PPP Dimensoes Conceituais

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    PPrroojjeettooPPoollttiiccoo--ppeeddaaggggiiccoo::ddiimmeennsseessccoonncceeiittuuaaiiss

    O Projeto Poltico Pedaggico deve se constituir na referncia

    norteadora, em todos os mbitos da ao educativa da escola. Por issomesmo, sua elaborao requer, para ser expresso viva de um projeto

    coletivo, a participao de todos aqueles que compem a comunidade

    escolar. Todavia, articular e construir espaos participativos, produzir no

    coletivo um projeto que diga no apenas ao que a escola hoje, mas

    tambm apontar para o que pretende ser, exige mtodo, organizao e

    sistematizao.

    Queremos dizer que no apenas com boas intenes ouvoluntarismo que se constri um projeto dessa natureza. preciso

    muito trabalho organizado se quisermos, de fato, que o projeto proposto

    desencadeie mudanas na direo de uma formao educativa e

    cultural, de qualidade, para todas as crianas e todos os jovens que

    freqentam a escola pblica. Vazquez (1977), ao discutir a questo da

    prxis, compreendida como prtica transformadora, chama a ateno

    para a necessidade de aes intencionalmente organizadas, planejadas,sistematizadas para a realizao de prticas transformadoras. Como

    ressalta o autor:

    A teoria em si [...] no transforma o mundo. Pode contribuir parasua transformao, mas para isso tem que sair de si mesma, e, emprimeiro lugar, tem que ser assimilada pelos que vo ocasionar, comseus atos reais, efetivos, tal transformao. Entre a teoria e aatividade prtica transformadora se insere um trabalho de educao

    das conscincias, de organizao dos meios materiais e planosconcretos de ao: tudo isso como passagem indispensvel paradesenvolver aes reais, efetivas. Nesse sentido, uma teoria prticana medida em que materializa, atravs de uma srie de mediaes, oque antes s existia idealmente, como conhecimento da realidade ouantecipao ideal de sua transformao (Vazquez, 1977, p. 207, semgrifos do autor).

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    Discutir as dimenses poltico e pedaggica dos projetos de escola

    pode parecer um assunto j esgotado. Tambm no so poucos os que

    acreditam que a proposta de construo de PPP nas e pelas escolas

    tambm j se esgotou, preferindo aderir a novas linguagens, quase

    sempre oriundas do universo gerencial, consideradas mais modernas,

    eficientes, tcnicas, para se resolver os problemas das instituies.

    Infelizmente, adeses pouco crticas a conceitos miditicos, ou a fcil

    penetrao dos modismos no campo da educao, tm levado muitos

    educadores a descartar conceitos e propostas vinculados, muitas vezes,

    ao iderio crtico, em favor de uma suposta eficincia tcnica.

    Acreditamos, como nos lembra Gimeno Sacristan (2001, p. 11) que:

    preciso fazer um problema do bvio, daquilo que se forma ocotidiano, como meio de ressaltar, de sentir o mundo maisvivamente e de poder voltar a encontrar o significado daquilo quenos rodeia.

    Procurando, ento, problematizar o bvio, propomos comear

    nossa discusso pelos termos que compem o conceito de Projeto

    Poltico-pedaggico e nos perguntamos:

    O que nos diz a palavra projeto?

    Qual sua relao com a dimenso poltica e com a dimenso

    pedaggica?

    Ou, dizendo de outro modo, o que h de poltico no PPP? E de

    pedaggico?

    Comear elucidando os termos pode nos auxiliar a posicionar mais

    claramente a relao entre o PPP e a gesto democrtica da escola,

    especialmente em tempos em que uma pluralidade de orientaes

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    terico-metodolgicas tende a ser assimilada pelas escolas pblicas,

    diluindo-se, muitas vezes, nas distintas vinculaes polticas, ideolgicas

    e organizacionais que lhes do direo.

    O termo projeto tem origemno latimprojectu, que por

    sua vez, particpiopassado do verboprojicere,que significa lanar paradiante. Plano, intento,desgnio. (Veiga, 2000)

    A palavra projeto traz

    imiscuda a idia de futuro, de vir-

    a-ser, que tem como ponto de

    partida o presente (da a

    expresso projetar o futuro).

    extenso, ampliao, re-criao,

    inovao do presente j

    construdo e, sendo histrico,

    pode ser transformado: um projeto necessita rever o institudo para, a

    partir dele, instituir outra coisa. Tornar-se instituinte (Gadotti, 2000).

