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Órgão oficial da Associação Brasileira de Imprensa 369 AGOSTO 2011 PÁGINAS 12, 13, 14, 18, 19, 20 E 21 RAUL RYFF E MÁRIO LAGO As homenagens da ABI a dois destacados militantes do progresso social BETINHO O ex-Presidente Lula tira o chapéu para o criador do programa de combate à fome e à miséria PÁGINAS 30 E 31 Órgão oficial da Associação Brasileira de Imprensa PÁGINAS 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12 E 13 Um grande e minucioso inventário sobre a participação da imprensa alternativa nas lutas contra a ditadura militar acaba de vir a público em São Paulo, mostrando o heroísmo com que jornalistas e outros segmentos da sociedade civil sustentaram as idéias libertárias afinal vitoriosas. PÁGINAS 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 E EDITORIAL NA PÁGINA 2 LYGIA TELLES DESAFIOU A CENSURA DE BUZAID EX-INTEGRALISTA, ELE ASSUMIU O MINISTÉRIO DA JUSTIÇA COM O PROPÓSITO DE VETAR TUDO. MAS ELA DENUNCIOU AS TORTURAS. PÁGINA 10 MORTE DA JUÍZA REVELA QUE CRIME IGNORA LIMITES O ESTADÃO SOB A ROLHA DA CENSURA DOIS ANOS GRUPO GLOBO DEFINE SEUS PRINCÍPIOS EDITORIAIS A CORAGEM DE PATRÍCIA ACIOLI NAS SENTENÇAS CONTRA O CRIME ORGANIZADO ARMOU O BRAÇO DE SEUS ASSASSINOS. PÁGINA 28 O STF É CÚMPLICE DESSA GRAVE LESÃO À CARTA QUE ULISSES GUIMARÃES CHAMOU DE "CONSTITUIÇÃO CIDADÃ". PÁGINAS 26 E 27 DISCUSSÃO INTERNA ELABORA NORMAS PARA UM PADRÃO DE TÉCNICA JORNALÍSTICA E DE POSTURA ÉTICA. PÁGINAS 22 E 23

Jornal da ABI 369

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A presente edição do Jornal da ABI celebra um dos momentos mais ricos da História da Imprensa no Brasil, o qual é também, paradoxalmente, aquele em que a atividade jornalística mais dificuldades enfrentou nestes mais de dois séculos em que se editam periódicos entre nós. Esse momento é o do surgimento e funcionamento da chamada imprensa alternativa, produzida em condições extremamente adversas, para a defesa de idéias que correspondiam ao melhor interesse nacional e à necessidade de transformação do quadro de brutalidades e iniqüidades impostas ao País desde a deflagração do golpe militar de 1º de abril de 1964. OUTROS DESTAQUES: - As homenagens em comemoração ao centenário de Raul Ryff e Mário Lago. - Os 30 anos do Ibase, criado por Betinho. - Grupo Globo abre o debate público sobre o papel e a ética do jornalismo - Walter Abrahão, o prazer da narração - Rodolfo Fernandes, o príncipe.

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  • 1. RAUL RYFF E MRIO LAGO As homenagens da BETINHO O ex-Presidente Lula tira o chapu para oABI a dois destacados militantes do progresso socialcriador do programa de combate fome e misriaPGINAS 12, 13, 14, 18, 19, 20 E 21PGINAS 30 E 31 rgo oficial da Associao Brasileira de Imprensargo oficial da Associao Brasileira de Imprensa369 A GOSTO 2011Um grande e minucioso inventrio sobre a participao da imprensa alternativa nas lutas contra a ditadura militar acaba de vir a pblico em So Paulo, mostrando o herosmo com que jornalistas e outros segmentos da sociedade civil sustentaram as idias libertrias afinal vitoriosas.PGINAS 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 E EDITORIAL NA PGINA 2 PGINAS 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12 E 13LYGIA TELLES DESAFIOU AMORTE DA JUZA REVELA QUEO ESTADO SOB A ROLHA DAGRUPO GLOBO DEFINE SEUSCENSURA DE BUZAID CRIME IGNORA LIMITES CENSURA H DOIS ANOS PRINCPIOS EDITORIAIS EX-INTEGRALISTA, ELE ASSUMIU O MINISTRIO A CORAGEM DE PATRCIA ACIOLI NAS SENTENASO STF CMPLICE DESSA GRAVE LESO DISCUSSO INTERNA ELABORA NORMAS PARADA JUSTIA COM O PROPSITO DE VETAR TUDO.CONTRA O CRIME ORGANIZADO ARMOU OCARTA QUE ULISSES G UIMARES CHAMOU DEUM PADRO DE TCNICA JORNALSTICA E DEMAS ELA DENUNCIOU AS TORTURAS. PGINA 10 BRAO DE SEUS ASSASSINOS . PGINA 28 "CONSTITUIO C IDAD ". PGINAS 26 E 27 POSTURA TICA . P GINAS 22 E 23

2. EditorialDESTAQUES DESTA EDIO03 Especial - A imprensa que no perdeu a capacidade de se indignarA HISTRIA QUE FICA 10 Resistncia - Sem temer Buzaid, Lygia denunciou a tortura no auge da ditadura Mdici 11 Histria - Memrias amargas, por Rodolfo Konder A PRESENTE EDIO DO Jornal da ABI cele-ponsabilidade pelo atraso do Pas em diferen- 16 Ressurreio - Renascente, o Pen Clube reage fragilidade da atividade de escritorbra um dos momentos mais ricos da Histria da tes campos, entre os quais o aprofundamen- Imprensa no Brasil, o qual tambm, parado-to de uma desigualdade social de que ainda18 Centenrio - Mrio Lago: O homem que no fugiu do tempoxalmente, aquele em que a atividade jornalsti- no nos libertamos. ca mais dificuldades enfrentou nestes mais de 21 Mobilizao - Luta anticorrupo vai s ruasdois sculos em que se editam peridicos entre ESTIMULANTE ASSINALAR que, sob o plio 22 Novidade - Globo abre o debate pblicons. Esse momento o do surgimento e funci-das liberdades afinal restauradas, a valorizao sobre o papel e a tica do jornalismoonamento da chamada imprensa alternativa, desse momento da nossa imprensa promovi- 32 Renovao - A agncia da infncia revistaproduzida em condies extremamente adver-da com esmero e competncia por importantese ampliadainstituies da sociedade civil, como o Institu- sas, para a defesa de idias que correspondiam35 Enigmas - Jornalista argentino estao melhor interesse nacional e necessidade de to Vladimir Herzog, que, honrando a memriareescrevendo a Histriadesse mrtir da luta libertria, promoveu o in- transformao do quadro de brutalidades e ini-38 Documentrio - Roberto Marinho, num dvdqidades impostas ao Pas desde a deflagrao ventrio do que se fez nesse campo de contes-sem apologia nem censuratao da ditadura, atravs do levantamento e do golpe militar de 1 de abril de 1964.40 Livros - A redescoberta de Mariteguiedio de materiais preciosos, como os resul- SEESDESPROVIDOS DE RECURSOS econmicos etantes da realizao do Projeto Resistir Preciso, 0 A CONTECEU NA ABIsuportes materiais, os responsveis por esse ex-que, como se ver na nossa principal matria de 12 Os 100 anos de Raul Ryff, uma refernciatraordinrio fenmeno da vida poltica e cultu- capa, mostra os protagonistas da histria da im- como exemplo de vidaral do Pas, homens e mulheres de variada ori-prensa alternativa, clandestina e no exlio, no 15 Pioneirismo de Nelson Werneck realadogem social e de diferentes concepes e vincu-perodo 1964-1979 (do golpe Anistia), sua his- em ato marcado de emoolaes polticas, filosficas e religiosas, movidos tria, seus padecimentos, o fruto de sua atuao. 16 Advogados da Unio aliam-se ABI contrapela nsia de recuperao da liberdade que lhesa censura prviafora arrebatada, encontraram no meio social, a IGUALMENTE RELEVANTE consignar que essa 26 LIBERDADE DE IMPRENSAdespeito das condies adversas, o apoio neces- notvel realizao do Instituto Vladimir Her-A censura prvia ao Estado fez dois anossrio para assegurar a continuidade da resistnciazog contou com o apoio de destacadas insti- DIREITOS HUMANOS ditadura e sua superao. tuies do Poder Pblico, como o Memorial da28 Para o crime, agora vale tudoResistncia de So Paulo, o Governo de So Paulo 29 possvel apurar j os crimes da ditaduraNO FOI ESSE UM ESFORO comum. Sob oe a Imprensa Oficial do Estado de So Paulo, e 30 Lula tira o chapu para Betinhoguante da represso, suas violncias, suas ame- o patrocnio da Petrleo Brasileiro S.A.-Petro- VIDASaas, sob o cerco permanente em que era man-bras. Com sua saga, a imprensa alternativa con- 42 Abraho, o prazer da narraotida a cidadania, era preciso coragem, criati-tribuiu para que se produzisse essa mudana 43 Cludio Melo e Sousa, o esteta da palavravidade, capacidade de articulao e cautelasradical: o Estado nacional perdeu seu carter em aes que o regime no tolerava. Suas vir- repressor e se tornou um instrumento podero-44 Rodolfo Fernandes, o prncipe tudes cvicas desembocaram na materializa-so de apoio luta pela construo de um Brasil 46 Procpio Mineiro, o jornalista que no seo daquilo que derrotaria a ditadura: a pala-melhor. essa Histria que fica da presena darendeu Proconsult vra de denncia de seus crimes, de sua res- imprensa alternativa na vida nacional.47 Riomar, um mestreJornal da ABI DIRETORIA MANDATO 2010-2013 Francisco Pedro do Coutto, Itamar Guerreiro, Jarbas Domingos Vaz, Jos Pereira da Presidente: Maurcio AzdoSilva (Pereirinha), Maria do Perptuo Socorro Vitarelli, Ponce de Leon, Salete Lisboa, Vice-Presidente: Tarcsio Holanda Sidney Rezende, Slvio Paixo e Wilson S. J. Magalhes. Diretor Administrativo: Orpheu Santos SallesConselheiros Suplentes 2010-2013 Diretor Econmico-Financeiro: Domingos MeirellesAdalberto Diniz, Alfredo nio Duarte, Aluzio Maranho, Arcrio Gouva Neto, DanielNmero 369 - Agosto de 2011Mazola Froes de Castro, Germando de Oliveira Gonalves, Ilma Martins da Silva, Jos Diretor de Cultura e Lazer: Jesus Chediak Diretora de Assistncia Social: Ilma Martins da Silva Silvestre Gorgulho, Luarlindo Ernesto, Marceu Vieira, Maurlio Cndido Ferreira, SrgioEditores: Maurcio Azdo e Francisco UchaCaldieri, Wilson de Carvalho, Yacy Nunes e Zilmar Borges Baslio. Diretora de Jornalismo: Sylvia MoretzsohnProjeto grfico e diagramao: Francisco UchaConselheiros Suplentes 2009-2012Edio de textos: Maurcio Azdo CONSELHO CONSULTIVO 2010-2013 Antnio Calegari, Antnio Henrique Lago, Argemiro Lopes do Nascimento (Miro Ancelmo Goes, Aziz Ahmed, Chico Caruso, Ferreira Gullar, Miro Teixeira, Nilson Lage e Lopes), Arnaldo Csar Ricci Jacob, Ernesto Vianna, Hildeberto Lopes Aleluia, JordanApoio produo editorial: Alice Barbosa Diniz, Teixeira Heizer.Amora, Jorge Nunes de Freitas (in memoriam), Luiz Carlos Bittencourt, Marcus AntnioAndr Gil, Conceio Ferreira, Guilherme PovillMendes de Miranda, Mrio Jorge Guimares, Mcio Aguiar Neto, Raimundo CoelhoVianna, Maria Ilka Azdo, Ivan Vinhieri, Mrio Luiz de CONSELHO FISCAL 2011-2012 Adail Jos de Paula, Geraldo Pereira dos Santos, Jarbas Domingos Vaz, Jorge Neto (in memoriam) e Rogrio Marques Gomes.Freitas Borges. Saldanha de Arajo, Lris Baena Cunha, Luiz Carlos Chesther de Oliveira e ManoloCOMISSO DE SINDICNCIAPublicidade e Marketing: Francisco Paula Freitas Epelbaum. Carlos Felipe Meiga Santiago, Carlos Joo Di Paola, Jos Pereira da Silva(Coordenador), Queli Cristina Delgado da Silva,MESA DO CONSELHO DELIBERATIVO 2011-2012 (Pereirinha), Maria Ignez Duque Estrada Bastos e Marcus Antnio Mendes dePaulo Roberto de Paula Freitas.Presidente: Pery CottaMiranda. Primeiro Secretrio: Srgio CaldieriCOMISSO DE TICA DOS MEIOS DE COMUNICAODiretor Responsvel: Maurcio Azdo Segundo Secretrio: Marcus Antnio Mendes de MirandaAlberto Dines, Arthur Jos Poerner, Ccero Sandroni, Ivan Alves Filho e Paulo Totti.Associao Brasileira de ImprensaConselheiros Efetivos 2011-2014 COMISSO DE DEFESA DA LIBERDADE DE IMPRENSA E DIREITOS HUMANOSRua Arajo Porto Alegre, 71Alberto Dines, Antnio Carlos Austregsilo de Athayde, Arthur Jos Poerner, Dcio Alcyr Cavalcnti, Antnio Carlos Rumba Gabriel, Arcrio Gouva Neto, Daniel deRio de Janeiro, RJ - Cep 20.030-012Malta, Ely Moreira, Hlio Alonso, Leda Acquarone, Maurcio Azdo, Milton Coelho daCastro, Geraldo Pereira dos Santos,Germando de Oliveira Gonalves, GilbertoTelefone (21) 2240-8669/2282-1292Graa, Modesto da Silveira, Pinheiro Jnior, Rodolfo Konder, Sylvia Moretzsohn, Magalhes, Jos ngelo da Silva Fernandes, Lnin Novaes de Arajo, Lucy Marye-mail: [email protected] Tarcsio Holanda e Villas-Bas Corra.Carneiro, Luiz Carlos Azdo, Maria Ceclia Ribas Carneiro, Mrio Augusto Jakobskind, Conselheiros Efetivos 2010-2013 Martha Arruda de Paiva, Srgio