alimento e supermercado

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TERCEIRA TURMA CVEL APELAO CVEL N 01 1 037307-0/98 APELANTE: MARCOS DELDUQUE GOMES APELADOS: NUTRA COMRCIO E INDSTRIA DE ALIMENTOS E COSMTICOS LTDA SUPERMERCADOS PLANALTO LTDA RELATOR : DESEMBARGADOR CAMPOS AMARAL REVISOR : DESEMBARGADOR NVIO GONALVES

EMENTA: Civil. Indenizao. Alegao de aquisio de alimentos imprprios para consumo. Danos morais e materiais. I - Preliminares: a) legitimidade de parte do supermercado. Produtor dos alimentos identificado (art. 13, I, CDC), ausncia de responsabilidade do comerciante. Ausncia de prova de conservao inadequada dos alimentos pelo comerciante. Alimentos dentro do prazo de validade (inciso III). Ilegitimidade de parte mantida. Preliminar argida pelo apelante rejeitada.; b) cerceamento de defesa. Prova laboratorial suficiente e adequada para o deslinde da controvrsia. Desnecessrias outras provas. Preliminar afastada. II - Mrito. 1. Consumidor que alega ter sofrido danos morais e materiais por haver adquirido alimentos deteriorados de supermercado. Causa estranheza o fato de uma pessoa, ao se deparar com um produto inadequado ao consumo, tenha preferido de dirigir a laboratrios particular e pblico e despender razovel quantia para a realizao de exames periciais, do que retornar ao estabelecimento comercial e trocar o produto, direito este assegurado pelo Cdigo de Defesa do Consumidor. Se o autor veio a desfalecer em razo de ter visto os carunchos nos alimentos, seu mal era preexistente, no tendo nenhum nexo de causalidade com a atividade da r. Alimentos levados pelo autor a exame laboratorial fora das embalagens. Desqualificao dos laudos por esse motivo. 2. No constitui dano moral a notificao extrajudicial do autor em seu local de trabalho. 3. Danos materiais no comprovados. 4. Honorrios advocatcios. Nos casos em que no houver condenao os honorrios devem ser fixados consoante apreciao equitativa do juiz ( 4, art. 20, CPC atendidas as normas das alneas a, b e c do 3). Apelao parcialmente provida.

ACRDO Acordam os Desembargadores da TERCEIRA

TURMA CVEL do Tribunal de Justia do Distrito Federal (WELLINGTON MEDEIROS, Presidente, CAMPOS AMARAL, Relator e NVIO GONALVES, Revisor) em CONHECER. DAR PARCIAL PROVIMENTO. UNNIME, de acordo com a ata de julgamento e notas taquigrficas.

Braslia, 06 de setembro de 1999

Desembargador WELLINGTON MEDEIROS Presidente

Desembargador CAMPOS AMARAL Relator

RELATRIO

APELAO CVEL N 01 1 037307-0/98

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Adoto, inicialmente, como Relatrio, o da sentena de fls. 129/137 que transcrevo ipisis litteris: MARCOS DELDUQUE GOMES ajuizou ao

indenizatria (danos morais e materiais) contra NUTRA COMRCIO E INDSTRIA LTDA e SUPERMERCADOS PLANALTO LTDA, alegando que diabtico e depende de alimentao especial, razo pela qual, em 16.04.98, se dirigiu a um dos estabelecimentos da segunda r e adquiriu cinco pacotes de feijo azuki e cinco pacotes de arroz integral cateto; que chegando em casa, iniciou a preparao do prcozimento dos alimentos, quando foi alertado que ao colocar o feijo dentro da gua filtrada e fervendo, subiram muitos bichinhos para a superfcie da gua, que ficaram pulando com a fervura; que levou um susto e ficou perplexo com a cena, sendo amparado por familiares, porque teve uma abrupta recada, e consequentemente, enorme elevao da sua taxa de glicose a nvel quase insuportvel, com tonturas, vises, aquecimento do contedo das veias, queimao no estmago, tremedeira e moleza em todo o corpo, que, no dia seguinte, levou os alimentos para o Instituto de Sade da Secretaria de Sade do Distrito Federal e para o Centro de atendimento toxicolgico Dr. Brasil, para anlise que, ao final, em laudos de exames, concluram pela presena de insetos vivos da ordem Coleoptera e de larvas mortas imprprios para consumo pelo seu elevado estado de deteriorizao; que levou os laudos ao conhecimento das rs, que jogaram a culpa uma para outra, optando a primeira r lhe ameaar verbalmente e posteriormente atravs de notificao notarial; que est comprovado que foi a primeira r quem beneficiou , empacotou e distribuiu os alimentos e foi a segunda r quem os manteve em suas prateleiras, vista e disposio dos

