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CENTRO UNIVERSITÁRIO CATÓLICO SALESIANO AUXILIUM
(UniSALESIANO)
DIREITO
ANA LAURA SIQUEIRA LIMA
A NECESSIDADE DE ANTECIPAÇÃO DOS ATOS PREPARATÓRIOS FRENTE À NOVA LEI ANTITERROR
LINS-SP 2018
ANA LAURA SIQUEIRA LIMA
A NECESSIDADE DE PUNIÇÃO DOS ATOS PREPARATÓRIOS FRENTE À NOVA LEI ANTITERROR
Monografia apresentada ao curso de Direito
do UniSALESIANO, Centro Universitário
Católico Salesiano Auxilium, sob orientação
do Professor Marcelo Sebastião Dos Santos
Zellerhoff como um dos requisitos para
obtenção do título de bacharel em Direito.
LINS-SP 2018
Lima, Ana Laura Siqueira
S578d A necessidade de punição dos atos preparatórios à nova Lei
Antiterror / Ana Laura Siqueira Lima -- Lins, 2018.
68p. 31cm
Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano
Auxilium – UniSALESIANO, Lins-SP, para graduação em Direito,
2018.
Orientador: Marcelo Sebastião Zellerhoff
1. Atos Preparatórios. 2. Lei Antiterror. 3. Crimes Hediondos. I Título.
CDU 34
ANA LAURA SIQUEIRA LIMA
A NECESSIDADE DE PUNIÇÃO DOS ATOS PREPARATÓRIOS FRENTE À
NOVA LEI ANTITERROR
Monografia apresentada ao curso de Direito
do UniSALESIANO, Centro Universitário
Católico Salesiano Auxilium, sob orientação
do Professor Marcelo Sebastião dos Santos
Zellerhoff como um dos requisitos para
obtenção do título de bacharel em Direito.
Lins, maio de 2018
Professor Doutor Marcelo Sebastião dos Santos Zellerhoff (orientador)
Professor Doutor Juliano Napoleão Barros
Professor Doutor Vinicius Roberto Prioli de Souza
Dedico este trabalho a minha mãe e
melhor amiga Ana Maria de Lima, e
ao meu tio Luiz Mauro de Lima que
sempre me apoiaram e me deram
forças quando não tinha mais para a
realização desse projeto.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a minha mãe Ana Maria de Lima, e ao meu tio Luiz Mauro de Lima
que, com muito carinho e apoio, não mediram esforços para que eu chegasse
até esta etapa de minha vida.
A esta instituição tão renomada eu agradeço pelo ambiente propício à evolução
e crescimento, bem como a todas as pessoas que a tornam assim tão especial
para quem a conhece.
Ao meu orientador Marcelo Zellerhoff, que tanta ajuda forneceu para que este
trabalho fosse concluído, que sem a sua ajuda a realização seria um tanto
quanto impossível.
RESUMO
O terrorismo atualmente é um dos assuntos mais comentados nos meios de comunicação existentes, o uso da força em locais com o maior fluxo de gente por alguns tempos vem sendo constantes. Sendo assim, de modo geral o terrorismo pode ser classificado pela criação do terror, fazendo com que a população crie um estado de alarme e um medo contínuo, e consequentemente trazendo uma violência causando estragos a partir dos meios empregados pelo agente. Ocorrendo na maioria das vezes uma conduta dirigida contra uma ordem política e social trazendo por consequência a desestabilização do governo. Portanto, faz se necessário à compreensão da possibilidade de punir o agente ainda na sua fase embrionária, para que de uma vez por todas possa evitar uma conduta que geraria um estrago as pessoas e aos que estão em sua volta, assim quando deparamos com o chamado ‘’iter criminis’’ vem trazendo condutas passíveis de punição e outras não, bem como a ponte que liga uma conduta da outra, verificando que a distinção quando que se daria fim aos atos preparatórios e começo de atos de execução, para que a nova Lei enquadre a conduta com o tipo incriminador punindo desde já sua fase preparatória. Tal aplicação e punição da Lei é , no entanto necessária partindo do pressuposto de que possa contrariar o princípio da legalidade, princípio esse necessário para garantir o bem e fiel aplicação das condutas, bem como a adequação ao princípio da lesividade ou ofensividade jurídica, mostrando o comportamento do Estado frente a esses institutos de forma a se adequar não só com a nova Lei vigente, mas também a institutos que já existiam antes da sua edição. E de forma a considerar a possível aplicação da possibilidade de aplicação da teoria adotada por Jakobs tendo como uma de sua estrutura no Direito penal do inimigo como a possibilidade de antecipação penal.
Palavras-chave: ATOS PREPARATÓRIOS. LEI ANTITERROR. CRIMES
HEDIONDOS.
ABSTRACT
Terrorism is currently one of the most talked about subjects in the media, the use of force in places with the highest flow of people for some time has been constant. Thus, in general, terrorism can be classified by the creation of terror, causing the population to create a state of alarm and continuous fear, and consequently bringing violence causing havoc from the means employed by the agent. Most often occurring conduct directed against a political and social order resulting in the destabilization of the government. Therefore, if necessary to understand the possibility of punishing the agent still in its embryonic stage, so that once and for all can avoid a conduct that would generate a damage to the people and those who are around him, so when we come across the call '' iter criminis '' has brought punishable and non-punishable conduct, as well as the bridge connecting one conduct of the other, verifying that the distinction when terminating preparatory acts and commencing acts of execution, so that the new Law establishes the conduct with the incriminating type by punishing its preparatory phase right now. Such application and punishment of the Law is, however, necessary on the basis that it may contravene the principle of legality, a principle that is necessary to ensure the good and faithful application of the conduct, as well as the adequacy of the principle of lesivity or legal offense, showing the behavior of the State in front of these institutes in order to adapt not only with the new Law in force, but also to institutes that already existed before its edition. And in order to consider the possible application of the possibility of applying the theory adopted by Jakobs having as one of its structure in the criminal law of the enemy as the possibility of criminal anticipation.
Keywords: PREPARATORY ACTS. ANTITERROR LAW. HEINOUS CRIMES.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO................................................................................................9
2. A LEI ANTITERRORISMO NO BRASIL ......... Erro! Indicador não definido.11
2.1 Da criação da Lei Antiterrorismo e sua inserção no contexto social .. 18
2.2 As condutas tipificadas como atos de Terrorismo ............................... 23
3. DA ESTRUTURA DO ‘’ITER CRIMINIS’’ NO PROCESSO PENAL ............ 29
3.1 Da cogitação no plano da estrutura interna ........................................... 30
3.2 Da estrutura externa ................................................................................ 31
3.2.1 Os atos preparatórios ........................................................................... 33
3.2.2 Os atos de execução ............................................................................. 35
3.2.3 Da consumação do crime ..................................................................... 36
3.3 Da fase de exaurimento do crime ........................................................... 38
3.4 Da tentativa entre a execução e a consumação .................................... 39
4. DA NECESSIDADE DE ALTERAÇÃO EM SEU PLANO MATERIAL: UMA
PERCEPÇÃO CRÍTICA ................................................................................... 44
4.1 Princípio da Legalidade frente aos atos
preparatórios................................44
4.2 Os atos preparatórios como condutas impuníveis em regra no
Ordenamento Jurídico Brasileiro .................................................................. 50
4.3 A controvérsia aplicação do instituto da desistência voluntária e do
arrependimento eficaz nos atos preparatórios ............................................ 55
4.4 Da possibilidade de antecipação da punição como uma das teorias
adotadas no Direito Penal do Inimigo .......................................................... 59
5. CONCLUSÃO ...............................................................................................63
REFERÊNCIA....................................................................................................65
9
1. INTRODUÇÃO
No dia 16 de março de 2016 a ex presidente Dilma Rousseff sancionou a
chamada Lei Antiterrorismo n°13.260/2016 aprovada pelo Congresso Nacional,
que diante das ocorrências de ações terroristas ao redor do mundo colocou o
Brasil em um estado de alerta, trazendo como grande foco ao que se
estabelece a segunda etapa do iter criminis, ocorrendo a punição ainda na sua
preparação, que se estabelecia na legislação era da não punição juntamente
com a cogitação, no qual o agente que trazia consigo apenas pensamentos
tendo em vista que na cogitação sua vontade não se externa, e na preparação
embora externada não poderia se falar em lesão ao bem jurídico, uma vez que
o agente ainda estava preparando os mecanismos para uma eventual conduta.
A conduta praticada será de acordo com tipo incriminador até então
realizado aplicando a sanção não só pela gravidade da conduta, mas o quão
tanto ele percorreu, de forma que o caminho que realizado mostraria qual o tipo
de conduta que o mesmo praticou, tanto das fases internas como externas a
que o iter criminis se transforma, que quando mencionado os atos
preparatórios de modo específico, tem se a compreensão de sua possível
aplicação sem ferir o principio da lesividade ou ofensa ao bem jurídico .
Mostrando que dentro dessas fases a cada conduta praticada pelo
agente qual se amoldaria para cada caso, mostrando aqueles atos que estão
sendo cogitados, e principalmente os que estão sendo preparados, fazendo se
necessários para compreender como o Estado se posicionará frente à conduta
criminosa.
A verificação dessa punidade antecipada é de suma importância,
fazendo necessário entender o caminho que o agente esta percorrendo e
quando deparando com os atos preparatórios do crime a sua intenção de fato é
consumar o delito, demostrando não só a possibilidade da sua aplicação de
forma eficaz, como sua legalidade, proporcionalidade e ofensividade se adequa
na Legislação vigente. Uma das possibilidades de sua aplicação ao se verificar
é sua aplicação no ordenamento de forma legal, demonstrando os institutos
frente aos atos preparatórios e como se comportará possibilitado ou não sua
10
aplicação, uma vez que antes a regra era de começar a punir os atos
preparatórios.
Demonstrando assim a importância do estudo sobre a nova Lei e como o
Brasil irá se manifestar a respeitos de possíveis atentados que possa ocorrer,
aplicando medidas de prevenção para que a prática não ocorra, e de
repressão àquele que já praticou e precisaria de uma punição severa em razão
da natureza do delito .
Fazendo-se, portanto um apontamento necessário da Teoria aplica por
JAKBOS, uma vez que a Lei trouxe essa novidade em sua aplicação no qual
tendo não só indícios de aplicação na legislação como possibilidade de
antecipação da punição, trazendo como principal argumento diferenciar o
cidadão do inimigo, sendo este último àquele que praticou uma conduta tão
grave que não haveria a possibilidade de permanecer no convívio com as
demais pessoas, ocorrendo seu isolamento. Assim, seu status de cidadão seria
esquecido e consequentemente seus direitos e garantias também.
No qual, a necessidade de aplicação a condutas mais lesivas realizadas
pelo agente só seria possível se estivesse em adequação aos princípios
constitucionais que um Estado Democrático de Direito utiliza como estrutura.
Assim, entende a necessidade dessa punição antecipada como forma de
prevenir um mal maior, no qual o Estado se antecipa no seu dever de punir
aplicando aquele que violou o novo dispositivo.
A relevância do tema é demonstrada a partir do momento que a Lei
trouxe a possibilidade do terrorismo ser visto como uma realidade na República
Federativa Do Brasil. Mostrando o tema de grande valor, uma vez que o
terrorismo como mencionado não havia um dispositivo próprio que tratava do
assunto, aplicando-se analogia de dispositivos legais. Agora, com a
possibilidade de uma nova Lei Antiterror é necessário compreender como que
sua aplicação será eficaz no caso concreto.
11
2. A LEI ANTITERRORISMO NO BRASIL
O terrorismo é um fenômeno que destrói as mais diversas sociedades,
nas mais distintas ocasiões. Diante disso derruba-se a crença popular tão
somente vaga nos dias de hoje de que o terrorismo é um mal praticado desde o
século passado, praticado unicamente com fundamentalismo Islâmico. Embora
se tenha uma percepção abstrata do conceito de terrorismo, de plano não
existe um consenso sobre sua definição. Doutrinadores acreditam ainda não
existir ao certo um conceito completo para condutas caraterizadas como
terrorismo.
Sendo assim, David et. al ( 2018, p.44) esclarece que:
Muitas convenções ou diretrizes de organizações internacionais e legislações estrangeiras trazem os termos ‘terrorism’ ou mesmo ‘acts os terror’ e não definem quais seriam tais atos se preocupando muita mais em definir medidas para combater o terrorismo do que delinear uma definição.
Embora, por meio de convenções internacionais se buscava uma
definição para o terrorismo os meios de combate são muito mais importantes
do que quando colocado em um patamar de definição, onde as vias a serem
utilizadas para o agente não exteriorizar a sua vontade vale mais.
Na mesma linha de raciocínio Monteiro (2015, p.191) esclarece dizendo:
A noção de terrorismo continua sob incertezas doutrinarias e sem definição legislativa. Utiliza a lei um discutido nomen iuris como definição legal do tipo. Ora, essa forma legislativa não é possível pela ausência de tipo autônomo definido como crime.
Contudo, com as barbares1 ocorridas ao redor do mundo, em 2016 o
Brasil se viu na necessidade da edição de uma Lei para a regulamentação do
1 . Tudo não passaria de mero debate acadêmico não fossem os atentados ás Torres Gêmeas em 11 de
12
terrorismo. Alguns meses antes da realização dos jogos olímpicos do Rio de
Janeiro, isso se tornou prioritário. Com isso, o Congresso editou e sancionou a
Lei nº13. 260/2016 conhecida como Lei Antiterrorismo, atribuindo
regulamentação aos atos de terrorismo já que não havia a existência de Lei
específica.
Moura (2017, p.153), traz um breve conceito de terrorismo ao mencionar
que:
Tem sua origem do latim terrere ( tremer) e deterrere ( amedrontar). Caracteriza pelo emprego ou técnicas de grupos armados que se opõe a sistemas de governos ou intentam chamar a atenção pública para uma causa de ideologia, seja de cunho politico ou não.
Essas ações terroristas é de certo que traz não só a ocorrência do medo
por parte dos cidadãos que a qualquer momento podem se encontrar em um
estado de vulnerabilidade em razão de uma conduta imprevisível que pode
ocorrer a qualquer momento não sabendo o que pode vir a acontecer com sua
vida, e ocorrendo muito das vezes a mudança total ou Parcial do seu cotidiano.
