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Hanseníase

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Hanseníase

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Fios que

tecem infinitas

Histórias

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Créditos:

Heleida Nobrega MetelloSão Paulo/2008

Divisão Técnica

de Hanseníase/CVE/CCD/SES-SP

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Dia 20 de janeiro de 2006

No ano de 2006

fez 800 anos que

São Francisco abraçou o leproso.

Este abraço mudou sua vida.

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Desde então,

a partir de 2006,

os franciscanos iniciaram

uma campanha estadual (SP)

que está se estendendo

ao resto do país para ajudar

na Eliminação da Hanseníase.

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Mesmo que há 129 anos o agente causador tenha sido descoberto, até hoje a hanseníase é vista com um ar de mistério, uma vez que para muitos não é clara a explicação e o entendimento de como se dá a sua disseminação, o seu contágio.

Eis porque devemos levar em conta a complexidade que o tema traz para o paciente e/ou família em que muitas vezes sequer conseguem pronunciar a palavra H A N S E N Í A S E corretamente.

Fonte: tese de doutorado de Zoika Bakirtzief (1994). Fonte:http://www.paho.org/images/AD/DPC/CD/familia1.jpg

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Ora, não estamos aqui

justamente porque

escolhemos o homem

como princípio, meio e fim

no nosso campo

de vida profissional?

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Então voltemos ao passado, à

origem da palavra HOMEM, até para

confirmar o dito de Guimarães Rosa:

“Toda língua são rastros de velho

mistério", ou melhor: a essência

das coisas e a ligação que tudo tem

com um passado remoto... que as

palavras, inclusive, são rastros de

velho mistério.

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Perseguir as pistas que o passado deixou nas

palavras é uma das melhores formas de

reencontrar nossas heranças e fazer um

exercício de reflexão sobre quem somos, homo

sapiens e homo loquens*,seres que concretizam

na linguagem o seu saber.

Saber lembra sabor, dois conceitos

etimologicamente vinculados. O ser humano

que saboreia a realidade é mais sábio, é mais

humano. E ser humano é ser aquele que sabe

ter nascido do húmus, da terra.Fonte: PALAVRA PUXA PALAVRA:

À LUZ DA ETIMOLOGIA - II / Gabriel Perissé

•O homo sapiens tornar-se-ia no homo loquens, inventando uma linguagem para exteriorizar as suas necessidades,as suas ideias e os seus desejos,

diferenciando-se dos animais pela utilização de um sistema de comunicação progressivo e aberto que pode transmitir-se e enriquecer-se de geração em geração.

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Nesse palavra-puxa-palavra, o ser humano

descobre que é mais humano quando

pratica a humildade, virtude que nada tem

de rebaixamento, mas que significa a

qualidade de quem emerge do húmus,

do barro, e mantém os pés no chão.

Geologicamente o húmus

é a parte mais fértil da terra.

Assim, a humildade é para nossa vida

uma graça de fertilidade

que faz brotar a vida nova. Fonte: http://ointercessor.blogspot.com/

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Então...

se uma palavra puxa a outra

e, se escolhemos o homem

como foco de atenção na nossa vida

profissional, obviamente temos por

obrigação incorporar o exercício da

humildade em nosso cotidiano,

para que possamos também ver o ‘outro’

no Programa de Hanseníase,

desprendidos de nós mesmos.

Só assim conseguiremos vê-lo

no contexto global.

Só assim, poderemos perceber

o quanto essa doença

se esconde por detrás

de uma mancha insensível.

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É algo relativo ao passado e futuro, como bem dizia Alberto Caieiro

E hoje, estamos aquijustamente para falar do passado,

uma vez que cabe a nós, um futuro promissor,

principalmente no que se refere ao

fazemos o que nos cabe fazer como profissional de saúde.

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Uma oportunidade

para que possamos

pensar, trocar e somar

a diversidade e

complexidade

do olhar, da escuta

e do tato

que o trabalho junto

ao Programa de

Hanseníase

exige de cada

um de nós.

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Houve um tempo,

um tempo longo demais,

e com certeza,

não é esse que vocês

vivem agora,

que eu , a HANSENÍASE,

era denominada de LEPRA.

Vale dizer que esse tempo

que durou séculos e séculos...

sequer poderia pensar

em olhar nos olhos

de cada um, como faço hoje,

mesmo que, por vezes,

timidamente.

É desse tempo que vou falar para vocês:

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É  muito  difícil  afirmar  a  época  do aparecimento  de uma doença com base em textos antigos, por dados fragmentados e suposições de tradutores dos mesmos, o assunto se torna confuso e gera uma série de falsas interpretações.

Esse  é o caso da Hanseníase, muito já se escreveu sobre sua origem e existência, por outro lado, muitos desses escritos são citações de fontes descrevendo a moléstia sem os seus aspectos peculiares.

Apesar disso, há  referências bastante  claras  com relação à Hanseníase em livros muito antigos.

Ao que parece, essa doença já era conhecida na Índia em 1500 a.C., e no Regveda Samhita ( um dos primeiros livros sagrados da Índia ), a Hanseníase é denominada de KUSHTA.

Contudo, na China, referências muito antigas sobre essa doença, como aquela que é feita em um dos tratados médicos chineses mais antigos, o Nei Ching Su Wen ,dão conta de descrições compatíveis com pacientes portadores de Hanseníase, por volta de 2600 A.C .

http://www.geocities.com/hanseniase/Historico/historico.html

 

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Num estudo sobre a etimologia da palavra lepra, Abraão Rotberg,

médico responsável pela mudança do nome lepra para hanseníase

no Brasil, afirma que os significados de cunho degradante

imputados ao termo têm sua origem no século III a.C.,

quando 70 judeus, traduzindo a Torá, os Neviim e os Ketuvin

para o grego, que mais tarde viriam a se transformar na Bíblia,

denominaram o Tsara’ath hebraico, que abrangeu um conjunto

de enfermidades de ‘caráter visual semelhante’.