Caldieri, Wilson de Carvalho e Yacy Nunes.REPRESENTAO DE SO PAULODiretor: Rodolfo KonderAndr Moreau Louzeiro, Bencio Medeiros, Bernardo Cabral, Carlos Alberto MarquesCOMISSO DIRETORA DA DIRETORIA DE ASSISTNCIA SOCIAL Rodrigues, Fernando Foch, Flvio Tavares, Fritz Utzeri, Jesus Chediak, Jos Gomes Ilma Martins da Silva, Presidente; Manoel Pacheco dos Santos, Maria do PerptuoRua Dr. Franco da Rocha, 137, conjunto 51 Talarico (in memoriam), Marcelo Tognozzi, Maria Ignez Duque Estrada Bastos, Mrio Socorro Vitarelli, Mirson Murad e Moacyr Lacerda.Perdizes - Cep 05015-040 Augusto Jakobskind, Orpheu Santos Salles, Paulo Jernimo de Sousa e Srgio Cabral.Telefones (11) 3869.2324 e 3675.0960 REPRESENTAO DE SO PAULOe-mail: [email protected] Efetivos 2009-2012 Conselho Consultivo: Rodolfo Konder (Diretor), Fausto Camunha, George Benigno Adolfo Martins, Afonso Faria, Aziz Ahmed, Ceclia Costa, Domingos Meirelles,Jatahy Duque Estrada, James Akel, Luthero Maynard e Reginaldo Dutra.REPRESENTAO DE MINAS GERAIS Fernando Segismundo, Glria Suely lvarez Campos, Jorge Miranda Jordo, JosDiretor: Jos Eustquio de Oliveirangelo da Silva Fernandes, Lnin Novaes de Arajo, Lus Erlanger, Mrcia Guimares, REPRESENTAO DE MINAS GERAIS Nacif Elias Hidd Sobrinho, Pery de Arajo Cotta e Wilson Fadul Filho. Jos Mendona (Presidente de Honra), Jos Eustquio de Oliveira (Diretor),CarlaImpresso: Grfica Lance!Kreefft, Ddimo Paiva, Durval Guimares, Eduardo Kattah, Gustavo Abreu, Jos BentoRua Santa Maria, 47 - Cidade NovaConselheiros Suplentes 2011-2014Teixeira de Salles, Lauro Diniz, Leida Reis, Luiz Carlos Bernardes, Mrcia Cruz eRio de Janeiro, RJ Alcyr Cavalcnti, Carlos Felipe Meiga Santiago, Edgar Catoira, Francisco Paula Freitas, Rogrio Faria Tavares.O JORNAL DA ABI NO ADOTA AS REGRAS DO A CORDO O RTOGRFICO DOS P ASES DE L NGUA PORTUGUESA, COMO ADMITE O D ECRETO N 6.586, DE 29 DE SETEMBRO DE 2008.2 Jornal da ABI 369 Agosto de 2011 3. ESPECIALMONTAGEM FRANCISCO UCHAA IMPRENSA QUE NO PERDEUA CAPACIDADE DE SE INDIGNAR Lanado pelo Instituto Vladimir Herzog, o projeto Resistir Precisopretende resgatar a memria da imprensa alternativa, clandestina e no exlio,do golpe anistia. Uma histria literalmente escrita com riscos, em grficas improvisadas e sob perseguio implacvel do regime.P OR M ARCOS S TEFANO Abril de 1973. O clima no Brasil era de tenso metido. Os jornais foram proibidos de dar mais es-mostrei o desenho ao censor. Ele aprovou, con-total e a agitao poltica, uma das maiores desdeclarecimentos sobre o assunto. Para alguns, at falar ta Elifas Andreato, ento Diretor de Arte do jor-que os militares tomaram o poder, nove anos an- sobre a missa celebrada em sua memria, na Ca-nal. O detalhe que a prova revisada era em pre-tes, instaurando a ditadura no Pas. No ms ante- tedral da S, pelo Arcebispo de So Paulo, Domto e branco, mas, na hora da impresso, a grficarior, o estudante de Geologia da Universidade dePaulo Evaristo Arns, e que contou com a presenacolocaria uma cor a mais na capa. Quando pegouSo Paulo, Alexandre Vannuchi Leme, fora presode mais de cinco mil pessoas, muitos artistas, l-o jornal impresso na boca da mquina, o censorpela Operao Bandeirantes por causa de sua mi- deres sindicais e estudantis que protestavam contra levou um susto: o manto de Dom Paulo Evaristolitncia na Ao Libertadora Nacional-ALN. E s o regime, era fora de questo.Arns aparecia justamente na cor que mais causa-saiu do Doi-Codi morto. Primeiro, as autoridades Com o jornal Opinio no era diferente. Masva arrepio aos militares: o vermelho.disseram que o jovem fora atropelado por um ca- mesmo censurada, a publicao daria um jeito deEle se sentiu trado porque no sabia dessaminho, quando tentava fugir. Depois, que teria noticiar o que houve com a sempre usual criativi- cor a mais. No adiantou explicar que o mantose suicidado com uma lmina em sua cela.dade. Para escapar dos vetos, os textos no cita- que os cardeais usam vermelho. Ele mandou parar Nenhuma das verses convenceu. A desconfi- vam o nome de Leme. E para a capa, nada melhortudo. Queria apreender o jornal e me estapear,ana geral, quase certeza na verdade, era que ele do que a imagem do Cardeal, um smbolo de paz.completa Andreato, que teve de correr para nomorrera devido s brbaras torturas a que fora sub- Fiz a ilustrao com os traos de Dom Paulo eapanhar do irado censor. Jornal da ABI 369 Agosto de 20113 4. ESPECIAL A IMPRENSA QUE NO PERDEU A CAPACIDADE DE SE INDIGNAR FRANCISCO UCHA Ahistria soa quase surreal, mas apenas uma entre muitas ou-tras que fazem parte da coleoOs Protagonistas desta Histria, Trs apaixonadosformada por 12 dvds com os pela histria da imprensadepoimentos de jornalistas queclandestina e fizeram a imprensa alternativa, clandesti-perseguida no na e no exlio. Aquela que resistiu e comba- Brasil: Vladimir teu a ditadura militar entre 1964 e 1979, do Sacchetta, Editor golpe anistia. Para conseguir o material, o de Pesquisa, Instituto Vladmir Herzog selecionou e Ricardo Carvalho, entrevistou 60 profissionais, a maior par- Editor de Contedo te num perodo de trs meses, no comeoe Jos Luiz Del deste ano. Nomes de peso como Raimun- Roio, Editor de do Rodrigues Pereira, um dos idealizado- Contexto do projeto Os res dos jornais Opinio e Movimento; OmarProtagonistas de Barros Filho, o Matico, que junto comdesta Histria. Marcos Faerman, produziu Versus; os dese- nhistas Laerte, com importante participa- o na imprensa sindical, Ziraldo, uma das colunas do Pasquim; e Ana Arruda Callado, Editora de O Sol, celebrizado nas bancas dees como o jornal Unidade, do Sindica- Pblico do Estado de So Paulo e o Arqui-previamente entre 1972 e 1975; a revis- revista pela msica de Caetano Veloso. Ape-to dos Jornalistas de So Paulo, o Coojor-vo Pblico da Cidade do Rio de Janeiro.ta Veja s escapou em dois perodos: 1968 nas para ficar entre alguns deles. nal, primeira grande experincia de coo-As prximas etapas do projeto incluem ae 1976; a Tribuna da Imprensa no teve a uma lista ampla, mas poderia tran- perativa de jornalistas no Pas, realizadapublicao de livros, lanamento de um mesma sorte e conviveu com as proibi- qilamente ser trs vezes maior. S nono Rio Grande do Sul, e o prprio Jornalportal na internet, produo de documen- es sem trgua durante dez anos. Reali- foi porque, a princpio, tivemos que fazer da ABI. Infelizmente, na vspera de seu trios e realizao de exposies. dade, a revista das grandes reportagens, uma seleo por motivos bvios de espa-depoimento, o Presidente Maurcio Azdo, Uma contribuio necessria verda- chegou a ter uma edio inteira apreen- o. Dessa forma, adotamos critrios para ativo participante de vrios jornais clandes- de. Comeamos a d-la com o recorte nosdida por conta de uma pesquisa sobre escolher os participantes, como abrangn-tinos e alternativos no perodo, ligou para jornalistas. Por qu? Porque eles foramsexualidade. J o Jornal do Brasil aprendeu cia mais nacional das publicaes, ttulos dizer que no poderia dar seu testemunhopersonagens centrais durante os anos a trabalhar com o eufemismo para retra- mais importantes e a me refiro aos con- porque se recuperava de uma gripe muito mais difceis da represso. Sem eles, otar o clima no Pas. Assim, ao lado da tedos publicados, longevidade e sucesso forte. Assim que possvel, queremos tomar cerne da histria, a imprensa alternativa, manchete sobre o AI-5 e da reportagem com leitores , e equilbrio entre as diversas seu depoimento e divulg-lo no portal dosimplesmente no existiria. Diferenteque se limitava a destacar a movimentao correntes polticas, impulsionadoras deInstituto por causa da importncia de sua das grandes empresas, os veculos meno-nos quartis do Rio de Janeiro e a mobili- grande parte dessa ao da imprensa,biografia, diz Carvalho. res no representavam consolidadas ins-zao das diversas polcias, um quadrinho destaca Ricardo Carvalho, Editor de Con-Um dos alvos do Instituto Vladimir tituies, completa Ivo Herzog. informava que, na vspera, fora o Dia dos tedo da obra. Foi ele quem tomou os de- Herzog com a ao tornar conhecidas as Cegos e outro previa tempo negro, com poimentos, sempre ao lado do Editor de memrias de um tempo que muitos prefe- CLANDESTINA DE BEROtemperatura sufocante e ar irrespirvel. Contexto, Jos Luiz Del Roio, do Editor de riam esquecer. Tanto que se compromete Quando surgiu no Brasil, em 1808, a Segundo a previso, o Brasil era varrido por Pesquisa, Vladimir Sacchetta, e da histori-a enviar a ntegra dos depoimentos gratui-imprensa j era clandestina. Para confir-ventos fortes e a temperatura em Braslia adora Juliana Sartori. Em alguns momen-tamente a quem pedir. Acompanhar horasmar isso, basta lembrar do Correio Brazi-seria mxima, com 38 C. J nas Laranjei- tos, o grupo tambm esteve acompanhado e horas de relatos de sofrimentos e abusosliense, que nasceu no exlio, impresso emras, mnima. Apenas 5C. pelo jornalista Carlos Azevedo, tambm pode ser difcil, mas pior no ouvir e fingir Londres, e circulou por aqui contra aVerdade seja dita, esse tipo de atitude era um personagem dessa histria.que acontecimentos to decisivos simples- vontade das autoridades. No muito tem-exceo, e no norma. Por isso, muitos jor-O que se assiste nos dvds um conjun-mente no existiram.po depois, em 1822, Joo Soares Lisboa nalistas logo perceberam que j no teriam to de depoimentos nostlgicos e chocan- Comeamos a recuperar essa mem-criou o Correio do Rio de Janeiro e usou a mais espao nos veculos tradicionais. tes. Relatos de pessoas que nunca tiveramria no ano passado, quando lanamos emimprensa para defender pela primeira vez Esses profissionais criticavam aquilo a oportunidade de falar sobre o trabalho parceria com a Imprensa Oficial do Esta-a convocao de uma Constituinte bra-que chamavam de complacncia da grande que realizaram, sobre os riscos que corre- do de So Paulo a edio facsmile do jor-sileira. Com isso, teve tambm o privil-imprensa para com a ditadura, diz o pro- ram, as muitas grficas precrias, quandonal Ex-. Queremos dar a dimenso do que gio de ser o primeiro jornalista processa- fessor Bernardo Kucinski, que participou de no totalmente improvisadas, que usaramfoi a imprensa alternativa na ditadura edo por abusar da liberdade de impren-publicaes como Opinio, Movimento, Em para reproduzir suas publicaes, a vida nacontinuamos juntando material. Se al- sa em terras nacionais.Tempo e autor do livro Jornalistas e Revolu- clandestinidade e a implacvel persegui- gum tiver colees particulares e quiserApesar de conviverem com o fantasma cionrios (Scritta Editorial). A sada para o das foras de represso. Ainda assim,contribuir pode nos doar o material ouda censura desde aquela poca e passarem fazerem oposio intransigente ao regime apenas uma parte do que foi gravado. A emprestar, para ser digitalizado e micro- por tempos complicados durante o Estadofoi buscar novos rumos. Surgia assim a im- ntegra dos testemunhos d mais de 100 filmado, informa Ivo Herzog, Diretor doNovo, nenhum perodo foi to duro para osprensa que passou a ser conhecida como al- horas em vdeo em alta definio. De lon-instituto, deixando claro: os objetivos brasileiros quanto o da ditadura militar.ternativa, nanica, de leitor, indepen- ge, o trabalho de maior flego j realizadoso ainda maiores.Somente nos dez anos em que o AI-5 vigo- dente ou underground. Os nomes so sobre a imprensa alternativa brasileira. EA srie de dvds Os Protagonistas desta rou, foram proibidos ou mutilados cerca de variados, mas em geral denotavam produ- que no terminou ainda.Histria apenas o primeiro dos