28
ANÁLISE DA PERCEPÇÃO DO TRABALHADOR SOBRE OS RISCOS NO AMBIENTE DE TRABALHO: ESTUDO DE CASO EM UNIDADE DE OPERAÇÃO DE EMPRESA DE ENERGIA BRASILEIRA Bernardete Ferreira da Silva (UFF) Sergio Luiz Braga França (UFF) Resumo Compreender se o trabalhador percebe os riscos do ambiente em que trabalha se torna cada vez mais relevante para a empresa que busca aprimorar a sua Gestão de Segurança e Saúde e reforçar a sua imagem pública no mercado competitivo atual, oonde as empresas comprometidas com a responsabilidade socioambiental tendem a obter maior vantagem competitiva perante a sociedade e os investidores. Investigar e analisar a Percepção de Riscos do trabalhador como um componente das causas dos acidentes do trabalho, possibilita a adoção de medidas administrativas específicas para esta causa, com repercussão na redução da ocorrência dos acidentes. Neste sentido, esta pesquisa tem como objetivo geral analisar a percepção do trabalhador sobre riscos de seu ambiente de trabalho. Para o desenvolvimento da pesquisa foi selecionada uma das Unidades de Operação de Armazenamento e Transporte de Petróleo e Derivados de Empresa de Energia Brasileira identificada como a de maior incidência de acidentes do trabalho no período de 2008-2010. Numa análise detalhada do quantitativo de acidentes ocorridos nesta unidade no período mencionado compreendendo: atividade, tipo de serviço e cargo dos acidentados, foi apontada, como mais crítico, o Serviço de Pintura Industrial sob gestão da Atividade de Manutenção, cujos Relatórios de Investigação de Acidentes identificaram a falha ou falta de Percepção de Riscos como causa de acidente. Como principal ferramenta para a pesquisa de campo, foi aplicado um Questionário estruturado, dividido em duas partes: Parte I - Dados do Colaborador e Parte II - Percepção de Riscos. A Parte II do Questionário foi baseada nos dados, do Banco de Dados de Aspectos, Impactos, Perigos e Conseqüências da Unidade de Operação objeto da pesquisa, 12 e 13 de agosto de 2011 ISSN 1984-9354

ANÁLISE DA PERCEPÇÃO DO TRABALHADOR SOBRE OS … · Como a percepção do trabalhador sobre o risco contribui para a melhoria do Sistema de Gestão de SST? 1 Acidente Típico:

Embed Size (px)

Citation preview

ANÁLISE DA PERCEPÇÃO DO

TRABALHADOR SOBRE OS RISCOS NO

AMBIENTE DE TRABALHO: ESTUDO

DE CASO EM UNIDADE DE OPERAÇÃO

DE EMPRESA DE ENERGIA

BRASILEIRA

Bernardete Ferreira da Silva

(UFF)

Sergio Luiz Braga França

(UFF)

Resumo Compreender se o trabalhador percebe os riscos do ambiente em que

trabalha se torna cada vez mais relevante para a empresa que busca

aprimorar a sua Gestão de Segurança e Saúde e reforçar a sua

imagem pública no mercado competitivo atual, oonde as empresas

comprometidas com a responsabilidade socioambiental tendem a obter

maior vantagem competitiva perante a sociedade e os investidores.

Investigar e analisar a Percepção de Riscos do trabalhador como um

componente das causas dos acidentes do trabalho, possibilita a adoção

de medidas administrativas específicas para esta causa, com

repercussão na redução da ocorrência dos acidentes. Neste sentido,

esta pesquisa tem como objetivo geral analisar a percepção do

trabalhador sobre riscos de seu ambiente de trabalho. Para o

desenvolvimento da pesquisa foi selecionada uma das Unidades de

Operação de Armazenamento e Transporte de Petróleo e Derivados de

Empresa de Energia Brasileira identificada como a de maior

incidência de acidentes do trabalho no período de 2008-2010. Numa

análise detalhada do quantitativo de acidentes ocorridos nesta unidade

no período mencionado compreendendo: atividade, tipo de serviço e

cargo dos acidentados, foi apontada, como mais crítico, o Serviço de

Pintura Industrial sob gestão da Atividade de Manutenção, cujos

Relatórios de Investigação de Acidentes identificaram a falha ou falta

de Percepção de Riscos como causa de acidente. Como principal

ferramenta para a pesquisa de campo, foi aplicado um Questionário

estruturado, dividido em duas partes: Parte I - Dados do Colaborador

e Parte II - Percepção de Riscos. A Parte II do Questionário foi

baseada nos dados, do Banco de Dados de Aspectos, Impactos, Perigos

e Conseqüências da Unidade de Operação objeto da pesquisa,

12 e 13 de agosto de 2011

ISSN 1984-9354

VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011

2

relacionados ao Serviço de Pintura Industrial. Os resultados da

pesquisa apontaram que somente uma minoria dos trabalhadores

percebe todos os riscos do seu ambiente de trabalho e que os

Programas de Comunicação de Riscos implantados na unidade são

insuficientes para preparar o trabalhador a perceber estes riscos e

desenvolver atitudes seguras.

Palavras-chaves: Acidente do Trabalho. Gestão de Segurança.

Percepção de Riscos.

VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011

3

1 Introdução

A preocupação com a incidência de acidentes e problemas de saúde provenientes do

trabalho e a procura por mecanismos capazes de preveni-los é mundial. O acidente do

trabalho traz consigo um impacto negativo a vida do trabalhador e soma-se a este fato, o custo

envolvido na ocorrência que afeta consideravelmente a economia.

Estimativas da Organização Internacional do Trabalho (OIT) apontam que cerca de

6.000 trabalhadores morrem por dia no mundo devido a acidentes do trabalho e doenças

ocupacionais. Além disso, a cada ano estima-se que ocorrem 270 milhões de acidentes não-

fatais com pelo menos três dias de afastamento do trabalho e 160 milhões de novos casos de

doenças relacionadas ao trabalho. O custo total estimado dessas ocorrências pela OIT equivale

a 4% do Produto Interno Bruto global, ou mais de 20 vezes o montante global da ajuda

pública ao desenvolvimento (OIT, 2008).