Para que um crime seja caracterizado como ato de terrorismo a doutrina traz 5
elementos cumulativos que evidenciam a prática criminosa.
Desta forma, Silva (2017, p.198) destaca os elementos objetivos,
subjetivos, causal, finalístico, e de atuação instrumental. O elemento objetivo
nada mais é que o bem jurídico de maior importância que um Estado tem o
dever de proteger, havendo a necessidade de que esse bem jurídico seja
exposto a perigo de lesão, para que de alguma forma tenha esse elemento
suficiente para uma punição já estabelecida no Ordenamento Jurídico. A
subjetividade trazida é em razão da quantidade de indivíduos que podem
setembro de 2001, em Bali na Indonésia, em 2003, á estação de Atocha em Madri, em 2004, e ao metro de Londres em julho de 2005. No entanto, novos atentados terroristas sucederam-se a França em janeiro de 2015, em que 17 pessoas morreram em ataques contra o jornal satírico Charlie Hebdo e em supermercado judaico, os ataques de 13 de novembro do mesmo ano em Saint-Denis e, recentemente, no dia 1 de julho de 2016, em Nice, com a morte de 84 pessoas atropeladas por um caminhão. MOURA. Lei Antiterrorismo n° 13.260/2016 Salvador: 2017,p.160.
13
praticar os atos terroristas, sendo este, praticado de modo conjunto ou
individual.
O terceiro elemento trata do que motivou o agente a praticar o ato, de
suma importância uma vez que para sua caracterização as razões e finalidades
do terrorismo são de forma imprescindível para a sua formação, e
consequentemente a sua conduta irá trazer um resultado final de terror social,
de forma a desestabilizar a sociedade e os a que integram, devendo o agente
praticar pelo menos um dos atos descritos na Lei 13.260/2016 em seu artigo 2,
§1.
A sua primeira aplicação ocorreu com a chamada Operação Hasgtag
que ocorreu no mês de julho de 2016 ás vésperas dos Jogos Olímpicos na
cidade do Rio de Janeiro, contra uma suposta aliança feita por brasileiros a
grupos terroristas do Estado Islâmico e Iraque. As suas fases procedimentais
se deram por meio de um processo que acarretou em uma prisão temporária
tornando a imprescindível para as investigações.
Em um conceito pacificado na legislação, a prisão temporária
estabelecida na Lei n° 7960/89 constitui em uma prisão cautelar/assecuratório,
ocorrendo sua decretação na fase do inquérito policial/ investigações, na fase
pré-processual momento este que decorre a condução dos atos investigatórios,
não cabendo quando se der por encerrado as investigações. Os
requisitos/pressupostos para decretação de uma prisão temporária estão
elencados já no art. 1° da Lei, exigindo, portanto a imprescindibilidade da
prisão temporária para as investigações, conforme Cortez (2018, p.97):
Mostra-se necessário apontar a existência de uma investigação preliminar, não necessariamente precisa ser um inquérito, mas apuração de fatos e coisas, que pode ser feito através de uma comissão parlamentar de inquérito, procedimento investigatório presidido pelo órgão do Ministério Publico.
14
Diante da existência previa de uma investigação tal medida é
considerada indispensável para a obtenção de elementos de autoria e
materialidade da prática delituosa, portanto a decretação da prisão temporária
daria eficácia nas investigações. Pode-se caracterizar essa imprescritibilidade
da prisão, como a inexistência de outra medida cautelar diversa a da prisão e
que seja menos gravosa para que pudesse dar andamento nas investigações.
Outro requisito trazido é quando o indiciado possuir moradia incerta ou
não fornecer elementos necessários que possa ser identificado, e por último o
rol taxativo dos crimes que admitem a prisão temporária, não sendo, portanto
qualquer crime que admite tal medida cautelar. Nesse sentido Carvalho (2016,
p.179) menciona que ‘’ Quanto às prisões temporárias, veja-se que o art. 18°
da Lei Antiterror incluiu seus crimes (todos eles) no rol de delitos em que se
autoriza a decretação de tal medida prisional’’.
Como o art. 17° da Lei Antiterror traz que nos casos que ela regulamenta
aplica-se a Lei dos Crimes Hediondos, isso afeta diretamente o prazo da
medida cautelar que é estabelecida no art. 2° da Lei n°7.960/1989 que como
regra geral seria de 5 dias podendo ser prorrogáveis por igual período quando
houvesse necessidade, passando a ser de 30 dias podendo haver
prorrogação.
Sendo assim , quando o juiz estiver diante de uma necessidade de
aplicação da prisão temporária não pode este fazer de ofício, tendo sua
atuação mais restrita apenas decretando tal prisão, uma vez que a
representação da autoridade policial ou requerimento do Ministério Público é
imprescindível.
Portanto, Cortez (2018, p.91) destaca que:
A Lei de Prisão Temporária é constitucional e se encontra em pleno vigor; produzindo efeitos no mundo jurídico e instrumentalizando investigações preliminares dentro do processo penal. Inclusive, em 2016, já se teve demonstração de sua aplicabilidade na Operação ‘’Hashtag’’ da Polícia Federal, prendendo, alguns dias antes do início
15
das Olimpíadas, no Rio de Janeiro, pessoas suspeitas de possíveis atos terroristas, mesmo que preparatórios.
A prisão temporária como vimos, está de forma legal no ordenamento
jurídico, tendo sua aplicação na Operação Hashtag onde se teve pela primeira
vez a aplicação da Nova Lei Antiterror. A operação foi realizada pela Divisão de
Antiterrorismo da Policia Federal, as vésperas da realização dos jogos
olímpicos no Rio de Janeiro, com as investigações de um grupo que
supostamente pretendiam praticar atos terroristas.
As investigações realizadas levaram ao descobrimento de um juramento
virtual realizado pelos suspeitos ao Estado Islâmico em que depois de ocorrido
o que eles chamam de batismo virtual, passou a ter uma interação por
mensagens e aplicativos.
Assim, menciona Martinez (2017):
O juiz Marcos Josegrei da Silva, da 14ª Vara Federal do Paraná, explicou que os réus criaram comunidades virtuais no Facebook e em aplicativos de mensagens instantâneas para debater sempre o mesmo tema: a supremacia de uma visão sectária da religião islâmica, a crença de que a imposição da 'sharia' tal como proclamado pelos integrantes do autodenominado Estado Islâmico deve se dar à força, inclusive mediante ações de destruição em massa de indivíduos, raça ou propriedade; o desprezo e a discriminação de quem integre grupo com visões de mundo, étnica, religiosa, estética ou sexual distinta.
As investigações consideraram como filiados ao Estado Islâmico, sendo
o integrante que se autodeclarou como membro e realizou o juramento. Os
investigados utilizaram como defesa dizendo que não tinham a intenção de
exteriorizar o que era falado nas redes sociais. Porém, o Juiz Marcos Josegrei
da Silva não concordou entendendo que os elementos que foram colhidos
durante as investigações tiveram uma vontade de permanência, caso em que
se não fosse a intervenção policial cometeriam o crime.
16
Já Kishida (2018, p.133) entende da seguinte forma que :
Não se pode afirmar que o simples fato de pessoas simpatizarem com grupos terroristas implique na consumação de um dos tipos enumerados na referida Lei. Não obstante, a Lei em seu art. 3°considerar típicos as condutas de promoção, constituição, integração e o auxílio da organização terrorista, a mera adoração ou simpatia a grupo terrorista quando ocorrer no âmbito interno do indivíduo, em seu íntimo, ou seja, sem exteriorização do pensamento a terceiros, não poderá ser tipificada.
É de se observar, que o art. 3° mencionado pelo doutrinador é
caracterizado como um crime de perigo abstrato, uma vez que o bem jurídico é
apenas ameaçado e não de fato lesionado, o verbo ‘’promover’’ colocado nesse
artigo está correlacionado com os crimes do art. 286 e art.287 do Código Penal
uma vez que constam os tipos de incitar e de apologia ao crime.
Ocorre que, o simples fato de simpatizar com grupos terroristas não se
pode confundir com a ação de ‘’promover’’, o mero simpatizar quando
ocorresse no âmbito interno do indivíduo, sem qualquer ato de exteriorização
não se amoldaria em nenhum tipo penal da Lei caracterizando, portanto uma
mera cogitação não podendo falar em punição. A punição antecipatória e
aplicada de forma embrionária será mais bem fomentada a baixo, porém já de
início é importante destacar o tipo penal base estabelecida no art.6 da Lei
Antiterrorismo, conforme menciona Andrade e Silva (2018, p.104) que:
O delito do artigo 6° da Lei 13.260 delimita um ato preparatório muito especifico.. isto é ao contrário do artigo 5° que incorre na ausente – para não dizer teratológica – técnica legislativa de criar um tipo penal de atos preparatórios sem qualquer respeito ao principio da lesividade, da reserva legal e da taxatividade o artigo 6° diz quais são as condutas incriminadoras e deixa claro que o objeto material do dispositivo deve ser monetariamente aferível.
A principal diferença do art.5° da Lei para o art. 6°, é que esse último
dispositivo traz de forma minuciosa, detalhada cada verbo de conduta realizada
17
pelo agente de forma que o seu artigo traz as ações do agente para poder ser
aplicado tal dispositivo, de forma a diferenciar que o art. 5° traz amplitudes que
não possibilitaria a aplicação do dispositivo em razão da finalidade que o
agente menciona ao final do artigo ‘’ praticar atos preparatórios com o propósito
inequívoco de consumar tal delito ‘’ observando aqui sua forma genérica,
podendo dar como interpretação qualquer ato, não especificando conforme o
art. 6° que além das diversas condutas estabelecidas no contexto trazendo as
ações de:
receber, prover, oferecer, obter, guardar, manter em depósito, solicitar, investir, de qualquer modo, direta ou indiretamente recursos, ativos, bens, direitos, valores ou serviços de qualquer natureza, para o planejamento, a preparação ou a execução dos crimes previstos na Lei.
A variedade de condutas existentes são aquelas denominadas de crime
de ação múltipla/ conteúdo variado ou plurinuclear, onde a lei descreve seus
verbos e o agente pode praticar a junção dos verbos, ou de forma alternativa
caracteriza tão somente um crime único, ou seja, independente dos verbos
praticados o crime é apenas um. Assim, é a finalidade que se busca ao se
aplicar o art. 6° da Lei, impossibilitando qualquer tipo de vantagem àquele que
porventura ajude de forma direta ou indireta esteja facilitando para a prática da
conduta delituosa.
Ao analisar a Lei e especificamente esse artigo, Silva (2017, p.205)
menciona que ocorre:
Ponto problemático diz respeito à abertura semântica contida na expressão de qualquer modo revista no art. 6°, caput e seu parágrafo único da Lei 13.260/2016, pois abre a ‘’possibilidade de que qualquer conduta de colaboração configure o delito a título de autoria, o que significa o desparecimento dos limites entre a autoria e participação, e, consequentemente, violação do princípio da culpabilidade’’.
18
A descrição ‘’de qualquer modo’’ contida no caput do art. 6° pode trazer
uma interpretação um tanto quanto vaga, uma vez que pode ter entendimentos
amplos a cerca do dispositivo, de forma a desaparecer os limites entre a
autoria, ou seja, o autor seria aquele que teria o domínio do fato, podendo
realizar ou parar com a conduta típica, ilícita e culpável, já a participação traz
aquele como quem colaborou para que a conduta fosse realizada não podendo
dizer que este tem o domínio do fato. De forma que ocorrendo esse
desparecimento entre os limites a aplicar entre a autoria e participação, de
forma que traria violação ao princípio da culpabilidade, onde não haveria crime
se a conduta não foi praticada a titulo de dolo ou culpa, ou que de maneira
diversa o agente tinha que agir e assim não o fez.
2.1 Da criação da Lei Antiterrorismo e sua inserção no contexto social
Todas as medidas tomadas pelo Estado para combater o terrorismo
devem estar de acordo com os Direitos Fundamentais como estrutura de um
Estado Democrático de Direito, de modo que sua interdependência não pode
confrontar com direitos fundamentais, previsões constitucionais e
infraconstitucionais, devendo de modo a se unirem para atingir seus objetivos
estabelecendo direitos básicos individuais para a convivência do ser humano.
Sendo assim, aponta a Recomendação Geral n.30 do Comitê sobre a
Eliminação de Todas as Formas de Criminalização Racial:
Garantir-se que todas as medidas tomadas na luta contra o terrorismo não gerem discriminação, de causa ou efeito, em razão de raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica e o que os não cidadãos não sejam submetidos a perfis ou estereótipos raciais ou étnicos.
Desse modo, os enfrentamentos de combate ao terrorismo devem
respeitar o princípio da isonomia; principio da igualdade repudiando qualquer
ato discriminatório, estabelecendo um equilíbrio entre os cidadãos,
consubstanciado em seu art.5° da Constituição Federal pode se dizer essa
igualdade ao qual foi trazido pelo legislador ordinário, trata-se de uma
19
igualdade formal, uma vez que é vedado ao legislador a criação ou edição de
norma que a viole.
Nesse sentido Habib (2017, p.87) menciona:
Os direitos fundamentais amparados dentro de um Estado Democrático de Direito são assegurados por ‘’mandados de criminalização’’, necessitando, em alguns casos, de proteção criminal ( última ratio), orientando o Legislador Ordinário a afastar normas despenalizadoras para determinadas condutas, sob pena de imprimir o juízo de desobediência ás determinações Constitucionais.
No momento que o legislador constituinte originário cria a norma
regulamentadora tem a ocorrência de um mandado de criminalização em
caráter positivo, sendo que ao mesmo tempo em que delimita, por outro lado
há um limite garantista que não se pode dispor.
Sendo assim, a respeito do terrorismo o artigo 5°, XLIII da Constituição
Federal já fazia menção expressa no qual considera ‘’ inafiançáveis e
insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes
hediondos’’, ocorrendo nesse dispositivo a limitação do legislador em no caso
concreto observar a conveniência e oportunidade sendo um ato de dever sob
pena de omissão.