consumidores, sem a necessria cautela e observao das datas de validade nem de deteriorao e impropriedade para o consumo humano; ditou artigos de lei e jurisprudncia,; argumentou que trabalha em uma empresa de vendas de consrcio e fatura mensalmente, em mdia R$ 3.800,00, afora comisso e que, diante do ocorrido, teve uma recada e ficou traumatizado e psicologicamente abalado, elevando-se a taxa de glicose que o levou a um princpio de convulso e quase a bito, causando uma sensvel diminuio em seu mister profissional, alm do que, teve de arcar com os custos dos laudos periciais, no valor de R$ 1.800,00 (particular) e R$ 260,00 ( pblico sem recibo);quanto aos danos morais, citou doutrina, argumentando que foi gravemente lesionado na sua moral ao perceber a imprestabilidade dos alimentos adquiridos e, ainda, foi ludibriado na sua boa f com o empurraempurra das rs sem dar lhe soluo para o gravssimo problema apresentado e ainda se viu compelido e ameaado verbalmente pelo proprietrio e depois pela srdida notificao extrajudicial emitida pela primeira r e at mesmo quando o Cartrio chegou ao seu local de trabalho para notific-lo se sentiu ofendido pela forma como seus colegas de servio se entreolhavam e gesticularam em atitude de restrio sua pessoa. Requereu a condenao das rs, solidariamente, no pagamento dos danos morais no valor de R$ 547.200,00 e danos materiais no valor de R$ 547.200,00. Instruiu com docs. de fls. 12/27. A primeira r contestou, alegando que se trata de uma aventura jurdica, na mais clara, absurda e evidente consubstanciao de tentativa de extorso, continuou, argumentando que o autor no comprovou ser portador da

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doena que mencionou e nem o local e data em que adquiriu os alimentos, que juntou embalagens, sem a data de validade, que se encontrava impressa no verso das mesmas; que o autor menciona na inicial que o feijo teria apresentado bichos quando do cozimento, o que cabalmente desmentido pela laudo da anlise de orientao apresentado pelo Instituto de Sade do Distrito Federal e que tal laudo de orientao sempre enseja um posterior laudo de anlise fiscal por iniciativa do prprio Instituto, que constatou a absoluta ausncia de sujividade, larvas e parasitas, isto em relao ao arroz, pois, quanto ao feijo, j se constatara a regularidade enfocada; quanto ao laudo de fls. 19, argumentou que o produto se encontrava fora da embalagem, no havendo nenhuma comprovao ou mesmo indcio de se ter originada da ora contestante, nem do local comprado e data de validade; citou legislao sobre anlise de alimentos e procedimentos adequados ; quanto as ameaas alegadas pelo autor, argumentou que ela sim foi ameaada, sendo a notificao exatamente para ressalvar direitos e prevenir responsabilidades; que nunca houve reclamao junto aos rgos de Defesa do Consumidor, ao passo que sua primeira providncia, aps cincia do fato, foi requerer um laudo ao Departamento de Polcia Federal e obter laudo do Laboratrio Microbiotec; discorreu sobre culpa e sua inexistncia no presente caso e sobre a legislao que rege a espcie (C.C e CDC); impugnou os valores pretendidos a ttulo de danos morais e materiais. Requereu a improcedncia do pedido, com a condenao do autor nos nus da sucumbncia. Instruiu com docs. de fls. 46/88. Contestao da segunda r s fls. 93/98, alegando,

preliminarmente, ilegitimidade passiva, primeiro, por no ter o autor comprovado que adquiriu os produtos em seu estabelecimento e, segundo, por estabelecer o CDC, em seus arts. 12 e 13, a responsabilidade do comerciante apenas quando o produtor no puder ser identificado ou no houver adequada conservao do produto; no mrito, em linhas gerais, apresentou os argumentos que a primeira r, para, ao final, requerer sua excluso do polo passivo ou a improcedncia do pedido inicial, com a condenao do autor nos nus da sucumbncia. Instruiu com docs. de fls. 99/110. Rplica s fls. 113/117. Realizada audincia de conciliao, sem xito.

