12
Turma e Ano: Master A (2015) 23/02/2015 Matéria / Aula: Direito Processual Civil / Aula 01 Professor: Edward Carlyle Silva Monitor: Alexandre Paiol AULA 01 CONTEÚDO DA AULA: Jurisdição: conceito, característica e princípios Bibliografia: Aconselha no momento não comprar nada e aguardar o novo CPC O aluno deve utilizar o que tem em sua biblioteca e aguardar os novos lançamentos. Segue uma recomendação que o professor Edward forneceu em 2014. (atenção: ele não forneceu nenhuma bibliografia nesse ano de 2015, por conta das mudanças). Fredie Didier Jr. - Curso de Direito Processual Civil - vol. 1, 2, 3, 4 e 5; Autor mais adotado em concursos públicos atualmente. O autor escreve sozinho apenas o 1º volume, sendo os demais em coautoria. Leitura fácil, mas muito volumosa. Possui bastante conteúdo de jurisprudência. Daniel Amorim Assumpção Neves: Autor muito bom. Curso em volume único, com abordagem simples, direta e objetiva. Não traz tantas informações quanto o do Fredie Didier, mas aborda todas as questões. Demais autores clássicos: Alexandre Câmara (RJ): Cândido Dinamarco Humberto Theodoro Jr. São bons livros, mas não trazem tantas divergências atuais quanto os do Daniel Assumpção e Fredie Didier (autores mais modernos atualmente), o que é muito importante em concurso. Jurisdição A palavra jurisdição segundo a doutrina é oriunda segundo alguns do vocábulo iuris dictium segundo outro do vocábulo iuris detieri; de qualquer modo adote você um vocábulo ou outro, basicamente a compreensão que se tem é tanto de iuris dictum ou iuris detieri é que a jurisdição significa dizer o direito. Só que o problema é que essa expressão dizer o direito é extremante básico para amplitude que o termo jurisdição possui. Na verdade originariamente o termo jurisdição foi utilizado da maneira que nós compreendemos ele atualmente pelo Montesquieu, na sua obra o espírito das leis, ele originariamente apresentou a jurisdição nos

AULA 01 CONTEÚDO DA AULA: Jurisdição: conceito ...tribcast-midia.s3-sa-east-1.amazonaws.com/wp-content/uploads/2015/... · • Humberto Theodoro Jr. São bons livros, mas não

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: AULA 01 CONTEÚDO DA AULA: Jurisdição: conceito ...tribcast-midia.s3-sa-east-1.amazonaws.com/wp-content/uploads/2015/... · • Humberto Theodoro Jr. São bons livros, mas não

Turma e Ano: Master A (2015) – 23/02/2015

Matéria / Aula: Direito Processual Civil / Aula 01

Professor: Edward Carlyle Silva

Monitor: Alexandre Paiol

AULA 01

CONTEÚDO DA AULA: Jurisdição: conceito, característica e princípios

Bibliografia:

Aconselha no momento não comprar nada e aguardar o novo CPC – O aluno deve utilizar o que tem em sua biblioteca e aguardar os novos lançamentos.

Segue uma recomendação que o professor Edward forneceu em 2014. (atenção: ele não forneceu nenhuma bibliografia nesse ano de 2015, por conta das mudanças).

Fredie Didier Jr. - Curso de Direito Processual Civil - vol. 1, 2, 3, 4 e 5; Autor mais adotado em concursos públicos atualmente. O autor escreve sozinho

apenas o 1º volume, sendo os demais em coautoria. Leitura fácil, mas muito volumosa. Possui bastante conteúdo de jurisprudência.

Daniel Amorim Assumpção Neves: Autor muito bom. Curso em volume único, com abordagem simples, direta e

objetiva. Não traz tantas informações quanto o do Fredie Didier, mas aborda todas as questões. Demais autores clássicos: • Alexandre Câmara (RJ): • Cândido Dinamarco • Humberto Theodoro Jr. São bons livros, mas não trazem tantas divergências atuais quanto os do Daniel Assumpção e

Fredie Didier (autores mais modernos atualmente), o que é muito importante em concurso.