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Com base nessa ‘aparência’deu-se início ao processo desegregação dos ‘enfermos de

lepra‘.

Isso ocorreu durantea Idade Média

e inspirada no terceiro livro de Moisés,

datado em cerca de 1445 a.C. O

LEVÍTICO

(que lida com assuntos relacionados à pureza, santidade,

etc... na vida cotidiana)

Fonte: Curi, Luciano Marcos, “Defender os sãos e consolar os lázaros”: Lepra e isolamento no Brasil 1935 a 1976

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            A Bíblia acabou se

transformando numa fonte de

confusão quanto à existência da

Hanseníase entre os judeus na época

do êxodo, uma vez que esse termo

“tsaraath”, no hebraico, significava

uma condição anormal da pele dos

indivíduos,das roupas, ou das casas,

que necessitava de purificação.

Segundo o Livro Sagrado,

o “tsaraath” na pele dos judeus

seriam “manchas brancas deprimidas

em que os pelos também

se tornavam brancos”.

Fonte: Cássio Ghidella - hansenólogo

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Na tradução grega,

a palavra “tsaraath”

foi traduzida como lepra e

“lepros”em grego, significa

“algo que descama”.

A palavra lepra

também foi usada pelos gregos

para designar doenças escamosas

do tipo da Psoríase.

A Hanseníase mesmo,

eles chamavam de Elefantíase.

Fonte: Cássio Ghidella - hansenólogo

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Os ‘leprosos’ sempre figuraram

na lista dos que carregavam o

Talvez sejam os mais antigos

alvos desta incessante ‘reclassificação social’.

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O termo ESTIGMA vem desde

a Antiguidade:

na Grécia Antiga, era a marca

que identificava os traidores.

“Os gregos criaram o termo estigma para se referirem a sinais corporais com os quais se procurava evidenciar alguma coisa de extraordinário ou mau sobre o status moral de quem os apresentava.” (Goffman, 1978, p. 11).

Em Roma, era utilizada para diferenciar as pessoas de baixa qualidade social.

Fonte: Prof. Carlos Roberto Bacilo, Ciências Penais/UFPR /discriminaçãohttp://www.unb.br/acs/unbagencia/ag0503-17.htm

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O estigma, uma vez fixado em uma cultura,

permanece incorporado aos sentimentos e modos

de pensar de um grupo, mesmo quando a condição

que o gerou deixou de existir. [...]

E, mesmo quando os 'outros' não percebem os sinais da lepra,

o ‘leproso’, sabedor de sua condição de portador

de um atributo estigmatizante, assume essa condição.

(Ornellas, 1997, p. 62)

Fonte: http://pepsic.bvs-psi.org.br/scielo.php (pesquisa, setembro de 2007)

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Em relação ao medo da rejeição –

manifestado pelo desejo de se isolar e sumir –

e da solidão, vários entrevistados de Oliveira (1990)

se revelaram indignos de poder viver

com outras pessoas, revelando o seu próprio

preconceito quanto à doença.

(Oliveira, 1990)

Fonte: http://pepsic.bvs-psi.org.br/scielo.php (pesquisa, setembro de 2007)

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Resumindo

Goffman refere que ‘por definição’,

acreditamos que alguém com um estigma são seja completamente humano.

Com base nisso, não é raro

fazermos discriminações, através das quais

efetivamente, e sem pensar, acabamos reduzindo

suas chances de vida (...)”

(Goffman, Erving. Op. Cit.;p.11.)

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Segundo a historiadora Yara Nogueira, um dos principais responsáveis pela criação do estigma que cerca a hanseníase é a Bíblia,

"A postura estabelecida acerca da ‘lepra’

teve tal influência que acabou por extrapolar seu tempo, chegando até a época atual.

Yara Nogueira Monteiro, autora da tese de doutorado "Da Maldição Divina à Exclusão Social: um Estudo da Hanseníase em São Paulo", defendida na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 1995, 492p.

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“Eterno é tudo aquilo que vive

uma fração de segundos,

mas com tamanha intensidade,

que se petrifica e nenhuma força

o resgata"

(Carlos Drummond)

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Corpos calcinados, recobertos por cinzas durante séculos... (foto de autor no Flickr)

http://interata.squarespace.com/jornal-de-viagem/?currentPage=2

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Segundo equipe, liderada por Marc Monot e Stewart Cole, do Instituto Pasteur (França), é provável que o berço desta moléstia

tenha sido o leste da África, ou talvez o Oriente Médio.

Os culpados por espalhá-lo pelo mundo seriam os soldados de Alexandre, o Grande (século 4º a.C.), que invadiram a região

e depois voltaram para o Oriente Médio e a Europa.

Mais tarde, seu avanço teria tomado simultaneamente as rotas ocidental e oriental, chegando às Américas e à África

no organismo dos colonizadores europeus.

Fonte: pesquisadores do Instituto Pasteur (França) entrevista de Reinaldo José Lopes Folha de São Paulo, maio de 2005 - (www.sciencemag.org),

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O momento em que ocorreu a primeira infecção ainda não pode ser estimado com exatidão:

algo entre 5.000 e 50 mil anos atrás,dizem os pesquisadores.

fonte: pesquisadores franceses, Instituto Pasteur, entrevista à Folha de São Paulo, maio de 2005

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A ‘LEPRA’, apontada como uma das doenças

mais antigas da humanidade, desde os tempos bíblicos, aterrorizou reis, mendigos,

plebeus, imperadores e populações inteiras

nos quatro cantos do mundo.