vrios 500 filmes, 450 peas de teatro, 200 livros, tos com formato menor, s vezes tablide,No conseguimos pegar todos os de- componentes de um projeto mais amplo, dezenas de programas de rdio e televiso, poucos recursos e muita coragem. poimentos que queramos e, por isso, aso Resistir Preciso, que o Instituto Vladi-mais de uma centena de entrevistas, mais Mesmo convivendo com enormes di- entrevistas prosseguem. Um dos exem- mir Herzog toca em parceria com outrasde 500 letras de msicas, uma dzia de si- ficuldades, que iam da falta de dinheiro e plos o ncleo que chamamos de Associ-entidades, como o Centro de Documen-nopses e numerosos captulos de telenove-estrutura perseguio, sem exagero foi ao Brasileira de Imprensa, mais corpo- tao e Memria-Cedem, da Universida- las. Isso, segundo nmeros oficiais, que po- o que de melhor aconteceu na imprensa rativo e que rene importantes publica-de Estadual Paulista-Unesp, o Arquivo dem estar bem aqum da realidade.brasileira dos anos 1970. Sem outros in- Para os jornalistas, a situao no era di- teresses, esses jornais denunciavam siste-ferente. De acordo com o levantamento Bra- maticamente as torturas e violaes dossil: Nunca Mais, os artfices das notcias so- direitos humanos e faziam crticas ao mo-freram 707 processos por terem atentadodelo econmico, mesmo em tempos noscontra a Lei de Segurana Nacional. Desses,quais todos louvavam o aparente sucesso102 contm, entre outros enunciados, incri-do milagre. Alm de condenar o triunfa-minao por militncia poltica em organi- lismo que reverberava em outros rgoszaes clandestinas, algumas envolvidasjornalsticos, os alternativos apontavamcom a luta armada, tentativas de derrubar oas brechas que, anos mais tarde, levariamregime e construo do ideal socialista. Peloo Pas crise e superinflao. Apesar demenos 147 jornalistas foram criminalizados serem criticados pelo tom pedaggico epela Justia Militar entre 1964 e 1979.dogmtico, eles foram os nicos a perce- Jornais clandestinosA censura atingia todos e nem os gran-ber os perigos do crescente endividamen- publicados no exlio: raridadesdes veculos escapavam. O Estado de S. to externo, ainda em 1973, e o agravamen- que ningum podia guardar. Paulo e o Jornal da Tarde foram censurados to das mazelas sociais.4Jornal da ABI 369 Agosto de 2011 5. A REVELAO DE PERSONAGENS IGNORADOSAs publicaes alternativas tambmpela redemocratizao. No que estives-foram as responsveis por revelar aos se livre da censura. Pelo contrrio, suabrasileiros novos personagens, como primeira capa, sobre a morte de Vladi-bias-frias, lderes de movimentos po-mir Herzog, foi logo proibida. Tambmpulares, trabalhistas e estudantis, almconsiderado uma publicao de frentede trazer muita discusso. Bancado porampla, o novo semanrio era mais inci-um empresrio, Fernando Gasparian,sivo que Opinio, discutindo inclusiveproduzido por jornalistas profissionais,a revoluo brasileira. Mas no valori-protagonizado por intelectuais e secre- zava tanto o lado esttico. E quem sofriatamente instrudo pelo comit central mais era a equipe comandada por Elifasda Ao Popular-AP, chegou s bancas em Andreato, que precisava fazer novasoutubro de 1972 um dos representantes ilustraes e at capas em questo demais destacados dos alternativos: o se- minutos quando Braslia devolvia omanrio Opinio.material censurado em cima da hora deNo digo que foi um jornal de es-mandar tudo para a grfica.querda, mas de centro-esquerda. CapazNo eram todos os alternativos quede resistir, apontar para a democracia ese caracterizavam pelo discurso ideol-ser nacionalista, diz o Editor Raimun- gico. Alguns eram marcados tambmdo Rodrigues Pereira, que j havia criado pelas crticas dos costumes e pela ruptu-antes o Amanh e passado com destaque ra cultural, investindo contra o autori-pelas revistas Veja e Realidade, antes de as- tarismo e o moralismo das classes mdi-sumir o jornal. as. Foi com esses tons que surgiu o Pas-Ao projeto Resistir Preciso Pereira quim, em 1969. Com linguagem coloqui-contou que, apesar da tenso, aquele foial e muito humor, em pouco tempo oum tempo de euforia. Quando saiu o pri- jornal se tornou um fenmeno, venden-meiro nmero do Opinio, ele prpriodo mais de 200 mil exemplares em ban-fez questo de pegar um exemplar na gr-ca. A liderana era do cartunista Jaguarfica e sair s ruas para sentir a reao po-e dos jornalistas Tarso de Castro e Sr-pular. Logo de cara, descobriu que os gio Cabral, mas faziam parte da equipeleitores tinham achado o jornal o m-profissionais como Ziraldo, Henfil,ximo. Afinal, trazia o nome de Paulo Ivan Lessa e Paulo Francis. Time queFrancis na capa. Alis, essa mistura de in- tinha no humor sua marca registrada. Atelectuais como Francis, Celso Furtado, nica coisa sem graa eram as constan-Antonio Candido e Fernando Henrique tes prises de seus profissionais.Cardoso, que colaboravam sempre comNuma delas, em novembro de 1970,o jornal, e profissionais da imprensa foi a Redao inteira foi levada para trs dasum dos motivos do sucesso e comeo da grades depois que o jornal publicou umaqueda do semanrio. Gasparian queriastira do quadro de Pedro Amrico emdar mais voz aos intelectuais. Pereiraque Dom Pedro I aparece s margens doqueria um jornal feito por jornalistas. Ipiranga. O que teria irritado os milita-Dessa forma veio a surgir outro impor-res era o balo em que o prncipe grita-tante representante daquele perodo,va: Eu quero mocot!, refro de umaMovimento. J Opinio chegaria at abrilmsica do maestro Erlon Chaves dede 1977. No editorial de seu ltimo n- grande sucesso na poca. O intuito, nomero, 230, o jornal avisava que s vol- entanto, era acabar com o jornal nos doistaria a circular livre da censura e que, se meses em que todos ficaram presos, oas matrias censuradas fossem acrescen- que s no aconteceu porque Millrtadas s 5.796 pginas impressas, o jor-Fernandes, que escapara priso, com anal dobraria seu contedo, tendo produ- ajuda de Henfil, Chico Buarque, Ant-zido 10.548 pginas.nio Callado, Rubem Fonseca, OdeteMovimento circulou entre 1975 e Lara e Gluber Rocha, entre outros, evi-1981 e foi considerado o jornal da luta taram. O Pasquim sobreviveu at 1991. Jornal da ABI 369 Agosto de 2011 5 6. ESPECIAL A IMPRENSA QUE NO PERDEU A CAPACIDADE DE SE INDIGNARPas se encontra em meio s discusses sobreA BUSCA DA MEMRIA CHEGA ITLIA a formao de sua Comisso da Verdade, r-go que j existe em outras 40 naes e que,por aqui, deve ser responsvel pela inves-tigao da violao dos direitos humanosAt bem pouco tempo o maior acervodestina o grande inimigo da Ptria. Paraas tentativas frustradas, um acordo com o justamente durante a ditadura. sobre a imprensa alternativa no Brasil es- sufoc-la e acabar de vez com suas publi- Cedem da Unesp permitiu que o precio- Esse o mal das transies pelo alto, tava no Rio de Janeiro. O Arquivo da caes, alm da censura prvia e da prisoso acervo voltasse ao Brasil. Agora, a Uni- negociadas e que permitem injustias. O Cidade do Rio de Janeiro conta com cer-de suas lideranas, lanaram mo de ou- versidade, que se tornou depositria de Brasil uma nao que teve nas ltimas ca de 800 ttulos e colees parciais ou tros expedientes. Primeiro, combatendotudo, conta com o patrocnio do Gover-dcadas um crescimento exponencial de completas. So jornais e revistas tanto de seus financiadores. Depois, promovendono Federal e faz um minucioso processosua populao e, por causa disso, tem difi- esquerda, como o Versus, quanto de direi-devassas fiscais nos veculos legalizados.de restaurao, catalogao, digitalizao, culdade em preservar sua memria ou ta, como O Expresso, publicao financi- Por fim, sendo conivente com uma srienova microfilmagem e disponibilizamesmo instalar a Comisso da Verdade. ada por empresrios paulistas nos anos de atentados a bancas de jornais, que fi- tudo para consulta de pesquisadores. NoDiferente de outras naes latinas, como 1970. Coleo herdada do antigo Centro zeram que os jornaleiros no mais quises- pouca coisa. So mais de 2 mil ttulos de o Uruguai, que h tempos tem seus 3 mi- de Imprensa Alternativa, criado ainda na sem vender esse tipo de publicao. publicaes, o maior acervo do gnero nolhes de habitantes e est conseguindo dcada de 1980, e que sobreviveu at a en- O aperto do cerco tambm colocou em Pas. Nem todas so alternativas e muitopassar a limpo sua Histria. Recentemen- chentes. Ainda assim, de todos os pero- risco acervos como o do Instituto Astrojil- menos do perodo militar. Algumas da- te, seu Congresso anulou a Lei de Anistia dos, o mais incompleto continua sendo odo Pereira, j naquele tempo um dos maistam do final do sculo XIX. Por isso, a recproca, que beneficiava tambm crimi- mais significativo, que vai do golpe mili- completos centros de documentos da im-equipe do Instituto Vladimir Herzog nosos civis e militares da ditadura. Estamos tar anistia. prensa alternativa e clandestina. Com a aju-prefere cham-los de oprimidos. Junto no caminho, mas preciso incentivar a so-Naquele tempo, ser pego com mate-da do amigo Maurcio Martins de Melo ecom elas, uma infinidade de cartas, ma- ciedade e reabrir investigaes, pois cor- rial subversivo era certeza de priso e tor- outros contatos no Brasil, Del Roio come- nuscritos, fotos, cartazes e materiais da pos e documentos continuam desapareci- tura. Ningum arriscava guardar , expli-ou a levar todo o material secretamenteInternacional Comunista sobre o Brasil. dos, opina Vladimir Sacchetta, Editor de ca a Diretora Beatriz Kushnir. Dificulda-para o exterior. Mas onde deix-lo? A prin-Dos tempos da ditadura militar, foiPesquisa do Resistir Preciso. Quando fa- de que no s de sua instituio. A pr- cpio, a idia era usar contatos para levar possvel salvar cerca de 120 ttulos. Mes-miliares recebem autorizao para pesqui- pria Biblioteca Nacional tambm tem pou- tudo para algum pas comunista. No entan- mo assim, muita coisa se perdeu, princi-sar nos arquivos da ditadura, devemos co- qussimos exemplares. Como se estima to, o temor de futuras dificuldades para res- palmente publicaes apreendidas ou memorar. Mas no esquecer de que, alm que pelo menos 150 ttulos tenham sido gatar os arquivos fizeram que optassem porclandestinas. Com exceo de A Voz Ope- da autorizao, eles devem ter uma ajuda criados e fechados durante o regime mi-deixar as publicaes na Europa Ocidental.rria, do PCB, e A Classe Operria, do PC de custo para passar o tempo que for neces- litar, quando os dirigentes do Instituto E entre Milo e Amsterd, a escolhida foi do B, o restante eram ttulos de que rara-srio vasculhando documentos em Bras- Vladimir Herzog se reuniram na casa do a cidade italiana, onde funciona a Funda- mente saam mais que uns poucos nme- lia, completa. jornalista Fernando Pacheco Jordo parao Giangiacomo Feltrinelli, que passou a ros. Outro problema que faltam nme-Outro dos objetivos do Resistir Pre- dar incio ao projeto de recuperar a me- guardar o acervo. ros de algumas colees. Mas reparar essesciso despertar a conscincia da socieda- mria daqueles tempos por meio dessa Em pouco tempo, mais material foi che-estragos outro dos alvos do projeto Re- de para esses fatos. Assim, a srie de vde- imprensa e perceberam que estavam di-gando. Melo e Del Roio criaram o Arqui- sistir Preciso. os dos Protagonistas desta Histria um ante de um dilema. vo Histrico do Movimento Operrio Estamos iniciando uma vasta pesqui- passo numa longa caminhada. O prxi-O fato de no termos esse material Brasileiro e o enriqueceram com os ma-sa nacional, em arquivos pblicos e nomo produto a ser lanado, ainda no ms foi decisivo para os 30 