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UNIVERSIDADE PARA DESENVOLVIMENTO DO ALTO VALE DO ITAJAÍ Área de Ciências Biológicas, Médicas e da Saúde CURSO PSICOLOGIA - FORMAÇÃO DO PSICÓLOGO RIO DO SUL
RELATÓRIO FINAL DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO
EM JUSTIÇA E CIDADANIA LUCIANA DESCHAMPS SLONCZEWSKI
Relatório do Estágio Supervisionado em
Justiça e Cidadania
Prof.a Orientadora: MSc. Cíntia Adam
Rio do Sul, 10 Novembro de 2008
1-INTRODUÇÃO
Trabalhar com indivíduos detidos por práticas de delitos contra a sociedade
desde o início da graduação foi algo que chamava a atenção e o interesse da estagiária,
autora deste relatório. Outras áreas foram consultadas como a escolar e hospitalar, mas a
cada semestre que passava o interesse pela psicologia jurídica só fez aumentar. E este
mesmo interesse se concretizou quando em 2007 procurou-se um presídio situado no alto
vale do Itajaí pela busca de uma vaga de estagiária (como ajudante na parte social do
presídio) no período de um ano. O objetivo com esse trabalho foi com que os detentos se
familiarizassem com a estagiária para posteriormente estar iniciando o projeto de pesquisa,
o qual foi efetuado com sucesso. Com o início do estágio de intervenção, voltou-se a
procurar o presídio para apresentar o projeto de intervenção intitulado “Presídio Regional;
Repensando Novos Caminhos”, obter a sua aprovação e iniciar os trabalhos.
A idéia principal deste projeto foi o de realizar trabalho de intervenção em psicologia junto aos detentos reclusos pelo artigo Maria da Penha e os que trabalham na cozinha do presídio. Teve-se como objetivos específicos: possibilitar aos detentos discussões/reflexões sobre questões relacionadas ao seu cotidiano, abordar temas relevantes à realidade dos detentos, propiciar troca de experiências e mútua colaboração entre as pessoas que estão presas, tornar possível uma melhoria da qualidade de vida e de auto-estima dos detentos no período em que se encontram reclusos.
Apresenta-se neste relatório de estágio a descrição dos encontros realizados com os grupos no primeiro e segundo semestre do ano de 2008 bem como os assuntos trabalhados e a quantidade de pessoas no grupo. Por questões de espaço, pois este foi um relatório demasiado extenso e por ser um trabalho efetuado com detentos, o relatório somente abarca os temas que foram trabalhados com os presos.
Na apreciação e desenrolar das atividades assim como considerações finais procurou-se mostrar os principais pontos do trabalho realizado.
2-APRESENTAÇÃO DO LOCAL E CONDIÇÕES NAS QUAIS A ATIVIDADE DE ESTÁGIO ACONTECEU
As instalações onde hoje funciona o Presídio o qual foi efetuado o projeto de
intervenção em 1943 abrigava a Delegacia Regional de Polícia e o Instituto Médico Legal
(IML). Na década de 90 a instituição passou por algumas reformas, devido à precariedade
do local e em 2000 o IML foi transferido para o Hospital Regional da cidade e a Delegacia
de Polícia para outra sede.
O Presídio faz parte do sistema Penitenciário do Estado de Segurança Pública e Defesa do Cidadão, através do DEAP (Departamento de Administração Penal) é supervisionado pela Juíza de Direito da cidade. Trabalham neste local o diretor, o chefe de segurança, quatro funcionários da área administrativa, dois estagiários, quatorze agentes prisionais, cinco vigias e doze policiais que se revezam em plantões. No que se refere espaço físico tem-se dois andares, estes, disponibilizados em quatro salas para área administrativa, uma sala para guarnição de mantimentos, uma para alojamento de policiais e duas para alojamento de agentes prisionais. Na parte térrea encontra-se a carceragem, quatro alas para os detentos, área para detentas, cozinha, área para albergados, enfermaria e uma sala de aula. O presídio com capacidade para oitenta presos abriga cerca de duzentas e
vinte e quatro pessoas atualmente. Atualmente encontra-se em construção a nova sede do
presídio situado a 10 km do centro da cidade.
