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SEKE IA BINDO | Lusenje guardava nos jardins da memó- ria as mais belas flores da sua infância. Per- correu todos os rios, desde o Catumbela ao Cuito, do Queve ao Cuanza, procurando uma saída para a servidão. Poisou, já velha e cansada, nas terras do Chinguar, rodeada de filhos e netos. Cada ruga do seu rosto era um mundo de aventuras, uma recordação de sofrimento, uma marca de esperança. Acendia a fogueira no jango e rodeada das crianças da aldeia, lançava no ar as adivi- nhas e provérbios. Meninas e meninos colavam os seus olhos na boca de Lusenje. E as palavras da mais velha saíam mansas, numa lentidão que pedia ao tempo que parasse naqueles momentos mágicos que se soltavam da al- deia e percorriam a serra até se despedaça- rem contra os rochedos vestidos com mus- gos de milénios. Lusenje, com o rosto iluminado pelas la- baredas da fogueira provocava as meninas: - O cortiço grande está à espera dos esban- jadores. As adolescentes, que conheciam a adivinha, punham os olhos na fogueira e es- peravam que os mais novos respondessem. Lusenje insistia: - Ekuku lyakula litãyilili olomeseyi… As meninas com gestos castos tapavam os rostos. Os meninos, nem uma palavra. E Lu- senje explicava com malícia no olhar: - A menina casadoira está à espera dos ra- pazes que a pretendam! Algazarra dos rapazes e risos púdicos das meninas. O fogo arde e aquece a noite. Lu- senje interrompe os atrevidos: - Ongombe yange yehoma k’eyawu… Ekuku? O meu boi magrinho no meio da ponte… o que é? Nem um saber responder. Meninos e me- ninas esperam ansiosamente as palavras da velha. Ninguém se atreve a dar uma respos- ta. Mas ela, pausadamente dá a resposta: - O celeiro vazio! A noite foi invadida pelas estrelas e a serra despeja na aldeia sons indecifráveis. Dizem que são os lamentos dos que se per- deram no caminho para o paraíso. Mas é apenas o mistério do Lépi e as noites que cobrem a serra de magia. Vovó Lusenje co- meça a cantarolar: - Wawala omanjata kakine Wawala omanjata kakine Wawala omanjata yele ee! Meninas e meninos estão a dar sinais de sono e a chama da fogueira começa a perder calor. Lusenje também está mais seca que antes do serão, mais perto de se extinguir co- mo a fogueira. Olha as crianças com ternura e pede-lhes para guardarem para sempre na memória estas palavras: - Yuvuli ava veyaya kokwene l’uwalo wo- lomeme, v’okati pwãyi valinga olombindji vikukolola. Tenham cautela redobrada com aqueles que se aproximam de nós vestidos com peles de ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores! Na serra do Lépi uivam mabecos e che- gam à aldeia gemidos de hienas traiçoeiras. A Lua arranca clarões dos rochedos nus. Amanhã é outro dia e Lusenje, apesar de res- sequida pelos anos, ainda está de pé. As crianças adormecem na pobreza da esteira e sonham com bois gordos e grandes cortiços repletos de mel. CONSELHOS CONTOS POPULARES ANGOLANOS O cortiço grande e os ferozes lobos roubadores PROVÉRBIO ADIVINHAS Soluções: 1. Maçãs do rosto; 2. Tornozelos, 3. Barba; 4. Coração; 5. Pé; 6. Céu da boca. Férias inesquecíveis no Bembe Os meus pais são naturais do Bembe e nestas férias estive em casa dos meus avós. Gostei muito de conhecer este município do Uíge porque é uma vila bonita e com muita História. O meu avô ensinou-me que há um século era o centro mais importante do Norte de Angola, com muito mais