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SENSOiNCOMUM Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo • UFU •Desde 2010• Ano VII • Nº XXVIII • Outubro-Novembro/2015 Vicereitor admite que Hospital de Clínicas passa por momentos difíceis. Administração sinali za que a saída pode ser a adesão à Ebserh. A greve dos técnicos deste ano, a mais longa já registrada, paralisou a biblioteca, diversos laboratórios e setores adminis trativos por quatro meses. Apesar da du ração, o acordo de aumento salarial foi fechado em 10,8% e não em 27,5% como havia sido proposto pelo comando do SintetUFU. Nossos repórteres ouviram membros da categoria e suas diferentes percepções sobre os desdobramentos da greve e como foi conduzida. Pág. 5 Andando com a inovação tecnológica e empreendedorismo, as startups apre sentam considerável crescimento no Brasil. Com pequenos investimentos e muita criatividade, os jovens que se ar riscam em um negócio independente multiplicam sua renda e chamam a aten ção do mercado não apenas nacional, mas também mundial. O SensoInco mum conversou com estudantes que se aventuram nesse modelo. Pág. 3 Lei brasileira prevê punição a quem disponibiliza downloads na internet sem autorização. Porém, segundo espe cialista, raramente a lesgislação é cum prida. Nessa terra sem lei, como forma de lucro indireto, provedores faturam com publicidade. Brasil é o segundo país com mais downloads em ranking de pirataria e o Popcorn Time está entre as plataformas mais usadas para assis tir conteúdo sem pagar. Pág. 10 Lugar de esclarecimento e progres so, a universidade ainda conta com casos de assédio e abuso psicológico contra as mulheres. O machismo faz suas vítimas todos os dias das formas mais sutis até as mais violentas. Pág. 11 www.sensoincomum.net Página 9 Quando você sofre um assalto, faz o quê? Chama a polícia? E quando a polícia diz que a culpa é sua? Às ve zes, os responsáveis por proteger são os mais coniventes com a insegu rança. Pág. 11

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SENSOiNCOMUMJornal-Laboratório do Curso de Jornalismo • UFU •Desde 2010• Ano VII • Nº XXVIII • Outubro-Novembro/2015

Estamos seguros na UFU?

Crise noHC-UFU

Vice­reitor admite

que Hospital de

Clínicas passa por

momentos difíceis.

Administração sinali­

za que a saída pode

ser a adesão à Ebserh.

Dissecando a greveA greve dos técnicos deste ano, a mais

longa já registrada, paralisou a biblioteca,diversos laboratórios e setores adminis­trativos por quatro meses. Apesar da du­ração, o acordo de aumento salarial foifechado em 10,8% e não em 27,5% comohavia sido proposto pelo comando doSintet­UFU. Nossos repórteres ouvirammembros da categoria e suas diferentespercepções sobre os desdobramentos dagreve e como foi conduzida. Pág. 5

Jovens empreendedoresAndando com a inovação tecnológica e

empreendedorismo, as startups apre­sentam considerável crescimento noBrasil. Com pequenos investimentos emuita criatividade, os jovens que se ar­riscam em um negócio independentemultiplicam sua renda e chamam a aten­ção do mercado não apenas nacional,mas também mundial. O SensoInco­mum conversou com estudantes que seaventuram nesse modelo. Pág. 3

Pirataria na internetLei brasileira prevê punição a quem

disponibiliza downloads na internetsem autorização. Porém, segundo espe­cialista, raramente a lesgislação é cum­prida. Nessa terra sem lei, como formade lucro indireto, provedores faturamcom publicidade. Brasil é o segundopaís com mais downloads em rankingde pirataria e o Popcorn Time está entreas plataformas mais usadas para assis­tir conteúdo sem pagar. Pág. 10

As tais cantadasLugar de esclarecimento e progres­

so, a universidade ainda conta comcasos de assédio e abuso psicológicocontra as mulheres. O machismo fazsuas vítimas todos os dias das formasmais sutis até as mais violentas. Pág. 11

www.sensoincomum.net

Página 9

Disque 190Quando você sofre um assalto, faz

o quê? Chama a polícia? E quando apolícia diz que a culpa é sua? Às ve­zes, os responsáveis por proteger sãoos mais coniventes com a insegu­rança. Pág. 11

YgorRodrigues

Daniel Pompeu

O ódio além da vida virtual

Dizem que manter um pouco darivalidade entre times, atletas, gru­pos é saudável. Mas, e quando essarivalidade ultrapassa os limites dorespeito ao outro e do bom senso?Um cartaz produzido por uma bate­ria da UFU para as Olimpíadas Uni­versitárias, que aconteceram emnovembro, circulou pelos campi epelas redes sociais. A frase era: “Eunão gosto da Educa e nem de mus­culação. Isso é coisa pra maluco. Épra via*o e sapat*o”. Rapidamente,os alunos compartilharam frenetica­mente o absurdo e começaram adiscutir mais uma vez o caráter ho­mofóbico de diversas entidades es­portivas e artísticas dentro dasuniversidades.

A colocação infeliz presente nocartaz, entretanto, não foi criada ex­clusivamente para estampá­lo. Elafaz parte do hino da primeira bate­ria universitária do Brasil, criadaem 1969 para animar os jogos.Acontece que a trajetória construí­da por centenas de jovens não émarcada apenas pelo ritmo harmo­nioso dos instrumentos. Os diver­sos termos preconceituosospresentes em seus gritos de guerrae hino reforçam o estereótipo nega­

tivo e a antipatia que algumas enti­dades ganharam ao longo dos anospor grande parte dos estudantes.

No meio do ano, outra polêmica.

Como parte da recepção aos ingres­santes de um curso, os veteranospediram que as calouras usassemuma imagem na rede social com os

dizeres: “Cê é burra hein, bixete!Sou da 97 e assumo a função degarçonete da 96 com muito orgu­lho”. Desabafos e “textões” repu­diando a ação machista, queincitava a submissão das novatas efazia analogia a uma posição su­perior ocupada pelos veteranos,foram rebatidos e justificados pelofamoso “é só uma brincadeira” e“geração mimimi”.

Entidades acadêmicas como essa,com um histórico bonito enquantoatlética e bateria, existem aos mon­tes pelo país e o pior, dentro dosespaços de ensino que deveriamservir para edificar os estudantesnão apenas no sentido profissional,mas também social e humano. Achance de esses jovens perpetuarembrincadeiras até então inofensivas égrande, e, passou da hora de trataros debates sobre as questões de se­xualidade, gênero e diversidade nãocomo mimimi, e sim como um di­reito individual que deve ser respei­tado. Reflexões sobre o tematambém merecem atenção dos queestão próximos de atitudes como asdo cartaz e dizem não concordarcom elas, afinal, ver de camarote opreconceito e se omitir sobre o temaagride tanto quanto exercitá­lo.