    No se constri um projeto sem objetivos, sem direo; uma ao

    orientada pela intencionalidade, tem um sentido explcito, de um

    compromisso, e no caso da escola, de um compromisso coletivamente

    firmado. Ainda, conforme Gadotti (2000),

    no se constri um projeto sem uma direo poltica, umnorte, um rumo. Por isso, todo projeto pedaggico da escola tambm poltico. O projeto pedaggico da escola , porisso mesmo, sempre um processo inconcluso, uma etapa emdireo a uma finalidade que permanece como horizonte daescola (Gadotti, 2000).

    Compreender o carter poltico e pedaggico do PPP nos leva a

    considerar dois outros aspectos:

    1)A funo social da educao e da escola em uma sociedade cada vez

    mais excludente, compreendendo que a educao, como campo de

    mediaes sociais, define-se sempre por seu carter intencional e

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    poltico. Pode, assim, contraditoriamente, tanto reforar, manter,

    reproduzir formas de dominao e de excluso como constituir-se

    em espao emancipatrio, de construo de um novo projeto

    societrio, que atenda as necessidades da grande maioria da

    populao;

    2)a necessria organicidade entre o PPP e os anseios da comunidade

    escolar, implicando a sua efetiva participao em todos os momentos

    (elaborao, implementao, acompanhamento, avaliao). Dessa

    perspectiva, o projeto se expressa como uma totalidade (presente-

    futuro), englobando todas as dimenses da vida escolar. Assim, no

    se reduz a uma somatria de planos ou de sugestes, no

    transposio ou cpias de projetos elaborados em outras realidades

    escolares, no documento esquecido em gavetas.

    esse compromisso do PPP com os interesses reais e coletivos da

    escola que se materializa seu carter poltico e pedaggico, posto que

    essas duas dimenses so indissociveis, como destaca Saviani (1983,

    p. 93), ao afirmar que a dimenso poltica se cumpre na medida em

    que ela se realiza enquanto prtica especificamente pedaggica.

    Assim, na ao pedaggica da escola que se torna possvel a

    efetivao de prticas sociais emancipatrias, da formao de um

    sujeito social crtico, solidrio, compromissado, criativo, participativo.

    nessa ao que se cumpre, que se realiza a intencionalidade orientadora

    do projeto construdo.

    Compreender essa dialtica entre o poltico e o pedaggico torna-se

    imprescindvel para que o PPP no se torne um documento pleno de

    intenes e vazio de aes. De pouco adianta declarar que a finalidade

    da escola formar um sujeito crtico, criativo, participativo, ou

    anunciar sua vinculao s teorias crticas, se nas suas prticas

    pedaggicas cotidianas perduram estruturas de poder autoritrias,

    currculos engessados, experincias culturais empobrecidas. Ao

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    Leia o texto deIlma A. Veiga(2003), disponvelnaBiblioteca

    contrrio, desvelando essas condies, afirmando seu carter poltico,

    que a escola, por meio de seu projeto poltico-pedaggico, pode

    mobilizar foras para mudanas qualitativas. nessa perspectiva que

    tem sentido problematizaes como:

    Problematizaes dessa natureza possibilitam dois movimentos:

    por um lado, conhecer, explicitar e discutir concepes e valores nem

    sempre revelados, mas sempre presentes como orientaes imiscudas

    em nossas prticas cotidianas e, por outro, re-construir essas

    concepes, reorientar aes, a partir do desvelamento das contradies

    que esto em suas origens.

    Se mudanas, inovaes, transformaes so possibilidades

    que o PPP da escola traz consigo, elas no se realizam de modo

    automtico. preciso educar as conscincias, como nos

    diz Vazquez (1977), posto que nem toda inovao

    tem carter emancipatrio. Discutindo essa

    relao PPP e inovao , Veiga (2003),

    apoiando-se nas contribuies de Santos, faz

    uma interessante distino entre inovao

    regulatria e inovao emancipatria.

    Segundo Veiga (2003), tanto a inovao regulatria como a

    emancipatria provocam mudanas na escola, contudo, h diferenas

    substanciais que acompanham cada uma delas. Enquanto as inovaes

    Qual a finalidade da escola?