Independentemente da época e da região geográfica,

foi sempre associada ao pecado, à imundície

e ao castigo dos deuses, e os doentes, submetidos

às mais cruéis formas de isolamento, execração

e até de extermínio.

Yara Nogueira Monteiro, autora da tese de doutorado "Da Maldição Divina à Exclusão Social: um Estudo da Hanseníase em São Paulo", defendida na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo,

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“A ‘morte’

antes

da morte,

como os

antigos egípcios

a denominavam.”

fonte: John Farrow, no livro “Damião, o leproso” - (biografia romanceada, lançada em 1937)

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Balduíno IV (1161-1185),

o rei cristão de Jerusalém,

retratado no filme "Cruzadas",

ficou marcado pela doença

desde a infância e sua morte

chegou a desestabilizar o reino cruzado na Palestina.

(Reinaldo José Lopes, jornalista da Folha de São Paulo, maio de 2005)

Da Reportagem LOCAL São Paulo, sexta-feira, 13 de maio de 2005 - – Folha Ciência-

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Segundo Dr. Marcos Virmond (diretor do Instituto “Dr. Lauro de

Souza Lima” – Bauru) é uma fama injustificada:

"Graças aos defeitos do genoma, é muito difícil

acontecer a infecção."

É preciso viver em condições precárias e apertadas,

perto de muitas pessoas com alta carga da bactéria

no corpo.

São condições comuns nas metrópoles do mundo antigo

e no Terceiro Mundo.

Estigma do mal na história tem pouco fundamento: Da Reportagem Local – São Paulo, 13 de maio de 2005 – Folha Ciência – Reinaldo José Lopes, jornalista

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“ Num determinado momento, todos os doentes

contaminados’ por doenças que eles

não sabiam identificar e com aparência desprezível

eram reunidos na praça central das cidades medievais.”

Fonte: VITÓRIO MAZZUCO, frei franciscano, palestra proferida XVIII Encontro Estadual de Avaliação das Ações de Controle da Hanseníase/ SP Divisão Técnica de Hanseníase/CCD/CVE/SES-SP - setembro de 2006

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A Idade Média trouxe à luz

o termo ‘LEPRAE' que significa

o 'chagádo', o 'pútredo', o 'marcado

por uma doença‘.

‘LEPRAE,’ não era então,

só a hanseníase.

Ela estava incluídanas demais doenças

consideradas contagiosas,

‘impuras’ e impossíveis de serem classificadas.

Fonte: VITÓRIO MAZZUCO, frei franciscano, palestra proferida XVIII Encontro Estadual de Avaliação das Ações de Controle da Hanseníase/ SP - Divisão Técnica de Hanseníase/CCD/CVE/SES-SP - setembro de 2006

www.paginas.terra.com.br

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Em vários lugares da Europa,

o doente de ‘lepra’

tinha de usar

vestimentas especiais

e símbolos visíveis

de sua condição de excluído.

YARA Nogueira Monteiro, autora da tese de doutorado "Da Maldição Divina à Exclusão Social: um Estudo da Hanseníase em São Paulo", defendida na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo,

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RITO DE EXCLUSÃO

Um historiador suíço

que fez um estudo dos documentos medievais desta época,

cita a existência de um rito de Exclusão em seu livro “FRANCISCUS”

escrito em alemão, (não traduzido para o português):

Fonte: VITÓRIO MAZZUCO, frei franciscano, palestra proferida XVIII Encontro Estadual de Avaliação das Ações de Controle da Hanseníase/ SP - Divisão Técnica de Hanseníase/CCD/CVE/SES-SP - setembro de 2006

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O ritual denominado “Separatio Leprosarium, “

caracterizou-se por ser uma cerimônia semelhante

às celebradas em favor dos mortos no ocidente cristão.

O bispo ou abade vinha paramentado,

missal na mão, com as antífonas, as orações

da missa de exéquias.

”Não havia missa , apenas o cerimonial, para o qual o povo

era convidado a assistir.

Fontes : * * A lepra no Brasil: representações e práticas de poder/ ano de 2005 – - autores: Débora Michels Mattos e Sandro Kobol Fornazar

•VITÓRIO MAZZUCO, frei franciscano, palestra proferida XVIII Encontro Estadual de Avaliação das Ações de Controle da Hanseníase/ SP Divisão Técnica de Hanseníase/CCD/CVE/SES-SP - setembro de 2006

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Distante... o bispo lia as antífonas da missa de exéquias,

isto é, o rito dos mortos.

Em seguida, ele chamava um acólito

e trazia sobre um batizeiro, uma bandeja contendo um punhado de terra.

Terra! Não água benta

ou óleo da unção.

Fonte: VITÓRIO MAZZUCO, frei franciscano, palestra proferida XVIII Encontro Estadual de Avaliação das Ações de Controle da Hanseníase/ SP - Divisão Técnica de Hanseníase/CCD/CVE/SES-SP - setembro de 2006

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Fonte: A lepra no Brasil: representações e práticas de poder/ 2005 - Débora Michels Mattos e Sandro Kobol Fornazari

TERRA!

O enfermo era coberto com um véu negro, sendo a TERRA derramada sobre a sua cabeça,

como representação de sua morte.

Ao término da solenidade a autoridade eclesiástica dizia:

“Meu amigo, é sinal de que estás morto para o mundo

e por isso tem paciência e louva em tudo a Deus.”

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Após isso o Padre abençoava os sinos, as luvas e a caixa de esmolas que o leproso deveria carregar para que assim fossem reconhecidos pela sociedade.