anos de atraso, teriais que tinham em suas mos e com material das foras gerais da represso,de outubro, aniversrio da morte de Vla- aponta Ivo Herzog. A soluo s foi en-outras colees, como a do tambm mi- como o do Dops, por exemplo, para ten-dimir Herzog, um livro em formato contrada quando Srgio Gomes, veterano litante comunista Roberto Morena. Ta- tar preencher o que falta. Tambm vamos tablide, de 200 pginas, com as princi- da imprensa trabalhista dos anos 1970, refa feita, literalmente, via Varig. Princi-iniciar uma campanha institucional para pais capas de jornais alternativos e clan- apresentou ao grupo Jos Luiz Del Roio.pal companhia brasileira a operar vospedir s famlias dos militantes que doem destinos e devidas explicaes sobre cada Militante comunista e responsvel pelo internacionais na poca, era o meio peloou emprestem o que tiverem, acrescen-uma. Ainda este ano, uma exposio deve departamento de imprensa do Partido naqual conseguiam transportar boa parte ta Del Roio. Uma misso difcil, mas nocomear a percorrer os diversos Centros dcada de 1960, Del Roio participou ati- dos impressos.impossvel. Ainda mais para quem temCulturais do Banco do Brasil, espalhados vamente da criao da ALN. J exilado, Fazia amizade com funcionrios dauma experincia de 34 anos na rea. pelo Pas. colaborou com a imprensa no Peru, no companhia na Itlia e eles me indicavam Tambm j est programada a realiza- Chile e, finalmente, na Itlia, onde foi pilotos que tinham inclinaes polticasUMA NOVA HISTRIA o de dez documentrios sobre a im- radialista por duas dcadas e chegou a ser mais esquerda e que topassem nos ajudarCoincidncia ou no, o fato que o Re-prensa perseguida para a televiso, que senador. Em meio a tantas atividades foi a coletar os materiais, lembra Del Roio. sistir Preciso lanado em um momen- sero exibidos pela TV Brasil e pela Cul- sua a iniciativa de montar uma verdadeiraEm 1979, veio a anistia, mas Del Roio to que o Brasil tenta reescrever sua hist- tura. Aprovado pela Ancine, o projeto operao de guerra para salvar os arquivos resolveu ficar mais tempo no Velho Mun- ria recente. H forte presso interna e ex- est em fase de captao de recursos. Por da imprensa clandestina e alternativado. Soltou cartas circulares e comeou aterna para que a Presidente Dilma Rous- fim, outros livros devem sair. Um com a brasileira durante os anos de chumbo.fazer campanhas pblicas para que exila-seff revogue a parte da Lei da Anistia de reproduo de cartazes, folders e docu-Como atuei fazendo a ponte no exte-dos e outras pessoas que tivessem docu- 1979 que protege torturadores e autores dementos que contam a denncia dos cri- rior para muitas organizaes de esquerdamentos, cartazes e publicaes brasilei-crimes como execues, seqestros e estu- mes da ditadura militar brasileira no ex- brasileiras, era natural que recebesse suasras ou feitas por brasileiros no exterior pros. Em outra frente, o Senado discute terior, resgatando as atividades de milha- publicaes. No jogava nada fora e fuipudessem do-las. Dois anos depois, mi- nova lei que trata do sigilo de documentosres de exilados e das redes que lhes davam colecionando, conta Del Roio. Em 1975,crofilmou tudo procedimento que ga- oficiais. Modificaes feitas na Cmara apoio em pases como Estados Unidos, aps a crise provocada pela morte de Vla-rante uma vida til de mais 500 anos aosdos Deputados impuseram um perodoSucia, Frana e os da Amrica Latina que dimir Herzog nos pores da ditadura, papis e guardou uma cpia num cofremximo de 50 anos para que um documen-no estavam debaixo dos coturnos mili- apenas isso j no era suficiente. A partirforte. A ditadura se aproximava do fim, to possa permanecer em sigilo, prazo quetares. Prova de que, mesmo depois de mais da e at o fim da censura, os militares agonizava, mas ainda inspirava cuidados.muitos consideram excessivo. Diante de trs dcadas da anistia, ainda preci- elegeram a imprensa alternativa e clan-No fim dos anos 1990, depois de vri- desses debates, no d para esquecer que oso lutar.6Jornal da ABI 369 Agosto de 2011 7. interessados. As matrias ocupavam DEPOIMENTOS EMOCIONADOS F OTOS N IVALDO H ONRIO DA S ILVAum quarto de pgina, para que ojornal pudesse ser dobrado e lido nonibus. Uma criao fantstica doReynaldo Jardim e que contou comum forte apoio: a msica do CaetanoTodos os depoimentos colhidos para o projeto Resistir Preciso foram carregadosVeloso. Ele diz que foi coincidncia de emoo e relatam lembranas de luta e oposio a um regime que no tinha respei-falar sobre o Sol nas bancas derevista, mas usamos a cano. Alm to pelo cidado e pela diferena de idias. A seguir alguns trechos: do mais, ele namorou e casou comuma de nossas reprteres. Foi ali queme tornei craque em dar ttulos,ZIRALDO ALVES PINTO acordo de suma importncia com o Le fazendo as chamadas da primeiraPINTOR, CARICATURISTA, CHARGISTA, ESCRITOR, Monde. O material internacional nem pgina. E tambm em cobrar, mesmoJORNALISTA, CARTAZISTA E TEATRLOGO. FOI UM sempre era to importante, mas dava quando nossos reprteres iam sDOS FUNDADORES DO PASQUIM.peso ao Opinio. No queramos sermanifestaes e ficavam participando A tenso com os censores eravistos como um bando de garotos, s delas. Uma vez, houve uma rebelioconstante. Mandvamos trs, quatropara tomar porrada da ditadura. Uma em Volta Redonda e os operriosnmeros do Pasquim de uma vez vez, eu mesmo levei o jornal para a foram confinados. Disfarado, umpara a Delegacia Poltica, com coisas sede da Polcia Federal. Quando volteicom o Eduardo Galeano e um olharreprter conseguiu entrar. Mas s saiumais complicadas, na esperana de para peg-lo, estava todo cortado. Nopara a Amrica Latina. Era o suficiente preso. Quando voltou, contou a saga,que cortassem essas e deixassem dava para fazer nada com o quepara fazer um jornal revolucionrio mas no teve jeito. Precisvamospassar o que de fato queramos. Mas voltou. Eles no queriam evitar que que funcionaria como uma elipse,fechar e ele teve que escrever asempre procurvamos aliviar o clima.publicssemos algumas coisas. uma parbola. Falvamos da Amricamatria em 20 minutos.Certa vez, eram trs professoras queQueriam destruir o projeto. O major,Latina, da morte de um ndio no Peru,nos censuravam. Estava na Itlia einclusive, aconselhou-me: Desistam mas estvamos nos referindomandei um carto para elas, com a e vo para a clandestinidade. Assim,tambm ao brasileiro. A represso noesttua David, do Michelangelo, defaro o que querem. No aceitei e fuiincomodou por muito tempo, poiscostas, s aparecendo a bunda.buscar mais material na Redao paracombatiam apenas ataques diretos.Mandei assim, porque se mandar deeles. No iramos disputar no campo Quando compreenderam nossafrente, capaz de vocs mandarem de jogo deles, onde no tnhamosestratgia, passaram a conspirarcortar o pinto, escrevi, brincando.qualquer chance.DCIO NITRINI E MYLTAINHOabertamente contra o Versus.Uma exceo foi um general-censor Tnhamos um amigo infiltrado naque nos protegia. Ficava na praia e o RAIMUNDO RODRIGUES PEREIRAtinha convidado vrios Chefes deReceita Federal e ele nos avisou paraIvan Lessa levava o jornal para ele l. EDITOR DA REVISTA MENSAL RETRATO DO BRASIL, Estado. Como era de praxe, umaque nos preparssemos: eles fariamS cortava piadas que no gostava.FOI UM DOS PRINCIPAIS NOMES DA IMPRENSA equipe vinha antes dos Estadosuma devassa no jornal, procurandoEssa, Ivan, vou censurar. Est uma ALTERNATIVA DURANTE A DITADURA MILITAR. Unidos, para checar todas asregistros e livros contbeis. Disse quebosta, sem graa. Vou mandar umaFUNDOU E EDITOU OPINIO E DEPOIS CRIOU Econdies. E pegou o Ex- nas bancas.poderia segurar por 30 dias aquilo,anedota que eu tenho para vocs. DIRIGIU MOVIMENTO.Eu, o Srgio e o Narciso Kalili fomos no mais. Bateu o pnico. Masbem melhor, dizia ele. Hoje, d para Imprensa e democracia sopresos por desrespeito a Chefe de produzimos os livros. Bem, eramrir. Mas naquele tempo precisava serinseparveis. No possvel ter um Estado de nao amiga, algo que nem exerccios de fico contbil, mas tudocorajoso. Mas no acho que fomosregime avanado socialmente sem existia na Lei de Segurana Nacional.bem. Quando os agentes chegaram,heris. Era da natureza da profisso. pessoas bem informadas. Que ficaram surpresos. Mas na madrugadaEstvamos conscientes de que noparticipem de forma mais consciente.MYLTON SEVERIANO (MYLTAINHO)do mesmo dia que foram l,podamos fazer apenas cartuns.Esse pensamento foi a molaTRABALHOU EM IMPORTANTES JORNAIS E REVISTAS desconhecidos invadiram eVivamos um momento histrico. Atpropulsora da criao dos jornais DE SO PAULO E EM EMISSORAS DE TELEVISO. depredaram nossa Redao. DeixaramTHEREZINHA ZERBINIhoje, conheo pessoas que seOpinio e Movimento. OpinioFEZ PARTE DA EQUIPE DOS ALTERNATIVOS Oo recado, pichado na parede: ForaADVOGADA, FUNDOU O MOVIMENTO FEMININOarrependem por passar esse perodochegou a ser o segundo semanrioBONDINHO E EX-, E ATUALMENTE ESCREVE UM comunistas. E roubaram aqueles PELA ANISTIA E O JORNAL BRASIL MULHER PARAsem tentar o enfrentamento.do Brasil, concorrendo com a revistaLIVRO SOBRE A REVISTA REALIDADE.livros. Tudo muito estranho. At hoje SER O PORTA-VOZ DESSE MOVIMENTO.Veja. Seu maior capital era humano. Naquele tempo fizemos vrias me pergunto se toda a aventura queNo fui contra a luta feminista noTnhamos correspondentespublicaes alternativas. O Grilo era vivemos foi sonho ou realidade.jornal. Mas naquele momento, emestrangeiros como o Paulo Francis e uma revistona em quadrinhos,que a causa era maior e precisvamosintelectuais de peso como Fernandoformato tablide, que abriu espaoANA ARRUDA CALLADOvencer um inimigo maior, a ditadura,Henrique Cardoso, Celso Furtado e para os melhores artistas e cartunistas PRIMEIRA MULHER A OCUPAR O CARGO DE CHEFE precisvamos de unio. Um povoAntonio Cndido. J Movimento da poca. Um sonho, j que noDE REPORTAGEM EM UM GRANDE JORNAL DIRIO: O brigava para se libertar. Por isso,surgiu a partir de uma frente muito tinham mais espao na grandeDIRIO CARIOCA. EM O SOL FOI EDITORA-CHEFE. usamos para o nome de um jornal,ampla. E soube aproveitar muito bem imprensa. J o Bondinho nasceuFazer uma escola, uma faculdade, Maria Quitria. Queramos provocaras disputas pelo poder dentro docomo revista de servios, para sercom um jornal de verdade, que os milicos e eles no podiam fazermeio militar. A dissidncia dadistribuda dentro das lojas do Po deformasse jornalistas. Essa era anada. Ela foi uma guerrilheira, mas dasrepresso, aqueles que eram contra aAcar. Mas deu to certo que, um proposta de O Sol. Quando tropas nacionais. Sabia que lidava comcandidatura do Figueiredo, comeou aano depois, ao fim do contrato, houve divulgamos essa idia na Rdiogente poderosa. Em 1970, quandonos passar informaes, escndalos euma assemblia com todo mundo Nacional, em 1967, houve muitos voltava de Campos do Jordo,denncias. Um absurdo. As duasque fazia a revista e a ala esquerdaestudantes universitrios almoava com meu marido, o Generalpublicaes fizeram histria edo grupo aprovou que fosse para as Euryclides Zerbini,originaram muitas outras, como o Em bancas. Virou uma revista de cassado aps o golpe,Tempo, o Amanh, a Hora do Povo.contracultura. Em toda essa trajetria,e com minha filha. AsSobretudo o Movimento era muito o momento de maior emoo se deu foras de repressoquerido. Numa ocasio, a nata dadepois da morte do Vladimir Herzog.entraram em casa deMPB Chico, Elis Regina e Joo Mas havia tambm muito medo, metralhadoras nasBosco, entre outros fizeram umpavor at. Quando surgiu a notcia demos, para me levar.TONICO FERREIRA show