Ao longo do tempo, percebe­mos o quanto hábitos retrógadosforam sendo minimizados e dei­xados de serem praticados pelasociedade brasileira, mas, o quenão foi abolido foi a intolerânciae o preconceito, que agora se ex­pandiram também para o meiovirtual. Só no ano de 2014, foramrecebidas mais de 86 mil denún­cias de racismo e 4,2 mil de ho­mofobia na internet. O grandenúmero de casos denunciadostorna quase utópica a investiga­ção das autoridades para cada co­mentário individual.

Sempre que vejo casos de into­lerâncias e disseminação de ódioem comentários na web, seja emredes sociais, blogs ou sites, melembro de uma frase da genial jor­nalista Eliane Brum, que diz:“Desde que as redes sociais abri­ram a possibilidade de que cadaum expressasse livremente, diga­mos, o seu ‘eu mais profundo’, asua ‘verdade mais intrínseca’, des­cobrimos a extensão da cloaca hu­mana”. Penso que é isso o queacontece na sociedade brasileira.As pessoas parecem encontrar nainternet um meio para expressar oque pensam, quando têm medo ouvergonha de falar na “vida real”.

Comentários racistas, homofó­

bicos, machistas, incitações à into­lerância e ao estupro são exemplosdo teor de comentários que se vê elê no meio virtual. É assustador,intrigante e revoltante.

A impunidade a esses casos dedisseminação de ódio pela inter­net também é algo desanimador,por causa de perfis fakes (falsos).Porém, um caso recente de inci­tação ao crime foi o do ex­candi­dato a deputado pelo PSDB doDistrito Federal, que gravou umvídeo ameaçando a presidentaDilma de morte, e o publicou emredes sociais. O fato gerou tantarepercussão e bafafá, que o ato foidenunciado e o advogado foi in­diciado. Mas, e os casos de pesso­as comuns, anônimas, que são

ridicularizadas e ameaçadas nainternet?! Qual é a proteção ejustiça para elas?

Se o ódio disseminado já ultra­passou os limites da internet e che­gou à vida real, provocando atémesmo morte, o que virá pela frentedepois disso? Sinceramente, não seiaté onde vai essa disseminação gra­tuita nas redes sociais e se a justiçabrasileira vai ser capaz de punir to­das as pessoas que se escondematrás de seus computadores e celu­lares. Acredito que isso já passou doslimites da normalidade, raciona­lidade e sensibilidade. Faltacompaixão, alteridade, respeito,compreensão e empatia com osoutros e também com nós mesmos.

Lais Vieira

Um negócio inovador, tecnológicoe, no geral, comandado por jovensempreendedores que conseguem en­contrar formas de solucionar proble­mas com pouco dinheiro e muitossonhos. Este é o conceito de startup.Apesar do nome não ser ainda tãopopular, segundo dados de 2014 daAssociação Brasileira de Startups(ABStartups), existem 2,8 mil em­presas desse tipo mapeadas no Bra­sil, mas a estimativa é que tenham maisde 10 mil. Só no ano de 2012, esse setormovimentou quase R$ 2 bilhões.

Pedro Paulo Silveira, estudantedo segundo período do curso de Ci­ência da Computação da UFU, criouhá pouco mais de dois anos a startupManual Hacker. A ideia era ter umaplicativo que fosse capaz de testar asegurança de sua própria rede deinternet, já que ele não encontravaalguma ferramenta que atendesseessa necessidade. Silveira, que naépoca já fazia um curso técnico deinformática, começou a desenvol­ver o software sem ajuda de nin­guém. “Juntei notícias desegurança e tecnologia porque eunão queria só mostrar a deficiên­cia na rede para o usuário, queriamostrar os caminhos para ele re­solver o problema”, explica.

O jovem estudante ressalta que sótomou conhecimento de que suaideia poderia ser uma startup em ja­neiro deste ano quando chegou emUberlândia. “Eu tinha um produto, as

pessoas usavam, baixavam, gosta­vam, mas eu não sabia o que era.Com um ano de funcionamento tinhamais de 120 mil usuários em 30 paí­ses diferentes, então não era umaempresa convencional”. O investi­mento inicial de Pedro foi deR$50,00 e nesse período ele já conse­guiu multiplicá­lo. O lucro do empreen­dedor de 20 anos é gerado através dosanúncios e da versão paga do aplicativo.

Diretor executivo de startups daAssociação das Empresas de Tecno­logia da Informação de Uberlândia(I9), Bruno Gregório, revela queexiste um mercado promissor na re­gião. “Ao longo dos anos vimos quetêm muitas pessoas qualificadas eempreendedoras na área de tecnolo­gia que possuem o desejo de fazerseu próprio negócio”. Para alimen­

tar ainda mais o empreendedoris­mo, em abril deste ano a cidaderecebeu o I9 Hub, um espaço cria­

do em parceria com o Sebrae com aintenção de ser um ponto de en­contro para empreendedores, pes­quisadores e estudiosos da área detecnologia da informação.

Gregório também já possui umastartup, a Polifrete, um aplicativo noqual as empresas informam qualcarga precisa ser transportada e osmotoristas de caminhão conseguemvisualizar as demandas. Em poucomais de um ano, o aplicativo temcerca de 6 mil motoristas e 300transportadoras cadastradas. Para odiretor executivo, a principal dife­rença entre uma pequena empresa euma startup são as perspectivas.“Nas startups geralmente encontra­

mos um negócio com base tecnoló­gica, que tem um modelo denegócio escalável. Isso quer dizerque você não vai atender só a suaregião, você almeja atender o Brasilou até mundo”, afirma.

Márcia Freire, professora da dis­ciplina de Empreendedorismo daFaculdade de Gestão e Negócio (Fa­gen) da UFU há cinco anos, declaraque abrir uma empresa é uma opçãolevada em conta pelos estudantes.“Alguns alunos vislumbram a possi­bilidade de serem empreendedores,mas estes representam cerca de 15%da turma. Em geral, são pessoasque possuem forte desejo de autono­mia e buscam a realização de um so­nho mediante um negócio próprio”.

Para a coordenadora de startups doSebrae Minas, Liliane de Carvalho, asstartups de sucesso são aquelas queconseguem afetar diretamente a vidadas pessoas. “A área da educação pas­sa por uma verdadeira transição, osetor da saúde infelizmente tem mui­tas deficiências e a internet está cadavez mais chegando ao nosso dia­dia. Énecessário procurar onde estão as bo­as oportunidades e nesses setores aschances de criar algo inovador sãomaiores”, explica. A coordenadoratambém alerta: “Hoje em dia as pes­soas ainda acham que só ter uma boaideia já é suficiente, mas não adiantanão conseguir executá­la. É precisover se há espaço no mercado”.