Jurisdição

A palavra jurisdição segundo a doutrina é oriunda segundo alguns do vocábulo

iuris dictium segundo outro do vocábulo iuris detieri; de qualquer modo adote você um vocábulo

ou outro, basicamente a compreensão que se tem é tanto de iuris dictum ou iuris detieri é que a

jurisdição significa dizer o direito. Só que o problema é que essa expressão dizer o direito é

extremante básico para amplitude que o termo jurisdição possui. Na verdade originariamente o

termo jurisdição foi utilizado da maneira que nós compreendemos ele atualmente pelo

Montesquieu, na sua obra o espírito das leis, ele originariamente apresentou a jurisdição nos

Page 2: AULA 01 CONTEÚDO DA AULA: Jurisdição: conceito ...tribcast-midia.s3-sa-east-1.amazonaws.com/wp-content/uploads/2015/... · • Humberto Theodoro Jr. São bons livros, mas não

termos que nós conhecemos atualmente. Que termo são esses? Como sendo uma das funções

do Estado. O Estado é o detentor do poder, o poder é uno e indivisível. Então o Estado como

detentor do poder, exerce esse poder através de diferentes funções, essas diferentes funções

são a função legislativa, a função administrativa, ou também conhecida como sendo função

executiva e o que nos interessa a função jurisdicional.

Função Administrativa (Executiva) - voltada para a realização do bem comum. Função Legislativa - criação de normas gerais e abstratas. Função Jurisdicional - aplicação da lei no caso concreto; atuar a vontade concreta da lei (concepção Chiovenda) – Italiano que teve uma enorme influência no Processo Civil Brasileiro.

A função administrativa também chamada de executiva ela é voltada para a

realização do bem comum, ela é dirigida para a realização dos interesses sociais, essa

realização dos interesses sociais no âmbito dos interesses coletivos, no âmbito da tutela

coletiva, não é o que nós vamos examinar aqui, mas no âmbito do estudo direito coletivo, esses

interesses sociais, esses interesses coletivos, eles podem ser de natureza primária, ou de

interesse social, ou coletivo primário e interesse social ou coletivo secundário.

Interesse social primário é o interesse da coletividade, é o interesse da própria

sociedade, é o que a sociedade possui de interesse. Interesse a segurança, saúde, educação,

é o interesse social propriamente dito. Interesse social coletivo secundário é o que o

administrador considera como sendo interesse da sociedade. É a interpretação que o

administrador possui acerca do interesse social, nem sempre o interesse primário é o mesmo

que o interesse secundário, porque o interesse secundário é interesse que o administrador

considera como sendo o interesse social, é aquele que ele interpreta como sendo interesse

primário. Então pode ser que a coletividade, a sociedade tenha interesse em segurança e

saúde e o administrador considere que o interesse primário seja outro de diferença de

segurança e saúde. Pode ser que sejam questões atinentes a emprego, questões atinentes à

família, alguma outra questão qualquer diferente daquilo que a sociedade efetivamente deseja.

Em função que o Estado precisa ser provocado para atuar, surge o que a

doutrina denomina de trilogia estrutural do processo civil.

1. Trilogia estrutural do Processo Civil:

Ela parte da seguinte premissa: a Jurisdição é considerada uma função do

Estado, porém, não pode ser exercido pelo Estado de ofício, o Estado precisa ser provocado

para prestar a jurisdição (prestar atividade jurisdicional) Você precisa de um meio através do

qual o interessado provoque o Estado para que ele preste a jurisdição. Esse meio é o exercício

do direito de ação.

O Estado precisa também de um instrumento através do qual ele deixe claro a

sua decisão e esse é chamado de processo.

Esses três institutos: ação, jurisdição e processo, são os três pilares do

processo civil moderno, é o que se denomina na doutrina de trilogia estrutural do processo civil.

Aqui surgem alguns detalhes que deveremos adaptar ao novo código de

processo civil.

Page 3: AULA 01 CONTEÚDO DA AULA: Jurisdição: conceito ...tribcast-midia.s3-sa-east-1.amazonaws.com/wp-content/uploads/2015/... · • Humberto Theodoro Jr. São bons livros, mas não

1° detalhe: existe uma corrente de pensamento defendida pelo Marinoni e pelo

Dinamarco que defendem a existência de um quarto pilar, de um quarto instituto na

estrutura do processo civil moderno. Esse quarto instituto é o direito de defesa. Por que eles

defendem que a defesa seria um quarto instituto na estrutura do processo civil moderno?

