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2 CENTRO UNIVERSITÁRIO FMU CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA O MÉDICO VETERINÁRIO E AS PRINCIPAIS ENFERMIDADES DOS PEIXES ORNAMENTAIS LEONARDO ULISSES TOLEDO DO CARMO SÃO PAULO 2009

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CENTRO UNIVERSITÁRIO FMU

CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

O MÉDICO VETERINÁRIO E AS PRINCIPAIS ENFERMIDADES DOS

PEIXES ORNAMENTAIS

LEONARDO ULISSES TOLEDO DO CARMO

SÃO PAULO

2009

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LEONARDO ULISSES TOLEDO DO CARMO

O MÉDICO VETERINÁRIO E AS PRINCIPAIS ENFERMIDADES DOS

PEIXES ORNAMENTAIS

Trabalho de Conclusão de Curso realizado

durante o 10º semestre do curso de Medicina

Veterinária sobre orientação do professor

Dr. Carlos Augusto Donini

SÃO PAULO

2009

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CARMO, L.U.T.

O médico veterinário e as principais enfermidades dos peixes

ornamentais / Leonardo Ulisses Toledo do Carmo. – São Paulo

Centro Universitário FMU, 2009. p.38; 07

Notas:

1.Peixes ornamentais. I. Leonardo Ulisses Toledo do Carmo. II. O

médico veterinário e as principais enfermidades dos peixes

ornamentais

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LEONARDO ULISSES TOLEDO DO CARMO

O MÉDICO VETERINÁRIO E AS PRINCIPAIS ENFERMIDADES DOS

PEIXES ORNAMENTAIS

Trabalho de Conclusão de Curso realizado

durante o 10º semestre do curso de Medicina

Veterinária sobre orientação do professor

Dr. Carlos Augusto Donini

___________________________________________________

Prof. Dr. Carlos Augusto Donini

FMU – Orientador

___________________________________________________

Prof. Dra. Tamara Leite Cortez

1º avaliador

___________________________________________________

Dr. Cleber Rogério Ferreira

2º avaliador

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Dedico esse estudo à meus pais, que em meio

de tantas adversidades, sempre me apoiaram e

acreditaram no meu potencial

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço à Deus pó ter me dado saúde, oportunidade, inteligência e

capacidade para alcançar mais essa vitória em minha vida. Agradeço também a toda minha

família que em todos os momentos estiveram ao meu lado, me motivando e estimulando à

alcançar essa conquista, em especial ao meu avô Alfeu (in memorian) que sempre acreditou

nisso, à minha prima Juliana que sempre me ajudou muito, me apoiando e me auxiliando nas

dificuldade, à minha namorada Carla que me apoiou durante todo curso

Agradeço à todos os amigos que estiveram ao meu lado, em especial à Fernanda

Fozzati e o Rodolfo Lozano que fizeram parte dessa minha caminhada, ao Dr. Cleber Rogério

Ferreira que é um grande amigo e que sempre me ajudou nas horas em que mais precisei

Agradeço à todos os meus professores que tiveram a sensibilidade e a compreensão

de entender todas as dificuldades que enfrentei ao longo do curso e pelo conhecimento

transmitido que contribuiu para minha formação profissional.

Foi uma estrada longa que com o apoio de todos percorri chegando ao final,

iniciando uma nova jornada.

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“O segredo do sucesso na vida é estar pronto

para a oportunidade quando ela surgir”

Benjamin Disraeli

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RESUMO

CARMO, L.U.T. O MÉDICO VETERINÁRIO E AS PRINCIPAIS ENFERMIDADES DOS

PEIXES ORNAMENTAIS. p. 38, 2009

Os peixes são animais vertebrados, aquáticos, tipicamente ectotérmicos, possuem o corpo

fusiforme e seus membros transformados em barbatanas ou nadadeiras que são sustentadads

por ossos ou cartilagens e utilizam as brânquias para efetuarem as troca gasosas. São animais

dependentes de um ambiente estável e equilibrado, sendo que as enfermidades emergentes na

maioria das vezes são decorrentes de fatores externos. Algumas doenças são retratadas com

muita seriedade, como é o caso da Viremia Primaveril das Carpas que é de alta

transmissibilidade e alem de acometer os peixes ornamentais, também pode atingir a criação

comercial destinada a alimentação, trazendo grandes perdas econômicas. Com isso o médico

veterinário deve sempre buscar soluções para proteger os plantéis criando programas através

da biosseguridade.

Palavras chave: Peixes Ornamentais. Viremia Primaveril das Carpas. Biosseguridade

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ABSTRACT

CARMO, L.U.T. THE VETERINARIAN AND THE MAIN DISEASES OF

ORMAMENTAL FISH p. 38, 2009

Fish are vertebrates, aquatic, typically ectothermic, have a fusiform body and its members

transformed into fins or flippers are sustentadads of bone or cartilage, and use gills for gas to

effect the exchange. Animals are dependent on a stable and balanced, and the emerging

diseases in most cases are caused by external factors. Some diseases are portrayed very

seriously, as is the case with Spring viraemia of carp that is of high transmissibility and

beyond to tackle the ornamental fish, can also achieve the commercial for food, bringing great

economic losses. With this, the veterinarian should always be looking for solutions to protect

the herds creating programs through biosecurity.

