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1 MODELO DE PLANEJAMENTO E CONTROLE DA MANUTENÇÃO PARA EMPRESAS DE SANEAMENTO BÁSICO Maiquel Auri Lamb (UNISINOS ) [email protected] Secundino Luis Henrique Corcini Neto (PUC ) [email protected] Daniel Pacheco Lacerda (UNISINOS ) [email protected] Aline Dresch (UFSC ) [email protected] Dieter Brackmann Goldmeyer (UNISINOS ) [email protected] Este artigo apresenta um modelo básico de Planejamento e Controle da Manutenção (PCM) para empresas de saneamento básico que tem por objetivo contribuir para a minimização da degradação dos ativos e distribuir adequadamente as políticas de manutenção, possibilitando, desta forma, reduzir as ocorrências de interrupções de abastecimento de água. Este estudo é motivado pelas condições atuais da área da manutenção da empresa estudada, denominada neste trabalho de Água & Esgoto, no que concernem as deficiências identificadas em seu PCM e ao engajamento da equipe em torná-lo mais eficaz. O presente trabalho foi elaborado a partir de um estudo de caso na empresa Água & Esgoto, somada a experiência de dois profissionais de empresas do mesmo segmento no estado do Rio Grande do Sul, que contribuíram compartilhando as experiências praticadas na empresa estudada. Junto a isto, acrescenta-se o referencial teórico acerca do tema. O produto deste trabalho materializou-se em um modelo de PCM, apresentando o conjunto de atividades organizadas em três grandes processos: planejamento, programação e controle da manutenção voltada para empresas de saneamento básico. Palavras-chaves: manutenção, saneamento básico, PCM XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

Plano de Controle de Manutenção

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Plano de Controle de Manutenção

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    MODELO DE PLANEJAMENTO E

    CONTROLE DA MANUTENO PARA

    EMPRESAS DE SANEAMENTO BSICO

    Maiquel Auri Lamb (UNISINOS )

    [email protected]

    Secundino Luis Henrique Corcini Neto (PUC )

    [email protected]

    Daniel Pacheco Lacerda (UNISINOS )

    [email protected]

    Aline Dresch (UFSC )

    [email protected]

    Dieter Brackmann Goldmeyer (UNISINOS )

    [email protected]

    Este artigo apresenta um modelo bsico de Planejamento e Controle

    da Manuteno (PCM) para empresas de saneamento bsico que tem

    por objetivo contribuir para a minimizao da degradao dos ativos e

    distribuir adequadamente as polticas de manuteno, possibilitando,

    desta forma, reduzir as ocorrncias de interrupes de abastecimento

    de gua. Este estudo motivado pelas condies atuais da rea da

    manuteno da empresa estudada, denominada neste trabalho de gua

    & Esgoto, no que concernem as deficincias identificadas em seu PCM

    e ao engajamento da equipe em torn-lo mais eficaz. O presente

    trabalho foi elaborado a partir de um estudo de caso na empresa gua

    & Esgoto, somada a experincia de dois profissionais de empresas do

    mesmo segmento no estado do Rio Grande do Sul, que contriburam

    compartilhando as experincias praticadas na empresa estudada.

    Junto a isto, acrescenta-se o referencial terico acerca do tema. O

    produto deste trabalho materializou-se em um modelo de PCM,

    apresentando o conjunto de atividades organizadas em trs grandes

    processos: planejamento, programao e controle da manuteno

    voltada para empresas de saneamento bsico.

    Palavras-chaves: manuteno, saneamento bsico, PCM

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    1. Introduo

    A ausncia de uma estrutura organizada de Planejamento, Programao e Controle da

    Manuteno (PCM) em empresas de saneamento bsico, como tambm percebido em

    diversos segmentos, tanto pblicos quanto privados, contribui para o baixo desempenho

    empresarial em atingir seus resultados. Negligncia e desconhecimento da importncia da

    manuteno frente ao equilbrio de uma empresa desencadeiam efeitos indesejveis que vo

    desde indicadores pfios at o srio comprometimento de seu resultado global. As empresas

    pblicas precisam estar no mesmo nvel de vanguarda das empresas privadas,

    independentemente de seu porte, rentabilidade e rea de atuao. No so apenas grandes

    organizaes que podem ser privilegiadas por setores estruturados de manuteno.

