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Carlos Paulino | Menongue Cuito Cuanavale entrou para a História. Há 31 anos, no dia 23 de Março, travava-se, naquela localidade a derra- deira batalha que derrubou o poderoso Exército sul-afri- cano e precipitou a queda do regime do apartheid, na África do Sul. O tempo passou, mas a imagem do local ainda ajuda a reconstituir aquela que é hoje considerada a batalha para a libertação dos países da África Austral. Além do memorial construído em honra dos heróis, os sinais da batalha podem ser obser- vados no museu a céu aberto onde se encontram expostas as armas de diversos calibres usadas pelas extintas FAPLA, incluindo aviões de combate, os três tanques do tipo Oli- phante e Ceunturion captu- rados ao exército Sul-africano, o Aeroporto 23 de Março, a ponte sobre o rio Cuíto, o Bairro Samaria e o Triângulo do Tumpo que constituem os principais atractivos do cenário de guerra. Para transformar o Cuito Cuanavale numa verdadeira cidade da África Austral, estão previstos vários pro- jectos sociais. Novas áreas habitacionais, escolas, hos- pitais, parque temático, zonas de lazer, jardins ecológicos, parques florestais, entre outros, vão, no futuro, servir de atracção turística. A última batalha O avanço das tropas do Samaria até o rio Tcham- binga, a 30 quilómetros da sede municipal do Cuíto Cua- navale, processa-se em pou- cas horas e as primeiras unidades avançadas da UNITA entram em desespero. Sofrem pesadas baixas e o material bélico é capturado. A aviação sul-africana entra em cena, para impedir o avanço das forças gover- namentais. Com voos rasan- tes, procuram encetar golpes demolidores às posições das FAPLA. Mas a resposta é a altura. Face ao poder de fogo das ZU-23 instaladas em pontos chaves, a aviação ini- miga é forçada a subir de altitude. E ficam a mercê dos OSAKA e dos C-10. De Junho a Outubro, a defesa anti-aérea das FAPLA já tinha derrubado 32 aero- naves do tipo Impala MK2, Mirage III e um grande número de aviões não tri- pulados (dronnes). O Comando Superior do regime do apartheid fica abalado com a superioridade das FAPLA. A derrota sul- africana custa o cargo do responsável pela Força Aérea. Até às margens do rio Lomba, a escassos 21 quiló- metros da sede municipal de Mavinga, as FAPLA cau- sam grandes prejuízos à UNITA e ao Exército do regime do apartheid. Estes enviam, para o teatro das operações combativas, o todo-poderoso Batalhão Búfalo 32. Equipado com tecnologia de última geração, o batalhão encontrava-se estacionado na localidade do Rundu, na Namíbia. A situação complica-se. Num curto espaço de tempo, a 47ª brigada de desembarque e assalto, que detinha a maior parte do arsenal das FAPLA, é atacada e desalojada da nascente do rio Lomba, para onde tinha sido destacada para garantir a segurança das outras brigadas, durante a travessia do rio Lomba. Face ao novo cenário, as FAPLA abrandam a ofensiva. Há um atraso no reabaste- cimento das tropas. De modo organizado, estas começam a retroceder até ao redor da vila do Cuíto Cuanavale, num percurso de mais de 160 quilómetros, onde se travam verdadeiras batalhas campais. As FAPLA defendem como podem. É preciso racionalizar os meios, para evitar danos maiores. O comandante do primeiro agrupamento, o tenente- coronel Ngueto, conhecedor da situação, conduz o efectivo até perto da vila do Cuito Cuanavale, onde no dia 23 de Março se dá a batalha final. O assalto à Jamba O material chegava ao Cuando Cubango através do Aeroporto Comandante “Kwenha”, na cidade de Menongue. São aeronaves do tipo IL-76, ANTOV-12, 32 e 26, transportando tan- ques do tipo BMP-1 e 2, T- 55, lança foguetes anti-aéreos OSAKA e