Keywords: Fish. Spring viraemia of Carp. Biosecurity

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 Hidropsia hemorrágica ..................................................................... 19

FIGURA 2 Carassius Auratus com escamas eriçadas e hidropsia....................... 21

FIGURA 3 Presença de hemorragia nos órgãos internos..................................... 22

FIGURA 4 Visualização do Argulus sp. em visão dorso ventral......................... 24

FIGURA 5 Visualização do Argulus sp. Em visão ventro dorsal........................ 24

FIGURA 6 Carassius Auratus com infestação de argulose.................................. 25

FIGURA 7 Imagem da Lernea sp. fêmea adulta.................................................. 28

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................ 11

2 O ESTRESSE E O PEIXE.............................................................................. 13

2.1 Conceito de estresse aplicado ao aquarismo.................................................. 13

2.2 Resposta fisiológica de adaptação.................................................................. 13

2.3 Resposta comportamental de adaptação....................................................... 14

2.4 Conseqüências da condição de estresse......................................................... 14

2.5 SAG - Síndrome da Adaptação Geral............................................................ 14

2.5.1 SAG – Reação de Alarme.................................................................................. 15

2.5.2 SAG – Fase de Resistência................................................................................ 15

2.5.3 SAG – Fase de Exaustão.................................................................................... 16

2.6 Agentes desencadeantes do estresse em peixes.............................................. 16

2.6.1 Agentes físicos................................................................................................... 16

2.6.2 Agentes químicos............................................................................................... 17

2.6.3 Agentes biológicos............................................................................................. 17

3 ASPECTOS DESCRITIVOS DAS PRINCIPAIS DOENÇAS QUE

ACOMETEM OS PEIXES ORNAMENTAIS..............................................

18

3.1 Viremia primaveril das carpas....................................................................... 18

3.1.1 Sinais Clínicos................................................................................................... 18

3.1.2 Transmissão....................................................................................................... 19

3.1.3 Diagnóstico presuntivo...................................................................................... 19

3.1.4 Diagnóstico confirmativo.................................................................................. 20

3.1.5 Tratamento......................................................................................................... 20

3.2 Infecção Bacteriana......................................................................................... 20

3.2.1 Septicemias hemorrágicas.................................................................................. 20

3.2.2 Sinais clínicos.................................................................................................... 21

3.2.3 Diagnóstico presuntivo...................................................................................... 22

3.2.4 Diagnóstico confirmativo.................................................................................. 22

3.2.5 Tratamento......................................................................................................... 23

3.3 Argulose............................................................................................................ 23

3.3.1 Ciclo de vida...................................................................................................... 25

3.3.2 Sinais clínicos.................................................................................................... 25

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3.3.3 Diagnóstico........................................................................................................ 26

3.3.4 Prevenção........................................................................................................... 26

3.3.5 Tratamento......................................................................................................... 26

3.4 Lerneose............................................................................................................ 27

3.4.1 Ciclo de vida...................................................................................................... 28

3.4.2 Sinais clínicos.................................................................................................... 29

3.4.3 Diagnóstico....................................................................................................... 29

3.4.4 Prevenção........................................................................................................... 29

3.4.5 Tratamento......................................................................................................... 30

3.5 Ictiofitíriase (Ictio)........................................................................................... 30

3.5.1 Ciclo de vida...................................................................................................... 30

3.5.2 Sinais clínicos.................................................................................................... 31

3.5.2.1 Nível 1 de infestação.......................................................................................... 31

3.5.2.2 Nível 2 de infestação.......................................................................................... 32

3.5.2.3 Nível 3 de infestação.......................................................................................... 32

3.5.3 Diagnóstico........................................................................................................ 32

3.5.4 Prevenção........................................................................................................... 33

3.5.5 Tratamento......................................................................................................... 33

4 OCORRÊNCIA DAS PRINCIPAIS DOENÇAS DE PEIXES

ORNAMENTAIS EM LOJAS DE AQUÁRIO.............................................

34

5 BIOSSEGURIDADE....................................................................................... 35

5.1 Conceito............................................................................................................ 35

5.2 Proposta de aplicação...................................................................................... 35

6 CONCLUSÃO 37

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1 INTRODUÇÃO

Os peixes são animais vertebrados, aquáticos, tipicamente ectotérmicos, que possuem

o corpo fusiforme, os membros transformados em barbatanas ou nadadeiras sustentadas por

raios ósseos ou cartilaginosos, as guelras ou brânquias com que respiram o oxigénio

dissolvido na água (embora os dipnóicos usem pulmões) e, na sua maior parte, o corpo

coberto de escamas. (TETRA, 2004)

A história da criação de peixes é muito antiga. No Egito, já se criava a Tilápia do Nilo

(Oreochromis niloticus), em 2500 AC. Em algumas cidades, o peixe era tido como animal

sagrado protegido pela deusa Hatmehyt (mulher peixe). Na China, o primeiro tratado de

criação de carpas data de 475 ac. Em Roma, na época dos imperadores, elas já eram usadas

como ornamentação, e as moréias para diversão: os condenados eram jogados para esses

peixes, conhecidos por sua agressividade. A piscicultura ornamental comercial começou na

China no início do século XII com a criação de carpas coloridas em pequenos lagos. Elas

eram vistas com profundo respeito devido ao seu grande significado espiritual. As carpas

foram selecionadas com o objetivo de variar ou realçar alguma cor ou o formato da cabeça,

dos olhos ou do corpo, dando origem ao que hoje chamamos de king, ou peixe dourado ou

japonês (Carassius auratus) (VIEIRA, 2007).

Atualmente, a ictiologia é uma ciência muito estudada e conhecida. Seu precursor no

Brasil foi Shigueiti Takase que chegou do Japão em 1926 trazendo alguns peixes da região

asiática, mas, foi a partir da década de 70 que a piscicultura passou a ser difundida no País.

Hoje, em razão de suas dimensões, de seus climas e da existência de espécies nativas, o Brasil

é um dos maiores produtores e exportadores de peixes ornamentais do mundo. Somente o

neon cardinal (Hyphessobrycon innesi) responde por 70% das exportações.

