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Conversão substancial do negócio jurídico I – Conceito....................................................................................................... 1 II – Fundamentos ............................................................................................... 2 III – Natureza.................................................................................................... 4 IV – Espécies..................................................................................................... 5 V – Etensão..................................................................................................... 6 VI – !ressupostos............................................................................................... 7 VII – "precia#ão pelo judici$rio............................................................................ 8 VIII – Conclus%es elaboradas por !ro&essores da F'()!...........................................9 I* – Eemplos................................................................................................. 10 +ibliogra&ia ..................................................................................................... 10 I – Conceito O Código Civil de 2002 trouxe a disciplina da conversão do negócio jurídico, inédita no Direito positivo brasileiro, por meio do art. !0 e sua leitura conjunta com o art. "# . $istoricamente, os %undamentos da conversão %oram alcan&ados por juristas alemães através do estudo de Direito romano e medieval, e posteriormente positivados  pelo ' (0 do )*) 2 , em vigor desde #00, cujo dispositivo a propósito inspirou o Código Civil italiano de #(2, o Código Civil portugu+s de #"!, e o Código Civil  brasileiro de 2002. rata-se, em linas gerais, de instituto /ue visa a impedir a declara&ão de nulidade de determinado negócio jurídico /uando satis%eitos dois re/uisitos bsicos, /ua is se jam1 i3 a pos sib ilid ade de /ua li%ic- lo com o out ro neg ócio per %eitamente vlido4 e ii3 a preserva&ão dos e%eitos prticos pretendidos. De %ato, os juristas alemães encontraram casos j entre os romanos nos /uais a conversão %oi utili5ada. O seu uso sempre %oi com o intuito de preservar os e%eitos /ue se pretendeu perseguir por meio de dada %igura jurídica, /ue, mais tarde, coneceríamos 1 Art. 169. O negócio jurídico nulo não é suscetível de conr!"#ão$ ne! conv"les ce %elo decurso do te!%o.Art. 170. &e$ %oré!$ o negócio jurídico nulo contiver os re'uisitos de outro$ su(sistir) este 'u"ndo o ! " 'ue vis"v"! "s %"rtes %er!itir su%or 'ue o teri"! 'uerido$ se *ouvesse! %revisto " nulid"de. 2 Bürgerliches Gesetzbuch$ +ódigo +ivil "le!ão. 1

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Conversão substancial do negócio jurídico

I – Conceito.......................................................................................................1

II – Fundamentos...............................................................................................2III – Natureza....................................................................................................4

IV – Espécies..................................................................................................... 5

V – Etensão..................................................................................................... 6

VI – !ressupostos...............................................................................................7

VII – "precia#ão pelo judici$rio............................................................................8

VIII – Conclus%es elaboradas por !ro&essores da F'()!...........................................9

I* – Eemplos................................................................................................. 10

+ibliogra&ia.....................................................................................................10

I – Conceito

O Código Civil de 2002 trouxe a disciplina da conversão do negócio jurídico,

inédita no Direito positivo brasileiro, por meio do art. !0 e sua leitura conjunta com o

art. "#. $istoricamente, os %undamentos da conversão %oram alcan&ados por juristas

alemães através do estudo de Direito romano e medieval, e posteriormente positivados

 pelo ' (0 do )*)2, em vigor desde #00, cujo dispositivo a propósito inspirou o

Código Civil italiano de #(2, o Código Civil portugu+s de #"!, e o Código Civil

 brasileiro de 2002.

rata-se, em linas gerais, de instituto /ue visa a impedir a declara&ão de

nulidade de determinado negócio jurídico /uando satis%eitos dois re/uisitos bsicos,

/uais sejam1 i3 a possibilidade de /uali%ic-lo como outro negócio per%eitamente

vlido4 e ii3 a preserva&ão dos e%eitos prticos pretendidos.

De %ato, os juristas alemães encontraram casos j entre os romanos nos /uais a

conversão %oi utili5ada. O seu uso sempre %oi com o intuito de preservar os e%eitos /ue

se pretendeu perseguir por meio de dada %igura jurídica, /ue, mais tarde, coneceríamos

1 Art. 169. O negócio jurídico nulo não é suscetível de conr!"#ão$ ne! conv"lesce%elo decurso do te!%o.Art. 170. &e$ %oré!$ o negócio jurídico nulo contiver osre'uisitos de outro$ su(sistir) este 'u"ndo o ! " 'ue vis"v"! "s %"rtes %er!itirsu%or 'ue o teri"! 'uerido$ se *ouvesse! %revisto " nulid"de.