    O PCM da empresa de saneamento bsico da cidade estuda possui alguns pontos de melhoria

    que podem alavancar o desempenho global do setor da manuteno. Um deles o

    planejamento. Branco (2008) retrata com fidelidade um dos problemas mais recorrentes na

    manuteno de empresas, quando afirma que na ausncia de planejamento as pessoas tendem

    a trabalhar de forma como julgam ser a melhor.

    Uma pesquisa realizada a partir de registros no Relatrio Dirio da Manuteno

    Eletromecnica da empresa aqui denominada ficticiamente de gua & Esgoto evidenciou

    que so recorrentes as manutenes pouco representativas e que consomem significativa

    parcela do tempo dos recursos humanos e dos valores gastos em materiais sem o retorno

    esperado. Este tempo representa 31,6% de servios sem valor agregado ao sistema de

    abastecimento, ou seja, servios de consertos e soldas em grades e portes; reparos em

    ferramentas e mquinas de outros setores; instalaes eltricas prediais; recuperao de

    componentes sem funcionalidade, entre outros.

    Para o melhor entendimento do problema de pesquisa, foi realizado uma entrevista com os

    profissionais da equipe de manuteno, solicitando que relatassem os principais problemas

    percebidos na rea, ordenando conforme a importncia de cada um deles. O resultado desta

    pesquisa destaca como problemas que afetam o desempenho da rea os extensivos processos

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    burocrticos (37,9%); o planejamento inadequado que no prev todas as necessidades do

    setor (27,6%); a ausncia de software de manuteno para gerenciamento das atividades

    (15,6%); a adoo de polticas de manuteno equivocadas (14,7%) seguidas da acomodao

    natural dos funcionrios (4,3%). Participaram do levantamento um total de doze pessoas,

    dentre tcnicos, engenheiros e cargos de chefia/coordenao, com tempos de empresa que

    variam de trs meses a oito anos.

    No que tange ao Controle da Manuteno, existem restries em ferramentas de gesto,

    limitando-se, em muitos casos, apenas ao preenchimento de planilhas eletrnicas. Neste

    documento, so registrados os trabalhos realizados pela rea, no havendo um tratamento e

    anlise posterior destes dados. Branco (2008) ressalta que as empresas precisam manter

    estruturas formais de tratamento dos dados coletados, visando estabelecer informaes

    oportunas para a tomada de decises.

    A necessidade de compras por editais e licitaes, de acordo com a Lei 8666/93 aliada falta

    de planejamento, a principal causa apontada pela rea como entrave burocrtico dentre os

    principais processos administrativos.

    Acerca das polticas de manutenes, verifica-se que a manuteno corretiva a mais

    utilizada para a gesto dos ativos da empresa. A manuteno corretiva planejada praticada

    em 57,2% das intervenes, seguida de 28,5% da corretiva no planejada, 12,8% de

    preventiva e apenas 1,5% de manuteno preditiva.

    O fato mais preocupante que 45% da manuteno corretiva planejada adotada no sistema

    mais crtico de abastecimento de gua, ou seja, na captao de gua do rio. Os 55% restantes

    so distribudos nos bombeamentos secundrios e ativos com redundncia

    A manuteno corretiva planejada que no montante geral representa 57,2% no ponto crtico

    aumenta para 83,2% na restrio. J as intervenes preventiva e preditiva possuem

    percentuais de 7% e 2,3% respectivamente. Esses dados apontam para um importante ponto

    de melhoria na adoo das estratgias de manuteno na restrio do sistema pois, a

    interveno corretiva, segundo Marcorin (2003, p7), a melhor opo somente quando os

    custos da indisponibilidade so menores do que os custos necessrios para evitar a falha,

    condio tipicamente encontrada em equipamentos sem influncia no processo produtivo.

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    Neste sentido, Branco (2008) sugere a adoo de manuteno preditiva, pois o custo da falha

    grande e as despesas com esta tcnica so menores que as eventuais despesas e gastos com

    reparos, custos de indenizaes e custos de perda de produo. O autor enfatiza que essa

    estratgia uma das formas mais eficientes e baratas para unidades industriais onde o custo da

    falha grande.

    Alm do exposto, o uso contnuo e em grande representatividade da estratgia de Manuteno

    Corretiva, conduz a uma lenta degradao dos equipamentos e das instalaes. Este processo

    de sucateamento contnuo poder acarretar em perdas de produo, riscos integridade das

    instalaes, riscos de degradao do meio ambiente e riscos vida dos envolvidos direta e

    indiretamente (BRANCO, 2008).