Albuquerque (2018) traz entendendo:
A Constituição Federal contém significativo elemento de normas que, em princípio, não outorgam direitos, mas que, antes determinam a criminalização de condutas (CF, art.5 º, XLI, XLII, XLIII, XLIV; art. 7 º; art.227, parágrafo quarto). Em todas essas é possível identificar um mandado de criminalização expresso,, tendo em vista os bens e valores envolvidos. Os direitos fundamentais não podem ser considerados apenas proibições de intervenção expressando também um postulado de proteção. Pode-se dizer que os direitos fundamentais expressam não apenas uma proibição do excesso, como também pode ser traduzida como proibição insuficiente ou imperativos de tutela. ‘’ Os mandados de criminalização, portanto, impõem ao legislador, para seu devido cumprimento, o dever de observância do principio da proporcionalidade como proibição do excesso e como proibição da proteção suficiente’’.
20
Portanto, os direitos fundamentais garante uma proibição de penas em
excesso, fazendo com que o legislador cumpra seu papel aplicando a pena
equilibrada na medida do princípio da proporcionalidade, desde que
respeitando aplicação da pena proporcional ao que lhe for cabível, sob risco de
incorrer em uma violação aos direitos fundamentais. Assim, o princípio da
proporcionalidade quando aplicado à sociedade para Capez (2014, p.130) é
visto como: ‘’Uma sociedade incriminadora é uma sociedade invasiva, que
limita em demasia a liberdade das pessoas’’.
Apesar da Sociedade se ver limitada em alguns comportamentos,
desfruta da tutela de certos bens aos qual o direito penal protegerá, nascendo
para a sociedade à garantia de que o Estado a protegerá de qualquer ameaça
que possa vir a ocorrer, contudo a punição dada pelo Estado como forma de
resposta tem que ser proporcional a lesão auferida pelo agente, nos limites da
extensão do dano que praticou, não se admitindo penas iguais a condutas
distintas.
Contudo, ocorrem ações que não se podem ser passíveis de punição
onde é de se observar que condutas praticadas pelo o indivíduo não se pode
limitar direito constitucional que lhe é garantido, ocorrendo, por exemplo, os
movimentos sociais, Sá (2016) conceitua que ‘’os movimentos sociais
constituem tentativas, fundadas num conjunto de valores comuns, destinadas a
definir as formas de ação social e a influir nos seus resultados’’, podendo o
indivíduo praticar seu direito á Democracia, desde que praticados condutas que
não contrariam o ordenamento jurídico, em que ao contrário ensejaria em uma
penalidade não encaixando na respectiva Lei.
Visto isso Gandra e Naves (2018, p.316) mencionam que:
Mesmo que não desejado não, não é incomum que manifestações populares terminem em confrontos, depredações, pessoas feridas e mortes. Se por um lado, tais manifestações sociais fazem parte do
21
jogo democrático, por outro, não raras vezes extrapolam os limites toleráveis.
Apesar dos limites de conduta ser extrapolados, não é o suficiente para
se considerar um ato terrorista, a razão da prática da conduta, bem como
também a sua finalidade de causar um terror. A prática de atos terrorista no art.
20° da Lei de Segurança Nacional n° 7.710/83 já fazia menção aos atos
terroristas no âmbito nacional:
Devastar, saquear, extorquir, roubar, sequestrar, manter em cárcere privado, incendiar, depredar, provocar explosão, praticar atentado pessoal ou atos de terrorismo, por inconformismo político ou para obtenção de fundos destinados à manutenção de organizações políticas clandestinas ou subversivas.
Dada a sua redação, pode considerar que o texto de Lei, uma vez que
ao inserir as possíveis condutas caracterizadas como terroristas, fazia menção
das condutas de uma forma muito abstrata. O artigo acima mencionado pode
ser considerado como letra morta, razão pela qual eram trazidas como forma
de atos terroristas o inconformismo político, vedando assim, as manifestações
populares do povo que estava descontente com o atual governo, vedando
assim sua liberdade de expressão não podendo exercer a democracia, tirando
suas garantias constitucionais a que a Constituição de 1988 o assegura.
Neste contexto David et al., ( 2018, p.22) esclarece que:
Não é possível considerar que a Lei de Segurança Nacional, Lei n° 7.170/83, em seu art.20 definiu terrorismo, pois tal dispositivo pune, em verdade, quem, ‘’devastar, saquear, extorquir, roubar, sequestrar, manter em cárcere privado, incendiar, depredar, provocar explosão, praticar atentando pessoal ou atos de terrorismo, por inconformismo politico ou para obtenção de fundos destinados á manutenção de organizações politicas clandestinas ou subversivas.
Assim, não se poderia falar que o art. 20° da Lei mencionada serviria de
parâmetro para um conceito válido de atos terroristas, portanto o legislador
constituinte originário estabeleceu quando criado a Lei Antiterror definindo em
22
seu art.2°§2° trazendo uma exclusão do crime, estabelecendo que os
movimentos sociais não sejam passíveis de punição, por ferir um Estado
Democrático, se aplicado. Sendo de intenção do legislador ao trazer a
mencionada regra, busca excluir as manifestações ou movimentos sociais que
constavam na Lei de Segurança Nacional.
Os Doutrinadores Andrade e Silva (2018, p. 109) se manifestam dizendo
que:
Apesar da exposição de motivos definir o art.20 da Lei 7.170/ 1983 como terrorismo, a sua obscuridade (ausência de redação técnica adequada e violadora, sobretudo, do principio da taxatividade) é tremenda, podendo ser enquadrado qualquer comportamento humano.
Mostrando o art.20° da Lei de Segurança Nacional não só a uma
inconstitucionalidade por tirar a liberdade de expressão do indivíduo que busca
por meio das manifestações assegurarem direitos inerentes definidos na
Constituição Federal, como também violaria um dos princípios básicos que
seria o da taxatividade, uma vez que embora não prevista de forma expressa
no ordenamento é legalmente aplicável.
Assim, tal princípio mostra que não bastaria uma definição de uma
conduta como crime, mas é preciso que não restem dúvidas do texto legal,
sendo claro e de forma compreensível não só para os operadores do Direito,
mas também ao cidadão para que se possa entender qual a conduta e o que o
Estado está punindo.
Menciona, portanto Ferrigolo (2018, p.55) que:
O legislador pátrio tornou como regra o (amplo) tipo injusto de terrorismo, excepcionando as condutas não consideradas não terroristas descrevendo, no § 2° do art.2° da Lei 13.260/ 2016, uma norma premissa, na qual aponta os casos específicos em que a conduta praticada não será considerada uma ação terrorista.
23
Conclui se, portanto que com a edição da Lei Antiterror e
consequentemente a elaboração do art. 2°§2° pode-se dizer que regulamentou
a controvérsia que se estabelecia nos casos das manifestações dos cidadãos
frente aos seus direitos e garantias constitucionais estabelecidos na
Constituição Federal que caracterizava conduta ilícita no ordenamento com a
possibilidade de aplicação da sanção penal. Assim, com a elaboração da Lei a
conduta que agora vigente no tipo penal não será classificada como prática de
conduta terrorista.
2.2 As condutas tipificadas como atos de Terrorismo
Já em seu art.1° traz a reformulação do conceito de organização
terrorista alterando o conceito trazido pela Lei nº 12.850/2013 art. 1°§2°, II,
sendo revogada sua aplicação, quando da entrada em vigor da Lei nº
13.260/2016. Portanto para a nova Lei, organização terrorista consiste na
prática voltada aos atos de terrorismo que assim a Lei definir desde que
atendidos os pressupostos de razão e finalidade cumulativamente.
Busato (2018, p.181) menciona:
A previsão legal foi simplesmente de inserção de um inciso que diz serem aplicáveis os dispositivos da lei ás organizações terroristas entendidas como aquelas voltadas para a prática dos atos de terrorismo legalmente definidos, revogando a disposição anterior, que ao menos referida, ainda que de modo confuso, á uma delimitação territorial de atos. Esta nova disposição marca simplesmente a aplicabilidade da lei ás organizações terroristas, sem definir os atos nem os lugares a que se refere.
Tendo em vista a gravidade da conduta, trazendo um terror social, um
extermínio muitas vezes em massa, ocorrendo agressões às pessoas em razão
de sua ideologia, e consequentemente uma desestabilização do governo, é de
observar tamanha gravidade diante de uma conduta de repercussão e afeto
24
não só nacional bem como internacional. A atenção é voltada ao conceito de
terrorismo que a nova Lei adotou sendo, portanto trazido no texto da Lei como:
Art. 2 o
O terrorismo consiste na prática por um ou mais indivíduos
dos atos previstos neste artigo, por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião, quando cometidos com a finalidade de provocar terror social ou generalizado, expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade pública.
§ 1 o
São atos de terrorismo: I – usar ou ameaçar usar, transportar, guardar, portar ou trazer consigo explosivos, gases tóxicos, venenos, conteúdos biológicos, químicos, nucleares ou outros meios capazes de causar danos ou promover destruição em massa; II – (VETADO); III – (VETADO); IV- sabotar o funcionamento ou apoderar-se, com violência, grave ameaça à pessoa ou servindo-se de mecanismos cibernéticos, do controle total ou parcial, ainda que de modo temporário, de meio de comunicação ou de transporte, de portos, aeroportos, estações ferroviárias ou rodoviárias, hospitais, casas de saúde, escolas, estádios esportivos, instalações publicas ou locais onde funcionem serviços públicos essenciais, instalações de geração ou transmissão de energia, instalações militares, instalações de exploração, refino e processamento e petróleo e gás e instituições bancarias e sua rede de atendimento. V – atentar contra a vida ou a integridade física de pessoa: Pena – reclusão, de doze a trinta anos, além das sanções correspondentes a ameaça ou á violência.
As condutas terroristas que passaram a ser descritas em seu art. 2° § 1°,
tem como elementos essenciais para a configuração do terrorismo a razão da
prática da conduta, bem como também a sua finalidade de causar um terror
social generalizado. Portanto, para que se possa dizer que existiu um ato de
terrorismo a luz dessa Lei, tem não só o dolo genérico que é a conduta descrita
no tipo penal, mas também como um dolo específico que é o de e causar terror
generalizado fazendo se, portanto necessário o cumprimento das duas
exigências estabelecidas em Lei.
Percebe-se que o bem jurídico tutelado com a leitura do tipo penal é
pluriofensivo, cuja ação delituosa implica ofensa a mais de um bem
juridicamente relevante, tutelando aqui a vida, a incolumidade pública e o
25
patrimônio. Visando o terrorismo a destruição da sociedade em razão de
opiniões politicas, religiosas, econômicas e etc.
Nesse sentido a doutrina de David et al., (2018, p.25)estabelece que:
Essa ideia de estabilidade politico-institucional é trazida no Código Penal como paz pública, que pode ser conceituada como ‘’ (...) a necessária sensação de tranquilidade, de segurança, de paz, de confiança que a nossa sociedade dever ter em relação á continuidade normal da ordem jurídica social. A paz publica não se confunde com ordem pública, pois esta é ‘’ um estado exterior ao homem, uma situação de obediência ás regras de convívio social, em que é exercido determinado controle sobre as atitudes, enquanto paz publica é um sentimento, um estado psicológico dos homens’’.
Sendo assim, como o desejo do terrorista é de provocar uma sensação
de terror social ou generalizado, esta totalmente relacionada com o estado
psicológico dos cidadãos sendo perfeitamente possível encaixa-los como um
crime contra a paz pública, ou crime contra a paz do cidadão. O Estado e o
individuo necessitam de uma segurança diante das condutas praticadas em
seu território demonstrando uma punição quando essa tranquilidade é afetada.
Desta forma, Silva, (2017, p.198) destaca “elemento objetivo, elemento
subjetivo, elemento causal; elemento finalístico; elemento de atuação
instrumental”.
O elemento objetivo nada mais é que o bem jurídico de maior
importância que um Estado tem o dever de proteger, havendo a necessidade
de que esse bem jurídico seja exposto a perigo de lesão, para que de alguma
forma tenha esse elemento suficiente para uma punição já estabelecida no
Ordenamento Jurídico. A subjetividade trazida é em razão da quantidade de
indivíduos que podem praticar os atos terroristas, sendo este, praticado de
modo conjunto ou individual.
O terceiro elemento trata-se do que motivou o agente a praticar o ato, de
suma importância uma vez que para sua caracterização as razões e finalidades
do terrorismo são de forma imprescindível para a sua formação, e
26
consequentemente a sua conduta irá trazer um resultado final de terror social,
de forma a desestabilizar a sociedade e os a que integram, devendo o agente
praticar pelo menos um dos atos descritos na Lei 13.260/2016 em seu art. 2°, §
1°.
O estado emocional do cidadão por óbvio fica abalado, razão essa que o
terrorismo mesmo com o advento da nova Lei não tem sua hediondez afastada.
Nesse sentido, Gonçalvez menciona:
Em nossa legislação, o caráter hediondo depene única e exclusivamente da existência de previsão legal reconhecendo essa natureza para determinar espécie delituosa. Com efeito, o artigo 1 da lei 8072/90 apresenta um rol taxativo desses crimes não admitindo ampliação pelo juiz. Não permitindo, tampouco, que o magistrado deixe de reconhecer a natureza hedionda em delito que expressamente conste no rol. Adotou-se, um critério que se baseia exclusivamente na existência de lei que confira caráter hediondo em certos ilícitos penais. Assim por mais grave que seja determinado crime, o juiz não pode lhe conferir o caráter hediondo, se tal ilícito não constar do rol da lei 8072/90 (GONÇALVEZ pág. 12).
O ordenamento jurídico tem como parâmetro legal para a punição de
crimes hediondos a Lei nº 8072/90, que considera aqueles de maior
reprovabilidade pela sociedade, sendo repugnantes, bárbaros, cruéis, figurando
topo da pirâmide criminal, com base nisso a Lei aplica uma pena maior aos
agentes que praticarem crimes de natureza hedionda.
Conforme aponta Rosa ( 2015) ‘’a criação da Lei de Crimes Hediondos
surgiu da ideia de punir mais severamente àqueles que incorrerem na prática
dos crimes cuja sociedade deseja reprimir com maior veemência’’.Para que se
possa equiparar um crime enquanto hediondo ou não, existe o sistema
legal/taxativo enumerativo também denominado como numerus clausulus, no
qual foi dado poder ao legislador ordinário para que este possa mencionar o
que seria os crimes tratados como hediondos. Conforme a Lei nº 8072/90 em
seu art.1° temos que:
27
Art. 1º - São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados:
I – homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2o, incisos I, II, III, IV, V, VI e VII);
I-A – lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, § 2o) e lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3o), quando praticadas contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição;
II - latrocínio (art. 157, § 3°, in fine);
III - extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2°);
IV - extorsão mediante sequestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§ l°, 2° e 3°);
V - estupro (art. 213 e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo único);
V - estupro (art. 213, caput e §§ 1° e 2°);
VI - atentado violento ao pudor (art. 214 e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo único);
VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1°, 2°, 3° e 4°);
VII - epidemia com resultado morte (art. 267, § 1o).