Por ser o presídio um local de risco, todos os passos para a realização do estágio tiveram que ser discutidos com a administração. Objetos cortantes não seriam utilizados nas atividades com presos e qualquer pessoa que fosse efetuar palestra ou outra atividade juntamente com a estagiária deveria ter autorização prévia do diretor para tal. A único espaço físico disponível para a realização dos trabalhos foi a sala de aula, procurou-se a professora que realiza as atividades nesse local para que se planejasse a utilização em um horário que não interferisse em suas aulas. Outro ponto importante para a realização do estágio dentro do presídio foi não interferir na rotina dos presos, como idas ao fórum e recebimento de visitas.
Pela dificuldade na retirada de detentos das celas preferiu-se por realizar o
trabalho de intervenção com os detentos reclusos no pátio do presídio, para tanto, foi
verificada a demanda do local. Como haviam aproximadamente quarenta detentos para a
realização do trabalho, estagiária e orientadora formaram dois grupos: os que trabalham na
cozinha e os detidos pelo artigo Maria da Penha, sendo que os dias para os encontros foram
escolhidos segundas e terças-feiras respectivamente, pois esta opção não interferiria nos
horários de visitas dos detentos.
3-DESCRIÇÃO DO TRABALHO
ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
1o. atendimento
Grupo: Cozinha – 6 pessoas
Grupo: Maria da Penha – 7 pessoas
Assuntos trabalhados: Apresentação da estagiária e objetivos do projeto de
intervenção. Dinâmica de apresentação: O que é você? (Objetivo: Apresentação,
identificação, levantamento de expectativas, análise / analogias, reflexão, avaliação,
comunicação). Relato de questões referentes à ética do profissional psicólogo.
Colocação da não obrigatoriedade de participação dos detentos.
2o. atendimento
Grupo: Cozinha - 5 pessoas
Assuntos trabalhados: Dinâmica – União (Objetivo: promover e refletir sobre o
processo de união e confiabilidade da equipe de trabalho).
Além do tema união a proposta de trabalho foi discutir a união dos detentos
dentro de seu grupo, como é sua convivência, como procedem quando um novo detento
chega no presídio, quais as regras estipuladas entre eles e o que pensam sobre isso.
Cidadania – visão política e processo como construção de sujeito.
Abuso de poder – agente prisional/detento – regalias/detentos
2o. atendimento
Grupo: Maria da Penha – 8 pessoas
Assuntos trabalhados: Palestra sobre alcoolismo com voluntária do ALA-NON (grupo
de familiares de alcoólotras).
3o. atendimento
Grupo: Maria da Penha – 7 pessoas
Assuntos trabalhados: Filme educativo sobre drogas.
Discussão/ reflexão com o grupo sobre o assunto.
Troca de experiência de quem no grupo já fez uso de drogas.
Inclusão do tema alcoolismo para discussão.
4o. atendimento
Grupo: Maria da Penha – 5 pessoas
Assuntos trabalhados: Lei Maria da Penha (Histórico, reflexão e discussão)
3o. atendimento
Grupo: Cozinha - 5 pessoas
Assuntos trabalhados: Perspectivas (passado)
Através de colagens em papel pardo trabalhou-se com o grupo representações de
seus passados (família, crime, acesso fácil a dinheiro, drogas, álcool, etc.)
5o. atendimento
Grupo: Maria da Penha – 4 pessoas
Assuntos traballhados: Tipos de violência (Física, psicológica e verbal) e
utilização de recortes de revistas e discussão/reflexão sobre o assunto.
4o. atendimento
Grupo: Cozinha – 4 pessoas
Assuntos trabalhados: Perspectivas (presente)
Através de colagens em papel pardo trabalhou-se com o grupo representações de
seus presentes (família, presídio, policiamento, etc.)
6o. atendimento
Grupo: Maria da Penha – 4 pessoas
Assuntos trabalhados: Família (compreensão do ambiente familiar no passado e
como será no futuro através de uma casa de bonecos).
7o. atendimento
Grupo: Maria da Penha – 4 pessoas
Assuntos trabalhados: Família (Discussão sobre família real e família ideal).
Casamento
5o. atendimento
Grupo: Cozinha - 5 pessoas
Assuntos trabalhados: Perspectivas (futuro)
Através de colagens em papel pardo trabalhou-se com o grupo representações de
seus futuros (família, trabalho, presídio, policiamento, etc.)
