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7.2. Teoria da associação diferencial E considerada uma teoria de consenso. Foi iniciada por EDWIN SUTHERLAND, um dos sociólogos que mais influenciou a Criminologia moderna, tendo se inspirado, em parte, nas idéias de GABRIEL TARDE. SUTHERLAND, que nasceu em 1883 e viveu até 1950, teve seu primeiro contato com a Crimínologia no início do século XX, com a escola de Chicago, sendo por ela influenciado. No final dos anos 30, Sutherland cunha a expressão white-collar crimes, que passa a identificar os autores de crimes diferenciados, que apresentavam pontos acentuados de dessemelhança com os criminosos chamados comuns. Dez anos mais tarde, em 1949, revê parcialmente sua teoria, chegando a uma formulação mais próxima da que conhecemos hoje. Segundo EDWIN SUTHERLAND, A ASSOCIAÇÃO DIFERENCIAL é o processo de aprender alguns tipos de comportamento desviante, que requer conhecimento especializado e habilidade, bem como a inclinação de tirar proveito de oportunidades para usá-las de maneira desviante. Tudo isso é aprendido e promovido principalmente em grupos tais como gangues urbanas ou grupos empresariais que fecham os olhos a fraudes, sonegação fiscal ou uso de informações privilegiadas no mercado de capitais. A TEORIA DA ASSOCÍAÇÃO DIFERENCIAL PARTE DA IDÉIA segundo a qual o crime não pode ser definido simplesmente como disfunção ou inadaptação das pessoas de classes menos favorecidas, não sendo ele exclusividade destas. Em certo sentido, ainda que influenciado pelo pensamento da desorganização social de William Thomas, Sutherland supera o conceito acima para falar de uma organização diferencial e da aprendizagem dos valores criminais.

Resumo de Criminologia

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Page 1: Resumo de Criminologia

7.2. Teoria da associação diferencial

E considerada uma teoria de consenso.

Foi iniciada por EDWIN SUTHERLAND, um dos sociólogos que mais influenciou a

Criminologia moderna, tendo se inspirado, em parte, nas idéias de GABRIEL TARDE.

SUTHERLAND, que nasceu em 1883 e viveu até 1950, teve seu primeiro contato com a

Crimínologia no início do século XX, com a escola de Chicago, sendo por ela influenciado.

No final dos anos 30, Sutherland cunha a expressão white-collar crimes, que passa a

identificar os autores de crimes diferenciados, que apresentavam pontos acentuados de

dessemelhança com os criminosos chamados comuns. Dez anos mais tarde, em 1949, revê

parcialmente sua teoria, chegando a uma formulação mais próxima da que conhecemos

hoje.

Segundo EDWIN SUTHERLAND, A ASSOCIAÇÃO DIFERENCIAL é o processo de

aprender alguns tipos de comportamento desviante, que requer conhecimento

especializado e habilidade, bem como a inclinação de tirar proveito de oportunidades

para usá-las de maneira desviante.

Tudo isso é aprendido e promovido principalmente em grupos tais como gangues

urbanas ou grupos empresariais que fecham os olhos a fraudes, sonegação fiscal ou uso de

informações privilegiadas no mercado de capitais.

A TEORIA DA ASSOCÍAÇÃO DIFERENCIAL PARTE DA IDÉIA segundo a qual o crime não

pode ser definido simplesmente como disfunção ou inadaptação das pessoas de

classes menos favorecidas, não sendo ele exclusividade destas. Em certo sentido, ainda

que influenciado pelo pensamento da desorganização social de William Thomas, Sutherland

supera o conceito acima para falar de uma organização diferencial e da aprendizagem dos

valores criminais.

VANTAGENS DA TEORIA DA ASSOCIAÇÃO DIFERENCIAL - ao contrário do

positivismo, que estava centrado no perfil biológico do criminoso, tal pensamento traduz

uma grande discussão dentro da perspectiva social. O homem aprende a conduta

desviada e associa-se com referência nela.

Quadro 3: Teoria da Associação Diferencial de SUTHERLAND

Teoria da Associação Diferencial de SUTHERLAND (nove proposições)

Segundo MOLINA e GOMES, a teoria da associação diferencial de Sutherland é

resumida com nove proposições:

Page 2: Resumo de Criminologia

1) A conduta criminal se aprende, como se aprende também o comportamento

virtuoso ou qualquer outra atividade: os mecanismos são idênticos em todos os casos.

2) A conduta criminal se aprende em interação com outras pessoas, mediante

um processo de comunicação. Requer, pois, uma aprendizagem ativa por parte do

indivíduo. Não basta viver em um meio criminógeno, nem manifestar, é evidente,

determinados traços da personalidade ou situações freqüentemente associadas ao delito.

Não obstante, em referido processo participam ativamente, também, os demais.

3) A parte decisiva do citado processo de aprendizagem ocorre no seio das

relações mais intimas do individuo com seus familiares ou com pessoas do seu meio.