    A ABRAMAN (2011) realizou pesquisa que apontou o volume total de capital investido na

    manuteno das organizaes estudadas. O resultado desta aplicao apresentado na Tabela

    1.

    Tabela 1 - Aplicao dos Recursos na Manuteno

    Fonte: Documento Nacional Abraman (2011).

    Comparando os valores apresentados na pesquisa da ABRAMAN (2011) para o ano de 2011

    com os valores investidos pela gua & Esgoto no mesmo perodo, percebe-se a disparidade

    entre a prtica adotada no mercado com a poltica de manuteno da empresa. Essa

    comparao apresentada na Tabela 2.

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    Tabela 2 - Comparativo de Recursos na Manuteno (%)

    Fonte: Documento Nacional Abraman (2011); Empresa gua & Esgoto (2012).

    No que se refere ausncia de um software de gesto da manuteno, nota-se que a gesto de

    recursos, que envolve tanto equipamentos, peas e mo de obra, fica prejudicada em funo

    de um gerenciamento exclusivamente manual. Sem um sistema informatizado, as tarefas de

    elaborao e acompanhamento de indicadores de controle tornam-se mais onerosas devido

    limitao na gerao de relatrios.

    Em sntese, o somatrio dessas fraquezas aponta para riscos na disponibilidade dos ativos da

    empresa, condio imprescindvel para esse segmento empresarial. Os problemas decorrentes

    de paradas podem variar desde a interrupo temporria do fornecimento, at dias de

    desabastecimento de gua potvel, acarretando prejuzos financeiros e de sade pblica para a

    populao.

    A partir da realidade que envolve a manuteno da empresa em estudo, emerge a seguinte

    questo que motivou a realizao desta pesquisa: Como deve ser um modelo de

    Planejamento, Programao e Controle da Manuteno (PCM) voltado para empresas

    de saneamento bsico que contribua para a minimizao da degradao dos ativos para

    a distribuio adequada das polticas de manuteno, refletindo na reduo da

    ocorrncia de interrupes de abastecimento de gua? Esta questo e pesquisa remete ao

    objetivo geral deste trabalho: Proposio de um modelo de PCM voltado ao segmento de

    saneamento bsico.

    A seo seguinte apresenta o referencial terico que suportou a realizao deste trabalho e

    contribuiu juntamente com o diagnstico da empresa e a percepo de especialistas da rea na

    proposio do referido modelo.

    2. Planejamento, Programao e Controle da Manuteno (PCM)

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    O PCM uma rea responsvel pelo gerenciamento das atividades de manuteno que vo

    desde o seu planejamento e programao, at a devida verificao atravs de padres j

    conhecidos. A partir do controle podem ser tomadas aes para retificar desvios e falhas

    (BRANCO, 2008).

    A rea de PCM traz inmeras vantagens para as empresas. A otimizao do tempo atravs do

    melhor acesso informao; o aumento da produtividade e disponibilidade dos equipamentos

    por meio de paradas programadas nos momentos mais apropriados; o estabelecimento e

    registro de rotinas e padres de trabalho; a anlise de indicadores; e os planos corretivos

    utilizados para o cumprimento das metas esto entre os principais benefcios com a

    implantao desse rgo de suporte gesto da manuteno (BRANCO, 2008).

    Desta forma, o PCM tem a funo de alocar recursos, no momento mais adequado, com a

    poltica de manuteno mais eficaz. A mesma ateno dada ao planejamento da produo,

    onde h um desmembramento de atividades e definio de planos, dever ser estendida ao

    planejamento da manuteno. Com padres de trabalho e controle ser possvel avaliar as

    atividades realizadas e garantir resultados (FOGLIATTO e RIBEIRO, 2009).

    Pinto (2001) apresenta uma sequncia de etapas que compe o PCM, sendo estar originadas

    no processamento das solicitaes que demandaro o planejamento e a programao. Aps

    essas etapas, j possvel gerenciar equipamentos e registrar dados que permitiro o controle

    da manuteno. Administrar a carteira de servios, padres de servio, recursos e estoques so

    algumas destas possibilidades.

