixou de ser
considerado um sistema sensrio-motor que reage s variveis ambientais e
transformou-se em um sistema de percepo/ao capaz de explorar ativamente o
ambiente, a fim de satisfazer seus prprios objetivos.
As teorias de controle motor possuem limitaes decorrentes do momento
histrico em que foram desenvolvidas e do paradigma aceito na sua criao, por
exemplo, as primeiras teoria se encaixam no paradigma newtoniano-cartesiano,
tradicional, que dividia o todo em partes e as teorias da ao dinmica e a teoria
ecolgica trazem uma abordagem mais atual, na qual o ambiente pode limitar ou
influenciar a atividade funcional.
Contudo, percebe-se que a teoria da ao dinmica no destaca o organismo
como um sistema complexo que est sujeito dinmica no-linear existente na relao
entre a estrutura e o processo relativos ao movimento humano principalmente em
relao questo da subjetividade como por exemplo a conscincia. A nica teoria que
mais se aproxima da abordagem experincia subjetiva a teoria ecolgica ao dar
nfase percepo em vez da sensao.
Para compreender como a teoria da complexidade pode influenciar e fornecer bases
conceituais para maior conhecimento das atuais teorias do controle motor necessrio
entender como surgiu a idia complexa a partir do pensamento simplificador.
Pensamento SimplificadorSegundo Morin, 1995, o pensamento simplificador est baseado na confiana
absoluta da lgica para estabelecer as verdades da sua teoria. Ren Descartes no
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sculo XVII baseado no ideal separatista e reducionista procurou explicar a natureza
das coisas e assim dividiu em mente ou coisa pensante (res cogitans) e matria ou
coisa extensa (res extensa). Ele ordena a separao do objeto do meio, da ordem da
desordem, das disciplinas das cincias, da cincia da filosofia. Estas foram as bases
conceituais da teoria cartesiana que norteou por muito tempo a cincia e a filosofia
ocidental.
A partir disto, entende-se porque no existem teorias completas, pois h
inmeros fatores a se considerar, principalmente quando se reconhece que o ser
humano um sistema aberto e est sujeito a influncias externas.
Hoje os cientistas se deparam com o paradigma da complexidade e por assim ser ainda
se encontra relutncia em seu aceito pela dificuldade que alguns cientistas tm em
adotar a estrutura no-linear da teoria da complexidade.
A ComplexidadePara Morin (1995) a Complexidade uma forma de compreender o mundo,
tendo a capacidade de integrar no real as relaes que sustentam a co-existncia entre
os seres no universo, possibilitando o reconhecimento da ordem e da desordem, do uno
e do diverso, da estabilidade e da mudana. As idias de ordem, desordem e
organizao necessitam ser pensadas em conjunto e surgem de diferentes pontos de
vista.
Assim, a idia de ordem, desordem e organizao demonstra o antagonismo e a
complementaridade que se encontra na complexidade. Morin (1998) coloca tambm
que o funcionamento do ser vivo tolera, at certos limites, uma parte de desordem, de
rudos, de erros. A degradao contnua das molculas e das clulas de um organismo,
por exemplo, a desordem permanente.
Princpios da complexidadeSete princpios bsicos so colocados por Morin (2000), os quais so
complementares e interdependentes.
O primeiro princpio denominado sistmico ou organizacional associa o
conhecimento das partes ao conhecimento do todo, sendo que o todo igualmente
mais e menos que a soma das partes.
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O segundo princpio o hologrfico, o qual demonstra que a parte est no todo,
como o todo est na parte, ressaltando que cada parte possui sua singularidade e sua
individualidade, alm de conter o todo. Por exemplo, as clulas do corpo humano que
possuem a informao gentica do corpo, mas no em si o corpo.
O terceiro princpio, a retroatividade, aceita o conhecimento dos processos auto-
reguladores, rompe com o princpio da causalidade linear, no qual a causa age sobre o
efeito e o efeito sobre a causa.
O quarto princpio, a recursividade, refere-se ao circuito gerador, em que os
produtos e os efeitos so causadores e produtores do que se produz. Como exemplo,
o ciclo da reproduo, que produz seres vivos que reproduzem o ciclo de vida da
reproduo.
O quinto princpio, a autonomia/dependncia, relata que os seres vivos so
autnomos, mas esta autonomia depende do meio exterior, por isso so seres auto-
eco-organizadores.
O sexto princpio o dialgico, o qual se refere a duas lgicas, pois um
fenmeno complexo une duas noes que tendem a excluir-se reciprocamente e ao
mesmo tempo so indissociveis em uma mesma realidade, como a ordem, a
desordem e a organizao.