2 Bürgerliches Gesetzbuch$ +ódigo +ivil "le!ão.

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como negócio jurídico. 6a casuística romana, o expediente se veri%icou sobretudo em

rela&ão a contratos e testamentos. 6ão por acaso, são estas justamente as %iguras /ue

incitaram a cria&ão de normas generali5adas e, posteriormente, a elabora&ão do livro de

%atos jurídicos.

 6o )rasil, a despeio da aus+ncia de sua previsão no código civil anterior, o

instituto j operava muito, por %or&a dos princípios 7. De %ato, no sistema jurídico de

origem romanísctica, a conversão en/uanto instituto de utilidade prtica %oi %ormulada

 pela doutrina como %orma de preservar o propósito perseguido pelo agente através do

negócio jurídico, sacri%icando, para este %im, a correspond+ncia entre o modelo negocial

 praticado e o modelo negocial pretendido.

 II – Fundamentos

8 tutela do negócio jurídico pressup9e o reconecimento de /ue o cidadão

detém o poder de disciplinar os seus próprios interesses. 8 partir desta premissa,

conclui-se /ue a atividade negocial deve ser preservada ao mximo1 o princípio da

conserva&ão serve exatamente a este propósito, pois imp9e a tutela jurídica do reusltado

 prtico perseguindo pelas partes, por meio da continuidade do negóco jurídico.

8 atividade negocial, portanto, deve preservada a %im de /ue seja tutelado oe%eito prtico perseguido pelas partes por meio de seu poder de regular os próprios

interesses privados. Corolrio disto é o conte:do da regra romana  favor negotii, outro

 pilar de sustenta&ão da conversão do negócio jurídico, /ue in%luenciou uma série de

obras de direito privado e %oi inclusive enunciada por ;otier (. rata-se da ideia de /ue,

se ouver duas interpreta&9es possíveis, /ue se apli/ue a/uela cujo resultado ser dar <

, -ão é ocioso dest"c"r 'ue$ en'u"nto "s regr"s disci%lin"! " vid"cotidi"n" e! c"r)ter i!edi"to$ %reciso e$ %ort"nto$ !enos "(r"ngente$ "os%rincí%ios c"(e " un#ão de inor!"r o sentido d"s nor!"s$ r"/ão %el" 'u"lco!%e! "cervo !"is relev"nte do siste!" jurídico A-3$ %. 27.

4 A segund" d"s "!os"s regr"s de inter%ret"#ão enunci"d"s %or ort*ierte! o seguinte contedo :Lorsqu’une clause est susceptible de deux sens,on doit plutôt l’entendre dans celui dans lequel elle peut avoir quelqueefet, que dans celui dans lequel elle n’en pourroit avoir aucun;. ot*ier$<o(ert =ose%*. Oeuvres de ot*ier . t. tr"ité des o(lig"tions$ "ris >.

&i?rein$ 1821$ %. 14,. +onsult"do n" @"llic" (i(liotec" n"cion"l d" Br"n#"on lineC e! 17 de evereiro de 2016.

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clausula algum e%eito, em detrimento da/uela /ue enseja sua ine%iccia. Ou seja, deve-

se privilegiar uma interpreta&ão /ue d+ sentido prtico < clausula.

O princípio da conserva&ão e o conjunto de premissas /ue, con%orme re%erido

acima, dão-le sentido, colocam-se como principal %undamento da conversão donegócio jurídico. 6ão por acaso o Código Civil mani%esta o princípio da conserva&ão

em uma série de oportunidades.

 6o plano da validade, o principio da conserva&ão justi%ica a di%erencia&ão entre

nulidade e anulabilidade. Com e%eito, os negócios anulveis são conse/u+ncias de vícios

menos graves e, portanto, são passíveis de con%irma&ão expressa ou tcita, /uando a

execu&ão é iniciada voluntariamente, con%orme determinam os arts. !2 e !(. =m

adi&ão, < di%eren&a da nulidade, segundo o art. !! do Codigo Civil, a anulabilidade

depende de senten&a /ue a recone&a e, desta %orma, est sujeita ao pra5o decadencial

da a&ão. udo a demonstrar /ue existe a possibilidade de preserva&ão de negócio

anulvel. 8lis, ainda no >mbito da anulabilidade, em rela&ão aos institutos do erro e da

lesão, os arts. (( e ?!, prgra%o 2@, do Código Civil disp9em as ipóteses de

 preserva&ão do negócio.