Porque segundo eles a trilogia estrutural do processo civil foi pautada numa época em que o

processo civil era estudado apenas sobre o ponto de vista do autor, então você tinha o autor

provocando o exercício da jurisdição através da ação e o Estado ao prestar essa jurisdição

precisava de instrumento que se denominava processo, mas todo esse desenrolar era

examinado pelo ponto de vista do autor, o réu não tinha participação nenhuma. Só que

modernamente o que se defende em processo civil é que autor e réu estão em situação de

igualdade processual, paridade de armas. Então se autor e réu estão em situação de paridade

no processo o processo civil moderno não pode partir tão somente do ponto de vista do autor,

ele também tem que levar em consideração, o réu. E ao levar em consideração o réu surge,

segundo eles, esse quarto pilar que é o direito de defesa. Em outras palavras, segundo eles,

se o autor possui direito de provocar o Estado a exercer a jurisdição diante daquele caso

concreto que ele apresenta, se ele tem direito de apresentar provas formular alegações, se ele

exerce seu direito de ação constantemente no curso do processo, o réu possui o mesmo

direito, de formular alegações, de apresentar provas, o réu possui o mesmo direito, faculdade,

ônus que sujeitou o autor. Só que esses direito em relação ao réu são chamado de direito de

defesa. Assim, como o autor tem direito de convencer o juiz, o Estado, da veracidade de suas

alegações pleiteando uma decisão que lhe é favorável, o réu também possui direito de formular

alegações, formular pedido, de apresentar provas que convençam o juiz que o pedido do autor

não é devido. Então segundo eles o direito de defesa seria um quarto instituto dessa estrutura

do processo civil, você não poderia mais falar em trilogia estrutural do processo civil.

Precisamos tomar cuidado com duas questões importantes nessa teoria.

Primeira questão importante, minoritária, somente o Marinone e o Dinamarco defendem essa

corrente de pensamento, os demais autores processuais não adotam essa orientação de um

quarto instituto. A maioria da doutrina e da jurisprudência defendem que todos esses direito

que o réu possui de convencer o juiz da veracidade de suas alegações, de formular pedido de

prova, de fazer requerimentos, todos esses direito e faculdades que o réu possui de convencer

o juízo de que o pedido do autor não é correto, não se enquadram num quarto pilar, mas na

verdade fazer parte do direito de ação do réu. O réu também possuiria direito de ação, mas

esse direito de ação é exercido com o objetivo de se defender, não haveria necessidade de se

falar de um quarto pilar, um quarto instituto. O direito de ação compreenderia tanto o direito de

ação do autor, quanto também o direito de ação do réu. Só que o autor exerceria o direito

provocando o Estado a prestar jurisdição, a defender os seus interesses, a dizer que ele autor

realmente possui o direito alegado. Esse mesmo direito de ação quando é exercido pelo réu

tem o objetivo de impedir que o autor obtenha o pedido formulado, na verdade o réu exerce o

direito de ação com o objetivo de que o Estado/juiz decida pela improcedência do pedido

formulado pelo autor. Então na verdade o direito de ação é uma moeda, só que de um lado

você tem um direito de ação do autor e do outro você tem o direito de ação do réu. Não há

necessidade de você falar em quarto instituto, o que há necessidade de você interpretar o

direito de ação tanto pelo ponto de vista do autor quanto pelo ponto de vista do réu.

Page 4: AULA 01 CONTEÚDO DA AULA: Jurisdição: conceito ...tribcast-midia.s3-sa-east-1.amazonaws.com/wp-content/uploads/2015/... · • Humberto Theodoro Jr. São bons livros, mas não

No novo código de processo civil, a questão da defesa é expressamente

mencionada em vários dispositivos. O réu tem todos os direitos, faculdades e ônus do

autor. O Direito de defesa foi alavancado de tal forma que hoje ele se manifesta no

código de processo civil. Mesmo assim, ainda vamos ficar com a teoria que defende a

trilogia estrutural do processo civil.

O Novo código de processo civil permite expressamente a arbitragem.

Desta forma a arbitragem passa a fazer parte do exercício da jurisdição. (em um dispositivo,

por enquanto é o art. 16), ele afirma que a jurisdição será exercida por juízes e tribunais,

porém, a arbitragem seria uma heterocomposição (um terceiro escolhido que vai tentar resolver

o problema).

Obs: O professor Edward acabou não falando do 2° detalhe, porém estou acrescentando a

transcrição.

