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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 486 A DINÂMICA INDUSTRIAL DE CAMBÉ-PR CÁSSIA MARQUES DA ROCHA 1 CLAUDIO ROBERTO BRAGUETO 2 RESUMO Ainda que a esfera de gestão, circulação e de consumo exerça expressiva atuação, a atividade produtiva ainda mantém sua relevância para a produção do espaço geográfico, sendo intrínseca à produção e organização deste. Nesta perspectiva, o artigo explana sobre a dinâmica da indústria na cidade de Cambé-PR, no período 1990 a 2010. Para tanto, investigou-se a dinâmica industrial dessa cidade a partir da caracterização da indústria, de acordo com os principais ramos e suas transformações ao longo desse período e verificou-se a importância das políticas públicas estaduais e municipais para a implantação de novas indústrias e ampliação das já existentes. Palavras-chave: Indústria em Cambé; industrialização; produção do espaço. ABSTRACT Although the sphere of management, circulation and consumption exert significant operations, productive activity still maintains relevance for the production of geographical space, being intrinsic to the production and organization. In this perspective, the article explains about the industry dynamics in the city of Cambé -PR, in the period 1990-2010. To this end, we investigated the dynamics of this industrial city, from the characterization according to the main branches industry and their transformations industry during this period and there was the importance of state and municipal public policies for the implementation of new industries and expansion the already existing. Key-words: Industry in Cambé; industrialization; production space. 1 Introdução O presente trabalho visa apresentar a dinâmica da indústria na cidade de Cambé-PR, no período 1990 a 2010. Para tanto, o objetivo foi investigar a dinâmica industrial da cidade de Cambé, realizando a caracterização da indústria de acordo com os principais ramos e suas transformações ao longo desse período, além da verificação da importância das políticas públicas estaduais e municipais para a implantação de novas indústrias e ampliação das já existentes. A cidade de Cambé localiza-se na mesorregião Norte Central Paranaense, contava com aproximadamente 102.222 habitantes no ano de 2010 e tem como principal atividade econômica o setor secundário. Seu processo de industrialização teve início na década de 1960, com predominância da indústria de bens de consumo, porém nos anos de 1980 o setor industrial passou por uma expressiva 1 Acadêmica do programa de pós-graduação em Geografia na Universidade Estadual de Londrina. E- mail: [email protected] 2 Orientador/Docente do Programa de Pós Graduação em Geografia pela Universidade Estadual de Londrina. E-mail de contato: [email protected]

A DINÂMICA INDUSTRIAL DE CAMBÉ-PR - enanpege.ggf.br · a diversidade da g eografia brasileira: escalas e dimensÕes da anÁlise e da aÇÃo de 9 a 12 de outubro 486 a dinÂmica

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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO

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A DINÂMICA INDUSTRIAL DE CAMBÉ-PR

CÁSSIA MARQUES DA ROCHA1 CLAUDIO ROBERTO BRAGUETO2

RESUMO Ainda que a esfera de gestão, circulação e de consumo exerça expressiva atuação, a atividade produtiva ainda mantém sua relevância para a produção do espaço geográfico, sendo intrínseca à produção e organização deste. Nesta perspectiva, o artigo explana sobre a dinâmica da indústria na cidade de Cambé-PR, no período 1990 a 2010. Para tanto, investigou-se a dinâmica industrial dessa cidade a partir da caracterização da indústria, de acordo com os principais ramos e suas transformações ao longo desse período e verificou-se a importância das políticas públicas estaduais e municipais para a implantação de novas indústrias e ampliação das já existentes.

Palavras-chave: Indústria em Cambé; industrialização; produção do espaço. ABSTRACT Although the sphere of management, circulation and consumption exert significant operations, productive activity still maintains relevance for the production of geographical space, being intrinsic to the production and organization. In this perspective, the article explains about the industry dynamics in the city of Cambé -PR, in the period 1990-2010. To this end, we investigated the dynamics of this industrial city, from the characterization according to the main branches industry and their transformations industry during this period and there was the importance of state and municipal public

policies for the implementation of new industries and expansion the already existing. Key-words: Industry in Cambé; industrialization; production space. 1 – Introdução

O presente trabalho visa apresentar a dinâmica da indústria na cidade de

Cambé-PR, no período 1990 a 2010. Para tanto, o objetivo foi investigar a dinâmica

industrial da cidade de Cambé, realizando a caracterização da indústria de acordo

com os principais ramos e suas transformações ao longo desse período, além da

verificação da importância das políticas públicas estaduais e municipais para a

implantação de novas indústrias e ampliação das já existentes.

