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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS INSTITUTO A VEZ DO MESTRE O Assédio Moral dentro do Ambiente de Trabalho Márcia Cristina dos Santos da Luz ORIENTADOR(A): PROFª: Adélia Maria Oliveira de Araújo BRASÍLIA NOVEMBRO / 2008

O Assédio Moral dentro do Ambiente de Trabalho - avm.edu.br · e relevância nas relações trabalhista da atualidade, o assédio moral não ficou limitado ao espaço organizacional

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

O Assédio Moral dentro do Ambiente de Trabalho

Márcia Cristina dos Santos da Luz

ORIENTADOR(A): PROFª: Adélia Maria Oliveira de Araújo

BRASÍLIA NOVEMBRO / 2008

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

O Assédio Moral dentro do Ambiente de Trabalho

Márcia Cristina dos Santos da Luz

Trabalho monográfico apresentado como requisito parcial para obtenção do Grau de Especialista em Gestão de Recursos Humanos

BRASÍLIA NOVEMBRO / 2008

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Primeiramente à Deus, por me

conceder a vida.

Agradeço às pessoas que, de alguma

forma, influenciaram positivamente, me

ajudando a prosseguir rumo a importante

etapa em minha evolução profissional.

Ao meu marido e meus familiares, que

me apoiaram e ajudaram em todos os

momentos dessa longa jornada.

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Dedico este trabalho à Deus,

pois só Ele é responsável por todas

as coisas realizadas em minha vida e

à minha mãe por toda sua força de

nunca desistir de seus ideais.

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RESUMO

A presente monografia apresenta o Assédio Moral dentro Ambiente de Trabalho. O trabalho tem por objetivo demonstrar o que realmente é o Assédio Moral dentro do Ambiente de Trabalho, apresentando os tipos de assédio, as causas e conseqüências que afetam a vida e saúde de um ser humano que sofre o Assédio Moral dentro do seu ambiente de trabalho. A pesquisa bibliográfica teve como característica o aprofundamento sistemático, sustentado com fontes, ampliando o conhecimento sobre o assunto, por meio de literatura específica, compreendendo e analisando o "por quê" de tantas desinformações, que revelam o desconhecimento sobre o assunto e o despreparo de profissionais que não sabem lidar com o assédio moral dentro do ambiente de trabalho , relacionando causa aos acontecimentos, bem como os fatos ocorridos que poderão esclarecer as dúvidas pendentes. O instrumento para a coleta de dado utilizado foi a documentação indireta (bibliográficos). Este estudo aponta como o as relações de trabalho vem mudando constantemente nos últimos anos, onde a solidariedade perde espaço para atitudes como o individualismo, a perversidade, a inveja, as perseguições e o clima de terror nas repartições de trabalho. E aí que surge o assédio moral que é conceituado como uma degradação deliberada das condições de trabalho em que prevalecem atitudes e condutas negativas dos chefes em relação a seus subordinados. Lutar contra o assédio moral é estar contribuindo com o exercício correto e pessoal de todas as liberdades fundamentais.

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METODOLOGIA Método de abordagem

O método de abordagem utilizado foi a investigação qualitativa, onde esta

passou a ser reconhecida em aspectos educativos, refletindo pontos comuns.

Na investigação qualitativa a fonte direta de dados é um ambiente natural,

constituindo o investigador, o instrumento principal e descritivo. Os

investigadores qualitativos interessam-se mais pelo processo do que

simplesmente pelos resultados ou produtos. Tendem analisar os seus dados de

forma indutiva, onde a observação é constatada a partir de casos concretos

suficientemente confirmadores da realidade, segundo (Bacon, Hobbes, Locke e

Hume) o conhecimento é fundamentado exclusivamente na experiência, sem

levar em consideração princípios preestabelecidos. Nesse método, parte-se da

observação de fatos ou fenômenos onde causas se desejam conhecer,

seguindo da procura de compará-las com a finalidade de descobrir as relações

existentes entre elas.

Tipo de pesquisa

A pesquisa foi a bibliográfica contendo dados descritivos, com plano

aberto e flexível, focalizando a realidade de forma complexa e contextualizada,

ampliando o conhecimento sobre o desenvolvimento do tema O Assédio Moral

dentro do Ambiente de Trabalho por meio de literatura específica. Compreende

e analisa o "por quê" de tantas desinformações, que revelam o

desconhecimento sobre o assunto e o despreparo de profissionais que não

sabem lidar com o assédio moral sofrido dentro do ambiente de trabalho,

relaciona a causa aos acontecimentos, bem como os fatos ocorridos que pode

esclarecer as dúvidas pendentes em relação a este estudo. Permite também

um aprofundmento mais intenso sobre o assunto e desenvolvimento das

atitudes do profissional por meio da análise prática.

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Técnica

A técnica utilizada foi a documentação indireta: através de

levantamentos de dados, por meio de materiais obtidos através da pesquisa

bibliográfica.

Instrumento

Fontes bibliográficas.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................... 9

CAPÍTULO I

ASSÉDIO MORAL : CONCEITOS E CARACTERÍSTICAS .............................12 1.1. Fases da humilhação no trabalho ..................................................... 14

CAPÍTULO II

LEI -- ASSÉDIO MORAL – BRASIL .............................................................. 17

CAPÍTULO III

ASSÉDIO MORAL: AGRESSORES E AGRESSÕES ..................................... 23

3.1. De onde vem e para onde vai .............................................................. 25

3.2. A explicitação do Assédio Moral .......................................................... 26

3.3. Alvos preferenciais ................................................................................ 26

3.4.Como identificar o Assédio Moral dentro do ambiente de trabalho ....... 27

3.5. Política de reafirmação da humilhação nas empresas ......................... 28

3.6. Frases discriminatórias freqüentemente utilizadas pelo agressor ........ 30

CAPÍTULO IV

OS EFEITOS DO ASSÉDIO MORAL .............................................................. 33

4.1. Sintomas do Assédio Moral na saúde ...................................................... 36

4.2. O que a vítima deve fazer? .......................................................................37

CONCLUSÃO ................................................................................................. 40

BIBLIOGRAFIA .............................................................................................. 42

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INTRODUÇÃO

A violência moral no trabalho não é fenômeno novo e pode-se dizer que

ela é tão antiga quanto o próprio trabalho. A perversão moral praticada, através

de atos de humilhações, deboches, abusos, hostilidades, pressão e desprezo,

por parte de um ofensor, a ponto de violar a dignidade da pessoa assediada. A

globalização e a conseqüente flexibilização das relações trabalhistas trouxeram

gravidade, generalização, intensificação e a banalização do fenômeno. Muito

mais do que isso, o novo está na abordagem que tenta estabelecer o assédio

como consequência da organização do trabalho e a não tratá-lo como inerente

ao trabalho.

No mundo moderno, surgiu a nova tônica nas relações de trabalho, o

individualismo exigindo do trabalhador um novo perfil: autônomo, flexível,

competitivo, criativo e qualificado. A problemática da desigualdade entre os

sujeitos, propiciando o freqüente desrespeito à dignidade do empregado, a

importância do meio ambiente sadio para o equilíbrio dessa relação, e, na

seqüência, trata o fenômeno do assédio moral nas relações de diversas

naturezas, sobretudo nas relações de emprego.