No Brasil, dados do Anuário Estatístico de Acidentes do Trabalho 2009 do Ministério

do Trabalho e Emprego (MTE) e Ministério da Previdência Social, registraram a incidência

de 723.452 acidentes sendo que 528.279 possuíam Comunicação de Acidente do Trabalho

(CAT). Do total de acidentes com CAT, 79,7% corresponderam a acidentes típicos1

(421.141). A grande parte dos benefícios acidentários é de responsabilidade do Ministério da

Previdência Social, por meio do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). No ano de

2009, a Previdência Social concedeu 4,5 milhões de benefícios, dos quais 83,9% eram

previdenciários, 7,9% acidentários e 8,1% assistenciais perfazendo R$ 3,18 bilhões, o que

representou um acréscimo de 8,3% em relação ao ano anterior, com os benefícios urbanos

crescendo 7,0% e os benefícios rurais 15,8%.

Diante deste quadro alarmante, é relevante para a situação econômica das empresas, a

tomada de ações capazes de prevenir os acidentes do trabalho. Se junta a este fato a

obrigatoriedade de atendimento a Constituição Federal Brasileira (1988) que em seu Capítulo

II, artigo7, inciso XXII assegura a todos os trabalhadores urbanos e rurais o direito a redução

dos riscos inerentes ao trabalho, por meio da aplicação de normas de saúde, higiene e

segurança. Além disto, no mercado competitivo atual a empresa visivelmente comprometida

VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011

4

com a responsabilidade socioambiental tende a obter maior vantagem competitiva perante a

sociedade e os investidores. Dentro do contexto de responsabilidade socioambiental inclui-se

o desempenho em segurança da empresa.

A busca pela excelência na Gestão em Segurança, Meio Ambiente e

Saúde (SMS), passou a ser uma meta estratégica para as empresas que

pretendem garantir participação em um mercado cada vez mais

competitivo e regido por uma sociedade a cada dia mais exigente

(THEOBALD 2007, p. 50).

De acordo com a OIT (2011) a implantação na última década do Sistema de Gestão de

Segurança e Saúde nas empresas tem se mostrado fundamental para a melhoria das condições

de trabalho e do ambiente de trabalho. Desse modo, cada vez mais empresas têm buscado a

Certificação da sua Gestão Segurança e Saúde por meio da aplicação da norma BS OHSAS

18001. Conforme mencionado anteriormente, prevenir os acidentes do trabalho é primordial

para o desempenho de uma empresa. Para melhorar os resultados em segurança e saúde, cada

vez mais se faz necessário aprofundar a investigação e análise dos acidentes do trabalho a fim

de identificar a(s) causa(s) e propor medidas capazes de evitar a sua recorrência e minimizar o

aumento das suas conseqüências.

De acordo com Hollnagel (1998) entre 80-85% dos acidentes ocorridos em usinas

nucleares na década de 80 e na National Aeronautics and Space Administration (NASA) no

período de 1990-1993 indicaram o erro humano ou ações humanas erradas como causa destes

acidentes. Aprofundando esta análise, uma das variáveis relacionada ao erro humano ou falha

humana identificada na literatura como fator contribuinte de acidentes é a percepção de riscos

do trabalhador. Oliveira (2007) afirma que a relação entre acidente do trabalho, clima de

segurança e comportamento de segurança é influenciada por variáveis como a percepção que

o trabalhador tem sobre um determinado risco por ele identificado no seu contexto laboral ou

pelo seu conhecimento sobre as questões de segurança nesse mesmo contexto.

Compreender se o trabalhador percebe os riscos do ambiente em que trabalha se torna

cada vez mais relevante para a empresa que busca aprimorar a sua Gestão de SST.

Neste sentido, a situação problema que orienta o desenvolvimento desta pesquisa é:

Como a percepção do trabalhador sobre o risco contribui para a melhoria do Sistema de

Gestão de SST?

1 Acidente Típico: é o acidente decorrente da característica da atividade profissional

VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011

5

O objetivo principal do artigo é analisar a percepção do trabalhador sobre aos riscos a

que está exposto no seu ambiente de trabalho. Para tal, pretende-se mapear a percepção dos

trabalhadores envolvidos com o Serviço de Pintura Industrial de uma Unidade de Operação de

uma Área de Negócio de Empresa de Energia Brasileira, no qual foi constatado o maior

número de acidentes do trabalho no período 2008-2010 sendo que vários de seus Relatórios

de Investigação de Acidentes apontavam como uma das causas destes acidentes, a falta ou

falha da Percepção de Riscos do trabalhador. A partir dos dados levantados busca se

identificar a contribuição da percepção de riscos para o Sistema de Gestão de SST.

Um dos motivos da escolha para pesquisa de uma das Unidades de Operação de uma

Área de Negócio de Empresa de Energia Brasileira, localizada numa cidade da região sudeste

do Brasil se deve ao fato dela pertencer a um ramo de atividade considerado essencial para o

abastecimento de produtos derivados de petróleo no mercado interno. Somam-se a este fato,

os seguintes motivos: o histórico dos acidentes do trabalho ocorridos no período de 2008-

2010 indicando-a como a de maior incidência de acidentes quando comparada com as demais

Unidades de Operação da Área de Negócio acima mencionada; o total de empregados que

compõe a força de trabalho; o porte da Unidade em relação ao quantitativo expressivo de

produtos movimentados; e acessibilidade aos dados da Unidade. Aprofundando a análise dos

acidentes do trabalho ocorridos na Unidade, identificou-se que o Serviço de Pintura Industrial,

coordenado pela Atividade de Manutenção, foi o que apresentou o maior número de acidentes

entre 2008 e 2010 e que, em sua maioria, os respectivos Relatórios de investigação dos

acidentes apontavam a falta ou falha de Percepção de Riscos do trabalhador como uma das

causas da ocorrência destes acidentes.

Por este motivo o público-alvo da pesquisa a ser estudado são os trabalhadores

envolvidos com o Serviço de Pintura Industrial perfazendo um empregado próprio, um

empregado cedido de outra Unidade de Operação da Empresa de Energia Brasileira e os

empregados de empresa contratada. O tema Percepção de Riscos foi definido a partir da

observação da expressiva freqüência em se atribuir a falta ou falha da Percepção de Riscos

dos trabalhadores como causa de acidentes do trabalho nos Relatórios de Investigação de

Acidentes da Unidade de Operação de Empresa de Energia Brasileira objeto da pesquisa. Esta

pesquisa não pretende identificar e examinar os fatores que podem influenciar a percepção

dos trabalhadores quanto aos os riscos do seu ambiente de trabalho. Segundo Mullen (2004,

desempenhada pelo acidentado. (Ministério do Trabalho e Emprego)

VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011

6

p.276), “poucos pesquisadores tem examinado se os indivíduos estão conscientes dos riscos

associados à sua atividade” [...]. Neste sentido, a pesquisa pretende contribuir para a

ampliação do conhecimento no meio acadêmico sobre o tema Percepção de Riscos dos

trabalhadores tendo em vista a escassez de estudos desenvolvidos no Brasil. Além disto, esta

pesquisa pode contribuir para que as empresas inseridas no mercado competitivo atual que

anseiam compreender a percepção do trabalhador sobre os riscos do seu ambiente de trabalho

visando aplicar medidas eficazes para prepará-lo a perceber os riscos e, em decorrência,

melhorar o seu desempenho em SMS.

