Congresso Direito Ambiental e Economia o Desafio Do Seculo XXI

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  • 7/25/2019 Congresso Direito Ambiental e Economia o Desafio Do Seculo XXI

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    Organizadores da Obra:

    Cristiane DeraniMariana Caroline Scholz

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    Anais do CongressoDireito ambiental

    e Economia:o desafio do sculo XXI

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANA CAARINA

    ReitoraRoselane Neckel

    Vice-ReitoraLcia Helena Martins Pacheco

    CENRO DE CINCIAS JURDICAS

    DiretorLuis Carlos Cancellier de Olivo

    Vice-DiretorUbaldo Cesar Balthazar

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM DIREIO

    CoordenadorLuiz Otvio Pimentel

    SubcoordenadorArno Dal Ri Jnior

    Organizadores da ObraCristiane Derani

    Mariana Caroline Scholz

    Conselho EditorialJos Rubens Morato LeiteRogrio Silva Portanova

    Colaboradores cnicos

    Coordenadora Cientifica do EventoCristiane Derani

    Comisso de Organizao do Congresso Internacional

    Direito Ambiental e Economia: o desafio do sculo XXI

    Bernardo Rohden Pires;Bruno de Andrade Christofoli; Joo

    Victor Malucelli Harger;Kelly Schaper Soriano de Souza;

    Ligia Ribeiro Vieira;

    Luiza Zuanazzi Frana;Mariana Caroline Scholz;

    Marina Demaria Venncio; PatriciaGrazziotin Noschang; Wesley Marcos

    Santos.

    Andr Olavo LeiteBernardo Rohden Pires

    Kelly Schaper Soriano de SouzaBruno de Andrade Christofoli

    Patricia Grazziotin NoschangLuiza Zuanazzi Frana

    Ligia Ribeiro VieiraMarina Demaria Venncio

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    Anais do CongressoDireito ambiental

    e Economia:o desafio do sculo XXI

    Organizadores da Obra

    Cristiane DeraniMariana Caroline Scholz

    Florianopolis, 2014

    2014 Dos autores

    Coordenao Editorial: Andr Olavo Leite.

    Capa, Projeto Grfico e Editorao: Liudmila Simakova PravaPublishing.

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    SUMRIO

    APRESENAO ................... ..................... .................... ....10

    Parte I. Desenvolvimento, Economia e Meio ambiente

    CAPULO I ........................................................................13

    EDUCAO AMBIENAL PARA A SUSENABILIDADE:; A CONSRUO CULURAL DE UMA NOVAEPISEMOLOGIA

    Daniel Rubens Cenci; Lizandra Andrade NascimentoCAPULO II.......................................................................37

    INFORMAO AMBIENAL PARA A PRESERVAO DO ; MEIOAMBIENE CULURAL

    Aline Andrighetto; Daniel Rubens Cenci

    CAPULO III .....................................................................65

    DEMOCRACIA BRASILEIRA E A DEMOCRACIA INDGENA:ASPECOS DA EXCLUSO, DIFERENAS E APRENDIZAGEM DAECONMICA POLICOSOCIAL E DO MEIO AMBIENE

    Carla Vladiane Alves Leite

    CAPULO IV .....................................................................89

    DECRESCIMENO A FAVOR DA CONSIUIO FEDERAL: ANECESSIDADE DE DESACELERAO DO DESENVOLVIMENOE DO INCENIVO A PRICAS BASEADAS NA CONVIVIALIDA

    DE E NA SIMPLICIDADE PARA A REALIZAO DE DIREIOSFUNDAMENAIS

    Laura Melo Vilhena

    CAPULO V .....................................................................107

    A ECONOMIA VERDE E O DESAFIO DA VISO NO FRAGMENADA DE UM OBJEIVO COMPLEXO

    Fernanda Castelo Branco Araujo

    CAPULO VI ...................................................................137

    A BUSCA POR UMA ECONOMIA AMBIENAL: A LIGAO ENRE O MEIO AMBIENE E O DIREIO ECONMICO

    Denise Schmitt Siqueira Garcia

    CAPULO VII ..................................................................165

    COMPLIANCE AMBIENAL E O DESENVOLVIMENO SUSENVEL NO BRASIL

    Daniela Braga Paiano; Raquel Bossan

    CAPULO VIII ................................................................185

    GARANIAS FINANCEIRAS NO LICENCIAMENO AMBIENALDE EMPREENDIMENOS QUE POSSUEM BARRAGENS NO ESADO DE MINAS GERAIS

    Carine Rocha da Veiga; Marta Aparecida M. Sawaya; ZuleikaS. Chiacchio orquetti

    CAPULO IX ...................................................................211

    CRICAS AO MODELO DE DESENVOLVIMENO ECONMICODO ESADO DO AMAZONAS PARA PRESERVAO DO MEIO

    AMBIENE

    Gilmar Madalozzo da Rosa; Wilker Luiz Cerqueira da Rosa

    CAPULO X .....................................................................233

    A POLICA NACIONAL DE RESDUOS SLIDOS E AS PERSPECIVAS SOCIOAMBIENAIS DE UMA ECONOMIA VERDE: ASPECOS JURDICOS DO DESENVOLVIMENO SUSENVEL

    Gilson Ferreira

    CAPULO XI................................................................ 257

    DANO AMBIENAL FUURO: A EXPOSIO DO CASO DA HIDRELICA DE BELO MONE

    Luiza Rosso Mota; Mrcio de Souza Bernardes; Maria BeatrizOliveira da Silva

    CAPULO XII ............................................................... 285

    A PAISAGEM COSEIRA E O DIREIO FUNDAMENAL AO MEIOAMBIENE NO CONEXO DO DESENVOLVIMENO SUSENVEL

    hales Jos Pitombeira Eduardo; Mary Lcia Andrade Correia

    CAPULO XIII ................................................................309

    NOVO CDIGO FLORESAL BRASILEIRO E SEU DISCURSO ESRAGICO NO SCULO XXI

    Joo da Cruz Gonalves Neto; Lu Cristine Siqueira Reis

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    CAPULO XIV.................................................................331

    A EVOLUO DA SOCIEDADE NO MBIO ECONMICO E OSREFLEXOS AMBIENAIS EM NVEL INERNACIONAL

    Daniela Braga Paiano; Maurem Silva Rocha

    CAPULO XV ..................................................................351

    ECONOMIA POLICA INERNACIONAL E MEIO AMBIENE:DO DESENVOLVIMENO SUSENVEL ECONOMIA VERDEENQUANO EIXO DAS RELAES INERNACIONAIS AMBIENAIS

    Andr Soares Oliveira; Eduardo Ernesto FilippiCAPULO XVI.................................................................377

    BREVE PANORAMA SOBRE OS RAADOS BILAERAIS DE INVESIMENOS NO MBIO DO DESENVOLVIMENO SUSENVEL

    Marina Demaria Venncio

    CAPULO XVII ...............................................................405

    BREVES NOAS SOBRE A RELAO ENRE EXPECAIVASLEGIMAS DE INVESIDORES ESRANGEIROS E MEDIDASREGULARIAS DE PROEO AMBIENAL

    Bernardo Rohden Pires

    Parte II. Mudanas Climticas, Economia e Meio Ambiente

    CAPULO XVIII ..............................................................433

    ASPECOS HUMANOS DAS MUDANAS CLIMICAS: UMAANLISE DA RESPONSABILIDADE JURDICA DO ESADO PERANE O DESLOCAMENO FORADO POR RAZES AMBIENAIS

    Ligia Ribeiro Vieira

    CAPULO XIX .................................................................453

    GESO DE GUAS SUBERRNEAS E MUANAS CLIMICAS

    Patricia Grazziotin Noschang

    CAPULO XX ..................................................................473

    O MARCO NORMAIVO DAS MUDANAS CLIMICAS NO BRASIL E A COMPENCIA INSIUCIONAL DA COMISSO INERMINISERIAL DE MUDANA GLOBAL DO CLIMA

    Joo Paulo de Faria Santos

    CAPULO XXI .................................................................501

    MUDANAS CLIMICAS E ENERGIAS ALERNAIVAS: INEGRAO ENRE ECONOMIA, DIREIO, MEIO AMBIENE EECNOLOGIA

    Honcio Braga de Arajo

    Parte III. Comrcio, Economia e Meio Ambiente

    CAPULO XXII ...............................................................529

    A PESQUISA JURDICA EM SEU MBIO RANSDISCIPLINARPARA A SUA APLICAO COMO AGREGAO DE CONHECIMENO COMPLEXO NO MEIO AMBIENE ECONMICO

    Altiza Pereira de Souza; Carla Vladiane Alves Leite

    CAPULO XXIII ..............................................................551

    GLOBALIZAO, PROGRESSO E MEIO AMBIENE: REFLEXESACERCA DA CRISE DO PARADIGMA CLSSICO DO DESENVOLVIMENO ECONMICO

    Mary Lcia Andrade Correia; hales Jos Pitombeira Eduardo

    CAPULO XXIV ..............................................................581

    A REDEFINIO DO DIREIO GUA NO SCULO XXI: PERSPECIVAS FRENE AO COMRCIO E ORDEM AMBIENALINERNACIONAL

    Rogrio Silva Portanova; has Dalla Corte

    CAPULO XXV ...............................................................615O USO INDISCRIMINADO DE AGROXICOS E A VIOLAODOS DIREIOS FUNDAMENAIS ALIMENAO SAUDVEL,

    SADE E AO MEIO AMBIENE EQUILIBRADO: E SUAS CONSEQUNCIAS AO COFRE DA SEGURIDADE SOCIAL ............................

    Elenice Hass de Oliveira Pedroza

    CAPULO XXVI .............................................................635

    LICIAES SUSENVEIS: UM NOVO PARADIGMA

    Luiza de Araujo Furiatti

    CAPULO XXVII.............................................................657

    PARA SE PENSAR O PAGAMENO POR SERVIOS AMBIENAIS:

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    EM BUSCA DE UM CONCEIO DE SERVIOS AMBIENAIS

    Felipe Franz Wienke

    CAPULO XXVIII ...........................................................677

    A INERRELAO DO DIREIO, ECONOMIA E RESDUOS SLIDOS

    Loraine Bender

    CAPULO XXIX ..............................................................693

    POLICA NACIONAL DE RESDUOS SLIDOS: ESMULO A

    UM PROCESSO ECONMICO SUSENVEL POR MEIO DAREDUO DE RESDUOS

    Flavia Frana Dinnebier

    CAPULO XXX ...............................................................725

    O DESINO DOS RESDUOS DE EQUIPAMENOS ECNOLGICOS E SEUS ASPECOS ECONMICOS LUZ DA ICA ECOLGICA

    nia Andrea Horbatiuk Dutra

    APRESENAO com imensa satisfao que o Grupo de Estudos Avanados em Meio Am-

    biente e Economia no Direito Internacional da Universidade Federal de San-

    ta Catarina, (EMAE/UFSC) apresenta os Anais do Congresso Internacional

    Direito Ambiental e Economia: o Desafio do Sculo XXI, realizado nos dias

    27 e 28 de maro de 2014. Evento realizado em parceria com o Grupo de Es-

    tudos Aplicados ao Meio Ambiente (GEAMA/USP), o Grupo de Pesquisa de

    Direito Ambiental e Ecologia Poltica na Sociedade de Risco (GPDA/UFSC) e

    o Instituto Lusada para o Direito do Ambiente (ILDA/Universidade Lusada Portugal). O evento contou tambm com o apoio do PPGD/UFSC, CCJ/

    UFSC e da CAPES.