8o. atendimento
Grupo: Maria da Penha – 4 pessoas
Assuntos trabalhados: liberdade – moralidade (normas)/sentimento de ser livre
(Discussão com o grupo pela frase: “A experiência de se sentir livre significa
necessariamente que alguém seja livre?” ).
6o. atendimento
Grupo: Cozinha - 5 pessoas
Assuntos trabalhados: Dinâmica: Aprendendo (objetivo: descontração).
Trabalhou-se a observação dos cartazes efetuados sobre perspectivas de futuro e
reflexões sobre os mesmos.
9o. atendimento
Grupo: Maria da Penha – 4 pessoas
Assuntos trabalhados: Filme (Em Busca da Liberdade)
Discussão sobre o filme
7o. atendimento
Grupo: Cozinha – 5 pessoas
Assuntos trabalhados: Casamento (casamento no passado, casamento no
presente e o que será o casamento no futuro com abertura para outros temas como: filhos,
sexualidade, casamentos homossexuais, domínio dentro da relação conjugal).
10o. atendimento
Grupo: Maria da Penha – 3 pessoas
Assuntos trabalhados: Normalidade e loucura (Relação entre normalidade e
moral, loucura e amoralidade e imoralidade).
O que a Psicologia compreende como loucura.
11o. atendimento
Grupo: Maria da Penha – 4 pessoas
Assuntos trabalhados: Filme Bicho de Sete Cabeças (reflexão com o grupo dos
temas imoralidade, moralidade-normalidade e amoralidade-loucura).
Estigma
8o. atendimento
Grupo: Cozinha – 3 pessoas
Assuntos trabalhados: Filme sobre casamento.
Discussão com o grupo sobre casamento
12o. atendimento
Grupo: Maria da Penha – 4 pessoas
Assuntos trabalhados: Casamento (casamento no passado, casamento no
presente e o que será o casamento no futuro com abertura para outros temas como: filhos,
sexualidade, casamentos homossexuais, domínio dentro da relação conjugal).
9a. atendimento Cozinha e 13o. atendimento Maria da Penha – 6 pessoas
Assuntos trabalhados: Palestra Tuberculose (Funcionária da Vigilância
Epidemiológica).
10o. atendimento
Grupo: Cozinha - 3 pessoas
Assuntos trabalhados: DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis, não incluído
AIDS). .
Exposição de fotos com tipos de doenças.
14O. atendimento
Grupo: Maria da Penha – 4 pessoas
Assuntos trabalhados: DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis, não incluído
AIDS). .
Exposição de fotos com tipos de doenças.
11o. atendimento
Grupo: Cozinha – 4 pessoas
Assuntos trabalhados: AIDS (Filme educativo).
Histórico do tema AIDS nos anos 80.
Explicação dos significados das siglas HIV e AIDS e demonstração do uso de preservativo.
15o. atendimento
Grupo: Maria da Penha – 4 pessoas
Assuntos trabalhados: Houve necessidade de abertura de espaço para os detentos discutirem seus problemas.
16o. atendimento
Grupo: Maria da Penha - 3 pessoas
Assuntos trabalhados: AIDS (Filme educativo)
Histórico do tema AIDS nos anos 80.
Explicação dos significados das siglas HIV e AIDS e demonstração do uso de
preservativo.
17 º atendimento grupo Maria da Penha e 12o. atendimento Cozinha – 6 pessoas
Assuntos trabalhados: Palestra sobre higiene e saúde com funcionária da
Vigilância Sanitária.
13o. atendimento
Grupo: Cozinha – 4 pessoas
Assuntos trabalhados: Depressão (conceito para os detentos e critérios de diagnóstico).
Discussão com o grupo através de cartaz sobre formas de prevenção da depressão dentro do presídio.
18o. atendimento
Grupo: Maria da Penha – 3 pessoas
Assuntos trabalhados: Depressão (conceito para os detentos e critérios de
diagnóstico).
Discussão com o grupo através de cartaz sobre formas de prevenção da
depressão dentro do presídio.
14o. atendimento Cozinha e 19o. atendimento Maria da Penha – 9 pessoas
Assuntos trabalhados: Ansiedade (Aplicação do teste BAI (Beck Anxiety
Inventory), o Inventário de Ansiedade Beck).