Então, o padre lia a lista de proibições, onde o leproso estava proibido de tocar os alimentos,

de entrar nos moinhos, etc.

Depois desta macabra cerimônia, os leprosos eram banidos...

Fonte: A lepra no Brasil: representações e práticas de poder/ 2005 - Débora Michels Mattos e Sandro Kobol Fornazari

fonte: Béniac, Françoise. O medo da lepra. In: LE GOFF, Jacques (apresentação). As doenças tem História. Editora Terramar, Lisboa, 2ª edição, 1997 (pp.139/140

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Outras citações especificam cajado com um sininho,

o qual deveria ser tocado sempre que um ‘ser humano’

se aproximasse, para que pudesse fugir

de sua presença, livrar-se da contaminação.

fonte: Béniac, Françoise. O medo da lepra. In: LE GOFF, Jacques(apresentação ). As doenças tem História. EditoraTerramar, Lisboa, 2ª edição, 1997 (pp.139/140 -

Foto de Sebastião Salgado

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RITUAL DA EXCLUSÃO:Sombras a vagar sem identidade, sem endereço...

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A partir daí, as notas

que cantariama música

de sua vidanão seriam

mais alegres e sonoras.

Seriam melancólicas

como as que ecoamna mortificação.

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Todo o ritual era feito com a plena convicção

de que, eliminando as pestes, as doenças contagiosas,

estavam purificando e criando o sadio da existência

para aquele lugar.

Erradicar o doente do convívio social, expulsar para fora

das muralhas significava:

salvar a sociedade.

Fonte: VITÓRIO MAZZUCO, frei franciscano, palestra proferida XVIII Encontro Estadual de Avaliação das Ações de Controle da Hanseníase/ SP- Divisão Técnica de Hanseníase/CCD/CVE/SES-SP - setembro de 2006

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Há um tempo que começa, e há um tempo em que acaba.

Começa aqui a nossa passagem...

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Zoica Bakirtzief

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No Brasil,

foi introduzida por europeus e africanos

Junto com o bacilo aportou o

e a memória mítica da doença, reproduzindo inclusive,

“padrões de comportamento semelhantes aos

da Europa Medieval”

“Fonte: Monteiro, Yara Nogueira, Tese de doutorado, resumo, São Paulo; 1995

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Tal qual na época medieval, o contato aqui no Brasil

era considerado contagioso, proibido.

Isso pode ser confirmadonos incontáveis textos bíblicos, históricos e literários que falam

sobre a LEPRA

Todos apresentam doentes cobertos de feridas

e deformidades físicas, obrigando-os sempre

a ficar fora dos muros que circundam as cidades.

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LEPRA, MORFÉIA, MAL DE SÃO LÁZARO,

GAFEIRA, COTENO, MACUTENO,

CAMUNHENGUE e OUTROS...

são denominaçõesque aludem diretamente

a uma época onde dispensava-se qualquer tratamento

ao portador desse mal.

Esses termos referem-se não exatamente à doença,

mas à

a que foram alvos os ‘leprosos’ no passado.

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Incluindo ainda a associação desse mal

ao pecado e à impureza, essas referências

acabaram por se perpetuar através dos tempos

e deixaram...

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Nas primeiras décadas de 1900,

no Estado de São Paulo, à semelhança dos relatos bíblicos,

eles não podiam trabalhar e, sem subsistência,

saiam a pé ou a cavalo para mendigar.

Levavam uma vida nômade em acampamentos

na beira das estradas ou periferia da cidade.

Viviam da caridade.

A caridade era feita a distância.

Esmolas e alimentos: “ jogados de longe”

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A opção era por moedas

ao invés de cédulas, uma vez que era mais fácil

arremessá-las sem precisar se aproximar tanto.

Como medida de segurança, era necessário manter

uns três metros de distância.

Havia inclusive o temor quanto aos ventos.

Quando havia um grupo de ‘leprosos’ mendigando

era conveniente observar o ‘rumo dos ares’...

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Nessa época eram ‘assistidos’ por senhoras da sociedade.

Prática preconizada,

naquela época, para garantir o status social.

Ou, pelo espírito de abnegação inerente a alguns poucos

personagens que se destacaram

na trajetória social da história da doença.

Assistência

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O mais procurado era o de Pirapora do Bom Jesus, centro de romarias às margens do rio Tietê na Grande São Paulo.

Já na capital, tinham por hábito perambular pelas ruas Santo Antonio, Augusta, Consolação, assim como pelo Largo do Arouche

como da Penha, Belenzinho e Santana...

“alarmando suas populações e constituindo uma ameaça

à saúde pública”. *

fonte: palavras textuais de Flávio Maurano, um dos médicos defensores do modelo isolacionista.

Freqüentavam eventos religiosos

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Nestas décadas, o Brasil teria um total

de cinqüenta mil leprosos segundo um trabalho de Souza Araújo (1933) publicado na Revista

Médica-Cirurgicado Brasil.

De acordo com os estudos,

deveriam ser internados 76% dos doentes,

e para isso o país precisava de um total de 43 leprosários

Anotação manuscrita de Gustavo Capanema, deputado federal

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No Real Gabinete Português de Leitura, no Arquivo Nacional e na Biblioteca Nacional

foram pesquisados livros, índices, ofícios e fotografias sobre administração de leprosários

e artigos sobre o tratamento da doença.

Na Biblioteca Nacional foram encontradas duas referências interessantes na seção de Iconografia.

Uma delas era o Projeto da leprosaria-modelo

nos campos de Santo Ângelo: estado de São Paulo, e nele consta que o trabalho havia sido viabilizado pela união da Associação Protetora dos Morféticos

e da Santa Casa, com o apoio do governo de S.Paulo.