O stimo princpio a re-introduo do conhecimento em todo conhecimento, ou
seja, todo o conhecimento uma reconstruo de um conhecimento prvio.
Sistemas Complexos e a dinmica no linearOs sistemas complexos no so lineares, envolvem muitos componentes,
apresentam uma dinmica de interao entre eles, dando origem a um nmero de
nveis ou escalas que exibem comportamentos comuns, apresentando processos de
emergncia e auto-organizao.
Segundo Axelrod (2000), complexidade no denota simplesmente muitas
partes em movimento. Ao contrrio, indica que o sistema consiste de partes as quais
interagem de forma que influenciam fortemente o sistema como um todo. A
complexidade normalmente resulta em caractersticas que so propriedades do sistema
que as partes separadas no tem. Por exemplo, nenhum neurnio tem conscincia,
mas o crebro humano tem conscincia como uma propriedade emergente.
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Conforme Capra, 1997, a dinmica no-linear a nova matemtica da
complexidade que permite um nmero limitado de forma e funes possveis, que so
descritos matematicamente pelos atratores padres geomtricos complexos que
representam as propriedades dinmicas do sistema. Para o matemtico Stewart, 1998
a dinmica no-linear ser um dos campos mais frutferos da cincia nos prximos
anos, no qual a matemtica traduzir a necessidade de compreender a organizao do
mundo vivo.
Para entender a complexidade natural ao organismo humano, o primeiro passo
procurar compreender como a complexidade tendo como base a teoria da autopoiese
explica a formao de redes de relacionamento e o surgimento de formas e funes
biolgicas. Conforme Capra, (2002) o sistema autopoitico aquele que sofre
mudanas estruturais continuas ao mesmo tempo em que conserva seu padro de
organizao em teia. Os componentes da teia continuamente produzem e transformam
uns aos outros, e os fazem de maneiras distintas.
Assim, os sistemas vivos so sistemas fechados quanto sua organizao e por
isso so redes autopoiticas, mas aberto do ponto de vista material e energtico, uma
vez que necessita de matria e energia do ambiente e devolve estes elementos na
forma de excrementos.Quando o fluxo de energia aumenta o sistema pode chegar a
uma instabilidade que Capra chama de ponto de bifurcao, o qual pode resultar em
um estado totalmente novo, em que podem surgir novas estruturas e novas formas de
ordem. O fenmeno do surgimento espontneo reconhecido como a origem dinmica
do desenvolvimento, do aprendizado e da evoluo. Assim, a gerao de formas novas
uma das propriedades dos sistemas vivos que uma caracterstica essencial dos
sistemas abertos.
O conhecimento da teoria da complexidade nos permite dizer que no possvel
mais explicar os fenmenos biolgicos a luz simplista da fsica e da bioqumica sem
levar em considerao a dinmica no-linear dos sistemas complexos. Por exemplo, o
ato motor humano, o foco deste estudo, no deve ser entendido apenas como uma
funo apenas dos sistemas neurolgicos e biomecnicos. Na verdade o controle motor
oriundo da dinmica no-linear complexa das redes que envolvem os sistemas
neurolgicos e biomecnicos em constante relao com seu ambiente.
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Desta forma a cincia que busca estudar fenmenos biolgicos como o controle
motor deve reconhecer a importncia da analise da experincia viva, ou seja, da
subjetividade que envolve os agentes. E isso representa mais uma quebra de
paradigma uma vez que nega a viso cartesiana de separao do corpo da mente.
com este pensamento que as teorias do controle motor evoluram e chegaram as atuais
teorias da ao dinmica e ecolgica
Para uma melhor compreenso da complexidade no controle motor e avanar
num aspecto pouco abordado pela teoria da ao dinmica e mais amplamente pela
teoria ecolgica necessrio entender a relao do corpo e da mente em especial no
estudo da conscincia.
Corpo, mente e conscinciaPor mais que as teorias tenham modificado, uma questo sempre motivou os
pesquisadores: a relao entre o corpo e a mente. Segundo Capra (2002), o avano
decisivo da concepo sistmica da vida foi o abandono da viso cartesiana da mente
como uma coisa e ter percebido que mente e conscincia so processos.
Uma das teorias que surgiram a partir desta viso sistmica foi difundida na
dcada de 70 pelos bilogos Humberto Maturana e Franscisco Varela e conhecida
como a teoria da cognio de Santiago. A idia central desta teoria reconhecer que a
cognio um processo essencial da vida. As interaes de um organismo vivo com
seu ambiente so interaes cognitivas. Assim a cognio envolve todos os processos
da vida, percepo, emoo, aprendizado, comportamento e por assim ser tambm o
movimento humano.