2° detalhe: Cuidado porque alguns autores vão ao exagero quando defendem o direito de ação

por parte do réu. Há quem diga que o réu ao exercer o seu direito de ação ele pode formular

qualquer pedido em qualquer circunstância. O exagero maior está em afirmar que na

contestação o réu poderia formular pedido contrario em face do autor. Isso até é possível em

se tratando de pedidos contrapostos, mas nessas hipóteses que estão expressamente

autorizadas pela lei, você tem previsão legal dessa possibilidade. Alguns autores extrapolam

essa previsão legal, eles afirmam que em qualquer hipótese, tratando-se do exercício do direito

de ação pelo réu poderia formular pedido na contestação. De maneira nenhuma, para formular

pedido em contestação o réu precisa estar autorizado pela lei expressamente, é a hipótese de

pedidos contrapostos. Mais adiante nós vamos examinar que na reconvenção você tem uma

verdadeira demanda sendo ajuizada pelo réu em face do autor, e nas chamadas ações

dúplices você não tem nem necessidade de pedido do réu a própria relação jurídica ao ser

decidida, ela acaba por solucionar o conflito tanto em relação ao autor como em relação ao réu

definindo a relação jurídica para ambos. A única hipótese prevista em que réu formule pedido

dentro da contestação é a hipótese de pedidos contrapostos, mas tem que estar

expressamente prevista na lei.

Então examinada a trilogia estrutural do processo civil tomem cuidado com esse

quarto instituto que é a defesa, admitida por uns, mas negada pela maioria.

2. Conceito de Jurisdição:

Vamos começar a falar propriamente de jurisdição iniciando o estudo pelo

conceito de jurisdição. Qual é o conceito de jurisdição? Quando nós falamos em conceito de

jurisdição já digo que é um dos temas mais debatidos da doutrina tanto estrangeira quanto

nacional. Aqui no Brasil, é possível mencionar 4 correntes acerca do conceito de jurisdição. Os

dois conceitos clássicos defendidos aqui no Brasil, tradicional, são de dois maiores autores,

talvez os dois maiores autores processuais de todos os tempos. Primeiro deles é o Carneluti e

o segundo é Chiovenda.

Teorias Clássicas: 2.1) Teoria Unitária do Ordenamento Jurídico – Carnelutti: O direito

material não é suficiente para assegurar um direito, apenas criando uma expectativa de

Page 5: AULA 01 CONTEÚDO DA AULA: Jurisdição: conceito ...tribcast-midia.s3-sa-east-1.amazonaws.com/wp-content/uploads/2015/... · • Humberto Theodoro Jr. São bons livros, mas não

direito. Somente o processo é capaz de assegurar o direito material. A sentença proferida no

Page 6: AULA 01 CONTEÚDO DA AULA: Jurisdição: conceito ...tribcast-midia.s3-sa-east-1.amazonaws.com/wp-content/uploads/2015/... · • Humberto Theodoro Jr. São bons livros, mas não

processo cria o direito subjetivo, pois somente a partir desta a parte poderá se utilizar de todo o sistema processual para coagir o réu ao cumprimento da obrigação. Portanto, o processo seria mais importante que o direito material, já que o direito subjetivo seria criado pela sentença.

O sistema é baseado nos interesses dos indivíduos, que são infinitos, mas os

bens sobre os quais recaem tais interesses são finitos. Quando há um conflito de

interesses sobre o mesmo bem, surge a denominada pretensão, que consiste na exigência

de subordinação de um interesse alheio ao interesse próprio. Se a outra parte abrir mão de

seu interesse, não há conflito. Por outro lado, quando há resistência, surge a denominada

lide, que nada mais é do que o conflito de interesses caracterizados por uma pretensão

resistida (processo de conhecimento) ou não satisfeita (processo de execução). A

jurisdição tem como finalidade solucionar a lide (conflito de interesses). Portanto, segundo

Carnelutti, jurisdição é a busca da justa composição da lide.

A terminologia do CPC é toda do Carnelutti, mas a teoria dele não é

adotada. A teoria adotada é a do Chiovenda.

Chiovenda, talvez o único processualista com quem o Carnelutti não criava

problema, Carnelutti criava problema com todo mundo, Chiovenda talvez considerado pela

maioria dos processualistas o maior de todos os tempos. Chiovenda era adepto da chamada

teoria dualista do ordenamento jurídico. Essa teoria dualista do ordenamento jurídico

defendia que o ordenamento é estabelecido em dois planos diversos, o primeiro plano é do

direito material, plano do direito civil. Esse plano cria direito subjetivo, então para os adeptos

dessa corrente de pensamento é o direito material quem cria o direito subjetivo. Só que

pode acontecer que esse direito subjetivo essa norma de direito material, de direito subjetivo,

sofra alguma violação e ao sofrer essa violação você precisa que essa violação seja corrigida,

precisa que a lei seja corretamente aplicada, que seja corrigida essa violação e aí você passa

ao segundo plano do ordenamento jurídico. O segundo plano é o plano do direito processual,

nesse plano que você vai obter a violação daquela norma de direito material, então é através

do direito processual que você tem correta aplicação da lei ao caso concreto em que

você tem a correção daquela norma violação, em que você tem o Estado qual é correta

interpretação da lei no caso concreto.