As pressões por produtividade e o distanciamento entre os órgãos

dirigentes e os trabalhadores de linha de produção resultam a impossibilidade

de uma comunicação direta, desumanizando o ambiente de trabalho, acirrando

a competitividade e dificultando a germinação do espírito de cooperação e

solidariedade entre os próprios trabalhadores. O trabalho centralizou suas

preocupações na relação de emprego embora, vez ou outra, faça a reverência

a outras modalidades de relação de trabalho, como por exemplo, no serviço

público, onde é encontrada a maioria das legislações regionais específicas, que

possuímos no Brasil.

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Esse fenômeno não é privilégio só dos países em desenvolvimento, ele

está presente no cenário mundial. Atinge homens e mulheres, altos executivos

e trabalhadores braçais e a iniciativa privada.

Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), em diversos

países desenvolvidos, as estatísticas apontam distúrbios mentais relacionados

com as condições de trabalho. É o caso da Finlândia, da Alemanha, do Reino

Unido, da Suécia e dos Estados Unidos, por exemplo.

A médica do trabalho Margarida Barreto, ao elaborar sua tese de

mestrado Jornada de Humilhações, concluída em 2000, ouviu 2.072 pessoas

de 97 empresas no Estado de São Paulo, das quais 42% declararam ter sofrido

repetitivas humilhações no trabalho.

No Brasil, a primeira lei a tratar desse assunto é de Iracenópolis, SP,

regulamentada em 2001. Atualmente, há diversos outros projetos em

tramitação nos legislativos municipais, estaduais e na esfera federal. A

dificuldade de um estudo aprofundado, em virtude da restrita literatura

disponível sobre esse tema, principalmente na área jurídica, além da escassez

de dispositivos legais e entendimentos jurisprudenciais é tamanha, uma vez

que inexiste no ordenamento jurídico brasileiro, com aplicações em todo

território nacional, uma norma específica que trate do fenômeno abordado, há

apenas algumas legislações esparsas regionais sobre a conduta analisada

que enseja a violação da dignidade do emprego, além de alguns projetos de lei,

todos, no âmbito da administração pública, os quais auxiliam o entendimento

do fenômeno. Segundo Regina Célia P. Rufino (2006) nos relata.

Serão apontadas algumas consequências do assédio tanto para o

empregado, quanto para a sociedade e para o empregador. O efeito do dano

moral e físico do emprego, o aumento da violência na sociedade e a queda da

produtividade da empresa. O antigo Código Civil (Lei nº 3.071 de 1º de janeiro

de 1916) fazia a previsão genérica acerca da responsabilidade civil pelos atos

ilícitos, conforme inteligência do art. 159, com redação dada pelo Decreto

Legislativo nº 3.725, de 15.1.1919), regulando-se pelo contido nos artigos

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1.518 e seguintes; enquento que o art. 1.516 estabelecia as bases da

responsabildiade de civil contratual. Já o novo Código civil (Lei nº 10.406, de 10

de janeiro de 2002), passou a dispor do tema, também genericamente, em

seus artigos 186 e 187, com regras especificadas nos artigos 927 e seguintes;

enquanto que o art. 389 passoiu a dispor sobre a responsabildiade civil

contratual. No entanto, segundo Jorge Luiz de Oliveira da Silva (2001), esse

código pretende discutir a dosimetria da indenização em razão da

responsabildiade civul atribuída ao assediador moral e suas extensões; visto

que estamos diante de uma prática que contamina sobremaneira as relações

de trabalho e de serviços em todo o mundo.

Assim a ética, aliada a um sistema de responsabilidades penal, civil e

administrativa (esta na hipótese de funcionários públicos), que venham dotar o

assédio moral de regras específicas, produziriam uma importante preteção

contra as agruras do fenômeno no ambiente de trabalho, evitando a sua

proliferação e cumprindo relevante missão social. Temos consciência de que a

solução dos problemas de assédio não está apenas nos dispositivos legais,

mas na conscientização tanto da vítima, que não sabe ainda diagnosticar o mal

que sofre, do agressor, que considera seu procedimento normal, e da própria

sociedade, que precisa ser despertada de sua indiferença e omissão.

A relevância deste estudo está vinculada ao esclarecimento do que seja

assédio moral para os empregados e para os empregadores, com suas

implicações na produtividade, nos resultados operacionais, na reputação da

imagem social da empresa e no clima organizacional.

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CAPÍTULO I

ASSÉDIO MORAL: CONCEITOS E CARACTERÍSTICAS

O assédio moral pode ser considerado como um abuso emocional no

local de trabalho, de forma maliciosa, sem conotação sexual ou racial, com o

fim de afastar o empregado das relações profissionais, por meio de boatos,

intimidações, humilhações, descrédito e isolamento. Diante da sua importância

e relevância nas relações trabalhista da atualidade, o assédio moral não ficou

limitado ao espaço organizacional e passou a ser tema de estudos em várias

áreas do conhecimento humano. É a exposição dos trabalhadores e

trabalhadoras a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e

prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções,

sendo mais comuns em relações hierárquicas autoritárias e assimétricas, em

que predominam condutas negativas, relações desumanas e sem éticas de

longa duração, de um ou mais chefes dirigida a um ou mais subordinado(s),

desestabilizando a relação da vítima com o ambiente de trabalho e a

organização, forçando-o a desistir do emprego.

O assédio moral, conforme HIRIGOYEN (2002), não se restringe a

casos pontuais, e sim a um comportamento permanente, comum, destrutivo,

distanciado daquele fato isolado –– discussão ou atrito –– que ocasionalmente

ocorre entre os indivíduos em uma organização, caracteriza-se pela

degradação deliberada das condições de trabalho em que prevalecem atitudes

e condutas negativas dos chefes em relação a seus subordinados, constituindo

uma experiência subjetiva que acarreta prejuízos práticos e emocionais para o

trabalhador e a organização. A vítima escolhida é isolada do grupo sem

explicações, passando a ser hostilizada, ridicularizada, inferiorizada,

culpabilizada e desacreditada diante dos pares. Estes, por medo do

desemprego e a vergonha de serem também humilhados associado ao

estímulo constante à competitividade, rompem os laços afetivos com a vítima e,

freqüentemente, reproduzem e reatualizam ações e atos do agressor no

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ambiente de trabalho, instaurando o pacto da tolerância e do silêncio no

coletivo, enquanto a vitima vai gradativamente se desestabilizando e

fragilizando, perdendo sua auto-estima.

Segundo o sueco Heinz Leymann, psicólogo do trabalho,

“Assédio Moral é a deliberada degradação das condições de trabalho, por meio do estabelecimento de comunicações anti-éticas (abusivas), que se caracterizam pela repetição por longo tempo de duração de um comportamento hostil que um superior ou colega(s) desenvolve(m) contra um indivíduo que apresenta, com reação, um quadro de miséria física, psicológica e social duradoura”.

O desabrochar do individualismo reafirma o perfil do novo trabalhador:

autônomo, flexível, capaz, competitivo, criativo, agressivo, qualificado e

empregável. Estas habilidades o qualificam para a demanda do mercado que

procura a excelência e saúde perfeita. Estar 'apto' significa responsabilizar os

trabalhadores pela formação/qualificação e culpabilizá-los pelo desemprego,

aumento da pobreza urbana e miséria, desfocando a realidade e impondo aos

trabalhadores um sofrimento perverso.

A humilhação repetitiva e de longa duração interfere na vida do

trabalhador e trabalhadora de modo direto, comprometendo sua identidade,

dignidade e relações afetivas e sociais, ocasionando graves danos à saúde

física e mental, que podem evoluir para a incapacidade laborativa, desemprego

ou mesmo a morte, constituindo um risco invisível, porém concreto, nas

relações e condições de trabalho.