O documento apresenta plantas internas e fachadas das diversas instalações, habitações

dos internos e dos funcionários, em escala 1:100.

Vicente Saul Moreira dos Santos Pesquisador do ILA Global Project on the History of Leprosy da International Leprosy Association, vinculado a Unit for

the History of Medicine da Oxford University, Caixa Postal 3263, 20001-970 Rio de Janeiro — RJ Brasil,

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• Em 1916 , Emílio ribas, contrário ao isolamento insular utilizado até então, propõe a criação de asilos-colônia, próximos às cidades, em zonas salubres e de recursos fáceis, estabelecendo o plano que serviu de base ao controle da hanseníase no Estado de São Paulo; os campos de Santo Angelo foram escolhidos para a instalação do primeiro hospital modelo. A inauguração do Sanatório de Santo Angelo em 1928 e a efetivação da legislação vigente por Aguiar Pupo em 1929 e 1930 precederam a criação, em 1935, do então denominado “Departamento da Profilaxia da Lepra (DPL).

*Lombardi, Clovis – Situação da Endemia da Hanseníase no Município de São Paulo, Brasil (1976 – 1977) – Ver. Saude públ, S.Paulo – 13:281-98. 1979, página 281

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Dermatologistas e infectologistas estudam a melhor política de tratamento para impedir que a população sadia seja contaminada.

O Brasil opta pelo isolamento compulsório (1921)

Para garantir a construção desse modelo são criados dois departamentos:

1º- Departamento da Profilaxia da Lepra (DPL) - para cuidar exclusivamente da hanseníase (1935)* 2º- para as demais doenças.

*Lombardi, Clovis – Situação da Endemia da Hanseníase no Município de São Paulo, Brasil (1976 – 1977) – Ver. Saude públ, S.Paulo – 13:281-98. 1979, página 281

No período de 1920 a 1930 quase dobra o número de

doentes

Fonte: Monteiro, Yara Nogueira / tese de doutorado

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Asilos DispensáriosPreventórios

Estado de São Paulo

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• 1928 - Santo Ângelo (Santa Casa) - Jundiapeba - Mogi das Cruzes - 348 alqueires - (Hosp. “Dr.

Arnaldo Pezzuti Cavalcanti”) • 1931 - Padre Bento – Gopouva – Guarulhos – 23

alqueires – (Complexo Hospitalar “Padre Bento” )

• 1931 –Pirapitingui – Itu – 600 alqueires (Hospital “Dr.Francisco Ribeiro Arantes”)

• 1932 – Cocais – Casa Branca – 300 alqueires ( o 1º a ser desativado) –

( Hospital Psiquiátrico)

• 1933 – Aimorés – Bauru – 400 alqueires “ - ( Instituto “Lauro de Souza Lima)

Para a manutenção do modelo profilático, surgiram os Asilos ou Hospitais-Colônia

no Estado de São Paulo:

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• É fato que a manutenção dos abrigos e hospitais dos lázaros ficou por um longo período a cargo das ordens religiosas.

• Desde o Império, as autoridades declaravam que não tinham como arcar sozinhas com as despesas, acionando entidades particulares na manutenção e criação de abrigos.

• Este foi o caso, por exemplo, dos abrigos para crianças pobres e abandonadas (que tinham família mas estavam pelo menos em tese, sob a responsabilidade do Juizado de Órfãos).

• Essa prática perdurou por mais tempo, pois o

próprio ministro Capanema determinou que a construção, manutenção e administração dos preventórios que cuidavam e recebiam as crianças filhas de leprosos ficariam a cargo de entidades particulares, principalmente da Federação das Sociedades de Assistência aos Lázaros e Defesa contra a Lepra

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702003000400019&lng=pt&nrm=isohttp://www.leprosyhistory.org,

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Com a internação compulsória a assistência passa a ser de responsabilidadedas Caixas Beneficentes dos Asilos-Colônia,

com o intuito, inclusive, de tirá-la das mãos das beneméritas senhoras da sociedade, as quais discordavam da política isolacionista adotada pelo governo.

Fonte: Monteiro, Yara Nogueira / tese de doutorado

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A utilização dos óleos chalmúgricos

na antiga farmacopéia hindu e

chinesa era preconizada para

doenças de pele, especialmente

para a hanseníase.

Seu uso na medicina ayurveda, na

Índia, remonta há mais de 2.000

anos e é relacionado à lenda que

conta a cura da hanseníase do

príncipe Rama (de Benares) e da

princesa Piya pelos frutos da árvore

kalav.

Foi o primeiro tratamento no Brasil

e extremamente doloroso.

Chaulmoograúnica alternativa de ‘tratamento’

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tinha poder absoluto,

até para capturar fugitivos e novos doentes

com guardas sanitários, muitos dos quais,

munidos de armas.

Os então asilos-colônia tinham muros,

cerca de arames, portões trancados

e vigilância constante.

Page 82: Hanseníase

• O Estado adotava uma política de saúde policialesca,

com o isolamento compulsório reforçando o estigma.

• Os filhos sadios eram separados institucionalmente

dos pais, perdendo desta forma o contato com o mundo exterior

e a sua identidade como cidadãos.

Política Policialesca

Page 83: Hanseníase

O importante para os idealizadores da Campanha de Combate à Lepra

era que o mundo dos “sãos” estava a salvo, livre do contágio, livre das deformidades temidas,

da ameaça aos nobres traços do ser humano,

da incapacidade para o trabalho...