Em aquários, os peixes ornamentais podem ser usados como terapia, já que, além de

embelezarem o ambiente, acalmam, distraem e eliminam o estresse. Cuidados básicos e

equipamentos simples podem garantir um aquário em perfeita harmonia, com peixes

saudáveis e felizes. (VIEIRA, 2007)

Os aquários são diferenciados por duas formas. O aquário marinho que podemos

montá-lo de diversas formas como: peixes, corais, invertebrados ou ambos, sempre

preservando as características de cada espécie e região e o aquário de água doce, que podemos

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montá-lo de acordo com as características do hábitat desejado formando verdadeiros biótopos

mantendo as características naturais de cada espécie nele encontrada. (SERA, 2002)

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2 O ESTRESSE E O PEIXE

2.1 Conceito de estresse aplicado ao aquarismo

Estresse é um estado fisiológico, ou comportamental produzido por fatores físicos,

químicos e biológicos que ocasionam uma resposta de adaptação do peixe ornamental. Pode

ser utilizado como exemplo de uma condição de estresse um aquário tropical de água doce

com temperatura de água ao redor de 18°C. Nestas condições de temperatura os peixes

tropicais são obrigados a realizar uma resposta de adaptação a esta condição adversa

(temperatura da água de 18° C) (TETRA, 1996)

2.2 Resposta fisiológica de adaptação

Os peixes são animais pecilotérmicos, ou mais corretamente ectotérmicos. Isto

significa que regulam a temperatura do corpo de acordo com a temperatura da água. Numa

temperatura de 18°C peixes tropicais apresentam uma grande diminuição do metabolismo do

organismo. Como são oriundos de ambientes onde as temperaturas de água ficam entre 26 a

28°C, esta queda do metabolismo e a baixa temperatura não são bem tolerados pelos peixes.

(TETRA, 1996)

2.3 Resposta comportamental de adaptação

Uma resposta comportamental muitas vezes sucede uma alteração fisiológica. Como o

metabolismo dos peixes baixa sob estas condições de água fria eles não irão se alimentar, nem

se locomover com tanta energia como fariam em águas mais quentes. É comum as nadadeiras

ficarem mais fechadas e os peixes irem para o fundo do aquário, ou tanque. (TETRA, 1996)

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2.4 Conseqüências da condição de estresse

As conseqüências diretas são as mortalidades pelo frio, ou indiretas ao predispor que

alguns agentes patogênicos sejam beneficiados pelo fato dos peixes estarem debilitados pelo

frio. Um surto de ictiofitiríase (ictio, ou doença dos pontos brancos) seria um dos agentes

patogênicos mais prováveis de acometer peixes nestas condições, por exemplo. O estresse

está relacionado negativamente ao bem estar animal. (TETRA, 1996)

2.5 Síndrome da Adaptação Geral

A SAG (Síndrome da Adaptação Geral) é um modelo que caracteriza as alterações

fisiológicas e comportamentais dos peixes frente a uma condição adversa. Esta condição

adversa é nada mais nada menos que um fator ou agente desencadeante de estresse. A SAG

consiste em três fases: reação de alarme, fase de resistência e fase de exaustão.

(UTTON, 1972)

2.5.1 Reação de alarme

A reação de alarme é o primeiro estágio da Adaptação Geral e ocorre a partir do

primeiro contato com o estímulo estressor. É bastante fugaz e caracterizada pelas primeiras

alterações fisiológicas e comportamentais nos peixes. Uma mudança brusca de ambiente

(diferença acentuada de parâmetros de qualidade de água) captura embalagem e transporte

dos peixes já são suficientes para desencadear esta reação de alarme. A Reação de Alarme

consiste numa resposta endócrina muito rápida. Esta resposta endócrina entende-se pela

liberação de substâncias denominadas de catecolaminas, como a adrenalina e a noradrenalina

liberadas por células muito especializadas existentes na porção anterior dos rins dos peixes. A

liberação de adrenalina é uma reposta essencial, graças a este mecanismo da reação de alarme

diversos animais garantem sua sobrevivência. A adrenalina é essencial em situações onde as

presas precisam fugir de seus predadores, ou quando há uma situação de perigo qualquer. A

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adrenalina promove uma série de alterações fisiológicas, entre elas, o aumento das contrações

do coração e conseqüentemente um aumento no aporte de sangue para os músculos tornando-

os suficientemente capazes de realizar exercícios bruscos e de alta intensidade. Os benefícios

da liberação da adrenalina não terminam por aqui... Nos peixes a adrenalina promove também

uma dilatação das veias existentes nas brânquias e com isso há uma melhor eficiência das

trocas gasosas entre O2 e CO2. Assim está garantido mais oxigênio para ser consumido pelo

peixe, justamente num momento onde ele mais precisa. A fisiologia do estresse torna-se cada

vez mais interessante à medida que vamos conciliando a teoria com a prática. Basta observar

um peixe quando iremos capturá-lo com uma rede, ou ainda quando colocamos este mesmo

peixe abruptamente num novo aquário. A primeira reação é uma respiração ofegante e logo a

seguir tornam-se pálidos sem a coloração característica que possuíam segundos atrás. Isto é a

reação de alarme mediada pelo efeito da adrenalina e noradrenalina. (VEVERS, 1982)

2.5.2 Fase de resistência

A fase de resistência ocorre logo a seguir da reação de alarme. É uma fase de maior

duração, ao contrário da reação de alarme. A Fase de resistência é marcada por alterações

fisiológicas secundárias. Está intimamente relacionada com a Reação de alarme, uma vez que