2.2) Teoria Dualista do Ordenamento Jurídico - Chiovenda (dominante)

o ordenamento jurídico é formado por dois planos: material e processual. Segundo

Chiovenda, jurisdição é a função atribuída ao Estado de substituir a vontade dos

particulares ou de outros órgãos públicos para atuar a lei ao caso concreto,

declarando-a (processo de conhecimento) ou tornando-a efetiva (execução).

Atualmente, esta orientação é a mais adotada no Brasil, principalmente quanto à

concepção de substituição - Humberto Theodoro, Araken de Assis, Alexandre Câmara.

Teorias Modernas:

2.3) Marinoni - Proteção Constitucional:Modernamente, o autor sustenta

que a jurisdição consiste na atuação da vontade concreta da lei voltada para a realização

e proteção dos direitos fundamentais estabelecidos na Constituição. Não existe jurisdição

se esta não for voltada sempre à proteção dos direitos fundamentais.

Page 7: AULA 01 CONTEÚDO DA AULA: Jurisdição: conceito ...tribcast-midia.s3-sa-east-1.amazonaws.com/wp-content/uploads/2015/... · • Humberto Theodoro Jr. São bons livros, mas não

2.4) Fredie Didier Jr. (teoria mais moderna, porém isolada) A jurisdição é

uma função atribuída a um terceiro imparcial de realizar o direito de modo imperativo e

criativo, reconhecendo, efetivando e protegendo situações jurídicas concretamente

deduzidas em decisão insuscetível de controle externo e com aptidão para tornar-se

imutável.

Quando ele fala que a realização do direito é feita de modo imperativo e

criativo, segundo ele a aplicação da lei deve ser interpretada como sendo a criação do direito

diante do caso concreto. Aplicar a lei segundo ele, não é simplesmente pegar uma norma

preestabelecida, preexistente, e aplicar ao caso concreto, não é isso. Segundo ele toda vez

que o juiz, que os tribunais exercem a jurisdição, eles estão criando o direito, porque segundo

eles toda vez que o caso é levado ao conhecimento do juiz para decisão ele tem no mínimo

duas soluções possíveis, e ao escolher uma delas, ele cria direito para aquele caso concreto.

Então essa criação de direito que o distingue de todas as demais teorias existentes, porque nos

demais aspectos, ele basicamente obedece à regra geral da jurisdição, você tem um terceiro

imparcial, um Estado, você tem a realização do direito de modo imperativo, somente a decisão

judicial pode ser imposta a uma das partes. Isso que distingue a decisão judicial de um parecer.

Um parecer no MP, ou da procuradoria, não tem como ser imposta a parte, a decisão judicial

sim.

Vamos falar agora das características da jurisdição?

3. Características da Jurisdição: (pelo código atual)

3.1)Substitutividade o Estado substitui a vontade das partes na solução dos conflitos.

3.2) Inércia ou Princípio da Demanda (art.2º do CPC) - A jurisdição é inerte.

Em regra, o Estado precisa ser provocado para exercer a jurisdição. O Estado não fica

procurando problema para resolver. Ele aguarda a provocação feita pelo interessado através

do exercício do direito de ação. Então a jurisdição ela é inerte como regra, mas há exceções,

em que você tem o exercício de oficio da jurisdição. Segundo a doutrina as exceções são a

seguintes:

Art. 2º Nenhum juiz prestará a tutela jurisdicional senão quando a parte ou o interessado a requerer, nos casos e forma legais.

Exceções: Jurisdição ex officio: 1) abertura de inventário, prevista no CPC, art. 989. (No novo CPC não é mais prevista a

abertura do juiz de inventário de ofício)

Art. 989. O juiz determinará de ofício, que se inicie o inventário, se

nenhuma das pessoas mencionadas nos artigos antecedentes o

requerer no prazo legal.

2) arrecadação de bens de herança jacente, hipótese do art. 1142 do CPC;

Art. 1.142. Nos casos em que a lei civil considere jacente a herança,

o juiz, em cuja comarca tiver domicílio o falecido, procederá sem

perda de tempo à arrecadação de todos os seus bens.