Sendo o organismo humano um sistema aberto e autopoitico ele est sujeito a
influencia ambiental e como resultado desta interao est submetido a constantes
mudanas que refletem no desenvolvimento do homem. Um exemplo claro o sistema
nervoso do homem.
A estrutura do sistema nervoso supra segmentar tem em sua caracterstica a
neuroplasticidade que pode ser entendida como a capacidade que os neurnios
possuem de assumir novas funes a partir do uso e reuso de estmulos adequados a
uma tarefa. Isto fica evidente nos casos de leso cerebral como, por exemplo, um
trauma crnio-enceflico. Durante o processo de reabilitao, verifica-se uma mudana
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estrutural para observar uma mudana funcional, uma vez que, a funo motora
pertencente a rea de tecido cerebral morta pode ser substituda por uma nova rea,
mesmo que esta nunca tenha sido usada para tal. Esta capacidade (neuroplasticidade)
ocorre na dependncia de estmulos e do treinamento adequados destas funes
perdidas ( ARRIBAS et al, 2006).
O grande fator estimulante que favorece a neuroplasticidade parece ser mesmo
o inter-relacionamento do indivduo com o seu ambiente. Porem h que se ver que os
sistemas vivos so autnomos. O ambiente s faz desencadear as mudanas
estruturais, no as especifica nem as dirige. Isto porque, segundo Maturana e Varela,
(1987), a interao de um sistema vivo com seu ambiente responde a um padro no-
linear e assim o resultado imprevisvel. No caso de treinamento de tarefas em um
paciente com leso cerebral por mais que o terapeuta busque uma resposta em
especial ele deve estar ciente que o resultado pode ser o mais diverso possvel, uma
vez que como foi visto esta resposta est de acordo com a dinmica no-linear e
dependente da natureza comportamental do individuo.
A teoria ecolgica do controle motor interessante por levar em considerao o
fator ambiental e a percepo individual na aquisio e controle do movimento. Ao
reconhecer que o organismo vivo responde s influencias ambientais com mudanas
estruturais que iro refletir no seu comportamento, percebe-se que o treinamento de
reabilitao deve ser o mais motivador possvel e as tarefas a serem prescritas devem
fazer parte do cotidiano do paciente. Isto fica claro quando Capra, (2002), afirma que o
sistema que se liga ao ambiente atravs de um vnculo estrutural um sistema que
aprende. As mudanas contnuas so seguidas de adaptaes, aprendizados e
desenvolvimentos tambm contnuos, o que uma caracterstica dos seres vivos.
Para Maturana e Varela, (1987) nenhum sistema vivo pode ser controlado, s
pode ser perturbado. Os sistemas vivos no especificam somente as mudanas
estruturais; especificam tambm quais so as perturbaes do ambiente que podem
desencade-las. Ou seja, reside ao sistema vivo a capacidade de filtrar os tipos de
perturbaes e assim ter a liberdade de aceitar que tipo de perturbao do seu
interesse. E assim a teoria ecolgica ao envolver a dicotomia o ambiente-percepo
define estmulos, no caso perturbaes que normalmente fazem parte da vida diria do
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paciente. Por isto, as aquisies de tarefas durante o treinamento de pacientes
lesionados devem englobar justamente as tarefas que fazem parte do ambiente natural
do indivduo, pois assim tornam-se mais fceis de ser percebidas e reprogramadas pelo
paciente.
Assim as idias da teoria da cognio de Santiago se complementam com a
teoria ecolgica do controle motor, pois da mesma forma so uma ciso com a viso
cartesiana ao fornecer uma viso mais holstica, alm disso, a teoria da cognio de
Santiago fornece subsdios para compreenso da complexidade no controle motor ao
entender que a resposta ao um estimulo est de acordo com o padro no-linear, ou
seja o estmulo ou perturbao pode ser ou no aceito pelo individuo e da mesma
forma o resultado pode ser aquele esperado ao no. Alm disso, fica evidente que a
mente um processo de cognio do viver e o crebro a estrutura na qual se d este
processo. Desta forma a relao da mente com o crebro uma relao entre processo
e estrutura. E a conscincia emerge como fator atribudo a esta relao.
