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A DINÂMICA INDUSTRIAL DE CAMBÉ-PR
CÁSSIA MARQUES DA ROCHA1 CLAUDIO ROBERTO BRAGUETO2
RESUMO Ainda que a esfera de gestão, circulação e de consumo exerça expressiva atuação, a atividade produtiva ainda mantém sua relevância para a produção do espaço geográfico, sendo intrínseca à produção e organização deste. Nesta perspectiva, o artigo explana sobre a dinâmica da indústria na cidade de Cambé-PR, no período 1990 a 2010. Para tanto, investigou-se a dinâmica industrial dessa cidade a partir da caracterização da indústria, de acordo com os principais ramos e suas transformações ao longo desse período e verificou-se a importância das políticas públicas estaduais e municipais para a implantação de novas indústrias e ampliação das já existentes.
Palavras-chave: Indústria em Cambé; industrialização; produção do espaço. ABSTRACT Although the sphere of management, circulation and consumption exert significant operations, productive activity still maintains relevance for the production of geographical space, being intrinsic to the production and organization. In this perspective, the article explains about the industry dynamics in the city of Cambé -PR, in the period 1990-2010. To this end, we investigated the dynamics of this industrial city, from the characterization according to the main branches industry and their transformations industry during this period and there was the importance of state and municipal public
policies for the implementation of new industries and expansion the already existing. Key-words: Industry in Cambé; industrialization; production space. 1 – Introdução
O presente trabalho visa apresentar a dinâmica da indústria na cidade de
Cambé-PR, no período 1990 a 2010. Para tanto, o objetivo foi investigar a dinâmica
industrial da cidade de Cambé, realizando a caracterização da indústria de acordo
com os principais ramos e suas transformações ao longo desse período, além da
verificação da importância das políticas públicas estaduais e municipais para a
implantação de novas indústrias e ampliação das já existentes.
A cidade de Cambé localiza-se na mesorregião Norte Central Paranaense,
contava com aproximadamente 102.222 habitantes no ano de 2010 e tem como
principal atividade econômica o setor secundário. Seu processo de industrialização
teve início na década de 1960, com predominância da indústria de bens de
consumo, porém nos anos de 1980 o setor industrial passou por uma expressiva
1 Acadêmica do programa de pós-graduação em Geografia na Universidade Estadual de Londrina. E-
mail: [email protected] 2 Orientador/Docente do Programa de Pós Graduação em Geografia pela Universidade Estadual de
Londrina. E-mail de contato: [email protected]
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crise econômica, a qual resultou na desaceleração do processo de industrialização
da cidade, assim como, no fechamento de alguns estabelecimentos.
No entanto, a partir dos primeiros anos da década de 1990, a atividade
produtiva se reforça e em meio às mudanças econômicas vivenciadas no contexto
nacional. Deste modo, entre os anos de 1990 a 2010, algumas transformações
ocorreram no contexto de pessoal ocupado, número de estabelecimentos, políticas
públicas de atração de novas indústrias e incentivo a ampliação das já existentes,
que refletiram na produção e organização do espaço.
Durante a realização da pesquisa, realizou-se o levantamento teórico
conceitual acerca da relevância da atividade industrial na produção e organização do
espaço geográfico; levantamento histórico sobre industrialização de Cambé, coleta
de dados secundários sobre pessoal ocupado e número de estabelecimentos por
ramos industriais no MTE/DARDO e entrevistas em órgãos públicos municipais
como a Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Cambé e com um ex-prefeito
da cidade.
A pesquisa demonstra que fatores como a ótima localização da cidade,
disponibilidade de mão de obra, infraestrutura, proximidade com o município de
Londrina e as áreas industriais específicas, que viabilizam as “economias de
aglomeração”, reforçam a atração de indústrias e ajudam a manter as unidades há
existentes. Outrossim, os incentivos fiscais, com destaque para as leis municipais,
possibilitaram de forma direta a ampliação dos Parques Industriais. A atração de
novas indústrias pós 1990 pode ser exemplificada pela vinda da Pado S.A. e das
multinacionais, Amcor e Sandoz, o que influenciou de forma decisiva no aumento
dos vínculos empregatícios nos 20 anos analisados, colaborando para o destaque
dos setores de metalúrgica e química nessa cidade.