O princípio da conversão também justi%ica o conceito de nulidade parcial. ;or 

%or&a do art. A( do Código Civil, na ipótese de cla:sulas vlidas insertas em contrato

invlido serem per%eitamente destacveis, os seus e%eitos pretendidos pelas partes serão

tutelados.

 6o plano da e%iccia, o princípio da conserva&ão %undamenta a pós-e%icaci5a&ão

dos negócios jurídicos, a exemplo do art. .2"A do Código Civil, a respeito da venda a

non domino para ad/uirente de boa-%é seguida de a/uisi&ão da coisa pelo alienante. =m

adi&ão, o regime das camadas garantias implícitas, como o da onerosidade excessva,

serve a permitir a adapta&ão do negócio para evitar a resolu&ão e garantir a produ&ão

dos e%eitos pretendidos. 6este sentido, os arts. 7!, ((2, (?? e (!# do Código Civil.

B No plano da existência, o princípio da conservação justifica justamente a

conversão substancial do negócio jurídico na medida em /ue possibilita /ue um

negócio jurídico invlido seja convertido em outro /ue seja vlido e e%ica5? . 8

conversão do negócio juríco é, na verdade, uma das mais importantes aplica&9es do

5 A-3$ %. 61.

,

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 princípio da conserva&ão. Com e%eito, /uando não avia ainda a previsão legal /ue oje

se encontra no art. !0 do Código Civil, o princípio da conversão era a justi%icativa para

a aplica&ão da conversão do negócio jurídico entre nós.

Outro %undamento da conversão do negócio jurídico, segundo doutrina italiana,seria a boa-%é. O argumento %a5 sentido1 seria insu%iciente recorrer ao princípio da

conserva&ão na ipótese em /ue o negócio substituto não corresponda < boa-%é. ;ela

 boa-%é, na verdade, é possível precisar o negócio substituto. 6o )rasil, tal argumenta&ão

se sustenta diante dos arts. A! e (22 do Código Civil.

;or %im, a conversão do negócio se justi%ica pela ideia de /ue os negócios

 jurídicos são :teis < sociedade. 8 Constitui&ão da ep:blica optou pelo reconecimento

do valor social da livre iniciativa, con%orme se depreende de seus arts. @, inc. EF, e !0,

caput . 6o Código Civil, o dispositivo correspondente seria o art. (2, /ue estipula os

limites da contrata&ão por meio da %un&ão social do contrato. al regra evidencia,

segundo alguns autores, a relev>ncia social de se preservar os e%eitos de dado negócio

 jurídico, diante da utilidade de permiti-lo cria e circular ri/ue5as.

III – Natureza

Con%orme re%erido acima, a conversão do negócio jurídico opera no plano daexist+ncia, mas as conse/u+ncias se dão no plano da validade e da e%iccia. O negócio

 jurídico /ue exista pode entrar no mundo jurídico de duas possíveis %ormas1 invlida e

validamente. O art. !0, na realidade, imp9e /ue, observadas as premissas nele contidas,

seja utili5ada a via da validade.

8 conversão do negócio jurídico de /ue tratamos por meio do art. !0 tem

nature5a de conversão substancial, tendo em vista /ue altera a /uali%ica&ão categorial do

negócio.

=m contrapartida, a conversão %ormal seria a/uela pela /ual se pretende

 preservar o mesmo negócio jurídico, por meio da altera&ão da %orma utili5ada. G o caso,

 por exemplo, de negócio celebrado por escritura p:blica viciada, mas /ue poderia ter 

sido conluído por meio de instrumento particular. rata-se da disciplina do art. A7 do

Código Civil. =xiste discussão sobre a possibilidade de considerar a conversão %ormal

como tipo de conversão do negócio jurídico. Hegundo o ;ro%. Ianetti, na maior parte

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das ve5es, entretando, a conclusão dos autores é pela negativa, tendo em vista tratar-se,

a rigor, de mera altera&ão da %orma documental escolida.

IV – Espécies

8 conversão substancial do negócio pode assumir di%erentes espécies de acordo

com a origem ou motiva&ão de sua aplica&ão.