    Que sujeitos, cidados queremos formar? Que sociedade queremos construir?

    Que conhecimentos e saberes a escola ir trabalhar? Como possibilitar a apropriao, por seus alunos, dos saberes

    cultural e historicamente construdos? Que espaos participativos criar?

    Como estimular, apoiar e efetivar a participao do coletivo

    da escola?

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    do tipo emancipatrio tm sua origem e seu destino nas necessidades

    do coletivo da escola, as inovaes regulatrias decorrem de

    prescries, de recomendaes externas escola; tendem a ser

    burocratizadas, no sendo resultado de processos participativos e

    partilhados pela comunidade escolar. Predomina, nas inovaes

    regulatrias, aspectos tcnicos, ao passo que na primeira prevalecem

    preocupaes de cunho poltico-cultural.

    Adotar a perspectiva da inovao regulatria significa, ainda

    segundo a autora, compreender o PPP como um conjunto de atividades

    que resultaro em um produto: um documento programtico, pronto e

    acabado, onde aparecem sistematizadas as principais concepes,

    fundamentos, orientaes curriculares e organizacionais de uma

    instituio educativa. Abandona-se, nesse caso, a concepo de PPP

    como construo coletiva. Outorga-se escola um documento a ser

    executado, cuja principal preocupao inovar para produzir melhores

    resultados.

    Aqui, a inovao no rompe com o que j est institudo, pelo

    contrrio, trata-se de uma simples rearticulao do sistema, visando

    apenas uma introduo a-crtica do novo no velho. O PPP torna-se um

    instrumento de controle, burocratizado, voltado apenas para o

    cumprimento de normas tcnicas, de aplicao de estatsticas, de

    A inovao regulatria significa assumir o projeto poltico-

    pedaggico como um conjunto de atividades que vo gerar umproduto: um documento pronto e acabado. Nesse caso, deixa-se delado o processo de produo coletiva. Perde-se a concepo integralde um projeto e este se converte em uma relaoinsumo/processo/produto. Pode-se inovar para melhorar resultadosparciais do ensino, da aprendizagem, da pesquisa, dos laboratrios,da biblioteca, mas o processo no est articulado integralmente como produto (Veiga, 2003, p. 271).

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    cumprimento de metas, sem que se atente para o carter processual e

    para a qualidade das mudanas projetadas.

    Ao contrrio, na perspectiva emancipatria, a inovao e o PPP

    esto organicamente articulados, integrando-se finalidades e meios,

    inspirados por processos de ruptura com o j institudo. No se trata

    apenas de introduo de novas regras, de novas ferramentas, ou

    formulrios de controle. A inovao metodolgica est vinculada a

    transformaes nas concepes, a orientaes claras e assumidas com

    relao a um projeto coletivo:

    Sob essa tica, o projeto um meio de engajamento coletivo para

    integrar aes dispersas, criar sinergias no sentido de buscarsolues alternativas para diferentes momentos do trabalhopedaggico-administrativo, desenvolver o sentimento de pertena,mobilizar os protagonistas para a explicitao de objetivos comunsdefinindo o norte das aes a serem desencadeadas, fortalecer aconstruo de uma coerncia comum, mas indispensvel, para que aao coletiva produza seus efeitos (Veiga, 2003, p. 275).

    Na construo do PPP, Veiga (2003) parte do princpio que a

    inovao emancipatria no pode ser confundida com reforma, inveno

    ou mudana; ela se constitui, de fato, em processos de ruptura com

    aquilo que est institudo, cristalizado (ver prxis reiterativa). A

    inovao emancipatria resultante da reflexo sobre a realidade da

    escola, tomando-se sempre como referncia as articulaes entre essa

    realidade da escola e o contexto social mais amplo. Baseia-se em

    processos dialgicos e no impositivos, na comunicao e na

    argumentao e no na imposio de idias, valorizando os diferentes

    tipos de saberes.