2- A Indústria e a Produção do Espaço Geográfico
Tendo como objeto o estudo da dinâmica industrial, faz-se necessário pensar
o cerne desta atividade, sua importância para as mudanças na vida social e na
produção e organização do espaço. Deste modo,
Ainda que a indústria seja a forma através da qual a sociedade aproprie-se da natureza e transforma-a, a industrialização é um processo mais amplo,
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que marca a chamada Idade Contemporânea, e que se caracteriza pelo predomínio da atividade industrial sobre as outras atividades econômicas. Dado o caráter urbano da produção industrial (produção essa totalmente diferenciada das atividades produtivas que se desenvolvem de forma extensiva no campo, como a agricultura e a pecuária) as cidades se tornaram sua base territorial, já que nelas se concentram capital e força de trabalho. (SPOSITO, 1988, p.43).
A transição da fase do capitalismo comercial para o industrial consolidou a
cidade como cenário profícuo para o desenvolvimento desta atividade. A cidade
passou a disponibilizar infraestrutura, mão de obra, mercado consumidor (fortalecido
com o assalariamento). Nesse sentido, a reprodução do capital proporcionou um
investimento em inovações que colaboraram ainda mais para o seu
desenvolvimento.
Passados quase três séculos do surgimento da atividade industrial, essa
mantém sua relevância, em especial nos estudos que fazem alusão à produção e
organização do espaço geográfico.
O espaço da indústria continuaria tendo uma contribuição importante para a confirmação do espaço, e a sua análise ainda é necessária, pois na indústria contemporânea se produz grande parte da riqueza (mais-valia) social. Assim, é necessário sempre levar em conta as mudanças que ocorrem na indústria e que afetam a localização desta no território [...] (BOTELHO, 2008, p. 20).
Portanto, aos antigos fatores de localização industrial, atualmente somam-se
novas condições. Estas condições proporcionam uma atmosfera de interesses frente
à escolha e ao uso do território. No que se refere aos antigos e novos mecanismos
de localização industrial, Sposito destaca que
[...] as teorias locacionais ao longo das décadas passam a ter como conceito chave, com destaque as de cunho weberianas e neoweberianas, os transportes, como o grande elã da localização das unidades produtivas e a maximização dos lucros da empresa, e claro, atualmente existem outros mecanismos que interferem na localização da indústria, tais como os incentivos fiscais, taxas tributárias (SPOSITO, 2009 apud SILVA, 2014 p. 26).
Esta realidade é inerente ao Brasil e também no município em foco, o que
esclarece a importância desse conjunto de fatores para a localização das unidades
produtivas em um dado território. Com relação os incentivos fiscais, as esferas de
governo buscam promover uma “guerra fiscal” na qual os municípios disputam entre
si as melhores vantagens para a atração e instalação de novas indústrias.
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Visto esses fatores, a concentração de unidades produtivas em uma dada
área torna-se importante para a atração e manutenção das unidades, com isso o
arranjo espacial é dinamizado e distintas classificações de aglomerados industriais
passam a existir. Destaca-se no presente trabalho o conceito de Distritos Industrias,
os quais são estruturas organizacionais de aglomerações industriais que passaram a
ter sua maior ocorrência no século XX, a partir da política de desconcentração
industrial das cidades.
A formação e concentração ocorrem preferencialmente em uma zona periférica, dessa maneira os DI podem se beneficiar de terrenos mais amplos e baratos, resultantes da atuação do Estado, beneficiando-se de várias vantagens como de preparação do terreno, acessibilidade à água, energia, rodovias, incentivos fiscais, entre outros (CORRÊA, 2003 apud BRAVIN; GÓES, 2011, p.4).
Estas descrições de DI expressam o que ocorre em Cambé, que possui um
Distrito Industrial e dois Parques Industriais implantados pelo poder municipal e que
se beneficiam de todas as vantagens descritas acima. A localização da unidade
produtiva irá influenciar o preço do solo urbano; distribuição de saneamento;
conjuntos habitacionais; vias de acesso; equipamentos coletivos; questões
ambientais, como poluição atmosférica e poluição sonora; entre outros.
3- A Dinâmica Industrial Cambeense
A cidade de Cambé localiza-se na messoregião Norte Central Paranaense
(Mapa 1). Segundo o censo de 2010, possui 102.222 habitantes, com índice de 96%
de urbanização (IPARDES, 2013), tem como principal atividade econômica a
indústria.