Assim eles se expressavam nos jornais da época em relação aos filhos sadios dos enfermos:

“O filho do lázaro, que hoje brinca despreocupado

ao lado do teu filho, talvez traga consigo o germe do mal terrível.

Trabalha, pois, em prol do “Preventório”, a fim de resguardar dos perigos da lepra

aqueles que te são caros .”

Diário de Tarde. Florianópolis, 08/12/1936, ano II, nº. 413, p. 4.

Mattos, D.M. e Fornazari, S.K. Cadernos de Ética e Filosofia Política 6, 1/2005, pp. 45-57. - A lepra no Brasil: representações e práticas de poder

Page 84: Hanseníase

Há bem pouco nasceste e já te vais...Nem eu nem tua mãe te deu um beijoComo é triste o destino que praguejo:

Ter um filho e vê-lo órfão tendo os pais.

Não nos verás... não te veremos maisE na dor não verá o teu gracejo

Quem te esperava no maior festejoEntre alegrias que se tornam ais (...)

Fonte: Revista de Combate à Lepra, Ano VII, março de 1942, p.42

moço poeta,Leprosário do Amazonas, Vila Belisário Pena, escreveu por ocasião em que seu filho foi levado para o Preventário de Manaus,

logo após o seu nascimento

Page 85: Hanseníase

“Talvez estivéssemos ou quem sabe... ainda estejamos a milhas luz do amor...“* fotógrafo, em Marrocos, Floresta de cedros de IFRAME - Azrou  

Page 86: Hanseníase

“Neste período,

todo e qualquer

pensamento divergente,

era absolutamente

silenciado.”

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O número de doentes era considerado

cada vez mais apavorante.

São Paulo passou a exercer a prática de internar

todos os doentes, mesmo os de forma

não contagiantes.

Distinguiu-se dos demais Estados

que apenas internavam os portadores da doença

de forma multibacilar (ou contagiante),

como por exemplo, o Estado do Rio de Janeiro

que tratavam os demais casos

em ambulatórios.

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• Recolhimento maciço dos doentes e/ou suspeitos.

• A ‘caça’ era levada a efeito com a utilização

de ambulâncias e guardas, instalando-se um verdadeiro terror dentre a população marcada por esse destino.

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A partir de 193 0,

o número de doentes foi considerado

cada vez mais apavorante.

São Paulo passou a exercer a prática de internar todos

os doentes, mesmo os de forma

não contagiantes.

Distinguiu-se dos demais Estados

que apenas internavam os portadores da doença

de forma multibacilar (ou contagiante),

como por exemplo, o Estado do Rio de Janeiro

que tratavam os demais casos

em ambulatórios.

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• Recolhimento maciço dos doentes e/ou suspeitos.

• A ‘caça’ era levada a efeito com a utilização

de ambulâncias e guardas, instalando-se um verdadeiro terror dentre a população marcada por esse destino.

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Reportagem -João Guimarães Rosa-

O trem estacou, na manhã fria,num lugar deserto, sem casa de estação:

a parada do Leprosário...

Um homem saltou, sem despedidas,deixou o baú à beira da linha,

e foi andando. Ninguém lhe acenou...

Todos os passageiros olharam ao redor,com medo de que o homem que saltara

tivesse viajado ao lado deles...

Gravado no dorso do bauzinho humilde,não havia nome ou etiqueta de hotel:

só uma estampa de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro...

                      O trem se pôs logo em marcha apressada,e no apito rouco da locomotiva

gritava o impudor de uma nota de alívio...

Eu quis chamar o homem, para lhe dar um sorriso,

mas ele ia já longe, sem se voltar nunca,como quem não tem frente, como quem só tem costas...

  

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Moradores do antigo Sanatório Padre Bento, em Guarulhos (SP), onde pessoas com hanseníase eram confinadas.

A foto foi tirada de uma revista editada pelos próprios moradores do local

Revista Padre Bento / Divulgação

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Alguns que possuíam uma situação privilegiada

passaram a viver escondidos em casa pela família

ou tentaram ir para outros Estados

como o Rio de Janeiro que não adotava a mesma

política de tratamento.

Alguns partiram para outros países.

Obviamente, tratava-se de uma minoria.

Fuga ou refúgio

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1940 – “Naquela época era o Dr. G. Fez exame, tudo, fez exame. Aí foram embora e depois de muito tempo ainda voltou já com a ambulância para pegar nós. Foram lá colher material, tudo, não é? (...) A ambulância era fechada, tipo de uma melancia: tipo de uma melancia só com uma venezianazinha assim do lado, só. Tudo fechado. Para não sair, decerto (...).

Aquela coisa da doença! A doença era um bicho! (...)

Tinham avisado:

– Nós vamos buscar vocês tal dia! (...) – Sim, mas nós vamos levar nossas coisas! – Não, não! Como vocês estão vocês

embarcam no carro! – Não! Mas tem que levar roupa! – Não leve nada daí!

Aí meu pai ainda pegou o documento da casa e guardou, não é? Guardou no bolso.

Foi só o que aproveitou. O resto foi botado fogo na casa. Queimaram, não é? (...).”

Depoimento oral concedido pelo egresso G. B., em 22 de janeiro de 2002, internado compulsoriamente no

o Hospital Colônia Santa Teresa em dezembro de 1940Mattos, D.M. e Fornazari, S.K. Cadernos de Ética e Filosofia Política 6, 1/2005, pp. 45-57. “A lepra no Brasil: representações e práticas de poder”

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1941O Serviço Nacional da Lepra ,

passa a dar as diretrizes para o controle da doença no país.