A influência criminogena depende do grau de intimidade do contato interpessoal.

4) A aprendizagem do comportamento criminal inclui também a das técnicas de

cometimento do delito, assim como a da orientação específica das correspondentes

motivações, impulsos, atitudes e da própria racionalização (justificação) da conduta delitiva.

5) A direção específica dos motivos e dos impulsos se aprende com as

definições mais variadas dos preceitos legais, favoráveis ou desfavoráveis a eles. A

resposta aos mandamentos legais não é uniforme dentro do corpo social, razão pela

qual o indivíduo acha-se em permanente contato com outras pessoas que têm diversos

pontos de vista quanto à conveniência de acatá-los. Nas sociedades pluralistas, dito conflito

de valorações é inerente ao próprio sistema e constitui a base e o fundamento da teoria

sutherlaniana da associação diferencial.

6) Uma pessoa se converte em delinqüente quando as definições favoráveis à

violação da lei superam as desfavoráveis, isto é, quando por seus contatos diferenciais

aprendeu mais modelos criminais que modelos respeitosos ao Direito.

7) As associações e contatos diferenciais do indivíduo podem ser distintas

conforme a freqüência, duração, prioridade e intensidade dos mesmos. Contatos

duradouros e freqüentes, é lógico, devem ter maior influência pedagógica, mais que

outros fugazes ou ocasionais, do mesmo modo que o impacto que exerce qualquer

modelo nos primeiros anos de vida do homem costuma ser mais significativo que o que tem

Page 3: Resumo de Criminologia

lugar em etapas posteriores; o modelo é tanto mais convincente para o indivíduo quanto

maior seja o prestígio que este atribui à pessoa ou grupos cujas definições e exemplos

aprende.

8) Precisamente porque o crime se aprende, isto é, não se imita, o processo de

aprendizagem do comportamento criminal mediante contato diferencial do indivíduo

com modelos delitivos e não delitivos implica a aprendizagem de todos os

mecanismos inerentes a qualquer processo deste tipo.

9) Embora a conduta delitiva seja uma expressão de necessidades e de valores

gerais, não pode ser explicada como concretização deles, já que também a conduta

adequada ao Direito corresponde a idênticas necessidades e valores.

7.2.1. Teoria das oportunidades

7.3. Teoria da anomia

É considerada uma teoria de consenso. A anomia é um dos temas mais estudados

pela moderna Criminologia.

A ANOMIA é uma situação social onde falta coesão e ordem, especialmente no

tocante a normas e valores. Ela ocorre quando:

Se as normas são definidas de forma ambígua, por exemplo, ou

São implementadas de maneira causal e arbitrária;

Se há uma calamidade como a guerra subverte o padrão habitual da vida

social e cria uma situação em que se torna obscuro quais normas têm

aplicação; ou

Se um sistema é organizado de tal forma que promove o isolamento e a

autonomia do indivíduo a ponto das pessoas se identificarem muito mais

com seus próprios interesses do que com os do grupo ou da comunidade

como um todo;

Falta de normas .

O RESULTADO DISSO TUDO É A ANOMIA.

Como exemplo prático disso, podemos tomar a situação de dificuldade de controle da

ordem pública que a força de paz da ONU enfrenta no Haiti. O colapso do governo anterior

gerou uma situação de anomia nos país (ex.: saques, estupros e violações de direitos

humanos, como torturas e aumento dos homicídios). E uma situação de caos, onde os

Page 4: Resumo de Criminologia

índices de criminalidade encontram terreno propício para forte elevação. Não será fácil a

tarefa de restabelecer a ordem pública no Haiti.

O Iraque é outro exemplo a ser citado.

No âmbito das teorias mais propriamente sociológicas, o princípio do bem e do mal

foi posto em dúvida pela teoria estrutural funcionalista da anomia e da criminalidade .

Esta teoria, introduzida pelas obras clássicas de EMILE DURKHEIM e desenvolvida por

ROBERT MERTON, representa a virada em direção sociológica efetuada pela Criminologia

contemporânea.

A TEORIA DA ANOMIA constitui a primeira alternativa clássica à concepção dos

caracteres diferenciais biopsicológicos do delinqüente e, por conseqüência, à variante

positivista do princípio do bem e do mal. Nesse sentido, a teoria funcionalista da anomia

está na origem de uma profunda revisão crítica da Criminologia de orientação

biológica e caracterológica, na origem de uma direção alternativa que caracteriza todas as

teorias Criminológicas das quais se tratará mais adiante.

Da abordagem sociológica do suicídio nas obras de DURKHEIM, podemos

destacar UMA REGRA GERAL: quando se criam na sociedade espaços anômicos, ou seja,

quando um indivíduo ou um grupo PERDE AS REFERÊNCIAS NORMATIVAS QUE

ORIENTAVAM A SUA VIDA, então enfraquece a solidariedade social, destruindo-se o

equilíbrio entre as necessidades e os meios para sua satisfação.