8 conversão legal ou legislativa é a/uele determinada por %or&a de lei. =xemplo

disto é o art. (7 do Código Civil, /ue substitui uma aceita&ão ine%ica5 por uma

 proposta vinculante. =ntretanto, grande parte da doutrina adu5 não ser esta uma espécie

genuína de conversão substancial, j /ue não averia nestes casos duas possibilidades

de /uali%ica&ão do negócio, e sim apenas uma :nica ipótese em /ue o negócio possa

existir, /ual seja, a/uela imposta pela lei.

;ara o ;ro%essor Ianetti, porém, não é de se descartar a possibilidade de ser 

aver conversão substacial na espécie legal". Hegundo ele, o %ato de aver menor 

relev>ncia a vontade das partes na conversão prevista em lei não le priva o carter 

substancial, a%inal, sempre /ue a conversão se d+ para preservar um negócio contido

negócio substituto3 na/uele e%etivamente celebrado, ter sido respeitado o propósito

/ue deu ensejo < declara&ão de vontade. 8ssim, no caso do mencionado art. (7, aaceita&ão ine%ica5 sem elementos categoriais inderrogveis!3, /ue iria criar um negócio

/ue entraria in:til no mundo jurídico por não ter todos os elementos categoriais

inderrogveis3, converte-se ppara /ue, em sua nova /uali%ica&ão, cause e%eitos jurídicos

:teis.

8 conversão judicial é a modalidade mais importante, /ue encontra respaldo no

art. !0 do Código Civil. O exemplo mais tradicional é o caso da nova&ão subjetiva

mudan&a de devedor3 %eita /uando o devedor j est em mora, sendo, portanto, nula. O

6 O roessor =un'ueir" t"!(é! considerou " conversão leg"l co!oconversão su(st"nci"l :conversão do negócio jurídico conversãosu(st"nci"lC é o "to %elo 'u"l " lei ou o jui/ consider"! u! negócio$ 'ue énulo$ "nul)vel ou inec"/$ co!o sendo de ti%o dierente do eetiv"!entere"li/"do$ " ! de 'ue$ "tr"vés deste "rtiício$ e#e sej" consider"do v)lido e%oss"! se %rodu/ir %elo !enos "lguns dos eeitos !"niest"dos %el"s%"rtes co!o 'ueridos;. =un'ueir" de A/evedo$ %. 181.

7 3le!entos essenci"is do contr"to. r"t"Dse de no!encl"tur" cri"d" %eloro. =un'ueir" n" oc"sião e! 'ue construiu u!" deni#ão %"r" " gur".

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 jui5 poder converter a nova&ão, ou seja, alterar sua /uali%ica&ão, para /ue seja ren:ncia

do credor <s vantagens para ele advindas da mora4 ou seja, como pacto /ue purga a

mora.

;or %im, a conversão voluntria tem lugar na ipótese em /ue as partes %irmarama clusula omni meliori modo. al expediente se di%ere dos negócios jurídicos com

vontade alternativa por/ue deve-se prever precisamente o negocio substituto. Desta

%orma, trata-se e%etivamente de conversão. 8 clusula omni meliori modo, todavia, não

des%ruta da mesma import>ncia /ue teve no passado, até por/ue o art. !0 prev+ a

conversão ainda /ue as partes não tenam pactuado a re%erida clusula.

 6aturalmente as partes podem pactuar um negócio substituto para a/uele levado

a e%eito anteriormente por elas. 6este caso, entretanto, não se %ala em conversão, pois a

 própria nova declara&ão negocial prestada pelas partes é su%icientes para vincul-las

sendo desnecessirio invocar a conversão3. He não sobrevier nova pactua&ão, porém,

ser necessrio interven&ão do ;oder Judicirio para precisar se tem lugar a conversão e,

caso positivo, /ual o negócio substituto.

V – Etensão

8 conversão substancial não ter lugar na ipótese de declara&ão de vontade /uenão seja su%iciente < exist+ncia de ao menos dois negócios jurídicos, de %orma /ue, neste

 particular, um deles seja vlido e e%ica5. =sta é, inclusive, a conclusão /ue o art. !0 do

Código Civil deixa desde logo em evid+ncia. 8 este respeito, o ;ro%essor Del 6ero

esclarece /ue o negócio jurídico inexistente é a/uela %igura jurídica-negocialmente

in/uali%icvel, sendo, portanto, insuscetíveis de conversão, pois a conversão nada mais é

/ue uma re/uali%ica&ão do negócioA.