2. Revisão de Literatura

Na literatura antiga sobre análise e investigação de acidentes, o erro humano aparece

como fator preponderante de causa de acidentes em detrimento das possíveis condições que o

levam a acontecer.

2.1 Erro Humano/Falha Humana

O erro humano tem sido diagnosticado desde o início da industrialização oriunda da

Revolução Industrial, pela migração de trabalhadores das atividades agrícolas para exercer

atividades nas fábricas sem a devida qualificação.

Segundo Trepess (2003) pesquisas sobre o erro humano vêm sendo desenvolvidas por

diversas disciplinas, tais como, psicologia, sociologia, medicina, ergonomia, computação e

antropologia sendo que cada uma analisa o erro humano sob um foco ligeiramente diferente.

Voltando à literatura mais antiga, provavelmente, o primeiro registro de reconhecimento da

importância do erro humano na análise de acidentes industriais foi feito por Heinrich (1931)

por meio da Teoria do Dominó da qual surgiram os termos ato inseguro proveniente da ação

humana e condição insegura. O conceito de erro humano vem sofrendo mudanças em

decorrência do avanço tecnológico e crescente interação homem-máquina, porém ainda não

existe uma definição aceita universalmente (SALMON, et al 2010).

VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011

7

De acordo com Dekker (2002) existem duas visões diferentes sobre o erro humano e a

contribuição humana para o acidente. Na “visão “antiga”, o erro humano era considerado

como causa da falha e na visão “nova” o erro humano é considerado como um sintoma da

falha. Pesquisadores envolvidos em investigação e análise de acidentes são defensores da

nova visão (REASON, 1997, SHAPELL; WIEGMANN, 2000).

Apesar disto, parece que a idéia de ações humanas erradas preconizadas por Heinrich,

no entanto, ainda sobrevivem nas investigações de acidentes associadas ao ato inseguro.

(REASON, 2000; ALMEIDA, 2006; KOROLIJA E LUNDBERG, 2010).

2.2 Teorias, Modelos de Causa e Métodos de Investigação de Acidentes

As teorias e modelos de casualidade de acidentes constituem a base para o processo de

investigação e análise de acidentes, pois possibilitam o aprimoramento das conclusões destes

acidentes e com isto, a melhoria do sistema de segurança das empresas. (BALLARDIN, et al,

2008). De acordo com a literatura, entre os modelos de Erro Humano mais aceitos e utilizados

se destacam as desenvolvidas por Rasmussen (1987), e Simpson, Horberry e Joy, (2009).

Dentre os modelos mais recentes de análise e classificação de erros humanos está o modelo

desenvolvido por segundo Shappell e Wiegmann (2000). Este modelo é baseado no Modelo

de Queijo Suíço de Reason (1990) em que expandiram a categoria de erros em erros de

decisão, erros de habilidade e erros de percepção em virtude da distinção de erro e violação

proposta por Reason (1990) ter se tornado insuficiente para a investigação de acidentes na

aviação. Os erros de decisão referem-se a um comportamento intencional que procede como

pretendido, mas na verdade o plano se mostra inadequado ou inapropriado para a situação. Os

erros de habilidade são aqueles que ocorrem de forma inconsciente, sendo relacionados às

falhas de atenção, de memória ou de técnica.

Já os erros de percepção ocorrem quando aquilo que é percebido por uma pessoa

difere da realidade. Estes erros ocorrem quando a entrada sensorial é degradada ou não usual,

como no caso de ilusão visual, desorientação espacial e erro no julgamento de distância,

altitude e velocidade no caso de acidentes na aviação. A ilusão visual ocorre quando o cérebro

tenta preencher os “buracos” ou “falhas” com aquilo que o mesmo sente como correto em um

ambiente visual empobrecido.

VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011

8

De acordo com Correa e Junior (2007) o modelo de análise e classificação de erros

humanos proposto por Shappell e Wiegmann (2000) pode ser aplicado na análise de acidentes

industriais vindo a contribuir significativamente para a efetiva eliminação da visão de que os

acidentes ocorrem por obra do acaso e que somente a gestão proativa da função “segurança do

trabalho” será capaz de minorar os custos econômicos e sociais dos acidentes industriais.

2.3 Normas de Gestão de Segurança e Saúde

Os Sistemas de Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho são ferramentas gerenciais

que contribuem para a melhoria do desempenho das empresas em relação às questões de

Segurança e Saúde no Trabalho, hoje uma necessidade fundamental para as empresas,

trabalhadores e sociedade como um todo conforme mencionado anteriormente. Na literatura,

percebe-se que poucas organizações se dedicaram a desenvolver normas sobre sistemas de

gestão de segurança e saúde. Dentre as normas mais utilizadas podemos citar: normas BS

8800, ILO-OHS 2001, BS OHSAS 18001.

2.4 Percepção de Riscos

O tema Percepção de Riscos surgiu na década de 1960 em função da opinião pública

ter sido contra a implantação da tecnologia nuclear que era considerada pelos cientistas como

energia limpa. As comunidades científicas e governamentais não entendiam porque a

percepção do público foi contra o uso da energia nuclear quando todos os cientistas

declararam o quão seguro era a nova tecnologia. O primeiro estudo sobre Percepção de Riscos

foi desenvolvido em 1969 por Chauncey Starr intitulado “Social benefit versus technological

risk” que investigou detalhadamente os riscos e identificou que a sociedade parecia aceitar

riscos na medida em que eles estavam associados com os benefícios.