O MM. Juiz julgou improcedente a lide em relao primeira r, Nutra Comrcio e Indstria LTDA, condenando o autor ao pagamento de custas processuais e honorrios advocatcia fixados em 10% sobre o valor atribudo causa.

Quanto ao segundo ru, Supermercado Planalto LTDA, julgou o douto magistrado extinto o processo, com fulcro no art. 267, inciso VI do CPC, por consider-lo parte passiva ilegtima, condenando o autor ao pagamento de honorrios advocatcios arbitrados em 10% sobre o valor atribudo causa. Inconformado, o autor interps apelao (fls.

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139/144), reiterando as alegaes expostas na inicial, afirmando ter os laudos periciais concludo pela impropriedade dos alimentos para o consumo. Alega no lhe ter sido dada oportunidade de ratificar os fatos e documentos trazidos aos autos, caracterizando-se o cerceamento de defesa. Insurge-se, ainda, contra a extino do processo, sem julgamento do mrito, em relao ao segundo apelado. Preparo regular (fl. 145). Contra-razes da primeira apelada s fls. 147/151. o Relatrio. VOTOS O Senhor Desembargador CAMPOS AMARAL Relator - Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheo da apelao. Trata-se de Ao de Indenizao ajuizada por Marcos Delduque Gomes contra Nutra Comrcio e Indstria Ltda. e Supermercados Planalto Ltda., na qual alega ter sofrido danos de ordem patrimonial e moral ao comprar, no estabelecimento comercial da segunda r, alimentos imprprios para consumo, fornecidos pela fbrica da primeira r.

A MM. Juza considerou a segunda r parte ilegtima e extinguiu o feito em relao a ela. Julgou improcedente a lide contra a primeira r.

Preliminarmente, insurge-se o autor, em apelao de fls. 139/144, contra a deciso na parte em que julgou a segunda r parte ilegtima no feito. No que pertine aos fatos, o apelante adquiriu 5 (cinco) pacotes de Feijo Azuki e 5 (cinco) pacotes de Arroz Integral Cateto no estabelecimento comercial da segunda apelada. A primeira apelada a responsvel pelo beneficiamento, empacotamento e distribuio dos produtos aos pontos de venda.

O art. 12 do Cdigo de Defesa do Consumidor estabelece a responsabilidade objetiva dos produtores por eventuais danos causados aos consumidores, em virtude de projeto, fabricao, construo, montagem, frmulas, manipulao, apresentao ou acondicionamento de seus produtos. J em relao ao comerciante, dispe o art. 13 do mesmo diploma legal: Art. 13. O comerciante igualmente responsvel, nos termos do artigo anterior, quando: I - o fabricante, o construtor, o produtor ou importador no puderem ser identificados; II - o produto fornecido sem identificao clara do seu fabricante, produtor, construtor ou importador;

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III - no conservar adequadamente os produtos perecveis.

Desta forma, observa-se que o produtor dos alimentos em questo foi identificado, no se enquadrando a questo nos incisos I e II do referido artigo. Quanto hiptese de conservao inadequada dos alimentos por parte da segunda apelada, no tratou o apelante de prov-la, sequer trazendo aos autos o comprovante de ter adquirido os produtos em um dos seus estabelecimentos comerciais.

Observo, entretanto, que os alimentos estavam dentro do prazo de validade de acordo com os laudos de anlise emitidos pela Secretaria de Sade do Distrito Federal. O arroz integral poderia ser consumido at 8.10.98 e o feijo at 1.9.98, tendo a compra sido realizada em 16.4.98. No vislumbro, desta forma, como responsabilizar a segunda apelada por deficincia na conservao dos alimentos, conforme alegou o apelante. Considero, destarte, a segunda apelada como parte ilegtima no presente feito, mantenho a extino do processo com fulcro no art. 267, inciso VI do CP Civil.