A cidade de Cambé localiza-se na mesorregião Norte Central Paranaense,

contava com aproximadamente 102.222 habitantes no ano de 2010 e tem como

principal atividade econômica o setor secundário. Seu processo de industrialização

teve início na década de 1960, com predominância da indústria de bens de

consumo, porém nos anos de 1980 o setor industrial passou por uma expressiva

1 Acadêmica do programa de pós-graduação em Geografia na Universidade Estadual de Londrina. E-

mail: [email protected] 2 Orientador/Docente do Programa de Pós Graduação em Geografia pela Universidade Estadual de

Londrina. E-mail de contato: [email protected]

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crise econômica, a qual resultou na desaceleração do processo de industrialização

da cidade, assim como, no fechamento de alguns estabelecimentos.

No entanto, a partir dos primeiros anos da década de 1990, a atividade

produtiva se reforça e em meio às mudanças econômicas vivenciadas no contexto

nacional. Deste modo, entre os anos de 1990 a 2010, algumas transformações

ocorreram no contexto de pessoal ocupado, número de estabelecimentos, políticas

públicas de atração de novas indústrias e incentivo a ampliação das já existentes,

que refletiram na produção e organização do espaço.

Durante a realização da pesquisa, realizou-se o levantamento teórico

conceitual acerca da relevância da atividade industrial na produção e organização do

espaço geográfico; levantamento histórico sobre industrialização de Cambé, coleta

de dados secundários sobre pessoal ocupado e número de estabelecimentos por

ramos industriais no MTE/DARDO e entrevistas em órgãos públicos municipais

como a Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Cambé e com um ex-prefeito

da cidade.

A pesquisa demonstra que fatores como a ótima localização da cidade,

disponibilidade de mão de obra, infraestrutura, proximidade com o município de

Londrina e as áreas industriais específicas, que viabilizam as “economias de

aglomeração”, reforçam a atração de indústrias e ajudam a manter as unidades há

existentes. Outrossim, os incentivos fiscais, com destaque para as leis municipais,

possibilitaram de forma direta a ampliação dos Parques Industriais. A atração de

novas indústrias pós 1990 pode ser exemplificada pela vinda da Pado S.A. e das

multinacionais, Amcor e Sandoz, o que influenciou de forma decisiva no aumento

dos vínculos empregatícios nos 20 anos analisados, colaborando para o destaque

dos setores de metalúrgica e química nessa cidade.

2- A Indústria e a Produção do Espaço Geográfico

Tendo como objeto o estudo da dinâmica industrial, faz-se necessário pensar

o cerne desta atividade, sua importância para as mudanças na vida social e na

produção e organização do espaço. Deste modo,

Ainda que a indústria seja a forma através da qual a sociedade aproprie-se da natureza e transforma-a, a industrialização é um processo mais amplo,

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que marca a chamada Idade Contemporânea, e que se caracteriza pelo predomínio da atividade industrial sobre as outras atividades econômicas. Dado o caráter urbano da produção industrial (produção essa totalmente diferenciada das atividades produtivas que se desenvolvem de forma extensiva no campo, como a agricultura e a pecuária) as cidades se tornaram sua base territorial, já que nelas se concentram capital e força de trabalho. (SPOSITO, 1988, p.43).

A transição da fase do capitalismo comercial para o industrial consolidou a

cidade como cenário profícuo para o desenvolvimento desta atividade. A cidade

passou a disponibilizar infraestrutura, mão de obra, mercado consumidor (fortalecido

com o assalariamento). Nesse sentido, a reprodução do capital proporcionou um

investimento em inovações que colaboraram ainda mais para o seu

desenvolvimento.