Thinkstock

Uma ideia na cabeça e dinheiro no bolso

Foto:GabrieliMazzola

"Nas startupsgeralmente en­contramos umnegócio com ba­se tecnológica",diz BrunoGregório

Ellen Melo

O aluno pode desenvolver pes­quisas por meio de programas co­mo o Jovens Talentos, ProgramaInstitucional de Bolsas de Inicia­ção Científica (Pibic) e o ProgramaInstitucional de Iniciação Cientí­fica Voluntária (Pivic), que utili­zam verbas de origem pública,vindas de instituições como CNPqe Fapemig. Para maioresinformações, visite os sites:

www.jovenstalentos.capes.gov.brwww.propp.ufu.brwww.fapemig.br

www.cnpq.br

Projeto reduz efeitos da menopausa

Isabella Rodrigues

Oscilação de humor, insônia eo famoso “calorão”. Esses são osprincipais sinais de que a mulherestá entrando na menopausa, pe­ríodo em que ela para de mens­truar e não tem mais vida fértil.Pensando nisso, o projeto “Ativi­dade Física e Menopausa”, docurso de Educação Física, emparceria com a Nutrição, Fisiote­rapia e Medicina da UFU, buscareduzir em até 70% os sintomas

da menopausa. As participantespassam por treinamento físicoassociado à isoflavona, proteínaderivada da soja, que age comorepositor hormonal natural. Oprofessor e coordenador do pro­jeto, Guilherme Puga, diz queidealizou a pesquisa sobre o te­ma com alguns alunos desde2013, mas só no início de 2015 oprojeto entrou em prática. O pri­meiro grupo de 21 mulheres fi­

nalizou o projeto em setembro, eo segundo, com 32 voluntárias,acabará em dezembro. Puga ex­plica que no treinamento a equi­pe combina a intensidade dosexercícios de acordo com cadamulher. A seleção das partici­pantes da pesquisa acontece apartir de uma triagem que anali­sa quem não toma medicamentospara doenças crônicas, já que is­so pode influenciar os resulta­dos.

Experiência

A estudante de Educação Físi­ca Tállita Cristina, faz parte doprojeto e conta que está fazendoseu TCC sobre o tema e pensa emir mais adiante. “Para mim foiuma experiência nova que aca­bou me trazendo muitas ideias e,quem sabe, até um projeto demestrado”, declara.

Alunos de outros cursos tam­bém podem colaborar. A Fisiote­rapia, por exemplo, auxilia nofortalecimento do assoalho pélvi­co das mulheres, através de exer­cícios contra a incontinênciaurinária. Os estudantes de Nu­trição também participam dasanálises de alimentação das par­ticipantes, enquanto coletas desangue são analisadas pelo Ins­tituto de Genética e Bioquímica

(Ingeb) da UFU. Alguns acadê­micos ganham bolsa pela Fape­mig, outros têm iniciaçãocientífica voluntária e há tam­bém a contribuição de alunosda pós­graduação.

Resultados

Segundo Puga, a equipe doprojeto já analisou exames equestionários do primeiro grupode mulheres e observou que, emtodas elas, houve melhoras sig­nificativas. Marcione Alves, 53,declara que, quando entrou namenopausa, sentia calor intensoe acordava muito durante a noi­te. “[Após o projeto] a disposiçãomelhorou, já não sinto mais tan­to calor e cansaço e tenho maisânimo para fazer as coisas”, as­segura. No início do ano quevem, o projeto será aberto àsmulheres hipertensas e diabéti­cas para ver como elas reagem àisoflavona e ao treinamento. Aexpectativa agora é de elaborarum projeto de extensão paraprestar atendimento permanente.“A intenção é que nos próximosanos a gente consiga abrangertanto a pesquisa quanto a exten­são e atenda mais mulheres, alémde ajudar os acadêmicos a ter ex­periência para o mercado de tra­balho”, afirma Puga.

Foto:Isabella

Rodrigues

Uma das grandes oportunida­des que as instituições de ensinosuperior proporcionam são as pes­quisas de desenvolvimento produ­zidas pelos alunos. A UFU não sedifere das demais e é base parapesquisas em todas as áreas de co­nhecimento.

Segundo o Pró Reitor de Pes­quisa e Pós Graduação da UFU,Marcelo Emílio Beletti, não exis­tem dados fixos da quantidade depesquisas que são realizadas nauniversidade atualmente, já que,constantemente, projetos são con­cluídos e outros iniciados, mas de

modo geral ele ressalta que “nomomento, entre projetos financia­dos pelo Conselho Nacional de De­senvolvimento Científico eTecnológico (Cnpq), pela Fundaçãode Amparo à Pesquisa do estado deMinas Gerais (Fapemig), projetossem financiamento ou com financi­amento da universidade, nós esta­mos com mais de 1.000”.

André Ramos e Jhonas Moura,alunos do curso de EngenhariaMecatrônica da UFU e componen­tes da Equipe de Desenvolvimentoem Robótica Móvel (Edrom) –premiada em competições como a

Competição Robótica da AméricaLatina de 2012 – ressaltam a im­portância da prática na pesquisa.“A gente aprende de uma maneiradiferente do que aprenderíamosem sala de aula, observamos asoutras pessoas fazendo e com is­so adquirimos experiência”, con­ta Ramos. Além disso, traçamexpectativas para o futuro dacontinuidade das pesquisas: “Nanossa área, pelo menos naEdrom, vamos conseguir mantero nível de conhecimento, nosaprimorar e ensinar aos mais jo­vens”, afirma Moura.

Giovana Oliveira

Pesquisa: teoria e prática alavancam o futuro Saiba comoiniciar umapesquisa

Com duração de quatro meses, agreve dos técnicos administrativosdeste ano foi a mais longa da histó­ria. Entre as reivindicações estavamo reajuste salarial de 27,5%, aprimo­ramento do plano de carreira e a re­vogação da lei de criação daEmpresa Brasileira de ServiçosHospitalares (EBSERH). Apesar demuitos servidores participarem ati­vamente durante a paralisação, ou­tros sequer comparecem aosencontros e sentem­se insatisfeitoscom o caráter político da greve.Uma servidora, que preferiu nãoser identificada, afirma: “eu estavade greve, grevíssima, só aprovei­tando meu tempo livre; não fre­quentei as assembleias pois nãotenho interesse político. Porquegreve é isso, é política”.

A UFU conta hoje com aproxi­madamente 5.500 técnicos admi­nistrativos em seus campi. Desses,3.800 servidores são filiados aoSindicato dos Trabalhadores Téc­nico­Administrativos em Institui­ções Federais de Ensino Superiorde Uberlândia (Sintet­UFU) eaderiram à última greve. Apesardos números expressivos, menos

de 10% dos técnicos sindicaliza­dos, cerca de 300, comparecem comregularidade às reuniões deliberativasrealizadas e participam dosmovimentos. Na assembleia em quese decidiu pela adesão à greve, por ex­emplo, estiveram presentes 228 pes­soas. Na última, realizada em 8de outubro no campus EducaçãoFísica da UFU, que pôs fim à pa­ralisação da categoria, um núme­ro ainda menor, 120 servidores.