No que concerne alegao de cerceamento defesa

em virtude do julgamento antecipado da lide, tenho a prova laboratorial como suficiente e adequada na espcie. No houve cerceamento de defesa.

Afasto a preliminar e passo anlise do mrito.

O apelante sustenta que de acordo com os laudos periciais por ele trazidos aos autos, os alimentos fornecidos pela primeira apelada e vendidos pela segunda apelada, encontravam-se deteriorados, apodrecidos e cheios de larvas e outros bichos nocivos ao consumo.

O laudo de analise emitidos pela Secretaria de Sade Pblica do Distrito Federal referente ao arroz integral concluiu pela presena de insetos vivos da ordem Coleoptera e de larvas mortas (fl. 19) e o relativo ao feijo atesta ausncia de sujidade, larvas e parasitas, ambos os alimentos in natura. J o laudo elaborado pelo Centro de Atendimento Toxicolgico Dr. Brasil negativo quanto a txicos de origem orgnica e inorgnica (fl. 21). Entretanto, os alimentos levados a exame pelo apelante encontravam-se fora das embalagens e os entregues pela apelada, para o mesmo fim, estavam embalados.

O apelante afirma que ao ver os bichos saltitando, quando do cozimento do feijo, teve sua taxa de glicose aumentada, sofreu

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princpio de convulso e quase chegou ao bito.

Contudo, os laudos acima mencionados no se referem existncia de bichinhos nas amostras de feijo in natura.

Quanto ao feijo pr-cozido tambm analisado pelo laboratrio Dr. Brasil, o laudo concluiu que estava imprprio para o consumo, devido ao seu elevado estado de deteriorao (fl. 22), fato este que no pode ser atribudo primeira apelada, pois o alimento havia sido cozido um dia antes e no se sabe em que estado de conservao fora mantido at a anlise laboratorial, nem tampouco se se tratava de produto de fornecimento da apelada, posto que se encontrava fora da embalagem.

Ademais,

como

bem

asseverado

pela

douta

magistrada, se o autor desfaleceu por causa dos carunchos, seu mal era preexistente, no tendo nenhum nexo de causalidade com a atividade da r.

Causa-me estranheza o fato de uma pessoa, ao se deparar com um produto inadequado ao consumo, tenha preferido se dirigir a laboratrios particular e pblico e despender ao todo R$ 2.060,00 para a realizao de exames periciais, do que retornar ao estabelecimento comercial e trocar o produto, direito este assegurado pelo Cdigo de Defesa do Consumidor. Alega, ainda, o apelante ter sofrido danos morais em

decorrncia de receber notificao extrajudicial da apelada em seu local de trabalho. No vislumbro danos morais pelo simples fato de o apelante, ter sido procurado por um funcionrio de Cartrio, at mesmo porque a primeira apelada estava exercitando o direito de preservar a imagem e a boa reputao de sua empresa, conforme se infere da notificao juntada s fls. 26/27. De resto, danos materiais no ficaram comprovados.

Em um ponto, porm, entendo que a r. sentena merece reforma, isto , na condenao em honorrios advocatcios.

De incio ressalto que no recurso o apelante pleiteou a reverso do resultado do equivocado comando monocrtico (fl. 140), o que abrange todo o julgado.

Posto isto, verifico que os honorrios foram fixados na sentena em 10% sobre o valor da causa, que de R$ 1.094.400,00, resultando na elevada quantia de R$ 109.440,00, para cada r, no total, portanto, de R$ 218.880,00. Entretanto, no houve condenao, por isso aplicvel o 4 do art. 20 do CP Civil, atendidas as normas das alneas a , b e c do 3. Os fatos relatados na causa no geraram

conseqncias com reflexos jurdicos, conforme ficou reconhecido, parecendo-

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me fantasiosa a elevada quantia pleiteada a ttulo de indenizao.

Entendo que os honorrios devem ser fixados na quantia de R$ 2.000,00 para o advogado de cada r.

Por estes fundamentos, dou provimento parcial apelao, para reformar, em parte, a sentena, e reduzir os honorrios advocatcios quantia de R$ 4.000,00, ou seja, R$ 2.000,00 para cada r.

como voto.