no Corinthians, em apoio que faramos reportagem investigando Meu marido chegou aJORNALISTA DA TV GLOBO, COMEOU A CARREIRApublicao. Quando o jornal fechou, o que aconteceu, choveu voluntriosdiscutir e questionar oQUANDO ESTUDAVA ARQUITETURA, NA FACULDADE todo mundo chorou. para ajudar, muitos de fora do nosso que era aquilo. O outroDE ARQUITETURA E URBANISMO-FAU DA jornal. Mas ao sair a matria, a reaooficial disse que eramUNIVERSIDADE DE SO PAULO. EM 1972, DCIO NITRINI foi outra: pais vinham pessoalmentecoisas que no eramTRABALHOU NA REVISTA REALIDADE; DEPOISDIRETOR DE JORNALISMO DA TV GAZETA, cancelar a ficha de assinatura dado tempo dele. AcalmeiCRIOU OS JORNAIS OPINIO E MOVIMENTO. PARTICIPOU DAS PUBLICAES O GRILO E EX- Erevista que os filhos haviam feito.os nimos, convidando-ramos um grupo de jornalistas aquiFOI O ORGANIZADOR DA COLEO FAC-SIMILAR DO Faziam questo no apenas de os para sentar emem So Paulo, principalmente da JORNAL LANADA PELA IMPRENSA OFICIAL. cancelar, mas de pegar a ficha e nossa sala, tomar umEditora Abril, que estava tentandoO Jornalivro surgiu como idia dopicotar. Tudo por causa do medo de cafezinho, comeralguma coisa. Ganhvamos bem, mas Srgio de Souza e era um livroserem associados com a subverso. bolinhos e brincar comno estvamos satisfeitos. Ento, impresso como jornal. E melhor:o cachorro. Enquantocomeamos a nos reunir na casa do como dizia o slogan, a preo de OMAR DE BARROS FILHO (MATICO)isso, eu subi para meRaimundo Pereira e fazer projetos. Um banana. Depois fizemos O Grilo e oJORNALISTA, CINEASTA E EDITOR DO SITE VIDA arrumar e acompanh-deles se chamou Assunto, j tnhamosEx-. Foi a que aconteceu um dosPOLTICA. DIRIGIU, AO LADO DE MARCOS FAERMAN,los. Se fosse eu nomomentos inesquecveis do jornal. O JORNAL VERSUS. lugar deles no teriaat boneco. Mas s deu certomesmo com a ponte que o FernandoEm janeiro de 1974, demos comoO Versus foi um jornal que nasceu deixado. Do jeito queGasparian, que estava em Londres, capa uma fotomontagem que da cabea de um reprter. No fim deeu era meio louca,fez com o pessoal l de fora, comomostrava o Nixon vestido de 1974, comeo de 1975, Marcos poderia ter tentadoBernardo Kucinski. Conseguimos um presidirio. Geisel ia tomar posse eFaerman sai do Ex- e leva o contatoalguma coisa.Jornal da ABI 369 Agosto de 2011 7 8. ESPECIAL A IMPRENSA QUE NO PERDEU A CAPACIDADE DE SE INDIGNAR RICARDO MARANHOchamado Lula ajudou-nos, j em 1977.reescrevia e repassava ao dirigente PROFESSOR DE GASTRONOMIA NA UNIVERSIDADEEle chamou o Laerte para fazer um para revisarem. Nunca soube onde ANHEMBI-MORUMBI. FOI UM DOS FUNDADOREStrabalho para o Sindicato dos era a grfica. Mesmo assim, certa vez, DO JORNAL ESTUDANTIL AMANH.Metalrgicos. Queria jornais diferentes,pedi documentos falsos para mim e Naquele tempo, ningum entrevistavaum para cada fbrica, com astoda a famlia. Eles iam a uma garagem o Leonel Brizola. Mas ns, do Amanh, necessidades especficas. Mas uma de nibus, diziam que tinham perdido resolvemos que faramos. Eu e uma revista qualificada para todas. Quemdocumento na linha e o fiscal deixava moa, foca do jornal, fomos disse que operrios no so entrar na cabine e procurar vontade.RUTH LEAL TEGON E MARCO ANTNIO MOURO designados para a misso. Como noconscientes e politizados? A era s encontrar algum com o tnhamos dinheiro, fomos de caronamesmo perfil e idade. Fiquei uns oito ponto de encontro, pontualmente?verde?. Como dizer a eles que eram at o Uruguai. Brizola estava isolado FRANKLIN DE SOUZA MARTINS anos com a famlia nessaDeixava para l e ia embora. os hematomas e sinais da tortura? num apartamento em Atlntida, JORNALISTA E SOCILOGO, TRABALHOU NA REDE clandestinidade, fazendo jornais para cidadezinha balneria perto de Colnia. GLOBO, BANDEIRANTES E FOI MINISTRO DA o PCdoB e outros.MARIA AMLIA DE ALMEIDA TELES CRIMIA DE ALMEIDA E vigiado pela Polcia Federal brasileira COMUNICAO SOCIAL DO GOVERNO LULA. (AMELINHA)DIRIGE UMA ORGANIZAO NO-GOVERNAMENTAL e pela polcia uruguaia. Mas ningumMILITOU EM ORGANIZAES COMO MR-8 E CESAR AUGUSTO TELES INTEGRANTE DA COMISSO DE FAMILIARES DE QUE SE DEDICA BUSCA DE DESAPARECIDOS mais estava com saco para aquilo. ALIANA LIBERTADORA NACIONAL-ALN E FOIMILITANTE DO PCDOB, COMANDOU A GRFICAMORTOS E DESAPARECIDOS POLTICOS. AO LADO POLTICOS. FOI UMA DAS PRIMEIRAS MILITANTES DA Todos estavam cheios daquela rotina e MENTOR DO SEQESTRO DO EMBAIXADOR NORTE-QUE IMPRIMIA A CLASSE OPERRIA, PRIMEIRO NO DO MARIDO, CSAR, E DA IRM, CRIMIA, FOI PRESA GUERRILHA DO ARAGUAIA E MUDOU-SE PARA SO a viglia estava meio bagunada. Em AMERICANO CHARLES B. ELBRICK. RIO, DEPOIS EM SO PAULO. PRESO PELO DOI- NA DCADA DE 1970 POR CAUSA DE SUA INTENSAPAULO EM MISSO, PARA MORAR COM A IRM meio a um desses desencontros,Fala-se muito no seqestro doCODI, AO LADO DA MULHER E DA CUNHADA, FOI PARTICIPAO NA IMPRENSA COMUNISTA CLANDESTINA. AMELINHA E O CUNHADO CSAR, RESPONSVEIS subimos at o apartamento. O homemembaixador norte-americano, mas CONDENADO A CINCO ANOS DE PRISO. No podamos militar mais do que PELA GRFICA CLANDESTINA DO PCDOB. SEU falava loucamente, coisa que no faziapenso que conseguimos tambmQuem dava suporte s atividades da trs anos em atividades de imprensa.FILHO, JOO, NASCEU NA PRISO. h tempos. Ao lado dele, um ex- uma vitria contra a censura. Com a Guerrilha do Araguaia, no campo, era aSe no haveria prejuzo mental e fsico.Estava morando h pouco tempo em deputado, cassado depois do golpe,leitura do manifesto, pela primeira vez cidade. Ns por exemplo, fazamos A Por causa do estresse e presso So Paulo. Recebi uma misso do acompanhava tudo. De repente, a censura era quebrada, o primeiroClasse Operria e mantnhamos psicolgica e de respirar tinner da tinta partido e sa do Araguaia para fazer ouvimos trs tiros l fora. O ex- habeascorpus eficiente depois do AI-5.contato com o exterior. Tinha todos osem que eram impressos os jornais. contatos. A fomos presos pelos Doi- deputado se jogou no cho e saiuO problema foi na hora de assinar o endereos na Europa, para os quaisO Csar teve tuberculose por causaCodi. O policial me pegou pelos levantando uma arma. Brizolamanifesto. Que nome usar? A surgiu a mandava correspondncia, na disso. Em 1972, quando ele recebiacabelos e comeou a estapear meu permaneceu sereno. E eu e a menina, idia do MR-8, Movimentomemria, para que no cassem emalta do sanatrio, os policiais nos rosto. Estava grvida de sete meses. J apavorados. De repente, um homem, Revolucionrio 8 de Outubro, a data damos erradas. Todo cuidado eracercaram e comearam a gritar:na priso, o mdico oficial do Exrcito cara de capanga, entra por uma portamorte de Che Guevara. No ramospouco. Ia entregar um pacote de Terroristas! Terroristas!. Fomos presos se recusou a fazer meu parto. Por lateral, revlver em punho: Matei oguevarianos, mas esse era o nome de jornal? Levava numa sacola, com frutasno Doi-Codi. Quando nossos filhos conta de tudo o que tinha passado, Castelo Branco, matei o Castelo uma organizao do Rio que fora em cima. Qualquer coisa, tinha ido nos viram, perguntaram: Mame, estava com problema e lhe disse que Branco. Brizola pediu para o homem desbaratada pela Polcia algum tempofeira. E se o contato no estivesse noporque voc est azul e o papai,meu filho poderia morrer. O homem se acalmar. A ele contou: ouviu no antes. Usar o nome era uma forma de rdio a notcia de que o Presidente desmoralizar a Polcia Poltica, que se tinha morrido num acidente e estava vangloriava de ter desarticulado o comemorando. Em seguida,grupo. A ao foi bem sucedida, mas participamos de um senhor churrasco ali. A entrevista ficou sensacional, mas nunca foi publicada. Quando voltamos, o jornal foi fechado. nunca mais fui autorizado a entrar nos Estados Unidos. Ano passado, estive com o atual embaixador norte- americano e ele se ofereceu paraO COMEO DA QUEDA DA DITADURA arrumar as coisas. Mas disse que no Quando o Diretor de Jornalismo da TV Cultu- aceitaria se fosse s para mim e nora de So Paulo Vladimir Herzog, o Vlado, compa- para os outros. Apesar de no poder,receu ao Doi-Codi, no dia 25 de outubro de 1975, no quer dizer que no estive por l. julgava que daria seu depoimento e seria liberado Em 1976, estive em Nova York comem seguida. Mas isso no aconteceu. Depois de um passaporte falso. Ia ter um uma brutal sesso de espancamento, o jornalista congresso do MR-8 no Brasil e eu estava na Europa. Consegui umano resistiu: morreu na priso. Mesmo com enor- passagem de Bruxelas para Lima, nomes contradies, os militares insistiram na ver- Peru. Mas havia a conexo nos so de que Vlado se suicidara, enforcado com a pr- Estados Unidos. Cheguei no aeroportopria gravata. Foi o suficiente para gerar uma onda e logo fui abordado por dois caras. de protestos da imprensa em todo o mundo, mo- Achei que estivessem oferecendo txi, vimento que impulsionou fortemente a abertura hotel. Dispensei. Que nada, eram do brasileira, com o fim da censura e a aprovao da FBI. Perguntaram para onde estava anistia. Mas toda essa mobilizao s foi possvel indo, se tinha outros documentos. por conta da ao da imprensa alternativa no Brasil. Gelei. Tentei humanizar a situao, tirar Agora, trs dcadas depois, o projeto Resistir Pre- aquela aura de autoridade. Comecei a SERGIO GOMESfalar sobre mulheres. Alis, ia para l ciso ouviu jornalistas que viveram diretamente JORNALISTA, MILITANTE E DIRIGENTE DO PCB, para encontrar com uma peruanaaqueles dias de agitao e que contaram como a TRABALHOU EM GRANDES JORNAIS E FUNDOU maravilhosa, Dolores, e esperava notragdia foi enfrentada. PUBLICAES COMO A PRENSA, O BALO E VOZvoltar. No final, eles me desejaramNaquele tempo, eu morava em Ribeiro Pre- DA UNIDADE. INTEGROU A EQUIPE QUE CRIOU A sorte e que, realmente, no voltasseto e ia a p para o jornal. No caminho, havia uma OBOR, EMPRESA QUE ORGANIZOU QUASE 300mais, ficasse por l. Fiquei nos Estadosbanca e eu passava nela para lamber a cria, quer DEPARTAMENTOS DE IMPRENSA DE ENTIDADESUnidos por oito horas. dizer, folhear o jornal do dia, conta Jos Hamil- SINDICAIS DOS TRABALHADORES. ton Ribeiro. Mas nesse dia o que chamou a aten- Muita gente dizia que a imprensa CARLOS AZEVEDOo do premiado jornalista foi a manchete estam- JORNALISTA, TRABALHOU EM O ESTADO DE S.PAULO, ento Diretor de Cultura do Sindicato dos Jorna- legal, como a feita pelos centros QUATRO RODAS, REALIDADE E NO GLOBO RURAL. pada pela Folha da Tarde: Comunista se suicida na listas de So Paulo. acadmicos, no tinha valor. S valia a clandestina. Mas em 1972 fizemos um FEZ O JORNAL LIBERTAO, DA AP, A CLASSEpriso. O Vlado tinha se suicidado na priso? NoComo estopim do movimento e chamando jornal-mural chamado A Ponte, que OPERRIA, DO PCDOB, MOVIMENTO E, J podia acreditar naquilo. Liguei na hora para o Au-todos para as manifestaes, o Sindicato lanou reuniu 20 centros acadmicos da Usp.LEGALIZADO, TRIBUNA DA LUTA OPERRIA, dlio Dantas e ele pediu que eu viesse para So uma edio especial do jornal Unidade, com a capa A msica era a trilha musical da nossaTAMBM COMUNISTA. EST LANANDO O LIVRO Paulo. Larguei tudo e viajei no mesmo dia. Era um toda preta, uma pequena ilustrao embaixo, com atividade poltica. No caso, o nome doJORNAL MOVIMENTO, UMA REPORTAGEM. tempo de agitao e todo mundo esperava para gri- o nome Vlado ao lado, e a chamada: Nosso medo, jornal veio dos versos de uma msicaA militncia na Ao Popular no era tar, chorar, espernear, lembra.nossa coragem, nossa f. do Maurcio Tapajs e do Paulo Srgio fcil. Lembro que fomos distribuir A morte foi divulgada num sbado. No domin-Foi