importância do que a capital provincial. A última vez que fui ao Bembe o município tinha poucas escolas e as crianças não podiam estudar porque não tinham salas nem professores. Hoje praticamente todos têm acesso à escola. Também existiam poucos centros de saúde e quem tinha uma doença mais grave tinha que ir para o Hospital do Uíge. Hoje o Bembe tem 22 centros e postos de saúde. Existem médicos e enfermeiros. Tudo mudou em pouco tempo. As casas eram cobertas a capim e a Administração Municipal tinha instalações em mau estado. Hoje tudo mudou. O Bembe tem habitações bonitas e confortáveis. Os serviços públicos funcionam em instalações novas ou reabilitadas. O Bembe já tem luz eléctrica e água portável para todos. A administradora municipal anunciou aos mo- radores da vila que ainda este ano vai ser criado um hospital para 100 doentes. O mau pai disse que qualquer dia é melhor viver no Bembe do que no nosso bairro em Luanda e vamos mudar para lá. Gostava muito que no resto do país as mudanças sejam iguais às do Bembe. ANDRÉ PEDRO KIANGALA|11 ANOS|RANGEL 1. Quais as maçãs que chegam à boca mas não se comem? 2. Que lindos amores eu tenho, que lindos, que ingratos! Andam por dentro das botas e por fora dos sapatos? 3. Só a faz quem já a tem, pois quem a não tem não a faz. Se a tem pode não a fazer, se a fizer já não a faz. 4. Trabalha como um relógio, sem ser relógio. Tem raízes mas não é vegetal. O lugar onde nasceu é onde espera morrer, e o seu maior amigo nunca o deseja ver. 5. O que é que anda deitado e dorme de pé? 6. Qual o céu que não possui estrelas? Passarinho que acompanha morce- go amanhece de cabeça para baixo. Domingo, 12 de Janeiro de 2014 Nº 137 SÉRIE III |11 Como escrever para o “Recreio” O nosso endereço é: Recreio - Página Infantil do Jornal de Angola - Rua Rainha Ginga, 18/26 - Luanda, ou para o e-mail: [email protected]. R R ecreio ecreio Suplemento infantil do Jornal de angola BRINCAR E APRENDER CARTAS DOS AMIGUINHOS A A Terra é chamada Planeta Azul porque é constituída, sobretudo, por mares e oceanos. As áreas de água mais vastas chamam-se oceanos. As mais pequenas, mares. Os mares e os oceanos abran- gem mais de dois terços da superfície da terra. O Oceano Pacífico cobre mais de um terço da superfície terrestre. Os mares e os oceanos contêm mais de 97 por cento da água do planeta. AO oceano pode dividir-se em três zonas, conforme a profundidade que a luz solar alcança: zona eufótica, zona disfótica e zona afótica. Nas profundezas, a água do mar é mais fria e sombria porque os raios do Sol não chegam lá. O fundo do mar não é plano. Debaixo do mar há abismos profundos, montanhas, vulcões e planícies. S S A A B B I I A A S S Q Q U U E E . . . . . . Ano Novo Vida Nova Começou um novo ano e todos têm algo projectado para o ano 2014. Os alunos também têm um plano, o de estudarem mais e passarem de classe para entrarem para o Ensino Médio e depois para a Faculdade e tornarem-se bons construtores da sociedade angolana. Para isso é preciso prepararem-se. Começar pelo material escolar, ler de vez em quando, enquanto duram as férias para não ficarem desactua- lizados. É preciso exercitar a mente para que ela se desenvolva e vos ajudar nos vossos estudos. Se não exercitarem a mente, ela fica pobre. KINDALA MANUEL VAMOS COLORIR MOTA AMBRÓSIO O Cuanza nasce em Mumbué no município do Chitembo na província do Bié e é o maior rio angolano