Para a técnica Lívia Carina Reis,do Instituto de Física da UFU, que seengajou no movimento e compare­ceu às reuniões, elas não esclarecemo andamento da paralisação. “Parti­cipei das assembleias e fui ao sindi­cato para saber como estavam asnegociações, porque as assembleiasnão dão muita noção”, aponta.Em contrapartida, existem tam­bém denúncias de servidores queaproveitam o tempo para viajarou conseguir um “dinheiro extra”– ambas as práticas são ilegais.“O que falta para nós é formaçãopolítica dessa categoria. Vejomuito mais como uma falta decompetência nossa do que fazer­mos vista grossa”, critica Silnan­do Ferreira, coordenador geral doSintet, que afirma ainda que a re­ponsabilidade pelos atos durantea greve é de cada um. “Na verda­de a gente escuta que muitos cor­rem atrás de outras funções praarrecadar um dinheirinho, mas agente não pode responder sobre

isso porque recai sobre a necessi­dade de cada uma dessas pessoas.Nesse sentido nem o sindicatonem a universidade têm o poder,nem tempo de ficar verificandoquem fez isso ou aquilo”, afirma.

Denúncias

A direção da Universidade rece­be as denúncias que, muitas vezes,são feitas baseadas em posts nas re­des sociais. “Se houver uma [de­núncia] vamos tramitar tudo isso,não vai engavetar. Às vezes, as pes­soas fazem denúncias muito curtas,muito vazias, mas de qualquer ma­neira a universidade apura”, defen­deu Luiz Bertolucci, diretor deprovimento, acompanhamento eadministração de carreiras da Pró­Reitoria de Recursos Humanos(PROREH). Caso uma denúncia se­ja comprovada, é aberto um proces­so administrativo que dá aoservidor o direito de defesa e, se ne­cessária, a investigação pode resul­tar em exoneração do cargo.

Sobre a reposição das horas traba­lhadas, o vigilante Vilmar Antônio deFaria, da Divisão de Vigilância e Se­gurança Patrimonial (Divig), acreditaque os servidores deveriam repor otrabalho e não receber durante operíodo. “A nossa greve é financiadapelo governo. Portanto, no meu en­tendimento, temos que perder oponto. Você ganha para produzir,você não produz, tem que fazer o

quê? Cortar o ponto”, diz.O Senso InComum procurou

alguns dos técnicos que, de acordocom denúncias, teriam utilizado otempo livre de forma indevida. Oscontatados pelas redes sociais não semanifestaram sobre o assunto até ofechamento da matéria, já entre osquestionados pessoalmente, houvequem respondesse que não gosta­ria de falar sobre o assunto equem aceitou falar, desde quemantido o anonimato.

Resultados da greve

O acordo firmado entre a Fe­deração de Sindicatos de Traba­lhadores Técnicos­Administrativosem Instituições de Ensino Superi­or Públicas do Brasil (Fasubra) e oGoverno Federal, acatado peloSintet, contempla um aumentosalarial de 10,8% em dois anos e odeslocamento da data base de ja­neiro para agosto. Os técnicos ha­viam rejeitado uma primeiraproposta do Ministério do Plane­jamento, de realizar um reajustemaior, de 27,5%, porém em quatroparcelas. Para Silnando Ferreira, adecisão não foi satisfatória, masdá tempo ao sindicato para pensarfuturas articulaçõs. “Pelo menosnós temos um fôlego para prepa­rar nossos instrumentos de luta pa­ra, em 2017 ou 2018, pensarmos denovo em fazer uma greve”, concluiFerreira acerca da situação.

Greve dos técnicos termina sem atingir objetivos

Maior greve dahistória mostroufragilidade dosindicato eservidoresplanejam novomovimento

Gabrieli Mazzola

Hiago de Paula

Foto:Guilherm

eGonçalves

"A nossa greve éfinanciada pelogoverno. [...]",diz Vilmar deFaria ­ Vigilante

A criminalidade nas universida­des públicas afeta alunos e servido­res nessas instituições. Na UFU asocorrências de tráfico de drogas,tentativa de estupro e roubos intimi­dam quem passa boa parte do dianos campi. O debate entre a presen­ça da Polícia Militar (PM) e outrasformas de prevenção é ancorado porideologias opostas e dados desen­contrados.

Um dos casos preocupantes queocorreram na UFU foi de uma servi­dora que preferiu não ser identifica­da. Ela relata que ficou presa em suasala com um invasor que pedia abri­go, pois estava sendo perseguido portraficantes que tinham a intenção dematá­lo. Mesmo após o ocorrido, aservidora não notou diferenças nopatrulhamento de segurança. “A gen­te aqui dentro têm a ilusão de que es­tá seguro, por ser um campus, estarfechado e ser uma Universidade”,completa. Eduardo Guimarães, vice­reitor da UFU, afirmou ter conheci­mento do caso e que, após o ocorrido,a Divisão de Vigilância e SegurançaPatrimonial (Divig) tem patrulhado o

local com maior frequência.O vice­reitor também apontou

que, atualmente, a comunidade aca­dêmica dispõe da Vigilância Patri­monial e de homens da Divigresponsáveis pela proteção do mate­rial humano. Segundo Guimarães, ospoucos membros da Divig – cerca de50 –, não estão preparados para agirem determinados casos. “O númeroé insuficiente. Se tivesse uma políti­ca do Estado para que a universida­de recontratasse seguranças, nósteríamos, provavelmente, cerca de

300 profissionais nessa área”, avalia.Foi apurado também pela nossa

reportagem o furto a umaservidora no Instituto deGeografia. Procurado pelo jornal, odiretor do Instituto, professorClaudio Antônio Di Mauro, nãoquis gravar entrevista, e apenasconfirmou o ocorrido. O jornalapurou uma série de denúncias queenvolvem membros do instituto,mas que não serão publicadas por

falta de comprovações oficiais.

A PM nos campi

Entre os dias 23 de junho e 23 dejulho, o Diretório Acadêmico da Fa­culdade de Engenharia Elétrica (Dafe­elt) realizou uma pesquisa online comtécnicos, professores e alunos sobre apresença da Polícia Militar dentro doscampi. Das 2.400 pessoas que res­ponderam, entre os votos válidos(2.303), 97,1% aprovam a presença daPM em maior ou menor grau, 52,7%são a favor de um posto policial,39,4% reivindicam rondas frequentesda PM e sua presença quando for soli­citada e 5% preferem que os policiaisentrem no campus quando forem cha­mados. Apenas 2,9% dos votos sãocontrários à PM em qualquer situação.A pesquisa foi feita depois que umaluno foi assaltado por um homemcom um facão próximo ao bloco 1E, daEngenharia Elétrica.

Embora a pesquisa aponte umapossível unanimidade, diferentes se­tores da universidade ainda ofere­cem resistência a um posto policialdentro do campus. O estudante deEngenharia Elétrica, Frederico Vile­la, um dos responsáveis pela pesqui­sa, afirma que há um consenso entreos organizadores de que a implanta­ção de um posto policial não é ade­quada. “Ter um posto aqui dentro écomplicado porque você tem umajuventude que se acha diferente dalá de fora. Ela se acha superior aoresto. Montar um posto policial aquié ter briga todo dia de policial comaluno”, defende.