uma edio histrica. A grande imprensa Pinheiro, Pesadelo: Quando um muro jornais durante um 1 de Maio nago, o Sindicato dos Jornalistas de So Paulo rea- s deu a verso oficial, mas os jornais alternati- separa, uma ponte une. Mas nossa Praa da S e sa para buscar bolinha lizava uma assemblia informal, fazendo a pri-vos denunciaram a situao ao mundo. A ditadura grande escola foi o movimento de gude e uns tacos com pregos. meira denncia das prises arbitrrias que eram estava perdida, com sua farsa desmascarada e a po- operrio. No mesmo ano, a diretoria doNunca se sabia quando teria Sindicato dos Txteis nos chamou para enfrentamento. Ao voltar j estavapraticadas contra jornalistas e do assassinato de drido aparecendo. No tenho dvida de que foi fazer os materiais deles e lanar uma uma batalha e o palanque estava emVlado. Tudo isso era contrrio prpria Lei de Se-o ponto alto de nossa luta, afirma Audlio Dan- publicao. Mas o que fazer?chamas. Fazer os jornais tambm no gurana Nacional. Foi uma convocao histrica. tas, Presidente do Sindicato na poca. Descobrimos que as mulheres liamera simples. As reunies de pauta Recebemos muita colaborao espontnea e, a fotonovelas e tentamos ilustraes. Osaconteciam em cemitrios, bares,partir dali, mesmo com receio, o movimento cres-SERVIO www.resistirepreciso.org.br homens no compreenderam. No fim, campos de futebol e andando, na rua.ceu e culminou com o culto ecumnico da S, o ato Para solicitar a ntegra de qualquer um dos aprendemos a escrever com osAli um dirigente passava o que aque marcou o comeo da queda da ditadura, recor- depoimentos, envie um e-mail para ouvidos, aprendendo sem arrognciadireo queria, Eu distribua as pautas,da o tambm jornalista Fernando Pacheco Jordo, [email protected] com a realidade deles. Um caradava prazo, recebia de volta,8Jornal da ABI 369 Agosto de 2011 9. s respondeu: No tem importncia. POR DENTRO DE MOVIMENTOum comunista a menos. Foi terrvel.MARCO ANTNIO MOROADVOGADO, FOI PRESO EM 1964, 1968 E 1970,POR SUA MILITNCIA NO PCB. EXILADO NO CHILE,COM A DERRUBADA DO PRESIDENTE SALVADORALLENDE, FOI PARA BRUXELAS, BLGICA, COM OSLivro de Carlos Azevedo resgata a trajetria do jornal Movimento, um dos mais importantesFAMILIARES. EDITOU O CORREIO SINDICAL Eveculos da imprensa brasileira nos anos 1970. O semanrio sofreu nas mos da censura, masAJUDOU A FUNDAR A VOZ DA UNIDADE.tinha no jornalismo poltico independente sua estratgia de contestao da ditadura militar.Levvamos e trazamos cartas da priso.Tudo escrito em um pequenino pedaode papel, com bico de pena e suco deP OR P AULO CHICOlimo. Quem pegasse acharia que opapel estava em branco. Mas bastavapassar com ferro para o texto aparecer.NIVALDO HONRIO DA SILVAMesmo assim, para informar o pessoalAlgumas das leis da Fsica bem que Pelo Conselho de Redao passaramsobre as aes, dobrvamos ospodem ser aplicadas poltica. UmaAguinaldo Silva, Elifas Andreato, Ber-papeizinhos e colvamos com durex.Depois, levvamos embaixo da lngua. Jdelas a de que, para toda ao, h sem-nardo Kucinski, Fernando Peixoto,nossos jornais cumpriam outra funo: pre uma reao oposta e de igual inten-Murilo de Carvalho, alm do Presiden-no informar, mas orientar a militncia. sidade. A mxima de Isaac Newton te da ABI, Maurcio Azdo, entre ou-ajuda a entender a trajetria do jornaltros. Entre os colaboradores, muitos seRUTH LEAL TEGON Movimento que, lanado em pleno 1975,tornaram importantes personalidadesJORNALISTA. EXILOU-SE GRVIDA DO TERCEIRO FILHO tinha a clara misso de ser uma respos-polticas, como Fernando Pimentel,NO CHILE E L FICOU AT A QUEDA DE ALLENDE.ta contundente ao regime totalitrio Aldo Rebelo, Tarso Genro, CandidoCOM O GOLPE, EM SETEMBRO DE 1973, ABRIGOU-instaurado no Brasil desde 1964. O Vaccarezza e Nilmario Miranda.SE COM A FAMLIA NA EMBAIXADA DO PANAM E DEL FOI PARA A BLGICA. NO BRASIL, AJUDOU Apapel dessa publicao, um dos smbo-Carlos Azevedo destaca ainda a equi-FUNDAR O JORNAL VOZ DA UNIDADE, NO QUALlos mximos da combativa imprensape fixa da publicao. Um dos princi-ATUOU COMO SECRETRIA DE REDAO. alternativa do Pas dos anos 1970, pais construtores do jornal foi Raimun-No Chile, tnhamos um mimegrafo,agora desvendado pelo livro Jornal do Rodrigues Pereira, formulador doque guardvamos num quartinho daMovimento, Uma Reportagem. De Car- projeto e lder da turma. Um grande ta-caldeira, adjacente a nosso los Azevedo e com reportagens de lento jornalstico, corajoso e ousado,apartamento. Certo dia, uma vizinha,Marina Amaral e Natlia Viana, a obra, de persistncia tenaz. Houve o Sergioque tinha um parente militar, avisoupublicada pela Manifesto Editora,Mota, que veio a ser Ministro no Go-que nossa rua seria passada emtem lanamento oficial em setembro.verno FHC. Ele foi o gnio administra-revista. Havia denncias de que ali A proposta do jornal era fazer jor- tivo, o formulador do projeto de susten-funcionava uma imprensa clandestina.nalismo poltico com independncia tao econmica da editora que fez oDestrumos o material que estava eme sem autocensura. A censura era pro-jornal, e a administrou do primeiro aocasa, menos o mimegrafo, e antesdo toque de queda o recolher delesblema da ditadura. Ele foi pesadamen-ltimo dia. O Tonico Ferreira, repr- deixamos as crianas com vizinhos e te censurado ao longo de trs anos, de ter da TV Globo, como jornalista res-samos, para no dormir em casa.1975 a 1978, at que a censura recuou. ponsvel, chegou a ser processado pelaDepois, descobrimos que a tal Movimento tinha um programa editori- Lei de Segurana Nacional; Duarte Pa-imprensa clandestina era de outro al explcito, assumido desde o nmerocheco Pereira, jornalista e militante po-apartamento, vinculada ao Partido zero. Defendia as liberdades democr-ltico, que deu contribuio na formu-Socialista chileno.ticas e o fim dos atos de exceo e atu- lao das idias e propostas polticas doava em defesa dos direitos dos trabalha-Carlos Azevedo: Movimento lanou a bandeira jornal, atravs de seus Ensaios Popu-FERNANDO MORAIS dores do campo e da cidade, dos interes-da Assemblia Nacional Constituinte e props a lares; Chico Pinto, o ex-Deputado cas-COMEOU CEDO NO JORNALISMO E PASSOU POR VEJA,JORNAL DA TARDE, FOLHA DE S.PAULO, TV CULTURAses nacionais, contra a explorao do formao de uma ampla frente para unir todas assado pela ditadura, que era o diretor daE PORTAL IG. FOI DEPUTADO ESTADUAL POR OITO capital estrangeiro, e pregava a preser-foras polticas que se opunham ditadura militar. sucursal de Braslia. Ao lado destes,ANOS E SECRETRIO DE CULTURA (1988 A 1991) Evao do meio ambiente e dos recursosmais de uma centena de jornalistas eDE EDUCAO (1991 A 1993) DO ESTADO DE SOnaturais. O jornal foi pioneiro em lanar a mais importantes eram feitas nas bancas intelectuais que se pode ver pelo expedi-PAULO. SUAS BIOGRAFIAS, COMO OLGA E CHAT, Ebandeira da Assemblia Nacional Constitu- de jornais, podendo chegar a 20 mil por ente, transcrito no livro.LIVROS-REPORTAGEM, COMO O RECM-LANADO OSinte, que transformou em campanha perma-edio. E havia a venda direta, feita maci- No faltaram motivaes profissionaisLTIMOS SOLDADOS DA GUERRA FRIA, J VENDERAMnente. Tambm desenvolveu a campanhaamente por estudantes e jovens trabalha- e pessoais para que Carlos Azevedo se de-MAIS DE 2 MILHES DE EXEMPLARES.pela Anistia geral e irrestrita e props a for- dores. Havia vendas especiais aproveitan- dicasse produo do livro, que acompa-Na Redao, tnhamos um censor mao de uma ampla frente democrtica e do eventos como as reunies da Sociedadenhado de um dvd onde esto gravadas to-bastante jovem, com uns 35 ou 40popular para unir todas as foras polticas Brasileira para o Progresso da Cincia. O das as 334 edies do jornal, alm das edi-anos. Claro, no era desculpa para dizerdo Pas que se opunham ditadura militar, Movimento foi muito prejudicado pela cen- es especiais. Sempre achei que faziaque no sabia o que estava fazendo.Na hora do fechamento, era colocada conta Carlos Azevedo.sura. Diversas edies, mesmofalta um registro da histria do jornal, deuma mesa para ele ficar vendo o O vis poltico da publica-censuradas, acabaram sendo sua trajetria e importncia naquele mo-material e o pessoal todo na correria.o semanal era to evidente apreendidas. Quando a censu- mento histrico. Cheguei a fazer um pro-Foi numa dessas oportunidades que que at mesmo sua viabiliza- ra recuou, setores militares jeto para realiz-lo em 2003, mas proble-um dos colegas comeou a assobiar a o econmica e sua sustenta-adotaram o terrorismo para mas pessoais me levaram a desistir. EmInternacional Comunista. Logo,o administrativa foram combater o jornal, bombarde- 2008, a Editora Manifesto obteve condi-estvamos todos na mesma melodia. peculiares. Fatores sem os ando as bancas que o vendi-es materiais pela Lei Rouanet e me con-S vimos quando o censor pediuquais dificilmente o jornalam, assim como outros jornaisvidou para fazer o livro, junto com umalicena para sair e ir ao banheiro ou teria conseguido seguir umaalternativos. Como o ponto pequena equipe. Durante a existncia decomer alguma coisa. Foi constrangedor.linha to contestadora. Movi-forte eram as vendas em ban- Movimento eu estava na clandestinidadePara ele, naturalmente. Ainda assim,no tanto quanto aquele que foi omento foi um caso raro de im-ca, foi um golpe brutal, que por pertencer resistncia ditadura.ltimo ataque da ditadura contra aprensa independente, dirigi- precipitou seu fechamento,Mesmo assim, consegui dar alguma cola-liberdade de imprensa. Aconteceuda pelos prprios jornalistascontextualiza Carlos Azeve-borao como jornalista. Publiquei uma s-quando eu era deputado estadual, em que o faziam, sem a figura cls- do, jornalista com passagens rie de artigos, a maioria sob pseudnimos,1978. Costumo dizer que a ditadura erasica de um patro-empresrio. Escolheu-se por veculos como O Estado de S.Paulo,recorda o jornalista, para quem, mesmo queherbvora na poca, mas ainda mordia. o formato de uma empresa de sociedade Quatro Rodas, Caros Amigos e Realidade, e num Pas hoje liberto das amarras do auto-Descobrimos que o Centro de annima. E o jornal se concretizou porautor do livro Cicatrizes de Reportagem,ritarismo, faz falta a presena de publica-Informaes do Exrcito preparava ummeio de uma mobilizao feita em todo Pas, lanado pela Editora Papagaio em 2007.es de perfil contestador.ataque unificado entre rgos comoe a venda de aes a apoiadores, chegandoMovimento foi um jornal sustentado Sempre h espao para publicaesReceita Federal, INPS e outrasao nmero de 500 acionistas entre jorna-pelo movimento democrtico e popularindependentes, que busquem informar oinstncias de fiscalizao para acabar devez com a imprensa alternativa. Eralistas, intelectuais, profissionais especiali-que se opunha ditadura. Do Conselho leitor honestamente, dando condies uma forma de atacar sem parecer zados, professores e estudantes.Editorial fizeram parte nomes como Chi- sua formao como cidado e participan-censura. Divulgamos, denunciamos. Movimento circulou de julho de 1975 aco Buarque, Fernando Henrique Cardoso,te consciente da sociedade. S assim pode-Todo mundo deu e tiveram quenovembro de 1981. O jornal tinha em m- Alencar Furtado, Edgar Mata Machado,remos ampliar a democracia no rumo desuspender a vergonhosa operao. dia cinco mil assinantes, mas suas vendas Hermilo Borba Filho e Orlando Villas Boas.uma sociedade mais justa, sentencia. Jornal da ABI 369 Agosto de 2011 9 10. RESISTNCIASem temer Buzaid, Lygia denuncioua tortura no auge da ditadura MdiciNum dos captulos do seu clssico As Meninas, a autora de Ciranda de Pedra reproduziu em 1973 o depoimento de uma das vtimas de sevcias nas masmorras do Doi-Codi de So Paulo.Sem se intimidar com o currculo do Iniciou-se ali um cerimonial freqente- enegrecidas devido s queimaduras el- rodo da ditadura militar, Doi-Codi. Devidonovo Ministro da Justia, que pertenceramente repetido e que durava de trs a tricas. importncia do assunto que Voc tem re- cpula da Ao Integralista Brasileira, seis horas cada sesso. Primeiro me per- E etecetera, etecetera. petido na sua bela revista, aproveito a oca-movimento de carter fascista de Plnio guntaram se eu pertencia a algum gru-Dobro a folha. Madre Alix me encara.sio para lhe enviar o meu romance As Me-Salgado, e marcaria a sua passagem pelo po poltico. Neguei. Enrolaram entoOs olhos cinzentos tm uma expresso ninas, que vai com o meu afetuoso abrao.cargo com a oficializao da censuraalguns fios em redor dos meus dedos, ini- afvel.