Passados quase três séculos do surgimento da atividade industrial, essa

mantém sua relevância, em especial nos estudos que fazem alusão à produção e

organização do espaço geográfico.

O espaço da indústria continuaria tendo uma contribuição importante para a confirmação do espaço, e a sua análise ainda é necessária, pois na indústria contemporânea se produz grande parte da riqueza (mais-valia) social. Assim, é necessário sempre levar em conta as mudanças que ocorrem na indústria e que afetam a localização desta no território [...] (BOTELHO, 2008, p. 20).

Portanto, aos antigos fatores de localização industrial, atualmente somam-se

novas condições. Estas condições proporcionam uma atmosfera de interesses frente

à escolha e ao uso do território. No que se refere aos antigos e novos mecanismos

de localização industrial, Sposito destaca que

[...] as teorias locacionais ao longo das décadas passam a ter como conceito chave, com destaque as de cunho weberianas e neoweberianas, os transportes, como o grande elã da localização das unidades produtivas e a maximização dos lucros da empresa, e claro, atualmente existem outros mecanismos que interferem na localização da indústria, tais como os incentivos fiscais, taxas tributárias (SPOSITO, 2009 apud SILVA, 2014 p. 26).

Esta realidade é inerente ao Brasil e também no município em foco, o que

esclarece a importância desse conjunto de fatores para a localização das unidades

produtivas em um dado território. Com relação os incentivos fiscais, as esferas de

governo buscam promover uma “guerra fiscal” na qual os municípios disputam entre

si as melhores vantagens para a atração e instalação de novas indústrias.

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Visto esses fatores, a concentração de unidades produtivas em uma dada

área torna-se importante para a atração e manutenção das unidades, com isso o

arranjo espacial é dinamizado e distintas classificações de aglomerados industriais

passam a existir. Destaca-se no presente trabalho o conceito de Distritos Industrias,

os quais são estruturas organizacionais de aglomerações industriais que passaram a

ter sua maior ocorrência no século XX, a partir da política de desconcentração

industrial das cidades.

A formação e concentração ocorrem preferencialmente em uma zona periférica, dessa maneira os DI podem se beneficiar de terrenos mais amplos e baratos, resultantes da atuação do Estado, beneficiando-se de várias vantagens como de preparação do terreno, acessibilidade à água, energia, rodovias, incentivos fiscais, entre outros (CORRÊA, 2003 apud BRAVIN; GÓES, 2011, p.4).

Estas descrições de DI expressam o que ocorre em Cambé, que possui um

Distrito Industrial e dois Parques Industriais implantados pelo poder municipal e que

se beneficiam de todas as vantagens descritas acima. A localização da unidade

produtiva irá influenciar o preço do solo urbano; distribuição de saneamento;

conjuntos habitacionais; vias de acesso; equipamentos coletivos; questões

ambientais, como poluição atmosférica e poluição sonora; entre outros.

3- A Dinâmica Industrial Cambeense

A cidade de Cambé localiza-se na messoregião Norte Central Paranaense

(Mapa 1). Segundo o censo de 2010, possui 102.222 habitantes, com índice de 96%

de urbanização (IPARDES, 2013), tem como principal atividade econômica a

indústria.

A industrialização de Cambé teve início nos anos de 1960, de modo “tímido”,

caracterizada como uma indústria de bens não duráveis, com proeminência para o

ramo alimentício, o beneficiamento de produtos agrícolas, em especial do café, além

do conserto de máquinas e equipamentos e a fabricação de material de solda. As

indústrias do seguimento metalúrgico enviavam os jovens cambeenses para Joinville

(SC) e São Paulo (SP), para que aprendessem mais sobre o manuseio das

máquinas e depois retornavam à Cambé. Essas antigas indústrias deixaram um

legado, a força do setor metalúrgico.