CONSELHOS CARTAS DOS AMIGUINHOS BRINCAR E …imgs.sapo.pt/jornaldeangola/img/file52d262a3759a8recreio.pdf · sono e a chama da fogueira ... ainda está de pé. As crianças adormecem

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Page 1: CONSELHOS CARTAS DOS AMIGUINHOS BRINCAR E …imgs.sapo.pt/jornaldeangola/img/file52d262a3759a8recreio.pdf · sono e a chama da fogueira ... ainda está de pé. As crianças adormecem

SEKE IA BINDO |

Lusenje guardava nos jardins da memó-ria as mais belas flores da sua infância. Per-correu todos os rios, desde o Catumbela aoCuito, do Queve ao Cuanza, procurandouma saída para a servidão. Poisou, já velhae cansada, nas terras do Chinguar, rodeadade filhos e netos. Cada ruga do seu rosto eraum mundo de aventuras, uma recordaçãode sofrimento, uma marca de esperança.Acendia a fogueira no jango e rodeada dascrianças da aldeia, lançava no ar as adivi-nhas e provérbios. Meninas e meninos colavam os seus

olhos na boca de Lusenje. E as palavras damais velha saíam mansas, numa lentidãoque pedia ao tempo que parasse naquelesmomentos mágicos que se soltavam da al-deia e percorriam a serra até se despedaça-rem contra os rochedos vestidos com mus-gos de milénios.Lusenje, com o rosto iluminado pelas la-

baredas da fogueira provocava as meninas:- O cortiço grande está à espera dos esban-

jadores. As adolescentes, que conheciam aadivinha, punham os olhos na fogueira e es-peravam que os mais novos respondessem.Lusenje insistia:- Ekuku lyakula litãyilili olomeseyi…

As meninas com gestos castos tapavam osrostos. Os meninos, nem uma palavra. E Lu-senje explicava com malícia no olhar:- A menina casadoira está à espera dos ra-

pazes que a pretendam!Algazarra dos rapazes e risos púdicos das

meninas. O fogo arde e aquece a noite. Lu-senje interrompe os atrevidos:- Ongombe yange yehoma k’eyawu…

Ekuku? O meu boi magrinho no meio daponte… o que é?Nem um saber responder. Meninos e me-

ninas esperam ansiosamente as palavras davelha. Ninguém se atreve a dar uma respos-ta. Mas ela, pausadamente dá a resposta:- O celeiro vazio!A noite foi invadida pelas estrelas e a

serra despeja na aldeia sons indecifráveis.

Dizem que são os lamentos dos que se per-deram no caminho para o paraíso. Mas éapenas o mistério do Lépi e as noites quecobrem a serra de magia. Vovó Lusenje co-meça a cantarolar:-Wawala omanjata kakineWawala omanjata kakineWawala omanjata yele ee!Meninas e meninos estão a dar sinais de

sono e a chama da fogueira começa a perdercalor. Lusenje também está mais seca queantes do serão, mais perto de se extinguir co-mo a fogueira. Olha as crianças com ternurae pede-lhes para guardarem para sempre namemória estas palavras:- Yuvuli ava veyaya kokwene l’uwalo wo-

lomeme, v’okati pwãyi valinga olombindjivikukolola.Tenham cautela redobrada com aqueles

que se aproximam de nós vestidos compeles de ovelhas, mas por dentro são lobosroubadores!Na serra do Lépi uivam mabecos e che-

gam à aldeia gemidos de hienas traiçoeiras.A Lua arranca clarões dos rochedos nus.Amanhã é outro dia e Lusenje, apesar de res-sequida pelos anos, ainda está de pé. Ascrianças adormecem na pobreza da esteira esonham com bois gordos e grandes cortiçosrepletos de mel.

CONSELHOS

CONTOS POPULARES ANGOLANOSO cortiço grande e os ferozes lobos roubadores

PROVÉRBIO

ADIVINHAS

Soluções:1.Maçãs do rosto; 2. Tornozelos, 3. Barba; 4. Coração; 5. Pé; 6. Céu da boca.