    Neste congresso, o tema abordado foi Direito Ambiental e Economia, no

    qual se trabalhou uma vasta gama de assuntos que circunscrevem temtica. O

    evento teve como objetivo proporcionar um debate crtico e reflexivo sobre os

    conflitos entre meio ambiente e economia e os recentes desafios dessa relao,

    assim, foram abordadas questes como a expanso da rea agrcola, desenvol-

    vimento sustentvel, crise econmica e aquecimento global. Pensar o Direito

    no sculo XXI implica necessariamente pens-lo sob o prisma de uma nova

    conscincia, preocupada e engajada com as questes relativas ao meio ambiente

    e a economia, eis o desafio do Sculo XXI.

    O evento reuniu ilustres pesquisadores e profissionais de diversas institui-

    es estrangeiras e brasileiras. Como conferencistas convidados, s e destacam os

    renomados professores internacionais: Prof. Dr. Ludwig Krmer (UE); Prof.

    Dr. Eckard Rehbinder (J.W. Goethe Universitt, Alemanha); Prof . Dr .Branca Martins da Cruz (Universidade Lusada/Portugal); Prof . Dr . Cathe-

    rine inker (EUA); Prof. Dr. Wu Handong (ZUEL/China).

    Os clebres professores e profissionais brasileiros: Ministro Herman Ben-

    jamin (SJ); Prof. Dr Armando de Melo Lisboa (UFSC); Prof. Dr. Carlos

    eodoro Irigaray (UFM); Prof. Dr. Fernando Antnio de Carvalho Dantas

    (UFG); Prof. Dr. Joo da Cruz (UFG); Prof. Dr Jos Eli da Veiga (FEA/USP);

    Prof . Dr . Maria Cristina Vidotte Blanco arrega (UFG); Prof . Dr . Norma

    Sueli Padilha (UNISANOS); Prof . Dr . Patrcia Faga Iglecias Lemos (USP);

    e Promotor de Justia Dr. Jos Eduardo Lutti (MP/SP).

    E os conceituados professores da casa, o Programa de Ps-Graduao em

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    PARE I.

    DESENVOLVIMENO,

    ECONOMIA E MEIO AMBIENE

    Direito da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGD/UFSC): Prof . Dr

    . Cristiane Derani; Prof. Dr. Jos Rubens Morato Leite; Prof. Dr. Rogrio Silva

    Portanova; e Prof . Dr . Tais Luzia Colao.

    Aprofundando o dialogo e produo de pesqu isa na rea ambiental e eco-

    nmica, este livro compila a produo acadmica do congresso, com trabalhos

    cientficos de doutorandos, mestrandos e graduandos, que foram devidamente

    apresentados na forma de comunicao acadmica. Os artigos aqui presentes

    refletem as discusses e perspectivas tericas e prticas desenvolvidas na rea,

    cuja publicao, possibilita a ampliao de um conhecimento diferenciado em

    esfera nacional e internacional, alm de oportunizar um espao de divulgaode ideias elaboradas em todos os nveis de conhecimento.

    Dessa forma, o livro foi dividido em trs eixos temticos: I. Desenvolvi-

    mento, economia e meio ambiente; II. Mudanas climticas, economia e meio

    ambiente; e III. Comrcio, economia e meio ambiente. Os artigos foram po-

    sicionados de acordo com o vinculo ao eixo, seqencialmente, contribuindo

    de forma efetiva para o diagnstico da realidade da ambiental, bem como para

    pensar o seu futuro.

    Cabe ressaltar aqui, alguns agradecimentos. Em primeiro lugar, a todos os

    conferencistas que se dispuseram a palestrar no evento contribuindo com os de-

    bates e perpetuando conhecimento de qualidade para todos que participaram

    do evento. Um especial agradecimento deve ser igualmente realizado equipe

    de organizao composta pelos membros do Grupo EMAE, que ao longo dos

    dois dias de evento trabalharam de maneira incessante para o seu inegvel xito.

    Um agradecimento tambm aos membros do GEAMA/USP, do GPDA/UFSC

    e do o Instituto Lusada para o Direito do Ambiente (ILDA/Universidade Lu-

    sada Portugal) pela parceria. Por fim, devem ser igualmente agradecidos o

    Programa de Ps-Graduao em Direito da UFSC (PPGD/UFSC), a Diretoria

    do Centro de Cincias Jurdicas da UFSC (CCJ) e o Centro Acadmico XI

    de Fevereiro (CAXIF), que possibilitaram a realizao do congresso e desta

    publicao.

    Florianpolis/SC, 30 de Novembro de 2014.

    Cristiane Derani

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    13CAPULO I

    Parte I. Desenvolvimento, Economia e Meio ambiente

    CAPULO I 13

    CAPULO IEDUCAO AMBIENAL PARA A SUSENABILI

    DADE:

    A CONSRUO CULURAL DE UMA NOVAEPISEMOLOGIA

    Daniel Rubens CenciLizandra Andrade Nascimento

    RESUMO:

    O objetivo central identificar os caminhos da aprendizagem para nos apro-priarmos dos processos pedaggicos da construo dos saberes. Desenvolve-seuma reflexo crtica sobre as caractersticas da modernidade colocadas como ca-minho nico de busca da realizao humana, identificados no comportamentoindividualista e atravs do consumo, tpicos do neoliberalismo. Em respostaao pensamento neoliberal, que busca delimitar as resistncias da cultura e danatureza submissas a lgica do capital. A questo ambiental emerge pela valori-zao da diversidade tnica e cultural da espcie humana, pela (re)descoberta evalorizao do outro como fundamento da relao com a biodiversidade.

    PALAVRASCHAVE:

    Educao ambiental.Amor mundi. Construo dos saberes. Sustentabilidade.

    1 CONSIDERAES INICIAIS

    A construo de sociedades sustentveis requer mudanas

    no campo do conhecimento e do comportamento em relao ao

    meio ambiente. Isso significa mudanas na Educao Socioam-

    biental, com a construo de uma cultura integradora do homem

    com a natureza, da sociedade com os ecossistemas.

    Partindo da constatao de que a sociedade de consumi-

    dores no sabe como cuidar do mundo, substituindo a participa-

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    14 15CAPULO I CAPULO I

    Anais do Congresso Direito ambiental e Economia: o desafio do sculo XXI Parte I. Desenvolvimento, Economia e Meio ambiente

    o poltica e a defesa de interesses comuns pela mera busca de

    saciedade, afirmamos que a reverso desta postura passa inques-

    tionavelmente pela educao. No no sentido de responsabilizar

    a escola sozinha pela transformao da realidade social. Mas, na

    perspectiva de apostar na vinculao da educao com a natalida-

    de, com a possibilidade de acolher as novas geraes e contagi-las

    pelo amor pelo mundo.

    Para tanto, a educao ambiental torna-se imprescindvel,tanto para a (re)construo do sentido de humanizao quanto

    para a (re)educao para os desafios apresentados pelo contexto da

    crise ambiental, demandando o enfrentamento de temas relacio-

    nados a perdas na qualidade de vida no planeta.

    Por fim, enfatizamos que a construo de um novo saber

    ambiental, com vistas sustentabilidade, requer a superao da

    fragmentao do saber e das prticas, emergindo de um processo

    transdisciplinar de problematizao e transformao dos paradig-

    mas dominantes dos conhecimentos, como defende Leff (2002).

    rata-se de um desafio considervel, que implica a articulao dos

    saberes acadmicos e dos saberes populares, em direo a com-

    preenses alargadas, capazes de engendrar a assuno da respon-

    sabilidade e do compromisso com os rumos do mundo em que

    vivemos.

    2 A EDUCAO AMBIENAL COMO CONSRUO/CAPIAL CULURAL

    Quando tratamos de educao socioambiental, uma das

    primeiras noes com as quais nos deparamos a de cuidado.

    Logo indagamos: somos capazes de cuidar do mundo?

    No, nos dir Arendt, o homem moderno no capaz de

    cuidar do mundo, pois consome os bens culturais de forma vo-

    raz, ao invs de preserv-los. A sociedade, devido a seus enormes

    apetites e ao desaparecimento dos produtos de consumo, exige da

    indstria de entretenimentos a rpida produo de novas merca-

    dorias, as quais devem ser preparadas para consumo fcil e rpido.

    Segundo Arendt (1972, p. 262), diferentemente dos obje-

    tos/bens de consumo, cuja durabilidade no mundo mal excede

    o seu tempo de preparo; e dos produtos da ao, como eventos,feitos e palavras, os quais so em si mesmos transitrios, pouco

    durveis, as obras de arte, por sua durabilidade, so o que existe

    de mais mundano, no so fabricadas para o homem, mas para

    o mundo que est destinado a sobreviver ao ir e vir das geraes.

    Para que possa existir cultura, em sentido especfico, estas obras

    so removidas do processo de consumo e da esfera das necessida-

    des da vida humana.

    Na sociedade de massas, as horas de lazer so empregadas

    para consumir e para entreter cada vez mais. Como no h sufi-

    cientes bens de consumo para satisfazer os apetites crescentes, em

    que energia vital precisa ser gasta pelo consumo, a prpria vida

    se esgota valendo-se de coisas que jamais foram a elas destinadas.

    Ao entreter-se, as massas se alimentam dos objetos culturais do

    mundo.

    Em consequncia do consumo exacerbado, os homens

    abrem mo do exerccio do gosto. Ou seja, ao substituir as ati-

    tudes de apreciao e de julgamento, pelo mero entretenimento

    e consumo, o homem moderno fica impossibilitado de julgar as

    coisas do mundo e de conferir-lhes uma significao humana. Isso

    porque: O gosto humaniza o mundo do belo ao no ser por ele

    engolfado; cuida do belo sua prpria maneira pessoal e produz

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    16 17CAPULO I CAPULO I

    Anais do Congresso Direito ambiental e Economia: o desafio do sculo XXI Parte I. Desenvolvimento, Economia e Meio ambiente

    assim uma cultura (AREND, 1972, p. 279).

    Se, com Arendt, podemos considerar culta a pessoa que sabe

    escolher suas companhias, coisas e pensamentos, conclumos que,

    dificilmente o homem moderno chega a desenvolver tal postura,

    posto que gasta suas horas laborando e consumindo, num proces-

    so cclico em que confunde felicidade com saciedade. Isso , quan-

    to mais produz e quanto mais consome, mais feliz o indivduo.

    O que, seguramente, constitui-se como uma inverso perigosa.Segundo Correia (2008), politicamente, importa realar,

    enfim, o fato de que uma sociedade de consumidores no capaz

    de cuidar do mundo onde se desenrola a vida poltica, uma vez

    que seu modo de lidar com todos os objetos, a atitude de consu-

    mo, condena runa tudo em que toca. O consumidor o avesso

    do cidado.