    2.1 O Planejamento da Manuteno

    O Planejamento um processo composto por aes devidamente coordenadas que tem por

    objetivo atingir uma determinada meta. Ele til para manter-se uma regularidade ou quando

    se deseja atingir, em vrios aspectos - custos, recursos, riscos - um parmetro desejado

    (BRANCO, 2008).

    Tavares (1996) afirma que o planejamento da manuteno resulta em um conjunto ordenado

    de polticas de manuteno que so continuamente controladas e, se for necessrio, recebem

    aes de correo e melhoria, tendo sempre como objetivo a reduo de custos. Assim, cabe

    ao planejamento busca pelas melhores solues para executar cada servio. Em

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    consequncia, obtm-se melhores ndices de mantenabilidade, maior facilidade e segurana

    nas manutenes (PINTO, 2001).

    Ao realizar o planejamento busca-se a minimizao dos custos da manuteno e o aumento do

    ndice de disponibilidade dos equipamentos, principalmente quando existe uma clara

    estratgia de atuar de maneira distinta para cada tipo de equipamento (TAVARES, 1996).

    Corroborando com esta funo, Takahashi (1993) destaca ganhos superiores em qualidade e

    eficincia atravs da adoo de planejamento prvio e planos de manuteno, principalmente

    quando se compara com os resultados obtidos com posturas reativas.

    Quanto adoo de planos de manuteno, Takahashi (1993) enumera algumas vantagens de

    um plano de manuteno:

    a) Estabelecimento de rotinas de manuteno;

    b) Auxlio no dimensionamento de recursos humanos;

    c) Minimizao de erros relativos aquisio de peas de reposio;

    d) Compra de materiais de maior qualidade;

    e) Sincronia da manuteno com a produo;

    f) MTTR mais bem definidos;

    g) Equipe mais focada;

    h) Maior eficincia.

    O planejamento varia em funo da estrutura adotada para a rea de manuteno, sendo que

    suas principais sadas so os tipos de intervenes que sero utilizadas, ou seja, as estratgias.

    A definio adequada das distintas estratgias resultante de uma boa definio dos critrios

    que definem a criticidade de cada um dos equipamentos. Esta criticidade organizada por

    meio de uma matriz prpria que contempla os elementos que esto alinhados as estratgias da

    empresa (segurana pessoal, segurana ambiental, custo, etc.).

    2.2 Programao da Manuteno

    Programao compreende toda e qualquer ao que tem de ser executada dentro de

    determinado perodo de tempo (BRANCO, 2008). Com relao programao da

    manuteno, pode-se defini-la como a rea do PCM onde so traadas as atividades para o dia

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    seguinte, respeitando-se o grau de urgncia, a ordem das solicitaes, a disponibilidade de

    recursos (pessoal, ferramentas e peas) e a viabilidade de parada dos equipamentos (PINTO,

    2001).

    Jasinski (2005) caracteriza a programao como sendo o calendrio da manuteno. a etapa

    onde se define a data das atividades assim como os responsveis pela sua execuo. de

    suma importncia para o cumprimento das necessidades da empresa, principalmente pela

    estruturao de processos e rotinas de trabalho, itens diretamente relacionados a esta etapa do

    PCM.

    A programao das atividades geralmente ditada pelos planos de manuteno (anuais,

    mensais e semanais). Aps a realizao das atividades (entrega do plano de trabalho), o

    sistema atualizado e gerado novas reprogramaes (PEREIRA, 2009).

    Existem algumas regras quanto prioridade de atendimento. Geralmente podem ser definidos

    quatro graus de importncia para os servios solicitados, onde os de maior prioridade so

    programados primeiramente. Aqueles com parada de equipamentos crticos caracterizam o

    grau mximo: emergncia; urgncia so os eventos onde h eminncia na interrupo de

    equipamentos importantes; normal operacional so todas as manutenes rotineiras em ativos

    vinculados aos processos produtivos; e normal no operacional so as manutenes sem

    ligao produo (PINTO, 2001).

    Outros critrios de prioridade ainda podem ser considerados durante a programao dos

    servios. A data de abertura de ordens de servios, dentro de um mesmo grau de importncia,

    define a ordenao dos trabalhos (prioridade para as Ordens de Servio mais antigas);

    intervenes previamente agendadas se sobrepem as de programao vigente; e bloqueios

    por ausncia de recursos podem causar a interrupo do trabalho e alterar a sequncia da

    programao (PINTO, 2001).