(a) Lygia, S. Paulo, 8.8.11.prvia a jornais, livros, criaes musicais ciando-se a tortura eltrica: deram-me Conheo isso, filha. Esse moo cha-e filmes, a escritora Lygia choques inicialmente fra- ma-se Bernardo. Tenho estado muitoFagundes Telles destacou- cos que foram se tornando com a me dele, fomos juntasse na dcada de 1970 como cada vez mais fortes. De- falar com o Cardeal.uma das mais corajosas mi-pois, obrigaram-me a tirar a ...litantes da resistncia di- roupa, fiquei nu e desprote- Lygia Fagundes Telles en-tadura militar, embora semgido. Primeiro me bateram caminhou ao Presidente daalardear as posies quecom as mos e em seguidaABI exemplar de As Meni-adotava.com cassetetes, principal-nas com as pginas 148 e 149Foi Lygia quem primei-mente nas mos. Molha-assinalando o texto transcri-ro colocou numa obra de ram-me todo, para que osto e a seguinte mensagemfico a denncia das tor-choques eltricos tivessemmanuscrita:turas cometidas durante o mais efeito. Pensei que fosseMeu caro Maurcio,Governo Garrastazu Mdi-ento morrer. Mas resisti eNas pginas 148 e 149 estci. Nas pginas 148 eresisti tambm sreproduzido um panfleto149 de uma de suasCARREGARAM-ME surras que me abri-que recebi em casa no pe-mais importantes EM SEGUIDA PARA A ram um talho fundoobras, o romance As CHAMADA CAPELA: Aem meu cotovelo.Meninas, Lygia con- CMARA DE TORTURAS. Na ferida o sargentocebeu um dilogo INICIOU-SE ALISimes e o cabo Pas-em que as duas in- sos enfiaram um fio.terlocutoras discu- UM CERIMONIAL Obrigaram-me atem espiritualidade,FREQENTEMENTE aplicar choques emmedo e violncia,REPETIDO E QUEmim mesmo e emtema que enseja esta DURAVA DE TRS A SEIS meus amigos. ParaFOLHAPRESSinterveno de uma que eu no gritasseHORAS CADA SESSO.delas, baseada num enfiaram um sapatodocumento da vida real a que Lygia teve dentro da minha boca. Outras vezes,acesso: panos ftidos. Aps algumas horas, a ce-(...) Mas j que a senhora falou em vi- rimnia atingiu seu pice. Penduraram-olncia vou lhe mostrar uma digo e pro- me no pau-de-arara: amarraram minhascuro o depoimento que levei para mos- mos diante dos joelhos, atrs dos quaistrar ao Pedro e esqueci. Quero que oua enfiaram uma vara, cujas pontas eramo trecho do depoimento de um botni-colocadas em mesas. Fiquei pairando noco perante a Justia, ele ousou distribuirar. Enfiaram-me ento um fio no reto epanfletos numa fbrica. Foi preso e leva- fixaram outros fios na boca, nas orelhasdo caserna policial, oua aqui o que elee mos. Nos dias seguintes o processo sediz, no vou ler tudo: Ali interrogaram-repetiu com maior durao e violncia.me durante cinco horas enquanto grita-Os tapas que me davam eram to fortesvam traidor da ptria, traidor! Nada me que julguei que tivessem me rompido osfoi dado para comer ou beber durante esse tmpanos, mal ouvia. Meus punhos es-tempo. Carregaram-me em seguida paratavam ralados devido s algemas, minhasa chamada capela: a cmara de torturas. mos e partes genitais completamente 11. HISTRIA MemriasARQUIVO PESSOAL amargasPOR RODOLFO KONDERQuarenta anos atrs, no dia 1 de abril de 1964, acordei sobressaltado. Na televiso, a voz arrogante deFlvio Cavalcante anunciava a vitria dosgolpistas e a fuga, de Braslia, do PresidenteJoo Goulart. Na tela, surgiam imagens delenis brancos nas janelas de alguns prdiosda Zona Sul do Rio de Janeiro. ComemoravamARQUIVO JBo fim do Governo Jango e o incio de umaprolongada ditadura militar. As perseguies que se iniciaram a partir deento no perturbaram a rotina das ruas pelo menos at 1967 a 1968 mas eram reais.Arrastaram muita gente, na penumbra.Levaram parentes e amigos. Seqestravam aspessoas e, s vezes, faziam-nas imergir nolodaal insondvel do desaparecimento. noite, casas e mentes eram invadidas,enquanto os ces uivavam nos quintais e ovento investia contra as sombras. A casa dos Conferncia da OEA, no Hotel Glria, Da Argentina fui para o Peru.meus pais foi ocupada. Prenderam minha me Aristlio Andrade, Milton Coelho, Maurcio Mas acabei em Montreal no Canad, onde doce e inofensiva mulher de 50 anos , meu Azdo e eu criamos uma comisso detrabalhei durante dois anos como announcerirmo e minha cunhada. Transformaram a jornalistas que preparou um texto com producer , na Canadian Broadcastingcasa numa espcie de papel pega-mosca: denncias contra o regime militar. Com aCorporation. Participei de encontrosquem tocava a campainha caa na armadilha. ajuda de Lygia Sigaud e dos membros dainternacionais, entrei para a Liga dos Direitos Dirigente sindical na Petrobras, fui logo comisso, o texto foi distribudo dentro do Humanos, esquiei nas Lawrentianprocurado pelos agentes da represso. Ehotel, para o desespero da polcia poltica.Mountains. Depois, morei quase um ano emcassado. Com a ajuda de Lus Carlos,Na esteira do AI-5, no final de 1968,Nova York, como correspondente do jornalfuncionrio da empresa que eu jamais viramudei-me para So Paulo, onde fui preso, em Versus, dirigido por Marcos Faerman.antes, mas que me levou at a Embaixada do 1975. As torturas a que me submeteram, nos Aps meu regresso ao Brasil, em outubro deMxico, na Praia do Flamengo, escapei e partipores do Doi-Codi, deixaram seqelas que 1978, fui intimado a prestar depoimento napara o primeiro exlio. Antes de embarcar, viviat hoje no consigo avaliar com preciso.Polcia Federal. Durante trs horas, fizeram-uma experincia claustrofbica, numMas creio que o seu efeito mais perverso me perguntas, na presena do meu advogado,apartamento ocupado por mais de 60 pessoas uma sensao insupervel de isolamento, Jos Roberto Leal, e do Vice-Presidente doque se odiavam e pareciam ratos de um sentimento de solido que se instalouSindicato dos Jornalistas, Fernando Moraes.laboratrio. para sempre.Mas o clima era de respeito. A abertura No Mxico de Lopes Mateus, conheci o No dia 1 de abril de 1976, doze anos depois poltica se esboava.lendrio Lzaro Cardenas, visitei Acapulco,do golpe militar, a Segunda Auditoria de Hoje, posso dizer que estive na guerra.estive em La Quebrada, para verGuerra, em So Paulo, decretou minha priso Estivemos todos, na verdade. Nomergulhadores que pareciam pssaros, e preventiva. Autorizado a me defender em combatemos na Coria, nem no Vietn, nemsobrevivi a um terremoto. Depois, desci pela liberdade, deixei de comparecer no Chade, nem na Crocia, mas estivemos naCosta do Pacfico, com Osmildo Stafford esemanalmente ao gabinete do Delegadoguerra. Na Guerra Fria. Durante vinte anos,Humberto Pinheiro, at o Chile. Ento, Srgio Fleury e me encontrava em lugar enfrentamos o regime militar implantado noArgentina e Uruguai. ignorado e no sabido (SIC). Na verdade, euBrasil em 1964 quarenta anos atrs. No Vivi quase clandestinamente, aps fugira para a Argentina, atravessando podemos esquecer, at porque os demnios doregressar do primeiro exlio, pela fronteira clandestinamente a fronteira, em Foz do autoritarismo e da intolerncia ainda noscom o Uruguai, em Rivera e Santana doIguau. Ao receber cartas e telefonemas deespreitam, na sombra.Livramento. Consegui meu primeirouma organizao que se dizia O Braoemprego na Agncia Reuter, com a ajuda deArmado da Represso, decidi sair do Pas paraRODOLFO KONDER, jornalista e escritor, Diretor da Representao da ABI em So Paulo e membro do Conselho Municipal de Educao daLus Gazzaneo, em 1965. Na cobertura daum segundo exlio.Cidade de So Paulo.Jornal da ABI 369 Agosto de 2011 11 12. Aconteceu na ABI HOMENAGEMSaturnino sublinhou tambm a admi- rao que Raul Ryff nutria por Joo Gou- lart: Raul Ryff dizia que Jango era um de- Os 100 anos de Raul Ryff, uma mocrata, que Jango gostava de ouvir o trabalhador, de escutar o povo, de sentir e atender o pensamento e a verdadeira von- tade popular. Ele distinguia o Jango dasreferncia como exemplo de vidademais lideranas por esta caracterstica nica e isto vinha de uma forma afetiva.A imagem de Jango Amigo da famlia, o ex-Deputado Eduar- Governador do Estado do Rio, jornalista e scio da ABI, Marcello Alencar deu o tom da do Chuay assinalou o papel de Raul Ryff nahomenagem que a ABI prestou ao jornalista Raul Francisco Ryff por motivo do centenrio dereconstruo da imagem de Jango:Eu ja- mais encontrei uma pessoa com a honra- seu nascimento. Ele foi uma referncia nacional pelas caractersticas de fidelidade que demonstrou dez, a dignidade e a discrio de Raul Ryff.ao longo da vida, disse Marcello, que ratificou assim o ttulo que a Casa deu ao ato em memria Comentava-se muito sobre o quanto Jan-do ex-Secretrio de Imprensa do Presidente Joo Goulart: Raul Ryff, O Companheiro Fiel.go era mal visto. Entre 1964 e 1978, e em 1982. Raul ajudou a recuperar a verdadei- ra imagem de Joo Goulart. Ryff tambmPOR CLUDIA SOUZA uma referncia neste momen- foi lembrado pelo seu carisma e pela dis-to de tantas situaes nega- posio em colaborar com os amigos.Ex-Governador do Estado do Rio, jor-tivas no quadro poltico. Ve- Ele sempre procurou ajudar asnalista e scio da ABI, Marcello Alencarmos em Ryff um smbolopessoas para que elas progredis-deu o tom da homenagem que a ABI pres-de seriedade e notvel pre-sem. Ele gostava de ver as pesso-tou ao jornalista Raul Francisco Ryff por sena nos acontecimen- as se desenvolvendo profissi-motivo do centenrio de seu nascimen- tos mais graves da nao.onalmente, tendo uma vidato. Ele foi uma referncia nacional pelasEle uma referncia nacio-mais digna, disse Luiz Car-caractersticas de fidelidade que demons- nal pelas caractersticas delos Ryff, filho do homena-trou ao longo da vida, disse Marcello, que fidelidade que demonstrou geado. Tito Ryff comple-ratificou assim o ttulo que a Casa deu aoao longo da vida. mentou: Nosso pai nos en-ato em memria do ex-Secretrio de Im- A convivncia ntima desinou vrios exemplos im-prensa do Presidente Joo Goulart: Raul Raul Ryff com Joo Goulart foiportantes, um desses era o daRyff, O Companheiro Fiel. outro aspecto destacado por tolerncia. Ele era um homemO centenrio de nascimento do jorna-Marcello Alencar: Ele era o ho- que no procurava imporlista Raul Ryff foi homenageado em even-mem, talvez, de maior confian- suas convices a nin-to especial realizado na noite de 24 de a do Presidente Goulart. Seugum. Ele as tinha firmes,agosto na ABI, com a participao de pa-comportamento tico e sua pre- mas jamais procurou imp-rentes, amigos e admiradores do ex-Secre- sena enobreciam os ambientes.las a outros ou fazer que elastrio de Imprensa do Governo Joo Gou-Hoje um dia justo com a mem- prevalecessem em qualquerMUNIR AHMEDlart, que foi lembrado como companhei-ria deste homem, que merece debate ou discusso. Ele res-ro leal e solidrio e exemplo de lisura e estar no quadro dos grandes peitava a opinio dos