    A vitria do animal laborans traduz a vitria da condi-o natural de vivente sobre qualquer outra condio daexistncia humana. Na histria do pensamento polticopr-moderno, jamais se concebeu a possibilidade de nosconvertermos em meros animais vivos, incapazes de umaexistncia poltica que seja mais que a gesto do conten-tamento animal. Na modernidade, assim pensa Arendt,o modo de vida do consumidor venceu, e mesmo o juzo

    mais pessimista sobre as implicaes polticas de tal vit-ria dificilmente ser um exagero. Se algum dia o animallaborans puder enfim saltitar desimpedido, aps tudoapequenar e condenar runa, e se for completa a vitriada saciedade sobre a felicidade pblica, da mera fruioda vida biolgica sobre a inquietao com a finitude ousobre o desejo de imortalidade que, para os antigos,

    junto ao desejo de confirmar-se como livre na ao juntoaos outros, era a razo do engajamento na vida polti-ca , a derrota da poltica ser talvez tambm completa

    (CORREIA, 2008).

    A busca da saciedade justifica a destruio da cultura e en-

    gendra a recusa em assumir a responsabilidade pelo mundo. O

    homem moderno no se sente responsvel pela preservao da

    cultura e do espao comum s mltiplas geraes. E, portanto,

    condena runa a tudo que toca, consumindo com voracidade

    tudo aquilo que produzido pela cultura presente e passada.

    A vitria do animal laborans1 foi explicada por Arendt

    (2005, p. 335) pela necessidade de laborar para assegurar a vida

    individual. udo aquilo que no fosse necessrio e no exigidopelo metabolismo da vida com a natureza, era suprfluo ou s

    poderia ser justificado em termos de alguma peculiaridade da vida

    humana em oposio vida animal. No mundo moderno2, no

    apenas a contemplao se tornou experincia totalmente destitu-

    da de significado, o prprio pensamento, tornando-se mera previ-

    so de consequncias, passou a ser funo do crebro, em funo

    da descoberta de que os instrumentos eletrnicos exercem esta

    1 Em A Condio Humana, Hannah Arendt (1989, p. 15), ressalta queVita Activa designa as trs atividades humanas fundamentais: labor, trabalhoe ao. O Labor corresponde ao processo biolgico do corpo humano. Cresci-mento e declnio tm a ver com as necess idades vitais produzidas e introduzidaspelo labor no processo da vida. A condio humana do labor a prpria vida.O rabalho a atividade correspondente ao artificialismo da existncia huma-

    na. Produz um mundo artificial de coisas, diferente do ambiente natural. Omundo se destina a sobreviver e a transcender todas as coisas individuais. Acondio humana do trabalho a mundaneidade. A Ao a nica atividadeque se exerce diretamente entre os homens sem mediao das coisas da matria,condio humana da pluralidade, corresponde ao fato de que os homens vivemna erra e habitam o mundo. O animal laborans no sabe como construir ummundo nem cuidar bem do mundo criado pelo homo faber. Os produtos dotrabalho, do metabolismo do homem com a natureza, no permanecem nomundo at se tornarem parte dele; o trabalho atenta somente ao ritmo dasnecessidades biolgicas, indiferente ao mundo, compreendido como artifciohumano.2 Para Hannah Arendt, a Era Moderna no coincide com o mundomoderno, pois a Era Moderna comea com o descobrimento da Amrica, aReforma Protestante e a inveno do telescpio, enquanto o mundo modernose.

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    18 19CAPULO I CAPULO I

    Anais do Congresso Direito ambiental e Economia: o desafio do sculo XXI Parte I. Desenvolvimento, Economia e Meio ambiente

    funo melhor que ns. A ao passou a ser concebida em termos

    de fazer e fabricar.

    Frente a tal contexto, como pensar e propor aes de edu-

    cao socioambiental? Seria possvel reverter este cenrio e cons-

    tituirmos uma sociedade capaz de cuidar do mundo em que se

    insere?

    Com base nos posicionamentos arendtianos, podemos

    apostar nessa possibilidade, posto que o homem moderno noperdeu, totalmente, as suas capacidades. Os homens persistem em

    fabricar, fazer e construir, embora tais faculdades se limitem cada

    vez mais aos talentos do artista, de sorte que as respectivas expe-

    rincias de mundaneidade escapam cada vez mais experincia

    humana comum. Ainda possumos capacidade de agir. Contudo,

    a ao passou a ser uma experincia limitada a um pequeno grupo

    de privilegiados os cientistas. Os que ainda sabem o que signi-

    fica agir so poucos, talvez at menos numerosos que os artistas

    e sua experincia ainda mais rara que a experincia genuna do

    mundo e do amor pelo mundo.

    Sendo o homem capaz de agir, ainda podemos apostar na

    natalidade, no fato de que seres novos nascem para o mundo e po-

    dem introduzir o novo. Um dos principais atributos humanos a

    capacidade de agir e iniciar sries novas de acontecimentos. Nossa

    esperana repousa, portanto, na natalidade e no amor mundi. A

    partir da possibilidade de iniciar o novo, o indivduo pode tornar-

    se capaz de assumir as suas responsabilidades pelo mundo, com

    base no reconhecimento da obra das geraes passadas e no desejo

    de que tais obras continuem a existir para as geraes vindouras.

    E, em se tratando de ambiente, o amor mundi reflete-se no desejo

    de que este espao seja adequado vida da coletividade, assegu-

    rando no apenas a saciedade, mas, sobretudo a felicidade, conce-

    bida como vida plena de significado, em que mais do sobreviver e

    garantir a satisfao das necessidades de ordem biolgica, somos

    capazes de agir, pensar, amar, conviver, fazer escolhas e participar

    politicamente.

    A educao, e em especial, a educao socioambiental, pos-

    suem papel relevante nesse processo, pois a partir da construo

    do conhecimento e da compreenso do mundo, os indivduos po-dero exercer a cidadania de modo efetivo. Para tanto, educar-se

    precisa ser sinnimo de inserir-se num espao-tempo dedicado ao

    acesso ao legado cultural do passado, ao desenvolvimento de ha-

    bilidades e competncias, construo de conceitos e partilha de

    significados, possibilitando a ampliao dos entendimentos sobre

    o mundo e a sua insero nesta esfera, responsabilizando-se por

    seus rumos.

    Desse modo, a Educao Ambiental oportuniza a reviso de

    nossos comportamentos em relao ao ambiente, percebendo que

    a atual crise ambiental resulta da ao antrpica, de um conjunto

    de saberes que propem a produo e o consumo sem limites,

    como realizao plena do imaginrio humano. O desenvolvimen-

    to cientfico e tecnolgico vem promovendo o desastre ecolgico.

    Os bens e servios essenciais de nosso planeta depen-dem da variedade e da variabilidade dos genes, espcies,populaes e ecossistemas. Os recursos biolgicos nosalimentam e nos vestem, e nos proporcionam moradia,remdios e alimento espiritual. Os ecossistemas naturaisde florestas, savanas, pradarias e pastagens, desertos, tun-dras, rios, lagos e mares contm a maior parte da diversi-dade biolgica da erra. Os campos agrcolas e os jardinstambm tm grande importncia como repositrios,enquanto os bancos de genes, os jardins botnicos, os

    jardins zoolgicos e outros repositrios de germoplasmafazem uma contribuio pequena mais significativa. O

  • 7/25/2019 Congresso Direito Ambiental e Economia o Desafio Do Seculo XXI

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    20 21CAPULO I CAPULO I

    Anais do Congresso Direito ambiental e Economia: o desafio do sculo XXI Parte I. Desenvolvimento, Economia e Meio ambiente

    atual declnio da diversidade biolgica resulta em grandeparte da atividade humana, e representa uma srie ame-aa ao desenvolvimento humano. (ANUNES, 2005,p.414).

    Adotar uma atitude de cuidado com relao ao mundo, im-

    plica, assim, admitir que o ser humano totalmente dependente

    do meio ambiente e dos organismos vivos que o compem e que

    a destruio ambiental equivale a destruio do habitat humano.

    Responsabilizar-se pelo mundo requer a preservao, enquantocondio sine qua non para a qualidade de vida humana no pla-

    neta terra. A compreenso das interconexes existentes em toda

    a dinmica da sociedade e sua relao com a natureza torna-se

    indispensvel.

    3 EDUCAO AMBIENAL COMO PRICAPEDAGGICA

    No contexto da educao, no apenas escolar, mas no uni-

    verso de todos os espaos educativos onde no contemplada a

    perspectiva emancipatria, a educao perde suas virtualidades.

    Conforme ensina Freire (1987, p.78):

    A existncia, porque humana, no pode ser muda, silen-ciosa, nem tampouco pode nutrir-se de falsas palavras,mas de palavras verdadeiras, com que os homens trans-formam o mundo. Existir, humanamente, pronunciaro mundo, modific-lo. O mundo pronunciado, porsua vez, se volta problematizado aos suje itos pronuncian-tes, a exigir deles novo pronunciar.

    Partimos da compreenso de que a prtica pedaggica pr-

    tica humana e, por esta razo, s faz sentido se privilegiar a dimen-

    so humanizadora, abrindo possibilidades para a construo de

    um mundo com maior relevncia social e humana, alis, critrio

    indispensvel na construo dos direitos. Freire (1987) insiste que

    o homem despertado para conscincia de sua inconcluso, nunca

    sossega de pretender sempre mais na busca do saber. o homem

    um ser no mundo, com a impossibilidade de ser diferente disso.

    O mundo o que os homens fazem dele, porque nas relaes

    com o mundo que o homem marca os resultados da sua ao.

    Inmeras so as explicaes sobre o ser humano e sua hu-

    manizao e, estas se diferenciam, dependendo da perspectivaterica adotada. No basta nascer humano, preciso humanizar-

    se. Como as prticas pedaggicas so sempre prticas sociais, as

    dimenses sociais e humanas encontram-se intrinsecamente as-

    sociadas.

    Um ambiente limpo e saudvel essencial para o gozo dos

    direitos humanos e vice versa. A interdependncia entre direitos

    humanos e a proteo ambiental crescentemente reconhecida

    nas leis internacionais e locais. Proteger os direitos humanos signi-

    fica garantir proteo do bem-estar do indivduo, a educao am-

    biental, assim como a legislao ambiental, est preocupada com

    a proteo do bem-estar dos indivduos. Entretanto a educao e

    ao na rea ambiental emergem como bens de interesse coletivo,

    buscando garantir bem-estar, para presentes e futuras geraes.