A industrialização de Cambé teve início nos anos de 1960, de modo “tímido”,
caracterizada como uma indústria de bens não duráveis, com proeminência para o
ramo alimentício, o beneficiamento de produtos agrícolas, em especial do café, além
do conserto de máquinas e equipamentos e a fabricação de material de solda. As
indústrias do seguimento metalúrgico enviavam os jovens cambeenses para Joinville
(SC) e São Paulo (SP), para que aprendessem mais sobre o manuseio das
máquinas e depois retornavam à Cambé. Essas antigas indústrias deixaram um
legado, a força do setor metalúrgico.
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Mapa 1- Localização do município de Cambé- Pr. Fonte: Base cartográfica: IBGE. Org. Cássia M. da
Rocha (2013). Elaboração: Heitor M. da Silveira (2013)
O início do processo de industrialização dessa cidade acompanhou a
intensificação do mesmo expresso no Brasil, pois como afirma Moreira (2004) os
primeiros passos para a industrialização moderna no país, remontam aos anos de
1870-1880, porém apenas após a Segunda Guerra Mundial, a industrialização no
Brasil desenvolveu-se intensamente, em virtude da formação do mercado nacional
e, portanto, ao processo de unificação econômica do espaço brasileiro, à
consolidação do capitalismo e a dinamização da divisão territorial do trabalho.
De acordo com Gonzales Neto,
A partir de 1967, a administração de Jacídio Correia voltou-se para a implantação de um parque industrial no município. Foi adquirido um terreno às margens da rodovia Cambé-Londrina para a instalação de indústrias na base de doação de terreno e incentivos fiscais. A Câmara Municipal deu todo apoio a essa iniciativa do Executivo, destacando-se o empenho do vereador Dr. Roberto Conceição. (GONZALES NETO, 1987, p.127).
Pode-se evidenciar a preocupação que já havia em 1967 pela administração
municipal com o processo de industrialização. O feito realizado nesta época
favoreceu o desenvolvimento das indústrias no local, visto que esse foi o primeiro
arranjo espacial de Cambé destinado às indústrias e atualmente este é um dos
Parques Industriais da cidade.
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No período de 1970 a 1980 a população urbana cambeense cresceu
aproximadamente 233%, processo decorrente da modernização do campo, do
êxodo rural e da inserção da industrialização, essa ultima vinculada com a
proximidade com o município de Londrina, pois “as mais importantes indústrias ali
instaladas examinaram primeiramente Londrina como alternativa locacional,
preferindo Cambé pelos maiores incentivos oferecidos.” (IPARDES, apud
SANTANA, 1985, p.2).
Diante do contexto estadual, Bragueto (1999) explana que o governo estadual
lançou em 1962, a Companhia de Desenvolvimento do Paraná (CODEPAR),
transformada em 1968 em Banco de Desenvolvimento (BADEP), que tinha como
principais objetivos o financiamento da produção industrial e a implantação da
infraestrutura, em especial, rodovias, produção e transmissão de energia. Se
durante os anos de 1960 tais medidas tiveram pouco efeito na produção industrial,
pode-se afirmar que essas preparam as bases para as profundas transformações
ocorridas nas décadas seguintes.
Em 1983, Cambé contou com o Projeto Carijó, que surgiu com o propósito de
renovação do parque industrial, sendo dividido em seguimentos; formou um tipo de
incubadora de empresas para o aperfeiçoamento industrial, contando com a
presença de micros e pequenas unidades produtivas de capital local e regional.
Esse se localizou nas margens da BR 369 - Rodovia Mello Peixoto.
Para Santana (1985) entre os anos de 1975 a 1984 o parque industrial de
Cambé apresentou grande expansão, porém nos anos finais deste período houve
uma crise econômica, marcada pela instabilidade da inflação, o que provocou um
retrocesso nas indústrias, sendo que muitas diminuíram ou paralisaram suas
atividades, agravando o quadro de desemprego. Essa estagnação de manteve até
os primeiros anos da década de 90 e pode ser explicada pelos planos econômicos
vigentes da época (Plano Collor I, II) que implicou na retração da economia interna.
(BRAGUETO, 2007).