é conseqüência da liberação demasiada de adrenalina e noradrenalina. Uma reação de alarme

exacerbada faz com que outra substância seja liberada pelo organismo dos peixes. Esta

substância é denominada de cortisol. O cortisol liberado é uma substância caracterizada por

causar imunodepressão. É um hormônio que nas concentrações adequadas gera benefícios, no

entanto quando em excesso debilita o peixe e compromete as defesas imunitárias. A fase de

resistência é essencial para que os peixes suportem condições adversas e se adaptem a ela a

um nível que garanta sua sobrevivência. Durante esta fase de resistência as alterações

metabólicas acontecem para tentar manter o equilíbrio do peixe com o ambiente em que ele se

encontra. A resistência do peixe frente a uma situação de estresse está relacionada à

quantidade de cortisol e o tempo que este exerce seu efeito sobre o organismo. Isto está

também relacionado à duração e a intensidade do estímulo estressor. (VEVERS, 1982)

2.5.3 Fase de exaustão

A fase de exaustão é o último estágio da Síndrome da Adaptação Geral (SAG). É

marcada, principalmente, pelas falhas de todos os mecanismos de adaptação dos peixes. Há

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um esgotamento do peixe estressado por sobrecarga fisiológica. Aqui passam a surgir as

doenças oportunistas, uma vez que o sistema imune do peixe está deprimido.

(VEVERS, 1982)

2.6 Agentes desencadeantes do estresse em peixes

2.6.1 Agentes físicos

Entre os agentes físicos desencadeantes de estresse temos a temperatura da água e o

transporte de peixes. Muitos destes fatores físicos estão associados a práticas de manejo que o

homem realiza de maneira inadequada. A manipulação excessiva e captura dos peixes com

redes/puçás seguida do transporte é um importante agente estressor que deve ser levado em

consideração. Peixes enfermos, ou já debilitados não suportam muito bem estas condições e

muitas vezes não sobrevivem. Medidas como adotar uma boa alimentação certificada com

proteína de alta qualidade e rico complexo vitamínico e mineral auxiliam na recuperação

destes peixes tornando-os mais resistentes a estas condições. Uma aclimatação eficiente

respeitando as condições de qualidade de água das espécies também tem um efeito positivo.

(VEVERS, 1982)

2.6.2 Agentes químicos

Entre os agentes químicos desencadeantes de estresse em peixes ornamentais temos a

água (amônia, nitritos, pH, etc.) como o principal fator desencadeante. É muito importante

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conhecer os níveis tolerados pelos peixes para não cometer erros. Diversos produtos químicos

podem tornar-se agentes desencadeantes de estresse. Medicamentos fabricados com matérias

primas de péssima qualidade e/ou formulados inadequadamente representam um aumento do

risco de causar estresse. Da mesma maneira superdosagens na hora de executar um tratamento

dificultam a recuperação dos peixes ao causarem intoxicações. (VEVERS, 1982)

2.6.3 Agentes biológicos

Um patógeno pode ser um agente estressor e também pode ser uma conseqüência do

estresse. Somente uma correta interpretação do diagnóstico de um caso clínico irá determinar

se o patógeno é um agente desencadeante do estresse, ou uma conseqüência da condição de

estresse. A distinção se um agente patogênico é um agente estressor, ou uma conseqüência da

condição de estresse é fundamental para executar um tratamento e solucionar o problema.

(VEVERS, 1982)

3 ASPECTOS DESCRITIVOS DAS PRINCIPAIS DOENÇAS QUE ACOMETEM OS

PEIXES ORNAMENTAIS

3.1 Viremia primaveril das carpas

A VPC atualmente é uma doença de notificação obrigatória ao Ministério da

Agricultura quando há sua suspeita e/ou diagnóstico. Este ministério está implantando o

PNSAA (Programa Nacional de Sanidade dos Animais Aquáticos) através de uma equipe de

Médicos Veterinários especializados em patologia de animais aquáticos. O PNSAA trata a

viremia primaveril das carpas com uma atenção especial, uma vez que representa um grande

perigo nos aspectos econômicos e sanitários das pisciculturas brasileiras. Os peixes

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ornamentais (Kinguios e Carpas coloridas) são susceptíveis a esta virose, portanto podem

contribuir para disseminação desta doença. (MABILIA, 2009)

3.1.1 Sinais Clínicos

A multiplicação do vírus ocorre no endotélio capilar e tecido renal ocasiona um

desbalanço iônico que causa ascite e é muitas vezes letal. Os peixes doentes respondem

menos a estímulos sensoriais, ficam com a natação irregular e a velocidade da resposta da

vesícula gasosa (bexiga natatória) reduz progressivamente. Pode ser observado escurecimento

da pele, abaulamento do ventre, exoftalmia (olhos saltados), petéquias hemorrágicas (manchas

vermelho vivo), palidez das brânquias, inchaço/avermelhamento e prolapso da região anal.

(SERA, 2002)

Figura 1 Hidropsia hemorrágica

Carmo, 2009

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3.1.2 Transmissão

A VPC é transmitida horizontalmente (de um peixe para o outro), pois o vírus é

eliminado nas fezes, urina e brânquias. Pode ocorrer também a transmissão vertical (Fêmeas

para sua prole), uma vez que se encontra o vírus nos fluidos ovarianos. Outra importante fonte

de transmissão da doença são por vetores como sanguessugas e argulus (piolho de peixe).