    Este aspecto central para trabalharmos educao ambiental. Ou

    seja, renem-se na expresso Educao Ambiental dois significa-

    dos fundamentais: o primeiro deles voltado para a (re)construo

    do sentido de humanizao, no como cidados individualizados,

    mas como animais sociais, ou seja, precisamos pensar a vida em

    suas dimenses de interdependncia, de coletividade, de inter-re-

    laes constantes. Em segundo e, no menos importante nem se-

    parado, (re)educar para um novo momento da humanidade em

  • 7/25/2019 Congresso Direito Ambiental e Economia o Desafio Do Seculo XXI

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    22 23CAPULO I CAPULO I

    Anais do Congresso Direito ambiental e Economia: o desafio do sculo XXI Parte I. Desenvolvimento, Economia e Meio ambiente

    relao ao meio ambiente natural. A crise ambiental pela qual

    transitamos em nossa poca, apresenta inconfundveis sinais de

    que ns, os humanos, estamos agredindo o ambiente e impedindo

    sua generosa capacidade de renovao dos ecossistemas e de reno-

    var os bens ambientais dos quais a humanidade depende para sua

    sobrevivncia e bem-estar.

    De uma perspectiva ecolgica, a separao dos temas dos

    direitos humanos e das leis ambientais no em si um problema.O que realmente importa, contudo, a racionalidade que sustenta

    cada uma. Que forma ou paradigma de racionalidade se aplica

    quando ns pensamos em direitos humanos, ou em ambiente,

    respectivamente. Paradigmas de racionalidade tm sistemas de va-

    lores associados. Sistemas de valor referem-se relativa importn-

    cia atribuda a valores competentes. Se, por exemplo, o bem-es-

    tar humano percebido como superior ao bem-estar ambiental,

    quaisquer conflitos sero resolvidos de uma maneira particular.

    O grau em que cada superioridade assumida usada determinar

    o grau de proteo ambiental. E se essa superioridade manifesta-

    se em direitos de propriedade irrestritos, crescimento econmico

    e utilitarismo desenfreado, ento claramente o ambiente sofrer

    pela excluso imposta a ele como bem fundamental. A Constitui-

    o Brasileira coloca o Direito ao Meio ambiente ecologicamente

    equilibrado, como direito fundamental, do qual depende a sadia

    qualidade de vida, ou seja, o bem-estar, desejado por todos, nos

    dias atuais, exige que se (re)pense a relao do ser humano com

    o meio ambiente, como condio para a construo de uma so-

    ciedade humanizadora e humanizada. Significa dizer que a edu-

    cao ambiental constri os valores necessrios para o bem-viver,

    buscados por todos, dentre estes o meio ambiente ecologicamente

    equilibrado emerge como direito fundamental coletivo.

    Pretende-se destacar que o processo de humanizao est

    colocado de forma indissocivel do tema do meio ambiente e que

    aproximar tais aprendizados tarefa fundamental da escola, mas

    que escola? Que educao? Que projeto? No bastam apenas pro-

    grama pontuais, de conhecimento disciplinar, fundamental a

    observncia dos mesmos em polticas que efetivamente contem-

    plem todos. Ou que ganho ter tido o aluno, se a lgica da exclu-so, da violncia a que est submetido fora da escola entrar com

    ele na escola? Portanto educao ambiental deve agregar os temas

    que causam perdas na qualidade de vida, tambm porque estes

    temas sociais alcanam a sociedade no seu todo, e pode constituir-

    se em elo de construo e fortalecimento de uma rede de proteo

    ambiental e da vida no planeta.

    Frequentemente, no entanto, as condies que se apresen-

    tam na escola no so favorveis aos que j foram excludos dela

    em outros tempos. Nesta perspectiva, destacamos a importncia

    de pensar um processo que reconhea o percurso que os alunos

    j realizaram, mas tambm e, com a mesma relevncia, se com-

    preenda os percursos aos quais esto atreladas as iniciativas e/ou

    imposies sociais aos quais clamam por respostas na escola.

    H de se reconhecer que houve grandes avanos no acesso

    educao formal. A conquista do direito formao, enquanto

    direito universal, e de toda pessoa3, um dos bens produzidos

    que ainda cria excluses, muito em funo da sua elitizao e da

    burocratizao organizacional e estrutural do ensino, portanto,

    nem sempre se produz igualdade, mas se no houver um enfoque

    3 Desde 1948, a Declarao Universal dos Direitos Humanos, no seuartigo XXVI, explicita a garantia do direito educao, para toda pessoa.

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    24 25CAPULO I CAPULO I

    Anais do Congresso Direito ambiental e Economia: o desafio do sculo XXI Parte I. Desenvolvimento, Economia e Meio ambiente

    transdisciplinar, a escola acaba por reproduzir a excluso presente

    na sociedade.

    A escola ao abrir espao para abordagens dos diferentes

    campos do conhecimento contempla a diversidade, cria a possibi-

    lidade de dilogo entre os diferentes lugares epistemolgicos, e se

    abre a novos conhecimentos que no couberam, at ento, dentro

    dela.

    Um professor marca a histria pela sua prtica e para tal,a capacidade de integrar conhecimento, afetividade, criticidade,

    (re)construindo sonhos e esperanas. Aprende e ensina, ensina e

    aprende. Atravs deste processo contribui para um mundo me-

    nos assimtrico, onde as pessoas tenham espao para viver com

    dignidade, ou ento, refora as prticas conservadoras da nossa

    sociedade.

    O trabalho do professor tem a prerrogativa de interveno

    no mundo. Cativar para os temas fundamentais, para os valores

    da sustentabilidade, que constituem o eixo do fazer na educao.

    A educao, especificidade humana, conforme lembra Freire, no

    tem neutralidade4. Desta forma, a relevncia de um trabalho pe-

    daggico est na virtude da coerncia e na capacidade de trans-

    formao.

    Freire (1987, p. 65) prope que a educao escolar seja mar-

    cada pela problematizao e por uma autntica gnosiologia, capaz

    de desafiar a interao discente-docente em sala de aula e libertar

    o pensamento pela ao dos homens uns com os outros na tarefa

    comum de refazerem o mundo e torn-lo mais e mais humano.

    4 Freire ressalta a importncia do professor jamais abandonar a luta,pois se a educao no pode tudo, alguma coisa fundamental a educaopode (FREIRE, 1996, p. 126), pois nela no h neutralidade.

    4 NOVOS SABERES E NOVAS POSURAS DOEDUCADOR AMBIENAL

    O fracionamento e a compartimentalizao dos saberes so

    incapazes de explicar e resolver os problemas socioambientais, que

    tampouco podem ser resolvidos a partir da retotalizao do sa-

    ber baseada na soma ou integrao dos conhecimentos discipli-

    nares disponveis. E, conforme Leff (2002), embora possa haver

    complementaridade entre algumas disciplinas, essas definem ra-cionalidades tericas especficas com objetivos prprios de conhe-

    cimento, que no se articulam por um ditado metodolgico em

    torno de problemas socioambientais (p. 166).

    Posto de outra forma, ainda conforme o mesmo autor, o

    saber ambiental no emerge de uma reorganizao sistmica dos

    conhecimentos atuais, mas decorre da transformao de um con-

    junto de paradigmas do conhecimento e de formaes ideolgi-

    cas, a partir de uma problemtica social que os questiona e os

    ultrapassa (p. 163).

    Por isso, o saber ambiental vem impulsionando novas apro-

    ximaes holsticas e a busca de mtodos interdisciplinares capa-

    zes de integrar a percepo fracionada da realidade que nos legouo desenvolvimento das cincias modernas (p.165).

    Assim, a interdisciplinaridade proposta pelo saber ambien-

    tal implica a integrao de processos naturais e sociais de diferen-

    tes ordens de materialidade e esferas de racionalidade na formu-

    lao de novas estratgias conceituais para a construo de uma

    nova ordem terica e o estabelecimento de um novo paradigma

    produtivo, bem como novas relaes de poder, que questionam a

    racionalidade econmica e instrumental que legitimou a hegemo-

    nia homogeineizante da modernidade.

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    26 27CAPULO I CAPULO I

    Anais do Congresso Direito ambiental e Economia: o desafio do sculo XXI Parte I. Desenvolvimento, Economia e Meio ambiente

    (p. 168) Leff (2002) ainda considera que o saber ambiental

    deve dispor do conhecimento para refuncionalizar os processos

    econmicos e tecnolgicos, ajustando-os aos objetivos do equil-

    brio ecolgico, justia social e diversidade cultural(p. 169).

    H um carter filosfico na educao e no novo saber am-

    biental que irrompe reflexes mais profundas que lavando-nos a

    repensar a natureza humana s seu significado como ser no mun-

    do, em via de complexificao com a construo do pensamentocomplexo. Do saber e do conhecer, sobre a hibridao de conhe-

    cimentos na interdisciplinaridade, na transdisciplinaridade e a

    insero da subjetividade, dos valores e interesses, nas tomadas

    de deciso e nas estratgias de apropriao da natureza. Estes te-

    mas no so de fcil compreenso e so de difcil realizao, pois

    constituem o principal antdoto no combate aos conhecimentos

    fragmentados e descomprometidos gerados no escopo da moder-

    nidade.

    Pela complexidade ambiental que Leff (2002) prope, im-

    plica em um processo de desconstruo do pensamento discipli-

    nar, simplificado e unitrio, e inaugura uma nova pedagogia au-

    tocrtica que se apreende num processo dialgico, no intercmbio

    de saberes, incorporando um processo de construo coletiva do

    saber, no qual cada um aprende a partir de seu ser particular.

    A pedagogia da complexidade ambiental reconhece que o

    ato de apreender o mundo parte do prprio sujeito, como um

    ser sendo, pensando e agindo no mundo (LEFF, 2001, p. 222),

    permitindo a construo de uma nova racionalidade, que con-

    templa o mundo como potncia e possibilidade e entende a rea-

    lidade como construo social mobilizada de valores, interesses e

    utopias.

    E como seria este educador ressignificado, para um novo

    saber ambiental?

    O ser educador ambiental dever estar receptivo a uma nova

    epistemologia socioambiental, permanentemente aberto para os

    saberes, de forma crtica e reflexiva, capaz de inter-relacionar com

    a finalidade de transformar a realidade ao interagir com ela. (Flo-

    riani, 2003)

    Isso nos remete sabedoria dos grandes filsofos, que aoanalisarem um gro de areia, o compreendem no como ser em

    si, mas como parte constitutiva da complexidade do cosmos. Essa

    sabedoria indispensvel ao educador no reside exclusivamente

    nas instituies formais e nos profissionais de ensino, mas est

    dispersa e em constante movimento na formao do saber am-

    biental que se consolida na cultura, na sua histria, nas relaes

    socioambientais nas quais estiver interagindo. o andar livre e

    desimpedido pelas diferentes dimenses do viver.

    A formao deste saber ambiental seria suficiente para de-

    sencadear os processos das transformaes necessrias para a pro-

    moo da sustentabilidade?

    Seria ingnuo acreditar que sim. Este profissional dever ter

    uma prtica solidria, cooperativa, comprometida com uma con-

    cepo sinrgico-dialgica de ambiente. Como no dizer de Paulo

    Freire (2005) Ensino por que busco, porque indaguei, por que

    indago, e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, in-

    tervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer

    o que ainda no conheo e comunicar ou anunciar a novidade.