O indivíduo sente-se livre de vínculos sociais, tendo, muitas vezes, um

comportamento anti-social ou inclusive autodestrutivo.

Segundo Figueiredo Dias, a teoria da anomia é uma versão criminológica das

teorias funcionalistas em sociologia, que tiveram em The Social System (1950), de T.

Parsons, a sua expressão mais acabada. A teoria da anomia foi, pela primeira vez,

enunciada por Robert Merton, em 1938, num artigo publicado na American

Sociological Review, sob o título de Social Structre and Anomie.

A teoria da anomia radica a explicação do crime no DEFASAMENTO entre:

A ESTRUTURA CULTURAL – impoe a todos os cidadãos a persecução dos

mesmos fins e prescreve para todos os mesmos meios legítimos.

A ESTRUTURA SOCIAL - reparte desigualmente as possibilidades de

acesso a estes meios e induz, por isso, o recurso a meios ilegítimos.

Noutros termos, o crime é, segundo Merton, uma das formas individuais de

adaptação no quadro de uma sociedade agônica em torno de meios escassos . Na

mesma linha se mantém, entre outras, a obra de A. Cloward e L. Ohlin, Deliquency and

Page 5: Resumo de Criminologia

Opportunity A Theory of Deliquent Gangs (1960), com a particularidade de encarar o crime

como solução coletiva e subcultural.

MERTON afirma que em todo contexto sociocultural desenvolvem-se metas

culturais. Estas expressam os valores que orientam a vida dos indivíduos em

sociedade. Coloca-se então uma questão: como uma pessoa pode atingir essas metas?

MERTON diz que, para tal efeito, cada sociedade estabelece meios. Trata-se de recursos

institucionalizados ou legítimos que são socialmente prescritos. Existem também outros

meios que permitem atingir estas mesmas metas, mas que são rejeitados pelo grupo social.

A utilização destes últimos é considerada como violação das regras sociais em vigor.

O insucesso em atingir as metas culturais devido à insuficiência dos meios

institucionalizados pode produzir o que MERTON chama de anomia: manifestação de

um comportamento no qual as regras do jogo social são abandonadas ou

contornadas.

O indivíduo não respeita as regras do comportamento que indicam os meios de

ação socialmente aceitos. Surge então o desvio, ou seja, o comportamento desviante.

Não sabemos exatamente quais fatores levam algumas pessoas a cometerem

infrações criminais ou não. Mas, em entrevistas individuais, algumas vezes encontramos

casos de pessoas que simplesmente praticam o delito porque entenderam que é o

caminho mais rápido para alcançarem a riqueza e/ou o prestígio.

E aqui posso citar um caso relativamente comum no leste de Minas Gerais, de

jovens que passam a trabalhar na ilicitude do envio de pessoas para trabalhar

ilegalmente em outros países, algumas vezes falsificando passaportes, comprando

vistos de entrada de passaportes originais, emprestando dinheiro a juros extorsivos

para as famílias iniciarem a viagem ao país de destino, extorsões etc. Esses jovens

preferiram abandonar a tentativa de progredir socialmente pelos meios instítucionahzaclos

(ex.: trabalho) e optaram por chegar ao sucesso e prestígio com condutas criminais. Para

eles, o risco de serem processados e condenados vale a pena. Em tempo relativamente

curto, passam a comprar carros importados, freqüentar colunas sociais, organizar festas de

arromba etc. Não são também incomuns os casos de pessoas que se envolvem em

quadrilhas de extorsão mediante seqüestro e tráfico de drogas com o mesmo objetivo. Muitas

vezes elas não passam por dificuldades financeiras, mas escolhem esse caminho — o do

comportamento desviante — para atingir a meta cultural da riqueza e do sucesso.

Então, basicamente no conceito de anomia de Merton, temos um conflito de dois

pontos:

Page 6: Resumo de Criminologia

METAS CULTURAIS (ex.: riqueza, sucesso, status profissional etc.) versus

MEIOS INSTITUCIONALIZADOS.

Merton criou então um esquema onde ele explica os meios de adaptação dos

indivíduos, que chamou de modos de adaptação, e que são cinco: conformidade,

inovação, ritualismo, evasão e rebelião. O sinal positivo sinaliza quando o indivíduo aceita

o meio institucionalizado ou meta cultural. O sinal negativo é quando não os aceita. Vejamos

então o esquema de Merton:

Quadro 4: Classificação da Anomia de Robert Merton (modos de adaptação)

CONFORMIDADE : também chamado de comportamento modal. Aqui o indivíduo

aceita os meios sociais institucionais para alcançar as metas culturais. Ele

adere totalmente ao comportamento aceito e esperado pela sociedade e não

apresenta comportamento desviante. Os demais comportamentos são não- modais

ou desviantes e sinalizam a ocorrência de anomia.