C-10, víveres e os lança foguetes múltiplos BM- 21, para a mega operação. Uma placa fixada no local lembra: “Cuando Cubango, só há entrada, não há saída”. Mas nem mesmo estas expres- sões fantasmagóricas abalam a determinação da tropa, no cumprimento da missão de defender a Independência Nacional, os órgãos de sobe- rania e a população indefesa. Em curto tempo, cria- se o primeiro agrupamento de tropas chefiada pelo tenente-coronel Ngueto, integrada pela 16ª e 21ª Bri- gada e pelo 1º Grupo táctico, e a segunda, chefiada pelo major Tobias Domingos e integrada pela 47ª e 59ª bri- gada e pelo segundo Grupo Táctico. Outras unidades, designadamente a 25ª brigada a 8ª, a 66ª e a 13ª, tinham como missão manter o cor- dão defensivo da vila do Cuito Cuanavale e garantir o rea- bastecimento das tropas em progressão para a Jamba e a circulação de pessoas e bens, ao longo do troço rodoviário entre Cuito Cuanavale e a cidade de Menongue. As operações aéreas esta- vam a cargo da 52ª Brigada de foguetes OSAKA e da 24ª Brigada de foguetes Petchora. A 68ª brigada era detentora de canhões de artilharia de médio alcance, onde se des- tacavam os canhões de 130 milímetros e D-30, bem como os conhecidos lança foguetes múltiplos, BM-21, de 40 canos. Duas semanas depois, a localidade de Cambumbe e Cuatir, periferia de Menon- gue, estava apinhada de tro- pas e técnica militar. Os comandantes de Brigada e de Batalhão recebem as últi- mas orientações do Coman- dante-em-chefe das FAPLA. Estes dizem-se prontos para o confronto para tomar de assalto a Jamba. De Menongue ao Cuito Cuanavale Fazendo jus à ambição des- medida segundo a qual “Menongue, ponto de partida e Luanda, ponto de chegada”, Jonas Savimbi, entrinchei- rado nas matas da Jamba, faz um pomposo discurso, atribuindo a proeza aos seus guerrilheiros. Manda até publicar uma revista ilus- trando os actos terroristas. Uma coluna de veículos de civis, transportando vários derivados de petróleo é bom- bardeada pela aviação sul- africana, provocando a morte dos seus ocupantes e a des- truição de 25 camiões cisternas de gasolina, gasóleo, GET-A1, entre outros lubrificantes que tinham como destino a vila do Cuito Cuanavale, para suportar a operação. Até à sede do Cuito Cua- navale, as forças governa- mentais marcharam sem constrangimentos para pequena povoação de Sama- ria, apesar de pequenas bol- sas da UNITA espalhadas em toda a extensão dos 188 quilómetros que o separa de Menongue. Estava em marcha a operação “Sau- demos Outubro”. O comandante da 6ª Região Militar na altura, o coronel Francisco Deolindo da Rosa “Facho”, desloca- se ao bairro Samaria, onde está o grosso do efectivo das FAPLA. O objectivo é transmitir as últimas orien- tações do Comandante- em-chefe, José Eduardo dos Santos. De regresso, um atentado fracassado. A ponte sobre o rio Cuito é parcialmente destruída. A acção, protagonizada por dois “homens anfíbios” do Exército sul-africano, tinha como missão retardar a travessia das tropas ango- lanas e da técnica militar que seria usada no assalto à Jamba, passando por Mavinga. Os atacantes viriam a ser mortos um dia depois, por caçadores, e os equipamentos capturados. 4 ESPECIAL Sábado 23 de Março de 2019 De Junho a Outubro, a defesa anti-aérea das FAPLA já tinha derrubado perto de 32 aeronaves do tipo Impala MK2, Mirage III e um grande número de aviões não tripulados (dronnes). O Comando Superior do regime do apartheid fica abalado com a superioridade das FAPLA. A derrota custa o cargo do responsável pela força aérea CHEFES DE ESTADO AFRICANOS ASSISTEM ÀS CELEBRAÇÕES DO 23 DE MARÇO CARLOS PAULINO | EDIÇÕES NOVEMBRO A Batalha que libertou a região e precipitou a queda do apartheid