Slovic (1987) em Perception of risk, um dos artigos mais citados e antigos na

literatura, declara que enquanto analistas empregam técnicas sofisticadas para avaliar riscos, a

maioria dos cidadãos tem julgamento intuitivo sobre o risco normalmente chamado de

“Percepção de Riscos”. Segundo Bley (2007, p.113) “a Percepção de Riscos diz respeito à

VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011

9

capacidade da pessoa de identificar os perigos e reconhecer os riscos, atribuindo-lhe

significado, seja no trabalho, no trânsito, no ar” [...]. A capacidade de Percepção de Riscos

das pessoas é influenciada pelo estado de saúde, da atenção, do estado emocional. O

mapeamento da Percepção de Riscos dos trabalhadores permite de certa maneira avaliar a

importância que estes dão ao processo de gestão de SST na empresa. Muitas vezes o

trabalhador comete comportamentos inseguros por não conhecer de fato os riscos aos quais

está exposto em seu ambiente de trabalho. Segundo a ABNT/ISO/IEC Guia 73 (2005, p.3)

Percepção de Riscos é definida como “a maneira como a parte envolvida percebe o risco com

base em um conjunto de valores ou interesses.”

Para Masini (2009, p.16) “o paradigma psicométrico representa uma abordagem em que

o risco é particularmente definido e percebido por indivíduos que são influenciados por vários

fatores psicológicos, sociais, institucionais e culturais”. Slovic (2000) afirma que estes

questionários sistematizam e predizem a Percepção de Riscos, identificando similaridades e

diferenças entre grupos, demonstrando que diferentes pessoas concebem e percebem os riscos

de maneiras diferentes.

De acordo com Oliveira

A Percepção de Riscos tem a ver com a interpretação que o

trabalhador faz de um determinado fator que considera como risco, no

entanto, este fator pode realmente representar um risco ou, pelo

contrário, não apresentar uma ameaça, contudo é visto pelo

trabalhador como algo que o coloca em risco. (OLIVEIRA, 2007,

p.16)

Para Gordon (2006) a literatura não dispõe com riqueza de informações sobre como o

risco é percebido pelo indivíduo bem como tais percepções são influenciadas. Apesar de o

risco ser considerado uma combinação da probabilidade x severidade, é geralmente

reconhecido que não é passível de medição física. Como não tem unidade, qualquer tentativa

em amarrar um significado preciso da palavra pode rapidamente mostrar o quão intangível

uma idéia de risco é. Por não poder ser medido, sentimentos, experiências, fatores sócio-

culturais, antecedentes pessoais, tais como origem social, estilo de vida e cultura

inevitavelmente podem influenciar no processo de avaliação de risco (mesmo no caso dos

especialistas em segurança) a maneira como o risco é percebido. Segundo o referido autor, o

estudo mostra que medidas de segurança permanentes instituídas pelos gestores do processo

VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011

10

de gestão de segurança do setor estudado (por exemplo, o uso de cintos de segurança e

capacete) não foram tomadas em função do risco percebido.

2.5 Comunicação de Risco

Um dos mecanismos mais relevantes para o desenvolvimento da percepção de risco do

trabalhador é a comunicação de risco - etapa do processo de gerenciamento de risco, a qual

contribui para gerar e receber as informações necessárias para que as partes interessadas não

somente compreendam as iniciativas, processos de decisão tomados pelas organizações para

gerenciar seus riscos, sejam eles ocupacionais ou ambientais, mas também, para promover e

desenvolver a percepção que essas partes interessadas têm a respeito dos perigos e riscos

existentes decorrentes da natureza da atividade desenvolvida. (RINALDI, 2007, p.15, grifo do

autor). De acordo com Meneguetti (2010) em função do programa de comunicação de risco

denominado Auditoria Comportamental buscar a sensibilização e aprendizagem do

trabalhador, existe a tendência de mudança na cultura de segurança deste trabalhador, seja

pela melhoria da Percepção de Riscos, da motivação ou até mesmo pela troca de experiência

entre o auditor e o auditado.

3. Estudo de Caso

No Brasil, a Empresa de Energia Brasileira a qual pertence à Unidade de Operação de

objeto da pesquisa do ramo de abastecimento de petróleo e derivados no mercado interno tem

investido cada vez mais no gerenciamento adequado dos riscos em todas as suas Unidades de

Operação por meio da adoção de vários mecanismos, tais como, adoção de alta tecnologia nos

processos, certificação do seu Sistema de Gestão de Segurança, Meio Ambiente e Saúde,

implantação de Diretrizes específicas de Segurança, Meio Ambiente e Saúde (SMS) visando

atingir a excelência em SMS. Com isto, evidenciou-se no decorrer dos anos, uma melhora

significativa do desempenho em SMS, porém os acidentes do trabalho ainda acontecem.

Um dos instrumentos empregados nestas empresas que apóiam a prevenção de

acidentes é o processo de Investigação e Análise do acidente. No decorrer dos últimos anos,

verificou-se que os Relatórios de Investigação de Acidentes apresentavam uma freqüência

VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011

11

significativa em se atribuir a falta ou falha da Percepção de Riscos dos trabalhadores como

causa de acidentes do trabalho. A Unidade de Operação objeto da pesquisa é composta por

quatro áreas: Operação, Manutenção, SMS Operacional e Conformidade e é certificada nas

normas ISO 14001:2004, ISO 9.001:2008 e BS OHSAS: 18001:2007.

Para analisar se os trabalhadores percebem os riscos a que estão expostos no ambiente

de trabalho, foi realizada a pesquisa de campo com os trabalhadores diretamente envolvidos

com os Serviços de Pintura Industrial na qual houve a maior ocorrência de acidentes de

trabalho no período de 2008-2010 evidenciado pelos resultados das Estatísticas Anuais de

Acidentes de Trabalho no período acima mencionado além de que, em sua maioria, os seus

Relatórios de Investigação de Acidentes apontavam a falta/falha de percepção de risco como

uma das causas destes acidentes. Como instrumento de pesquisa foi utilizado um Questionário

dividido em duas partes, sendo a Parte I intitulada Dados do Colaborador, direcionada ao

conhecimento das características dos trabalhadores necessárias à pesquisa, tais como, sexo,

idade, experiência de trabalho, vínculo empregatício com a Unidade de Operação objeto da

pesquisa, escolaridade, função na empresa, cargo que ocupa e acidentalidade na Unidade. As

questões são de múltipla escolha, exceto uma do tipo dicotômica. Na Parte I do Questionário,

também estão descritas as instruções para o seu preenchimento. Os dados preenchidos

propiciam uma posterior correlação com os dados obtidos no Questionário Parte II -

Percepção de Riscos formado por questões que visam identificar, no momento da pesquisa, a

Percepção de Riscos dos trabalhadores diante dos perigos existentes no seu ambiente e se os

programas de comunicação de riscos (Diálogo Diário de Segurança, Meio Ambiente e Saúde -

DDSMS, Auditoria Comportamental, Análise Preliminar de Riscos, Palestra de Integração,

Procedimento de Serviços de Pintura e/ou Permissão para Trabalho) utilizados na Unidade de

Operação objeto da pesquisa ajudam a perceber os riscos (identificar os perigos e reconhecer

os riscos) do seu ambiente de trabalho. Participaram da pesquisa vinte e quatro (24)

trabalhadores envolvidos com o Serviço de Pintura Industrial sendo que 23 eram

terceirizados, aos quais foi solicitado o preenchimento dos Questionários Parte I (Dados do

Colaborador) e Parte II (Percepção de Riscos).