INOVAÇÃO : na inovação o indivíduo aceita as metas culturais, mas não os meio

institucionalizados. Quando o indivíduo verifica que não estão acessíveis a ele

todos os meios institucionais, ele rompe com o sistema e passa ao desvio para

atingir as metas culturais.

RITUALISMO : neste modelo o indivíduo vê com descaso o atendimento das

metas socialmente dominantes. Por um motivo ou outro, a pessoa acredita que

nunca atingirá as metas culturais, e mesmo assim continua respeitando as

regras sociais, mas agindo como uma espécie de ritual. E um conformista . Neste

modelo há uma focalização nos meios e não nos objetivos sociais.

Page 7: Resumo de Criminologia

EVASÃO : neste conjunto encontramos os párias, mendigos, bêbados e drogados

crônicos etc. Enquanto para Merton o conformismo era o modo de adaptação mais

comum, a evasão já é o modo mais raro. Neste modelo o indivíduo vive num

determinado ambiente social, mas não adere às suas normas sociais, nem aos

meios institucionais e nem a metas culturais. É um comportamento claramente

anômico.

REBELIÃO : consiste na rejeição das metas e dos meios dominantes — julgados

como insuficientes ou inadequados — e na luta pela sua substituição. A conduta da

rebelião busca assim a configuração de uma nova ordem social. Por essa razão,

Merton entende que essa conduta não pode ser considerada especificamente

como negativa, utilizando simultaneamente como símbolos os sinais positivos e

negativos. Exemplos claros da conduta de rebelião constituem os movimentos de

revolução social 98

Três elementos básicos emergem desta construção teórica: objetivos (ou fins)

culturais, normas institucionalizadas e oportunidades reais. Eles são independentes,

mas podem, em variações autônomas, provocar estados de defasagem recíproca. Em

relação às defasagens dos elementos da estrutura cultural, elas podem oscilar entre duas

situações-limite, expressando as formas mais sérias de desintegração cultural. De um lado,

está a sociedade que atribui excessivo valor aos fins e relega a segundo plano as normas, à

procura do sucesso a qualquer preço. De outro, a sociedade que concede prioridade aos

meios e descuida dos objetivos, caindo na armadilha da conformidade absoluta e do apego

desmedido à tradição como valores dominantes.

7.4. Teoria da subcultura delinqüente

O criador dessa teoria foi o sociólogo norte-americano Albert K. Cohen (1955).

A subcultura é uma cultura associada a sistemas sociais (incluindo subgrupos) e

categorias de pessoas (tais como grupos étnicos) que fazem parte de sistemas mais vastos,

como organizações formais, comunidades ou sociedades.

Os subgrupos compartilham freqüentemente de linguagens, idéias e práticas culturais

que diferem das seguidas pela comunidade geral, mas, ao mesmo tempo, sofrem pressão

para conformar-se, em certo grau, à cultura mais vasta na qual está enraizada a subcultura.

Page 8: Resumo de Criminologia

O mesmo fato pode acontecer também em sistemas sociais menores, como grandes

empresas, departamentos do governo ou unidades militares, que se aglutinam muitas vezes

em torno de interesses especializados ou de laços criados por interações diárias e

interdependência mútua

As teorias subculturais sustentam três idéias fundamentais:

I)O caráter pluralista e atomizado da ordem social : A referida ordem social, a teor

deste novo modelo, é um mosaico de grupos, subgrupos, fragmentado, conflitivo; cada grupo

ou subgrupo possui seu próprio código de valores, que nem sempre coincidem com os

valores majoritários e oficiais, e todos cuidam de fazê-los valer diante dos restantes,

ocupando o correspondente espaço oficial.

II) A cobertura normativa da conduta desviada:

III) A semelhança estrutural, em sua gênese, do comportamento regular e

irregular:

Uma subcultura profissional muito estudada pela Criminologia na atualidade é a

policial. Os policiais trabalham com o perigo diariamente em sua profissão. Possuem laços

de relacionamento muito fortes com a corporação. O chamado espírito de corpo dos policiais

é um reflexo claro do dever de lealdade que os seus membros devem ter com a subcultura

policial. Sem o estudo profundo da subcultura profissional policial é difícil criar mecanismos

mais eficientes para se controlar a criminalidade derivada da corrupção policial.

A conduta delitiva para as teorias subculturais diferentemente do que sustentavam as

teses ecológicas - não seria produto da desorganização ou da ausência de valores,

senão reflexo e expressão de outros sistemas de normas e valores distintos: os

subculturais.

7.5. TEORIA DO LABELLING APROACH, ETIQUETAMENTO, ROTULAÇÃO ou REAÇÃO

SOCIAL

Essa teoria deixa de centrar estudos no fenômeno delitivo em si e passou a focar

suas atenções na reação social proveniente da ocorrência de um determinado delito.