Considerando o processo de desconcentração industrial, Bragueto (2007)
afirma que com a reestruturação produtiva foi possível uma ampliação na mobilidade
geográfica do capital, como uma das estratégias de reprodução do mesmo. Coforme
o mesmo autor, no decorrer dos anos de 1990, o Aglomerado Urbano-Industrial de
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Londrina (Londrina, Cambé, Ibiporã, Rolândia, Arapongas e Apucarana), tornou-se
atrativo para a fixação de plantas industriais transferidas. Especificamente com
relação à Cambé, podemos citar a presença da Amcor Flexibles Brasil, com sede na
Austrália; a Sandoz de origem suíça, e a Pado S/A, que não apenas se beneficiou
da desconcentração industrial, mas também do processo de descentralização, isto é,
em 1997 instalou sua unidade fabril juntamente com sua sede administrativa em
Cambé.
Foi a partir dos anos 90 que houve a preocupação em planejar a distribuição
das indústrias da cidade, a fim de expandir e fortalecer o setor e evitar as disputas
pelo solo urbano entre residências e indústrias. Como resultado há atualmente dois
Parques Industriais (Parque Industrial José Garcia e Parque Maracanã) e um Distrito
Industrial instalados nas principais vias de acesso à cidade, os dois primeiros as
margens da PR 445, caminho para o estado de São Paulo e saída para Curitiba; o
Parque Maracanã e o DI estão na BR 369, sentido Londrina e saída para região
Oeste do Paraná. Sendo assim, além dos incentivos fiscais, da infraestrutura,
Cambé se destaca como atrativo por sua localização, o que significa benefício em
escoamento da produção.
Além disso, a cidade conta com a ligação ao Porto de Paranaguá – PR e com
o de Santos–SP realizada através da ALL (América Latina Logística), concessionária
da Rede Ferroviária Federal S/A. Há também o Terminal Intermodal de Cambé –
Brado Logística, que armazena e concentra parte das cargas de exportação e
importação em containers, proporcionando às empresas exportadoras e
importadoras economia em relação ao frete.
Para a compreensão da dinâmica industrial cambeense foi necessário
classificar os principais ramos industriais e apontar as transformações relevantes
quanto ao número de estabelecimentos e vínculos empregatícios. Para tanto
levantou-se dados junto Ministério do Trabalho e Empregos e Relação Anual de
Informações Sociais (MTE/DARDO), que ocorreram no setor secundário em um
intervalo de 20 anos.
Com relação às transformações ocorridas na indústria de Cambé, observa-se
que a cidade contava com 136 unidades produtivas em 1990; 183 em 1995; 240 em
2000; 327 em 2005 e 265 em 2010 (tabela1). Nota-se um crescimento de 129
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unidades entre os anos de 1990 a 2010, porém o ano de 2005 contou com o ápice
de 327.
Tabela 1 – Cambé – Número de estabelecimentos e pessoal ocupado conforme os principais ramos industriais - 2010.Fonte dos dados: BRASIL. MTE/RAIS (2012). Org. Cássia M. da Rocha (2014).
O número de vínculos empregatícios nesse intervalo temporal analisado
apresentou um crescimento considerável, pois de 2190 postos de trabalhos gerados
pela indústria em 1990, houve um aumento para 8048 no ano de 2010, com
destaque para a indústria metalúrgica que empregou 3107 (38,6% do total)
trabalhadores em 2010. Observou-se que mesmo o subsetor têxtil apresentando
maior quantidade de estabelecimentos, esse ficou em terceira posição em 2010 em
vínculos empregatícios (11, 1%) atrás da indústria química (15%). O fato de a
indústria metalúrgica empregar o maior número de trabalhadores se relaciona com a
realidade deste subsetor necessitar de quantidade expressiva de mão de obra para
a linha de produção e possuir indústrias de maior porte instaladas na cidade.
A indústria têxtil e do vestuário apresenta o maior número de
estabelecimentos, que corresponde a 25,6% do total, sendo que esse seguimento,
desde os anos de 1990, vem mostrando crescimento gradual, nesse ano contava 30
unidades fabris e em 2010 havia mais que o dobro. Desde 1990, o número de
estabelecimentos da indústria metalúrgica teve um acréscimo, atingindo seu ápice
em 2005 (70 unidades), no entanto, cinco anos mais tarde reduziu para 45 unidades
produtivas.
A indústria química em Cambé vem ganhado representatividade, em especial
entre os anos de 2000 a 2005, em que nove indústrias foram instaladas.
Considerando o número de estabelecimentos e de vínculos, observa-se como este
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ramo gera uma quantidade considerável de empregos. Em 2000 empregava 12,4%,
no ano de 2005 este número aumentou para 18,5%, cinco anos mais tarde caiu para
15% do total. O crescimento deste subsetor nos anos próximos a 2005 pode ser
explicado pela instalação da indústria farmacêutica Sandoz, em 2004, no Parque
Industrial José Garcia Gimenes.