O Senhor Desembargador NVIO GONALVES Revisor - Conheo da apelao porque presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

Trata-se de ao de indenizao por danos materiais e morais requerida por MARCOS DELDUQUE GOMES em desfavor de NUTRA COMRCIO E INDSTRIA LTDA. E SUPERMERCADOS PLANALTO LTDA.

O autor diz haver sofrido danos em virtude da compra de alimentos imprprios ao consumo no Supermercado Planalto Ltda., fornecidos pela Nutra Comrcio e Indstria Ltda.

O decisrio monocrtico entendeu que a segunda r parte ilegtima passiva, extinguindo o processo contra a mesma e julgou

improcedente a ao contra a primeira r.

Extino do processo.

O art. 13 do Cdigo de Defesa do Consumidor est inserido no Captulo IV, Seo II, que trata da responsabilidade objetiva por danos ocasionados pelo fato do produto e do servio.

Melhor

esclarecendo,

o

art.

12

regula

a

responsabilidade em decorrncia do produto e o art. 13 especifica um fornecedor em particular, o comerciante, que, como regra, no o responsvel pelo dano causado pelo fato do produto, posto que o Cdigo do Consumidor, na hiptese de dano, responsabiliza diretamente o fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador (caput do art. 12).

O comerciante torna-se igualmente responsvel, somente no caso de o fabricante, o consumidor, o produtor ou o importador no puderem ser identificados (inciso I do art. 13), ou quando o produto for fornecido sem identificao clara do seu fabricante, produtor, construtor ou importador (inciso II do art. 13), ou, ainda, quando no conservar adequadamente os produtos perecveis (inciso III do art. 13), hiptese esta em que ser o nico responsvel.

No caso dos autos nenhuma das hipteses ocorreu. O fornecer foi suficientemente identificado e no h a mais tnue prova no

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sentido de que os alimentos tenham sido comprados no Supermercado Planalto. Por estes fundamentos, entendo que a segunda empresa-apelada, realmente no pode ocupar o plo passivo da relao processual e, em conseqncia, mantenho a extino do processo, como feito pelo ilustre juiz a quo.

Cerceamento de defesa. A dilao probatria era desnecessria na espcie, desde que a matria em debate dispensava a produo de outras provas alm da pericial, suficiente para o deslinde da controvrsia.

Diante disso de se entender que a produo das provas pelas quais se insiste era desnecessria no caso, da concluir-se pela rejeio da preliminar de nulidade da sentena por cerceio de defesa.

Mrito. A indenizao perseguida com o fundamento de que os alimentos comprados estavam deteriorados, apodrecidos e com larvas e outros bichos nocivos ao consumo.

O laudo pericial efetivado no arroz entregue pelo autor para anlise, disse da existncia no mesmo de insetos vivos (coleoptera)

e larvas mortas e no feijo sujeiras, larvas e parasitas.

Mas, estes alimentos estavam fora das embalagens, no servindo para comprovar com segurana que o fornecedor o tinha entregue com problemas capazes de torn-los emprestveis ao consumo.

Ressalte-se que o feijo que se encontrava em poder do autor, havia sido cozido um dia antes, sem informao de como fora conservado.

E mais, no se pode afirmar que ambos os alimentos foram fornecidos pela r, porque sem as respectivas embalagens.

Nos

alimentos

periciados

nas

respectivas

embalagens, nenhuma anormalidade foi constatada.

E mais, os bichinhos encontrados nas amostras levadas a exame pelo autor, so carunchos, encontrveis com facilidade e certa freqncia nos cereais em geral.

Constatado o vcio de qualidade dos to citados alimentos, o autor deveria ter socorrido a uma das alternativas postas ao seu dispor pelo 1 do art. 18 do Cdigo do Consumidor pedir a substituio dos produtos por outros da mesma espcie, em perfeitas condies de uso, propor a restituio da quantia paga, devidamente corrigida monetariamente, sem

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prejuzo de eventuais perdas e danos ou obter o abatimento proporcional do preo, e no procurar, particularmente, laboratrio, para com o resultado obtido ajuizar ao de indenizao por danos materiais e morais. Pelo menos, este ltimo caminho no usado pela maioria gritante dos consumidores, principalmente com o intento de obter indenizao to alta como a pedida nos autos (mais de um milho de reais).