Os principais representantes dessa linha de pensamento são Erving Goffman e

Howard Becker.

Seguindo Becker, os grupos sociais criam os desvios ao fazerem as regras cuja

infração constitui o desvio e ao aplicarem tais regras a certas pessoas em particular,

qualificando-as como marginais.

Os processos de desvios são:

Page 9: Resumo de Criminologia

DESVIOS PRIMÁRIOS: primeira ação delinquente do sujeito, que pode ter como

objetivo resolver alguma necessidade. Ex: necessidade econômica, se acomodar em alguma

necessidade do subgrupo.

DESVIOS SECUNDÁRIOS: repetição de atos lesivos, a partir da associação do

indivíduo com outros sujeitos deliquentes.

A tese central: CADA UM DE NÓS SE TORNA AQUILO QUE OS OUTROS VÊEM

EM NÓS, ou seja a prisão cumpre uma função reprodutora: a pessoa rotulada como

delinqüente assume, finalmente, o papel que lhe é consignado, comportando-se de acordo

com o mesmo. Todo o aparato do sistema penal está preparado para essa rotulação e para o

reforço desses papéis.

Exemplo: Carlito Brigante, representado por Al Pacino em O Pagamento Final

(Carlito's WavJ, filme dirigido por Brian de Palma, em 1993. Nesse filme, Carlito é traficante

de drogas e consegue sair da cadeia com uma brecha da lei. Ele tenta então dar um novo

rumo à sua vida, mas seus ex-colegas do crime, a polícia, sua família e o resto do sistema

rotularam Carlito como "criminoso". Uma linha invisível vai conduzindo a vida de Carlito, até o

mesmo se enquadrar novamente em seu rótulo.

Surgida nos Estados Unidos por volta dos anos 70, o labelling approach privilegia,

na análise do comportamento desviado, o funcionamento das instâncias de controle

social (criminalização secundária), ou seja, a reação social aos comportamentos assim

etiquetados.

De acordo com essa perspectiva, delito e reação social são expressões

interdependentes, recíprocas e inseparáveis. O desvio não é uma qualidade intrínseca da

conduta, senão uma qualidade que lhe é atribuída por meio de complexos processos de

interação social, processos estes altamente seletivos e discriminatórios.

A ESTIGMATIZAÇÃO DO DELIQUENTE: toda a investigação interacionista gravita

em torno da problematização da estigmatização, assumida como variável dependente (quais

os critérios em nome dos quais certas pessoas, e só elas, são estigmatizadas como

delinqüentes?), quer como variável independente (quais as conseqüências desta

estigmatização?).

Do confronte entre as teorias da criminalidade e da reação penal baseadas no

labelling approach surge, na sociologia criminal contemporânea a idéia de criminologia

crítica.

Page 10: Resumo de Criminologia

7.6. Teoria crítica, radical ou "nova criminologia"

Essa perspectiva criminológica - a mais recente - afirmou-se em plena

década de 1970. Ela surgiu quase ao mesmo tempo nos Estados Unidos e na

Inglaterra, irradiando depois para a generalidade dos países europeus - sobretudo

Alemanha, Itália, Holanda, França e Países Nórdicos -, para o Canadá etc.

O ramo americano da criminologia radical desenvolveu-se sobretudo a partir da escola

criminológica de Berkeley (com os Schwendinger e T. Platt). Criou a organização, a Union of

Radical Criminologists, e a sua revista própria, Crime and Social Justice.

A atenção da nova criminologia - da criminologia crítica - se dirigiu principalmente para

o processo de criminalização, identificando nele um dos maiores nós teóricos e

práticos das relações sociais de desigualdades próprias da sociedade capitalista, e

perseguindo, como um de seus objetivos principais, estender ao campo do Direito Penal, de

modo rigoroso, a crítica do direito desigual.

Igualmente expressiva foi a ruptura metodológica e epistemológica com a criminologia

tradicional. Ela significa, desde logo, o abandono do paradigma etiológico-determinista

(sobretudo no plano individual) e a substituição de um modelo estático e descontínuo de

abordagem do comportamento desviante por um modelo dinâmico e contínuo.

A criminologia radical é, em grande parte, uma criminologia da criminologia,

principalmente a discussão e análise de dois temas: a definição do objeto e do papel da

investigação criminológica .

Nesse sentido, uma das principais demandas da Criminologia radical,

conseqüente da sua visão marxista, é a da própria redescoberta do problema da

definição criminológica do que é um delito.

A Criminologia radical recusa o estatuto profissional e político da criminologia

tradicional, considerada como um operador tecnocrático a serviço do funcionamento mais

eficaz da ordem vigente. O criminólogo radical se recusa a assumir esse papel de

tecnocrata; desde logo porque considera o problema criminal insolúvel numa sociedade

capitalista; depois, e, sobretudo, porque a aceitação das tarefas tradicionais é em absoluto

incompatível com as metas da criminologia radical.