4. Análise dos Resultado

4.1 Questionário Parte I – Dados dos Colaboradores

VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011

12

Apresentam-se abaixo os dados dos colaboradores:

Sexo: O sexo masculino é predominante no Serviço de Pintura Industrial sendo identificada

apenas uma mulher que exerce a função de técnica de segurança, com idade entre 22 e 32

anos. Em função da quantidade ínfima de mulheres, não foi possível traçar um comparativo

entre a Percepção de Riscos de Homens e Mulheres. Faixa etária: O Gráf. 01 mostra que

existe equilíbrio (29%) entre as faixas etárias de 22 a 32 anos e de 44 a 54 anos o que

configura uma equipe adulta com idade média de 38 anos. Cabe lembrar que apenas a idade

média não é suficiente para caracterizar a maturidade da equipe, existem outros fatores que

devem ser considerados. Tempo de Trabalho na Unidade de Operação objeto da pesquisa

– Registra-se uma ligeira predominância de trabalhadores na faixa de 11 a 15 anos de trabalho

na Unidade de Operação objeto da pesquisa. Embora a predominância do tempo de empresa

dos trabalhadores esteja na faixa de 11 a 15 anos, de acordo com os dados estatísticos de

acidentes ocorridos Unidade de Operação objeto da pesquisa no período 2008-20010,

demonstram que 62,3% dos acidentes ocorreram com trabalhadores com tempo de empresa de

até 6 anos. A interpretação deste dado impulsiona a elaboração e implantação de medidas

voltadas a educação dos trabalhadores na busca da melhoria da Percepção de Riscos e

desenvolvimento de atitudes seguras. Vínculo empregatício com a Unidade Objeto da

pesquisa - Dos vinte e quatro (24) trabalhadores envolvidos com o Serviço de Pintura

Industrial que participaram da pesquisa, vinte e três (23) são de empresa contratada (95,8%) e

um (1) empregado cedido de outra unidade da Empresa Brasileira de Energia. Este dado é

preocupante em função da alta rotatividade dos empregados terceirizados e impulsiona a

empresa a aumentar os investimentos em capacitação a fim de que os trabalhadores sejam

capazes de identificar e reconhecer os riscos do seu ambiente de trabalho. Grau de

escolaridade: Cinqüenta e nove (59) % dos trabalhadores do Serviço de Pintura Industrial

que participaram da pesquisa possuem até o 1º grau completo. Não há nenhum funcionário

pesquisado com curso superior. Este é mais um dado preocupante que enfatiza a necessidade

premente de capacitação dos trabalhadores e que pode estar influenciando a percepção dos

riscos e do entendimento da importância dos programas de comunicação de riscos. Área de

Atuação - Dos trabalhadores envolvidos com o Serviço de Pintura Industrial, os pintores

(58%) foram os que mais se acidentaram no período 2008-2010. Acidentalidade - Dos vinte

e quatro (24) trabalhadores que participaram da pesquisa, dezenove (19) responderam que

nunca se acidentaram enquanto quatro (4) responderam que já se acidentaram e um deixou de

VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011

13

responder. Os acidentes informados ocorreram em 1980, 2008 e 2010, sendo que um dos

trabalhadores não informou o ano do acidente. Cabe informar que somente 2 acidentados

faziam parte da estatística, atualmente continuam trabalhando na empresa contratada que

executa o Serviço de Pintura Industrial. Procedeu-se em seguida a análise dos dados

respondidos por cada trabalhador no Questionário Parte II - Percepção de Riscos.

4.2 Questionário Parte II - Percepção de Riscos

Para análise da Percepção de Riscos verifica-se, por meio dos dados obtidos na Parte

II do Questionário, se os trabalhadores conseguiram identificar os perigos relacionados ao

ambiente de trabalho do Serviço de Pintura Industrial e comparado o “Nível de Riscos

definido para cada perigo identificado pela Unidade de Operação objeto da pesquisa” com o

“Risco percebido” pelos trabalhadores. O Questionário Parte II – Percepção de Riscos

apresentava um total de 29 perigos sendo que somente 23 são relacionados ao Serviço de

Pintura Industrial. Quantidade de perigos percebidos por trabalhador - O Gráf.01 indica

que dos 24 trabalhadores que participaram da pesquisa, somente 5 ou 21% identificaram todos

os 23 perigos do ambiente do Serviço de Pintura Industrial citados no Banco de Dados de

AIPC da Unidade de Operação objeto da pesquisa. Os demais identificaram menos que 23

perigos, sendo que 9 ou 38% destes trabalhadores identificaram menos que 20 perigos. Este

resultado indica que 79 % dos trabalhadores não identificaram todos os perigos do ambiente

do Serviço de Pintura Industrial.

QUANTIDADE DE RISCOS PERCEBIDOS POR TRABALHADOR

Trabalhadores do Serviço de Pintura Industrial

1

4

21 1

4

24 5

14 15 16 18 19 20 21 22 23

Riscos

Trab

alha

dor

Gráfico 01 - Quantidade de perigos identificados por trabalhador do Serviço de da Pintura

Industrial da Unidade de Operação objeto da pesquisa.

Fonte: Questionário Parte II - Percepção de Riscos elaborado pela autora - 2011.

VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011

14

Perigos identificados não relacionados ao Serviço de Pintura Industrial - O Quadro 01

descreve os 6 perigos de outras tarefas que foram colocados no Questionário - Parte II, mas

que não estão relacionados ao Serviço de Pintura Industrial conforme definido no Banco de

Dados de AIPC. Com isto, era esperado que nenhum dos trabalhadores os identificasse.