A violência moral no trabalho constitui um fenômeno internacional

segundo levantamento recente da Organização Internacional do Trabalho (OIT)

com diversos paises desenvolvidos. A pesquisa aponta para distúrbios da

saúde mental relacionado com as condições de trabalho em países como

Finlândia, Alemanha, Reino Unido, Polônia e Estados Unidos. As perspectivas

são sombrias para as duas próximas décadas, pois segundo a OIT e

Organização Mundial da Saúde, estas serão as décadas do 'mal estar na

globalização, onde predominará depressões, angustias e outros danos

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psíquicos, relacionados com as novas políticas de gestão na organização de

trabalho e que estão vinculadas as políticas neoliberais.

Nem sempre a prática do assédio moral é de fácil comprovação,

porquanto, na maioria das vezes, ocorre de forma velada, dissimulada, visando

minar a auto-estima da vítima e a desestabilizá-la. Pode camuflar-se numa

"brincadeira" sobre o jeito de ser da vítima ou uma característica pessoal ou

familiar, ou ainda, sob a forma de insinuações humilhantes acerca de situações

compreendidas por todos, mas cuja sutileza torna impossível a defesa do

assediado, sob pena de ser visto como paranóico ou destemperado.

A intensificação do assédio pode levar ao isolamento da vítima, como

forma de autoproteção, o que, posteriormente, a faz ser considerada pelos

próprios colegas como anti-social e sem espírito de cooperação.

1.1. Fases da humilhação no trabalho

A humilhação no trabalho envolve os fenômenos vertical e horizontal.

O fenômeno vertical se caracteriza por relações autoritárias, desumanas

e aéticas, onde predomina os desmandos, a manipulação do medo, a

competitividade, os programas de qualidade total associado a produtividade.

Com a reestruturação e reorganização do trabalho, novas características foram

incorporadas à função: qualificação, polifuncionalidade, visão sistêmica do

processo produtivo, rotação das tarefas, autonomia e 'flexibilização'. Exige-se

dos trabalhadores/as maior escolaridade, competência, eficiência, espírito

competitivo, criatividade, qualificação, responsabilidade pela manutenção do

seu próprio emprego (empregabilidade) visando produzir mais a baixo custo.

A flexibilização inclui a agilidade das empresas diante do mercado,

agora globalizado, sem perder os conteúdos tradicionais e as regras das

relações industriais. Se para os empresários competir significa 'dobrar-se

elegantemente' ante as flutuações do mercado, com os trabalhadores não

acontece o mesmo, pois são obrigados a adaptar-se e aceitar as constantes

mudanças e novas exigências das políticas competitivas dos empregadores no

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mercado global. Na prática significa desregulamentação para os

trabalhadores/as, envolve a precarização, eliminação de postos de trabalho e

de direitos duramente conquistados, assimetria no contrato de trabalho, revisão

permanente dos salários em função da conjuntura, imposição de baixos

salários, jornadas prolongadas, trabalhar mais com menos pessoas,

terceirização dos riscos, eclosão de novas doenças, mortes, desemprego

massivo, informalidade, bicos e sub-empregos, dessindicalização, aumento da

pobreza urbana e viver com incertezas. A ordem hegemônica do neoliberalismo

abarca reestruturação produtiva, privatização acelerada, estado mínimo,

políticas fiscais etc. que sustentam o abuso de poder e manipulação do medo,

revelando a degradação deliberada das condições de trabalho.

O fenômeno horizontal está relacionado à pressão para produzir com

qualidade e baixo custo. O medo de perder o emprego e não voltar ao mercado

formal favorece a submissão e fortalecimento da tirania. O enraizamento e

disseminação do medo no ambiente de trabalho, reforça atos individualistas,

tolerância aos desmandos e práticas autoritárias no interior das empresas que

sustentam a 'cultura do contentamento geral'. Enquanto os adoecidos ocultam

a doença e trabalham com dores e sofrimentos, os sadios que não apresentam

dificuldades produtivas, mas que 'carregam' a incerteza de vir a tê-las,

mimetizam o discurso das chefias e passam a discriminar os 'improdutivos',

humilhando-os.

Esse conflito é horizontal, e acontece quando um colega agride,

moralmente, a outro e a chefia não intervém, recusando-se a tomar partido do

problema, só reagindo quando uma das partes interfere na cadeia produtiva da

empresa (quando falta seguidamente ao trabalho). O conflito tende a

recrudescer pela omissão da empresa em não intervir. Márcia Novaes Guedes

conceitua e caracteriza esse tipo de assédio da seguinte forma:

[...] a ação discriminatória é desencadeada pelos próprios colegas de idêntico grau na escala hierárquica. Os fatores responsáveis por esse tipo de perversão moral são a competição, a preferência pessoal do chefe, porventura gozada pela vítima, a inveja, o racismo, a xenofobia e motivos políticos. [...] a vítima pode ser golpeada tanto individual como coletivo (27).

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A competição sistemática entre os trabalhadores incentivada pela

empresa, provoca comportamentos agressivos e de indiferença ao sofrimento

do outro. A exploração de mulheres e homens no trabalho explicita a excessiva

freqüência de violência vivida no mundo do trabalho. A globalização da

economia provoca, ela mesma, na sociedade uma deriva feita de exclusão, de

desigualdades e de injustiças, que sustenta, por sua vez, um clima repleto de

agressividades, não somente no mundo do trabalho, mas socialmente. Este

fenômeno se caracteriza por algumas variáveis:

• Internalização, reprodução, reatualização e disseminação das práticas

agressivas nas relações entre os pares, gerando indiferença ao

sofrimento do outro e naturalização dos desmandos dos chefes.

• Dificuldade para enfrentar as agressões da organização do trabalho e

interagir em equipe.

• Rompimento dos laços afetivos entre os pares, relações afetivas frias e

endurecidas, aumento do individualismo e instauração do 'pacto do

silêncio' no coletivo.

• Comprometimento da saúde, da identidade e dignidade, podendo

culminar em morte.

• Sentimento de inutilidade e coisificação. Descontentamento e falta de

prazer no trabalho.

• Aumento do absenteísmo, diminuição da produtividade.

• Demissão forçada e desemprego.

A organização e condições de trabalho, assim como as relações entre os

trabalhadores condicionam em grande parte a qualidade da vida. O que

acontece dentro das empresas é, fundamental para a democracia e os direitos

humanos. Portanto, lutar contra o assédio moral no trabalho é estar

contribuindo com o exercício concreto e pessoal de todas as liberdades

fundamentais. É sempre positivo que associações, sindicatos, coletivos e

pessoas sensibilizadas individualmente intervenham para ajudar as vítimas e

para alertar sobre os danos a saúde deste tipo de assédio.

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CAPÍTULO II

LEI -- ASSÉDIO MORAL – BRASIL

No Brasil, ainda está em construção a legislação específica, que tipifique

Assédio Moral. Todavia, há leis municipais e até estadual, a exemplo do Estado

do Rio. Lá, desde agosto de 2002, há lei que coíbe assédio moral no serviço

público.

No Congresso Nacional tramitam uma série de projetos de leis que

dispõem sobre assédio ou coação moral. O mais recente deles é o PL 2369/03,

do deputado Mauro Passos, relatado pelo deputado Vicentinho (PT), como voto

pela aprovação, na Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público

da Câmara, em 28 de abril de 2005.

Enquanto não há lei específica, porém, na própria CLT – Consolidação

das Leis do Trabalho há dispositivos que permitem enquadrar processos de

assédio moral. Inclusive no diz respeito à saúde, relacionando suas

conseqüências como doença relacionada ao trabalho. No campo dos direitos

humanos e da cidadania, também, há possibilidades de proteção, via Código

Civil.