Importncia da conscincia no controle motorPara entender a importncia da conscincia no controle motor necessrio estar
ciente da dinmica no-linear que envolve os sistemas complexos e assim levar em
considerao a subjetividade e os resultados imprevisveis dos relacionamentos entre
os agentes. Para tal, Capra em 2002 fez uma reviso das escolas de estudo da
conscincia:
1.Neurorreducionista: definio dada por Fransico Varela por reduzir a conscincia a
mecanismos nervosos. O comportamento definido pela relao das clulas nervosas
e das molculas.
2.Funcionalista: a mais popular entre estudiosos da cognio, afirma que os estados
mentais so definidos pela organizao funcional, descritos por padres de relaes
causais no sistema nervoso. E ao levar em considerao estes padres est diante da
dinmica no-linear dos sistemas complexos.
3.Misterianos: escola menos conhecida que define a conscincia como um mistrio
profundo o qual o homem jamais ir compreender. Por mais que se compreenda a
estrutura cerebral, isto no permitir condies do entendimento da experincia
consciente.
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4.Neurofenomenologista: difundida por Francisco Varela uma escola que vem
crescendo e faz uso da teoria da complexidade e das experincias subjetivas contidas
nos relatos de caso em primeira pessoa e assim procura compreender de que maneira
as experincias subjetivas surgem espontaneamente a partir de atividades neurais
complexas.
Aprofundando os conhecimentos preconizados pela escola
neurofenomenologista, entendemos que o estudo do controle motor deve compreender
o estudo da cognio e as atividades neurais complexas devem envolver as
experincias subjetivas consciente.
ResultadosA experincia consciente se baseia num conjunto especfico de clulas que
envolve muitas atividades neuronais diferentes, associadas percepo sensorial, s
emoes, memria, aos movimentos corporais, etc. As experincias subjetivas ao
estarem ligadas aos movimentos corporais devem ser um campo de ateno para o
entendimento do controle motor humano. Para tal, as bases cientficas das escolas
Funcionalista e Neurofenomenologista servem de primeiro entendimento uma vez que
estas entendem que a conscincia um processo cognitivo que surge
espontaneamente a partir da atividade neural complexa em especial a ultima por estar
ligada a fenmenos subjetivos faz jus a a dinmica no-linear dos sistemas complexos.
(VARELA, 1996 apud CAPRA, 2002)
A fim de entender a complexidade desta atividade neural Capra, (2002), define
que os principais estudiosos foram Francisco Varela e mais recentemente Gerald
Edelman junto com Giulio Tononi.
Nestes estudos fica evidente que a experincia consciente no se localiza numa
parte especfica do crebro, nem pode ser relacionada a determinadas estruturas
neurais. Na verdade uma propriedade que surge espontaneamente de um processo
cognitivo particular (formao de aglomerados funcionais transitrios de neurnios)
Estes aglomerados seriam estruturas que se formam para descrever um padro que
define uma funo realizada pelo sistema nervoso.
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No caso do movimento humano ou ato motor este padro pode ser descrito
como uma seqncia de padres de excitaes neuronais que inicia com uma
motivao e planejamento do ato motor em reas especificas do crtex cerebral. Para
este planejamento so usadas informaes sensoriais internas (posio corporal) e
externas (distancia de agentes externos, topografia, luminosidade, etc.) em seguida o
movimento iniciado com as contraes musculares que produzem o movimento e a
tarefa funcional desejada, por exemplo, o caminhar. Aps inicio do movimento ocorre
uma constante avaliao pelo feedback sensorial que tambm so padres de ativao
neuronal que surgem a partir dos mesmos estmulos internos e externos que de forma
aferente se direcionam ao sistema nervoso central e so encaminhados ao encfalo
para serem comparados a padres aprendidos e armazenados no cerebelo que
influencia a rea motora determinando o controle da ao motora que est sendo
executada (LUNDY-EKMAN, 2004).
Com estas informaes possvel relacionar a tarefa que se deseja realizar ou
que est sendo executada com ambiente externo e assim ajustar a ao motora ao
planejamento feito ou ao movimento executado s exigncias do ambiente em que se
encontra.
CONCLUSOFrente a este padro percebe-se que o ato motor est relacionado a dois fatores
vistos neste estudo: ambiente e conscincia. E assim fica evidente que qualquer estudo
que deseje entender o movimento humano dever levar em considerao a dinmica
no-linear que envolve a relao complexa entre os sistemas vivos e seu ambiente, no
subestimando a experincia subjetiva, em especial a conscincia, essencial no controle
das atividades motoras ou em qualquer programa de reabilitao funcional.
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1 - Mestrando do programa EGC, Gesto do Conhecimento na UFSC.2 Prof. Dr. do programa Engenharia e Gesto do Conhecimento (EGC) na UFSC.
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