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Mapa 1- Localização do município de Cambé- Pr. Fonte: Base cartográfica: IBGE. Org. Cássia M. da

Rocha (2013). Elaboração: Heitor M. da Silveira (2013)

O início do processo de industrialização dessa cidade acompanhou a

intensificação do mesmo expresso no Brasil, pois como afirma Moreira (2004) os

primeiros passos para a industrialização moderna no país, remontam aos anos de

1870-1880, porém apenas após a Segunda Guerra Mundial, a industrialização no

Brasil desenvolveu-se intensamente, em virtude da formação do mercado nacional

e, portanto, ao processo de unificação econômica do espaço brasileiro, à

consolidação do capitalismo e a dinamização da divisão territorial do trabalho.

De acordo com Gonzales Neto,

A partir de 1967, a administração de Jacídio Correia voltou-se para a implantação de um parque industrial no município. Foi adquirido um terreno às margens da rodovia Cambé-Londrina para a instalação de indústrias na base de doação de terreno e incentivos fiscais. A Câmara Municipal deu todo apoio a essa iniciativa do Executivo, destacando-se o empenho do vereador Dr. Roberto Conceição. (GONZALES NETO, 1987, p.127).

Pode-se evidenciar a preocupação que já havia em 1967 pela administração

municipal com o processo de industrialização. O feito realizado nesta época

favoreceu o desenvolvimento das indústrias no local, visto que esse foi o primeiro

arranjo espacial de Cambé destinado às indústrias e atualmente este é um dos

Parques Industriais da cidade.

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No período de 1970 a 1980 a população urbana cambeense cresceu

aproximadamente 233%, processo decorrente da modernização do campo, do

êxodo rural e da inserção da industrialização, essa ultima vinculada com a

proximidade com o município de Londrina, pois “as mais importantes indústrias ali

instaladas examinaram primeiramente Londrina como alternativa locacional,

preferindo Cambé pelos maiores incentivos oferecidos.” (IPARDES, apud

SANTANA, 1985, p.2).

Diante do contexto estadual, Bragueto (1999) explana que o governo estadual

lançou em 1962, a Companhia de Desenvolvimento do Paraná (CODEPAR),

transformada em 1968 em Banco de Desenvolvimento (BADEP), que tinha como

principais objetivos o financiamento da produção industrial e a implantação da

infraestrutura, em especial, rodovias, produção e transmissão de energia. Se

durante os anos de 1960 tais medidas tiveram pouco efeito na produção industrial,

pode-se afirmar que essas preparam as bases para as profundas transformações

ocorridas nas décadas seguintes.

Em 1983, Cambé contou com o Projeto Carijó, que surgiu com o propósito de

renovação do parque industrial, sendo dividido em seguimentos; formou um tipo de

incubadora de empresas para o aperfeiçoamento industrial, contando com a

presença de micros e pequenas unidades produtivas de capital local e regional.

Esse se localizou nas margens da BR 369 - Rodovia Mello Peixoto.

Para Santana (1985) entre os anos de 1975 a 1984 o parque industrial de

Cambé apresentou grande expansão, porém nos anos finais deste período houve

uma crise econômica, marcada pela instabilidade da inflação, o que provocou um

retrocesso nas indústrias, sendo que muitas diminuíram ou paralisaram suas

atividades, agravando o quadro de desemprego. Essa estagnação de manteve até

os primeiros anos da década de 90 e pode ser explicada pelos planos econômicos

vigentes da época (Plano Collor I, II) que implicou na retração da economia interna.

(BRAGUETO, 2007).

Considerando o processo de desconcentração industrial, Bragueto (2007)

afirma que com a reestruturação produtiva foi possível uma ampliação na mobilidade

geográfica do capital, como uma das estratégias de reprodução do mesmo. Coforme

o mesmo autor, no decorrer dos anos de 1990, o Aglomerado Urbano-Industrial de

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Londrina (Londrina, Cambé, Ibiporã, Rolândia, Arapongas e Apucarana), tornou-se

atrativo para a fixação de plantas industriais transferidas. Especificamente com

relação à Cambé, podemos citar a presença da Amcor Flexibles Brasil, com sede na

Austrália; a Sandoz de origem suíça, e a Pado S/A, que não apenas se beneficiou

da desconcentração industrial, mas também do processo de descentralização, isto é,

em 1997 instalou sua unidade fabril juntamente com sua sede administrativa em

Cambé.