VII-A – (VETADO)
VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e § 1°, § 1°-A e § 1°-B)
VIII - favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável (art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º).
Embora tenha a existência de um rol taxativo, há crimes que mesmo não
estando presentes nesta lista, como é o caso do terrorismo, tortura e tráfico
ilícito de entorpecentes, a Lei os denomina como crimes equiparados ou
assemelhados a hediondos, aplicando penas mais severas a crimes mais
graves. Assim, os chamados crimes equiparados ou assemelhados a
hediondos terão o mesmo tratamento como que se hediondo fossem.
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Conforme menciona Monteiro (2015, p.189), o fenômeno do terrorismo:
Transcende dos próprios atos concretos e das pessoas que a praticam, assumindo uma dimensão impessoal e politica dentro de um contexto mais amplo de busca de resultados não meramente econômicos, mas que atingem outras finalidades dentro da sociedade na qual se instala.
Sendo assim, de modo geral o terrorismo pode ser classificado pela
criação do terror, fazendo com que a população crie um estado de alarme e um
medo contínuo, e consequentemente trazendo uma violência causando
estragos a partir dos meios empregados pelo agente. Ocorrendo na maioria
das vezes uma conduta dirigida contra uma ordem política e social trazendo
por consequência a desestabilização do governo.
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3. DA ESTRUTURA DO ITER CRIMINIS NO PROCESSO PENAL
Na legislação penal atual a teoria do crime, possui uma estrutura básica
para se identificar o trajeto ou caminho que essas condutas vão percorrer,
denominado de iter criminis, ou seja, o percurso que o agente vai fazer para
buscar o resultado pretendido. O iter criminis tem como estrutura básica duas
fases, ou seja, a chamada de fase interna de cogitação, e fase externa de
preparação, execução e consumação, o exaurimento será mencionado não
como fase, mas sim consequência.
Assim, Damásio (2013, p. 371) de forma simples e clara menciona:
O agente, com a intenção de matar a vítima (cogitação), adquire um revólver e se posta de emboscada a sua espera (atos preparatórios), atirando contra ela (execução) e lhe produzindo a morte (consumação).
Pode, portanto considerar que cada fase do iter criminis tem sua
característica própria que irá distinguir uma da outra, e que os atos ao decorrer
dessas condutas, antecedentes a prática do delito que o agente irá concorrer.
Tal forma então, como base elementar de estrutura de aplicabilidade do Direito
Penal, respeitando sempre os princípios norteadores do Direito.
Para Oliveira ( 2016) esse instituto:
É na verdade o iter criminis o caminho a ser percorrido pelo crime a qual antecede o fato criminoso, ou seja, o agente antes de praticar o delito ele passa por uma series de etapas em que depois de realizadas, logo então é concretizado o delito pelo autor.
Portanto, o caminho do crime tem todo esse processo feito pelo agente,
para que sua conduta seja efetivada, uma vez que começa com uma ideia em
sua consciência, passa pela preparação destinada especificamente para
30
aquele crime, realiza o verbo/ ação descrita no tipo penal como ilícita, e por fim
consuma o planejado.
3.1 Da cogitação no plano da estrutura interna
Quanto à cogitação que tem como fase interna, por ser caracterizado
como um mero pensar do agente, ou seja, sua consciência psíquica está
pacífica que o agente que pensa em fazer mal a alguém não comete crime
algum, o mero pensar não caracterizaria ilícito penal, pois não exteriorizaria
sua vontade, não ocorrendo de fato nenhuma lesão ao bem jurídico tutelado
pelo Estado.
O doutrinador Capez (2011, p.264) aponta a cogitação como:
O agente apenas mentaliza, idealiza, prevê, antevê, planeja, deseja, representa mentalmente a prática do crime. Nessa fase o crime é impunível, pois cada um pode pensar o que bem quiser. Pensiero non paga gabella, cogitationis poena nemo patitur. Enquanto encarcerada nas profundezas da mente humana, a conduta é um nada, totalmente irrelevante para o Direito Penal. Somente quando se rompe o claustro psíquico que a aprisiona, e materializa-se concretamente a ação, é
que se pode falar em fato típico.
A cogitação trazida por Capez remete a ideia do princípio ‘’Pensiero non
paga gabella, cogitationis poena nemo patitur’’ onde o pensamento não paga
imposto ou direito, e os pensamentos não implicam punição, trazendo a mesma
ideia de Nucci ‘’tendo em vista que a fase interna não é exteriorizada,
logicamente não é punida, pois cogitationis poenam nemo patitur ( ninguém
pode ser punido por seus pensamentos) conforme já proclamava Ulpiano‘’.
Quando mencionado a cogitação pelo doutrinador Nucci ( 2016, p.561) este
traz de uma forma ainda mais específica as características de uma
consumação:
Fase interna, que ocorre na mente do agente, percorrendo, como regra, as seguintes etapas: a.1) cogitação: é o momento de ideação do delito, ou seja, quando o agente tem a ideia de praticar o crime; a.2) deliberação: trata-se do momento em que o agente pondera os
31
prós e os contras da atividade criminosa idealizada; a.3) resolução: cuida do instante em que o agente decide, efetivamente, praticar o delito. Tendo em vista que a fase interna não é exteriorizada, logicamente não é punida, pois cogitationis poenam nemo patitur (ninguém pode ser punido por seus pensamentos), conforme já proclamava ULPIANO (Digesto, lib. XLVIII, título 19, lei 18).
Essas características acrescentam não só o conceito de cogitação na
consciência do autor, mas também sua deliberação, sendo de seu interior
tentar resolver aquilo que se planeja, e por fim a resolução quando que de fato
decide praticar o ato, mas ainda aqui não há o que se falar em exteriorização.
3.2 Da estrutura externa
A estrutura externa de um caminho a ser realizado consiste em sua
preparação, execução e por consequência uma consumação. Ocorre que, há
uma grande questão envolvendo duas condutas externas no iter criminis, onde
se discutiria quando que o agente estaria de fato encerramento os atos
preparatórios e começando a realizar os atos executórios.
É necessário fazer uma distinção bastante discutida na doutrina, sobre
qual seria o parâmetro para se estabelecer que fosse fim de atos preparatórios
e começo de atos executórios, tendo em vista sua real importância em
decorrência de que em regra a preparação é impunível, e a execução punível.
No ordenamento jurídico, doutrinadores procuram acha uma solução
para compreender essa ‘’ponte’’ ligada da preparação a execução de um crime,
e a depender da teoria adotada que falará se os atos poderão ser identificados
como atos de preparação ou não. Visto isso, nas palavras de Capez (2018,
p.242) menciona sobre tal distinção como forma de solucionar o problema:
É muito tênue a linha divisória entre o término da preparação a realização do primeiro ato executório. Torna-se assim, bastante difícil saber quando o agente ainda esta preparando ou já esta executando um crime. O melhor critério para tal distinção é o que entende que a execução se inicia com a pratica do primeiro ato idôneo e inequívoco para a consumação do delito. Enquanto os atos realizados não forem aptos á consumação ou quando ainda não estiverem
32
inequivocamente vinculados a ela, o primeiro permanece em fase de preparação.
Com base nisso, o entendimento de Capez, tem se embasado da
doutrina teoria objetiva formal ou lógica, sendo que para o agente sofrer a
sanção penal, tem que se realizar o verbo descrito no tipo penal, a partir desse
momento estaria ocorrendo à agressão ao bem jurídico tutelado pelo Estado.
Ocorre que, há doutrinadores que a sustenta a teoria objetiva material, também
se usa o núcleo do tipo, porém o que a diferença das outras são as fases que a
antecedeu, sendo julgado por um terceiro observador de acordo com o caso
concreto.
Já Damásio (2010, p. 373) estabelece critérios para distinção de atos
preparatórios e atos executórios, que são critérios materiais e critérios formais:
O critério material não satisfaz, pois o perigo ao bem jurídico também pode apresentar-se em faze da realização dos atos preparatórios Pode ser um elemento secundário, não exclusivo, para a solução do problema quando se apresenta um fato duvidoso de acordo como segundo critério, só há começo de execução quando o sujeito inicia a realização da conduta descrita no núcleo do tipo, que é o verbo esse sistema não esta livre de critica. Há casos em que, embora o autor não tenha iniciado a realização de um comportamento que se adapte ao núcleo do tipo, não se pode deixar de reconhecer o inicio dos atos preparatórios do crime em a existência da tentativa.
É visível que essa teoria traz uma segurança jurídica maior do que a
teoria objetiva formal ou lógica, o problema seria quando a fosse levar para o
campo prático, uma vez que praticado a ação, na hora que fosse julgar não se
saberia ao certo qual era a real intenção do agente. Vale ressaltar que nessa
teoria usa se o senso lógico na conduta do agente.
No seu entendimento Busato (2018, pág. 91) menciona que:
Disputa espaço hoje na doutrina para a separação de atos preparatórios e de execução são as chamadas teorias objetivas, as quais têm em comum a ideia central de que se o dolo é igual em
33
todas as etapas da prática delitiva, a identificação dos atos de execução depende de manifestações externas inequívocas identificadas por um terceiro observador no sentido da pretensão criminosa.
A diferença dessas teorias é no que diz respeito ao interno do agente,
para a identificação de um alcance do seu objetivo ao praticar a conduta.
Sendo que, embora não há de certo modo uma teoria adotada, as teorias
objetivas têm como características apenas as condutas que pelo o que o
agente exteriorizou (princípio da exteriorização do fato) porque é um direito
penal do fato e não do autor, portanto não poderia ocorrer sua punição na fase
de cogitações, entendimento já pacificado e também não poderia ocorrer sua
punição em razão das características pessoais do agente.
3.2.1 Os atos preparatórios
O ordenamento jurídico traz como regra geral a não punição dos atos
preparatórios, trazendo como exceção quando estivermos diante de crimes
autônomos, onde ocorreria a punição antecipada em decorrência da ameaça
do perigo e que sua conduta já estaria caracterizando anteriormente um perigo
descrito na legislação penal, sendo denominados de crime obstáculo,
autônomos. Onde o legislador antecipou a tutela penal para punir aquele delito
que esteja ocorrendo à execução de outro.
Conforme dispõem Damásio (2011): ’’Nesses casos, o sujeito pratica
crime não porque realizou atos preparatórios do crime que pretendia cometer
no futuro, mas sim porque praticou atos executórios de outro delito’’. Ocorre
portanto que, ao tratar de punição antecipada, o agente responderá não pela
preparação de um delito, mas sim porque de alguma forma já esta na fase
externa de um outro crime, cujas condutas já estão predefinidas.
Neste sentido Masson (2011, p.317) traz exemplos de crimes que são
considerados autônomos passível de punição, onde o legislador antecipou a
tutela penal para punir aquele delito que esteja ocorrendo à execução de outro
sendo:
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É o que se da com os crimes de fabrico, fornecimento, aquisição, posse o transporte de explosivos ou gás toxico, ou asfixiante (CP, art. 253), incitação ao crime (CP, art. 286), quadrilha ou bando (CP, art. 288) e petrechos para a falsificação, o de moeda (CP, art., 291),entre outros.
Nos crimes autônomos ele se tem essa necessidade de punição uma
vez que ele esta ligado com um crime fundamental e possui características
próprias para a realização do crime e consequentemente ocorrerá sua punição,
não se pode dizer que são classificados como qualificadoras ou causas de
aumento ou diminuição de pena. O crime autônomo tem sua aplicação de
forma legal no Sistema Brasileiro, os exemplos citados pelo doutrinador trata-
se de crimes comuns, uma vez que não exige uma qualificação do sujeito ativo
podendo ser qualquer pessoa, já o sujeito passivo é a coletividade , assim por
exemplo os crimes de ‘’fabrico, fornecimento, aquisição, posse ou transporte de
explosivos ou gás tóxicos, ou asfixiante’’ tem necessidade de sua punição uma
vez que o bem jurídico é a incolumidade pública de forma a garantir a
integridade do individuo e a segurança da nação.
Na mesma linha de raciocínio Nucci (2016, p.331) entende que:
Excepcionalmente, diante da relevância da conduta, o legislador pode criar um tipo especial, prevendo a punição para a preparação de certos delitos, embora nesses casos, exista autonomia do crime consumado. Exemplo: possuir substancia ou engenho explosivo, gás toxico ou asfixiante ou material destinado a sua fabricação (art. 253, CP) não deixa de ser preparação para os crimes de explosão (art. 251, CP) ou de uso de gás tóxico (art. 252, CP), razão pela qual somente torna-se conduta punível pela existência de tipicidade incriminadora autônoma.
Nesse diapasão, faz se necessário a compreensão de que o crime
autônomo como o próprio nome traz, trata-se de um crime independente em
razão que a conduta auferida pelo agente não mais se trata de uma mera
preparação do delito que possivelmente iria ocorrer, mas sim de a realização
de um tipo penal já estabelecido, visto isso do porque de sua punição
antecipada. Diante disso, o legislador se viu na necessidade de dar
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características autônomas a determinados crimes, e os classificando como
puníveis em razão do seu perigo de lesão.
3.2.2 Os atos de execução
A execução como parte externa do iter criminis é que se faz punível
razão pela qual o agente começa a realizar o verbo descrito no tipo penal em
que foi transcrito pelo legislador ordinário. No início da execução pode ocorrer
a consumação de fato, vontade esta desde o começo pretendido pelo autor, ou,
por circunstância alheia a sua vontade o crime não se consuma ficando na
forma tentada. Aplicar-se-á a pena desde que respeitado o princípio da
legalidade no Direito Penal, em que não há crime sem lei anterior que o defina
nem há pena sem prévia cominação legal’’ desse modo, só se aplicaria a
sanção se o tipo estivesse previsto anteriormente na Lei como crime.