Esses são os três segmentos industriais que podem ser considerados como
principais ramos industriais de Cambé no ano de 2010, visto que, tanto em número
de estabelecimentos como em postos de trabalhos, esses três ramos ultrapassam
50% dos dados em tela.
Entre os benefícios apresentados pelo governo estadual para impulsionar o
desenvolvimento industrial do estado do Paraná, tem-se a oferta de benefícios
através do Programa Paraná Mais Empregos, que prorrogou o prazo de
recolhimento do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços),
durante os anos de 1996 e 2001, o que proporcionou a instalação de novas
indústrias. (LOURENÇO, 2003). No entanto Bragueto e Cunha (2002) argumentam
sobre o caráter excludente das políticas do governo estadual, pois beneficiou o
grande capital e poucas áreas do território paranaense, com isso as pequenas
empresas não se beneficiaram de incentivos fiscais, como por exemplo, a
prorrogação do prazo de recolhimento do ICMS.
Consequência direta desta política, conforme Bragueto (2007) entre os anos
de 1990 e início dos anos 2000, o Paraná apresentou um desenvolvimento regional
bastante polarizado, com concentração de indústrias de maior tecnologia na Região
Metropolitana de Curitiba, enquanto no interior do estado, pouco beneficiado por tais
políticas, houve crescimento expressivo de indústria de menor intensidade
tecnológica e mais intensivas em mão de obra. Este é o caso verificado em Cambé,
onde há o predomínio da indústria de baixa tecnologia.
Assim há nessa cidade a maior relevância dos incentivos fiscais municipais,
como por exemplo, a LEI Nº. 2.326, de 22 de dezembro de 2009, que dispõe sobre a
concessão de incentivos às atividades econômicas no município de Cambé,
viabilizando os incentivos fiscais, econômicos e estruturais, para novas unidades
produtivas e para as que já estão instaladas no município, mas desejam ampliar sua
capacidade de produção. (CAMBÉ, 2009). Os incentivos contemplam isenção de
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IPTU, instalação de água, energia elétrica, telefone; serviços de terraplenagem,
entre outros.
4- Considerações Finais
O presente artigo se propôs investigar a dinâmica industrial de Cambé, de
1990 a 2010. A reflexão sobre a importância das unidades produtivas para a
produção do espaço geográfico e a contextualização do setor industrial no cenário
nacional e estadual foram imprescindíveis para a compreensão do processo de
industrialização de Cambé diante da divisão territorial do trabalho, em especial pós
1990, quando essa passou a receber industriais de capital externo e também de
outros estados nacionais.
É evidente como a atividade produtiva de Cambé se atrela à urbanização; ao
arranjo espacial; os atrativos fornecidos por políticas públicas, em especial de leis
municipais; à relevância da localização para da dinâmica de escoamento da
produção, por estar no eixo que liga o norte do Paraná à São Paulo, à Curitiba e à
região Oeste do Paraná; à disponibilidade de mão de obra; infraestrutura;
proximidade com Londrina, a existências das áreas industriais específicas, ou seja,
todo um cenário que viabiliza as “economias de aglomeração” e reforçam a atração
dos investimentos industriais.
Pode-se observar que no intervalo de aproximadamente 30 anos, Cambé
ampliou consideravelmente sua área industrial. Se na década de 80 contava apenas
com um Parque Industrial, atualmente conta com mais duas áreas especificas para a
realização de atividades do setor secundário, que de acordo com entrevista dada
pela secretária da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, estariam em vias de
expansão por meio da atração de novas empresas de capital internacional.
Evidencia-se uma evolução na indústria cambeense, pois no ano de 1990 o
município contava com 136 unidades produtivas e chegou a 265 em 2010. E o
número de vínculos também expressou um aumentou, de 2190 em 1990 para 8048
em 2010, ou seja, mais de 300% de crescimento em 20 anos, sendo os subsetores
em destaque, o metalúrgico, têxtil/vestuário e químico. Com todas essas evidências,
Cambé apresenta um setor industrial consolidado e sua dinâmica é favorável à
investimentos, conta com empresas de capital local, nacional e internacional, o que
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proporciona relações nas diferentes escalas geográficas, o que possibilita maior
interação e dinamização deste setor na cidade.
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