CHEFES DE ESTADO AFRICANOS ASSISTEM ÀS CELEBRAÇÕES DO 23 DE …imgs.sapo.pt/jornaldeangola/img/935162320_cuito... · 2019. 3. 23. · tanques de guerra M41, 70 blindados, 200 veículos

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Page 1: CHEFES DE ESTADO AFRICANOS ASSISTEM ÀS CELEBRAÇÕES DO 23 DE …imgs.sapo.pt/jornaldeangola/img/935162320_cuito... · 2019. 3. 23. · tanques de guerra M41, 70 blindados, 200 veículos

Carlos Paulino | Menongue

Cuito Cuanavale entrou paraa História. Há 31 anos, nodia 23 de Março, travava-se,naquela localidade a derra-deira batalha que derrubouo poderoso Exército sul-afri-cano e precipitou a quedado regime do apartheid, naÁfrica do Sul.

O tempo passou, mas aimagem do local ainda ajudaa reconstituir aquela que éhoje considerada a batalhapara a libertação dos paísesda África Austral. Além domemorial construído emhonra dos heróis, os sinaisda batalha podem ser obser-vados no museu a céu abertoonde se encontram expostasas armas de diversos calibresusadas pelas extintas FAPLA,incluindo aviões de combate,os três tanques do tipo Oli-phante e Ceunturion captu-rados ao exército Sul-africano,o Aeroporto 23 de Março, aponte sobre o rio Cuíto, oBairro Samaria e o Triângulodo Tumpo que constituemos principais atractivos docenário de guerra.

Para transformar o CuitoCuanavale numa verdadeiracidade da África Austral,estão previstos vários pro-jectos sociais. Novas áreashabitacionais, escolas, hos-pitais, parque temático, zonasde lazer, jardins ecológicos,parques florestais, entreoutros, vão, no futuro, servirde atracção turística.

A última batalhaO avanço das tropas doSamaria até o rio Tcham-binga, a 30 quilómetros dasede municipal do Cuíto Cua-navale, processa-se em pou-cas horas e as primeirasunidades avançadas daUNITA entram em desespero.Sofrem pesadas baixas e omaterial bélico é capturado.

A aviação sul-africanaentra em cena, para impediro avanço das forças gover-namentais. Com voos rasan-tes, procuram encetar golpesdemolidores às posições dasFAPLA. Mas a resposta é aaltura. Face ao poder de fogodas ZU-23 instaladas empontos chaves, a aviação ini-miga é forçada a subir dealtitude. E ficam a mercê dosOSAKA e dos C-10.

De Junho a Outubro, adefesa anti-aérea das FAPLAjá tinha derrubado 32 aero-naves do tipo Impala MK2,Mirage I I I e um grandenúmero de aviões não tri-pulados (dronnes).

O Comando Superior doregime do apartheid ficaabalado com a superioridadedas FAPLA. A derrota sul-africana custa o cargo doresponsável pela Força Aérea.

Até às margens do rioLomba, a escassos 21 quiló-metros da sede municipalde Mavinga, as FAPLA cau-sam grandes prejuízos àUNITA e ao Exército doregime do apartheid. Estesenviam, para o teatro dasoperações combativas, otodo-poderoso BatalhãoBúfalo 32. Equipado comtecnologia de última geração,o batalhão encontrava-seestacionado na localidadedo Rundu, na Namíbia. Asituação complica-se. Numcurto espaço de tempo, a 47ª

brigada de desembarque eassalto, que detinha a maiorparte do arsenal das FAPLA,é atacada e desalojada danascente do rio Lomba, paraonde tinha sido destacadapara garantir a segurançadas outras brigadas, durantea travessia do rio Lomba.

Face ao novo cenário, asFAPLA abrandam a ofensiva.Há um atraso no reabaste-cimento das tropas. Demodo organizado, estascomeçam a retroceder atéao redor da vila do CuítoCuanavale, num percursode mais de 160 quilómetros,onde se travam verdadeirasbatalhas campais.

As FAPLA defendemcomo podem. É precisoracionalizar os meios, para

evitar danos maiores. Ocomandante do primeiroagrupamento, o tenente-coronel Ngueto, conhecedorda situação, conduz o efectivoaté perto da vila do CuitoCuanavale, onde no dia 23de Março se dá a batalha final.

O assalto à JambaO mater ia l chegava aoCuando Cubango através doAeroporto Comandante“Kwenha”, na cidade deMenongue. São aeronavesdo tipo IL-76, ANTOV-12,32 e 26, transportando tan-

ques do tipo BMP-1 e 2, T-55, lança foguetes anti-aéreosOSAKA e C-10, víveres e oslança foguetes múltiplos BM-21, para a mega operação.

Uma placa fixada no locallembra: “Cuando Cubango,só há entrada, não há saída”.Mas nem mesmo estas expres-sões fantasmagóricas abalama determinação da tropa, nocumprimento da missão dedefender a IndependênciaNacional, os órgãos de sobe-rania e a população indefesa.