Bitencourt (2017, p. 543) em suas palavras entende que:
Os chamados atos preparatórios, os quais são externos ao agente, que passa da cogitação à prática da infração pena, procura o local mais adequado ou a ora mais favorável para a realização do crime etc.
Assim, a partir do momento que o agente sai do mundo interno e
começa a ingressar no mundo externo realizando uma conduta penal
incriminadora estabelecida no Código Penal. Contudo, há posições doutrinárias
que entende que para a execução de um crime se realizar necessitaria de
determinados requisitos, é como lesiona Masson (2011, p.317) para quem ‘’o
ato de execução deve ser idôneo e inequívoco’’. Neste caso seria que conduta
do agente é suficiente para causar um mal á vitima e que essa conduta seja
direcionada a uma vontade de praticar o ilícito, fazendo se necessários esses
dois critérios para que pudesse falar em execução.
Na mesma linha de raciocínio Lenza (2012, p. 231) contempla que ‘’é
certo que só será possível falar em execução se estivermos diante de um ato
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idôneo e inequívoco tendente à consumação do crime ‘’. Ocorre que, há uma
grande discussão em que quando que se consideraria fim de atos
preparatórios, sendo aqueles meios utilizados pelo agente durante sua
conduta, para começo de atos executórios, em que o agente estaria
encerrando seus meios para uma conduta delituosa entrando para o caminho
de uma possível consumação.
No ordenamento jurídico, doutrinadores procuram achar uma solução
para compreender essa ligação entre a preparação e a execução,
estabelecendo teorias que serão discutidas em um segundo momento.
3.2.3 Da consumação do crime
A consumação integra a última fase do iter criminis. O crime se da por
consumado quando o agente pratica todas as etapas do ilícito penal, ou seja, o
tipo penal foi integralmente realizado. Ocorre a retirada do plano em abstrato
apresentado pela Lei, onde o agente tira essa abstração trazendo para o
mundo externo suas ações condenatórias.
O art. 14° inciso I do Código Penal traz a definição de crime consumado
‘’ quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal’’. Assim,
para que se saiba quando um crime se da por consumado, é necessário saber
se trata de um crime material, no qual se faz necessário a conduta e o
resultado a exemplo do art. 121 Código Penal ‘’matar alguém’’ onde ocorre a
consumação com a efetiva morte da pessoa, como também em casos de furto
ou estelionato onde a ação se da em conta da subtração, retirando o objeto da
posse da vítima e o resultado se faz em decorrência dano que a vitima teve.
Já nos crimes formais para que haja a consumação faz necessário
apenas a ação, mas pode ocorrer de ter também o resultado sendo
considerável dispensável, a exemplo do crime de corrupção passiva
estabelecido no art. 317 Código Penal, no qual o funcionário público solicita ou
recebe vantagem indevida em razão da função, aqui não importa se ele vai
37
chegar a receber o dinheiro ou não, pois o crime já se da por consumado no
momento da sua conduta em solicitar ou receber.
Os crimes de mera conduta, como o nome já a diz a conduta já basta
para a consumação do delito, mesmo que não ocorram resultados, é no caso
de violação de domicílio trazido pelo art. 150 Código Penal, no qual a entrada
do agente na residência sem a autorização do morador já caracterizaria a
consumação do feito independente do resultado.
Nas palavras de Estefam e Gonçalves (2017, p.383) tem se entendido
que:
Há consumação (ou summatum opus), de acordo com o Código Penal , quando se fazem presentes todos os elementos da definição legal do delito (art. 14, I). Em outras palavras: total subsunção da conduta do sujeito com o modelo legal abstrato. Pode-se dizer, ainda, que esta fase final do iter criminis é atingida com a produção da lesão ao bem jurídico protegido. Igualmente importante é definir a linha divisória da consumação. Esse momento é fundamental ara determinar a quantidade da pena imposta, o termo inicial da prescrição da pretensão punitiva (art. 111, I, do CP) e o foro competente para o processo e julgamento da infração (art. 70 do CPP).
Assim sendo, o sujeito sai do plano abstrato, que é a descrição do tipo
penal para o mundo concreto, bem como traz quando ocorreria a prescrição da
pretensão punitiva do Estado, que não mais aplicará a sanção a aquele autor
pois terá sua punibilidade extinta. Assim sendo, ocorrido a consumação do
crime aplica-se a regra do art. 70° do Código de Processo Penal em que traz o
doutrinador, sendo este recepcionado pelo referido código, trazendo ‘’ a
competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a
infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato
de execução’’.
Dessa forma, o Código de Processo Penal adota quando se tratar de
consumação tem se adotado a teoria do resultado onde o foro competente será
o do lugar da consumação, conforme art. 70° desse código que expressa:
38
A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução.
Conforme exposto, no art. 70° do Código de Processo Penal quando um
crime for consumado, aplicar-te a regra de competência do local que ocorrer a
consumação, resultado e não o da conduta contra a vítima, essa ideia é
adotada nos dias de hoje pelo processo penal com a denominada teoria do
resultado, ou do advento.
3.3 Da fase de exaurimento do crime
No Direito Penal Brasileiro, grande parte da doutrina entende que o
exaurimento não constitui como uma das etapas do iter criminis razão essa que
a consumação e o exaurimento não se confundem, uma vez que o exaurimento
ocorreria depois que o delito já estivesse consumado. Não se trata de um novo
crime quando ocorrido o fenômeno do exaurimento e sim, um desdobramento
de uma conduta já consumada.
Assim entende Lenza ( 2012, p. 323) que:
Dá se quando o agente, depois de consumar o delito e, portanto, encerrar o iter criminis, pratica nova conduta, intensificando a agressão ao bem jurídico penalmente tutelado. De regra o exaurimento apenas influi na quantidade da pena.
Com base nisso, o exaurimento trazido pelo doutrinador não integraria
as etapas percorrida ao crime e sim se utilizaria o juiz como forma de
dosimetria da pena, sendo proporcional a cada passo desenvolvido pelo o
agente. Assim, quanto mais se prejudica o bem jurídico a pena
consequentemente será influenciada a medida da sua proporção, ou seja,
quanto mais se lesa mais se aplica o aumento.
39
De modo que, a não inclusão do exaurimento no ‘’iter criminis’’ é de
forma unânime aceita, assim Santos (2016) diz que:
Também chamado de crime exaurido ou crime esgotado, é o delito em que, posteriormente à consumação, subsistem efeitos lesivos derivados da conduta do autor. É o caso do recebimento do resgate no crime de extorsão mediante sequestro, desnecessário para fins de tipicidade, eis que se consuma com a privação da liberdade destinada a ser trocada por indevida vantagem econômica. No terreno da tipicidade, o exaurimento não compõe o iter criminis, que se encerra com a consumação.
Ocorrendo o exaurimento, portanto após o ato de consumação e mesmo
não fazendo parte do iter criminis surte efeitos que derivam de lesão em razão
de conduta anteriormente praticada pelo agente, ocorrendo a possiblidade de
outros prejuízos a serem demonstrados. Importante demonstrar que, o
exaurimento não se configura como um novo crime ainda que assim tenha a
existência de uma tipificação de crime autônomo, ocorrendo sua vinculação
com outro crime, mas com características de realização própria.
A esse respeito, Oliveira (2011) ressalta que:
Conclusão diversa levaria a dupla punição a um mesmo fato delituoso, que é vedada pelo Direito Penal, com amparo no princípio non bis in idem. Impede frisar que a impunidade somente se verifica em caso de nova lesão ao mesmo em jurídico, com fulcro no supracitado princípio.
Assim, caso o acontecimento posterior da consumação não fosse
respeitado, ou seja, o exaurimento fosse punível a título de outro crime e não
porque necessariamente ocorreu uma lesão aquele crime quem já teve todas
as suas fases do iter criminis realizada, ocorreria a violação do princípio ‘’non
bis in idem’’ ou também denominado como princípio da vedação a dupla
incriminação, de forma a proibir que uma pessoa seja processada, julgada e
condenada pela mesma conduta mais de uma vez.
3.4 Da tentativa entre a execução e a consumação
40
A tentativa ocorre entre a execução para a consumação do delito, em
que só ocorrerá esse instituto se o delito não estiver consumado o art. 14°, II do
Código Penal traz o conceito de tentativa, em ‘’iniciado a execução, não se
consuma por circunstância alheia a vontade do agente’’.
O conceito apresentado pela Lei que da origem a sua natureza jurídica,
que tem como norma de extensão temporal da figura atípica causadora de
adequação típica mediata ou indireta, no qual ocorre a possibilidade de punição
ainda que menor pela quase totalidade do crime pretendido. A punição ocorre
mesmo que não consumado, não porque ele desistiu, pois não era a intenção
do agente, mas sim não se consumou por conta de um terceiro que impediu a
produção do resultado.
Nesse sentido se manifesta Brandão (2010, p.294) em relação a
tentativa que :
Para a figura da tentativa adquirir existência, através da tipicidade, é necessária uma combinação entre a parte geral do Código com os tipos penais da parte especial; neste sentido , pode-se afirmar que a tentativa se configura por conta de uma extensão típica.
Sendo assim, para a aplicação imediata do instituto da tentativa faz se
necessário não só sua previsão na parte geral do Código Penal, mas também
de condutas típicas e ilícitas consubstanciadas na parte especial, sendo
estendidos aos demais preceitos normativos para sua legalidade e eficácia.
Welzel (2003, p.274) traz em seu conceito de tentativa englobando as
teorias adotadas pelos doutrinadores, conforme:
Tentativa, é a concretização da decisão de realizar um crime ou delito, por meio de ações que constituem um começo de execução do delito. O tipo objetivo não esta plenamente cumprido na tentativa. Em compensação, o tipo subjetivo deve existir completamente e, por certo na mesma forma como deve ser no delito consumado. Portanto,
41
se basta para a consumação o dolus eventuais, então basta também, para a tentativa.
A tentativa do crime vai se dar de acordo com o que vier a ocorrer no
caso concreto, a exemplo no crime de homicídio no qual o agente disfere
disparos contra a vítima, porém não consegue praticar todos os atos
executórios por circunstâncias alheia a sua vontade trata-se da denominada
tentativa imperfeita ou inacabada do crime de homicídio, de forma posterior
ocorrendo a tentativa cruenta momento esse que a vítima vem a ser atingida.
No caso do agente utilizar de todos os meios executórios que tinha em
mãos, mas a vítima vier a se salvar estamos falando em tentativa perfeita ou
crime falho daquele tipo penal que o agente praticou, o oposto se estivermos
diante da ocorrência de uma tentativa branca aquela em que a vitima não vem
a ser atingida. Observando a estrutura da tentativa temos as teorias adotadas
pelos doutrinadores, em que consiste teoria subjetiva onde faz se punível a
tentativa da mesma forma que do crime consumado, porque aqui o que vale é
a intenção do dolo.
Essa teoria pode ser utilizada em caráter excepcional conforme elide
Bitencourt (2010, p.471):
Salvo disposição em contrario, pune-se a tentativa correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços (art. 14, paragrafo único).Com a expressão ‘’salvo disposição em contrário’’, quer o Código dizer que há casos em que a tentativa pode ser punida com a mesma pena do crime consumado, sem a diminuição legal, como são os caso de evadir – se ou tentar evadir-se’’ ar 352 do CP; votar ou tentar votar duas vezes’’ art. 309 do Código Eleitoral etc. Afora as exceções expressamente previstas, a diminuição legal e obrigatória.
Assim, caso o agente pratica determinado ilícito penal, sua pena base
esta de forma determinado na legislação, ao passo que o agente praticando
sua pena vai ter os reflexos no tipo incriminador que a Lei estabelece, e sua
pena serão determinadas de acordo com o quanto o agente já praticou fazendo
42
o juiz como parâmetro para a aplicação da pena, reduzindo para mais ou para
menos, sendo de forma obrigatória se da sua ocorrência.
O doutrinador Welzel (2003, p.277) traz o complemento da teoria
subjetiva, onde consta:
A concretização exterior da vontade, como tal, não precisa ser perigosa, mas que para a ordem jurídica é já seriamente perigosa àquela vontade que, com sua manifestação, acredita iniciar imediatamente a realização do delito.. Por isso é punida a tentativa com meios idôneos, ou no objeto idôneo,, sem considerar a não-periculosidade objetiva se o autor os tomou por idôneos.
E a teoria objetiva sendo adotada pelo ordenamento, onde faz a
tentativa ser vista como um ato mais brando ocorrendo um mal menor, a regra
é que traz uma causa de diminuição de pena o art. 14°, parágrafo único do
Código Penal em que ‘‘ salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com
a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços’’,
cumulativamente com o art. 59° do Código Penal que traz a segunda fase de
fixar a pena, ‘’ o juiz atendendo á culpabilidade, aos antecedentes, á conduta
social, a personalidade do agente, aos motivos, as circunstâncias e
consequências do crime, bem como o comportamento da vítima’’.
Assim, no caso concreto caberá ao juiz fazer uma analise das
circunstâncias que ocorreu a ação do agente para saber qual o procedimento
de aplicação de pena aplicar, seja mais branda ou não, analisando sua
reprovação e prevenção daquele crime.
Nesse sentido ressalta Sanches (2015, p.338):
A punição da tentativa deve observar o aspecto objetivo do delito. Apesar de a consumação e a tentativa serem subjetivamente completas, esta (tentativa), diferente daquela (consumação), é objetivamente inacabada, autorizando punição menos rigorosa quando o crime for tentado.
43
Como bem se sabe a teoria objetiva, é a teoria escolhida pelo Código
Penal no momento de punir a tentativa, como tentativa não tem uma
consequência tão grave já que a conduta do agente não é do mesmo nível de
agressão que quando comparado a um crime consumado, portanto a tentativa
deve suportar uma punição mais leve, se adequando ao Jus Puniendi não
fugindo da legalidade.
44
4. DA NECESSIDADE DE ALTERAÇÃO EM SEU PLANO MATERIAL: UMA
PERCEPÇÃO CRÍTICA
4.1 O Princípio da Legalidade frente aos atos preparatórios
O Princípio base do Código Penal traz a legalidade com previsão nos
art. 5°, inc. XXXIX da Constituição e art. 1° do Código Penal, aqui, se traz tanto
o princípio da legalidade como o princípio da anterioridade da Lei quando
menciona ‘’ Não há crime sem Lei anterior que o defina. Não há pena sem
prévia cominação legal’’, sendo assim, uma conduta só será reconhecida como
crime se na legislação penal existir expressamente um tipo incriminador na
época do fato sendo ato de ação ou omissão que lesa ou expõe a perigo de
lesão bens penalmente protegido quando se entende em seu critério material
de crime.