;ara além da re/uisito de existir ser /uali%icvel3, da leitura do art. !0 doCódigo Civil emerge /ue deve aver um negócio nulo, para /ue aja sentido em aplicar 

a conversão. 6em todo negócio jurídico nulo, entretanto, admite conversão. Hegundo o

;ro%essor Del 6ero, também não se submetem < conversão os negócios jurídicos ilícitos

ou seja, negócios nulos por KiL ilicitude de objeto4 KiiL motivo determinante vedado pelo

ordenamento4 ou KiiiL escopo de %raudar lei imperativa3, por não serem dignos de

8 E3F -3<O$ %%. ,70G,71.

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conserva&ão, uma ve5 /ue juridicamente desvaliosos. =m adi&ão, a consrva&ão não deve

servir a permitir /ue sejam alcan&ados %ins proibidos por lei#. 

8 despeito de positivamente só aver re%er+ncia < conversão de negócio jurídico

nulo art. !03, a conversão também opera em %ace de negócios anulveis ou ine%ica5es.

Muanto aos negócios anulveis, /uem sustente /ue não sejam passíveis de

conversão em ra5ão da previsão do art. !2 do Código Civil da possibilidade de serem

con%irmados. =ntretanto, tem-se de%endido na doutrina /ue a conversão tem cabimento

em negócios anulveis por/ue não %aria sentido ser possível conversão para vícios mais

graves nulo3 e não ser para vícios menos graves anulvel3. 8demais, nem todos os

negócios anulveis podem ser imediatamente con%irmados pelas partes ex. negócios

 praticados por relativamente incapa5 por idade3. 6este particular, a doa&ão mortis causa

concluída pelo relativamente incapa5 pode ser convertida em testamento e, assim, ser 

vlido por %or&a do pargra%o :nico do art. .A"0 do Código Civil.

O ;ro%essor Del 6ero esclarece, porém, /ue, apesar de os negócios anulveis

serem suscetíveis de conversão, os negócios jurídicos anulados não o são. 6ão poder

aver conversão após a prola&ão de senten&a, pois a /uali%ica&ão de%initiva do negócio

 jurídico, por óbvio, d-se apenas uma ve5, não podendo ser %eita uma /uali%ica&ão

Bde%initiva e, em seguida, outra /uali%ica&ão Btambém de%initiva0. Enteressante notar,

entretanto, /ue entre os portugueses, disposi&ão legal /ue permite a conversão de

negócio anulado, por %or&a do art. 2#7 do Código Civil lusitano de #"".

Muanto aos negócios ine%ica5es, igualmente a doutrina se posiciona %avorvel ao

cabimento de conversão. 6este sentido, o pacto antenupcial seguido de casamento

religioso /ue não atende <s regras necessrias a produ5ir e%eitos civis pode ser 

convertido em contrato de conviv+ncia, devido < ine%iccia de%initiva da/uele primeiro

negócio não sujeita a condi&ão ou termo3.

Desta %orma, ainda /ue a leitura do art. !0 pare&a sugerir /ue a conversão se d+

tão somente em rela&ão aos negócios nulos, Ba devida interpretação do ordenamento

9 E3F -3<O$ %. ,71.

10 E3F -3<O$ %%. ,71G,72.

7

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revela que anuláveis ou simplesmente ineficazes tambm se prestam ! alteração

categorial de qualificação.

VI – !ressupostos

O pressuposto objetivo, corolrio do %ato de a conversão operar no plano da

exist+ncia, é presen&a de todas as exig+ncias legais para /ue o negócio substituto exista,

seja vlido e e%ica5es2.

Muanto aos pressuspostos subjetivos, é necessrio primeiramente precisar o

conte:do do art. !0. al dispositivo d a entender /ue é relevante a vontade subsidiria

das partes de celebrar o negócio jurídico substituto, porém, este pressuposto não se

veri%ica7. 6este sentido, não pressuposto subjetivo de vontade das partes em celebrar 

o negócio substituto.

O pressuposto subjetivo é, portanto, /ue os e%eitos do negócio jurídico substituto

sejam /ueridos pelas partes o /ue se pode dedu5ir através do negócio jurídico

e%etivamente celebrado3. Ou seja, /ue os e%eitos prticos desejados sejam preservados.