    A ao decorrente dessa concepo demanda no apenas

    uma prtica, mas uma prxis participativa, refletindo sobre a so-

    ciedade ambientalmente sustentvel, definindo prticas coerentes

  • 7/25/2019 Congresso Direito Ambiental e Economia o Desafio Do Seculo XXI

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    28 29CAPULO I CAPULO I

    Anais do Congresso Direito ambiental e Economia: o desafio do sculo XXI Parte I. Desenvolvimento, Economia e Meio ambiente

    e a sua realimentao permanente, tendo como referncia o novo

    sujeito com dignidade e direitos.

    O campo de realizao das novas epistemologias no pode

    permanecer relegado a uma compreenso de que o ente pblico

    gestor desses interesses, mas evidenciar que a possibilidade de

    concretizao pressupe compromissos interpessoais e interinsti-

    tucionais, pois a interdisciplinaridade se configura em polticas

    pblicas multiatorais, no do poder pblico apenas, mas da tota-lidade das instncias influentes na gerao e implementao dessas

    polticas. Neste sentido faz-se mister que a referida concepo/

    ao se dissemine e permeie toda a atividade inerente a vida.

    Com sua viso crtico-reflexiva, o novo ente ser capaz de

    identificar ou mesmo introduzir perturbaes no processo em que

    interagir, sujeito entre sujeitos, disseminando sementes da trans-

    formao almejada.

    A integrao dos saberes pressupe ainda a permanente

    convivncia com as diferentes culturas, no apenas a suportabili-

    dade como convivncia, mas como busca da totalidade, aceitando

    o diferente como diferente, mas no como desigual ou inferior.

    Finalmente, a educao ambiental um saber construdo

    socialmente, multidisciplinar na estrutura, interdisciplinar na

    linguagem e transdisciplinar na ao. Por isso no pode ser rea

    especfica de nenhuma especialidade do conhecimento humano.

    Deve ser instrumentalizada em bases pedaggicas, por ser uma

    dimenso da educao, mas lutar pela transformao de pessoas

    e dos grupos sociais. Deve ainda, ensejar a busca de um mundo

    vivel para presentes e futuras geraes, sendo todos partcipes

    esclarecidos da construo do presente e do futuro.

    A educao ambiental exige ainda um novo comportamen-

    to tico. Construir uma nova plataforma de relaes mais que so-

    ciais. Relaes humanas que permitam definir novos consensos de

    referncia tica e moral que possam congregar a todos de maneira

    integral, seres humanos mais humanos e menos racionais, capazes

    de valorizar a relao com a vida para alm do humano racional.

    Construir um novo marco civilizatrio, esmaecendo o atual

    paradigma reducionista da juridicizao das relaes e da forma

    proposta unssona dos marcos regulatrios. rata-se de rumar parauma mudana de paradigma que permita uma nova conscincia

    ecolgica e planetria.

    De forma muito similar ao que representa a Declarao

    Universal dos Direitos Humanos, dar concretude aos propsitos

    da Carta da erra, como um cdigo universal que possa guiar os

    povos na direo de um futuro sustentvel.

    5 CONSRUINDO UM NOVO SABER AMBIENAL

    Os problemas que nos preocupam e preocupam o mundo,

    incluem a degradao ambiental, o risco de colapso ecolgico, a

    desigualdade social e a pobreza extrema so sinais eloquentes da

    crise do mundo globalizado. A sustentabilidade o significante de

    uma ruptura fundamental na histria da humanidade, o sintoma

    de uma crise de civilizao que alcana seu momento culminan-

    te na transio da modernidade fragmentada, dividida e catica,

    para uma ps-modernidade incerta, um novo momento histrico

    marcado pela diferena e pela autonomia.

    O saber ambiental emerge de uma reflexo sobre a constru-

    o social do mundo atual, onde convergem e se precipitam os

    tempos histricos, abrindo as perspectivas de uma complexidade

    onde se amalgamam o natural, a tecnologia e o simblico; onde

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    30 31CAPULO I CAPULO I

    Anais do Congresso Direito ambiental e Economia: o desafio do sculo XXI Parte I. Desenvolvimento, Economia e Meio ambiente

    se (re)significam tradies filosficas e identidades culturais diante

    da ciberntica, da comunicao eletrnica e da biotecnologia.

    O saber ambiental se configura na hibridao do mundo

    marcado pela tecnologizao da vida e economizao da nature-

    za, pela mestiagem das culturas, pelo dilogo dos saberes e pela

    disperso de subjetividades, onde esto se (re)significando os sen-

    tidos da existncia contracorrente do projeto unitrio e homoge-

    neizante da modernidade. empos em que emergem novos valorese racionalidades que reorientam a construo do mundo.

    A evoluo da sociedade, associando-a crise civilizatria,

    cuja expresso visvel atravs da atual a racionalidade econmica

    e tecnolgica so dominantes:

    A degradao ambiental emerge do crescimento e daglobalizao econmica. [Ela] se manifesta no s nadegradao das bases da sustentabilidade ecolgica doprocesso econmico, mas como uma crise de civilizaoque questiona a racionalidade do sistema social, os valo-res, os modos de produo e os conhecimentos que ossustentam (LEFF, 2001, p.56).

    Conforme Leff (2001), fica evidenciado, a partir dos anos

    60, que a crise ambiental surge da irracionalidade ecolgica dos

    padres dominantes de produo e consumo, marcando os limitesdo crescimento econmico. Neste contexto, emerge uma consci-

    ncia ambiental e na percepo desta crise ambiental, a apropria-

    o do conceito de ambiente. Assim, a noo de sustentabilidade

    foi sendo divulgada e vulgarizada at fazer parte do discurso oficial

    e da linguagem comum, um discurso dominante da sustentabili-

    dade.

    Em resposta ao pensamento neoliberal ambiental, que

    busca delimitar as resistncias da cultura e da natureza submissas

    dentro da lgica do capital, a questo ambiental passa pela valo-

    rizao da diversidade tnica e cultural da espcie humana, pela

    fomentao da valorizao de diferentes formas de manejo produ-

    tivo da biodiversidade. Leff (2001)sugere que uma problemtica

    ambiental no deve situar-se apenas no domnio do social nem

    do natural, nem numa formulao de uma teoria geral formal,

    vazia de contedos reais; ao contrrio, dever observar que estes

    sistemas esto dialeticamente imbricados e possuem autonomias einterdependncias simultneas.

    A partir deste contexto, Leff (2001) aponta para a descons-

    truo do paradigma econmico/instrumental da modernidade e

    para a reconstruo de outros futuros possveis, baseados nas es-

    tratgias do ecodesenvolvimento.

    Postula-se a necessidade de fundar novos modos de produ-

    o e estilos de vida, alicerados pelas condies e potencialidades

    ecolgicas de cada regio, assim como na diversidade tnica e na

    autonomia das populaes para a gesto democrtica dos seus re-

    cursos.

    A construo deste novo paradigma e sua legitimao de-

    pende, no entanto, da formao de uma conscincia coletiva, da

    emergncia de novos atores sociais e da conduo de aes polti-

    cas atravs de novas estratgias de poder em sociedades democra-

    ticamente imperfeitas onde a conscincia ambiental pervertida

    pelas formas de controle dos poderes dominantes, ou seja, envolve

    a relao de foras que surge no confronto de interesses diferen-

    ciados.

    A partir da percepo da crise ecolgica atual e da necessi-

    dade de se construir este novo paradigma alternativo de produo,

    baseado nas premissas do ecodesenvolvimento, Leff (2001, p. 17)

  • 7/25/2019 Congresso Direito Ambiental e Economia o Desafio Do Seculo XXI

    18/378

    32 33CAPULO I CAPULO I

    Anais do Congresso Direito ambiental e Economia: o desafio do sculo XXI Parte I. Desenvolvimento, Economia e Meio ambiente

    prope uma nova configurao para o conceito de ambiente, pas-

    sando a ser entendido como:

    [...] uma nova viso do desenvolvimento humano, quereintegra os valores e potenciais da natureza, as externali-dades sociais, os saberes subjugados e a complexidade domundo, negados pela racionalidade mecanicista, simpli-ficadora, unidimensional e fragmentadora que conduziuo processo de modernizao.

    Dada a complexidade da problemtica ambiental e dosmltiplos processos que a caracterizam Leff (2001) questiona a

    fragmentao e compartimentalizao do conhecimento discipli-

    nar, incapaz de explic-lo e resolv-lo. A construo de uma racio-

    nalidade ambiental implica portanto, a formao deste novo saber

    e a integrao interdisciplinar do conhecimento para explicar o

    comportamento de sistemas socioambientais complexos.

    A retotalizao do saber proposta pela problemtica am-

    biental muito mais do que a soma de conhecimentos de di-

    ferentes disciplinas ou a integrao de saberes diversos por uma

    metalinguagem comum, ou seja, implica a transformao dos

    seus conhecimentos para ento internalizar o saber ambiental,

    que emerge do espao de excluso gerado no desenvolvimento das

    cincias centradas em seus objetos de conhecimento e que produz

    o desconhecimento de processos complexos que escapam expli-

    cao dessas disciplinas, ocupando seu lugar no vazio deixado pelo

    progresso da racionalidade cientfica.

    ratando do tema ambiental e a importncia da ao con-

    junta para buscar a sustentabilidade Sen (2010), o papel de cada

    cidado na poltica ambiental, deve envolver a capacidade de pen-

    sar, valorizar e agir, e isso requer conceber os seres humanos como

    agentes, em vez de meramente recipientes. Aborda nesse sentido

    que a postura passiva de recipiente atende o interesse de merca-

    do e portanto, garante o cumprimento do papel de consumidor.

    A ideia de reflexo/ao leva ao debate da democracia, pois a for-

    mao do pensamento crtico, demandar espaos de participao

    do cidado na defesa de seus pontos de vista, proporcionando a

    mudana prtica comportamental.

    Para Latouche (2009) a mudana indispensvel no se far

    apenas com uma eleio, instituindo um novo governo. O que necessrio segundo este autor bem mais radical, uma revoluo

    cultural, nem mais nem menos, que deveria culminar numa re-

    fundao do poltico,com uma nova viso de bem estar com mu-

    danas prticas como a adoo de uma alimentao saudvel, mais

    lazer e convivialidade. Anda segundo Latouche (2009, p. 87), o

    desenvolvimento com sustentabilidade tem de ser uma espcie

    de sntese entre a tradio perdida e a modernidade inalcanvel.

    Como ensina Leff (2001), o saber ambiental no est aca-

    bado, concludo em um paradigma j construdo, mas est em

    processo de gesto, em busca de suas condies de legitimao

    ideolgica, de concepo terica e de objetivao prtica. al sa-

    ber emerge de um processo transdisciplinar de problematizao e

    transformao dos paradigmas dominantes do conhecimento. O

    saber ambiental no se forma e nem se esgota nos laboratrios ou

    nas aulas universitrias. um saber que se constitui na aplicao

    das cincias aos problemas ambientais, num dilogo entre os co-

    nhecimentos acadmicos e os saberes populares.