Page 8: AULA 01 CONTEÚDO DA AULA: Jurisdição: conceito ...tribcast-midia.s3-sa-east-1.amazonaws.com/wp-content/uploads/2015/... · • Humberto Theodoro Jr. São bons livros, mas não

3) arrecadação de bens de ausente, art. 1160 do CPC;

Art. 1.160. O juiz mandará arrecadar os bens do ausente e nomear-

lhe-á curador na forma estabelecida no Capítulo antecedente

4) exibição de testamento, art. 1129 do CPC;

Art. 1.129. O juiz, de ofício ou a requerimento de qualquer

interessado, ordenará ao detentor de testamento que o exiba em

juízo para os fins legais, se ele, após a morte do testador, não se tiver

antecipado em fazê-lo. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de

1º.10.1973

Parágrafo único. Não sendo cumprida a ordem, proceder-se-á à

busca e apreensão do testamento, de conformidade com o disposto

nos arts. 839 a 843. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973

A regra é de que a jurisdição somente seja exercida quando ela for provocada. E

qual o meio que essa provocação é feita pelo interessado? Através do exercício do direito de

ação. Isso significa em outras palavras que se o Estado não pode exercer a jurisdição de oficio

porque ele precisa ser provocado, ele fica circunscrito, limitado ao que for pedido pelo

interessado. Então quando o interessado exerce o direito de ação, esse interessado apresenta

um pedido e esse pedido limita, restringe a atuação do juiz, porque se o juiz extrapola o pedido

formulado ele está na verdade exercendo jurisdição de oficio, o que é proibido. Então o pedido

delimita a atuação do juiz.

Isso é importantíssimo pelo seguinte, digamos que a parte apresente um pedido

de que o réu seja condenado a lhe pagar vinte mil reais. Ora se o pedido formulado é de vinte

mil reais, o juiz pode condenar ao réu a pagar cinquenta mil reais? Não, porque se ele condena

o réu a pagar cinquenta mil reais ao autor ele está extrapolando o pedido do autor em trinta mil

reais, ele vai além do que foi pedido, é o que se chama de sentença ultra petita. Para facilitar

que vocês gravem, ela ultrapassa o que foi pedido, ela vai além do que foi pedido.

ULTRA PETITA (além do pedido): Pede 20 mil e o juiz condena em 50 mil

O autor pediu vinte mil reais, o juiz considera que é melhor o réu entregar uma bicicleta no valor de vinte mil reais, uma motocicleta no valor de vinte mil, uma televisão no valor de vinte mil, foi isso que foi pleiteado pelo autor? não, se ele condena o réu a lhe entregar uma motocicleta no valor de vinte mil reais, essa condenação é diferente, é diverso do que foi objeto de pedido, trata-se de uma sentença extra petita, fora do que foi pedido, diversa do que foi pedido. Tanto na sentença extra petita, quanto na sentença ultra petita você tem decisões diferentes, uma ultrapassa a outra é diversa do que foi pedido.

EXTRA PETITA (fora do que foi pedido): Pede 60 mil e o juiz condena em

entregar uma motocicleta de 60 mil.

Só que além dessas duas situações da sentença ULTRA PETITA e da sentença

EXTRA PETITA, você tem uma terceira hipótese que é a hipótese da sentença CITRA ou

INFRA PETITA. E aqui você tem que tomar cuidado com o seguinte: Não confundam sentença

citra ou infra petita com sentença de procedência parcial. São duas situações diferentes, a

sentença citra ou infra petita é uma e sentença de procedência parcial é outra. Qual é a

diferença delas?

Page 9: AULA 01 CONTEÚDO DA AULA: Jurisdição: conceito ...tribcast-midia.s3-sa-east-1.amazonaws.com/wp-content/uploads/2015/... · • Humberto Theodoro Jr. São bons livros, mas não

Digamos que você tenha numa única demanda dois pedidos sendo

apresentados, vamos dizer que o pedido seja de despejo do inquilino (não paga aluguel) mais

uma indenização pelos danos que foram ocasionados no imóvel pelo locatário. Quando o juiz

vai examinar os dois pedidos, examina os dois pedidos, o pedido de despejo é julgado

procedente, o inquilino está lá, não paga aluguel há muito tempo, o pedido de despejo é

julgado procedente. Quando juiz vai examinar o pedido de indenização ele verifica que não

foram causados os danos, que não há absolutamente comprovação nenhum dos valores que o

autor julga ter direito de receber, então ele julga o pedido improcedente no que tange a

indenização. Mas vejam, ambos os pedidos foram examinado e decididos, um julgado

procedente e outro improcedente, essa sentença concede uma parte e nega outra parte, essa

sentença é de procedência parcial. Porque ambos os pedidos foram examinados, um deles foi

concedido e outro não, cabe embargos de declaração? Não, a princípio não cabe embargos de

declaração porque não há nenhuma omissão, não há nenhuma obscuridade, não há

nenhuma contradição. Qual seria o recurso cabível no primeiro momento? Apelação, essa

apelação é baseada na alegação de erro do juiz no julgamento da indenização, é baseada no

que se chama de error in judicando, erro no julgamento, a má aplicação da lei ao caso

concreto. O que se pede nessa apelação é a reforma da sentença quanto ao pedido de

indenização.