Para o Diretório Central dos Es­tudantes (DCE) existem alternativaspara a insegurança além da PolíciaMilitar. “O nosso posicionamento éque a PM não resolve o problemaque temos dentro da universidade”,diz a coordenadora de organizaçãodo DCE, Gabriela Schwartz. Para odiretório, o campus não está imuneaos índices de criminalidade do en­torno. "Se acontecem crimes do ladode fora, se existe tráfico do lado defora da universidade, dentro tam­bém vai ter. A universidade faz parteda sociedade como um todo”, defen­de. Com relação às medidas paliati­vas, Gabriela afirma que o DCE temdesenvolvido, em conjunto com areitoria e alunos da Engenharia daComputação, um aplicativo de celu­lar para facilitar o registro de ocor­rências dentro dos campi.

Apesar dessa indefinição, consti­tucionalmente, não há nada que im­peça a entrada da PM nasdependências da universidade. É oque explica o promotor do ministériopúblico, Fábio Guedes Machado: “Ocampus está integrado na sociedade eno município. Então não existe essaquestão de não ser aplicada a lei. Ora,se compete à Polícia Militar, de acor­do com o artigo 144 da ConstituiçãoFederal exercer o policiamento pre­ventivo, por que não?”

Foto: Daniel Pompeu

Reitoria afirma: "segurança na UFU é insuficiente"

“Estamosanalisando apossibilidade deum convêniocom a PM”,afirmou o reitorElmiro Rezende.

"A PM nãoresolve oproblema quetemos dentro dauniversidade”,diz GabrielaSchwartz,coordenadora doDCE.

Daniel Pompeu, Mateus Augusto Ferreira e Timoteo Junior

Segundo o reitor Elmiro Rezende,uma parceria com a PM tem sido es­tudada há algum tempo. “Nós cons­truímos propostas e estamosanalisando a possibilidade de umconvênio bastante amplo com a polí­cia militar”, informa. O reitor sina­lizou ainda que o policiamentoostensivo também está previsto noconvênio com a Polícia Militar, comdata incerta para efetivação. Sobre apossibilidade de um posto da políciadentro do campus, Rezende afirmouque “até esse momento não foi con­siderada como essencial, nem pornós e nem pela PM”.

Algumas universidades em MinasGerais já contam com a presença depostos da polícia dentro dos campi,como nos casos de Lavras (Ufla) eViçosa (UFV). Em Lavras, a reitoriafechou parceria com a PM para cria­ção de um posto policial comunitáriono campus, onde, desde junho de2011, seis agentes se revezam em du­plas com o apoio logístico de quatromotos e uma viatura. Na universida­de de Viçosa, a PM conta com o su­porte de 200 câmeras demonitoramento e 300 centrais dealarme.

Drogas e Criminalidade

Entre agosto e outubro de 2015, aPolícia Federal (PF) realizou a cha­mada “Operação Atalaia”, que mape­ou o uso e tráfico de drogas dentroda UFU, além de produzir imagensque comprovaram as ocorrências. Ainvestigação identificou, dentre osenvolvidos, alguns menores de idadee outras pessoas que não têm qual­quer vínculo com a instituição. Ementrevista ao SensoIncomum, odelegado da PF em Uberlândia, Car­los Henrique Cotta D’Ângelo, negouque tenha sido constatada ameaçaaos servidores públicos durante aoperação e disse que o tráfico naUFU não se configura em gangues,mas sim em um grupo único.

O diretor da Faculdade de Enge­nharia Civil (Feciv), Dogmar Antoniode Souza Junior, e o professor de To­pografia, Marcio Augusto ReolonSchmidt, são responsáveis por umabaixo­assinado que pede maior se­gurança dentro da universidade. Sch­midt afirma que a ideia surgiu após ocrescente número de usuários e trafi­cantes de drogas na porta da Feciv,sendo alguns deles armados, somadaaos pedidos de intervenção negadospela Prefeitura Universitária. “No

momento em que a gente se senteacuado, faz a solicitação e não éatendido, nós entendemos que, paraos que trabalham no bloco, não dápara esperar”, conta.

Entre as medidas a seremtomadas, a reitoria anunciou que vaiterceirizar a instalação emonitoramento de câmeras devigilância na universidade. Com oprojeto de terceirização, o número decâmeras instaladas saltará de cerca de10 para 84, em pontos estratégicosainda a serem definidos. Segundo odiretor de logística da UFU, WesleyMarques, o projeto base devedemorar mais três meses para serfinalizado e só a partir daí a empresade vigilância poderá ser licitada.

Do outro lado, um dos traficantesque frequenta o Jambolão, principalponto de venda e consumo de drogasapontado pela PF dentro da UFU,que pediu para não ser identificado,

relata que existe um “acordo" entreos aviões (responsáveis por buscar eentregar a droga para os clientes),que portam e vendem poucasquantidades de entorpecentes,visando manter a Polícia Militar forado campus. Quem cometer delitosque façam com que a PM sejachamada, como assaltos e roubos,“apanha” dos outros, explica. Eleconta que, apesar de vender drogas,não costuma utilizá­las por medo dovício. “Aconteceu com vários amigosmeus, se internaram por causa dedroga. Usei maconha algumas vezes,mas nunca gostei”.

Arte: Amanda Cristina

“A gente faz asolicitação e nãoé atendido.Entendemos quenão dá paraesperar”, contaDogmar Júnior,diretor da Feciv.

Quando se liga a televisão nosprincipais noticiários do país, oque se vê são crimes hediondos,caça a bandidos e violência. Sãoexibidos programas que dedicamtoda a sua grade à cobertura decrimes, perseguição da polícia eprisão de infratores. As cenasflagradas por câmeras desegurança passam dezenas devezes a fim de despertarinsegurança no telespectador.

Isso tem seus efeitos. Apopulação se sente cada vez maisamedrontada e esse sentimentose estende também para dentrodos muros das universidadesBrasil a fora. Casos de estupro,assaltos, uso e tráfico de drogas eaté mesmo homicídios sãopautas para a discussão dainserção da Polícia nos CampiFederais. A Universidade de SãoPaulo (USP) implantou emsetembro desse ano um novomodelo de segurança que prevê aatuação da PM no Campus. Essamedida foi adotada após a mortede um estudante durante umatentativa de assalto no final deagosto.

Tal quadro de violência nãodestoa do visto na UFU, uma vezque ela não é uma bolha imuneàs mazelas de seu exterior. O quesepara o assaltante dacomunidade acadêmica sãoapenas alguns passos. Afinal, sea universidade pertence aopúblico, a comunidade externapode e deve ter livre circulaçãopelas áreas de convívio dos

campi. É por isso que o problematem que ser tratado também noâmbito da segurança pública, amesma que trata de qualqueroutra área da cidade.

Diferentemente da aprovaçãovista na pesquisa de opinião dosdiscentes divulgada emreportagem central nesse jornal,62% dos brasileiros têm medo dapolícia, segundo o FórumBrasileiro de Segurança Pública enão há garantias de que osprogramas implantados pelaUSP, assim como por outrasinstituições públicas, terãosucesso. O Brasil, hoje, tem umadas polícias que mais mata nomundo, de acordo com relatóriosda Anistia Internacional.