    6 CONSIDERAES FINAIS

    A proposta de anlise desenvolvida neste ensaio buscou

    colocar alguns postulados inerentes ao processo de construo do

  • 7/25/2019 Congresso Direito Ambiental e Economia o Desafio Do Seculo XXI

    19/378

    34 35CAPULO I CAPULO I

    Anais do Congresso Direito ambiental e Economia: o desafio do sculo XXI Parte I. Desenvolvimento, Economia e Meio ambiente

    conhecimento, portanto postulados metodolgicos, bem como

    aspectos substanciais e fundamentais para uma educao com-

    preendida com a sustentabilidade. A educao requer mudana

    comportamental e esta somente acontece como resultante da acu-

    mulao de valores e informaes, processo possvel na construo

    cultural que o ser humano desenvolve a cada dia. A acumulao

    e consolidao de valores alcanam dimenses ticas da cultura

    e do viver humano. A aproximao entre as pessoas acontecerpelo amor mundi, porquanto, em se tratando de ambiente, o amor

    mundi reflete-se no desejo de que o espao seja adequado vida da

    coletividade, assegurando no apenas a saciedade, mas, sobretudo

    a felicidade, concebida como vida plena de significado, em que

    para alm do sobreviver e garantir a satisfao das necessidades de

    ordem biolgica, somos capazes de agir, pensar, amar, conviver,

    fazer escolhas e participar politicamente.

    Valorizar tais condutas requer um cidado ressignificado,

    buscando suplantar a racionalidade econmica, individualista e

    de consumo, para um conjunto de saberes do bem estar, da soli-

    dariedade da erotizao pela natureza e pelo outro, em busca de

    uma racionalidade ambiental. Quem sabe esta racionalidade seja

    capaz de reconstruir a tradio perdida e alcanar a modernidade

    ainda inacessvel, de efetiva construo da interculturalidade. ais

    mudanas no viriam para conformar outro modelo encapsulado

    de conhecimentos, mas um processo permanente de diversidade.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    ANUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. Rio de Janeiro:Editora Lumen Juris, 2005.

    AREND, Hannah. A Crise da Cultura. In: AREND, Hannah.

    Entre o passado e o futuro. So Paulo: Perspectiva, 1972.

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    FLORIANI, Dimas. Educao Ambiental, epistemologia emetodologias.Curitiba: Vicentina, 2003.

    FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e erra,

    1987.

    _______. Pedagogia da autonomia: saberes necessrios prticaeducativa. So Paulo: Paz e erra, 1996.

    GUIMARES, Mauro.A formao de educadores ambientais.Campinas: Papirus, 2004.

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    LEFF, Enrique. Epistemologia Ambiental. rad.: Sandra Ve-lenzuela. 3. ed. So Paulo: Cortez, 2002.

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    MORIN, Edgar. Os Sete Saberes necessrios a Educao do Fu-turo.Braslia: Editora Cortez/UNESCO, 2000.

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    37CAPULO II

    Parte I. Desenvolvimento, Economia e Meio ambiente

    CAPULO II 37

    CAPULO IIINFORMAO AMBIENAL PARA A PRESERVA

    O DO

    MEIO AMBIENE CULURALAline Andrighetto

    Daniel Rubens Cenci

    RESUMO:O presente ensaio visa demonstrar a maneira como possvel resgatar a consci-ncia ambiental a fim de evitar danos irrecuperveis ao meio ambiente e, con-sequentemente, vida humana, porquanto a conservao do meio ambiente responsabilidade de todos. Constata-se a multiplicao de identidades culturaisem meio ao desenvolvimento de polticas comunitrias que buscam a formaode coletividades ou de sociedades homogneas e purificadas em seus aspectostnicos, polticos e culturais. No dilogo intercultural a troca no se limita aosdiferentes saberes, mas tambm s distintas culturas, ou seja, entre os variadosuniversos de sentidos do meio ambiente.

    PALAVRASCHAVE:

    Cidado. Ambiente. Informao. Cultura.

    1 CONSIDERAES INICIAISCom o passar dos anos tem-se acompanhado as mudanas

    ambientais e dos fatores responsveis pelas suas transformaes. O

    ser humano utiliza o meio ambiente para desenvolver estruturas

    mais adequadas ao seu estilo de vida, o qual est em sempre

    sofrendo mudanas. Alm disso, a nsia de modernizao dos es-

    paos deixa o homem cego na busca por maior conforto.

    O ser humano perdeu a conscincia ambiental, pois tem

    sido relapso com seu planeta, deixando danos irrecuperveis ao

  • 7/25/2019 Congresso Direito Ambiental e Economia o Desafio Do Seculo XXI

    21/378

    38 39CAPULO II CAPULO II

    Anais do Congresso Direito ambiental e Economia: o desafio do sculo XXI Parte I. Desenvolvimento, Economia e Meio ambiente

    ordem econmica e social.

    Consequentemente, na condio de cidado, o homem

    deveria tornar-se titular do direito ao ambiente ecologicamente

    equilibrado e tambm sujeito ativo do dever fundamental de pro-

    teg-lo. Deste modo, h de se verificar que o ser humano em sua

    totalidade deve reavaliar suas aes com relao ao Meio Ambien-

    te e mudar sua maneira de agir, a fim de transformar o meio em

    que vive e modificar o seu modo de sobrevivncia.Ademais, importante neste momento, saber o que est

    levando o homem a ter atitudes degradantes, ou seja, conhecer

    os fatores que desencadeiam o caos ambiental, tendo basicamente

    como responsvel o prprio homem, que tambm o maior pre-

    judicado.

    O ser humano, considerado ser racional e social, deveria

    agir no apenas para o seu prprio bem-estar, mas tambm para

    colaborar com a sobrevivncia da humanidade. O que se pretende

    esclarecer, portanto, a necessidade de aes eficazes e com efeito

    moral, ou seja, que todo cidado deve, sobretudo, entender que

    deve se posicionar de forma legtima e eficaz.

    2 INFORMAO AMBIENAL

    A informao assume um papel de expressiva relevncia

    na atualidade com a incluso do ciberespao, da multimdia e da

    internet. Os meios de comunicao/informao constituem-se

    numa ferramenta de motivao e sensibilizao das pessoas para

    transformar o mundo mediante a participao de todos na busca

    pela qualidade de vida. A crtica s rgidas hierarquias na fam-

    lia, na escola, nas fbricas, no Estado, nas relaes internacionais;

    ao colonialismo, desigualdade social, ao racismo, ao machismo,

    meio ambiente e, consequentemente, vida humana. Entretan-

    to, afirmam pesquisadores da temtica, para que se possa pensar

    e falar em um futuro, essa conscincia precisa ser recuperada. A

    partir da o ser humano levado a refletir acerca da necessidade de

    uma nova percepo da relao existente entre homem e natureza,

    uma vez que a conservao do meio ambiente responsabilidade

    de todos.

    De certa maneira, o homem tornou-se adversrio de seuprprio planeta, pois houve um rompimento de paradigmas que o

    levou a menosprezar suas obrigaes com o meio. A noo de na-

    tureza e suas formas de vida so de expressiva importncia devido

    aos grandes biomas encontrados no planeta.

    O homem deixou de agir de acordo com os preceitos confe-

    ridos pela Carta Magna, e passou a ignorar o direito fundamental

    de todos os cidados ao meio ambiente ecologicamente equilibra-

    do, agindo com descaso consigo e com seu semelhante.

    A Constituio Federal de 1988 aumentou o rol de direitos

    e garantias previstos em seu texto fundamental, levando o Estado

    brasileiro a reverter a sua percepo de deveres do sdito em

    obrigaes de cidadania, com fundamento nos direitos dos ci-

    dados. No foi sem razo que o princpio da dignidade humana

    passou a ser considerado um dos fundamentos do Estado Demo-

    crtico de Direito no Brasil, com o entendimento de que, alm

    de fundamento do Direito Internacional dos Direitos Humanos,

    passou a ser igualmente fundamento das ordens jurdicas internas.

    Com isso, a Constituio Federal abarcou direitos civis e polti-

    cos, assim como direitos econmicos, sociais e culturais. Esta foi,

    portanto, a primeira Constituio a inserir os direitos sociais em

    sua declarao, os quais se encontravam, at ento, esparsos pela

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    40 41CAPULO II CAPULO II

    Anais do Congresso Direito ambiental e Economia: o desafio do sculo XXI Parte I. Desenvolvimento, Economia e Meio ambiente

    a uma soluo efetiva para este problema.

    A este respeito se posiciona Jacobi (2014, p. 4):

    O tema da sustentabilidade confronta-se com o paradig-ma da sociedade de risco. Isso implica a necessidade dese multiplicarem as prticas sociais baseadas no fortale-cimento do direito ao acesso informao e educaoambiental em uma perspectiva integradora. E tambmdemanda aumentar o poder das iniciativas baseadas napremissa de que um maior acesso informao e trans-parncia na administrao dos problemas ambientaisurbanos pode implicar a reorganizao do poder e daautoridade.

    H necessidade de incremento dos meios de informao

    e o acesso a eles, bem como do papel dos educadores, conside-

    rados caminhos para a mudana do atual quadro de degradao

    ambiental. Somente assim ser possvel promover o crescimento

    da conscincia ambiental, expandindo a possibilidade de a popu-

    lao participar cada vez mais das decises acerca do ambiente,

    como uma forma de fortalecer a responsabilidade de cada cida-

    do. Nesse sentido, Silva (2010, p. 33) menciona que a crescente

    intensidade desses desastres ecolgicos despertou a conscincia

    ecolgica por toda parte, at com exagero.

    A Rio 92 tratou dos problemas ambientais mundiais e, na-quela ocasio foi desenvolvido o ratado de Educao Ambiental

    para Sociedades Sustentveis e Responsabilidade Global, que esti-

    pulou princpios e um plano de ao para educadores ambientais,

    estabelecendo uma relao entre as polticas pblicas de educao

    ambiental e a sustentabilidade. A partir desse evento foram enfa-

    tizados os processos participativos do homem na promoo do

    meio ambiente, voltados para a sua recuperao, conservao e

    melhoria, bem como para a elevao da qualidade de vida. No

    ao eurocentrismo e seu racismo, sua razo tcnica, sua cincia

    reducionista, seu materialismo economicista; ao militarismo, ao

    consumismo, ao produtivismo , foi tecida a partir de mltiplos

    movimentos de libertao nacional de jovens, operrios, negros,

    camponeses, indgenas, ambientalistas que por todos os lados cla-

    mavam por novas sensibilidades, pelo direito ao trabalho livre,

    bradando que proibido proibir (PORO-GONALVES,

    2006, p. 19).Entende-se que a Educao Ambiental motivadora dessa

    questo, pois cada vez mais ela assume uma funo transformado-

    ra. Ademais, a corresponsabilizao dos indivduos um objetivo

    essencial para promover o desenvolvimento sustentvel. E, apesar

    de ainda no ser suficiente, ela condio necessria para modifi-

    car um crescente quadro de degradao socioambiental (JACOBI,

    2014).

    A Educao Ambiental, portanto, a partir do estudo de te-

    mas de cunho social, poltico e econmico, tem sido primordial

    na busca pela reconstruo do meio ambiente.