Agora se você adotar o mesmo exemplo, despejo mais indenização. O despejo é

julgado improcedente, mas no momento de examinar o pedido de indenização o juiz não o

decide, o juiz não examina o pedido. Se ele deixou de examinar o pedido, se ele é omisso em

relação a um dos pedidos formulados, você está diante de uma sentença citra ou infra petita.

CITRA OU INFRA PETITA (apenas uma parte dos pedidos recebe a manifestação): Pede despejo e indenização e o juiz só condena ao despejo)

Então vejam, na sentença citra ou infra petita o juiz deixa de examinar alguns

dos pedidos, na sentença de procedência parcial ela examino todos. Concede alguns e

indefere outros. Na sentença citra ou infra petita não, ele deixa de examinar algum dos pedidos

apresentados, cabe embargos de declaração? Cabem, alegando a omissão na decisão

daquele pedido ali. Omissão quanto à indenização. Como isso vai solucionado? Se o juiz suprir

a omissão, se o juiz examinando os embargos de declaração, ele decide, o problema está

resolvido. Pode acontecer que o juiz não examine a omissão, pode ser que o juiz considere que

os embargos de declaração possuem o vício que não podem ter o mérito examinado, não

conhece dos embargos de declaração. Pode ser que ele não receba os embargos de

declaração por algum motivo, pode ser que ele não adentre no exame da omissão alegando

que não existe omissão nenhuma. Bom, pode ser até que a parte deixe passar o prazo dos

embargos de declaração e não utilize destes. Caso os embargos de declaração sejam

recebidos, não sejam conhecidos, o juiz decida que não há omissão alguma ou os embargos

de declaração não são interpostos, a parte pode alegar esse vício em apelação? Pode, mas

alegando error in procedendo, erro no procedimento, erro de processamento, um dos pedidos

apresentados não foi examinado. Então esse vício deve ser corrigido, o Tribunal deve examinar

o pedido que não foi examinado até esse momento. Tecnicamente quando a apelação é

baseada em error in procedendo, você vai pedir a anulação da sentença, mas aqui tem um

detalhe interessante, tecnicamente quando a apelação é baseada em error in procedendo,

você vai pede a anulação da sentença, só que se você pedir a anulação da sentença aqui, qual

é parte da sentença que vai ser anulada? A parte que foi decidida, porque a parte que não foi

decidida não pode ser anulada, se não há decisão sobre a indenização, como é que você vai

Page 10: AULA 01 CONTEÚDO DA AULA: Jurisdição: conceito ...tribcast-midia.s3-sa-east-1.amazonaws.com/wp-content/uploads/2015/... · • Humberto Theodoro Jr. São bons livros, mas não

pedir anulação dessa decisão? Não tem como. Então se você utilizar o termo anulação que

está correto para erro in procedendo você vai anular a parte da sentença que lhe interessa, não

a parte da sentença que você quer ver decidida. É por isso que os tribunais, principalmente o

TJ-SP, aplicam o que se chama de princípio da complementaridade. Pelo princípio da

complementaridade, o TJ-SP vem afirmando que diante dessa anulação, ele devolve o

processo ao primeiro grau para que o pedido de indenização seja decidido, para a

complementação da sentença na parte em que está faltando. Então a primeira solução é

aplicação do princípio da complementaridade.

Há outra posição jurisprudencial que defende a aplicação da causa madura por

analogia, a teoria da causa madura pressupõe uma sentença terminativa. Aqui não tem

sentença nenhuma o pedido de indenização não foi decidido, mas há uma corrente de

pensamento também em SP, José Roberto dos Santos Bedaque, José Rogério Cruz e Tuti,

que são desembargadores, eles defendiam a aplicação da teoria da causa madura por

analogia. A teoria da causa madura está prevista no art. 515, § 3º CPC, o tribunal decidirá pela

primeira vez o mérito da causa, só que obviamente isso pressupõe que sentença tenha sido

terminativa e aqui não tem sentença nenhuma, o juiz não decidiu nada.

Art. 515. A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada.

§ 3o Nos casos de extinção do processo sem julgamento do mérito (art.

267), o tribunal pode julgar desde logo a lide, se a causa versar questão exclusivamente de direito e estiver em condições de imediato julgamento.