outros,seriedade. Formaram a mesa de honra dacidados brasileiros. Deixo ainda que no fosse exata-cerimnia o Presidente da ABI, jornalista aqui a expresso de minha mente a sua.Maurcio Azdo, o ex-Governador Marce-saudade, e gostaria que vo-llo Alencar, o ex-Senador Saturnino Braga,cs todos comungassem O xod das mulheresos filhos de Raul Ryff, Tito Bruno Bandei-desse meu sentimento.Presente cerimnia,ra Ryff e Luiz Carlos Bandeira Ryff, a soci- o neto Luiz Antnio Ryff falou sobre a in-loga e ex-nora de Raul Ryff, Maysa Macha- Jango, um injustiado fluncia do av em sua vida: Tive a opor-do, a viva do ex-Presidente Jango, MariaTito Ryff tambm comentou a relao tunidade, a honra e a felicidade de convi-Thereza Goulart, e sua filha Denize Gou-do pai com o ex-Presidente Joo Goulart, ver com meu av. Passei a adolescncialart, o cineasta Silvio Tendler, Diretor do do- cuja relevncia histrica, em sua opinio,ABI motivo de especial satisfao e con- com ele. Fui morar com ele aos dez anos,cumentrio Jango, e o ex-Deputado Eduardo muitas vezes foi subestimada: No h tentamento. Celebramos a memria dee era uma relao completamente dife-Chuay, amigo do homenageado.personalidade poltica e histrica mais in- Raul Ryff, que estaria fazendo hoje 100rente. Sou o representante da terceira ge-Na abertura da solenidade, aps a exe-justiada do que o ex-Presidente Joo Gou-anos se estivesse vivo. Gostaria que estarao de jornalistas da famlia, que almcuo do Hino Nacional, o Presidente da lart. Est na hora de resgatarmos a sua celebrao no fosse uma comemorao do papai Luiz Carlos, do tio Tito, tinhaABI falou sobre a importncia da home-memria. Gostei muito da frase que d t- em torno da pessoa ou dos valores, ou ex-tambm o tio Srgio, que foi jornalista, ir-nagem: Gostaria de agradecer a honro-tulo a esta cerimnia: o companheiro fiel.clusivamente da pessoa ou da figura do mo mais velho do Tito e do Luiz Carlossa presena de todos os que esto aquiRaul Ryff foi amigo fiel de Joo GoulartRaul Ryff, mas que fosse para todos nse que seguiu o Raul. Ele dava livros depara aplaudir o jornalista extraordinrio porque ele era fiel ao seu compromisso comuma forma de celebrar as conquistas quevrios jornalistas para eu ler, dividia os jor-que foi Raul Francisco Ryff, um modeloo povo, com as suas convices e com os tivemos a duras penas, a conquista danais todos os dias comigo, foi me guian-de competncia profissional, de clarivi-ideais de uma sociedade. O Pas deve mui- liberdade, a conquista da democracia. do para o jornalismo. Quando ele teve umdncia poltica e, sobretudo, de coernciato aos seus jornalistas, sua imprensa. Jor-enfarto pela primeira vez eu tinha 12com as idias que agasalhou desde a sua nalistas no s aqueles de esquerda que que- Gosto de ouvir o povo anos. No dia em que ele voltou ao Jornaljuventude no Rio Grande do Sul.riam a transformao social do pas, mas jor-O ex-Senador Saturnino Braga convi- do Brasil para rever os colegas, eu o acom-nalistas liberais, conservadores, que assu- veu com Raul Ryff quando esteve fren-panhei. Quando chegamos l, foi aqueleSmbolo de seriedademiram as fronteiras da liberdade e da demo- te da Prefeitura do Rio de Janeiro: Con-bafaf com as mulheres todas da Redao O ex-Governador Marcello Alencar,cracia, para combater a ditadura que se im- vivi diretamente com Raul Ryff durante correndo na direo dele. ficou aquele mon-que convidou Raul Ryff para o cargo deplantou neste Pas. At hoje a ABI com suaaqueles anos na Prefeitura. Todo fim dete de mulher beijando, agarrando, abraan-Secretrio Extraordinrio durante a sua histria poltica e social um exemplo de ins- tarde ele vinha conversar comigo sobre asdo. E eu pensei: isso que eu quero fazer naprimeira gesto na Prefeitura do Rio de tituio que serviu aos maiores ideais da notcias que deveria encaminhar im-vida! Vov era uma pessoa extremamenteJaneiro, no incio da dcada de 1980, de- nao brasileira.prensa, e essa conversa sempre versava sedutora, muito querida pelas pessoas. Souclarou seu carinho ao ex-companheiro e Ulisses Guimares disse certa vez que sobre fatos e personagens da Histria do herdeiro desse carinho que o meu av cons-amigo: Em 1982, Leonel Brizola me con- tinha nojo e dio das ditaduras. Ns de-nosso Pas. Raul Ryff era da gerao de meutruiu na vida dele. Enquanto h memria,vocou para ocupar a Presidncia do Ba-vemos ter dio e nojo das ditaduras, por- pai, aprendi muito com sua retido, suaa pessoa sobrevive.nerj. A minha primeira preocupao foique no h valor mais supremo do que otica, sua lealdade a seus princpios. Ele O fotgrafo Evandro Teixeira, compa-formar uma equipe e convidei Raul Ryffvalor das liberdades, de modo que paraabsolutamente digno desta homenagemnheiro de Raul Ryff no Jornal do Brasil, des-para ser meu Secretrio. Este homem ns o fato de esta solenidade ocorrer naque a ABI e todos ns estamos prestando.creveu a longa amizade com o colega:12 Jornal da ABI 369 Agosto de 2011 13. RENAN CASTRORENAN CASTRO A gente no pode esquecer o lado do Raul absolutamente contador de histrias, sem- pre resolvendo as situaes mais dramti- cas com humor. Quando ele voltou do ex- lio, desembarcou no Galeo e o seguraram para prestar depoimento na Praa Mau. Chegando l, o escrivo no podia tomar o depoimento porque tinha esquecido os culos em casa, na Penha. Vai l que eu te espero aqui, disse Ryff para ele. Enquanto fazia hora, o Delegado co- mentou com Ryff: Doutor, o senhor no Ao assumir a Prefeitura do Rio, Saturnino sabe o que fizeram com o nosso FlamengoBraga convocou para Secretrios Raul Ryff eneste perodo em que o senhor estava fora!seu filho, o economista Tito ( esquerda). Maysa Machado lamentou a ausncia de Raul Ryff: Eu no fui apenas nora doTrabalhei durante muito tempo com ele,Raul, fui tambm companheira de militn-era uma pessoa maravilhosa, era o mais cia, porque a viso que a gente tem com-querido da Redao, principalmente pletamente diferente de quem no se doa.Maria Thereza e sua filha Denise, ao lado de Maurcio Azdo: Ryff foi um amigo presente.entre as mulheres. Na pesquisa, ento, ele Ns vemos como as pessoas se entrelaamera louvado, aplaudidssimo. Naquela po-nessa necessidade contempornea que te-ca, o Governo dava ao jornalista o direito mos de respeitar algum que tem uma vidade adquirir um apartamento com uma as- pblica. O Raul preenche esse vazio que A emoo de Maria Therezasinatura do Presidente da Repblica, e com existe na expectativa de cada um de ns. e de Denise, filha de Jangoessa assinatura voc tinha o privilgio decomprar um apartamento sem entrar na A viva do Presidente Joo Goulart,esposo em todos os momentos, uma gran-fila da Caixa Econmica. E isso eu devo aoMaria Thereza Goulart, e sua filha De-de figura brasileira e um grande amigo,Raul Ryff, que um dia me disse: Evandro, Um combatente donise Goulart, que era uma menininha disse Maria Thereza.quando o pai foi deposto e compelido a Denise recordou a dedicao e a so-est na hora de voc comprar o seu aparta-mento. Faz uma carta que eu vou conver-movimento sindicalse exilar, tambm se revelaram felizeslidariedade de Raul Ryff: No foi s noe emocionadas por participar da home- momento de Governo, mas tambmsar com o Jango. Uma semana depois eu es- Antes de encerrar o evento, o Presi- nagem a Ryff. Em e-mail aos organiza- nos momentos mais difceis do exlio,tava com o apartamento comprado. E issodente da ABI sublinhou o papel de Raul dores do ato, Denise confessou que fi-Ryff era um amigo que esteve sempreeu devo ao Jango, ao Ryff, especialmente.Ryff na imprensa e na poltica nacional: cou emocionada j ao receber o convi- presente e isso era um dos motivos pe-Sinto saudades do Ryff, porque ele foi umGostaria de aduzir aos depoimentos po-te, pelo ttulo dado solenidade: Raul los quais meu pai sempre acreditou na-dos maiores jornalistas com quem eu con- lticos e de carter pessoal que foram fei-Ryff, O Companheiro Fiel. quela amizade. Eu tambm tive a hon-vivi e trabalhei. Esta a minha homena- tos algo estritamente profissional comCom muita honra estou aqui nestera e o privilgio de manter essa amiza-gem ao Raul Ryff. vinculao com a ABI e com o movimen-momento homenageando uma pessoa de depois que voltei ao Brasil. O Raul to dos jornalistas no Rio de Janeiro e noque foi de grande importncia na nos- sempre manteve contato conosco eEle me tratou como gente Brasil. Como lembrou o jornalista Osval- sa vida, que foi um grande amigo do meu com a famlia. A jornalista Leda Nagle tambm evo- do Maneschy em sua interveno, houvecou sua convivncia com Raul Ryff no poca em que Carlos Lacerda ia para a te-incio da carreira: Conheci Raul Ryff noleviso e tinha como referncia o comu-um grupo que reunia, entre outros, Sa-tido Comunista Brasileiro, e teve um pa- nista Raul Francisco Ryff, um dos jorna- muel Wainer, Moacyr Werneck de Cas- pel fundamental na organizao dos jor-meu primeiro dia de estgio. Ele foi a pri- listas mais atacados pelas suas convices tro, Rubem Braga, alm dos intelectuais nalistas, do ponto de vista de defesa pro-meira pessoa a prestar ateno em mim, a polticas, por sua filiao ideolgica e ade-e artistas que transitavam no entorno,fissional, a partir dos anos 1930. O sindi-falar comigo. Porque estagirio ningumso ao Partido Comunista Brasileiro ain-v, e ele me tratou como gente, falou co- como Di Cavalcnti, que era presenacato mais antigo de jornalistas do Brasil da nos anos 1930, em seu Estado, o Rio constante nas publicaes da poca, en- foi o do Rio de Janeiro, fundado ainda nomigo carinhosamente e me convidou para Grande do Sul.almoar no primeiro dia. Era uma pessoa tre as quais a revista Diretrizes, que Samuel comeo dos anos 1930, que tinha entre os Quando veio para o Rio de Janeiro.Wainer criou e foi o embrio de arrojadoseus fundadores alguns nomes destacadosencantadora, me contou vrias histriasRyff vinculou-se ao grupo democrtico de projeto de jornalismo que ele desenvol- da imprensa na poca, como o inicianteao longo dessa convivncia maravilhosa. jornalistas da cidade, um grupo muitoveria 20 anos depois atravs da criao doEvandro Lins e Silva, e o j reconhecida- Silvio Tendler acentuou o aspecto bem-forte e tambm muito expressivo do jornal ltima Hora.mente talentoso Carlos Lacerda, entrehumorado da personalidade de Raul Ryff:ponto de vista profissional e intelectual,Maurcio lembrou as dificuldades paraoutros. Ryff sobressaiu-se em termos deos jornalistas que se declaravam comu-dedicao para atrair jornalistas para anistas: Com o perfil ideolgico com quecriao da Federao Nacional dos Jorna-LBUM JOTABENIANOdesembarcou no Rio de Janeiro, Raul listas-Fenaj, de que participaram o cita-Ryff sempre esteve na mira dos reacion-do Joo Antnio Mespl, Fernando Segis-rios, dos conservadores e dos anticomu- mundo, que foi Presidente da ABI, Carlosnistas, alguns dos quais babavam de dioAlberto Costa Pinto, todos devotados contra os comunistas. Nessa poca, ocausa da organizao dos jornalistas parameio profissional dos jornalistas no Rioque eles no fossem presas fceis da po-de Janeiro, apesar desses que mencionei,ltica do patronato da grande imprensa esobretudo na grande imprensa, era mui-tambm da sufocao que poderiam so-to fechado para quem era de esquerda ou frer na defesa de suas idias.tinha idias comunistas. Lembro que noO Presidente da ABI finalizou reafir-meu comeo de profisso, no final dos mando os valores de vida do jornalista:anos 1950, ns sabamos de cabea que naEntre outros motivos, esta homenagemRedao do jornal O Globo s havia dois a Raul Ryff realada por esta sua parti-comunistas: o jornalista Luclio de Cas-ci