    Segundo entendimento de Sparemberger e Paviani (2006,

    p. 12) a este respeito:

    A educao ambiental (EA) se transforma em um me-canismo de treinamento dos seres humanos, no senti-do de melhor utilizar os recursos naturais dos quais sosenhores, inclusive retirando dessas alternativas menosagressivas ao meio ambiente natural o mximo de lucropossvel, de forma a melhor atender aos moldes propos-tos pelo capitalismo.

    Percebe-se, contudo, que as modificaes ocorridas no

    mundo todo no so apenas de carter social e tecnolgico. O

    planeta erra est cada dia mais degradado e no se chegou ainda

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    42 43CAPULO II CAPULO II

    Anais do Congresso Direito ambiental e Economia: o desafio do sculo XXI Parte I. Desenvolvimento, Economia e Meio ambiente

    A legislao que regula o acesso informao Lei n.

    12.527, de novembro de 2011 pode ser considerada um instru-

    mento bem utilizado no tocante s preocupaes ambientais, pois

    dispe sobre os procedimentos a serem observados pela Unio,

    Estados, Distrito Federal e Municpios, com o fim de garantir o

    acesso a informaes, segundo prev o inciso XXXIII do art. 5o, o

    inciso II do 3 do art. 37, e o 2 do art. 216 da Constituio

    Federal de 1988 (CF/88). Seu contedo assevera que dever dopoder pblico a gesto transparente da informao, propiciando

    amplo acesso a ela e a sua divulgao (art. 6, I). Apesar de a lei

    no fazer meno temtica ambiental, importante assegurar

    que a informao acerca das prticas ambientais est assegurada

    pelo poder pblico, especialmente num momento em que h uma

    preocupao efetiva com o ambiente. Um exemplo de informa-

    es simples que podem ser divulgadas diz respeito coleta sele-

    tiva de lixo, aos pontos de coleta de materiais reciclveis, s reas

    de preservao ambiental, enfim, s medidas educativas que visam

    responsabilidade cidad de todos. De outra banda, no mbito

    da Unio, constam informaes legislativas e boas prticas e, no

    mbito Estadual, a possibilidade de visitao s reas verdes e uma

    possvel aula prtica sobre os ecossistemas de cada regio.

    Segundo Mendona (2004, p. 13), o estabelecimento das

    relaes sociais, polticas e econmicas da Era Moderna impe

    uma nova dinmica s cidades, consideradas ponto-chave das re-

    laes capitalistas de produo, as quais passam a centralizar cada

    vez mais a produo, o consumo, a circulao, enfim, o poder.

    Neste contexto, o ambiente natural a paisagem intocada antes

    da interveno humana testemunhar transformaes mais pre-

    datrias quanto mais interesses tiverem as relaes de produo.

    entendimento de Santos (2012, p. 235), no passado o homem

    escolhia da natureza aquelas partes ou aspectos fundamentais ao

    exerccio da vida, valorizando, diferentemente, segundo os lugares

    e as culturas, as condies naturais que constituam a base mate-

    rial da existncia do grupo. As aes do homem se incorporavam

    no sentido de transformar sem grandes riscos.

    O atual conceito de desenvolvimento sustentvel representa

    um importante avano na medida em que alguns planos sociaisforam desenvolvidos para que o homem, como cidado, pudesse

    exercer seus propsitos de contribuio para o bem do meio am-

    biente. medida que percebeu essa necessidade, o homem passou

    a dar incio a um processo de contribuio cidad ao planeta. O

    desafio ambiental, entretanto, est no centro das contradies do

    mundo moderno colonial, uma vez que a ideia de progresso e, sua

    verso mais atual desenvolvimento , rigorosamente, sinni-

    mo de dominao da natureza (PORO-GONALVES, 2006,

    p. 61).

    No intuito de compreender a Educao Ambiental como

    possibilidade de reafirmao do homem para o exerccio da cida-

    dania no contexto ambiental, verifica-se que cidadania est aliada

    identidade e, portanto, pertence coletividade. Como formao

    e exerccio de cidadania, a Educao Ambiental se refere a uma

    nova forma de encarar a relao do homem com a natureza, base-

    ada numa nova tica, que pressupe outros valores morais e uma

    forma diferente de ver o mundo e os homens. Assim, ela deve ser

    vista como um processo de permanente aprendizagem que valo-

    riza as diversas formas de conhecimento e forma cidados com

    conscincia local e planetria no sentido de informar, conscienti-

    zar e instruir.

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    44 45CAPULO II CAPULO II

    Anais do Congresso Direito ambiental e Economia: o desafio do sculo XXI Parte I. Desenvolvimento, Economia e Meio ambiente

    so repassados somente para as entidades governamentais. A in-

    formao ambiental deve ser transmitida sistematicamente, e no

    s nos chamados acidentes ambientais. (MACHADO, 2010, p.

    100).

    Um ponto importante a ser discutido no mbito municipal

    a coleta seletiva de lixo, pois alm de lixeiras prprias para este

    fim, cartilhas de instrues sobre a separao do lixo poderiam

    ser disponibilizadas. Castells (2000, p. 370) afirma que [...] emum mundo cada vez mais saturado de informaes, as mensagens

    mais eficientes so tambm as mais simples e mais ambivalentes,

    de modo a permitir que as pessoas arrisquem suas prprias pro-

    jees.

    A Internet foi fundamental na divulgao dos movimen-

    tos ambientalistas, permitindo que a conscincia de um nmero

    maior de pessoas fosse atingida. Segundo Fiorillo (2012, p. 91), o

    uso da Internet como meio de divulgao de informaes cria re-

    des divulgadoras de projetos, que identificam diferentes estratgias

    de desenvolvimento. No Brasil, algumas comunidades indgenas

    utilizam a Internet como ferramenta de dilogo intercultural3.

    Outra situao detectada a informao educativa no senti-

    do de conscientizar o cidado a adotar prticas sustentveis, como

    economizar energia eltrica e evitar o desperdcio de gua. Nesse

    mesmo rumo afirma Loures (2014, p. 3):

    O direito informao , portanto, um dos instrumen-tos de efetivao do princpio da participao e, ao mes-mo tempo, de controle social do Poder, permitindo aatuao consciente e eficaz da sociedade, no desenvolvi-mento e na implementao das polticas pblicas dire-

    cionadas rea ambiental.

    3 O dilogo intercultural das comunidades indgenas pode ser acessadono site: . Acesso em: 07 mar. 2014.

    Ao se considerar o tema ambiental, cabe mencionar que a

    sonegao de informaes pode gerar danos irreparveis ao am-

    biente e sociedade, a qual usa sua falta como argumento para

    o descaso. Nos termos do art. 225, VI, da CF/88, a Educao

    Ambiental considerada promotora de ensino e conscientizao

    para a preservao e conservao do meio ambiente, ou seja, ela

    age no intuito de ensinar e informar. Deve ser usada, portanto,

    como aliada para garantir o meio ambiente equilibrado e sadio,bem como dar publicidade, ou seja, tornar disponvel e pblico

    o estudo e o resultado de atitudes sustentveis, o que implica na

    obrigao ao fornecimento de informao ambiental. Segundo

    Machado (2010, p. 98), A informao serve para o processo de

    educao de cada pessoa e da comunidade. Mas a informao visa,

    tambm, a dar chances pessoa informada de tomar posio ou

    pronunciar-se sobre a matria informada.

    Em mbito internacional, a Conveno de Aarthus, realiza-

    da na Dinamarca, no dia 25 de junho de 1998, que versou sobre o

    acesso informao, em seu art. 2, item 3, previu que a expresso

    informao sobre meio ambiente designa toda a informao dis-

    ponvel sob forma escrita, visual, oral, ou eletrnica ou sob qual-

    quer outra forma material1.

    A Declarao de Limoges2 outro documento internacio-

    nal que destaca a informao ambiental como primordial dentre

    os demais textos. O que se percebe dentre os tratados interna-

    cionais a falta de divulgao de relatrios e informes, os quais

    1 O texto da Conveno de Aarthus pode ser acessado no site: . Acesso em: 15 mar. 2014.2 O texto da Declarao de Lumages pode ser acessado no site: . Acesso em: 15 mar.2014.

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    Anais do Congresso Direito ambiental e Economia: o desafio do sculo XXI Parte I. Desenvolvimento, Economia e Meio ambiente

    tambm essencial para a obteno da poltica efetiva,desde que ela habilite cada indivduo para ter algum im-pacto nas decises que afetam o bem-estar da comuni-dade. [...] crucial para a expanso da opinio poltica epara testar nosso julgamento, e representa, neste sentido,um elemento essencial na constituio de uma vibrantee democrtica cultura poltica.

    Alm da identidade poltica, a cidadania deve buscar alguns

    valores sociais, os quais so de suma importncia para a sobrevi-

    vncia do homem. No presente estudo se busca a conscincia dapreservao ambiental, bem como o que deve ser feito para alcan-

    ar o desenvolvimento sustentvel.

    A cidadania, definida por princpios de justia e igualdade,

    pe prova a populao a fim de que busque alguns ideais, alm

    de exercitar e fazer valer direitos e deveres que abram mais espaos

    no novo mundo. Fiorillo (2012, p. 29) afirma que a dignidade so-

    cial dos cidados consiste na proclamao da validade cvica de to-

    dos os cidados, independentemente de sua insero econmica,

    social, cultural e poltica, proibindo tratamentos discriminatrios.

    Ao se referir preservao do meio ambiente, a cidadania assume

    grandes propores ideolgicas e tecnolgicas, fazendo com que

    o homem tenha conscincia de que os males causados naturezapodem reverter em problemas para si prprio.

    O que se pretende neste sentido, fazer com que o homem,

    enquanto ser racional, entenda que caso no se responsabilizar e

    no tomar atitudes com relao ao que est acontecendo ao pla-

    neta, poder sofrer graves leses que, em alguns anos, no mais

    podero ser revertidos.

    O desafio atual fortalecer a Educao Ambiental a fim de

    viabilizar uma prtica educativa que, de forma incisiva, combata

    a degradao ambiental e os problemas sociais. Ao se formar um

    O assunto referente Sustentabilidade Urbana funda-

    mental para o debate ambiental, mas no se pode menosprezar

    as discusses a respeito do Meio Ambiente Cultural, o qual iden-

    tifica, historicamente, os objetos, as danas, os costumes de um

    determinado territrio ou nao. H uma grande dificuldade em

    aceitar as diferenas culturais existentes de maneira a interpret-

    -las e torn-las essenciais para a identificao de grupos sociais.

    Segundo Leff (2012, p. 20), a epistemologia ambiental uma poltica do saber que tem por finalidade dar sustentabilidade

    vida. Este reconhecimento histrico-cultural imprescindvel

    para que haja uma convivncia harmnica de respeito com o meio

    ambiente, alm da necessidade de reconstruo de um espao in-

    tercultural.

    3 CIDADANIA E MEIO AMBIENE

    O desafio da construo de uma cidadania ativa tem como

    elemento determinante a constituio e o fortalecimento de su-

    jeitos cidados que, portadores de direitos e deveres, assumam a

    criao de novos espaos de participao nos movimentos sociais

    em busca de melhorias de vida para si e seu planeta.