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• que ao entrar no asilo-colônia estaria sendo arrebatado da família, amigos,

casa, escola, trabalho, passado e qualquer projeto para o futuro;

• que da noite para o dia seria banido de seus direitos como cidadão

e tão somente a cura (na ocasião vista praticamente

como algo remoto e improvável ), poderia transportá-lo

novamente à liberdade;

• que passaria a ser considerado como um morto para a sociedade

– morto civil -

Completava-se o modelo isolacionista, no qual o doente ‘caçado’ sabia:

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Hoje, a “hanseníase que tem cura” encurtou distâncias físicas,

mas ainda há grandes distâncias a serem vencidas.

Fonte: http://www.morhan.org.br/det_noticias.cfm?id_noticia=70

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Marcos ReY (1925-1999)

“Aos 16 anos, em 1941, Edmundo Nonato foi ‘alcançado’ pela política

de internação compulsória que existiu no Brasil até 1967 e passou os melhores anos da sua adolescência confinado em

asilos-colônia que, na época, eram chamados de "leprosários", mas na prática eram campos de

concentração sanitários.

Quatro anos depois, Edmundo Nonato fugiu - sim, fugiu - e se refugiou

no Rio de Janeiro, por medo de retornar ao confinamento.(...)”

“Marcos Rey, escritor, cronista, roteirista de cinema e autor de obras infanto-juvenis

era o pseudônimo do cidadão

Edmundo Nonato.”Artigo sobre biografia de Marcos Rey,

escrita por Carlos Maranhão - revista Veja (1/07/2004)

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As seqüelas da hanseníase não impediram que Edmundo Nonato

se tornasse Marcos Rey,escritor, cronista, roteirista de cinema

e autor de obras infanto-juvenis.

Suas mãos parcialmente imobilizadas não o impediram de ser um exímio datilógrafo.

O sofrimento da juventude não tirou dele o humor ferino,

o gosto pelas farras, pela companhia dos amigos.

Mas até sua morte, em 1999, de câncer, Marcos Rey manteve em segredo o fato de ter sido um paciente

de hanseníase.

Só compartilhou esse segredo com os parentes mais próximos e com sua esposa.

Page 102: Hanseníase

Bacurau

Bacurau", nascido em Manicoré – AM, em 9 de dezembro de 1939,

contraiu hanseníase aos 6 anos de idade.

Em razão do preconceito, jamais foi aceito em alguma escola.

Autodidata tornou-se professor primário da Secretaria de Educação do Acre.

Francisco Augusto Vieira Nunes, o "Bacurau",

fundou em 6 de julho de 1981, o Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase

- MORHAN -

(Organização Não Governamental).

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A sina de Leopoldo Cunha

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“Foram tantas as histórias contadas,

quanto as vidas que ficaram caladas...”

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...à mercê de mentes que se consideravam poderosas e superiores ao homem comum,passível de contrair uma doença

como a hanseníase.

Um objeto, sujeito a viver à margem da vida

às custas da caridade.

Um sujeito-objeto...

Um

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Advento da Sulfona

1942

esperança

de um novo tempo

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No entanto, a realidade permanece no isolamento.

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Década de 60:

• Os asilos-colônia passam a ser denominados de Sanatórios.

• O profissional assistente social é admitido no DPL, mas prevalece ainda

a prática assistencialista.

• Ênfase no trabalho de educação sanitária

através de um grupo profissional: enfermeiro, educador

e assistente social

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- cadeia de transmissão não interrompida - desagregação familiar

- perda do vinculo empregatício - perda da auto-estima

- perda da esperança de um futuro...

Constatações da ineficácia

da política adotada:

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Advento da Clofazimina

1962

Novas perspectivaspara o tratamento

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• Reforma da estrutura

da Secretaria da Saúde/SP

• Ênfase ao tratamento ambulatorial

• concretização da abertura dos portões

dos Sanatórios

no Estado de São Paulo – 1967

Final do período da Internação compulsória no

Brasil- 1962 -

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A grande maioria dos doentes deixa o sanatório

praticamente da mesma maneira que entrou: ‘compulsoriamente’.

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“Como se pudesse

rasgar o papel do passado

e se apresentar ao presente”.

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1970 - Prof. Dr. Abrahão Rotberg –

com o intuito de minimizar o estigma, propõe uma nova terminologia, substituindo a infamante palavra

‘lepra’ por HANSENÍASE e derivados.

Uma homenagem ao médicoe botânico norueguês

Gerhard Henrik Armauer Hansen (Bergen 1841 - 1912)

que em 1874 descobriu (isolou) o Mycobacterium Leprae –

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“Nesse período dois Congressos Brasileiros de Higiene (1968 e 1970) concordaram com o novo nome para substituir “lepra”,” por ser vantajoso para a educação sanitária do ponto de vista psicológico, facilitando as medidas preventivas e aliviando o estigma.

Conseqüentemente três serviços estaduais de saúde, as cadeiras de dermatologia e muitas de neurologia e medicina preventiva de 27 escolas médicas do Brasil passaram a adotar a fórmula educativa “hanseníase”, antigamente “lepra”, objetivando a eliminação gradativa do estigmatizante termo “lepra”.**

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• 1976 - decreto-lei

Dr. Paulo de Almeida Machado – Ministro da Saúde,

determina que todos os documentos oficiais

mudem a terminologia de “lepra”

para Hanseníase e derivados,

como “lepromatosa” para Wirchowiana”,etc.

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Advento da Rifampicina

1976concretização da CURA

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Nova nomenclatura Trouxe vantagens sociais,

contudo, trabalhar com Hanseníase não descarta a possibilidade

de nos deparamos com situações constrangedoras.