O modelo explicativo da criminologia radical se reconduz aos princípios do

marxismo. A criminologia radical distingue entre crimes que são expressão de um sistema

intrinsecamente criminoso [v.g., a criminalidade de white-collar, o racismo, a corrupção, o

belicismo) e crimes das classes mais desprotegidas. Este, que constitui o verdadeiro

problema criminal da sociedade capitalista, nem sempre é encarado com simpatia pelos

Page 11: Resumo de Criminologia

criminólogos radicais. Na medida em que se traduz num ato individual de revolta, este crime

revela uma falta de consciência de classe e representa um dispêndio gratuito de energias

que importa canalizar para a revolução.

A teoria crítica combateu diversos posicionamentos das outras teorias da

criminalidade. Esse clima de questionamento da criminologia da criminologia propiciou o

florescimento, alguns anos depois, de três tendências da Criminologia: o neo-realismo de

esquerda, o direito penal mínimo e o abolicionismo criminal. O abolicionismo criminal não

encontra grande aceitação na América Latina, e, em especial, no Brasil. Eventualmente

encontramos defensores do Direito Penal Mínimo que recusam o rótulo de abolicionistas,

mas que agem como tais. O neo-realismo de esquerda (e o seu respectivo movimento de law

and ordef) e o direito penal mínimo são, talvez, duas das posições ideológicas de maior

debate na atual Criminologia.

8.1. Fenômeno bullying

A questão da infância e da juventude é ponto fulcral para compreendermos alguns dos

(inúmeros) fatores que podem influenciar efetivamente a prática dos delitos. O que ocorre em

nossa infância vai refletir em nossa vida adulta.

Mas o que o fenômeno bullying pode ter com relação direta à violência e a

criminalidade no Brasil. Pouco estudado ainda no Brasil e quase que totalmente

desconhecido pela comunidade jurídica, o bullying começa a ganhar espaço nos estudos

desenvolvidos por pedagogos e psicólogos que lidam com o meio escolar.

O bullying é uma palavra de origem inglesa, adotada em muitos países para definir o

desejo consciente e deliberado de maltratar uma outra pessoa e colocá-la sob tensão; termo

que conceitua os comportamentos agressivos e anti-sociais, utilizado pela literatura

psicológica anglo-saxônica nos estudos sobre a violência escolar.

Não se tratam aqui de pequenas brincadeiras próprias da infância, mas de casos de

violência, em muitos casos de forma velada praticadas por agressores contra vítimas. Elas

podem ocorrer dentro de salas de aulas, corredores, pátios de escolas ou até nos arredores.

Essas agressões morais ou até físicas podem causar danos psicológicos para a

criança e o adolescente facilitando posteriormente a entrada dos mesmos no mundo do

crime.

As ações que podem estar presentes no bullying são: colocar apelidos, ofender, zoar,

gozar, encarnar, sacanear, humilhar, fazer sofrer, discriminar, excluir, isolar, ignorar,

intimidar, etc.

Page 12: Resumo de Criminologia

Caso exista na classe um agressor em potencial ou vários deles, seu comportamento

agressivo influenciará nas atividades dos alunos, promovendo interações ásperas,

veementes e violentas. Devido ao temperamento irritadiço do agressor e à sua acentuada

necessidade de ameaçar, dominar e subjugar os outros de forma impositiva pelo uso de

força, as adversidades e as frustrações menores que surgem acabam por provocar reações

intensas. Às vezes, essas reações assumem caráter agressivo em razão da tendência do

agressor a empregar meios violentos nas situações de conflitos. Em virtude de sua força

física, seus ataques violentos mostram-se desagradáveis e dolorosos para os demais.

Geralmente o agressor prefere atacar os mais frágeis, pois tem certeza de dominá-los.

Quanto aos demais alunos, acabam se tornando testemunhas, vítimas e co-

agressores dessa cruel dinâmica. Se não participarem do bullying, podem ser as próximas

vítimas.

O bullying acaba criando um ciclo vicioso, arrastando os envolvidos cada vez mais para

o seu centro.

Por que os adultos, que nunca foram vítimas de atos de violência, como assalto ou

furto, sentem uma grande sensação de insegurança nos espaços públicos? Simples: porque

acreditam que nesses locais tudo pode acontecer. A vida em comunidade está

comprometida, e cada um faz o que julga o melhor para si sem considerar o bem comum.

É esse clima que, de um modo geral, reina entre crianças e jovens: o de que ser um

bom garoto ou aluno correto não é um bem em si. Além disso, as crianças e os jovens

também convivem com essa sensação de insegurança de que, na escola, tudo pode

acontecer. Muitos criam estratégias para evitar serem vistos como frágeis e se tornarem alvo

de zombarias .