20o. atendimento
Grupo: Maria da Penha – 4 pessoas
Assuntos trabalhados: Feedback do teste BAI - Beck Anxiety Inventory
(Inventário de Ansiedade Beck).
Apresentação dos Critérios Diagnósticos para Transtorno de Ansiedade.
Identificação das situações em que os detentos presenciam a ansiedade.
15O. atendimento
Grupo: Cozinha – 3 pessoas
Assuntos trabalhados: Feedback do teste BAI - Beck Anxiety Inventory
(Inventário de Ansiedade Beck).
Apresentação dos Critérios Diagnósticos para Transtorno de Ansiedade.
Identificação das situações em que os detentos presenciam a ansiedade.
16o. atendimento
Grupo: Cozinha – 3 pessoas
Assuntos trabalhados: Relembrar com os detentos situações em que presenciam ansiedade.
Ensinar técnicas de relaxamento para ansiedade.
21o. atendimento
Grupo: Maria da Penha – 4 pessoas
Assuntos trabalhados: Relembrar com os detentos situações em que presenciam ansiedade.
Ensinar técnicas de relaxamento para ansiedade.
17o. atendimento
Grupo: Cozinha – 4 pessoas
Assuntos trabalhados: Conhecer, refletir e discutir quais as reações que os
integrantes têm frente a variadas situações com que o ser humano se depara no cotidiano
(frustração, com invasão, com grito, com palavras de baixo calão, quando diz não, quando
recebe não, quando alguém morre, com tristeza, com paixão, com amor, com raiva e com a
mágoa. Ao lado de cada item pediu-se aos integrantes que listassem quais as suas reações
diante do que foi apresentado).
22o. atendimento
Grupo: Maria da Penha – 2 pessoas
Assuntos trabalhados: Conhecer, refletir e discutir quais as reações que os
integrantes têm frente a variadas situações com que o ser humano se depara no cotidiano
(frustração, com invasão, com grito, com palavras de baixo calão, quando diz não, quando
recebe não, quando alguém morre, com tristeza, com paixão, com amor, com raiva e com a
mágoa. Ao lado de cada item pediu-se aos integrantes que listassem quais as suas reações
diante do que foi apresentado).
18o. atendimento Cozinha e 23o. atendimento Maria da Penha – 8 pessoas
Assuntos trabalhados: Aplicação do Inventário de Expressão de Raiva como
Estado e Traço (STAXI, do inglês, State-Trait Anger Expression Inventory).
Diálogo com os detentos individualmente para feedback.
19o. atendimento Cozinha e 24o. atendimento Maria da Penha + Albergados – 13
pessoas
Assuntos trabalhados – Palestra sobre crenças e religiosidade (2 Integrantes da
Comunidade Evangélica de Confissão Luterana do Brasil).
20o. atendimento
Grupo: Cozinha – 6 pessoas
Assuntos trabalhados: Feedback com os detentos dos encontros realizados até a
presente data.
21o. atendimento
Grupo: Cozinha - 5
Assuntos trabalhados: Reflexões e alternativas para “o que fazer” quando este
sentimento de raiva estiver no cotidiano do detento.
Conceito de raiva
Pontos da história onde a raiva se fez presente
Conto (sobre como raiva pode nos “cegar”.
Identificar algumas situações em que os detentos sentem raiva..
O que se pode fazer para controlar a raiva.
25O. atendimento
Grupo: Maria da Penha – 1 pessoa
Assuntos trabalhados: Alcoolismo
22o. atendimento
Grupo: Cozinha – 6 pessoas
Assuntos trabalhados: Auto-estima
Dinâmica: Do espelho
Reflexões e discussões com o grupo sobre auto-estima (dentro e na saída do
presídio)
26 º atendimento
Grupo: Maria da Penha – 4 pessoas
Assuntos trabalhados: Lei Maria da Penha e Alcoolismo ( Discussão).
23o. atendimento
Grupo: Cozinha – 5 pessoas
Assuntos trabalhados: Dinâmica: Abrindo o Jogo (Objetivo: Revelação de
características desconhecidas do grupo).