Em curto tempo, cria-se o primeiro agrupamentode tropas chefiada pelotenente-coronel Ngueto,integrada pela 16ª e 21ª Bri-gada e pelo 1º Grupo táctico,e a segunda, chefiada pelomajor Tobias Domingos e

integrada pela 47ª e 59ª bri-gada e pelo segundo GrupoTáctico. Outras unidades,designadamente a 25ª brigadaa 8ª, a 66ª e a 13ª, tinhamcomo missão manter o cor-dão defensivo da vila do CuitoCuanavale e garantir o rea-bastecimento das tropas emprogressão para a Jamba e acirculação de pessoas e bens,ao longo do troço rodoviárioentre Cuito Cuanavale e acidade de Menongue.

As operações aéreas esta-vam a cargo da 52ª Brigadade foguetes OSAKA e da 24ªBrigada de foguetes Petchora.A 68ª brigada era detentorade canhões de artilharia demédio alcance, onde se des-tacavam os canhões de 130milímetros e D-30, bem comoos conhecidos lança foguetesmúltiplos, BM-21, de 40 canos.

Duas semanas depois, alocalidade de Cambumbe eCuatir, periferia de Menon-gue, estava apinhada de tro-pas e técnica militar. Oscomandantes de Brigada ede Batalhão recebem as últi-mas orientações do Coman-dante-em-chefe das FAPLA.Estes dizem-se prontos parao confronto para tomar deassalto a Jamba.

De Menongue ao Cuito CuanavaleFazendo jus à ambição des-medida segundo a qual“Menongue, ponto de partidae Luanda, ponto de chegada”,Jonas Savimbi, entrinchei-rado nas matas da Jamba,faz um pomposo discurso,atribuindo a proeza aos seusguerrilheiros. Manda atépublicar uma revista ilus-trando os actos terroristas.

Uma coluna de veículosde civis, transportando váriosderivados de petróleo é bom-bardeada pela aviação sul-africana, provocando a mortedos seus ocupantes e a des-truição de 25 camiões cisternasde gasolina, gasóleo, GET-A1,entre outros lubrificantes quetinham como destino a vilado Cuito Cuanavale, parasuportar a operação.

Até à sede do Cuito Cua-navale, as forças governa-mentais marcharam semconstrangimentos parapequena povoação de Sama-ria, apesar de pequenas bol-sas da UNITA espalhadasem toda a extensão dos 188quilómetros que o separade Menongue. Estava emmarcha a operação “Sau-demos Outubro”.

O comandante da 6 ªRegião Militar na altura, ocoronel Francisco Deolindoda Rosa “Facho”, desloca-se ao bairro Samaria, ondeestá o grosso do efectivodas FAPLA. O objectivo étransmitir as últimas orien-tações do Comandante-em-chefe, José Eduardodos Santos. De regresso,um atentado fracassado.A ponte sobre o rio Cuitoé parcialmente destruída.A acção, protagonizada pordois “homens anfíbios” doExército sul-africano, tinhacomo missão retardar atravessia das tropas ango-lanas e da técnica militarque seria usada no assaltoà Jamba, passando porMavinga . Os atacantesviriam a ser mortos um diadepois, por caçadores, e osequipamentos capturados.

4 ESPECIAL Sábado23 de Março de 2019

De Junho a Outubro,a defesa anti-aérea

das FAPLA já tinha derrubado perto de 32 aeronaves do tipo Impala MK2, Mirage III e um grande número de aviões não tripulados

(dronnes). O Comando Superior do regime do apartheid fica abalado com a superioridade das FAPLA.

A derrota custa o cargo do responsável pela força aérea

CHEFES DE ESTADO AFRICANOS ASSISTEM ÀS CELEBRAÇÕES DO 23 DE MARÇO

CARLOS PAULINO | EDIÇÕES NOVEMBRO

A Batalha que libertoua região e precipitoua queda do apartheid

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Superioridade sul-africanaPara ajudar a compreendermelhor o espírito heróicodas FAPLA, Pedro Cameloavança alguns dados: oExército sul-africano tinha11 mil homens, devida-mente preparados, comrealce para os ComandosBúfalo. Tinham ainda 36tanques de guerra M41, 70blindados, 200 veículospara o transporte das tro-pa s , a r t i l ha r i a s comcanhões G-5 e G-6 de 155milímetros, mísseis terra-a-terra de 127 milímetros,90 helicópteros e aviõesconvencionais de combate.Depois, recebeu um reforçode 23 batalhões semi-regu-lares e 18 regulares, entreos comandos das extintasForças Armadas de Liber-tação de Angola (FALA),braço armado da UNITA.Além desta superiori-

dade em termo de arma-mentos, os sul-africanostinham, também, a seufavor, um centro de cor-recção de fogo, equipadocom tecnologia de ponta,a partir do qual podiammonitorizar facilmente,com ajuda de um satélite,a movimentação da popu-lação e das FAPLA. Mas todo o arsenal foi

pouco para travar a grandebravura das FAPLA, quesuplantaram a infantariasul-africana, mais fracaem relação a das FAPLA.Para piorar, os aviões, onderesidia a supremacia mili-tar sul-africana, começa-ram a s e r , t ambém ,abatidos pela Força AéreaNacional.“Nem mesmo a Força