    A minimizao das perdas nas atividades de manuteno pode ser obtida atravs do trabalho

    do programador. Segundo Branco (2008), as principais perdas so motivadas justamente pela

    ausncia ou falha de planejamento e recursos; do agendamento inadequado das atividades;

    ausncia de tcnicas preventivas; riscos indevidamente calculados e/ou ausncia de medidas

    de preveno; e pelo acompanhamento ineficiente dos indicadores.

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    2.3 Controle da Manuteno

    Controle o conjunto de aes que tem por objetivo monitorar as atividades quanto ao

    cumprimento de seus objetivos, sendo ponto de partida para planos corretivos e melhoria

    contnua (BRANCO, 2008). Pinto (2001) caracteriza essa etapa como sendo uma ao de

    acompanhamento e anlise de oramentos e custos, podendo ser segmentadas por reas, tipos

    de manuteno e especialidades; verificao do nvel de atendimento da programao bem

    como a composio da carteira de servios; levantamento de ordens de servio em atraso

    (backlog); clculos de MTBF e MTTR; e indicadores de produtividade e nvel de utilizao

    de recursos.

    Xenos (1998) comenta a necessidade de monitorar apenas o necessrio, abdicando de

    indicadores que no geram aes de melhoria. Para otimizar recursos e no desperdiar

    esforos da equipe, deve-se evitar uma grande quantidade de ndices.

    Tavares (1996) indica mais alguns indicadores para o acompanhamento da efetividade da

    manuteno. So eles:

    a) Tempo mdio entre falhas;

    b) Tempo mdio para falha;

    c) Tempo mdio entre manutenes preventivas;

    d) Tempo mdio para intervenes preventivas;

    e) Disponibilidade de equipamentos;

    f) Desempenho dos equipamentos.

    Alm dos ndices relacionados padronizao e confiabilidade da manuteno (MTBF,

    MTTR), existem outros correlacionando os custos da manuteno com a produo (gastos por

    produto produzido); alm daqueles que avaliam equipamentos (gastos energticos, eficincia

    global, nvel de ocupao, disponibilidade, etc); e ainda os que avaliam as polticas de

    manuteno mais utilizadas (ndice de preventiva x corretiva) (PEREIRA, 2009).

    Com relao aos indicadores de controle, mais precisamente da disponibilidade, Tavares

    (1996) indica algumas aes importantes para o monitoramento dos equipamentos crticos.

    Para obter o percentual de tempo em que o ativo est operacional, sugere-se iniciar pelo

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    registro das paradas (data e tempo de interrupo) para estabelecer um ndice mnimo

    tolervel de disponibilidade, e sempre que houver um desempenho menor que a meta

    preestabelecida, deve-se justificar e proceder com aes corretivas. Para o acompanhamento

    da tendncia de comportamento do equipamento, deve-se realizar um levantamento contnuo

    de sua operao e avaliar as aes corretivas de desvios, atravs de comparaes entre

    perodos distintos. Grficos de Pareto, linhas ou barras so ferramentas teis para a avaliao

    destes indicadores.

    3. Procedimentos tcnicos de pesquisa

    A fim de garantir a funo manuteno, o modelo de PCM proposto, oriundo de diversas

    fontes (apanhado de literaturas, estudo de caso na empresa, participao de especialistas de

    outras empresas do segmento e experincia do pesquisador), tenta manter a manuteno apta

    para cumprir seu papel dentro da organizao, alm de buscar preencher a lacuna existente

    entre a teoria e a prtica. O Modelo de PCM foi estruturado a partir de quatro etapas distintas:

    a) Etapa de levantamento de dados composta por:

    Reviso bibliogrfica: levantamento terico das caractersticas e funes de

    uma rea de PCM dentro de uma organizao. Foram utilizadas essencialmente

    publicaes de autores com vasta experincia na gesto da manuteno;

    Coleta de dados e entrevistas com todos os envolvidos na manuteno

    eletromecnica da gua & Esgoto: participaram os coordenadores,

    encarregados, tcnicos desta rea, a fim de compreender a estrutura atual do

    PCM e as deficincias existentes no modelo atual;

    Entrevistas e questionrios com especialistas de empresas do segmento

    (benchmarking): objetivou-se conhecer a realidade da manuteno, o PCM

    mais especificamente, incorporando novos conceitos para o modelo proposto.