CÂMARA MUNICIPAL DE IRACEMÁPOLIS – SP

Lei nº 1163/2000, de 24 de abril de 2000.

"Dispõe sobre a aplicação de penalidades à prática de assédio moral nas dependências da Administração Pública Municipal Direta por servidores públicos municipais."

CLÁUDIO COSENZA, Prefeito Municipal de Iracemápolis, Estado de

São Paulo, no uso de suas atribuições legais. Faz saber que a Câmara

Municipal aprovou e ele sancionou e promulga a seguinte Lei:

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Artigo 1º - Ficam os servidores públicos municipais sujeitos às seguintes

penalidades administrativas na prática de assédio moral, nas

dependências do local de trabalho:

I - Advertência.

II - Suspensão, impondo-se ao funcionário a participação em curso de

comportamento profissional.

III - Demissão.

Parágrafo Único - Para fins do disposto nesta Lei, considera-se assédio moral

todo tipo de ação, gesto ou palavra que atinja, pela

repetição, a auto-estima e a segurança de um individuo,

fazendo-o duvidar de si e de sua competência, implicando

em dano ao ambiente de trabalho, à evolução da carreira

profissional ou à estabilidade do vínculo empregatício do

funcionário, tais como: marcar tarefas com prazos

impossíveis, passar alguém de uma área de

responsabilidade para funções triviais; tomar crédito de

idéias de outros; ignorar ou excluir um funcionário só se

dirigindo a ele através de terceiros; sonegar informações

de forma insistente; espalhar rumores maliciosos; criticar

com persistência; subestimar esforços.

Artigo 2º - Os procedimentos administrativos do disposto no artigo anterior

será iniciado por provocação da parte ofendida ou pela autoridade

que tiver conhecimento da infração funcional.

Parágrafo Único - Fica assegurado ao servidor o direito de ampla defesa das

acusações que lhe forem imputadas, sob pena de

nulidade.

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Artigo 3º - As penalidades a serem aplicadas serão decididas em processo

administrativo de forma progressiva, considerada a reincidência e

a gravidade da ação.

§ 1° - As penas de curso de aprimoramento profissional, suspensão e multa

deverão ser objeto de notificação por escrito ao servidor infrator;

§2º - A pena de suspensão poderá, quando houver conveniência para o

serviço, ser convertida em multa, sendo o funcionário, nesse caso,

obrigado a permanecer no exercício da função.

Artigo 4º - Esta Lei deverá ser regulamentada pelo Executivo no prazo de 60

(sessenta) dias.

Artigo 5º - As despesas decorrentes da execução orçamentária da presente

Lei correrão por conta das dotações orçamentárias próprias,

suplementadas se necessários.

Artigo 6º - Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as

disposições em contrário.

Iracemápolis, aos vinte e quatro dias do mês de abril do ano dois mil.

Cláudio Cosenza

Prefeitura Municipal

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DMTU/DF é condenado por assédio moral em ação movida pelo MPT

Brasilia - DF

Data: 07 de janeiro de 2004

Em Ação Civil Pública movida pelo Ministério Público do Trabalho no

Distrito Federal, o Tribunal Regional do Trabalho 10ª Região condenou o

Departamento Metropolitano de Transportes Urbanos do DF - DMTU/DF e o

gerente de relações comunitárias da empresa, Edmilson Santana da Boa

Morte, pela prática de assédio moral.

A empresa Ampla Construções e Serviços, que prestava serviços ao

DMTU, foi condenada por dano moral coletivo e, juntamente com os outros

envolvidos, terá de pagar indenização no valor de R$ 100 mil, reversível ao

Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).

A denúncia ao MPT foi feita por funcionárias de telemarketing que

prestavam serviços ao DMTU/DF por meio da Ampla. De acordo com elas, o

gerente de relações comunitárias, Edmilson Santana, responsável pelo

acompanhamento da execução do contrato, constrangia os empregados da

Ampla: dava-lhes ordens diretamente, ameaçava-os de demissão e interferia

nas escalas de serviço, agindo como chefe imediato, o que não é permitido em

casos de serviços terceirizados.

A ação, assinada pelos Procuradores Sebastião Vieira Caixeta, Joaquim

Rodrigues Nascimento e Maurício Correia de Mello, sustenta que "as

constantes humilhações, a exposição do trabalhador ao ridículo, a supervisão

excessiva, as críticas cegas, o empobrecimento das tarefas, a sonegação de

informações e as repetidas perseguições são notas características do assédio

moral, cuja prática está relacionada a uma relação de poder, como ocorre

também com o assédio sexual". Para os Membros do MPT, o fenômeno

deteriora, sensivelmente, o meio ambiente do trabalho, com repercussão na

produtividade e na ocorrência de acidentes.

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A segunda turma do TRT reconhece que "a mais importante obrigação

decorrente do contrato de trabalho é a de respeito incondicional à dignidade da

pessoa humana do trabalhador". De acordo com o acórdão emitido pelo TRT,

tal obrigação foi frontalmente violada pela conduta do gerente e tolerada tanto

pelo DMTU quanto pela Ampla, que dela teve notícia diversas vezes por meio

de correspondências enviadas pelo próprio gerente, recomendando a aplicação

de punição a seus empregados.

O DMTU e o gerente Edmilson Santana foram condenados a não

submeter empregados que estejam prestando serviços a qualquer

constrangimento moral decorrente de perseguições, ameaças, intimidações,

humilhações ou agressividade no trato pessoal. Em caso de descumprimento,

o TRT determina multa diária no valor de R$ 500 para o DMTU e de R$ 100

para o gerente, duplicada em caso de reincidência e quadruplicada para nova

reincidência. A Ampla não foi condenada por assédio moral considerando que

o contrato de prestação de serviços entre ela e o DMTU não está mais em

vigência.

O MPT argumentou que "as violações demonstradas atingiram direitos

humanos nos seus aspectos físico, psicológico e social, que não poderiam ficar

impunes, sob pena de incentivar os infratores". Segundo o acórdão, fica

"efetivamente configurado o dano moral coletivo, consistente em violações ao

ordenamento jurídico trabalhista".

Segundo O Jornal de Brasília, 18 de setembro de 2005, Manter a calma

e o equilíbrio em um ambiente de trabalho psicologicamente insalubre, onde o

profissional não se sente bem, exige grande preparação e treinamento. Mas se

esse ambiente não faz bem, por que insistir?

Uma declaração feita ao Jornal de Brasília relata a versão da servidora

pública Ruth Santos, 48 anos, tem resposta na ponta da língua. Há muitos

anos ela teve a sua primeira e única experiência neste assunto:

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“Sofri perseguições do chefe na empresa em que trabalhava e para resolver o problema, tive que mudar de setor. Recebia culpas indevidas e sobrecarga de trabalho. Era querida pelos colegas e o chefe chegou a me afastar deles”

O estresse sofrido foi tanto que ela foi parar no ambulatório da empresa

e recebeu 15 dias de licença médica. De toda esta má experiência vivida, a

então servidora pública tem certa da sua lição. Mudar de ambiente faz bem.

“Argumentaria meu afastamento da mesma forma. A diferença é que hoje toleraria bem menos. Mesmo com a vivência que tenho, viver num ambiente hostil me deixaria mal”. (Ruth)

Uma entrevista feita a Alessandro Santos de Miranda, procurador do

trabalho, relata os limites tênues do assédio moral. Ele diz que as pessoas que

sofrem humilhação ou hostilidade com freqüência no ambiente de trabalho – o

assédio moral – têm no Ministério Público do Trabalho um aliado. Na

Procuradoria Regional do Trabalho no Distrito Federal, o Núcleo do Direito da

Personalidade e de Combate à Discriminação vem trabalhando para

conscientizar as empresas brasilienses sobre essa conduta, além de cobrar

dos empregadores o tratamento correto aos empregados.