O sofrimento emocional e moral (até físico eventualmente) da vítima é claro. E comum

que a vítima mantenha a lei do silêncio, pois, na maioria das vezes, as agressões são

apenas morais e não deixam vestígios. O fenômeno bullying, apesar de ser antigo, deve

ocorrer com mais regularidade do que imaginamos. Será que um conselheiro tutelar, um

assistente social, membro do Ministério Público ou Poder Judiciário saberá lidar de forma

efetiva e adequada com essa situação? Estamos preparados para dar uma resposta efetiva

para reduzir o bullying?

O fenômeno bullying estimula a delinqüência e induz a outras formas de violência

explícita, produzindo, em larga escala, cidadãos estressados, deprimidos, com baixa auto-

estima, capacidade de auto-aceitação e resistência à frustração, reduzida capacidade de

auto-afirmação e de auto-expressão, além de propiciar o desenvolvimento de sintomatologias

Page 13: Resumo de Criminologia

de estresse, de doenças psicossomáticas, de transtornos mentais e de psicopatologias

graves.

Tem, como agravante, interferência drástica no processo de aprendizagem e de

socialização, que estende suas conseqüências para o resto da vida podendo chegar a um

desfecho trágico.

O profissional do Direito (juiz de direito, promotor de justiça, advogado ou

delegado de polícia), ao se deparar com um problema de bullying, deve estar aberto a

todas as alternativas possíveis que possam ser colocadas para a solução do

problema. Não é o princípio de autoridade por si só, que poderá acabar com essas

ocorrências num determinado ambiente escolar.

Há necessidade de se tratar com a direção da escola a capacitação dos funcionários e

professores para lidar com o tema e buscar manter o máximo possível um diálogo aberto e

franco com as crianças e adolescentes envolvidos, com o intuito de se procurar uma solução

que seja aceita pelo grupo e que seja internalizada e duradoura para aquele ambiente

escolar.

Todos têm receio de que o filho seja alvo de humilhação, exclusão ou brincadeiras de

mau gosto por parte dos colegas, para citar exemplos da prática, mas poucos são os que se

preocupam em preparar o filho para que ele não seja autor dessas atividades.

8.2. Assédio moral e stalking

Podemos definir assédio moral como comportamentos abusivos, que podem ser

praticados com gestos, palavras, atos (comissivos ou omissivos), que, praticados de

forma reiterada levam à debilidade física ou psíquica de uma pessoa.

O assédio moral é um tema debatido por vários ramos do Direito como o Civil, Penal,

do Trabalho, entre outros.

Essas microagressões podem acontecer em qualquer ambiente, como: trabalho,

escola, vida familiar etc, e não são fáceis de serem provadas. No geral, as ações são

analisadas de forma específica pelas pessoas, sendo que é o contexto que deve ser

analisado.

A Lei Federal 11.340/06 (Lei Maria da Penha) trouxe, nesse sentido, uma importante

contribuição, quando previu a punição da violência psicológica. Segundo o art. 5º da referida

lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão

baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e

Page 14: Resumo de Criminologia

dano moral ou patrimonial: I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o

espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as

esporadicamente agregadas; II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade

formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais,

por afinidade ou por vontade expressa; III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o

agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.

Se o marido, de forma repetida, afirma todo dia à sua esposa que "ela não presta

para nada", ele vai causar um dano psicológico à mesma. Caso a relação conjugal não

possa ser restaurada, com um tratamento de respeito para os envolvidos e sua família, o

caminho natural é a separação. Mas, alguns, por diversos motivos, optam por não se

separarem e acabam partindo para essas agressões verbais reiteradas, que acabam

causando danos psicológicos a todos os envolvidos (inclusive aos filhos).

Essas agressões psicológicas e morais passaram a ser definidas pela "Lei Maria

da Penha" e configuram assédio moral, e de certa forma expressam casos de violência

doméstica, punidos na forma da referida lei.

Damásio de Jesus cita uma modalidade de assédio moral denominado stalking.

Podemos dizer que assédio moral é o gênero e stalking uma de suas espécies. O

assédio moral pode configurar uma infração criminal ou não; já o stalking detém um

juízo de reprovabilidade mais intenso e sempre configurará uma infração criminal.

Segundo Damásio de Jesus, o stalking é uma forma de violência na qual o sujeito

ativo invade a esfera de privacidade da vítima, repetindo incessantemente a mesma

ação por maneiras e atos variados, empregando táticas e meios diversos: ligações nos

telefones celular, residencial ou comercial, mensagens amorosas, telegramas,

ramalhetes de flores, presentes não solicitados, assinaturas de revistas indesejáveis,

recados em faixas afixadas nas proximidades da residência da vítima, permanência na

saída da escola ou do trabalho, espera de sua passagem por determinado lugar,

freqüência no mesmo local de lazer, em supermercados etc.