    Foram selecionados dois especialistas, de empresas diferentes, com

    experincia na rea de manuteno e com publicaes sobre a temtica de

    saneamento: o Engenheiro Mecnico Anderson Borin dos Santos, da

    Superintendncia de Apoio Operacional da Companhia Estadual de

    Saneamento e o Coordenador da Manuteno da Autarquia do Vale do Rio dos

    Sinos Everson Gardel Melo;

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    Experincia do pesquisador: elemento relacionado na pesquisa, onde, na juno

    do conhecimento terico e experincia profissional do pesquisador,

    originaram-se insights que contriburam para a proposta do trabalho;

    b) Etapa de execuo e anlise de resultados composta por:

    Sntese do referencial terico e estudo de caso: fechamento destas duas etapas,

    possibilitando a formulao de um modelo prvio que posteriormente recebeu

    incrementos por meio da realizao de um grupo focal com especialistas da

    rea de manuteno e outras duas empresas de mesmo segmento.

    Anlise dos dados obtidos: onde foram analisadas todas as informaes

    adquiridas na fase de entrevistas e levantamento de dados nas empresas do

    segmento, com o intuito de elaborar o modelo proposto de PCM que mais tarde

    foi discutido no grupo focal (etapa de validao do modelo);

    c) Etapa de Estruturao do modelo: montagem do modelo com base no referencial

    terico, estudo de caso e entrevistas individuais com os especialistas;

    d) Etapa de validao do modelo: novamente foi realizado um Grupo Focal com os

    especialistas das duas empresas do mesmo segmento e apresentado o modelo

    proposto, onde foi possvel ajustar os ltimos detalhes do modelo a fim de torn-lo

    mais completo a partir da viso geral do grupo de profissionais.

    O produto desta pesquisa apresentado no captulo seguinte de forma ampla e na sequncia

    detalhada cada um de suas macro-atividades.

    4. Modelo de PCM para empresas de Saneamento Bsico

    O modelo proposto de PCM passa pelo emprego de algumas ferramentas que visam

    minimizar ou eliminar diversos problemas encontrados na rea de manuteno da empresa

    gua & Esgoto, conforme exposto Quadro 1. Este modelo, com o auxlio de ferramentas

    simples e prticas, visa contribuir para a minimizao da degradao dos ativos, na

    distribuio adequada das polticas de manuteno, refletindo em uma reduo da ocorrncia

    de interrupes de abastecimento de gua.

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    Quadro 1- Problemas comuns em PCM e ferramentas para solucion-los

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    Fonte: Elaborado pelos autores

    A Figura 1 traz o fluxograma do modelo de PCM que percorre um ciclo que vai desde o

    planejamento das instalaes e aquisio de novos equipamentos at o controle das aes.

    Figura 1 - Fluxograma bsico do modelo de PCM

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    Fonte: Elaborado pelos autores

    A partir desta integrao, so detalhados os trs processos inseridos no PCM, a saber:

    Planejamento, Programao e Controle da manuteno. A Figura 2 apresenta as atividades

    que constituem o processo de Planejamento.

    Figura 2 - Modelo de Planejamento

    Fonte: Elaborado pelos autores

  • XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gesto dos Processos de Produo e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentvel dos Sistemas Produtivos

    Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

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    O modelo de planejamento parte do projeto de novas instalaes e da aquisio de

    equipamentos realizado pelo trip Projetos, Operao e Manuteno; passa pelo

    comissionamento nos fornecedores onde se confirmam as caractersticas e desempenho

    esperado dos equipamentos adquiridos pela organizao; na previso de estoque de peas

    crticas e de reposio que visam garantir a operao contnua dos sistemas; na criao de

    redundncias nos bombeamentos restritivos; na previso de melhorias de mantenabilidade das

    instalaes; no treinamento contnuo da equipe; na criao de banco de dados e cadastro em

    software de manuteno; na possibilidade de adotar a melhor tcnica de manuteno para

    cada equipamento atravs da matriz de criticidade e priorizar os sistemas mais importantes

    por meio do FMEA e FTA; na coleta de informaes de forma contnua por meio de software

    e acompanhamentos manuais; e na elaborao de rotinas, procedimentos e estratgias que

    constituem o plano de manuteno.

    O processo de programao apresentado na Figura 3 onde percebe-se a interface com a sada

    do processo de planejamento, bem como a proposta de atividades a serem realizadas neste

    processo.