Foi a partir dos anos 90 que houve a preocupação em planejar a distribuição

das indústrias da cidade, a fim de expandir e fortalecer o setor e evitar as disputas

pelo solo urbano entre residências e indústrias. Como resultado há atualmente dois

Parques Industriais (Parque Industrial José Garcia e Parque Maracanã) e um Distrito

Industrial instalados nas principais vias de acesso à cidade, os dois primeiros as

margens da PR 445, caminho para o estado de São Paulo e saída para Curitiba; o

Parque Maracanã e o DI estão na BR 369, sentido Londrina e saída para região

Oeste do Paraná. Sendo assim, além dos incentivos fiscais, da infraestrutura,

Cambé se destaca como atrativo por sua localização, o que significa benefício em

escoamento da produção.

Além disso, a cidade conta com a ligação ao Porto de Paranaguá – PR e com

o de Santos–SP realizada através da ALL (América Latina Logística), concessionária

da Rede Ferroviária Federal S/A. Há também o Terminal Intermodal de Cambé –

Brado Logística, que armazena e concentra parte das cargas de exportação e

importação em containers, proporcionando às empresas exportadoras e

importadoras economia em relação ao frete.

Para a compreensão da dinâmica industrial cambeense foi necessário

classificar os principais ramos industriais e apontar as transformações relevantes

quanto ao número de estabelecimentos e vínculos empregatícios. Para tanto

levantou-se dados junto Ministério do Trabalho e Empregos e Relação Anual de

Informações Sociais (MTE/DARDO), que ocorreram no setor secundário em um

intervalo de 20 anos.

Com relação às transformações ocorridas na indústria de Cambé, observa-se

que a cidade contava com 136 unidades produtivas em 1990; 183 em 1995; 240 em

2000; 327 em 2005 e 265 em 2010 (tabela1). Nota-se um crescimento de 129

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unidades entre os anos de 1990 a 2010, porém o ano de 2005 contou com o ápice

de 327.

Tabela 1 – Cambé – Número de estabelecimentos e pessoal ocupado conforme os principais ramos industriais - 2010.Fonte dos dados: BRASIL. MTE/RAIS (2012). Org. Cássia M. da Rocha (2014).

O número de vínculos empregatícios nesse intervalo temporal analisado

apresentou um crescimento considerável, pois de 2190 postos de trabalhos gerados

pela indústria em 1990, houve um aumento para 8048 no ano de 2010, com

destaque para a indústria metalúrgica que empregou 3107 (38,6% do total)

trabalhadores em 2010. Observou-se que mesmo o subsetor têxtil apresentando

maior quantidade de estabelecimentos, esse ficou em terceira posição em 2010 em

vínculos empregatícios (11, 1%) atrás da indústria química (15%). O fato de a

indústria metalúrgica empregar o maior número de trabalhadores se relaciona com a

realidade deste subsetor necessitar de quantidade expressiva de mão de obra para

a linha de produção e possuir indústrias de maior porte instaladas na cidade.

A indústria têxtil e do vestuário apresenta o maior número de

estabelecimentos, que corresponde a 25,6% do total, sendo que esse seguimento,

desde os anos de 1990, vem mostrando crescimento gradual, nesse ano contava 30

unidades fabris e em 2010 havia mais que o dobro. Desde 1990, o número de

estabelecimentos da indústria metalúrgica teve um acréscimo, atingindo seu ápice

em 2005 (70 unidades), no entanto, cinco anos mais tarde reduziu para 45 unidades

produtivas.

A indústria química em Cambé vem ganhado representatividade, em especial

entre os anos de 2000 a 2005, em que nove indústrias foram instaladas.

Considerando o número de estabelecimentos e de vínculos, observa-se como este

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ramo gera uma quantidade considerável de empregos. Em 2000 empregava 12,4%,

no ano de 2005 este número aumentou para 18,5%, cinco anos mais tarde caiu para

15% do total. O crescimento deste subsetor nos anos próximos a 2005 pode ser

explicado pela instalação da indústria farmacêutica Sandoz, em 2004, no Parque

Industrial José Garcia Gimenes.