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    http://praxis.pdf/http://praxis.pdf/
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    Numa perspectiva emancipatria o PPP apresenta asseguintes caractersticas:

    um movimento de luta em prol da democracia da escola; noesconde as dificuldades, os pessimismos da realidade educacional,mas no se deixa imobilizar por esses, procurando assumir novoscompromissos em direo a um futuro melhor; orienta a reflexo

    e ao da escola; est voltado para a incluso observa a diversidade dos alunos,

    suas origens culturais, suas necessidades e suas expectativaseducacionais;

    por ser coletivo e integrador, necessrio para sua elaborao,execuo e avaliao, o estabelecimento de um clima de dilogo,de cooperao, de negociao, assegurando-se o direito daspessoas intervirem e se comprometerem na tomada de decisesde todos os aspectos que afetam a vida da escola (Veiga, 2003);

    h vnculo muito estreito entre a autonomia escolar e o PPP; sua legitimidade reside no grau e no tipo de participao de todos

    os envolvidos com o ambiente educativo; supe continuidade deaes;

    apresenta uma unicidade entre a dimenso tcnica e poltica;preocupa-se com trabalho pedaggico, porm no deixa dearticul-lo com o contexto social (articulao da escola com afamlia e comunidade).

    A construo de um PPP sob a perspectiva emancipatria, como

    acabamos de mostrar, diferencia-se de outras propostas que tambm

    so apresentadas como instrumentos de gestes participativas na

    escola, baseadas em concepes e ferramentas de origem gerencial.

    Denominaes variadas tm sido utilizadas para se referir a essas

    propostas, tendo todas como princpio convergente idias que balizam

    os chamados planejamentos estratgicos nas empresas. No campo

    educacional, ressaltamos a presena do Plano de Desenvolvimento da

    Escola PDE, orientados pela lgica do paradigma da gesto por

    resultados, enfatizando aspectos como produtividade, controle, medidas

    de efetividade, eficincia etc.

    A nfase atual na dimenso tcnica, com a ascenso do

    gerencialismo, faz com que um frtil mercado de consultorias para as

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    http://planodedesenvolvimentodaescola.pdf/http://planodedesenvolvimentodaescola.pdf/http://planodedesenvolvimentodaescola.pdf/http://planodedesenvolvimentodaescola.pdf/http://planodedesenvolvimentodaescola.pdf/
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    escolas tambm tende a se desenvolver. Ocorre, muitas vezes, uma

    transposio a-crtica das ferramentas gerenciais, dos mtodos de

    construo dos planos estratgicos etc., argumentando-se que a escola

    precisa de uma gesto mais tcnica, do uso de ferramentas de

    monitoramento mais eficazes, de clculos de eficincia/eficcia etc. Sob

    o manto de tcnico, oculta-se um dos movimentos mais significativos

    que vem ocorrendo no campo educacional: a re-significao do iderio

    crtico o que inclui a elaborao de conceitos, bandeiras de lutas e de

    mtodos, a partir do discurso gerencial.

    O deslocamento da reflexo, que poltica em sua gnese e em

    sua essncia, para uma discusso tcnica estril em sua origem edotada de pseudoneutralidade em sua essncia. A qualidade, que uma questo de deciso poltica, passou a ser considerada umaopo sem problemas (Castro, 2003, p. 272).

    PPrriinnccppiioossOOrriieennttaaddoorreessnnaaCCoonnssttrruuooddooPPrroojjeettooPPoollttiiccoo--

    ppeeddaaggggiiccoo

    A construo do PPP na perspectiva da gesto democrtica

    fundamenta-se nos mesmos princpios que norteiam a escola pblica e

    democrtica. Gimeno Sacristan (2001), ao discutir a escola pblica

    como um projeto da modernidade, destaca seus objetivos e finalidades

    em quatro grandes grupos:

    a) a fundamentao da democracia;

    b)o estimulo ao desenvolvimento da personalidade do sujeito;

    c) a difuso e o incremento do conhecimento e da cultura em geral;

    d)a insero dos sujeitos no mundo;

    a custdia dos mais jovens, suprindo nessa misso a famlia.

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    (Fonte:Gimeno Sacristan, 2001, p. 24)

    Para o autor, essas quatro grandes dimenses se relacionam e se

    condicionam mutuamente, evidenciando aquilo que historicamente

    culminou nas finalidades da escola pblica.

    Quando trata da primeira dimenso a educao como fundamento

    da democracia o autor se refere relao entre conhecimento,

    liberdade e autonomia, argumentando que uma democracia s

    inclusiva se h possibilidade de autonomia dos sujeitos. Para que isso

    ocorra preciso que todos exeram seus direitos polticos efetivamente.