(SERA, 2002)

3.1.3 Diagnóstico presuntivo

Os sinais clínicos citados aliados a investigação do histórico do caso clínico

(anamnese) levam a um diagnóstico presuntivo. (SERA, 2002)

3.1.4 Diagnóstico confirmativo

O diagnóstico confirmativo é realizado através de exame laboratorial. (SERA, 2002)

3.1.5 Tratamento

o tratamento para VPC é sintomático e existem poucos medicamentos disponíveis no

mercado. Eventualmente deve-se associar antibióticos quando houver infecção bacteriana em

conjunto. Sempre que houver a presença de argulose deve-se eliminar primeiro o parasita. A

reversão do quadro de ascite é demorada e mesmo após a cura os peixes tornam-se portadores

da doença. Isso implica que podem adoecer novamente quando houver uma situação de

estresse, ou ainda transmitir a doença para peixes saudáveis que entrarem em contato com os

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portadores. O Tratamento preconizado é a associação de alguns fármacos como, Nifurpirinol,

Fenol, 1,3-dihidroxibenzol e etanol. ( Cyprinopur®) (SERA, 2002)

3.2 Infecção Bacteriana

3.2.1 Septicemias hemorrágicas

As septicemias hemorrágicas são infecções generalizadas com presença de

hemorragias que acometem os peixes. Existem diversas espécies de bactérias que causam

septicemias nos peixes ornamentais, entre elas, destacam-se as bactérias do gênero

Aeromonas e Pseudomonas. A Aeromonas hydrophila e a Pseudomonas fluorescens são

importantes espécies representantes destes gêneros. A ocorrência de doença causada por estas

bactérias são atribuídas inicialmente a fatores predisponentes que prejudicam o equilíbrio

entre o meio ambiente e os peixes. Por esta razão a Aeromonas e a Pseudomonas são ditas

bactérias oportunistas. Presentes no substrato de tanques e lagos, além do próprio trato

intestinal de peixes elas normalmente não causam doença. A presença de uma condição de

estresse é pré-requisito para que estas bactérias causem doença. (WALLIKER, 2000)

3.2.2 Sinais clínicos

Perda do apetite, dificuldade no nado, erosão e avermelhamento das nadadeiras,

surgimento de ulceras hemorrágicas na pele, ascite, presença de escamas eriçadas.

(WALLIKER, 2000)

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Figura 2 Ascite

Carmo, 2009

Figura 3 Hemorragia generalizada

Mabilia, 200

3.2.3 Diagnóstico presuntivo

É realizado na constatação dos sinais clínicos. (MABILA, 2009)

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3.2.4 Diagnóstico confirmativo

É realizado por Médico Veterinário especialista em patologia de peixes em

laboratorial mediante exame bacteriológico (cultivo e testes bioquímicos). (MABILIA, 2009)

3.2.5 Tratamento

O tratamento medicamentoso isoladamente não resolve o problema por completo. É

fundamental investigar o fator que causou o desequilíbrio entre o meio ambiente e o peixe. A

antibiótico terapia é essencial para controlar a infecção, no entanto deve-se realizar o

tratamento com muita responsabilidade para evitar a resistência bacteriana. Deve ser utilizado

o fármaco Nifurpirinol. (Baktopur Direct®) (SERA, 2002)

3.3 Argulose

A argulose é uma doença ectoparasitária que ocorre com certa freqüência em

pisciculturas ornamentais, principalmente na criação de kinguio e carpas. Causada pelo

Argulus sp. vulgarmente conhecido como piolho de peixe, a argulose já foi diagnosticada em

diversos lagos ornamentais. A sua ocorrência em lagos é muito maior do que em aquários.

A argulose acomete todas as espécies de peixes de água doce. Ciprinideos como carpas e

kinguios são peixes com uma notável predisposição. Espécies nativas como alguns carás,

joaninhas e traíras freqüentemente são encontrados em seus ambientes naturais apresentando

também este parasita. O Argulus sp. adulto apresenta entre 5 a 8mm podendo ser visualizado

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macroscopicamente (sem auxilio de lupa, ou microscópico). Isto facilita o diagnóstico e

triagem de peixes durante a comercialização. (WALLIKER, 2000)

Uma característica particular do Argulus é a modificação de sua segunda maxila em

duas estruturas circulares na porção ventral de seu corpo capaz de realizar sucção. Esta sucção

torna-se essencial para a fixação do parasita em seu hospedeiro. A sobrevivência do parasita

depende de sua habilidade em obter alimento. O Argulus alimenta-se de células da epiderme e

fluidos contendo células sanguíneas. Para isso possui uma estrutura em forma de estilete que

auxilia na desfoliação da pele e penetração para injetar uma toxina que impede a cicatrização

do local. O local de fixação é uma área que sofre irritação causando avermelhamento da pele.

As lesões nestes locais consistem em portas de entradas para infecções bacterianas.

(WALIKER, 2000)

Figura 4 Argulus SP. Vista dorsal

Sera, 2002

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Figura 5 Argulus SP. Vista ventral

Sera, 2002

3.3.1 Ciclo de vida

As áreas preferências de fixação da fêmea parasita são as regiões onde a pele é mais

tenra e possui menor quantidade de escamas. A nadadeira caudal e a região anterior-dorsal

são áreas que atendem estas condições. A duração do ciclo entre o desde o ovo e a forma

parasitária é de aproximadamente três a quatro semanas. O tempo de duração do ciclo varia de

acordo com a temperatura da água. Em geral, o parasitismo é detectado em temperaturas

acima de 18°C. A fêmea no momento da postura abandona o hospedeiro e nada a procura de

plantas aquáticas para depositar seus ovos. As larvas infectantes são capazes de nadar e

infectar novos peixes dando continuidade ao ciclo de vida. (WALLIKER, 2000)

3.3.2 Sinais clínicos

Os sinais clínicos incluem uma severa irritação cutânea com avermelhamento e

descamação nos locais de fixação dos parasitas. Infestações mais intensas apresentam

inclusive ulcerações na pele que podem ser seguidas de infecção fúngica, ou bacteriana.

(WALLIKER, 2000)

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Figura 6 Peixe parasitado pelo Argulus sp.