Assim, Capez (2004, p.167) considera os seguintes efeitos desse
princípio:
A determinação da punibilidade deve ser realizada mediante a edição de uma lei escrita (lex scripta), sendo essa, ao criminalizar condutas, a única fonte do direito penal; Deve a lei determinar a punibilidade ( lex certa), ou seja, se ao fato previsto é ou não cominado uma pena, bem como, sua medida, para o fim de sujeitar-se o intérprete a sua determinação ( lex stricta);A determinação deve realizar-se antes do fato ( lex previa).
O princípio da legalidade pode ser caracterizado como o pilar dos
princípios, a base para que toda e qualquer norma seja aplicada com clareza
fazendo se necessário respeitar suas características para que a punição seja
válida, aplicando ao agente uma conduta incriminadora que já constava
anteriormente em um tipo penal ilícito, não podendo ser de outra forma, pois
caso o contrário estaria não só ferindo um Princípio Constitucional Penal, mas
também uma insegurança jurídica dentro do seu Estado Democrático de
Direito.
45
Trazendo essa ideia, o terrorismo em sua nova concepção, tem sua
discussão voltada quando da realização de seus atos a exceção da regra
quando vai se aplica a pena, onde em razão de sua gravidade a mera
realização dos atos preparatórios já basta para o delito estar caracterizado
como consumado realizando, portanto sua punição ainda nos atos
preparatórios.
Observa-se que a mera preparação do agente, ou seja, utilizando
elementos para a prática de um futuro delito já caracterizaria o crime mesmo
não havendo sua exteriorização nem atingindo o bem jurídico, sendo a punição
caracterizada por um possível dano que possa ocorrer com a prática da
preparação daquele ato.
Portanto, Busato ( 2016, p.89) pede atenção:
Perceba-se que da referencia descritiva da pretensão conceitual de relevância não se identifica qualquer conduta em concreto, pois se anuncia simplesmente realizar atos preparatórios de terrorismo com o proposito inequívoco de consumar tal delito. A primeira questão que se põe, ao contrario que poderia, a principio parecer, não é o fato de incriminar-se os atos preparatórios, mas a evidente violação do principio da legalidade.
Logo no caput do art. 5° quando mencionado ‘’ realizar atos
preparatórios’’ nesse momento o doutrinador aponta a conduta descrita como
de uma possível interpretação vaga, não especificando o que seria o verbo,
‘’realizar’’ não sendo capaz de entrelaçar a conduta com o objeto a ser lesado.
Essa situação, com o advento da Lei Antiterror é tratada por Busato (2016),
‘’não se define absolutamente qual é a conduta incriminadora. Ao contrário
recorre-se a um conceito técnico-jurídico impreciso para estabelecer o âmbito
da incriminação de modo que não se sabe o que é incriminado’’.
Sendo assim o ‘’realizar’’ não poderia ser traduzido como sendo o núcleo
do verbo, pois em um primeiro momento pode-se traduzir várias ideias, tendo
em vista que quem realiza, realiza algo sendo, portanto para essa Lei os atos já
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preparatórios. Nesse sentido, não concordando também com o dispositivo de
Lei, acrescenta Terra e Fernandes ( 2016, p.29):
Uma vez definidos os tipos ( ou atos) de terrorismo, por si só revestidos de severa complexidade, inovou a Lei ao tipificar no art 5°, a conduta de ‘’realizar atos preparatórios de terrorismo com o propósito inequívoco de consumar tal delito’’, instituindo verdadeira aberração em nosso ordenamento jurídico.
Entendendo que essa punição ainda na preparação do delito, trata-se de
uma aberração ao ordenamento jurídico, pois dispensa a ocorrência do instituto
da tentativa, sendo chamada de tentativa antecipada, pois sua punição ocorre
antes mesmo de qualquer ato a ser realizado. Com essa relação de
entendimento Moura (2016, p.171), acrescenta o art. 5° da Lei n° 13.260/16:
Como redigido deixa sem sombra de dúvidas larga margem de insegurança jurídica, ora por afetar a legalidade, ora a proporcionalidade’’. Em verdade, a melhor técnica a ser adotada pelo legislador seria prever o ato preparatório ao terrorismo como crime autônomo, com aplicação de penas proporcionais próprias, cuja redução teria por base frações idênticas as previstas á tentativa, em simetria com ao parágrafo único do art. 14 do Código Penal.
Uma das formas de enquadrar esses atos preparatórios seria sua
classificação ser de um crime de delito autônomo, possuindo elementares
próprias, descrevendo, portanto um crime independente e não com mera
qualificadora ou causa de aumento/diminuição da pena. A aplicação da pena
seria proporcionais próprias, cuja aplicação se assemelharia aos casos de
tentativa, em consonância com o art. 14° parágrafo único do Código Penal.
É de se observar, portanto que somente será punível condutas
imediatamente anteriores a pratica dos verbos nucleares, e de forma
generalizada, abstrata como traz o texto de Lei para a aplicação dos atos
preparatórios do terrorismo, punindo uma conduta precedente. Assim, Cortez
(2017, p.100) diz que ’’ no caso do terrorismo, em especial na sua modalidade
47
antecedente, punimos e iremos repelir os atos antes mesmo de serem
materializados em condutas lesivas ao Estado e á sociedade’’.
Deparamo-nos, portanto com um crime de perigo abstrato que a Lei
descreve apenas sua conduta para sua realização, sem a necessidade de
comprovação de uma possível lesão ao bem jurídico tutelado. Os crimes de
perigo abstrato são aqueles nos quais não há qualquer necessidade de
comprovação da existência do perigo, onde o perigo seria inerente à conduta
do agente, ou seja, com o seu mero comportamento descrito no tipo antes
mesmo de que se possa caracterizar um possível dano ao bem jurídico
tutelado pelo Estado.
Contudo, tal classificação de crime é objeto de críticas, uma vez que
afronta o princípio da lesividade que menciona a punição do crime quando
ocorrido sua lesão ao bem jurídico.
Assim, Lacerda (2017) menciona:
Observa-se que os crimes de perigo abstrato não se amoldam perfeitamente aos ditames principiológicos, podendo ser considerados inconstitucionais quando não houver uma adequação do crime ao princípio ou, melhor dizendo, tendo que ser reinterpretados para se enquadrarem no conceito da tutela penal do perigo concreto, ou seja, por meio de comprovação material da existência de perigo ao bem jurídico.
Entendendo que o crime de perigo abstrato não se amolda no
ordenamento jurídico brasileiro, pois sua caracterização não respeitaria os
princípios constitucionais estabelecidos, havendo, portanto a sua punição
quando estiver frente ao crime de perigo concreto, onde de fato ocorreria a
lesão, se exteriorizando a vontade do autor.
Nessa linha de raciocínio entendesse Capez (2004, p.132):
Não haverá crime quando a conduta não tiver oferecido, ao menos, um perigo concreto, real, efetivo e comprovado de lesão ao bem jurídico. A punição de uma agressão em sua fase ainda embrionária,
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embora aparentemente útil do ponto de vista da defesa social, representa ameaça á proteção do individuo contra uma atuação demasiado intervencionista do Estado.
Embora da não concordância por parte de alguns doutrinadores no que
cabe aos crimes de perigo abstrato quando aplicado se tem a existência do
princípio da ofensividade, não é o que vem entendendo nossos tribunais, em
diversos julgados, as determinações foram no sentido de tratar alguns crimes
em razão de seu perigo e uma possível lesão, como crimes abstratos conforme
o julgado do Supremo Tribunal Federal:
Habeas corpus. Porte de arma de fogo de uso permitido – art. 14 da Lei n. 10.826/2003. Crime de perigo abstrato. Inexigibilidade de resultado naturalístico para configurar a tipicidade. Bens juridicamente tutelados: segurança e paz social. Artefato desprovido do carregador. Circunstância inapta a descaracterizá-lo como arma de fogo. Atipicidade. Inocorrência.
(HC 121926 MC, Relator(a): Min. LUIZ FUX, julgado em 10/04/2014, publicado em PROCESSO ELETRÔNICO DJe-075 DIVULG 15/04/2014 PUBLIC 22/04/2014)
Em que pese o julgado, é de se observar que a estrutura do crime é
colocada quando se tem um fato típico, em sendo o seu enquadramento da
conduta descrita em um tipo legal, e mais sua ilicitude sendo sua conduta
contraria ao Direito, entendendo o Supremo Tribunal Federal que diante dessa
possibilidade de crime abstrato não precisa da ocorrência de lesão para
configurar uma ilegalidade, vindo a ser o agente sofrer a sanção que lhe
caberia não ficando isento pelo simples fato de não ter exteriorizado sua
conduta.
Conforme exposto, é de se observar que quando estamos tratando de
ofensa a um determinado bem jurídico que de fato não ocorre, o objetivo é de
efetiva proteção que o Estado visa garantir por meio de normas de aplicação
imediata e antecipatória essa ofensa , para que sua punição seja feita antes
que algo pior aconteça, tendo em vista que a pena aplicada é em cima da
presunção do risco, e não do efetivo dano. Portanto, ocorre a exigência de
49
implementação de medidas extremas pelo Estado, sendo assim Azevedo
(2016, p. 48) discorda dizendo que:
Não agiu Estado para além das balizas constitucionais, uma vez que a legitimidade dos delitos de perigo, mesmo aqueles abstratos, é incontestável, desde que ultrapasse a mera desobediência de regras administrativas em que não se possa identificar na conduta proibida alguma hipótese de perigo possível.
Esse limite não sendo superado, pode acarretar em ilegitimidade do
crime de perigo abstrato, ocorrendo o que denomina Cuesta Pastor chama de
‘’peligro del peligro’’. Percebendo, portanto que a Lei Antiterror segue uma
construção de periculosidade abstrata se contentando com a mera exposição
de alguns bens jurídicos, seja a paz pública, incolumidade pública ou até
mesmo o patrimônio, trazendo certamente a potencialidade necessária para
afetar essas pessoas.
É de se observar, que o art. 3° mencionado pelo doutrinador é
caracterizado como um crime de perigo abstrato, uma vez que o bem jurídico é
apenas ameaçado e não de fato lesionado, o verbo ‘’promover’’ colocado nesse
artigo está correlacionado com os crimes do art. 286 e art.287 do Código Penal
uma vez que constam os tipos de incitar e de apologia ao crime.
Os doutrinadores David e Terra ( 2018, p.85) traz uma análise a ser feita
desse adiantamento dos atos preparatórios, no contexto do art. 3° da Lei
destacando que:
Ao se criminalizar condutas como integrar, ou o mero colaborar, apura-se inexistir lesão tampouco colocação em perigo, de um bem jurídico penal. Sendo assim, com a previsão típica do artigo em comento, admitir-se-á no ordenamento jurídico brasileiro figuras que adiantam – ainda mais- as barreiras de imputação, ocorrendo a transformação de atos preparatórios, que eventualmente poderiam ser puníveis, ou ainda formas de participação que talvez nem cheguem a contribuir para a organização, em delitos autônomos.
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Com base nisso podemos tirar por analise que, o Direito Penal buscará
punir devido ao especial fim de agir do agente, punindo aquele que contribuir
ou prestar auxílio de forma genérica, que de forma análoga pode-se aplicar
uma norma penal em branco uma vez que da edição de seu dispositivo, o
mesmo traz como incompleto, vago e indeterminado.
Ocorre que, o simples fato de simpatizar com grupos terroristas não se
pode confundir com a ação de ‘’promover’’, o mero simpatizar quando
ocorresse no âmbito interno do indivíduo, sem qualquer ato de exteriorização
não se amoldaria em nenhum tipo penal da Lei caracterizando, portanto uma
mera cogitação não podendo falar em punição.
Assim, David; Terra (2017, p.83) explicam a diferença dos verbos
nucleares como ‘’sendo que a diferença entre colaborar ou prestar auxílio e o
integrar é mostrada pela estabilidade que o sujeito ativo apresenta dentro da
organização’’. O mesmo estabelece em seu dispositivo quatro verbos nucleares
de diferentes condutas, caracterizando como um tipo misto alternativo, pouco
importando o cometimento de uma ou outra conduta, já que a afetam o mesmo
bem jurídico, portanto tem se a caracterização de apenas um crime ainda que o
agente tenha cometido os demais verbos.
Observando que a descrição no tipo penal quanto à figura do prestador
de auxílio não pode ser caracterizada como integrante da organização uma vez
que sua conduta e enquadrada não mais é de colaborar, passando a ser
tipificado como na conduta de integrar. Portanto para que se possa falar em
qualquer verbo trazido na Lei, faz se necessário às condutas que o agente vem
praticando, e como que ele se comporta durante as realizações do ato.
4.2 Os atos preparatórios como condutas impuníveis em regra no
Ordenamento Jurídico Brasileiro
Na legislação penal atual como já analisado os atos preparatórios estão
enquadrados em condutas externas praticadas pelo agente, que depois de
passar pelo mero pensar da conduta, resolve colocar em prática o crime
51
desejado fazendo a chamada preparação de delito, eu como regra geral a sua
punição não é válida.
Assim, Fernandes e Terra (2017, p.25) mencionam:
Sabe-se que os preceitos penais, quando tipificam os delitos, o fazem normalmente aludindo á forma consumada. Não obstante, é deveras importante lembrar que até atingir esta fase, o ‘’fato doloso’’ percorre um ‘’caminho’’- o ‘’iter criminis’’, que se inicia com a decisão de cometê-lo, transita pela sua preparação, começo da execução, até atingir a produção do efeito buscado pelo agente com sua pratica. Nem todas essas fases, todavia, são revestidas de relevância criminal.
É certo que, a simples decisão do agente em cometer o delito não é algo
que o Direito Penal se ocupe, uma vez que permitiria a punição do próprio
pensamento do agente. A chamada cogitação é caracterizada como a fase
interna por ser o mero pensar do agente, sua elaboração intelectual e
consciência psíquica sobre um possível ato criminoso a ser praticado.