A luta contra o assédio moral, entretanto, não é tarefa simples. Esse tipo

de conduta não é crime e é difícil de ser comprovada, já que depende da vítima

provar que foi assediada. Outro problema é que muitos empregados nem

sabem que sofrem assédio moral. Outros, têm medo de tomar uma atitude e

perder o emprego. Assim, o número de denúncias que chega à Procuradoria

ainda é pequeno. Desde 2001, foram apenas 13. Fonte retirada do Jornal de

Brasília de 04 de agosto de 2005.

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CAPÍTULO III

ASSÉDIO MORAL: AGRESSORES E AGRESSÕES

Para SPECTOR (2003) é a abordagem orientada à pessoa que fornece

uma descrição dos atributos, das características, dos conhecimentos,

habilidades, aptidões e outras características pessoais necessárias para a

realização de um trabalho.

Numa organização as relações interpessoais são dinâmicas, ou seja,

com o cotidiano notadamente marcado por conflitos, atritos, falta de

entendimento entre as partes envolvidas, são comuns discussões entre chefes

e subalternos, entre colegas da mesma posição hierárquica ou mesmo entre

subalterno e seu superior. (AGUIAR, 2006)

A competição sistemática entre os trabalhadores incentivada pela empresa, provoca comportamentos agressivos e de indiferença ao sofrimento do outro. A exploração de mulheres e homens no trabalho explicita a excessiva freqüência de violência vivida no mundo do trabalho. A globalização da economia provoca, ela mesma, na sociedade uma deriva feita de exclusão, de desigualdades e de injustiças, que sustenta, por sua vez, um clima repleto de agressividades, não somente no mundo do trabalho, mas socialmente.

Segundo RUFINO (2006), é na subordinação que se encontra o poder

diretivo e disciplinar do empregador, o qual, geralmente, imita os métodos de

autoritarismo praticado pelos militares na época da ditadura, para com isso,

obter a relação de subordinação com seus empregados. O desenvolvimento da

conduta subordinável, que predomina na relação entre os funcionários de uma

empresa e seus representantes, é que retratará a condição do ambiente de

trabalho, o qual depende exclusivamente do exercício do poder diretivo

exercido.

Ainda segundo a autora, é na execução do poder disciplinar,

especialmente na ocorrência do abuso do poder do empregador e na mera

inoperância dos representantes da empresa, que, ao vislumbrarem a prática

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perversa entre trabalhadores de mesmo patamar hierárquico, se eximem da

responsabilidade de poder acabarem com o mal perverso.

Para HIRIGOYEN (2002), quando a hierarquia impõe a um grupo de

trabalhadores objetivos dificilmente alcançáveis, pode ocorrer a tentação de

excluir do grupo os menos produtivos. Quando uma direção deseja livrar-se de

um empregado, contenta-se por vezes em sugerir ao grupo que ele é

indesejável. Os colegas, por espírito de obediência ou por medo, afastam-se

dele, isolam-no e, passam a assediá-lo.

O agressor possui uma personalidade narcisista ou seja, nutre por si

próprio um sentimento de grandeza, exagerando sua própria importância, tem

excessiva necessidade de ser admirado e aprovado, é arrogante, egocêntrico,

evita qualquer afeto, acha que todas as coisas lhe são devidas. Critica todos

que o cercam mas não admite ser questionado ou censurado. Está sempre

pronto a apontar as falhas. É insensível, não sofre, não tem escrúpulos,

explora, e não tem empatia pelos outros. É invejoso e ávido de poder. Para o

agressor o outro é apenas “útil” e não merece respeito. (ZIMMERMANN, 2002)

A omissão do empregador pode potencializar a existência do assédio, fazendo com que as testemunhas da prática constante cheguem a perder seus referenciais e deixem de sentir repulsa, passando a tolerar e a banalizar as práticas vexatórias. (RUFINO, 2006)

• Escolher a vítima e isolar do grupo.

• Impedir de se expressar e não explicar o porquê.

• Fragilizar, ridicularizar, inferiorizar, menosprezar em frente aos pares.

• Culpabilizar/responsabilizar publicamente, podendo os comentários de

sua incapacidade invadir, inclusive, o espaço familiar.

• Desestabilizar emocional e profissionalmente. A vítima gradativamente

vai perdendo simultaneamente sua autoconfiança e o interesse pelo

trabalho.

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• Destruir a vítima (desencadeamento ou agravamento de doenças pré-

existentes). A destruição da vítima engloba vigilância acentuada e

constante. A vítima se isola da família e amigos, passando muitas vezes

a usar drogas, principalmente o álcool.

• Livrar-se da vítima que são forçados/as a pedir demissão ou são

demitidos/as, freqüentemente, por insubordinação.

• Impor ao coletivo sua autoridade para aumentar a produtividade.

3.1. De onde vem e para onde vai

Vem das relações de trabalho globalizadas, onde o individualismo

reafirma o perfil do “novo” trabalhador:

v Autônomo

v Flexível

v Capaz,

v Criativo,

v Competitivo,

v Criativo,

v Agressivo,

v Qualificado e Empregável.

Estas habilidades o qualificam para a demanda do mercado, que

procura a excelência e a saúde perfeita, traduzidas numa espécie de vale-tudo.

E o mercado transfere para o trabalhador a responsabilidades de estar apto ou

a culpa pelo próprio desemprego, pela pobreza urbana e pela miséria.

Vai para a humilhação repetitiva e prolongada interferindo diretamente

na vida do trabalhador e da trabalhadora, comprometendo sua identidade, sua

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dignidade, suas relações afetivas e sociais. Causando graves danos à saúde

física e mental, danos que podem evoluir para a incapacidade de trabalho, para

o desemprego ou até mesmo para a morte.

3.2. A Explicitação do Assédio Moral:

Gestos, condutas abusivas e constrangedoras, humilhar repetidamente,

inferiorizar, amedrontar, menosprezar ou desprezar, ironizar, difamar,

ridicularizar, risinhos, suspiros, piadas jocosas relacionadas ao sexo, ser

indiferente à presença do/a outro/a, estigmatizar os/as adoecidos/as pelo e

para o trabalho, colocá-los/as em situações vexatórias, falar baixinho acerca da

pessoa, olhar e não ver ou ignorar sua presença, rir daquele/a que apresenta

dificuldades, não cumprimentar, sugerir que peçam demissão, dar tarefas sem

sentido ou que jamais serão utilizadas ou mesmo irão para o lixo, dar tarefas

através de terceiros ou colocar em sua mesa sem avisar, controlar o tempo de

idas ao banheiro, tornar público algo íntimo do/a subordinado/a, não explicar a

causa da perseguição, difamar, ridicularizar.

3.3. Alvos Preferenciais

A mulher é o alvo preferencial, mas o homem não está livre do assédio,

particularmente se for homossexual ou possuir algum tipo de limitação física ou

de saúde.

As mulheres: muitas vezes o assédio moral é precedido de negativa ao

assédio sexual, mas não necessariamente. O(a) agressor(a) estabelece os

controles diversificados que visam intimidar, submeter, proibir a fala, interditar a

fisiologia, controlando tempo e freqüência de permanência nos banheiros.