Aérea da África do Sul,cotada como das melhoresdo mundo, naquela altura,e com as armas sofisticadasda época, conseguiram der-rotar as FAPLA, que defen-deram com unhas e denteso território angolano, sob

a l i de rança do en tãoComandante-em-chefedas FAPLA e Presidente daRepública, José Eduardodos Santos”, disse PedroCamelo.O oficial superior lem-

bra que os soldados sul-africanos, que fugiram emdebandada no dia 23 deMarço, escreveram nasparedes das casas ondepernoitaram, na Namíbia,que haviam fugido doinferno. “Hoje podemosafirmar, categoricamente,que o Cuito Cuanavale foia nossa universidade deguerra, porque para ven-cermos o inimigo muitosuperior a nós, tivemos deusar tácticas militares quesó se aprendem nas gran-des universidades inter-nacionais”, enfatizou.Cuito Cuanavale abriu

o caminho para a libertaçãoda Namíbia, a abolição doregime segregacionista naÁfrica do Sul, a libertaçãode Nelson Mandela, o con-tinente africano entrou noponto de não retorno e omundo ficou livre de umregime que foi o maished i ondo c r ime quealguma vez foi cometidocontra a humanidade.Para Pedro Camelo, falar

do papel e lugar históricoda Batalha do Cuito Cua-navale, implica, necessa-

riamente, “recuar noespaço e no tempo”. Lem-bra que é, também, resul-tado da de f in ição doPresidente António Agos-tinho Neto, de que, umdos deveres indeclináveis,de solidariedade e deinternacionalismo, era deAngola lutar para a inde-pendência da Namíbia eo fim do apartheid naÁfrica do Sul”. “Isto sus-tenta as palavras do sau-do s o p re s i d en t e d aRepública, António Agos-tinho Neto, de que no Zim-babwe, na Namíbia e naÁfrica do Sul estava a con-tinuação da nossa luta”,disse.

Solidariedade cubanaÀ conquista da Batalha doCuito Cuanavale tambémcontribuíram as tropascubanas que surgiram emauxílio às FAPLA. Chega-ram ao teatro de guerra emJaneiro de 1988, inicial-mente com 121 homens.Nas semanas seguintes, onúmero ultrapassou os mil.No combate, 32 cubanosperderam a vida ao longodo mês de Fevereiro de1988, além de vários feridosgraves. Enquadradas numgrupo táctico composto porunidades de infantaria detanques e artilharias, partedas forças cubanas parti-ciparam até final de Feve-reiro em acções a Este dorio Cuito, nomeadamenteno memorável combate detanques, no Chambinga,no dia 15 do mesmo mês,entre a 21ª e 59ª Brigadadas FAPLA e o Exército sul-africano. Foi um dos com-bates mais violentos aolongo da Batalha do CuitoCuanavale. No combate,as FAPLA perderam 17 tan-ques e 18 veículos, alémde muitos efectivos. Dossete tanques cubanos, ape-nas um regressou à base.

Os outros foram todos des-truídos. “Os cubanos tive-ram uma prestação fora docomum, uma vez quesacrificaram a sua vida emprol da defesa e integridadeterritorial de Angola e con-seguiram dar uma mais-valia as FAPLA para aconquista da batalha”, dissee destaca que, quando seabordar a Batalha do CuitoCuanavale, não se deveesquecer o importantepapel desempenhado pelastropas cubanas em dife-rentes fases de combatese operações.