27o. atendimento
Grupo: Maria da Penha – 4 pessoas
Assuntos trabalhados: Lei Maria da Penha (Histórico, reflexão e discussão)
24o. atendimento
Grupo: Cozinha – 3 pessoas
Assuntos trabalhados: Dinâmica Ovo Maluco ( refletir sobre estereótipos,
percepção seletiva, iniciativa, correr riscos e descontrair o grupo).
28o. atendimento
Grupo: Maria da Penha – 5 pessoas
Assuntos trabalhados: Reflexões e alternativas para “o que fazer” quando este
sentimento de raiva estiver no cotidiano do detento.
Conceito de raiva
Pontos da história onde a raiva se fez presente
Conto (sobre como raiva pode nos “cegar”.
Identificar algumas situações em que os detentos sentem raiva..
O que se pode fazer para controlar a raiva.
25o. atendimento
Grupo: Cozinha – 5 pessoas
Assuntos trabalhados: Dinâmica: Criação em conjunto (Objetivos: avaliar o
padrão de funcionamento do cliente, propiciar ao cliente o treino de um comportamento e
conscientizar os participantes de alguma aprendizagem necessária).
.
29o. atendimento
Grupo: Maria da Penha – 4 pessoas
Assuntos traballhados: Tipos de violência (Física, psicológica e verbal) e
utilização de recortes de revistas e discussão/reflexão sobre o assunto.
4-APRECIAÇÃO SOBRE O DESENROLAR DAS ATIVIDADES E DOS
DESAFIOS ENFRENTADOS.
Durante o período de 26 de março a 05 de novembro de 2008 foram atendidos no
presídio sessenta e duas pessoas presas pelo artigo Maria da Penha e oito pessoas
que trabalham na cozinha (2-tráfico, 2-estupro, 4-homicídio), realizou-se neste
período vinte e cinco sessões com o grupo da cozinha e vinte e nove sessões com
grupo Maria da Penha.
Conforme planejado com o chefe de segurança do presídio e os detentos, os dias
de encontros foram as terças e quartas-feiras com um dia da semana para cada grupo
(presos pela lei Maria da Penha e detentos que trabalham na cozinha, respectivamente), das
15h00min as 16h00min, sendo que a opção destes dias foi discutida para que não houvesse
interferência na rotina dos mesmos. Caso houvesse problema para a participação deles, nos
dias estipulados, seria conversado sobre a possibilidade de se fazer outro dia o encontro não
realizado.
As reuniões com os detentos foram realizadas na sala de aula do presídio e em
cada momento foi trabalhado um tema diferente podendo este ser estendido para o encontro
seguinte ou modificado de acordo com a necessidade. Conforme descrito algumas pessoas
foram convidadas a dar palestras no presídio, esta proposta de trabalho foi efetuada para
tornar os encontros mais “interessantes” assim como poder mostrar, mesmo que por um
momento, o que é uma instituição prisional e como algo “não desvinculado” da sociedade.
Poder reunir um grupo de detentos dentro de um espaço pequeno sem
nenhuma interferência de agentes prisionais e policiais foi proveitoso no aspecto de que
os detentos conseguiam se expressar sem medo. Deve-se salientar também que a
convivência com a estagiária por um longo período de tempo fez com que além de
vários detentos estarem habituados a ela e se sentirem mais “à vontade” bem como a
direção do presídio e os funcionários pudessem compreender melhor o significado do
trabalho.
Dentro da instituição prisional depara-se diversas vezes com situações de
constrangimento como, por exemplo, o choro incontido de uma família, a fisionomia
com que alguns detentos chegam ao presídio depois de um crime e o convívio com
pessoas que precisam estar armadas todo o tempo. Tais situações fizeram com que em
determinados momentos a estagiária se perguntasse se realmente valeria a pena à
realização do trabalho. Claramente a determinação desta em gostar de trabalhar com
pessoas que cometeram crimes “falou mais alto”. Outro desafio encontrado foi se
deparar com pessoas que não aceitam o trabalho do psicólogo dentro do sistema
prisional, pois estes não acreditam que um detento precise de algum tipo de serviço do
profissional psicólogo, ressalta-se que o diálogo constante com profissionais de outras
áreas foi essencial para a realização do estágio.