    A participao efetiva requer, em seu exerccio, conscincia e clareza

    tanto dos problemas como das possibilidades de que se dispe. Segundo

    o autor:

    [...] o dilogo como procedimento, a capacidade de tomar

    iniciativas e ir em busca de solues desigual quando os

    participantes potenciais so separados por uma forte

    assimetria quanto ao seu grau de disponibilidade de

    Fundamentao e difuso da democracia

    Funo de custdiae cuidado Desenvolvimento dapersonalidade do sujeito

    Desenvolvimento e difuso da culturaInsero dos sujeitosno mundo

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    informaes sobre os problemas, quanto sua capacidade de

    saber formul-los e quanto s orientaes para sua soluo

    (Gimeno Sacristan, 2001, p. 25).

    A educao pblica , ao mesmo tempo, condio e resultado das

    sociedades modernas. O acesso ao conhecimento no apenas condio

    para a autonomia e participao efetiva dos sujeitos, mas tambm

    condio para sua prpria constituio como tal. Os sujeitos so dotados

    de infinitas possibilidades, cabendo a educao propiciar as melhores

    condies para seu desenvolvimento, auxiliando em sua insero no

    mundo, capacitando-os para bem intervir, para participar ativamente na

    vida produtiva e social, dando-lhes condies de intercmbios scio-

    culturais, de compreender o mundo em que vivem em condies de

    respeito e dignidade.

    A insero no mundo implica, por sua vez, apropriao do

    patrimnio histrico-cultural da humanidade que, na escola, toma a

    forma de contedos de aprendizagem e assimilao dos mtodos das

    chamadas disciplinas cientficas. Ao aludir-se o termo apropriao

    estamos nos referindo no a formas de aprendizagem mecnicas e

    destitudas de sentido para os estudantes. Trata-se de aprender para

    conhecer e transformar o mundo em que se vive. No se trata, pois, de

    ensinar e aprender para se adaptar ao mundo que a est, mas de

    capacitar os alunos para que, de modo crtico, escolham o mundo e as

    circunstncias em que querem viver.

    Para realizar esse projeto societrio, a escola pblica necessita

    rever seu projeto como instituio social, afirmando suas possibilidades

    emancipatrias. Essa reviso desdobra-se de modo imediato nos PPP de

    cada escola, nos preceitos que os orientam e nos modos que viabilizam

    para execut-lo. Veiga (2000) reitera os preceitos acima apresentados,

    destacando como princpios norteadores da escola pblica democrtica

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    e, conseqente, princpios tambm orientadores de seu projeto de

    escola:

    igualdade de condies para acesso e permanncia. Reportando-se a

    Saviani (1982), Veiga (2000) reafirma que a desigualdade, do ponto

    de partida, deve traduzir-se em igualdade no ponto de chegada;

    qualidade para todos (acrescentaramos qualidade social para

    todos);

    gesto democrtica;

    liberdade princpio este que sempre est associado idia da

    autonomia; valorizao do magistrio.

    Gadotti (2000), ao discutir Projeto Poltico Pedaggico, tambm

    aponta dois princpios centrais para a gesto democrtica da escola:

    autonomia e participao. Segundo o autor, esses princpios garantem

    que o PPP no se torne apenas uma carta de intenes, ou apenas um

    plano orientado por metas e estratgias. Ao ressaltar esses dois

    princpios, o autor afirma que a autonomia e a gesto democrtica da

    escola fazem parte da prpria natureza do ato pedaggico. A gesto

    democrtica da escola, , portanto, uma exigncia do seu projeto

    poltico-pedaggico. Resgatando o sentido antropolgico do aprender,

    como atividade especificamente humana, o autor lembra que o

    [...] aluno aprende apenas quando se torna sujeito de sua

    aprendizagem. E para ele tornar-se sujeito de sua

    aprendizagem ele precisa participar das decises que dizem

    respeito ao projeto de escola que faz parte tambm do seu

    projeto de vida. No h educao e aprendizagem sem

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    sujeito da educao e da aprendizagem. A participao

    pertence prpria natureza do ato pedaggico.

    Como vimos, h consensos entre os autores apresentados com

    relao ao carter democrtico que est na origem da escola pblica.