    A cidadania uma definio da ideia de direitos, em que o

    cidado passa a ter o direito de ter direitos. Sua prtica depende

    da reativao da esfera pblica em que indivduos devem agir co-

    letivamente e se empenhar em deliberaes comuns sobre todos os

    assuntos que afetam a comunidade.

    Segundo Vieira e Bredariol (1998, p. 29), a prtica da ci-

    dadania

    [...] essencial para a constituio da identidade polti-ca baseada em valores de solidariedade, autonomia e doreconhecimento da diferena. Cidadania participativa

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    48 49CAPULO II CAPULO II

    Anais do Congresso Direito ambiental e Economia: o desafio do sculo XXI Parte I. Desenvolvimento, Economia e Meio ambiente

    to de direitos e obrigaes, uma vez que o conceito de cidadania

    ainda se encontra aliado ideia de sociedade civil. A cidadania,

    porm, reforada pelo Estado, enquanto que a sociedade civil

    abrange grupos que podem estar em harmonia ou em conflito.

    Enfim, pode-se afirmar que ambas devem ser trabalhadas de ma-

    neira igualitria e comum.

    A sociedade civil cria grupos e os pressiona em direo a

    determinadas opes polticas, produzindo estruturas que favo-recem a cidadania. Ao fazer parte da esfera pblica, contudo, em

    que as associaes se engajam em debates, a sociedade civil forma

    a maior parte das lutas pela cidadania, as quais so realizadas por

    meio de interesses dos grupos sociais.

    Na busca pela relao entre cidadania e sociedade civil, Ja-

    noski (1998, p. 37) refere:

    que a integrao entre teoria poltica e um vis mais em-prico se torna impositiva. Para tal, preciso avaliar ecomparar as teorias polticas com os tipos particularesde regimes, isto , a teoria liberal com os regimes libe-rais, o comunitarismo com os tradicionais e a teoria dademocracia extensiva com os regimes de social-democra-cia. Para melhor compreenso das distines entre taisregimes, importa considerar os direitos e as obrigaes

    do cidado em cada circunstncia.

    O cidado brasileiro possui inmeras obrigaes perante a

    sociedade e uma delas zelar pelos direitos fundamentais e pela

    dignidade humana, fazendo valer o que lhe confere a Constituio

    Federal.

    Quando o assunto cidadania, fala-se muito em direitos e

    deveres, bem como em conceitos que enfocam o cidado como

    pessoa, formador de opinies e transformador da sociedade. Em

    outras palavras, um ser poltico que, devido necessidade de mu-

    cidado consciente ser possvel concretizar o que a sociedade ne-

    cessita em termos de cidado ecolgico, isto , uma pessoa bem

    informada e socialmente responsvel pelo meio em que vive.

    Ao se falar em cidadania, contudo, deve-se atentar sua

    forma restrita, evitando seu desvirtuamento sob os aspectos do

    direito social, a exemplo do que sugere Marshall (1967). Em seus

    estudos o autor j previa que a cidadania composta por direitos

    civis e polticos, entendidos como direitos de primeira gerao,enquanto que os direitos sociais so considerados direitos de se-

    gunda gerao.

    Os direitos civis, particularmente, so caracterizados em

    funo de sua concepo humanista, em que ao cidado con-

    cedido o direito individualista de ir, vir, gozar, dispor, ou seja, o

    direito de igualdade e de liberdade.

    Com a chegada do novo sculo e, tambm, de um novo

    milnio, vrias discusses foram realizadas a respeito da vida hu-

    mana neste planeta, em especial sobre as atitudes do homem no

    meio em que vive. Assim, ao se falar em cidadania do sculo XXI,

    forma-se um vnculo entre o homem e os direitos individuais e

    de pertena a uma comunidade particular, em que ele sempre

    colocado acima de todos os debates.

    O posicionamento de Vieira (2001, p. 227-228) a este res-

    peito que no existe, at hoje, nenhuma teoria da cidadania,

    mas importantes contribuies tericas j foram dadas a respeito

    da tenso entre os diversos elementos que compem o conceito de

    cidadania, esclarecendo melhor as razes de sua atualidade neste

    incio de sculo.

    importante referir ainda a responsabilidade do Estado

    juntamente com o cidado, especialmente no que se refere ques-

  • 7/25/2019 Congresso Direito Ambiental e Economia o Desafio Do Seculo XXI

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    50 51CAPULO II CAPULO II

    Anais do Congresso Direito ambiental e Economia: o desafio do sculo XXI Parte I. Desenvolvimento, Economia e Meio ambiente

    O fato que cada um, na qualidade de operador de Direi-

    to, com todas as garantias que lhe so dadas (e neste ponto fala-se

    muito a respeito do cidado brasileiro, que realiza seu trabalho de

    forma honrada, considerando a necessidade do grupo social or-

    ganizada em sindicatos, grupos comunitrios e associaes), deve

    praticar o exerccio de cidado de Direito.

    A este respeito menciona Milar (2011, p. 342-343):

    A Educao Ambiental pode proporcionar meios peda-ggicos e mtodos de participao comunitria, objeti-vando alertar a conscincia e formar atitudes de cuidadocvico e preservao ante os diferentes bens e valores cul-turais. mais do que oportuno necessrio, mesmo utilizar todo o espao pblico para este fim e, sempreque possvel, prximo a bens tutelados e por meio decampanhas sistemticas.

    A dificuldade que ocorre neste sentido pode ser exemplifica-

    da com o Direito Ambiental, que tem sido assunto de abordagem

    pontual face globalizao e aos prejuzos causados sade da

    populao. Na realidade, todos so considerados responsveis, isto

    , cada pessoa deve se conscientizar de que os males causados ao

    meio ambiente, de forma invarivel se refletiro em males sua

    sade.Problemas como poluio do ar, guas impotveis, alimen-

    tos envenenados, dentre outros, podem causar inmeras doenas,

    como: intoxicao, cncer, problemas respiratrios, estomacais e

    at mesmo a morte. udo isto consequncia da agresso do ci-

    dado ao meio ambiente que, na verdade, deveria tomar atitudes

    que refletem na sadia qualidade de vida. Ao invs de to somente

    cobrar atitudes dos seus representantes, cada cidado deveria zelar

    pela preservao e conservao do meio ambiente em conjunto

    com o Poder Pblico.

    danas e avanos tecnolgicos e cientficos, deixou de pensar nes-

    ses direitos e deveres para se preocupar com o seu prprio bem-

    -estar.

    A cidadania poltica no Brasil e no mundo reflete-se em

    aes que transformam a vida da populao, tanto no mbito po-

    ltico, quanto social. O cidado espera de seus governantes, por

    meio de instrumentos polticos, uma melhora considervel no es-

    tilo e na qualidade de vida. Esses instrumentos, porm, acabamrestritos apenas a problemas polticos e econmicos, e deixam de

    lado consideraes do homem como ser social. Em consequncia,

    o dever de transformar o cidado em governante para que pos-

    sa coordenar trabalhos e projetos, mediante uma atuao social e

    poltica, passa a ser um dos pontos mais discutidos com relao

    cidadania. Essa pessoa, contudo, a que dever colaborar para a

    insero do grupo social e ainda trabalhar para melhoria da quali-

    dade de vida de todos. Leff (2012, p. 46) menciona neste sentido:

    A anlise sociolgica do saber ambiental leva a discernira coerncia entre os enunciados explicativos, valorativose prescritivos do discurso ambiental, seus processos deproduo e sentido, de mobilizao social, de mudanapoltica e de reorganizao produtiva. Dessa forma, esta-

    belecem-se os vnculos entre conhecimento e produoda construo de uma racionalidade ambiental.

    O civismo se destaca como marca de cidadania e, como tal,

    os termos so at mesmo confundidos, se bem que para identificar

    aes de cidadania basta realizar atos de civismo.

    O que se exige de todos os cidados brasileiros so atitudes

    para suprir algumas necessidades bsicas, cujas manifestaes de-

    veriam partir de cada um, de maneira a fazer valer seus direitos e

    garantir a qualidade de vida de todos os seus familiares.

  • 7/25/2019 Congresso Direito Ambiental e Economia o Desafio Do Seculo XXI

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    52 53CAPULO II CAPULO II

    Anais do Congresso Direito ambiental e Economia: o desafio do sculo XXI Parte I. Desenvolvimento, Economia e Meio ambiente

    um patrimnio comum. Esta lealdade entendida como homens

    livres, imbudos de direitos e protegidos por leis comuns. A cida-

    dania vinculada dignidade humana e aos valores de humanidade

    intensifica suas prticas a partir do reconhecimento dooutro e do

    seu prprio reconhecimentopelooutro, o que resulta em mtuos

    vnculos de cuidados. Ademais, pode gerar o surgimento de con-

    dies de segurana e de cuidado desde o cotidiano da vida.

    A sociedade atual lana desafios democracia, a exemplo dacapacidade de confirmar a consolidao da dignidade a todos os

    indivduos e grupos sociais, na busca pela satisfao das necessi-

    dades universais.

    4 DEFESA DO MEIO AMBIENE CULURAL

    O meio ambiente cultural est tutelado nos arts. 215, 216

    e 225 da Constituio Federal de 1988 (CF/88), bem como pelo

    art. 5, inc. XXXV, como direito fundamental que assegura a pos-

    sibilidade de submeter apreciao do Poder Judicirio toda e

    qualquer leso ou ameaa ao patrimnio cultural brasileiro. Os

    bens mencionados pela Carta Magna so de natureza material e

    imaterial que, em conjunto ou individualmente, so portadores

    de referncia da identidade, ao, memria dos diferentes grupos

    formadores da sociedade. Nesse cenrio incluem-se as formas de

    expresso, de criao, os modos de fazer, de viver, as criaes cien-

    tficas, artsticas, tecnolgicas, obras, objetos, documentos, edifi-

    caes e demais espaos destinados s manifestaes artstico-cul-

    turais, bem como os conjuntos urbanos e stios de valor histrico,

    paisagstico, artstico, arqueolgico paleontolgico, ecolgico e

    cientfico (FIORILLO, 2012, p. 76).

    A legislao brasileira garante o direito de um meio equi-

    A expresso cidadania cultural diz respeito luta pela su-

    perao de desigualdades e pelo reconhecimento das reais diferen-

    as existentes entre as pessoas nas suas variadas dimenses sociais

    e culturais. A cidadania cultural se insere na perspectiva democr-

    tica, em que a cultura vista como direito dos cidados, os quais

    possuem o direito de produzir cultura, usufruir os bens da cultura,

    inventar novos significados culturais, ter direito formao cultu-

    ral e artstica e ao trabalho cultural.A construo de espaos para discutir projetos que contri-

    buam para o desenvolvimento das cidades, entretanto, deveria ser

    meta de toda a sociedade civil e no apenas do Estado.

    Ademais, cabe reconhecer a cidadania de substancialidade

    intercultural no como forma de integrao, mas como facilita-

    dora de condies polticas e jurdicas que levam construo de

    um novo cidado, mais co