3.3) Natureza Declaratória (Teoria de Chiovenda - majoritária):

Se adotarmos a Teoria de Chiovenda, a sentença possui natureza

declaratória, pois o Estado declara um direito preexistente (já existe no direito material), ou seja, apenas declara a vontade da lei.

Porém, se adotarmos a Teoria de Carnelutti, segundo a qual a sentença cria

direito subjetivo, a natureza será constitutiva. Marinoni e Fredie Didier não abordam o

tema.

Obs: Antigamente existiam duas correntes que acabavam por colocar tanto a

coisa julgada como a lide dentro de características da jurisdição. Hoje não são mais

A coisa julgada não é característica da jurisdição, pois há casos em que não há formação de coisa julgada - Exs: jurisdição voluntária e processo.

A lide não é indispensável para a caracterização da jurisdição, mas tão somente a pretensão. Exs - jurisdição sem lide: reconhecimento da procedência do pedido; anulação de casamento - concordância entre marido e mulher.

Agora vamos falar nos princípios da jurisdição

4. Princípios da Jurisdição:

Page 11: AULA 01 CONTEÚDO DA AULA: Jurisdição: conceito ...tribcast-midia.s3-sa-east-1.amazonaws.com/wp-content/uploads/2015/... · • Humberto Theodoro Jr. São bons livros, mas não

4.1) Indeclinabilidade Trata-se da proibição ao "non liquet" (impossibilidade de julgamento da causa por ausência de previsão legal). O juiz deve decidir todas as causas que lhe são apresentadas, sendo indispensável à prolação de uma sentença (de mérito ou sem resolução do mérito). Logo, todo processo terá uma sentença.

Atualmente, há quem defenda a possibilidade de várias sentenças no curso do processo. Este entendimento é equivocado, pois a sentença é única, sendo as demais decisões interlocutórias, ainda que estas decidam o mérito. Isso porque a sentença pressupõe o encerramento do procedimento no 1º grau de jurisdição.

Diante da ausência de previsão legal, o juiz deverá utilizar-se do art. 126 do CPC:

Art. 126 CPC: O juiz não se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou obscuridade da lei. No julgamento da lide caber-lhe-á aplicar as normas legais; não as havendo, recorrerá à analogia, aos costumes e aos princípios gerais do direito".

4,2) Investidura:Só pode exercer a jurisdição quem está investido da função jurisdicional - aprovação em concurso público de provas e títulos para juiz, nomeação e posse.

Prova Magistratura - E se o candidato aprovado em concurso público de

provas e títulos para juiz, mas ainda não nomeado nem empossado, proferir sentença?

Neste caso, ele não está investido de jurisdição, sendo a sentença inexistente

(art. 132 CPC - Princípio da Identidade Física do Juiz). O mesmo ocorre em relação à sentença proferida por juiz aposentado, caracterizando um ato inexistente.

4.3) Indelegabilidade: a função jurisdicional é indelegável. Com as exceções

abaixo: 1) Cartas de Ordem - determinações proferidas pelo tribunal para que o juiz de

1º grau cumpra determinada ordem, normalmente ligada à oitiva de testemunhas, realização de perícias, juntada de documentos. Cumprido o ato, o juiz de 1º grau devolve os autos ao tribunal.

Obs: Cartas Precatórias e Rogatórias - atos de cooperação jurisdicional (# delegação).

2) STF delega atos de execução (atos decisórios não!) dos seus julgados (art. 102, I, "m" da CF), normalmente ao juiz federal de 1º grau.

4,4) Territorialidade ou Aderência ao Território:O juiz pode exercer a jurisdição dentro dos limites estabelecidos pela lei - competência. Com exceções abaixo:

1) Art. 107 CPC - imóvel situado em duas ou mais comarcas, o juízo competente para a totalidade será aquele prevento.

Art. 107. Se o imóvel se achar situado em mais de um Estado ou comarca, determinar-se-á o foro pela prevenção, estendendo-se a competência sobre a totalidade do imóvel.

Page 12: AULA 01 CONTEÚDO DA AULA: Jurisdição: conceito ...tribcast-midia.s3-sa-east-1.amazonaws.com/wp-content/uploads/2015/... · • Humberto Theodoro Jr. São bons livros, mas não

2) Art. 230 CPC - Possibilidade do oficial de justiça a citar e intimar em comarcas contíguas.

Art. 230. Nas comarcas contíguas, de fácil comunicação, e nas que

se situem na mesma região metropolitana, o oficial de justiça poderá

efetuar citações ou intimações em qualquer delas.

Fim da aula 01