Hegundo o ;ro%essor Ianetti, raciocinar de %orma diversa signi%icaria privar de sentido a

conversão e ir contrariamente ao princípio da conserva&ão e < boa-%é e %un&ão social1

B sociamente, os efeitos são mais importantes que o modelo negocial 

(

. Nm segundo pressuposto subjetivo é /ue a conversão não seja excluída, de

comum acordo, pelas partes. He da anlise das circunst>ncias do caso emergir /ue as

 partes /ueriam a/uele negócio com a/uela %orma e não outro, não dever ter cabimento

a conversão, pois o instituto se presta a resguardar a autonomia privada4 e não violent-

la.

11 A-3$ %. 76.

12 O %rocedi!ento d" conversão consider" os trHs %l"nos I eJistHnci"$v"lid"de e ec)ci" I !"s " escol*" d" 'u"lic"#ão "de'u"d" se d) no %l"nod" eJistHnci" ser 'u"lic"do é eJistir no !undo jurídicoC. K nesse !o!ento'ue se d) " conversão.

1, Fer$ !"is "di"nte$ " conclusão do roessor =un'ueir" de 'ue não énecess)rio se "l"r e! vont"de %ressu!id" %"r" justic"r " conversão$ %ois" coversão não desn"tur" o negócio jurídico %elo si!%les "to de 'u"lic"r onegócio co!o outro 'ue não "'uele 'uerido %el"s %"rtes$ tendo e! vist"'ue os eeitos "lc"n#"dos são os desej"dos.

14 A-3$ %%. 78G79.

8

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VII – "precia#ão pelo judici$rio

 6o direito brasileiro, a nulidade pode ser, em regra, alegada a /ual/uer momento

e, inclusive, de o%ício?. Discute-se como %unciona esta /uestão /uanto < conversão do

negócio. al discussão se deu muito mais em sede estrangeira, sobretudo na Etlia, tendodespertado pouco interesse nos estudiosos brasileiros. Com e%eito, no )rasil, segundo o

;ro%essor Ianetti, uma obra em /ue se de%ende /ue a conversão possa ser alegada de

o%ício". =ntretanto, ainda de acordo com o ;ro%essor Ianetti, a%igura-se mais ade/uado

entender /ue a conversão depende de provoca&ão das partes, tendo em vsta /ue o

intituto serve a acomodar os interesses privados. rata-se, inclusive, do entendimento

majoritrio na doutrina italiana e portuguesa. Convém deixar a cargo do cidadão a

decisão a respeito de seus interesses e tutela de suas pretens9es privadas. 8demais, o pedido das partes é importante elemento de averigua&ão de /ual deve ser o teor do

negócio substituto.

;or %im, no sistema processual brasileiro, con%orme o art. 2@ do Código de

;rocesso Civil!, vige o princípio dispositivo.

VIII – Conclus%es elaboradas por !ro&essores da F'()!

O ;ro%essor Ianetti escreveu sobre a conserva&ão dos contratos nulos por 

de%eitos de %orma e, segundo ele, a conversão substancial tem papel importante a este

 propósito. De acordo com o ;ro%essor Ianetti, o senso jurídico sugere /ue o contrato

/ue pade&a de vício %ormal deve ser substituído por um contrato preliminar, cuja

validade não est condicionada a /ual/uer observ>ncia %ormal, por %or&a do art. ("2 do

Código Civil. Com e%eito, o %ato de /ue as partes tenam celebrado o contrato

de%initivo, ainda /ue com vicio %ormal, é su%iciente para /ue estejam presentes todos os

15 :Art. 168. As nulid"des dos "rtigos "ntecedentes %ode! ser "leg"d"s %or'u"l'uer interess"do$ ou %elo >inistério (lico$ 'u"ndo l*e cou(er intervir."r)gr"o nico. As nulid"des deve! ser %ronunci"d"s %elo jui/$ 'u"ndo con*ecerdo negócio jurídico ou dos seus eeitos e "s encontr"r %rov"d"s$ não l*e sendo%er!itido su%riDl"s$ "ind" 'ue " re'ueri!ento d"s %"rtes.Art. 169. O negócio jurídico nulo não é suscetível de conr!"#ão$ ne! conv"lesce%elo decurso do te!%o;.