Universidade de guerra Pedro Camelo foi o chefeda esfera ideológica doDepartamento de orga-nização partidária daDirecção Política da 6ªRegião Militar. Conhececomo poucos o que se pas-sou no Cuito Cuanavale,desde 15 de Novembro de1987 a 23 de Março de1988, no dia da libertação.Por isso, é presença habi-tual em palestras. Para o oficial superior,

a Batalha do Cuito Cuana-vale, que resultou da Ope-ra ção “ S audemosOutubro”, foi uma verda-deira universidade deguerra para as FAPLA,tendo em conta as tácticasusadas para derrotar oExército sul-africano,detentores de armamentosofisticado, incluindoaviões teleguiados carre-gados com bombas inte-ligentes. Desta vez , aplateia é integrada porestudantes universitáriosdo Inst ituto SuperiorPolitécnico Privado deMenongue (ISPPM). PedroCamelo fala da maior ope-ração real izada pelasFAPLA, que acabou coma invencibilidade das tropassul-africanas e a queda doregime do apartheid.

Sábado23 de Março de 2019 5ESPECIAL

Construída numa área de 3,5campos de futebol, o Memorialà vitória da Batalha do CuitoCuanavale serve, hoje, paraeternizar a grandeza e o sacri-fício dos milhares de angolanosque lutaram contra as tropasdo regime do apartheid.

Além da importante obraarquitectónica e exaltação dosvalores patrióticos, a constru-ção assentou, fundamental-mente , na d ivu lgação daverdadeira História para asnovas e futuras gerações.

A imponente estruturaagrupa-se entre outro ele-mento: um conjunto de escul-tórico na praça memorial,designadamente o Monumentodos soldados, Bandeira daRepública, Grupo escultóricoe a Parede dos Heróis.

Logo à entrada do municí-pio, salta à vista o Monumentoda Bandeira, postada num edi-fício com 55 metros de alturae mil metros quadrados deárea útil, revestido de pedrasgraníticas e elementos embronze caracterizada por umaarma do tipo AKM, que, a partirda alça de mira, o visitantepode observar com nitidez oTriângulo do Tumpo, últimoreduto onde se desenrolaramencarniçados combates.

O edifício, equivalente aum prédio de 18 andares, alémda arma envolvida pela ban-deira com o miradouro apon-tado ao triângulo do Tumpo,conta também com o Monu-mento do Soldado, retratadopor uma escultura em bronze,no qual dois militares dasFAPLA, numa estátua de 21,5metros de altura e 110 tone-ladas de peso, erguem bemalto o Mapa de Angola. Sim-boliza a defesa da integridadeterritorial do país.

No conjunto escultório, feitotambém de b ronze , numespaço de 50 metros de com-primento, estão igualmentegravados os três momentossequenciais da Batalha doCuito Cuanavale: concentraçãodas unidades militares dasFAPLA, caminhada rumo à vitó-ria e as unidades em defesada vila, fracassada a tentativa

de ocupação de Mavinga eJamba, que eram os principaisalvos, na operação “SaudemosOutubro”, das FAPLA.

A denominada Parede dosHeróis ocupa uma faixa de 75metros de comprimento. Asesculturas em bronze, ali pos-tadas, simbolizam quatromomentos principais: home-nagem aos militares das FAPLA,educação patriótica, guerra,destruição, o sofrimento dopovo do Cuito Cuanavale, afirmeza e a determinação dosangolanos na vitória.

Adjacente ao memorial estáo Museu a céu aberto, onde seencontra exposto todo o mate-rial bélico usado pelas FAPLAdurante os combates, comrealce para os tanques de guerraBMP-1 e 2, peças de artilhariade 130, D-30 e 76 milímetrosaviões de combate Mig-23 e 21,peças antiaérea ZU-23, metra-lhadoras do tipo PKM entreoutro tipo de equipamentosmilitar usado durante a ofensivadas tropas governamentais.

No recinto foi ainda cons-truído uma sala de conferên-cias, para 600 pessoas, umabiblioteca, dois blocos reser-vados ao lazer e 25 casas pro-tocolares do tipo T-3, paraacomodação de turistas. O visi-tante pode, ainda, desfrutardas paisagens naturais que ilus-tram, com realidade, o cenáriodaquele combate, consideradodos maiores após a SegundaGuerra Mundial.

Um Memorial à vitóriaCARLOS PAULINO | EDIÇÕES NOVEMBRO

CARLOS PAULINO | EDIÇÕES NOVEMBRO

CARLOS PAULINO | EDIÇÕES NOVEMBRO

A imponenteestrutura

agrupa-se entreoutro elemento:

um conjunto escultórico

na praça memorial,designadamente

o Monumento dos soldados,Bandeira daRepública,

Grupo escultórico e a Parededos Heróis

Pedro Camelo