Carmo, 2009

3.3.3 Diagnóstico

O diagnóstico da argulose é realizado clinicamente pela simples visualização dos

parasitas adultos, ou laboratorialmente por um profissional para o caso de formas jovens que

não podem ser muito bem visualizadas no exame a olho nu. (WALLIKER, 2000)

3.3.4 Prevenção

A prevenção da argulose deve ser realizada desde o processo de criação dos peixes

nas pisciculturas. Ainda na criação uma orientação técnica capacitada pode elaborar um

programa sanitário de manejo preventivo para estas doenças ectoparasitárias. No comércio, os

lojistas devem observar muito bem os peixes que adquire. Os fornecedores de peixes

ornamentais, principalmente de kinguios e carpas coloridas devem fornecer garantias de que

seus peixes não contenham estes parasitas. Muito falada, mas pouco colocada em prática seria

a realização de quarentena para estes peixes. Ela é fundamental quando houver dúvidas sobre

a idoneidade dos fornecedores. Estas medidas devem contribuir para a melhoria da qualidade

dos peixes ornamentais comercializados. (MABILIA, 2009)

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3.3.5 Tratamento

O tratamento medicamentoso é indispensável mesmo com a remoção dos parasitas

adultos, pois as formas intermediárias do ciclo de vida estão presentes no meio ambiente. Em

lagos ornamentais esta situação é agravada quando existir uma grande quantidade de plantas

aquáticas, pois são locais onde as fêmeas depositam os ovos. O tratamento preconizado é a

associação de alguns fármacos como: Fenol, 1,3-dihidroxibenzol e etanol. (Cyprinopur®),

mas também deve ser utilizado um complexo vitamínico (SeraFishtamin®) na ração com a

finalidade de aumentar sua imunidade. (SERA, 2002)

3.4 Lerneose

A lernea, ou “verme âncora”, como é conhecida no Aquarismo, é uma doença muito

comum na piscicultura de corte, mas que tem alta ocorrência também em peixes ornamentais.

A Lernea é um importante ectoparasita que acomete a maioria das espécies de peixes, ou seja,

não tem especificidade pelo seu hospedeiro. É verdade que peixes de couro como os catfishes

e ciprinideos como as carpas koi e os kinguios são mais susceptíveis. Atualmente a Lernea

encontra-se disseminada por todo o país, sendo responsável por sérios prejuízos econômicos,

tanto para piscicultura de corte como de ornamento. Acredita-se inclusive que este parasita foi

introduzido no Brasil através da importação de carpas da Hungria. Encontrando as condições

favoráveis para o seu ciclo de vida disseminou-se rapidamente pelos rios, açudes e

pisciculturas do Brasil. Em lagos ornamentais são inúmeros os casos relatados de carpas

coloridas e kinguios infestados por este parasita. As infestações ocorrem, na maioria das

vezes, em épocas mais quentes do ano entre a primavera e o verão. Os aquaristas, ou

proprietários de lagos ornamentais costumam relatar a Lernea como pequenos filamentos, ou

fios aderidos na superfície do corpo dos peixes. A Lernea, ao contrário do que é divulgado

inadvertidamente, não é um verme. É um crustáceo. No Brasil muitos aquaristas acreditam

que seja um verme, porque vem da tradução em inglês para: “Anchor Worm”, verme âncora.

Facilmente visível a olho nu, tem o seu corpo alongado. Na porção anterior uma

âncora fixadora e na extremidade oposta dupla bolsa ovígera. A porção fixadora penetra na

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pele e musculatura do peixe causando lesões ulcerosas com pontos hemorrágicos e necrose da

pele. Esta lesão predispõe o peixe a infecções bacterianas secundarias. Os peixes acometidos

sofrem perda de peso e redução da taxa de crescimento. O quadro clínico é de maior

gravidade em espécies de peixes pequenas e alevinos. Os prejuízos a saúde dos peixes são

proporcionais a quantidade de parasitas fixados ao corpo. Condições especiais causam um

aumento na taxa de mortalidade. (SERA, 2002)

Figura 7 Lernea sp.

Sera, 2002

3.4.1 Ciclo de vida

apenas a fêmea adulta de lernea é parasita, sendo nesta fase hematófaga e por esta

razão causa anemia no peixe hospedeiro. A grande maioria dos peixes infestados por estágios

adultos de lernea (visível macroscopicamente) apresentaram também as formas infectantes

(copepoditos) na pele e, principalmente nas brânquias. Estes resultados alertam para cuidados

na aquisição de peixes ornamentais sem controle sanitário para lerneose.

O ciclo de vida da Lernea sp. é complexo, pois envolve uma série de formas intermediárias

que antecedem o estágio de adulto. A cópula e a fecundação ocorrem na água durante a fase

de vida livre do ciclo. Esta fecundação culmina com a morte do macho. A fêmea fecundada

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remanescente passa por um processo de metamorfose dando inicio a fase de vida parasitária.

A temperatura da água é um fator importante para a reprodução do parasita e início do

parasitismo. Temperaturas na faixa entre 18 a 25°C são ótimas para a perpetuação do ciclo de

vida. Desde da ovopostura da fêmea até o surgimento da forma infectante do ciclo de vida

pode transcorrer algo próximo de 7 dias. As fases de vida passam dos estágios de náuplios e

metanáuplios até copepoditos primário, secundário e copepodito infectante. A visualização

das primeiras vesículas na superfície do corpo do peixe logo após a fixação da fêmea pode

surgir a partir de 10 dias. A fêmea adulta fixada ao corpo pode levar entre 14 a 18 dias de

acordo com a temperatura da água. (THOMAS, 2000)

3.4.2 Sinais clínicos

Presença de lesões avermelhadas e ulcerosas, pontos hemorrágicos e necrose de pele

com áreas de difícil cicatrização (porta de entrada para bactérias oportunistas), perda de peso,

redução da taxa de crescimento, alta taxa de mortalidade quando ocorre em alevinos, anemia,

aspecto repugnante em infestações intensas. (THOMAS, 2000)