16 Apud LE-3 =M-O<$ N"!id +*"r"d. Eeitos do neg!cio "ur#dico nulo. &ão"ulo &"r"iv"$ 2010$ %. 148.

17 :Art. 2 -en*u! jui/ %rest"r) " tutel" jurisdicion"l senão 'u"ndo " %"rteou o interess"do " re'uerer$ nos c"sos e or!" leg"is;.

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7/24/2019 Resumo. Conversão Substancial do Negócio Jurídico_Prova de Mestrado FDUSP_ 2016

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elementos essenciais < celebra&ão do preliminar. O vício %ormal, entretanto, priva o

de%initivo de validade, problema /ue poderia ser contornado por meio da conversãoA.

O ;ro%essor Jun/ueira adu5 /ue a conversão substancial tem Benorme

import"ncia teórica para a concepção de negócio jurídico, pois se presta a pr emxe/ue a concep&ão de negócio jurídico como ato de vontade, tendo em vista /ue

consubstancia um negócio jurídico /ue não %oi e%etivamente /uerido pelas partes #. G a

lei P no caso da conversão legal P ou o jui5 P no caso da conversão judicial P /uem

atribui a dado negócio jurídico e%eitos de outro negócio jurídico o /ual não %ora

e%etivamente celebrado pelas partes. 6ão segue daí, entretanto, /ue se deva %alar em

vontade presumida das partes, ou seja, o /ue teriam elas desejado se soubessem /ue

averia invalidade do negócio /ue celebraram. 6a verdade, é neste ponto /ue aconversão prop9e uma /uebra do dogma da vontade em matéria de negócio jurídico.

Hegundo o ;ro%essor Jun/ueira, na conversão, a imposi&ão de um negócio jurídico outro

/ue não o celebrado pelas partes só é levada a e%eito /uando seus e%eitos não %orem

contrrios ao /ue as partes declaram /uerer. Hendo assim, não necessidade de

encontrar /ual/uer Bsolu&ão < a%ronta ao ato de vontade das partes, a exemplo da

e/uívoca no&ão de vontade pressumida.

I* – Eemplos

Hegundo o ;ro%essor Jun/ueira, o endosso de título j vencido é um exemplo de

conversão substancial /ue raramente é reconecido como tal na doutrina brasileira. 6a

realidade, o endosso de título vencido representa uma cessão de crédito. rata-se,

 portanto, da conversão de endosso em cessão de crédito, pois o endosso é nulo e, para

/ue nem tudo se perca, ele é convertido em Bcessão civil . 6ão aver e%eitos

cambirios, mas aver a cessão de crédito, preservando-se, assim, alguns e%eitos

trans%eridos pelas partes, gra&as < altera&ão de tipo20. 

O ;ro%essor Jun/ueria acrescenta, ainda, os seguintes exemplos de conversão

 judicial1 i3 cambial nula /ue vale como promessa de pagamento esta é uma ipótese

de conversão legal no direito italiano, por meio do art. .#AA do #odice #ivle34 ii3

18 A-3$ %. 84.

19 =P-QP3<A$ %. 184 e ss.

20 =P-QP3<A$ %. 181.

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m:tuo em /ue não ouve tradi&ao, convertido em promessa de m:tuo4 iii3 ren:ncia

antecipada da prescri&ão, /ue, não valendo como ren:ncia, é convertida em interrup&ão

da prescri&ão4 iv3 testeamento nulo /ue é convertido em codicilio4 v3 %alsa declara&ão

de paternidade ou maternidade, /ue é convertida em legitima&ão adotiva.

O ;ro%essor Ianetti comenta os exemplos mais corri/ueiros na literatura jurídica

de outros países. 6o Direito italiano, a conversão é exempli%icada por meio da %igura de

um usu%ruto celebrado com vício %ormal /ue, para ad/uirir e%iccia, converte-se em

loca&ão. 6o Direito portugu+s, entende-se /ue a compra e venda viciada pode ser 

convertida na promessa.

+ibliogra&ia

D=Q 6=O, João 8lberto HcRt5er. #onversão $ubstancial do Negócio %urídico. io

de Janeiro1 enovar, 200.

JN6MN=E8 D= 8I=F=DO, 8ntnio.  & conversão dos negócios jurídicos' seu

interesse teórico e prático, in1  (studos e pareceres de direito privado, Hão ;aulo1

Haraiva, 200(.

I86=E, Cristiao de Housa.  & #onservação dos #ontratos Nulos por )efeito de

 *orma. Hão ;aulo1 Muartier Qatin, 207, pp. 2!-A".

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