Relaciona atestados médicos e faltas a suspensão de cestas básicas ou

promoções.

O Assédio acontece mais com as mulheres pois, hoje em dia elas representam 50% da força de trabalho no Sistema Financeiro Nacional, o salário em geral é de 20% menor do que os homens. (SEGNINI, Liliana. UNICAMP. Revista Trabalho em Debate. 09/2002)

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Com os homens: atingem a virilidade, preferencialmente.

3.4. Como identificar o assédio moral dentro do ambiente de trabalho

É no cotidiano do ambiente de trabalho que o assédio moral se

corporifica. Alguns comportamentos típicos do(a) agressor(a) fornecem a senha

para o processo de assédio moral.

• Começar sempre reunião amedrontando quanto ao desemprego ou

ameaçar constantemente com a demissão.

• Subir em mesa e chamar a todos de incompetentes.

• Repetir a mesma ordem para realizar uma tarefa simples centenas de

vezes até desestabilizar emocionalmente o trabalhador ou dar ordens

confusas e contraditórias.

• Sobrecarregar de trabalho ou impedir a continuidade do trabalho,

negando informações.

• Desmoralizar publicamente, afirmando que tudo está errado ou elogiar,

mas afirmar que seu trabalho é desnecessário à empresa ou instituição.

• Rir a distância e em pequeno grupo; conversar baixinho, suspirar e

executar gestos direcionado-os ao trabalhador.

• Não cumprimentar e impedir os colegas de almoçarem, cumprimentarem

ou conversarem com a vítima, mesmo que a conversa esteja

relacionada à tarefa. Querer saber o que estavam conversando ou

ameaçar quando há colegas próximos conversando.

• Ignorar a presença do/a trabalhador/a.

• Desviar da função ou retirar material necessário à execução da tarefa,

impedindo o trabalho.

• Exigir que se faça horários fora da jornada. Ser trocado/a de turno, sem

ter sido avisado/a.

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• Mandar executar tarefas acima ou abaixo do conhecimento do

trabalhador.

• Voltar de férias e ser demitido/a ou ser desligado/a por telefone ou

telegrama em férias.

• Hostilizar, não promover ou premiar colega mais novo/a e recém-

chegado/a à empresa e com menos experiência, como forma de

desqualificar o trabalho realizado.

• Espalhar entre os colegas que o/a trabalhador/a está com problemas

nervoso.

• Sugerir que peça demissão, por sua saúde.

• Divulgar boatos sobre sua moral.

3.5. Política de reafirmação da humilhação nas empresas

a) com todos os trabalhadores

• Estimular a competitividade e individualismo, discriminando por sexo:

cursos de aperfeiçoamento e promoção realizado preferencialmente

para os homens.

• Discriminação de salários segundo sexo.

• Passar lista na empresa para que os trabalhadores/as se

comprometam a não procurar o Sindicato ou mesmo ameaçar os

sindicalizados.

• Impedir que as grávidas sentem durante a jornada ou que façam

consultas de pré-natal fora da empresa.

• Fazer reunião com todas as mulheres do setor administrativo e

produtivo, exigindo que não engravidem, evitando prejuízos a

produção.

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• Impedir de usar o telefone em casos de urgência ou não comunicar

aos trabalhadores/as os telefonemas urgentes de seus familiares.

• Impedir de tomar cafezinho ou reduzir horário de refeições para 15

minutos. Refeições realizadas no maquinário ou bancadas.

• Desvio de função: mandar limpar banheiro, fazer cafezinho, limpar

posto de trabalho, pintar casa de chefe nos finais de semana.

• Receber advertência em conseqüência de atestado médico ou por que

reclamou direitos.

b) discriminação aos adoecidos e acidentados que retornam ao trabalho

• Ter outra pessoa no posto de trabalho ou função.

• Colocar em local sem nenhuma tarefa e não dar tarefa. Ser colocado/a

sentado/a olhando os outros trabalhar, separados por parede de vidro

daqueles que trabalham.

• Não fornecer ou retirar todos os instrumentos de trabalho.

• Isolar os adoecidos em salas denominadas dos 'compatíveis'.

Estimular a discriminação entre os sadios e adoecidos, chamando-os

pejorativamente de 'podres, fracos, incompetentes, incapazes'.

• Diminuir salários quando retornam ao trabalho.

• Demitir após a estabilidade legal.

• Ser impedido de andar pela empresa.

• Telefonar para a casa do funcionário e comunicar à sua família que ele

ou ela não quer trabalhar.

• Controlar as idas a médicos, questionar acerca do falado em outro

espaço. Impedir que procurem médicos fora da empresa.

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• Desaparecer com os atestados. Exigir o Código Internacional de

Doenças - CID - no atestado como forma de controle.

• Colocar guarda controlando entrada e saída e revisando as mulheres.

• Não permitir que conversem com antigos colegas dentro da empresa.

• Colocar um colega controlando o outro colega, disseminando a

vigilância e desconfiança.

• Dificultar a entregar de documentos necessários à concretização da

perícia médica pelo INSS.

• Omitir doenças e acidentes.

• Demitir os adoecidos ou acidentados do trabalho.

3.6. Frases discriminatórias freqüentemente utilizadas pelo agressor

• Você é mesmo difícil... Não consegue aprender as coisas mais

simples! Até uma criança faz isso... e só você não consegue!

• É melhor você desistir! É muito difícil e isso é pra quem tem garra!!

Não é para gente como você!

• Não quer trabalhar... fique em casa! Lugar de doente é em casa! Quer

ficar folgando... descansando.... de férias pra dormir até mais tarde....

• A empresa não é lugar para doente. Aqui você só atrapalha!

• Se você não quer trabalhar... por que não dá o lugar pra outro?

• Teu filho vai colocar comida em sua casa? Não pode sair! Escolha: ou

trabalho ou toma conta do filho!

• Lugar de doente é no hospital... Aqui é pra trabalhar.

• Ou você trabalha ou você vai a médico. É pegar ou largar... não

preciso de funcionário indeciso como você!

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• Pessoas como você... Está cheio aí fora!

• Você é mole... frouxo... Se você não tem capacidade para trabalhar...

Então porque não fica em casa? Vá pra casa lavar roupa!

• Não posso ficar com você! A empresa precisa de quem dá produção! E

você só atrapalha!

• Reconheço que foi acidente... mas você tem de continuar trabalhando!

Você não pode ir a médico! O que interessa é a produção!

• É melhor você pedir demissão... Você está doente... está indo muito a

médicos!

• Para que você foi a médico? Que frescura é essa? Tá com frescura?

Se quiser ir pra casa de dia... tem de trabalhar à noite!

• Se não pode pegar peso... dizem piadinhas "Ah... tá muito bom para

você! Trabalhar até às duas e ir para casa. Eu também quero essa

doença!"

• Não existe lugar aqui pra quem não quer trabalhar!

• Se você ficar pedindo saída eu vou ter de transferir você de empresa...

de posto de trabalho... de horário...

• Seu trabalho é ótimo, maravilhoso... mas a empresa neste momento

não precisa de você!

• Como você pode ter um currículo tão extenso e não consegue fazer

essa coisa tão simples?

• Você me enganou com seu currículo... Não sabe fazer metade do que

colocou no papel.

• Vou ter de arranjar alguém que tenha uma memória boa, pra trabalhar

comigo, porque você... Esquece tudo!

• A empresa não precisa de incompetente igual a você!

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• Ela faz confusão com tudo... É muito encrenqueira! É histérica! É mal

casada! Não dormiu bem... é falta de ferro!

• Vamos ver que brigou com o marido!