3.4.3 Diagnóstico

O diagnóstico de lerneose pode ser realizado macroscopicamente através da

visualização da fêmea adulta fixada no corpo do peixe. Um dos grandes problemas

relacionados ao diagnóstico da lerneose é a não visualização de sua forma infectante

imediatamente anterior ao estágio adulto. Os copepoditos infectantes, como são denominados,

só podem ser detectados através de exame parasitológico laboratorial executado por um

profissional. Assim peixes são comercializados com grande risco de serem portadores deste

parasita em suas formas intermediárias. Sem este controle, muitos kinguios e carpas koi são

comercializados e disseminam a lerneose para aquários, lagos ornamentais e tanques de

criação. (SERA, 2002)

3.4.4 Prevenção

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Pode ser adotado como medida preventiva, verificar a ausência de parasitas adultos no

corpo do peixe na hora de efetuar a compra. (SERA, 2002)

3.4.5 Tratamento

os tratamentos existentes para a lerneose são bastante eficazes, tanto para o combate

do parasita adulto como para os copepoditos. Deve ser feita a remoção manual dos parasitas

adultos com um auxílio de uma pinça. Esta remoção manual do parasita é muito importante,

porém devem-se administrar medicamentos com associação de fármacos como: Fenol, 1,3-

dihidroxibenzol e etanol (Cyprinopur®) e também deve ser utilizado um complexo vitamínico

(SeraFishtamin®) na ração com a finalidade de aumentar sua imunidade. (SERA, 2002)

3.5 Ictiofitíriase (Ictio)

A Ictiofitiríase, ou popularmente conhecida Ictio é uma doença causada por um

protozoário do gênero Ichthyophthirius. É considerada a doença parasitária em peixes de

maior ocorrência no mundo. As espécies tropicais, principalmente as amazônicas possuem

uma notável sensibilidade ao parasita. (WALLIKER, 2000)

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3.5.1 Ciclo de vida

ciclo de vida completo varia de acordo com a temperatura da água e dura

aproximadamente 5 a 7 dias. A transmissão do Ichthyophthirius sp. ocorre pelo contato direto

entre os peixes e a água. Os pontos brancos que observamos nos peixes são como pústulas

que alojam uma forma específica do ciclo de vida denominada de Trofozoítos. Após a ruptura

destas pústulas estes trofozoítos atingem o substrato do aquário, formam cistos e reproduzem-

se muito rapidamente. Estes cistos contém inúmeras formas jovens do parasita que possuem a

capacidade de nadar na água e atingir um novo hospedeiro. Este ciclo de vida simples e

dotado de grande rapidez para ser completado é responsável pela disseminação do

Ichthyophthirius sp. no aquário em poucas horas. (WALLIKER, 2000)

3.5.2 Sinais clínicos

O sinal clínico mais evidente é a presença de inúmeros pontos brancos entre 0,5 a 1

mm na pele e nadadeiras. Os sinais clínicos podem ser classificados em três níveis.

(BLANC, 1975)

3.5.2.1 Nível 1 de infestação

Os peixes começam a esfregar o corpo em superfícies como cascalho, pedras e

troncos, já se observam o aumento da mucosidade da pele e as nadadeiras começam a fechar e

tornam-se mais opacas. (BLANC, 1975)

3.5.2.2 Nível 2 de infestação

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Surgimento de pontos brancos na pele e nadadeiras, as nadadeiras ficam muito

fechadas, os peixes permanecem com severa irritação e esfregam-se nas superfícies com

muita freqüência, há perda de apetite. (BLANC, 1975)

3.5.2.3 Nível 3 de infestação

É o período mais crítico da infestação que antecede a morte caso o tratamento não seja

iniciado. Nesta fase os sinais apresentam-se com um índice de gravidade maior ocorrendo,

natação irregular e sinais de asfixia devido ao comprometimento das brânquias, locais com

edema (inchaço) e intenso desprendimento de muco, pontos brancos tomam conta da maior

parte do corpo do peixe e nesta fase o tratamento não é garantia de recuperação.

(BLANC, 1975)

3.5.3 Diagnóstico

O diagnóstico do ictio ocorre pela confirmação da presença dos trofozoítos através de

exame microscópico de brânquias, pele e nadadeiras. O Ichthyophthirius sp. caractariza-se por

ser um grande protozoário ciliado com a presença de um macronúcleo em forma de ferradura.

(MABILIA, 2009)

3.5.4 Prevenção

A prevenção do ictio está diretamente ligada ao estresse causado por dois agentes

desencadeantes (químico e físico), outro fator é observar o peixe na hora da compra,

verificando se ele não apresenta pontos brancos, nadadeiras fechadas e letargia e certificar-se

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que o ambiente montado para receber aquela determinada espécie apresente as mesmas

características do ambiente natural. (MABILIA, 2009)

3.5.5 Tratamento

O tratamento preconizado é a elevação da temperatura da água para 30 a 32°C em um

período de até sete dias. O desaparecimento dos pontos brancos pode ocorrer logo a partir das

primeiras horas progressivamente. Deve-se cuidar para não interromper este tratamento

térmico logo que a totalidade dos pontos brancos desapareça. Isto pode resultar no

reaparecimento da doença e é apontado como uma falha grave de tratamento. Em conjunto

com este procedimento deve ser realizada a aplicação de um medicamento que contenha como

principio ativo o oxalato verde de malaquita e solução de formaldeído (Costapur®).