A USP divulgou em seu siteque a iniciativa pretendepromover a democratização daPM, propiciando um diálogoentre a Instituição e a forçapolicial. No momento em que aUFU estuda a implantação demedida similar, toda a suacomplexidade deve ser exploradapela administração. Há que selevar em conta que colocar umposto policial dentro dos campinão cabe somente à reitoria,Ministério Público e comunidadeacadêmica, mas tambémdepende do entendimentoestratégico e logístico da PM.Exigir uma base exclusivamentena UFU, sem que essa tenhafundamento estatístico que sejustifique, é superestimar ocontexto em que vivemos.

Reitoria afirma: "segurança na UFU é insuficiente"

Locais com maior índice de ocorrências na UFU, como: assédios moral epsicológico, uso e tráfico de drogas, furtos e ameaças à mão armada.

“É uma parte fundamental danossa identidade. Como vamos sernomeadas se não podemos ter umnome que nos acolha?”, destacou aaluna do curso de psicologia daUFU, Sofia Carneiro de Sá, mulhertrans, após a aprovação do nome so­

cial na instituição. A discente foi aprimeira a solicitar o procedimento.

Aluno do curso de direito, PedroFerreira, homem trans, elucida quea aprovação da resolução é de suma

importância para a permanência dapessoa trans na universidade. Paraele: “você é aquilo que seu nomediz”. Concordando com Pedro, Sofiadeclara que “seria muito mais an­gustiante circular na universidadecom o nome de registro”, e com amudança ela se sente existente noespaço acadêmico.

O direito de possuir o nome socialnos registros universitários foi apro­vado em 30 de janeiro, no ConselhoUniversitário (Consun). Para a do­cente do Instituto de Ciências Soci­ais, Maria Lúcia Vannuchi, escolhero próprio nome, “condizente comsua identificação de gênero, é umDireito Humano”. Ela ressalta que,apesar dos passos importantes queestão sendo dados na Universidade,ainda há muito que caminhar.

Ajuste fiscal impacta contas da UniversidadeO governo federal apresentou um

déficit orçamentário para 2016 de 30bilhões de reais e, para tentar re­verter essa situação, optou por cor­tar gastos. A solução afetoudiretamente as universidadespúblicas. O corte na verba para oMinistério da Educação foi de 9,4milhões de reais. Com o contingen­ciamento de verba, a UFU acaboutendo que conter gastos e remanejaros recursos. Sobre as decisões dauniversidade para garantir a manu­tenção diante deste cenário, o pró­reitor de planejamento, José Fran­cisco, declara que decidiu eliminarpostos de trabalho e rever preços dedespesas. “Todos os nossos contra­tos foram revistos para tentar bus­car alguma economia de recursos”,diz. Sobre a contratação de profes­sores, a pró­reitora de recursos hu­manos, Marlene Marins, afirma: “asvagas de novos professores aindanão foram suspensas. De suspensão,nada oficial”. Os reajustes se esten­derão pelo próximo ano.

Nome social: direito garantido na UFU

Laura Fernandes

Foto:Pedro

VitorAlves

"Você é aquiloque seu nomediz", argumentaPedro Ferreira

YgorRodrigues

Para solicitar a mudança, é necessário comparecer à Central deAtendimento ao Aluno. De acordo com o diretor de Administração eControle Acadêmico (DIRAC), Paulo Resende, o resultado doprocedimento leva de 60 a 90 dias. Após a burocracia, é enviado ume­mail para a coordenação do curso, para que os professores possamimprimir outra lista de chamada. Até o momento, oito pessoassolicitaram o requerimento do nome social.

O Hospital de Clínicas da UFU (HC­UFU) está em crise. Em setembrodeste ano, foram reduzidos os aten­dimentos no Pronto Socorro e sus­pensas cirurgias eletivas e deurgência. Por falta de seringas, lu­vas, gaze e medicamentos, somente20% dos pacientes que buscaram ohospital foram atendidos. O localdeveria receber mais de 1400 pesso­as diariamente, realizando quase 2mil cirurgias por mês. O HC é o úni­co hospital da região capaz de aten­der casos de alta complexidade,mesmo assim tem déficit mensal en­tre R$ 1,5 milhão a R$ 2 milhões e játeve suas portas fechadas em situaçãoparecida no ano de 2013.

O diretor­geral do HC­UFU, Dr.Miguel Tannus Jorge, define a situ­ação como “anormal”. “O HC possuium problema real de recursos. Nasatuais condições do hospital, , nósnão conseguimos [atender os paci­entes]”, explica.

Em setembro houve duas paralisa­ções dos médicos residentes do hospi­tal em protesto pelo estado do HC.

Em virtude das restrições no mêsde setembro, a motorista de ambu­lância da cidade de Patrocínio, Va­nilde Aparecida Melo, disse que tevede voltar sem atendimento com umpaciente que havia sido encaminha­do para o HC­UFU. “Chegando nohospital, soubemos que não estavamatendendo. São quase duas horas emeia de viagem, e isso foi muito des­gastante para nós, principalmentepara o paciente”, pontuou.

UAIs

A procura de pacientes pelas Uni­dades de Atendimento Integrado do

município (UAIs) cresceu 55%, se­gundo dados da Secretaria de Saúdede Uberlândia. Em 2014, a média deconsultas no Pronto­Atendimentodas UAIs era de 46 mil por mês. Em2015, o número aumentou para 72mil, o que elevou o consumo de ma­teriais, gerando a falta de insumostambém na rede municipal. O Sindi­cato dos Médicos de Minas Gerais(Sinmed) orientou os profissionais asuspenderem atendimentos nos lo­cais onde faltarem itens básicos e la­vrar boletim de ocorrência, o queaconteceu nas UAIs do Bairro Planal­to, Presidente Roosevelt e Martins.

Ebserh

A solução para os problemas ad­ministrativos e de recursos podem

ser a adesão do HC­UFU à EmpresaBrasileira de Serviços Hospitalares(Ebserh), sinaliza a Reitoria. O vice­reitor da UFU, Eduardo Nunes Gui­marães, explicou a situação. “O HCestá em crise. A nossa vontade é re­solver o problema, seja pela Ebserhou outra solução via Fundação”, diz

O hospital só retornou os atendi­mentos por meio de um aporte deR$2 milhões feito pela Ebserh para acompra de materiais. A verba seráviabilizada mensalmente pela em­presa até a definição do ConselhoUniversitário sobre a adesão. “Em2013 éramos contra a entrada ime­diata. Passados dois anos, nós en­tendemos que o momento dodiálogo precisa ser reconstruído”,finaliza o vice­reitor.

Crise no HC-UFU afeta saúde da região

Victor Fernandes

InfografiaporAmandaCristina

Foto: Alex Furtado

"O Hospital deClínicas está emcrise," afirmavice­ reitor.