Código

Perigo

Tarefa

PR 3 Estar exposto ao contato com material

cortante/perfurante

Serviço administrativo

PR 9 Estar exposto a desconforto visual Inspeção de Segurança, Meio

Ambiente e Saúde

PR 11 Estar exposto à iluminação

inadequada/insuficiente

Inspeção de Segurança, Meio

Ambiente e Saúde

PR 16 Estar exposto à contaminação por

microrganismos, bactérias, vírus e fungos

Inspeção e manutenção de

rede de esgotos sanitários e

águas

PR 19 Estar exposto à condição atmosférica adversa

(ex: ventos fortes, chuvas, vendaval,

inundação, etc.)

Manutenção de equipamentos

elétricos industriais

PR 25 Estar exposto aos riscos de contato com partes

rotativas de máquinas

Manutenção de máquinas de

carga

Quadro 01 - Riscos não relacionados aos Serviços de Pintura Industrial

Fonte: Banco de Dados de AIPC da Unidade de Operação objeto da pesquisa (2009)

Os dados obtidos indicaram que em média, 77% dos trabalhadores percebem os 6

riscos do Quadro 01 como sendo relacionados ao Serviço de Pintura Industrial. Neste sentido,

estes dados apontam a necessidade de a Atividade de Manutenção da Unidade de Operação

objeto da pesquisa reavaliar os dados inseridos no Banco de dados de AIPC relacionados ao

Serviço de Pintura Industrial junto com os trabalhadores e promover a revisão do referido

Banco de Dados e retreinamento dos trabalhadores, caso identificada esta necessidade.

Níveis de Riscos percebidos pelos trabalhadores do Serviço de Pintura Industrial -. Com

base nas respostas do Questionário referente a (Severidade + Probabilidade) de cada evento

VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011

15

perigoso foi identificado o nível de risco percebido pelos trabalhadores e o percentual das

respostas em que o nível de risco foi considerado alto pelos trabalhadores.

De acordo com os dados pode-se afirmar que 48% dos trabalhadores percebem em

média o nível de risco Baixo para as questões do questionário, enquanto que 52% percebem

um nível de risco em média Moderado. Um dado importante é que, em média, nenhum dos

níveis de risco foi considerado Alto pelos trabalhadores, todavia, vale salientar que algumas

das questões, vinte e oito (28%) sobre Percepção de Riscos, foram consideradas com nível de

risco "Alto" por (20% ou mais) dos trabalhadores, sendo elas: estar exposto ao risco de

contato com mangueira em movimento / jato de equipamento em despressurização; estar

exposto ao risco decorrente de postura inadequada; estar exposto ao risco de explosão; estar

exposto ao risco de contato e/ou inalação de gases e vapores; estar exposto ao risco de

inalação de aerodispersóides (poeira); estar exposto ao risco de contato com produtos

químicos; estar exposto ao risco de contato com níveis alto de ruído. (acima de 85 decibéis) e

estar exposto aos riscos decorrentes do incêndio.

Outro ponto a ser ressaltado é que nenhuma das perguntas sobre Percepção de Riscos

que não constavam do Banco de Dados de AIPC, apesar da grande incidência de respostas

(em média 77%), não apresentaram uma freqüência acentuada de respostas de nível de risco

"Alto". E, ainda, apenas uma delas (estar exposto ao risco de contaminação por

microrganismos, bactérias, vírus e fungos) apresentou uma média o nível de risco

"Moderado", enquanto que as demais o nível de risco foi "Baixo". Pode-se inferir neste caso,

mas sem uma evidência conclusiva, que estas 6 questões realmente não seriam necessárias ao

questionário, ou seja, pelo fato de os trabalhadores apesar de terem respondido que percebiam

estes riscos os mesmos foram considerados, em média, de Baixo nível de risco.

Trabalhador versus Unidade de Operação objeto da pesquisa – níveis de riscos

percebidos O resultado do nível de risco percebido pelos trabalhadores para cada perigo

assinalado no Questionário Parte II – Percepção de Riscos foi comparado com o nível de risco

definido para cada perigo no Banco de Dados de AIPC da Unidade de Operação objeto da

pesquisa para o Serviço de Pintura Industrial. O Gráf.16 indica que apenas 4 níveis de riscos

dos 23 apontados no Banco de Dados de AIPC para o Serviço de Pintura Industrial foram

percebidos pelos trabalhadores no mesmo nível que os definidos pela unidade no Banco de

dados de AIPC. Ademais 4 níveis de riscos não foram percebidos.

O que mais chamou a atenção é que 10 níveis de riscos foram percebidos pelos

trabalhadores com maior pontuação que a definida pela Unidade de Operação objeto da

VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011

16

pesquisa. E, ainda, em 5 deles a pontuação ficou abaixo dos níveis de risco definidos pela

unidade, o que é bastante preocupante, pois alguns trabalhadores denotam a falta de noção das

conseqüências reais dos perigos a que estão expostos.

NÍVEL DE RISCO PERCEBIDO PELOS TRABALHADORES

VERSUS NÍVEL DE RISCO DEFINIDO

PELA UNIDADE DE OPERAÇÃO OBJETO DA PESQUISA Serviço de Pintura Industrial

4; 18%

10; 44%5; 23%

4; 15%Mesmo nível de percepção

Maior nível de percepção

Menor nível de percepção

Não percebeu nível de risco

Gráfico 03 - Nível de risco percebido pelos trabalhadores versos Nível de risco definido pela

Unidade de Operação objeto da pesquisa - Serviço de Pintura Industrial

Fonte: Questionário Parte II - Percepção de Riscos - elaborado pela autora (2011)

Visando aprofundar a análise sobre os

riscos percebidos versus riscos definidos

pela Unidade objeto da pesquisa os dados

obtidos citados abaixo mostram a

distribuição das respostas no questionário

relativo ao mesmo nível de risco, maior e

menor nível de risco e quando o funcionário

pesquisado não percebeu o risco.

VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011

17

Total de trabalhadores versus mesmo nível

de risco definido que a Unidade de Operação

para o Serviço de Pintura Industrial:

Analisando os dados obtidos pode-se

concluir que o trabalhador que mais teve o

nível de percepção idêntica ao que a

Unidade de Operação objeto da pesquisa

considera como adequada, obteve 11 níveis

de percepção de riscos idênticos. Em

seguida, tiveram dois trabalhadores com 9

repostas idênticas.

Total de trabalhadores versus nível de risco maior do que o definido pela

Unidade de Operação objeto da pesquisa para o Serviço de Pintura Industrial: com os

dados obtidos fica claro que os funcionários, em geral, tiveram níveis de percepção de riscos

maiores do que a Unidade de Operação objeto da pesquisa considera como real. Um deste

respondeu o questionário com 19 níveis de percepção de riscos acima do considerado

adequado pela Unidade e outro com 17.