Portanto, a cogitação é uma etapa do iter criminis sem grandes
problemas para o ordenamento, uma fez que já este pacificado que o agente
que pensa em fazer mal a alguém não comete crime algum, já que o mero
pensar não caracterizaria ilícito penal, já que não teve a exteriorização de sua
vontade não ocorrendo de fato nenhuma lesão ao bem jurídico que o Estado
protege.
A grande discussão envolvida estaria na segunda etapa praticada pelo
agente, já que o Ordenamento Jurídico traz como regra geral a não punição
dos atos preparatórios. Assim menciona Moura ( 2017, pág.169) que ‘’os atos
preparatórios são definidos levando-se em conta o bem jurídico protegido, ou
seja, a violação que se pretende prevenir’’. Surgindo a partir desse
entendimento a possibilidade que o ordenamento trás quando verificado a
existência da possibilidade dessa antecipação quando estivermos diante de
crimes autônomos, onde ocorreria a punição antecipada em decorrência da
ameaça do perigo e que sua conduta já estaria caracterizando anteriormente
52
um perigo descrito na legislação penal, sendo denominados de crime
obstáculo.
Na mesma linha de raciocínio Nucci entende reforçando que:
Excepcionalmente, diante da relevância da conduta, o legislador pode criar um tipo especial, prevendo a punição para a preparação de certos delitos, embora nesses casos, exista autonomia do crime consumado. Exemplo: possuir substancia ou engenho explosivo, gás toxico ou asfixiante ou material destinado a sua fabricação (art. 253, CP) não deixa de ser preparação para os crimes de explosão (art. 251, CP) ou de uso de gás tóxico (art. 252, CP), razão pela qual somente torna-se conduta punível pela existência de tipicidade incriminadora autônoma (NUCCI, pág. 331).
Nesse diapasão, faz se necessário a compreensão de que o crime
autônomo como o próprio nome traz, trata-se de um crime independente em
razão que a conduta auferida pelo agente não mais se trata de uma mera
preparação do delito que possivelmente iria ocorrer, mas sim de a realização
de um tipo penal já estabelecido e que por consequência já ocorreu e ,portanto,
sua punição se faz presente antes. Portanto, a tradição é que os atos
preparatórios não constituam ainda fase punível do iter criminis. No entanto,
vem a Lei 13.260/16 e seu artigo 5º. Para alterar a situação e prever a
punibilidade dos atos preparatórios nos crimes de terrorismo.
A excepcionalidade que o art..5 da Lei Antiterror trouxe quando
menciona os atos preparatórios a serem punidos, trouxe junto consigo uma
tipificação um tanto quanto falha, conforme aponta Cabette ( 2016) :
Ocorre que a redução de pena para meros atos preparatórios é somente de “um quarto à metade”. Note-se que, segundo dispõe o artigo 14, II e Parágrafo Único, CP, a redução de pena para a tentativa (que vale também para os crimes de terrorismo, já que a lei especial não contém disposição expressa), varia entre “um terço e dois terços”. Ora, é clara e evidente a lesão à proporcionalidade na medida em que se um indivíduo pratica atos executórios de terrorismo, chegando a tentar praticar o crime terá uma redução maior do que se apenas praticar atos preparatórios, sem sequer adentrar na tentativa. ( CABETTE, 2016).
53
Como mostrado, ocorre uma violação ao princípio da proporcionalidade
quando aplicar as penas dos atos preparatórios que é de um quarto a metade,
e se for comparar com a redução de pena da tentativa do art. 14. Inciso II do
parágrafo único do Código Penal, no qual menciona que ‘’salvo disposição em
contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime
consumado, diminuída de um a dois terços’’, aplicando essa redução de pena
na tentativa de crimes de terrorismo, uma vez que não tem disposição
expressa em Lei Especial. Mostrando totalmente relevante sua modificação no
plano material, uma vez que não teria sentido aplicara uma redução de pena
maior a um crime que já se deu por tentando e uma redução de pena menor
daquele que só está preparando.
De modo contrário menciona Amaral (2016) que:
A tipificação de atos preparatórios de terrorismo mostra-se adequada e proporcional, tendo em vista a necessidade de um direito penal, ao menos, de terceira velocidade em contraponto a tais condutas que, não raras vezes, assolam toda a humanidade. Ainda mais em momento de proximidade de evento mundial a ser recebido pelo Brasil. Não se quer dizer que o Direito Penal deve trazer consigo uma simbologia para dar ao cidadão um sentimento de tranquilidade, com punições severas, entre outros mecanismos propagados pela mídia como salvadores da segurança social. Mas não há como negar que há determinadas condutas que merecem atenção especial e mecanismos para que sejam, ao máximo evitadas, como, ao que parece, a de terrorismo.
Considerando que, é entendido por Amaral sendo adequada e
proporcional frente ao Sistema Brasileiro, mostrando a necessidade de pelo
menos um Direito Penal de terceira dimensão, trazendo consigo a aplicação de
penas privativas de liberdade e a possibilidade de flexibilização da aplicação
das garantias materiais e processuais. Uma vez que, a existência de condutas
de maior gravidade precisam de maior atenção, e mecanismos necessário e
suficientes precisam ser aplicados para um combate ao terrorismo eficaz.
54
A grande questão trazida é o que a Lei em seu art. 5°, parte 2 destaca
ao mencionar o propósito inequívoco de consumar tal delito, que para ser
caracterizado como um ato inequívoco tem como características para não
deixar possibilidades de dúvidas, duplos sentidos e ou ambiguidades, trazendo
o texto da legal de modo certo e claro no que diz respeito a sua matéria, ou
como o agente seria punido caso a conduta que pretendia ocorresse,
mostrando a ocorrência da tipicidade e ilicitude sempre presentes. Mostrando o
artigo de Lei a necessidade de uma explicação maior por parte do legislador
que, ao editar tal norma deu-se a possibilidade de várias interpretações a
respeito do dispositivo legal.
Nesse sentido, Fernandes e Terra (2017, p.32) mencionam que:
Todo ato preparatório está invariavelmente conectado ao delito a ser cometido. Em outras palavras, o objetivo do ato preparatório é a consumação do crime (com produção do resultado final) afigurando-se clara, no caso dos delitos de terrorismo, a pretensão do legislador quando a estabelecer uma certeza de que a realização de determinado ato preparatório ocorreu com este ‘’especial fim de agir’’. Aferir tal finalidade especial, contudo, é algo efetivamente impossível no mundo real, não havendo como se afirmar, com razoável convicção.
No mundo atual, não poderia se firmar com convicção ou certeza, a
respeito do ‘’fim de agir’’ praticado, uma vez que ao longo do iter criminis
podem ocorrer alterações anímicas. É de se extrair, portanto que o
adiantamento da intervenção penal na punição de seus atos preparatórios é,
portanto caracterizada como inaplicável e inviável sua antecipação.
No mesmo sentido BUSATO ( 2018, pág.96) acrescenta dizendo que ‘’
os elementos subjetivos como especial fim de agir não são entidades descritas,
portanto, sua evidencia depende de fatores probatórios’’. Ocorre que, tem-se a
exigência da demonstração do propósito inequívoco transformando os atos
preparatórios em fase de execução do delito de terrorismo, visto isso que se
mostra na dificuldade de demonstração probatória do crime, pois é preciso
55
demonstrar a exigência da prática dos atos preparatórios e a vontade do
agente em seguir adiante com a fase de execução.
4.3 A controvérsia aplicação do instituto da desistência voluntária e do
arrependimento eficaz nos atos preparatórios
A existência do instituto da desistência voluntária e do arrependimento
eficaz é visto como aplicações que resultam em uma diminuição de pena.
Porém pode ser caracterizado a desistência voluntária e o arrependimento
eficaz no art. 15° do Código Penal em que ‘’ o agente voluntariamente, desiste
de prosseguir na execução ou impede que o resultado se produza, só responde
pelos atos já praticados’’.
Visto isso, a desistência voluntária nada mais é que o agente tem a
voluntariedade, vontade de não mais continuar com a conduta delituosa. Sendo
que pouco se importa se essa desistência ocorreu de forma espontânea em
que a vontade de não mais produzir o resultado partiu do agente, como um
‘’terceiro incentivador’’ para que o agente não continue a praticar a ação, mas
para critério de caracterização da desistência voluntaria é necessário que essa
voluntariedade parta apenas do agente.
O doutrinador alemão Liszt (2006, p. 342) traz uma fórmula bem objetiva
para que se possa diferenciar a desistência voluntaria e tentativa. Em que o
agente pode prosseguir, mas não ocorre o fenômeno da desistência voluntária,
agora caso ele queira prosseguir, mas não pode estamos diante de uma
tentativa que o doutrinador penalista Alemão entende:
No momento em que o agente transpõe a linha divisória entre os atos preparatórios impunes e o começo da execução punível, incorre na pena cominada com a tentativa. Semelhante fato não pode mais ser alterado, suprimido, ou << anulado retroativamente >>. Pode, porém a Lei, por considerações de política criminal, construir uma ponte de ouro para a retirada do agente que já se tornara passível de pena. Ela o fez convertendo em causa extintiva de pena a desistência voluntária.
56
A ‘’ponte de ouro’’ é uma forma de estimulação da lei para que mesmo
que o agente tenha iniciado o crime evitando sua consumação, significa que o
caminho da conduta delituosa feita pelo agente foi de todo modo bem
sucedido, porém se arrepende e pretende desfazer o ato, surgindo a partir
desse momento a ‘’ponte de ouro ‘’, permitindo que desfaça aquela conduta
ilícita excluindo sua tipicidade.
Outro instituto consagrado por essa ‘’ponte de ouro’’ seria o do
arrependimento eficaz onde aqui o agente se deu por esgotado todos os meios
executórios, porém se arrepende e evita que o resultado ocorra. Preenchendo
os requisitos da voluntariedade e do arrependimento eficaz evitando a
produção do resultado que antes era pretendido pelo agente vai responder
pelos atos ate então já praticados, art.15, 2° parte do Código Penal. Ocorre o
contrário caso em que o agente não consiga evitar o resultado e corre a
consumação estaremos de um arrependimento ineficaz onde o agente vai
responder pelo crime pretendido que se realizou.
Porém, com o advento da Lei Antiterror ocorre à existência de
controversas quanto a esses pontos conforme menciona Fernandes e Terra (
2017, p. 30) :
Os institutos pressupõem, para a respectiva caracterização, o início da execução, o que induz a um inadmissível paradoxo. Neste ponto, não exigir o inicio da execução para eventual reconhecimento da desistência voluntária o arrependimento eficaz implica, segundo autores, uma inovação legislativa de tentativa inacabada, sendo perfeitamente possível a aplicação dos dois institutos.
Na aplicação do Direito Penal tem como parâmetro aplicação desses
institutos como já mencionados, mas com a ocorrência da edição da Lei
Antiterror houve a existência de controvérsias em certos pontos, uma vez que
em seu art. 5° da Lei ocorreria a aplicação das disposições do art. 15° do
Código Penal. A realização da preparação constante no art. 5° da Lei já se
caracteriza, mas se o agente vier a desistir da praticado desse ato aplica-se o
57
instituto da desistência voluntária respondendo até então pelos atos praticados,
sendo essas características dos dois artigos quando aplicados.
No entanto, Busato (2018, p.119) menciona que:
Se o tipo do art. 5° consiste na prática de quaisquer atos preparatórios, surgem duas possibilidades: ou se interpreta literalmente o dispositivo e se exige delito, ou se entende, como parece ser o sentido do texto, que basta a pratica de um ato preparatório para configurá-lo.
Assim, seria necessário entender que para aplicação desses institutos
seria necessário à compreensão de como se caracterizaria esses atos
preparatórios, uma vez que quando tratamos de ações do indivíduo ela se da
de modo fragmentado, ou seja, dividir essa conduta em vários atos definindo-
os como crimes plurissubsistentes ou crimes unissubsistentes.
Essa classificação de crimes faz se necessariamente importante para
que possamos saber qual a intenção do legislador quando editou o referido
artigo, interpretando que ou se aplica o disposto em Lei exigindo de forma
literal obrigatoriamente a realização de mais de um ato preparatório entrando
para categoria de crime plurissubsistente, que ocorre a necessidade da prática
de mais de um ato para sua configuração, ou aplicaria o sentido que o texto,
trazendo para a sua realização a pratica de um ato preparatório para
configurar, entendo como um crime unissubsistente.
Na mesma linha de raciocínio, Silva (2017, p.203) entende que:
Há incongruência nesta previsão, pois o artigo 5° da Lei Antiterror trata de atos preparatórios de terrorismo, e, portanto, não haverá como incidir no instituto da desistência voluntária e o arrependimento eficaz, pois são institutos que pressuporiam inicio da execução. Esta previsão é de impossível implementação, pois a antecipação do direito penal é tão brusca neste caso do artigo 5° da Lei Antiterror que a simples prepararão arvora-se indevidamente ao papel de consumação.
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É clara a controvérsia que surgiu quando for ocorrer a aplicação dos
atos preparatórios nos institutos apresentados, uma vez que para que o agente
se consagre com os institutos da desistência voluntária e do arrependimento
eficaz antes de tudo necessitaria de um início da execução, que não é o que
ocorre no art. 5° da Lei já que esta mencionando punição de atos preparatórios,
onde não há que se falar em conduta externa, assim em sua aplicação prática
poderia se valer da ‘’ponte de ouro’’ mencionada pelos doutrinadores de forma
a se antecipar a sua aplicação.
Sendo assim, com a aplicação desses institutos, mostra-se inviável,
impossível a aplicação do instituto do arrependimento posterior aplicado pelo
Código Penal em seu art.16° aplicado apenas aos crimes que forem cometidos
sem violência ou grave ameaça, estabelecido durante a estrutura do crime o
arrependimento ocorre depois da consumação e antes do recebimento da
queixa de forma a mostrar sua ineficácia na Lei Antiterrorismo.
Todavia, Capez (2004, p.446) faz uma crítica ao conceito de
arrependimento posterior trazido no art. 16° do Código Penal, que:
Todo arrependimento é posterior, pois ninguém pode se arrepender antes de começar a fazer alguma coisa. A expressão é, portanto, redundante. Acaba sendo útil, todavia, porque realça a diferença entre este e o arrependimento eficaz, pois enfatiza que o primeiro só pode ocorrer posteriormente a consumação, enquanto o eficaz se manifesta sempre antes do resultado naturalístico.