Dentre as inúmeras liberdadesque o universo online oferece, está ouso gratuito de serviços anteriormen­te pagos, como baixar músicas e as­sistir filmes. Nesse contexto, osusuários de plataformas que ofere­cem esses recursos de download estreaming não autorizado são alvosde processos. Mas, afinal, o que diz alei brasileira sobre isso?

O professor de Direito na UFU,João Victor Longhi explica que “pro­

priedade intelectual é o ramo do Di­reito que discute a exclusividade deexploração patrimonial sobre certosbens imateriais”. Ele aponta que, em­bora os direitos autorais tenham surgi­do para proteger o autor da obra,acabam defendendo “os exploradoreseconômicos, como as gravadoras”.

No Brasil, a punição, seja crimi­nal ou civil, normalmente é direcio­nada a quem disponibiliza odownload não autorizado. “Se vocêtem um uso privado, sem intenção

de lucro, a tendência é de que nãohaja punição”, diz Longhi. Oprofessor esclarece que, mesmo ousuário não pagando o download, osprovedores “utilizam seus dados paravender publicidade. Isso é uma formade lucro indireto”. Longhi explanaque a legislação brasileira passou aproteger mais o provedor do downlo­ad não autorizado, pois “você só poderesponsabilizar o provedor, uma vezque notificado, no site, que aqueleconteúdo viola direitos autorais”. O

blog Forúm de Livros Pepper Girlparou de disponibilizar livros gratui­tamente quando foi denunciado poreditoras. “O blogspot trancou nossaconta, então paramos de distribuir.Não houve punições legais, só cance­laram”, relata a administradora dapágina. Assim, a página passou atraduzir e publicar gratuitamenteapenas livros inéditos no Brasil eainda não tiveram nenhuma queixadas autoras, que são americanas.

Usuários de downloads nãoautorizados, estudante da UFU ­ PB­ e graduando da UNB ­ AJ ­ ,declaram saber que não se trata deum serviço claramente legal.“Compreendo que o serviço é ilegal,mas se fossemos pagar por tudo quevemos ilegalmente na internet, amaioria de nós não teria dinheirosequer para comida”, alega PB. Emrelação à legislação, AJ explica:“não faço ideia do que podeacontecer com quem faz uso destessites, mas imagino que deve existiralguma lei e um tipo de punição.Porém, nunca ouvi falar deninguém que foi punido”.

A pergunta na música de Caeta­no Veloso, consagrada na voz deVanessa da Mata, traz a discussãoda identidade racial. Quem são asneguinhas de Caetano e por que nãoo sabem desde sempre? No ambien­te universitário, a mulher negra éminoria, e em 2009 representava9,91% dos estudantes, segundo oIpea. Na UFU, a Coletiva Bonecasde Pixe discute sobre o tema comquase 100 mulheres negras que di­

videm vivências e estudos, presen­cialmente ou pelo Facebook.

Segundo Mariana Sousa, estu­dante de Ciências Sociais e uma dasfundadoras da Coletiva, o grupo sur­giu da necessidade de discutiropressões raciais e de gênero. “Alémda luta contra o machismo, nós tam­bém devemos enfrentar o racismoque segue enraizado em nossa socie­dade devido às heranças históricas,sociais e políticas”, conta.

A construção da identidade ne­gra positiva é um processo longoe, muitas vezes, tardio. A falta deinformação da família é um impe­dimento comum apontado pelogrupo. “Minha família procuravame eximir dessa identidade negrae passar­se pelo moreno, porque émenos duro”, destaca Mariana. O

grupo ressalta que a família não éracista nesse caso, mas reproduto­ra da opressão.

Muitas meninas são da primeirageração de universitárias da famí­lia, e é quase consenso que a uni­versidade foi o início de uma

análise enfraquecida da identidadenegra. Agora, fazem o processo re­verso: levam para os familiares aconsciência crítica que lhes faltava.“Eu discuto com a minha família,vejo tias e minha mãe se empode­rando. Ela mesma já denuncia oracismo hoje”, declara PollyannaFabrini, membro da Coletiva.

Professora do curso de Letras emembro do Núcleo de EstudosAfro­Brasileiros (Neab), MariaCecília de Lima, destaca a impor­tância da Coletiva ser aberta à co­munidade externa, pois existeuma cultura em que as mulheresnegras devem ocupar “o bairrolonge, a cozinha da patroa. Se agente saísse de lá, talvez fosse umlugar de sofrimento e de não acei­tação”, avalia.

Em terra de ninguém, legislação pouco resolve

Correio

Bianca Guedes

“Nunca ouvi falarde ninguém que foipunido.” ­ AJ

A construção daidentidade negrapositiva é umprocesso longo e,muitas vezes,tardio.

Arte:NatashaCristinaeBia

Yuki

Eu sou neguinha?

Gabriela Luz

Disque 190Mateus Augusto

As tais cantadas...Maryna Ajej

Sabe­se que a violência, seja elafísica ou verbal, atinge grande partedas mulheres no Brasil. Lamenta­velmente, tais fatos acontecem atémesmo dentro das universidades,locais de ensino os quais deveriamser destinados ao crescimento e de­senvolvimento pessoal, mas acabamsendo espaço para o cultivo dessasagressões. De acordo com o artigo7º da Lei no 11.340, a violência psi­cológica é qualquer conduta quecause dano emocional ou prejuízo àsaúde mental que tenha como obje­tivo controlar ações ou degradá­las.Apesar de não deixar marcas físicasevidentes, a violência psicológicacontra a mulher é também uma vio­lação aos direitos humanos.

A Organização Mundial daSaúde (OMS) afirma que a natu­ralização desse tipo de agressão éum estímulo a uma espiral de vio­lências. O pior de tudo, é que esseconstrangimento ocorre o tempotodo, em plena luz do dia e mes­mo assim continuamos tratandocomo se fosse algo normal emnossa cultura. Infelizmente, taisepisódios são naturalizados emnossa sociedade, mas não pode­mos afirmar que é algo normal,uma vez que é repressor.

Uma pesquisa da revista Épocaaponta que mais de 80% das mu­lheres já mudaram de caminho ouaté mesmo desistiram de sair pormedo da atitude dos homens.

O fato das mulheres serem asmaiores vítimas desse tipo de abu­so psicológico nos chama a atençãopara o machismo. Elas são obriga­das a suportar toda a espécie dexingamento e a vontade de que al­guns homens sentem em controlarseus corpos. Na maioria das vezes,são consideradas culpadas nessassituações, seja por suas roupas“curtas demais” ou pelo batom ver­melho. Parte considerável das víti­mas não denuncia esses crimes porreceio ou até mesmo devido a uminjusto sentimento de vergonha doopressor, deixando com que acei­tem para si próprias a culpa a qualnão têm responsabilidade alguma.

Todas essas “cantadas” – da

“princesa” a passada de mão – vi­olam a intimidade feminina umavez que o assediador parte doprincipio que ele pode opinar e ex­pressar sua “avaliação” sobre ocorpo da mulher. Como essa per­cepção é generalizada, aquela quedecide manifestar contra o assédiocorre o risco de ser ofendida. As­sim, essas cantadas funcionam co­mo uma forma de afirmação depoder para estabelecer uma hie­rarquia. E se permitirmos que esseassunto se mantenha na espiral dosilêncio, mais recorrente isso será.As mulheres, assim como os ho­mens, devem sim falar sobre isso, eunidas lutarem por mais respeito eigualdade entre os gêneros.