Férias inesquecíveis no BembeOs meus pais são naturais do Bembe e nestas férias estive em casa dosmeus avós. Gostei muito de conhecer este município do Uíge porque éuma vila bonita e com muita História. O meu avô ensinou-me que há umséculo era o centro mais importante do Norte de Angola, com muito maisimportância do que a capital provincial.A última vez que fui ao Bembe o município tinha poucas escolas e ascrianças não podiam estudar porque não tinham salas nem professores.Hoje praticamente todos têm acesso à escola.Também existiam poucos centros de saúde e quem tinha uma doençamais grave tinha que ir para o Hospital do Uíge. Hoje o Bembe tem 22centros e postos de saúde. Existem médicos e enfermeiros. Tudo mudouem pouco tempo. As casas eram cobertas a capim e a AdministraçãoMunicipal tinha instalações em mau estado. Hoje tudo mudou. O Bembetem habitações bonitas e confortáveis. Os serviços públicos funcionamem instalações novas ou reabilitadas. O Bembe já tem luz eléctrica eágua portável para todos. A administradora municipal anunciou aos mo-radores da vila que ainda este ano vai ser criado um hospital para 100doentes. O mau pai disse que qualquer dia é melhor viver no Bembe doque no nosso bairro em Luanda e vamos mudar para lá. Gostava muitoque no resto do país as mudanças sejam iguais às do Bembe.

ANDRÉ PEDRO KIANGALA|11 ANOS|RANGEL

1. Quais as maçãs que chegam à boca mas não se comem?2. Que lindos amores eu tenho, que lindos, que ingratos! Andam pordentro das botas e por fora dos sapatos?3. Só a faz quem já a tem, pois quem a não tem não a faz. Se a tempode não a fazer, se a fizer já não a faz.4. Trabalha como um relógio, sem ser relógio. Tem raízes mas não évegetal. O lugar onde nasceu é onde espera morrer, e o seu maioramigo nunca o deseja ver. 5. O que é que anda deitado e dorme de pé? 6. Qual o céu que não possui estrelas?

Passarinho que acompanha morce-go amanhece de cabeça para baixo.

Domingo, 12 de Janeiro de 2014Nº 137 SÉRIE III

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Como escrever para o “Recreio”O nosso endereço é:Recreio - Página Infantil do Jornalde Angola - Rua Rainha Ginga,18/26 - Luanda, ou para o e-mail:[email protected].

RRecreioecreioSuplemento infantil do Jornal de angola

RecreioSuplemento infantil do Jornal de angola

BRINCAR E APRENDERCARTAS DOS AMIGUINHOS

A A Terra é chamada Planeta Azul porque é constituída, sobretudo,por mares e oceanos. As áreas de água mais vastas chamam-seoceanos. As mais pequenas, mares. Os mares e os oceanos abran-gem mais de dois terços da superfície da terra. O Oceano Pacíficocobre mais de um terço da superfície terrestre. Os mares e os oceanoscontêm mais de 97 por cento da água do planeta.

AO oceano pode dividir-se em três zonas, conforme a profundidadeque a luz solar alcança: zona eufótica, zona disfótica e zona afótica.Nas profundezas, a água do mar é mais fria e sombria porque osraios do Sol não chegam lá. O fundo do mar não é plano. Debaixodo mar há abismos profundos, montanhas, vulcões e planícies.

SSAABBIIAASS QQUUEE......

Ano Novo Vida NovaComeçou um novo ano e todos têmalgo projectado para o ano 2014. Os alunos também têm um plano, ode estudarem mais e passarem declasse para entrarem para o EnsinoMédio e depois para a Faculdade etornarem-se bons construtores dasociedade angolana.Para isso é preciso prepararem-se.Começar pelo material escolar, lerde vez em quando, enquanto duramas férias para não ficarem desactua-lizados. É preciso exercitar a mentepara que ela se desenvolva e vosajudar nos vossos estudos. Se nãoexercitarem a mente, ela fica pobre.

KINDALA MANUEL

VAMOS COLORIR

MOTA AMBRÓSIO

O Cuanza nasce em Mumbué no município do Chitembo na província do Bié e é o maior rio angolano