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CAPÍTULO IV

OS EFEITOS DO ASSÉDIO MORAL

Para SPECTOR (2003), a satisfação no trabalho é uma variável de

atitude que reflete como uma pessoa se sente com relação ao trabalho de

forma geral e em vários aspectos, ou seja, satisfação no trabalho é o quanto as

pessoas gostam de seu trabalho. O comprometimento no trabalho pode ser o

afetivo, o contínuo e o normativo, e se refere à ligação dos funcionários com a

organização, tendo forte correlação com a satisfação no trabalho.

As pessoas podem desempenhar bem o seu trabalho apenas se tiverem

a motivação e as habilidades necessárias para tal. As práticas organizacionais

e as condições de trabalho podem aprimorar essas habilidades ou servir como

limitações que interferem no desempenho no trabalho.

A satisfação no trabalho tem sido apresentada como a causa de

importantes realizações das organizações e dos funcionários, do desempenho

no trabalho à saúde e longevidade.

Para HIRIGOYEN (2002) é necessário que se tenha consciência de que

certas pessoas pouco motivadas por seu trabalho se sentem assediadas

sempre que alguém as adverte na tentativa de as estimular. É normal que uma

chefia tente motivar seus subordinados, mas ela não deve confundir motivação

com exploração. O importante é que os atuais gestores aprendam a transmitir

suas mensagens de um modo respeitoso e levando em conta a personalidade

do empregado.

O estilo administrativo de nossas organizações, com a originalidade que

lhe é peculiar, contém elementos culturais que denunciam o porquê do assédio

moral nas relações de trabalho, ou seja, a desumanização das relações de

trabalho ainda está impregnada dos valores organizacionais brasileiros: o grito

forte do senhor de engenho ainda retumba no portão da fábrica. (AGUIAR,

2006)

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O conjunto de ações e omissões que impulsionam o assédio moral, sempre com instrumentalização “homeopática”, aos poucos vai minando a resistência da vítima, fazendo nascer múltiplos sentimentos negativos que são descarregados em seu corpo, provocando reações patológicas físicas e psíquicas que possuem a potencialidade de destruição do corpo e da alma. (SILVA, 2005)

A humilhação constitui um risco invisível, porém concreto nas relações

de trabalho e a saúde dos trabalhadores e trabalhadoras, revelando uma das

formas mais poderosa de violência sutil nas relações organizacionais, sendo

mais freqüente com as mulheres e adoecidos. Sua reposição se realiza

'invisivelmente' nas práticas perversas e arrogantes das relações autoritárias

na empresa e sociedade. A humilhação repetitiva e prolongada tornou-se

prática costumeira no interior das empresas, onde predomina o menosprezo e

indiferença pelo sofrimento dos trabalhadores/as, que mesmo adoecidos/as,

continuam trabalhando.

Freqüentemente os trabalhadores/as adoecidos são

responsabilizados/as pela queda da produção, acidentes e doenças,

desqualificação profissional, demissão e conseqüente desemprego. São

atitudes como estas que reforçam o medo individual ao mesmo tempo em que

aumenta a submissão coletiva construída e alicerçada no medo. Por medo,

passam a produzir acima de suas forças, ocultando suas queixas e evitando,

simultaneamente, serem humilhados/as e demitidos/as.

Os laços afetivos que permitem a resistência, a troca de informações e

comunicações entre colegas, se tornam 'alvo preferencial' de controle das

chefias se 'alguém' do grupo, transgride a norma instituída. A violência no

intramuros se concretiza em intimidações, difamações, ironias e

constrangimento do 'transgressor' diante de todos, como forma de impor

controle e manter a ordem.

Em muitas sociedades, ridicularizar ou ironizar crianças constitui uma

forma eficaz de controle, pois ser alvo de ironias entre os amigos é devastador

e simultaneamente depressivo. Neste sentido, as ironias mostram-se mais

eficazes que o próprio castigo. O/A trabalhador/a humilhado/a ou

constrangido/a passa a vivenciar depressão, angustia, distúrbios do sono,

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conflitos internos e sentimentos confusos que reafirmam o sentimento de

fracasso e inutilidade.

As emoções são constitutivas de nosso ser, independente do sexo.

Entretanto a manifestação dos sentimentos e emoções nas situações de

humilhação e constrangimentos são diferenciadas segundo o sexo: enquanto

as mulheres são mais humilhadas e expressam sua indignação com choro,

tristeza, ressentimentos e mágoas, estranhando o ambiente ao qual identificava

como seu, os homens sentem-se revoltados, indignados, desonrados, com

raiva, traídos e têm vontade de vingar-se. Sentem-se envergonhados diante da

mulher e dos filhos, sobressaindo o sentimento de inutilidade, fracasso e baixa

auto-estima. Isolam-se da família, evitam contar o acontecido aos amigos,

passando a vivenciar sentimentos de irritabilidade, vazio, revolta e fracasso.

Passam a conviver com depressão, palpitações, tremores, distúrbios do

sono, hipertensão, distúrbios digestivos, dores generalizadas, alteração da

libido e pensamentos ou tentativas de suicídios que configuram um cotidiano

sofrido. É este sofrimento imposto nas relações de trabalho que revela o

adoecer, pois o que adoece as pessoas é viver uma vida que não desejam, não

escolheram e não suportam.

A saúde de um indivíduo depende do equilíbrio no bem-estar biológico,

psicológico e social, razão pela qual, na ocorrência de um desequilíbrio

propiciado pelos citados estímulos, certamente afetará o bem-estar da pessoa

humana. Com isso, desenvolve-se o stress, considerado como uma tensão

vivida diante de uma situação desconhecida de risco ou desafio. (RUFINO,

2006)

No atual sistema moderno organizacional das empresas, os

trabalhadores, freqüentemente são submetidos a situações e ambientes de

stress, com cobranças e pressões a todo momento, a fim de que produzam

mais e, em pouco tempo, deixando com isso, refletir um total menosprezo à

saúde e aos direitos fundamentais do profissional.

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4.1. Sintomas do Assédio Moral na saúde

A vítima assediada moralmente, acaba por reduzir sua capacidade de

trabalho, gerando prejuízos em seu patrimônio, à medida em que as agressões

passam a fazer parte de seu cotidiano, passando a repercutir em sua saúde

física e mental e, conseqüentemente nas oportunidades de gerar ganhos em

razão do trabalho. (SILVA, 2005)

Não é só a saúde da vítima de assédio moral que é atingida, a saúde da

empresa também é afetada de forma a prejudicar o desenvolvimento dos

negócios e a capacidade de trabalho de seus integrantes.

O assédio moral no ambiente de trabalho, atinge a auto-estima do

trabalhador e, muitas vezes, de seus pares, impulsionando a falta de

motivação, doenças, problemas de relacionamento e aumento de acidentes de

trabalho, o que passa a prejudicar sensivelmente as metas a serem alcançadas

em termos de produção e a imagem da empresa. (SILVA, 2005)

Entrevistas realizadas com 870 homens e mulheres vítimas de opressão

no ambiente profissional revelam como cada sexo reage a essa situação (em

porcentagem)

Sintomas Mulheres Homens

Crises de choro 100 -

Dores generalizadas 80 80

Palpitações, tremores 80 40

Sentimento de inutilidade 72 40

Insônia ou sonolência excessiva 69,6 63,6

Depressão 60 70

Diminuição da libido 60 15

Sede de vingança 50 100

Aumento da pressão arterial 40 51,6

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Dor de cabeça 40 33,2

Distúrbios digestivos 40 15

Tonturas 22,3 3,2

Idéia de suicídio 16,2 100

Falta de apetite 13,6 2,1

Falta de ar 10 30

Passa a beber 5 63

Tentativa de suicídio - 18,3

Fonte: Barreto, M. Uma Jornada de Humilhações. 2000 PUC/SP

4.2. O que a vítima deve fazer?

• Resistir: anotar com detalhes toda as humilhações sofrida (dia, mês,

ano, hora, local ou setor, nome do agressor, colegas que

testemunharam, conteúdo da conversa e o que mais você achar

necessário).