As ruas do meu bairro costumamser tranquilas nos sábados: pessoaspasseando com seus cachorros, uni­versitários bem vestidos para algu­ma festa, gente nas calçadas olhandoo movimento. E aquele era um sába­do como todos os outros. Saí paracomprar algo para o almoço e, en­quanto andava na calçada, ouvi obarulho de uma moto se aproximan­do atrás de mim e logo parou domeu lado. Vão pedir informação,pensei. Ingênuo.

­ Passa o celular! Passa o celular efica quieto! – Disse o motorista, en­quanto o homem da garupa desciada moto, com uma arma na mão eapanhava meu celular.

Meio dia? Quem assalta a essahora? Pensei. Não durou mais quetrês segundos, para que eu perdesseum objeto valioso e, com ele, váriaslembranças. Corri de volta para casa,precisava contar para alguém sobreo ocorrido.

O que eu faço agora? Disque 190,me recomendaram. Disquei. “Nomomento todos os atendentes estãoocupados, continue na linha” – dissea gravação no telefone. Se estivesseem apuros, estaria perdido.

­ Mandaremos uma viatura omais rápido possível – disse a aten­dente.

Quarenta minutos, exatamente,

foi o “mais rápido possível”. Dariatempo de assistir ao primeiro tempointeiro de uma partida de futebol.Até que finalmente a viatura chegou.

­ Como era o vagabundo? Qualera a cor da camisa? Qual era o mo­delo da moto? Qual a cor da moto?

­ Não sei dizer, senhor, foi tudomuito rápido.

­ Mas qual a idade deles, mais oumenos?

­ Não sei dizer, estavam de capa­cete.

­ Vamos te encaminhar para adelegacia, para fazer o boletim deocorrência – finalizou o policial.

Respeito, disciplina e hierarquiaeram os valores da instituição, escri­tos na parede do lugar. Não sabiaque hierarquia era um valor, até en­tão. Trinta minutos para fazer o bo­letim de ocorrência. Havia maisgente na delegacia, o filho de alguémdesaparecera, choro, gritos, deses­pero.

­ Agora é só aguardar, caso a gen­te encontre o cara, te ligamos. Voupedir para alguém te levar para casa– disse o rapaz da delegacia.

Minha barriga já roncava. Lem­brei que, por causa do incidente, nãohavia almoçado ainda. Até que umcabo da polícia me chamou e disseque me levaria até em casa. Pegarcarona de viatura é estranho, as pes­

soas olham como se você estivessesendo preso. No caminho, o homemde farda que me levava puxou as­sunto:

­ Mas você sabe o porquê de tan­tos assaltos que estão acontecendopor aqui? – Perguntou­me o policial.

­ Não sei, o que é?­ É por causa desses estudantes,

ficam andando com celular na mãona rua, isso atrai bandido – respon­deu.

Não entendi, agora a culpa de tersido assaltado era minha? Pensei.

­ Mas o celular estava no meubolso, moço – retruquei.

­ Ah, mas tem que ficar esperto,filho. Quando você ver essas motos,uno, golzinho, carro mais simples,

sabe? Já “caça um canto”, porquecoisa boa não é.

Fiquei pensando como seria setoda vez que eu visse um carro po­pular na rua, tentasse me esconder.Aliás, o que tem a ver o carro? Queburrice, pensei. Mas dessa vez nãorespondi nada. Pedi para que medeixasse em um restaurante, minhabarriga já gritava de fome.

­ Não levaram sua carteira? –Perguntou o policial.

­ Não, só o celular mesmo.­ Ainda bem, né? – Finalizou.­ É, ainda bem.E foi este “ainda bem” a única re­

compensa que puderam me darneste sábado. Que era um sábadocomo todos os outros.

O que é segurança senão umestado de conformidade, pazconsigo e com o ambiente noqual se vive? O homem busca demaneira geral se sentir seguroem todas as suas relações, des­de as mais pessoais, como umrelacionamento, até uma demaior perspectiva, como o am­biente no qual ele frequenta.

Recentemente este é um deba­te que veio à tona, dentro dos mu­ros da universidade, visto que aspessoas encaram esse espaço co­mo “uma terra sem leis”, ondenão se tem uma segurança de fa­to. Coloco­me neste posiciona­mento, pois vivemos um contextode insegurança, mas a universida­de não é bem assim. A questão éque as pessoas não reconhecemque aquilo que tantos alegam queocorre apenas dentro do campus

está presente todos os dias, 24horas nas margens de nossa soci­edade.

Entretanto, nós como estu­dantes de privilégio não temoscontatos, ou até temos, mas nãosofremos com isso. Os murosda universidade não podem ser­vir como uma segregação social,pelo contrário, ele tem que serreconhecido pela inclusão da co­munidade com o meio acadêmi­co. De fato, temos umauniversidade que zela pela segu­rança meramente patrimonial,mas esta é uma realidade social,zelar pelos patrimônios materiaise se esquecer da vida humana.

A liberdade que encontramosdentro da universidade não deveser encarada como um agente deviolência moral ou física, mas in­felizmente é isso que acontece.

Se a segurança na UFU se refere à Polícia Militar, eu discordo total­mente dessa segurança. Inclusive tenho medo dela. A PM na UFU, comoela sempre faz, iria favorecer os transeuntes mais ricos, aqueles de pa­drão eurocêntrico. E os cotistas, negros e a comunidade externa? Essesserão tratados, como apontam diversas pesquisas, como marginais ­ umcara que não devia estar circulando pela UFU (''Um bem público a servi­ço do Brasil."). A segurança, para ser efetiva, tem de ocorrer aos redoresda universidade primeiro. Ela é um espaço que, teoricamente, serve paradiscutir o caos da sociedade e tentar encontrar soluções. PM na UFU seráuma contradição ao intuito real de uma universidade.

"Eu sou a favor da polícia noentorno do campus, não dentro.Porque em volta é muito mais

perigoso. (...) Tem mais casos deassaltos na saída da universidade."

André CarusoEngenharia Civil

Perspectivas da segurançaMatheus Maia - Ciências Sociais

"Você está num lugar de estudo enão tem segurança. O mínimo quepode ter aqui é a polícia. Acredito

que quem não deve não teme."

Luis Gustavo AbdallaEngenharia Elétrica

Rafael Gomes - Design

Policia para quem?Karine Rodrigues – Ciências Biológicas

Fala, Leitor

"A UFU não é uma bolha e sim umreflexo da sociedade. Se colocar

policia aqui não vai adiantar, comonão adianta lá fora."

Roniere QueirozPedagogia

"Seria interessante ter opoliciamento, mas para isso é

necessário algum treinamento paraque a policia não trate diferente

quem é aluno e quem não é."

Lays BragaLetras

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