Esses são os três segmentos industriais que podem ser considerados como

principais ramos industriais de Cambé no ano de 2010, visto que, tanto em número

de estabelecimentos como em postos de trabalhos, esses três ramos ultrapassam

50% dos dados em tela.

Entre os benefícios apresentados pelo governo estadual para impulsionar o

desenvolvimento industrial do estado do Paraná, tem-se a oferta de benefícios

através do Programa Paraná Mais Empregos, que prorrogou o prazo de

recolhimento do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços),

durante os anos de 1996 e 2001, o que proporcionou a instalação de novas

indústrias. (LOURENÇO, 2003). No entanto Bragueto e Cunha (2002) argumentam

sobre o caráter excludente das políticas do governo estadual, pois beneficiou o

grande capital e poucas áreas do território paranaense, com isso as pequenas

empresas não se beneficiaram de incentivos fiscais, como por exemplo, a

prorrogação do prazo de recolhimento do ICMS.

Consequência direta desta política, conforme Bragueto (2007) entre os anos

de 1990 e início dos anos 2000, o Paraná apresentou um desenvolvimento regional

bastante polarizado, com concentração de indústrias de maior tecnologia na Região

Metropolitana de Curitiba, enquanto no interior do estado, pouco beneficiado por tais

políticas, houve crescimento expressivo de indústria de menor intensidade

tecnológica e mais intensivas em mão de obra. Este é o caso verificado em Cambé,

onde há o predomínio da indústria de baixa tecnologia.

Assim há nessa cidade a maior relevância dos incentivos fiscais municipais,

como por exemplo, a LEI Nº. 2.326, de 22 de dezembro de 2009, que dispõe sobre a

concessão de incentivos às atividades econômicas no município de Cambé,

viabilizando os incentivos fiscais, econômicos e estruturais, para novas unidades

produtivas e para as que já estão instaladas no município, mas desejam ampliar sua

capacidade de produção. (CAMBÉ, 2009). Os incentivos contemplam isenção de

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IPTU, instalação de água, energia elétrica, telefone; serviços de terraplenagem,

entre outros.

4- Considerações Finais

O presente artigo se propôs investigar a dinâmica industrial de Cambé, de

1990 a 2010. A reflexão sobre a importância das unidades produtivas para a

produção do espaço geográfico e a contextualização do setor industrial no cenário

nacional e estadual foram imprescindíveis para a compreensão do processo de

industrialização de Cambé diante da divisão territorial do trabalho, em especial pós

1990, quando essa passou a receber industriais de capital externo e também de

outros estados nacionais.

É evidente como a atividade produtiva de Cambé se atrela à urbanização; ao

arranjo espacial; os atrativos fornecidos por políticas públicas, em especial de leis

municipais; à relevância da localização para da dinâmica de escoamento da

produção, por estar no eixo que liga o norte do Paraná à São Paulo, à Curitiba e à

região Oeste do Paraná; à disponibilidade de mão de obra; infraestrutura;

proximidade com Londrina, a existências das áreas industriais específicas, ou seja,

todo um cenário que viabiliza as “economias de aglomeração” e reforçam a atração

dos investimentos industriais.

Pode-se observar que no intervalo de aproximadamente 30 anos, Cambé

ampliou consideravelmente sua área industrial. Se na década de 80 contava apenas

com um Parque Industrial, atualmente conta com mais duas áreas especificas para a

realização de atividades do setor secundário, que de acordo com entrevista dada

pela secretária da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, estariam em vias de

expansão por meio da atração de novas empresas de capital internacional.

Evidencia-se uma evolução na indústria cambeense, pois no ano de 1990 o

município contava com 136 unidades produtivas e chegou a 265 em 2010. E o

número de vínculos também expressou um aumentou, de 2190 em 1990 para 8048

em 2010, ou seja, mais de 300% de crescimento em 20 anos, sendo os subsetores

em destaque, o metalúrgico, têxtil/vestuário e químico. Com todas essas evidências,

Cambé apresenta um setor industrial consolidado e sua dinâmica é favorável à

investimentos, conta com empresas de capital local, nacional e internacional, o que

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proporciona relações nas diferentes escalas geográficas, o que possibilita maior

interação e dinamização deste setor na cidade.

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