    Entretanto, atualmente parece que perdemos um pouco essa dimenso,

    esquecendo que se as escolas so locais de muitos problemas, tambm

    so portadoras de muitas possibilidades. A gesto democrtica

    condio para que a escola se torne local/espao de efetiva participao,

    pautando-se na dignidade e no respeito, no comprometimento coletivo,

    na autonomia, realizando dessa maneira aquela que principal tarefa do

    trabalho educativo e, logo tambm da escola:

    O ato educativo o ato de produzir, direta e intencionalmente, emcada sujeito singular, a humanidade que produzida histrica ecoletivamente pelo conjunto dos homens (Saviani, 1992, p. 17).

    DDiiffiiccuullddaaddeess ee LLiimmiitteess nnaa CCoonnssttrruuoo ddoo PPrroojjeettoo PPoollttiiccoo--

    ppeeddaaggggiiccoo

    Quando estudamos, discutimos, ou participamos de eventos em que

    a discusso a escola e a construo de seu projeto, comum

    sentirmos uma mistura ambgua de entusiasmo e desalento. comum

    ouvirmos e, muitas vezes, at comentamos que na prtica tudo

    diferente, que muito difcil fazermos o proposto, que os pais no

    sabem participar etc. certo que muitos argumentos tm fora e

    parecem reafirmar o velho jargo que em educao tudo demora,

    nada muda etc.

    Gadotti (2000), ao discutir os obstculos e limites que surgem

    quando se implementam processos de gesto colegiada nas escolas,

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    argumenta que, para a real efetivao dos mesmos, preciso que a

    escola esteja impregnada de uma certa atmosfera que respira a

    circulao de informaes, na diviso do trabalho, no estabelecimento

    do calendrio escolar, na distribuio das aulas, no processo de

    elaborao ou de criao e novos cursos, ou de novas disciplinas, na

    formao de grupos de trabalho, na capacitao de recursos humanos.

    Como j falamos antes, gesto democrtica implica no apenas

    inteno, mas tambm mtodo para sua efetivao.

    Quais os obstculos ou limites que podemos encontrar com

    freqncia nesses processos? De acordo com Gadotti (2000), a maioria

    dos problemas se deve:

    nossa pouca experincia democrtica;

    mentalidade que atribui aos tcnicos (e apenas a estes) a

    capacidade governar e que o povo incapaz de exercer poder;

    prpria estrutura verticalizada de nossos sistemas educacionais;

    ao autoritarismo que, historicamente, tem impregnado nosso

    ethos educacional;

    ao tipo de liderana que tradicionalmente domina a atividade

    poltica no campo educacional.

    Para enfrentar essas dificuldades qual a receita? Ainda de acordo

    com Gadotti (2000):

    o desenvolvimento de uma conscincia crtica;

    o envolvimento das pessoas comunidade interna e externa

    escola;

    participao e cooperao das vrias esferas do governo;

    autonomia, responsabilidade e criatividade como processo e

    como produto do projeto.

    Enfim, preciso compromisso poltico e engajamento dos

    professores, dirigentes, pais e alunos, para construir a prpria

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    identidade da escola como instituio social, assumir compromissos,

    para criar um futuro melhor do que o presente.

    Bibliografia

    GADOTTI, Moacir. Perspectivas Atuais da Educao. Porto Alegre:Artes Mdicas, 2000.

    GIMENO SACRISTAN, J. A educao Obrigatria: seu sentidoeducativo e social. Porto Alegre: Artmed Editora Ltda, 2001.

    SAVIANI, D. Pedagogia Histrico-crtica: primeiras aproximaes.(3 ed.) So Paulo: Cortez Editora, 1992.______. Educao: do senso comum conscincia filosfica. SoPaulo: Cortez, 1983.

    VAZQUEZ, Adolfo S. Filosofia da Prxis. 2 edio. Rio de Janeiro:Editora Paz e Terra, 1977.

    VEIGA, Ilma P. A. Projeto Poltico Pedaggico da Escola: umaconstruo possvel. (10 edio). Campinas, SP: Editora Papirus,2000.

    ______. Inovaes e Projeto-pedaggico: uma relao regulatria ouemancipatria? Caderno Cedes, v. 23, n 61, Campinas, Dez, 2003.

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