    Figura 3 Modelo de Programao

    Fonte: Elaborado pelos autores

    Com relao ao modelo de programao da manuteno ele tem sua origem nas solicitaes

    de servio, podendo ora serem recebidas por sistemas de rdio-frequncia ou telefonia, ora

    por um sistema informatizado; aps a chegada dessas demandas, que podem ser direcionadas

    a uma central, deve-se proceder com o seu devido tratamento, ou seja, com a diferenciao

    entre as atividades que so corretivas daquelas preventivas ou preditivas (estas originadas dos

    planos de manuteno); aps a verificao de recursos para sua execuo (pessoal, peas e

    ferramentas), sugere-se deixar a critrio de um programador de manuteno o gerenciamento

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    dessa lista de espera. Caso a prioridade de atendimento for alta, deve-se providenciar a

    abertura da Ordem de Servio (OS) e executar o trabalho. Recomenda-se tambm o envio de

    e-mails aos solicitantes, deixando-os cientes do andamento e concluso de seus pedidos.

    O modelo de controle da manuteno demonstrado na Figura 4Erro! Fonte de referncia

    no encontrada. est segmentado em quatro grupos de atividades: a gesto de peas de

    reposio, onde previses de demanda oriundas do software de manuteno suportam as

    compras planejadas, reduzindo aquisies emergenciais e paradas inesperadas por falta de

    peas.

    Figura 4 Modelo de Controle

    Fonte: Elaborado pelos autores

    Juntamente com as atividades listadas, sugere-se a adoo de compras por registro de preos e

    um adequado gerenciamento do estoque. A ferramenta de PDCA, junto com a anlise de

    indicadores, criam a possibilidade de avaliar as atividades da manuteno e gerir planos de

    correo e melhoria de seus processos. As anlises de falhas dos equipamentos e de suas

    curvas de confiabilidade permitiro visualizar o momento mais adequado para intervir no

    equipamento, assim como hierarquizar as causas mais significativas de suas paradas. Alm

    disso, podero ser tomadas decises de reforma de um ativo ou planejar a sua devida

    substituio, avaliando-se aspectos financeiros.

    5. Concluso

    Esse modelo, ao final, visa distribuio adequada de recursos, a adoo de polticas

    diferenciadas para cada equipamento e a anlise das principais atividades que envolvem uma

    rea de PCM. Entretanto, a palavra-chave do modelo o planejamento, seja na compra de

    equipamentos e itens crticos que podem acarretar paradas do sistema; na construo de novas

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    instalaes (projetadas por equipes multidisciplinares); na proviso de qualificao para a

    equipe da manuteno; no uso de software de manuteno; e nas decises de investimento

    baseadas nas curvas de confiabilidade dos equipamentos.

    O planejamento da manuteno vital para as empresas que buscam reduzir os ndices de

    interrupes na distribuio de gua potvel e melhorar a qualidade do servio prestado

    populao. Como o saneamento bsico um servio essencial, de funcionamento contnuo, e

    sujeito a convulso social em caso de m administrao, o modelo proposto auxiliar a

    minimizar possveis causas de indisponibilidade do sistema relacionadas rea de

    manuteno.

    Conclui-se que o modelo pode ser aplicvel em outras empresas de saneamento, j que possui

    uma lgica simples, ferramentas e acompanhamentos acessveis a qualquer rea de

    manuteno. necessrio, no entanto, iniciativa e apoio da direo para obter os resultados

    esperados. Entretanto, a pesquisa, por abranger de forma ampla o PCM de uma organizao

    de saneamento bsico, ir requerer da mesma, ao aplicar o modelo, possveis ajustes s rotinas

    de trabalho de sua rea de manuteno. Em suma, ser necessrio adequar o modelo

    realidade da organizao, para assim, cumprir o seu objetivo.

    REFERNCIAS

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    Curso. Universidade Tecnolgica Federal do Paran. Ponta Grossa, 2005.

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    Piracicaba. Santa Brbara do Oeste: Revista de Cincia e Tecnologia, Volume 11, n 22,

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    PEREIRA, Mrio Jorge. Engenharia de Manuteno, Teoria e Prtica. Rio de Janeiro: Editora

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    Takashi Osada; traduo Outras Palavras. So Paulo: Instituto IMAM, 1993.

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    XENOS, Harilaus Georgius dPhilippos. Gerenciando a Manuteno Produtiva. Belo Horizonte: Editora de Desenvolvimento Gerencial, 1998.