Fantasmas ainda se fazem presentes assustando

e marginalizando doentes e familiares, criando preconceitos

e chamando a atenção não para a Hanseníase,

uma doença que tem cura, mas para uma doença

carregada de imagens negativas associadas à palavra ‘LEPRA’

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• Nenhum resultado positivo pode advir da terminologia hanseníase se a postura profissional transmitir

ou perpassar palavras ou atitudes que sejam decodificadas de tal forma que a associação de idéias chegue mais próxima

ao significado pejorativo da palavra lepra.

• Assim, a responsabilidade dos profissionais de saúde em relação à hanseníase não deve estar ancorada

apenas no compromisso regulamentado por lei e sim, numa causa muito mais antiga:

o respeito à pessoa humana.

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• Nenhum resultado positivo pode advir da terminologia hanseníase se a postura profissional transmitir

ou perpassar palavras ou atitudes que sejam decodificadas de tal forma que a associação de idéias chegue mais próxima

ao significado pejorativo da palavra lepra.

• Assim, a responsabilidade dos profissionais de saúde em relação à hanseníase não deve estar ancorada

apenas no compromisso regulamentado por lei e sim, numa causa muito mais antiga:

o respeito à pessoa humana.

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1995 - 29 de março ( Lei nº 9.010 – DO Brasília – DF)

No Brasil, a nova nomenclatura para eliminar o estigma

que acompanhava a palavra lepra e aos doentes,

torna-se oficial na administração pública por lei, assinada pelo presidente Fernando Henrique

Cardoso e pelo então Ministro de Saúde Prof. Adib Jatene.

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- Esquema terapêutico

POLIQUIMIOTERAPIA (PQT)

Recomendado pela OMS,

em 1982.

No Brasil, oficialmente pelo Ministério de Saúde,

em 1989

O esquema foi considerado eficaz, tendo resolvido o problema da

resistência secundária à dapsona, reduzido o tempo de tratamento

e aumentado a adesão de pacientes.

Fonte: Marcelo Grossi Araújo Professor Assistente da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, Mestre em Dermatologia - UFMG (MG )

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Perspectiva de cura rápida, elemento facilitador para as

intervenções sociais necessárias e concepção do doente

como ser integral.

Desmistificação do risco de contágio

e idéia de isolamento,minimizando

os efeitos devastadores que acompanham há séculos:

o estigma, a discriminação e o preconceito.

PQT

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A HANSENÍASE tem CURA e a pessoa por ela atingida tem um rosto.

No entanto, não pode ser desconsiderado o fato de que é uma doença com inúmeras interfaces, razão pela qual exige atenção integral.

Atenção integral, ou melhor, ações diversificadas e integradas, como estratégia, para oportunizar à pessoa, melhor aceitação do diagnóstico, envolvimento e compromisso quanto ao tratamento

e, principalmente... credibilidade na cura.

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Page 136: Hanseníase

(...) O girassol se volta para o solonde ele estiver.

Mesmo que o sol esteja escondido pelas nuvens,

lá está o girassol dando costas

à obscuridade das sombras e buscando,

convicto e decidido, estar sempre de frente

para o sol. (...)

“Códigos da Vida”, de Legrand, editora Soler editora

AÇÃO INTEGRAL

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É assim com a hanseníase:

O lado oculto da ‘mancha’ mesmo desaparecida através da cura,

pode ainda deixar rastros ...

Como a moeda, tem dois lados:quando um lado está exposto,

o outro está oculto.

Por detrás da doença está o homem que carrega no oculto

a sua dor moral .

Nem sempre, sozinho, consegue virar-se em direção ao sol.

Hanseníase é muito mais

que uma mancha!

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A PQT trouxe em seu bojo:

• a premissa do cuidado multidisciplinar com o paciente;

• o estreitamento do vínculo do paciente com o serviço,

melhorando os níveis de adesão ao tratamento e possibilitando

diagnósticos precoces e intervenções nos estados reacionais;

• o trabalho contínuo na educação e prevenção de incapacidades físicas.

Marcelo Grossi Araújo - professor Assistente da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, Mestre em Dermatologia - UFMG (MG)

http://www.anaisdedermatologia.org.br/artigo.php?artigo_id=30

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“Cuidar do Ser é prestar atenção ao sopro que o anima.”

Yves Leloup

Foto: Sebastião Salgado

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Se estivermos dispostos a olhar, escutar, sentir e tatear o que está ao redor em nosso campo de rotina;

se conseguirmos desenvolver uma ação compatível com aquilo que escolhemos fazer na vida,

teremos a oportunidade de constatar: que nada é impossível de mudar!

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Quantos espelhos a natureza nos oferece ?

Quantas oportunidades a vida nos dá ?HNM

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Quem não aprecia as borboletas ?

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“Paraamar uma

borboleta também

precisamos gostar de algumas lagartas.”

Antoine de Saint-Exupéry

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Como disse no início, eu sou a Hanseníase

e, por anos e anos... fui vista

como uma lagarta que arrastou

a infelicidade pelo mundo e,

como se não bastasse,

ainda fui enclausurada

num casulo sem portas, nem janelas...

Contudo, se vocês tiverem paciência

e se dispuserem a cuidar de mim,

talvez eu possa me transformar

numa linda borboleta,

voar com minhas próprias asas,

e ter a ‘vida’ de volta.

Obrigada

Heleida Nobrega Metello

2 de julho de 2008

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Créditos:

Heleida Nobrega MetelloSão Paulo/2008

Divisão Técnica

de Hanseníase/CVE/CCD/SES-SP

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"Caminho nestas praias entre a areia e a espuma.

A maré alta apagará as marcas dos meus pés e o vento dissipará a espuma,

mas o mar e a praia permanecerão para sempre."

Khalil Gibran