A alterao da sistemtica da responsabilidade, prescindindo do elemento da culpa e aditando a teoria objetiva, no desobriga o pretenso lesado da prova do dano e do nexo de causalidade entre o produto e o dano. Isto no ocorreu nos autos.

Com espiritualidade e consistncia, a ilustre juza fl. 136, fundamenta a sua correta deciso:

Poder argumentar que diabtico, debilitado... Mesmo assim, no vejo motivo para tanto descontrole. Ainda mais que a ocorrncia de coleoptera em cereais comum, no causando nenhum malefcio maior sade, muito menos levanto morte, como dramatiza o autor em sua inicial. Se o autor desfaleceu por causa dos carunchos, seu mal era preexistente, no tendo nenhum nexo de causalidade com a atividade da r. Mesmo que uns meros carunchos dessem causa indenizao, o que terminantemente entendo que no do, os danos teria que ser provados.

O recebimento de notificao extrajudicial em seu local de servio, por si s, no provoca qualquer dano, mesmo na pessoa muito sensvel, principalmente em se tratando de discrdia surgida por alegao de fornecimento de alimentos imprprios ao consumo.

No diviso qualquer motivo de sofrimento, dor psicolgica, preocupao com a sade, situao degradante, etc., por parte do autor; a justificar a condenao da r em indenizao por dano moral.

Quanto ao dano moral, pelo expendido, no restou provado. Sequer consta dos autos prova documental referente a pagamento de despesas mdicas e hospitalares decorrentes do atendimento do autor.

A quantia gasta em exame dos documentos deve ser debitada imprudncia do autor. Tampouco h sequer indcios de que o este sofreu dano fsico.

No o caso, aqui, de inverter-se o nus da prova, pois no das regras ordinrias de experincia que ver bichinhos, etc, em alimentos, at mesmo ingeri-los, cause intoxicao com danos irreversveis sade do consumidor (art. 6, VIII, do CDC).

Verbas

honorrias

fixadas

na

extino

do

processo e na improcedncia da ao.

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A ilustre juza monocrtica condenou o autor a pagar a cada uma das rs, a ttulo de honorrios advocatcios, 10% sobre o valor atribudo causa.

O art. 20, caput, do Cdigo de Processo Civil, adotou o princpio que os romanos resumiram no victus victori expensas condenatur. O 3 deste artigo fixou critrio para se calcularem os honorrios advocatcios nas causas em que houver condenao. E o 4 do mesmo artigo dispe a respeito de como se fixam os honorrios advocatcios nas causas em que no existe condenao, como na espcie em anlise.

Assim, neste particular, a r. sentena merece reparos. Conforme estatui o 4 do art. 20 da Lei Adjetiva Civil, nas causas em que no houver condenao, os honorrios devem ser fixados consoante apreciao eqitativa do juiz, atendido o grau de zelo do profissional, o lugar da prestao do servio, a natureza e importncia da causa, o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o servio.

Caso a presente ao fosse julgada procedente contra as duas rs, ambas sofreriam danos vultosos, inclusive perante os consumidores do Distrito Federal. Logo, a causa importante para as mesmas. O cuidado dos advogados, nota-se ao ler a

contestao de fls. 34 usque 45, acompanhada da farta documentao de fls. 46 e 90/98, instruda com os documentos de fls. 100/111.

E

mais,

no se

pode

fixar verba honorria

insignificante em ao desta natureza sob pena de incentivar os seus ajuizamentos, mesmo a ttulo de aventura e ferir a nobre profisso do advogado, figura indispensvel administrao da justia, conforme o art. 133 da Constituio da Repblica.

No se pode e nem se deve aviltar o trabalho desse profissional. Diante do exposto, dou provimento parcial apelao interposta, unicamente para fixar a verba honorria com apoio no 4 do art. 20 do Cdigo de Processo Civil, em R$ 2.000,00 (dois mil reais) para cada ao, num total, portanto, de R$ 4.000,00 (quatro mil reais). Esta quantia dever ser corrigida a partir do julgamento do recurso.

o voto.

O MEDEIROS - De acordo.

Senhor

Desembargador

WELLINGTON

DECISO

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Conhecido. Deu-se parcial provimento. Unnime.