• Dar visibilidade, procurando a ajuda dos colegas, principalmente

daqueles que testemunharam o fato ou que já sofreram humilhações do

agressor.

• Organizar. O apoio é fundamental dentro e fora da empresa.

• Evitar conversar com o agressor, sem testemunhas. Ir sempre com

colega de trabalho ou representante sindical.

• Exigir por escrito, explicações do ato agressor e permanecer com cópia

da carta enviada ao D.P. ou R.H e da eventual resposta do agressor. Se

possível mandar sua carta registrada, por correio, guardando o recibo.

• Procurar seu sindicato e relatar o acontecido para diretores e outras

instancias como: médicos ou advogados do sindicato assim como:

Ministério Público, Justiça do Trabalho, Comissão de Direitos Humanos

e Conselho Regional de Medicina .

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• Recorrer ao Centro de Referência em Saúde dos Trabalhadores e contar

a humilhação sofrida ao médico, assistente social ou psicólogo.

• Buscar apoio junto a familiares, amigos e colegas, pois o afeto e a

solidariedade são fundamentais para recuperação da auto-estima,

dignidade, identidade e cidadania.

A política de recursos humanos da empresa deve pôr em pratica a

conscientização dos empregados, num trabalho que deve envolver todos os

níveis hierárquicos da empresa, conscientizando-os, também, sobre a

existência do problema, sua considerável freqüência e a possibilidade dessa

prática ser evitada.

Ainda como política de recursos humanos, recomenda-se a composição

de uma equipe multidisciplinar de representante da empresa, Comitê Interno de

Previsão de Acidentes (Cipa), médico do trabalho, psicólogo, assistente social,

advogado trabalhista, representante do sindicato e acompanhamento da

Delegacia Regional do Trabalho (DRT), para :

“avaliar os fatores psicossociais, identificar e determinar os problemas, admitir a existência desses problemas, definir a violência moral, informar e sensibilizar o conjunto dos funcionários acerca dos danos e agravos à saúde, em conseqüência do assédio moral, informando ao empregador dos custos para a empresa; elaborar política de relações humanas e éticas em atos; difundir o resultado das práticas preventivas para o conjunto dos trabalhadores”.

Para informar e conscientizar os trabalhadores, é recomendável a

realização de eventos, tais como seminários, palestras, dinâmicas de grupo,

etc., em que haja troca de experiências e a discussão aberta do problema em

todos os seus aspectos, inclusive as formas como ele se exterioriza, as

responsabilidades envolvidas e os riscos que dele derivam para a saúde, sem

esquecer a importância de postura solidária dos colegas, em relação ao

assediado.

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Faz-se também necessária a adoção de um código de ética, que vise ao

combate de todas as formas de discriminação e de assédio moral e sexual.

Outra medida é a difusão do respeito à dignidade e à cidadania, inserida na

política de recursos humanos, que se exige dos empregados.

Ressalte-se, entretanto, que de nada adiantam a conscientização dos

trabalhadores ou o estabelecimento de regras éticas ou disciplinares, se não

forem criados, na empresa, espaços de confiança, para que as vítimas possam

dar vazão às suas queixas.

Tais espaços podem ser representados pelos Ouvidores ou pelos

comitês formados nas empresas, especialmente indicados para receberem

denúncias sobre intimidações e constrangimentos, garantindo-se sempre o

sigilo das informações, ou ainda, por meio de caixas postais, para que as

vítimas depositem, anonimamente, suas denúncias.

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CONCLUSÃO

Conforme conceitos apresentados, conclui-se que o assédio moral é

caracterizado pela permanência e intencionalidade da conduta, não se

confundindo com uma contenda esporádica no ambiente de trabalho. Não

devemos rotular um gerente de personalidade exigente, meticulosa – que exige

excelência no trabalho ou um determinado comportamento profissional – como

agressor, porquanto sua conduta insere-se nas prerrogativas de seu poder

diretivo e disciplinar.

O assédio moral, como fenômeno social de tempos antigos, mas de

reconhecimento recente, deve ser analisado com cautela, no tocante à sua

caracterização jurídica. É necessário que se comprove a natureza psicológica

do dano causado pelo assédio moral, provocado por uma conduta prolongada

no tempo e que tenha ocasionado o desencadeamento de uma doença

psíquico-emocional, constatada por meio de avaliação médica ou psicológica

capaz de verificar o dano e o nexo causal relacionado ao meio ambiente do

trabalho.

Alguns países já possuem normatização trabalhista específica, para

coibir o assédio moral no ambiente laboral, o que não se verifica no Brasil,

havendo apenas alguns projetos de lei federal em andamento.

A violência do assédio moral entre os elementos de uma organização,

reduz a produtividade e resulta na doença de trabalho, entretanto o papel

exercido pela má chefia não atinge somente a saúde de seus subordinados,

mas alcança também a saúde das organizações, ou seja, a empresa perde na

contabilização final dos resultados, principalmente em virtude dos ônus das

indenizações por danos morais.

A empresa moderna deve centrar suas estruturas em uma administração

voltada para a satisfação dos interesses de sua clientela, ou seja, o segredo do

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sucesso de uma empresa ou mesmo da Administração Pública, está centrado

na política voltada para os recursos humanos. Um funcionário satisfeito produz

com mais eficiência e qualidade, enquanto que um funcionário desmotivado,

insatisfeito, apresentará um rendimento burocrático, abaixo do desejado,

fazendo com que isso passe a repercutir na produtividade da empresa ou do

órgão a qual pertence.

As estatísticas nacionais e mundiais revelam a oportunidade da

discussão sobre a necessidade de se preservar a saúde mental dos

trabalhadores, um dos valores inerentes à própria dignidade da pessoa

humana, princípio sobre o qual se fundamentam os ordenamentos

democráticos modernos.

As consequências do empregado que é assediado são de diversas

naturezas, recaindo sobre sua saúde, suas relações interpessoais e sociais,

seus direitos personalíssimos, especialmente, a dignidade, e sobre a própria

vida. Porém, os efeitos danosos do fenômeno, também recaem sobre o

empregador, com a queda de produtividade, aumento dos gastos com a

aceleração dos riscos de acidentes do trabalho, alta rotatividade, além de

outros que comprometem o avanço tecnológico e econômico da empresa, e do

país.

A melhor forma de amenizar e evitar a ocorrência do assédio moral é a

prevenção, adotando-se medidas que prezam a qualidade de vida do

empregado dentro e fora da empresa e que seja mantido o ambiente de

trabalho sadio e produtivo em face da satisfação dos trabalhadores,

preservando a boa saúde, a vida, e acima de tudo, a dignidade do empregado.

É certo que o assédio moral é um mal que não pode ser erradicado, pois

é próprio da sociedade atual e moderna, competitiva e discriminadora. No

entanto, ele pode ser contido, pode ser penalizado, possibilitando à vítima a

justa reparação de todo mal que sustentou. É este o objetivo deste trabalho,

que ele possa colaborar para tornar o mundo das relações de trabalho e

serviços mais justo.

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