Segundo Damásio de Jesus, esse comportamento possui determinadas

peculiaridades:

Ia) invasão de privacidade da vítima;

2a) repetição de atos;

3a) dano à integridade psicológica e emocional do sujeito passivo;

4a) lesão à sua reputação;

5a) alteração do seu modo de vida;

Page 15: Resumo de Criminologia

6a) restrição à sua liberdade de locomoção.

Regra geral, não existindo outras peculiaridades, o stalking, também no entendimento

de Damásio de Jesus, configura a contravenção penal do artigo 651 do Decreto-lei 3.688/41

(Lei de Contravenções Penais). Mas o stalking pode estar acompanhado de outros crimes

mais graves. É o caso concreto que vai apontar a melhor solução jurídica para o caso.

Exemplo envolvendo Stalker: Um Indivíduo havia tentado matar sua ex-

namorada no ano de 2002 por rompimento da relação amorosa por parte dela . Não

satisfeito com o resultado, durante muitos meses passou a persegui-la pela via pública,

espalhava boatos contra a vítima, permanecia insistentemente na saída de seu trabalho,

provocava uma série de outros constrangimentos, ameaçava de morte e a agredia também

fisicamente. Tinha um verdadeiro "sentimento de posse" em relação à vítima. Fomos

procurados pelo advogado da vítima, que felizmente havia coletado provas (cópias de

inúmeros boletins de ocorrência, fotografias, bilhetes ameaçadores etc.) e conseguimos

provar que a vítima corria risco concreto de vida, bem como que o stalker a ameaçava

insistentemente para não prestar depoimento no plenário do Tribunal do Júri. O Poder

Judiciário decretou, então, a prisão preventiva do stalker, que irá em breve a julgamento pela

tentativa de homicídio de sua ex-namorada.

8.3. Justiça restaurativa

Uma das boas novidades que surgiu no contexto mundial nos últimos anos para

auxiliar no controle da violência é o modelo da Justiça restaurativa.

Adotada com sucesso na Inglaterra, Austrália, Canadá, África do Sul e Colômbia,

a Justiça restaurativa surgiu há mais de dez anos na Nova Zelândia . Inspirada nos

mecanismos de solução de litígios dos aborígines maoris, SEU OBJETIVO é reduzir as

taxas de reincidência entre criminosos jovens, levando-os a assumir a

responsabilidade por sua conduta anti-social, a compreender as conseqüências

materiais e psicológicas de seus delitos para as vítimas e a reparar os danos a elas

causados. Em Bogotá, uma das cidades mais violentas da América Latina, desde que

essa experiência foi posta em prática a taxa de homicídios caiu 30%.

No MODELO DE JUSTIÇA RESTAURATIVA, o infrator, a vítima e a comunidade

atuam ativamente na solução do conflito. Não é a punição como retribuição pura da

1 Art. 65 da Lei de Contravenções Penais. Molestar alguém ou perturbar-lhe a tranqüilidade, por acinte ou por motivo reprovável: Pena - prisão simples, de 15 dias a dois meses, ou multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.

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sociedade que prevalece, mas a mediação, a resolução efetiva do conflito através da

mediação vítima-ofensor.

A idéia da Justiça restaurativa é substituir o castigo pela conscientização,

permitir que a rigidez processual dê lugar ao diálogo e à mediação e estimular o Poder

Público, empresas, escolas e igrejas a agir em conjunto, auxiliando na consecução de

acordos de bom comportamento com autores de crimes como lesão corporal e

pequenos furtos. Como esses delitos costumam ser cometidos na comunidade onde seus

autores moram, o mediador judicial, com o apoio da polícia e de órgãos municipais, procura

criar condições mínimas de entendimento entre as partes. Os juízes não têm

participação direta nas reuniões. Ao contrário de um magistrado tradicional, que está

preso aos autos e é obrigado a aplicar a letra fria da lei, o mediador dispõe de ampla

flexibilidade e trabalha com a preocupação de garantir a convivência futura na

comunidade. Por isso, além de um perfil pacificador, vocação para o diálogo e paciência, ele

precisa ter familiaridade com o nível cultural da população local, falar a mesma linguagem e

ser respeitado por todos os envolvidos no caso.

Alguns projetos de Justiça restaurativa experimentais começam a ser

desenvolvidos no Brasil. Em alguns crimes (em especial, os crimes violentos, como o

homicídio) sentimos uma certa dificuldade de aplicação do modelo, mas, nos crimes

de pequeno potencial ofensivo e os crimes de média gravidade, a medida pode ser

salutar.

Leonardo Sica entende que a mediação penal é compatível com o ordenamento

jurídico pátrio e pode encontrar lugar na racionalidade penal. Também é recomendável

ao nosso contexto social e tem potencialidade para atingir os objetivos de integração

social, preservação da liberdade e ampliação dos espaços democráticos, diminuição

do caráter aflitivo da resposta penal, superação da filosofia do castigo e restauração

e/ou manutenção da paz jurídica, desde que inserida em um novo paradigma, a Justiça

restaurativa.

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