5. CONSIDERAÇOES FINAIS
O trabalho com detentos, ao contrário do que muitas pessoas pensam, como o
espanto ao se depararem com uma estagiária que trabalha com “bandidos” ou os “homens
terrivelmente maus” é extremamente gratificante, enriquecedor pela experiência
profissional e pelas próprias experiências de vida que os detentos trouxeram para os
encontros. Em muitos momentos esta estagiária deparou-se com pessoas que apesar de
terem cometido algo extremamente ruim para com seu próximo, demonstraram as várias
dificuldades que tiveram em suas vidas, não aqui justificando certas atitudes suas, mas
demonstrando que essas pessoas apesar de seus erros conseguem refletir sobre os mesmos e
para muitos à vontade de estar aberto as mudanças é um fato real.
Os objetivos do projeto de intervenção foram alcançados como, chamar a
atenção das autoridades para a importância do trabalho do psicólogo no sistema carcerário,
criar um espaço sem nenhuma interferência de poder (policiais e agentes prisionais) de
diálogo e reflexão com os detentos e propiciar a eles troca de experiências de vida. Houve
ganhos significativos também no que diz respeito a maneira como alguns detentos se
comportavam no início dos encontros e como se comportavam ao final do estágio. Não se
refere aqui a formas boas ou más de comportamento, mas a timidez e receio de falar que
aos poucos está dando lugar a imposições firmes de quererem dar suas opiniões, o que foi
extremamente proveitoso.
Argumenta-se também que propiciar momentos de discussão/reflexão com os
detentos sobre variados assuntos trouxe a eles reflexões sobre o delito cometido o que pode
ser uma ferramenta extremamente útil no trabalho do psicólogo dentro do sistema
carcerário de voltar a trazer o detento para o convívio da sociedade, pois, infelizmente seria
o ideal que a “sociedade fosse até o detento”.
No segundo semestre do corrente ano houve necessidade de trabalhar com
aconselhamento com alguns detentos dos grupos ao qual a estagiária trabalhou, com outros
detentos e certas detentas. Este tipo de trabalho não fez parte do projeto, mas o presídio
atualmente não conta com nenhum profissional da psicologia e era necessário, mesmo que
superficialmente, suprir essa carência. Com um detento que trabalha na cozinha, mas não
fez parte do grupo, foi efetuado aconselhamento durante todo o semestre assim como
encaminhamento ao psiquiatra, pois havia suspeita de ocorrência de transtorno mental o
que foi confirmado pelo profissional e utilizado de medicação propicia ao caso.
Todos os temas trabalhados com os detentos foram discutidos com eles para a
sua aceitação, o que mostrou-se benéfico no sentido de propiciar a eles espaço de escolha
de suas vontades. A perda de bens materiais quando da entrada deles no presídio faz com
que o uso de materiais lúdicos e diferentes daqueles que eles estão habituados seja uma
ótima ferramenta de trabalho.
A imensa vontade em trabalhar com detentos foi concretizada através deste
estágio de intervenção de maneira extremamente benéfica não só para a autora deste
relatório como também para os detentos, pois os mesmos expressaram durante as sessões o
quanto estes encontros lhes fizeram bem.
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7 - RESUMO
Este projeto teve como objetivo realizar trabalho de intervenção em psicologia
junto a detentos reclusos pelo artigo Maria da Penha e detentos que trabalham na cozinha
de um presídio do estado de Santa Catarina. Buscou-se propiciar as pessoas que estão
reclusas momentos de discussão/reflexão sobre questões relacionadas ao seu cotidiano,
abordar temas relevantes à sua realidade, propiciar troca de experiências e mútua
colaboração, tornar possível uma melhoria da qualidade de vida e de auto-estima dos
detentos no período em que se encontram reclusos. O método de trabalho para a
intervenção foi o de realização de palestras e discussão de temas relacionados à realidade
do detento (família, cidadania, respeito, alcoolismo, drogas, raiva, lei Maria da Penha,
violência, perspectiva de futuro, etc...). A abertura de espaço dentro de um presídio para
que o detento possa refletir sobre questões relacionadas a sua condição mostra-se
importante e possibilita novas perspectivas de trabalho para o profissional psicólogo no
sistema carcerário.
Palavras-chave: detento, intervenção, discussão, reflexão, reclusão.