Total de trabalhadores versus nível de risco menor do que o definido pela

Unidade de Operação objeto da pesquisa para o Serviço de Pintura Industrial: com os

dados obtidos indicam que já para os níveis de risco menor que o definido pela Unidade de

Operação objeto da pesquisa, houve um trabalhador que definiu 12 níveis de riscos abaixo do

VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011

18

definido como real pela unidade, 4 respondentes com 10 níveis de risco abaixo do definido

como real pela unidade.

Estes dados são muito preocupantes,

pois demonstram que alguns funcionários

estão percebendo os riscos abaixo do que é

considerado pela unidade o que pode levá-lo

uma maior exposição ao risco pelo

desconhecimento da real conseqüência do

risco.

Total de trabalhadores versus nível de risco

não percebido – Serviço de Pintura Industrial:

Por último, pode-se observar como já

mencionado anteriormente, que alguns

níveis riscos que deveriam ser percebidos

pelos funcionários não estão sendo

percebidos. Há um funcionário que não

percebeu 9 níveis de risco e outros 4 que não

VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011

19

perceberam 8 níveis de risco que deveriam

ter sido percebidos. Este fato chama muita

atenção, pois não perceber alguns níveis de

risco pode aumentar a exposição do

empregado ao risco de acidentes. Pelos

dados, não dar para se chegar a uma

conclusão se o nível de escolaridade pode

influenciar na percepção do risco.

Quanto aos Programas de comunicação de riscos, a Unidade de Operação objeto da

pesquisa possui vários mecanismos de comunicação de riscos junto à força de trabalho e

partes interessadas que são inseridos no seu Sistema de Gestão de Segurança e Saúde. Dentre

estes mecanismos, os mais reconhecidos e utilizados na Unidade de Operação objeto da

pesquisa parar buscar desenvolver a Percepção de Riscos do trabalhador temos o Diálogo

Diário de SMS, Auditoria Comportamental, Análise Preliminar de Riscos, Palestra de

Integração, Permissão para Trabalho e padrões de execução das tarefas. No questionário Parte

II foi inserida uma questão do tipo múltipla escolha para que os trabalhadores identificassem

quais ou quais programas ajudavam a perceber os riscos do ambiente do Serviço de Pintura

Industrial.

A Tab. 01 mostra que 21 dos trabalhadores (88%) percebem o DDSMS como o programa que

melhor ajuda o trabalhador a perceber os riscos do seu ambiente de trabalho

Tabela 01 - Programas de Comunicação de Riscos aplicados na Unidade de Operação objeto

da pesquisa

Programa de Comunicação de Risco Número de Percentual de

VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011

20

Citações Citações

DDSMS 21 88%

Auditoria Comportamental 8 33%

Palestra de Integração 11 46%

Permissão para trabalho 19 79%

Análise Preliminar de Risco (APR) 16 67%

Procedimento de Serviço de Pintura 6 25%

Fonte: Questionário Parte II - Percepção de

Riscos elaborado pela autora (2011)

5 Conclusões

A análise dos resultados do estudo mostrou que a maioria dos trabalhadores da

amostra-piloto não consegue identificar todos os perigos a que estão expostos em seu

ambiente de trabalho. Outros dados obtidos considerados relevantes são a identificação de que

para alguns perigos os níveis de riscos percebidos pelos trabalhadores são menores do que os

definidos pela unidade ou o que é mais grave nem são percebidos pelos trabalhadores. Com

base nestes dados identifica-se que os Programas de Comunicação de Riscos implantados na

Unidade de Operação objeto da pesquisa não estão sendo capazes de preparar o trabalhador a

perceber os riscos do seu ambiente do trabalho e desenvolver atitudes seguras. Ademais nem

todos os programas são reconhecidos pelos trabalhadores como importantes para a melhoria

da percepção de riscos. Estes dados denotam que estes programas ora incorporados ao

Sistema de Gestão de SST da unidade necessitam de melhorias. Além disso, deve-se pensar e

repensar sobre os mecanismos de comunicação de riscos de forma que as mensagens cheguem

aos trabalhadores e à população de forma confiável e adequada. Para tanto, considera-se

necessário, em primeiro lugar, encontrar maneiras de identificar as diferenças e as

necessidades individuais dos trabalhadores e incluir nas informações as preocupações sentidas

pelo público interno e externo. É fundamental que o trabalhador entenda a mensagem

comunicada.

Quanto ao grau de escolaridade, os dados mostram que os trabalhadores com nível de

instrução mais baixa tendem a sofrer mais acidente. Este dado, dentre outros apresentados nos

VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011

21

dados obtidos através das Partes I e II do Questionário reforçam a necessidade de

continuidade pela liderança da unidade em investir na capacitação da força de trabalho, mas

também a tomada de ações junto às empresas contratadas para a melhoria da capacitação de

seus empregados, principalmente em relação ao padrão de execução das tarefas. É

fundamental a inclusão nestes padrões dos perigos e conseqüências relacionados aos perigos

da tarefa e treinamento dos trabalhadores nestes padrões utilizando-se de material de

treinamento adequado com a utilização de desenhos, figuras para mellhorar a compreensão

dos trabalhadores sobre a tarefa a ser executada e os riscos envolvidos na execução. As

propostas de melhorias para os programas de comunicação de riscos adotados na unidade

podem contribuir para melhorar a compreensão dos trabalhadores sobre os riscos do seu

ambiente de trabalho e com isto apoiar o processo de melhoria contínua da Gestão de SST da

unidade. A análise da percepção de riscos do trabalhador como um componente das causas

dos acidentes do trabalho, possibilita a adoção de medidas administrativas específicas para

esta causa, com repercussão na redução da ocorrência dos acidentes, e como conseqüência, o

aprimoramento da Gestão de SST da empresa. Neste sentido, a sugestão de inclusão de

Questionário de Percepção de Riscos durante a análise e investigação de acidentes possibilita

ao investigador maior confiabilidade em diagnosticar se a percepção de risco é a causa real do

acidente.

Referências

ALMEIDA, I. M. Trajetória da análise de

acidentes: o paradigma tradicional e os

primórdios da ampliação da análise.

Interface: Comunicação, Saúde, Educação,

São Paulo, v.10, n.19, p.185-202,

janeiro/junho 2006.

VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011

22

______. NBR ISO/IEC Guia 73: Gestão de

riscos: vocabulário: recomendações para

uso em normas. Rio de Janeiro, 2009. 12p.

______. NBR ISO 31000. Gestão de riscos:

princípios e diretrizes. Rio de Janeiro, 2009.

24 p.

______. NBR ISO 9001. Sistema de gestão

da qualidade - requisitos. Rio de Janeiro,

2008. 24 p.

______. NBR ISO 14001. Sistemas de gestão

ambiental - requisitos com orientações para

uso. Rio de Janeiro, 2004. 27 p.

BALLARDIN, L. et al. Análise das

interfaces entre modelos causais de

acidentes: um estudo de caso em atividades

de manutenção de um complexo hospitalar.

Interface: Comunicação, Saúde, Educação,

São Paulo, v.12, n.27, p.835-52,

outubro/dezembro. 2008.

BLEY, J. Z. et al. Comportamento seguro: a

psicologia da segurança no trabalho e a

VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011

23

educação para a prevenção de doenças e

acidentes. 2. ed. Curitiba: Sol, 2007.

BRASIL, Constituição (1988). Constituição

da República Federativa do Brasil. Brasília,

DF: Senado Federal, 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/consti

tuicao/constitui%C3%A7ao.htm>.

Acesso em: 19 jun.2010.

______. Ministério da Previdência Social.

Brasília, DF. Disponível em:

<http://www.previdenciasocial.gov.br>.

Acesso em: 10 maio, 2010.

_____. : _____. Anuário Estatístico de

Acidentes do Trabalho. Brasília, DF.

Disponível em:

<http://www.previdencia.gov.br/conteudoDi

namico.php?id=1044>. Acesso em: 07 mai.

2011.

______. Ministério do Trabalho e Emprego.

Brasília, DF. Disponível

em:<httt://www.mte.gov.br>. Acesso em: 25

jun. 2010.

VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011

24

CORREA, C. R. P. CARDOSO JR., M. M.

Análise e classificação dos fatores humanos

nos acidentes industriais. Produção, São

Paulo, n. 1, p. 186-198, 2007.

DEKKER, S.W.A. Reconstructing human

contributions to accidents: the new view on

error and performance. Journal of Safety

Research, Sweden, v. 33, n. 1, p. 371- 385,

Oct. 2002.

______. Cognitive reliability and error

analysis method. (CREAM) Halden, Norway:

Institutt for Energiteknikk, 1998.

Disponível em: <

http://www.scencedirect.com/science/book/9780080428482> Acesso em:

07 fev. 2011. GORDON, M.D.Risk perception and construction safety.Civil Engineering , v.159, n.14671,

p.51-56, Nov.2006.

ILO.My life, my work, my safe work –

managing risk in the work environment, 28

april.2008. Disponível em: <

http://www.ilo.org/global/meetings-and-events/campaigns/lang--en/index.htm >

Acesso em: 05 mai. 2011.

VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011

25

_____.World Day for safety and health at work

– 28 April 2011, 28 april 2011. Disponível

em: < http://www.ilo.org/global/meetings-and-events/campaigns/lang--

en/index.htm > Acesso em: 05 mai. 2011.

KOROLIJA, N.; LUNDBERG, J. Speaking

of human factors: emergent meanings in

interviews with professional accident

investigators. Safety Science, v. 48, p. 157-

165, 2010.

MASINI, A. A. M. Fatores de personalidade e

Percepção de Riscos podem predizer o

comportamento de risco? Um estudo com

universitários. 2009.186f. Dissertação

(Mestrado em Psicologia)-Instituto de

Psicologia, Universidade Federal de

Uberlândia, Uberlândia, 2009.

MENEGUETTI, A. A. A importância da

auditoria comportamental para a prevenção de

acidentes na indústria petroquímica.

2010.172f. Dissertação (Mestrado em

Sistemas de Gestão)-Centro Tecnológico,

Universidade Federal Fluminense, Niterói,

2010.

VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011

26

MULLEN, J. Investigating factors that

influence individual safety behavior at

work. Journal of Safety Research, v.35, n.3, p.

275-285, 2004.

OLIVEIRA, M. J. S. Os comportamentos de

segurança: o contributo da experiência de

acidentes do trabalho e do clima de

segurança. 2007, 55f. Dissertação

(Mestrado em Psicologia Social e

Organizacional)-Departamento de

Psicologia Social e das Organizações,

Instituto Superior de Ciências do Trabalho

e da Empresa, Lisboa, 2007.

______. The definition of human error and

a taxonomy for technical system design. In:

RASMUSSEN J, DUNCAN K, LEPALT J.

(Eds) New technology and human error.

Indianapolis: John Wiley and Sons; 1987. p.

23-30.

REASON, J.T.Education and debate. British

Medical Journal, v. 320, p. 768-770, 2000.

______. Human error. Cambridge, M.A:

Cambridge University Press, 1990.

VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011

27

______.Managing the risks of organizational

accidents. Hants. UK: Ashgate Publishing

Ltd, 1997.

RINALDI, A. A importância da comunicação

de risco para a s organizações. 2007.130f.

Dissertação (Mestrado em gestão integrada

em saúde do trabalho e meio ambiente) -

Centro Universitário SENAC – Campus

Santo Amaro, São Paulo, 2007.

SALMON, P et al. Managing error on the

open road: The contribution of human

error models and methods. Safety Science ,

v.48, n. 10, p. 1225-1235, Dec. 2010.

SHAPELL, S.; WIEGMANN, D. The

Human Factors Analysis and Classification

System (HFACS). Washington, DC: Federal

Aviation Administration, Office of Aviation

Medicine, 2000. (Report Nº DOT/FAA/AM-

00/7).

SIMPSON,G.; HORBERRY,T.; JOY, J.

Understanding human error in mine safety.

Farnham, England: Ashgate Publishing ,

2009.

VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011

28

SLOVIC, P. Perception of risk. Science, v.

236, n. 4799, p. 280-285, 1987.

STARR, C. Social benefit versus

technological risk. Science, v. 165, n. 3899,

p. 1232-1238, 1969.

THEOBALD, R. A excelência em gestão de

SMS: uma abordagem orientada para os

fatores humanos. Revista Eletrônica Sistemas

& Gestão, Rio de Janeiro, v. 2, n. 1, p. 75-88,

2007.

TREPESS, D. A Classification model for

human error in collaborative systems. 2003.

315 f. Tese (Doutorado em Filosofia)-School

of Computing, Staffordshire University,

UK, 2003.