(SERA, 2002)

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4 OCORRÊNCIA DAS PRINCIPAIS DOENÇAS DE PEIXES ORNAMENTAIS EM

LOJAS DE AQUÁRIO

No Brasil, até pouco tempo, poucas eram as informações sobre a ocorrência de

doenças parasitárias em peixes ornamentais comercializados. A ausência destas informações

técnicas impossibilita realizar um mapeamento da ocorrência dos principais agentes

patogênicos. A realização de um banco de dados sobre o percentual de ocorrência de doenças

de origem parasitária em uma determinada espécie de peixe, gênero, ou até mesmo família,

seria uma importante ferramenta para desenvolver programas sanitários preventivos para estas

doenças nos peixes ornamentais comercializados no Brasil. Este banco de dados pode ser

utilizado, inclusive, como subsidio para implantação de um selo, ou certificado de qualidade

para peixes ornamentais. Segundo a pesquisa realizada pela ABLA ( Associação Brasileira

das Lojas de Aquários ) no Estado de São Paulo, apresentou como índice a maior dificuldade

encontrada pelas lojas como sendo a falta de conhecimento técnico, tornando em primeiro

lugar como a principal enfermidade encontrada a Ictiofitíriase, onde demonstra claramente os

erros que ocorrem no manejo dos peixes. Em segundo lugar encontra-se o Apodrecimento

Bacteriano das Barbatanas que é causado por bactérias que geralmente encontra-se em todos

os aquários e acometem os peixes quando existe uma imunossupressão causada por

desequilíbrio do meio ambiente, ocorrendo também por transporte inadequado, por lesão na

pele causada por brigas ou até mesmo por grande numero de animais no mesmo ambiente. E

em terceiro lugar encontra-se a lerneose que não se trata somente a falta de controle dos

lojistas, mas também dos criadores e distribuidores. (CARMO, 2008)

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5 BIOSSEGURIDADE

5.1 Conceito

A Biosseguridade abrange um conjunto de medidas que visa impedir a entrada e saída

de agentes de doenças em uma instalação ou estabelecimento, facilitar o reconhecimento

precoce de doenças e infecções, promover a profilaxia para a eliminação dessas doenças,

promover medidas defensivas para manter os animais livres de doenças endêmicas e manter

os animais livre daquelas que já foram erradicadas. (VITAGLIANO, 2002)

5.2 Proposta de aplicação

Considerando a via de transmissão, via de eliminação, fontes de infecção,

suscetibilidade, dificuldade de informação, perda econômica e risco zoonótico, podemos

desenvolver e implementar medidas e normas operacionais rígidas para proteger e dar

segurança aos peixes comercializados.

O programa de biosseguridade deve ser realizado a partir de quatro idéias básicas que

deverá ser aplicada por um médico veterinário essas idéias são um ponto de partida para criar

um programa que deverá ser construído de acordo com a necessidade de cada local sendo um

trabalho personalizado. As idéias que integram esse grupo são: desenvolvimento, capacitação,

implementação e supervisão.

Como exemplo podemos citar alguns procedimentos que são importantes na realização

de um programa de biosseguridade.

1º Deve ser feita a colheita de todos os dados de ocorrência do local para criar os registros e a

partir deste momento decidir o melhor protocolo a ser implantado.

2º Determinar a padronização dos procedimentos de manejo

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3º Especificação de compra

4º Construir um quarentenário

5º Parcerias com laboratórios

6º Realizar um trabalho de investigação e monitoramento

7º Realizar o vazio sanitário entre os lotes

8º Limpeza e desinfecção de: instalações, utensílios, pessoas

9º Em baterias de vidro utilizar hipoclorito de sódio 10%

10º Criar auditorias do programa de biosseguridade para avaliar o nível de segurança dos

aquários e baterias, corrigir falhas e aprimorar o programa

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6 CONCLUSÃO

Muitas pessoas pensam que aquários dão trabalho e devem ser lavados

periodicamente, que as pedras devem ser lavadas e fervidas e que a água precisa ser

totalmente trocada. A verdade, no entanto, é bem diferente. Atualmente existem técnicas e

equipamentos que tornam esse hobby bastante simples e prazeroso. As pessoas acham que

peixes morrem com freqüência, mas isso não é verdade, só devemos tratá-los adequadamente.

Podemos dizer que o aquário é ideal para quem gostaria de ter um animal de

estimação, mas tem pouco tempo ou espaço disponível, pois não podem ser pequenos e

totalmente automatizados, alem de ter um baixo custo na sua manutenção. O aquário é uma

peça de decoração maravilhosa podendo se tornar uma verdadeira terapia antiestresse para

quem o observa proporcionando um intenso relaxamento e altamente educativo,

especialmente para as crianças.

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REFERÊNCIAS

BLANC, P. R. Larousse des poissons d’aquarium. Paris: Librairie Larousse, 1975. p.120

SERA. Sera Manual. Heinsberg: Sera, 2002. p. 55

TETRA. O aquário – tudo sobre o aquário. Heinsberg: Tetra, 2004. p. 67

TETRA. O aquário – um mundo subaquático fascinante. Heinsberg: Tetra, 1996. p. 62

UTTON, P. Guia completa de los paces tropicales de água Dulce. Barcelona: Eurobook

Limited, 1972. p. 12-29

VEVERS, G. Tropical Aquarium Fishes. London: Salamander, 1982. p. 208

VIEIRA, M. I. O Aquário Moderno. 3 ed. São Paulo: Prata Editora, 2007 p. 07 - 22

VITAGLIANO. S. M. M. Associação Paulista de Criadores de Suínos. Campinas: 2002

WALLIKER, D; Thomas, M. Libro foya del Acuarismo. 3. ed. Barcelona: Eurobook

Limited, 2000. p. 230-245

CARMO. L. U. T. Associação Brasileira de lojas de Aquarismo. São Paulo: 2008

MABILIA, R. Comunicação Pessoal. São Paulo: 2009