O doutrinador considera desnecessário, excessivo, o termo
arrependimento posterior, pois não tem como alguém se arrepender antes de
praticar algum ato ilícito, contudo serviria de base para diferenciação do
instituto do arrependimento eficaz e o da desistência voluntária. O ato de se
arrepender posteriormente far-se-á de forma voluntária que é diferente de
espontaneidade, a ideia não precisa sair da cabeça do agente, podendo este
59
ouvir um conselho de um amigo, parente ou mesmo da própria vítima e
deixando de prosseguir com a ação de forma voluntária.
A partir desse momento mesmo que sua desistência se deu de fato pela
redução da pena o arrependimento será aplicado, porém, o juiz analisando que
o arrependimento se deu por isso pode levar se em conta na hora de aplicar a
pena, utilizando também os critérios de que quanto mais próximo da
consumação for a restituição ou reparação do dano, na sua forma total maior
será a diminuição da pena, e quanto mais próxima do recebimento for, menor
será sua diminuição.
No entanto, entende-se, portanto que para aplicar a causa de aumento
de diminuição de pena do art.16° do Código Penal é preciso que o crime seja
de natureza patrimonial e seus efeitos sejam patrimoniais. No qual não caberia
nos crimes de terrorismos, de modo que a vida é como um dos fundamentos de
direitos e garantias mais importantes guardados pela Constituição Federal em
seu art. 5° caput mostrando- se de forma importante que ‘’ garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade’’. Visto isso, é que
se traz a impossibilidade de aplicação de uma composição civil entre autor do
fato e a família daquela vítima, já que a vida da vítima não mais pode ser
restituída, consertada.
4.4 Da possibilidade de antecipação da punição como uma das teorias
adotadas no Direito Penal do Inimigo
O Direito Penal do Inimigo consiste em uma teoria adota pelo então
penalista Günther Jakobs, trazendo possibilidades de o Estado classificar os
cidadãos, e os não cidadãos vistos esses como inimigos da sociedade em
decorrência de condutas de maior gravidade e afeto entre as mesmas. De
forma que, quando se tratar do cidadão como forma de indivíduo da sociedade
pelo qual esta sujeito as normas pertinentes pelos quais se impõem ao Estado
Jakobs; Meliá ( 2007, p.37) traz ‘’o tratamento com o cidadão, esperando até
que se exteriorize sua conduta para reagir, com o fim de confirmar a estrutura
60
normativa da sociedade’’. Mostrando se, portanto que um indivíduo
denominado como cidadão pode até praticar ilícitos contrários ao que consta
no ordenamento, porém para que o Estado posso o punir o agente precisa ter
começado a realização do tipo penal.
Assim, Azevedo (2017, p.42) esclarece que:
A ideia central que parece unir medidas penais autoritárias distantes no tempo e no espaço consiste numa percepção voltada para a inocuização do sujeito desviado, isolando-o e neutralizando-o. trata-se de um pensamento que enxerga o delinquente como um cidadão de segunda classe, ou, melhor dizendo, que o coloca numa categoria de não cidadão, de inimigo, e , a partir desse isolamento, a imposição de um rigor penal desmedido adquire a aparência de legitimo.
Observa que, a principal necessidade da teoria adotada pelo Alemão, é
uma forma de não só o classificar de modo diferente quando comparado com
aos demais indivíduos, mas sim o retirar do convívio social aquele indivíduo
que pode fazer um mal de grande proporção na sociedade. É de se observar
que aquele indivíduo que de certo modo se nega a viver o modelo social ao
qual o Estado proporciona e estabelece, infringindo tal imposição e indo de
modo contrário as regras estabelecidas, não podendo estar presentes no
conjunto social, uma vez que retirou o seu modo de paz passando a ser
considerado o inimigo da sociedade.
Deste modo, Martinelli (2017) traz os elementos que dão embase a
teoria criada pelo penalista alemão, sendo:
a) amplo adiantamento da punibilidade: a perspectiva do ordenamento jurídico-penal é prospectiva, e não retrospectiva. b)penas previstas desproporcionalmente altas: não há um patamar a ser seguido para a pena em abstrato. Tem-se que a pena elevada é instrumento para antecipar o fato delituoso. c) garantias processuais suprimidas: Algumas garantias constitucionais são relativizadas ou mesmo cerceadas do inimigo, pois estas só podem ser plenas aos cidadãos.
61
Os atos preparatórios como um dos elementos do Direito Penal do
Inimigo é por vezes entendido não só para essa teoria, como vimos a sua
possibilidade na edição da Lei Antiterror, estabelecendo condutas que podem
vir a ocorrer, podendo ser camada de uma conduta futura, ocorrendo um
adiantamento na punição do Estado àquele que passa a ser chamado de
inimigo. As penas não respondem ao princípio da proporcionalidade não tendo
a ocorrência de uma pena em abstrato para se chegar a uma aplicação penal,
e sua limitação as garantias constitucionais que são titularidades somente aos
considerados cidadãos.
O doutrinador Habib (2017, p.114) menciona o inimigo como:
O inimigo não e qualquer individuo que venha a delinquir. O inimigo é o indivíduo que pratica um delito e afasta-se do Direito de maneira duradoura, defraudando uma expectativa normativa de forma não transitória e sem proporcionar garantias cognitivas suficientes de um futuro comportamento pessoal adequado ao Direito. Por essas razões, o inimigo constitui uma verdadeira fonte de perigo para o Estado e, por isso, deve ser neutralizado.
Tal distinção de o quem seria o inimigo, e o cidadão seria necessário,
uma vez que o Direito penal do cidadão que é voltado ao individuo que de certa
forma desviou sua conduta e que de fato cometeu algum crime, não perdendo
seu status de cidadão, ocorrendo uma coação por parte do Estado, que de
alguma forma infringiu as ordens estabelecidas pelo ordenamento aplicando a
sanção possível, mas depois de cumprida voltará ao seu status de cidadão.
Como mencionado o inimigo trazido por Jakobs é o inimigo do Estado, uma vez
que esse individuo traz um risco de grande proporção e um estado de
vulnerabilidade das pessoas e até mesmo do Estado, ocorrendo portando uma
violação não só ao principio da legalidade bem como o também da igualdade
uma vez distingue os cidadãos dos inimigos.
No entanto, existem condutas no ordenamento jurídico com
características de um Direito penal do inimigo, trazendo o doutrinador Matos (
2009) a ideia de que:
62
Aqui no Brasil, O Regime Disciplinar Diferenciado é um reflexo significativo do Direito Penal do Inimigo, sendo considerado pela grande maioria inconstitucional. Com o advento da lei nº. 10.792/2003, que alterou a Lei de Execuções Penais e inseriu entre nós o Regime Disciplinar Diferenciado, e trouxe a possibilidade de “abrigar o preso, provisório ou condenado, sob o qual recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou participação, a qualquer título, em organizações criminosas, quadrilha ou bando”.O §1º do art. 52 desta lei, também caracteriza quase expressamente traços da Teoria do Direito Penal do Inimigo: in verbis: “(...) O regime disciplinar diferenciado também poderá abrigar presos provisórios ou condenados, nacionais ou estrangeiros, que apresentem alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal ou da sociedade“.
Mostrando se a teoria do penalista alemão presente no Ordenamento
Jurídico Brasileiro quando mencionado sobre a possibilidade do agente ser
punido ainda na preparação da conduta, constando como um dos elementos de
suporte para tal teoria. Ocorre que, crimes constantes no dispositivo legal tem
característica de um Direito penal do inimigo. O Regime Disciplinar
Diferenciado no Brasil nada mais é que uma aplicação constante na Lei de
Execução Penal em ser art.52° sendo aplicado de modo diferenciado ao preso
que esta em cumprimento de pena em regime fechado, tendo aplicação nos
crimes dolosos dentro do estabelecimento prisional quando trazidos quando
ocorre uma perturbação e perigo ao convívio prisional e social.
A esse respeito observa Verônica (2014) que:
O que se observa com o Regime Disciplinar Diferenciado é o reconhecimento do apenado como ‘inimigo’ do Estado, onde este tem suspenso e restrito seus direitos, o que em um Estado Democrático de Direito não se pode permitir, uma vez que em se permitido tal fato estaríamos regredindo à idade das trevas, e o apenado relegado a status de ‘coisa’.
É de tal modo mostrado que o Regime Disciplinar Diferenciado é uma
das hipóteses em que o Direito penal do inimigo se torna visível, e de forma
que sua inconstitucionalidade junto com o Direito penal do inimigo é de forma
63
clara uma vez que os direitos e garantias constitucionais necessários ao ser
humano se veem limitados, em razão de ter um status de não cidadão. Assim,
tem se mostrado que uma das possíveis aplicações do Direito penal do inimigo
no na legislação brasileira é considerada uma contramão ao que se intitula
como um Estado Democrático de Direito, pois viola tanto aspectos materiais
quanto processuais e a dignidade da pessoa humana.
De forma que, Piccolotto (2014) mostra que:
Nota-se, de plano, que a personalidade, a conduta social e os antecedentes não têm qualquer ligação com o fato delituoso apurado, mas apenas com a pessoa do réu, e valorá-las na aplicação da pena é punir o agente pelo que ele é e não pelo fato praticado; pune-se o ser e não o fazer, na mais abominável concepção de direito penal autoritário, cuja característica principal consiste na perseguição e punição daqueles que ‘ameaçam’ o grupo que detém o poder político.
Estabelecendo entre o direito penal do fato e direito penal do autor,
tendo como diferença que de um lado você tem uma punição do agente pelo o
que de fato ele cometeu, onde a Lei traz aquilo que ela proíbe não sendo
respeitada pelo indivíduo, razão essa da pena ser aplicada, e por outro lado
não existe essa relação entre o direito penal do fato, uma vez que no direito
penal do autor o que se leva em conta no momento da sanção um juízo de
valoração na pessoa do condenado, julgando-o de acordo com a sua
personalidade ou até mesmo padrões genéticos a que venha adquirir.
Trazendo com o referido dispositivo a aplicação envolvendo a estrutura
da materialização ou exteriorização do direito penal do fato e direito penal do
autor ocorrendo à possibilidade de aplicação desse artigo uma exceção a regra
quando punido uma vez que aqui se leva em conta não o fato criminoso, seja
pela realização ou omissão de uma conduta descrita no tipo penal realizado
pelo agente, que de regra é acolhido pela legislação brasileira, mas sim o grau
de perigo que aquele agente possui, diferenciando entre os de maior ou menor
periculosidade.
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5. CONCLUSÃO
A realização do presente trabalho possibilitou a compreensão de como a
Lei Antiterror classifica os atos caracterizados como de terror, no qual para sua
caracterização faz se necessário requisitos que a própria Lei estabelece, como
condição para a sua aplicação e eventual punição.
Mostrando sua tamanha importância de punição, necessário uma
punição rigorosa para as condutas tipificadas na Lei, enquadradas no topo da
pirâmide criminal e denominadas como hediondas em que tão grande sua
maldade demonstrando a necessidade de uma punição adequada e
diferenciada àqueles que são considerados os ‘’crimes comuns’’.
Foi necessária a compreensão logo em seu capítulo primeiro, mostrando
que as condutas descritas na Lei são passíveis de dupla interpretação,
ambígua, de modo que mesmo depois de sua vigência, a incidência de
aplicações injustas no momento da sanção será de forma grande.
O entendimento do iter criminis se fez necessário para identificar e
comparar quando a legislação penal adota a regra de não punição quando
depararmos com os atos de preparação do delito, não trazendo sua punição, e
por outro lado a Lei Antiterror que traz sua exceção possibilitando tal aplicação,
contudo pode se verificar que ao passo que a nova legislação traz aplicação de
punição dos atos preparatórios estaria ocorrendo uma violação ao princípio da
ofensividade, uma vez que ao preparar os mecanismos para realização o
agente ainda não violou o bem jurídico protegido pelo Estado.
Assim, a única possibilidade de punição seria quando estivéssemos
diante de um crime de perigo concreto para que assim estivesse respeitando o
princípio da ofensividade, no qual a conduta praticada pelo agente estaria
lesionando o bem jurídico e que a lesão teria um real dano, e não apenas um
perigo de dano
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Logo em seu capitulo quarto, houve a necessidade de discussão a cerca
da alteração em seu plano material, uma vez que quando dada a conduta ao
agente que realizou os atos de preparação do terrorismo, o verbo da conduta
de realizar o delito tem se mostrado como de vaga identificação, não sendo
passível de apontar a conduta com relação ao objeto que se lesionou.
Porém, observou-se que no mesmo capítulo ao mencionar a
necessidade de alteração em seu plano material, foi demonstrado uma violação
ao processo penal, quando deparamos com os institutos da tentativa entre a
execução e a consumação de forma que feriu o princípio da proporcionalidade,
quando aplicado penas aos que são considerados meros atos preparatórios,
ocorre uma violação ao quando aplicar as penas dos atos preparatórios uma
vez que a aplicação da redução da pena seria maior a um crime que já se deu
por tentando e uma redução de pena menor daquele que só está preparando.
A referida Lei já se encontra em vigência e de aplicação imediata como
qualquer outro dispositivo existente no ordenamento jurídico brasileiro, contudo
tamanha sua inconstitucionalidade quando uma das hipóteses levantadas seria
a aplicação do Direito Penal Do Inimigo na legislação, uma vez que embora
sua estrutura seja levada a punição dos atos preparatórios tal medida se torna
impossível, já que o individuo passaria a ser chamado de cidadão perderia não
só as garantias de um processo adequado como seus direitos se tornariam
banalizados.
De nada adiantaria uma aplicação diferenciada ao que o ordenamento
brasileiro traz, se violasse seus princípios norteadores a que a legislação se
sustenta, mostrando confronto entre dispositivos e princípios, e a
demonstrando que uma das possíveis possibilidades de aplicação da tutela
como a teoria adotada por Jakobs é de forma impossível em um Estado
Democrático de Direito, na qual o indivíduo seria considerado inimigo e não um
cidadão com direitos e garantias, ferindo o princípio basilar de um Estado
Democrático de Direito que é consequentemente a dignidade da pessoa
humana.
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