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3 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Definição do termo negociação (ordem cronológica).............................................19 Quadro 2 - Estratégias de negociação.......................................................................................28 Quadro 3 - Propostas para o processo de negociação...............................................................33 Quadro 4 - Variáveis para diagnóstico da situação a ser negociada (KOZICKI,1999)............35 Quadro 5 - Plano de negociação baseado em conhecimento (SHELL, 2001)..........................36 Quadro 6 - Síntese das diferenças culturais..............................................................................54 Quadro 7 - Modos como a cultura pode afetar a negociação....................................................56 Quadro 8 - Variáveis estudadas no modelo de Money (1998)..................................................65 Quadro 9 - Análise comparativa entre os modelos de Mone y (1998) e Calantone (1998).......68 Quadro 10 - Variáveis estudadas no contexto da negociação internacional .............................80 Quadro 11- Classificação de empresas por número de empregados.........................................84 Quadro 12 - Principais causas da mortalidade de empresas..................................................... 86 Quadro 13 - Objetivos específicos, questões, proposições e variáveis...................................110 Quadro 14 - Categorização das variáveis estudadas...............................................................112 Quadro 15 - Decisões tomadas e informações pesquisadas na fase de preparação................133 Quadro 16 - Síntese das recomendações gerenciais................................................................149

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    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 - Definio do termo negociao (ordem cronolgica).............................................19 Quadro 2 - Estratgias de negociao.......................................................................................28 Quadro 3 - Propostas para o processo de negociao...............................................................33 Quadro 4 - Variveis para diagnstico da situao a ser negociada (KOZICKI,1999)............35 Quadro 5 - Plano de negociao baseado em conhecimento (SHELL, 2001)..........................36 Quadro 6 - Sntese das diferenas culturais..............................................................................54 Quadro 7 - Modos como a cultura pode afetar a negociao....................................................56 Quadro 8 - Variveis estudadas no modelo de Money (1998)..................................................65 Quadro 9 - Anlise comparativa entre os modelos de Money (1998) e Calantone (1998).......68 Quadro 10 - Variveis estudadas no contexto da negociao internacional.............................80 Quadro 11- Classificao de empresas por nmero de empregados.........................................84 Quadro 12 - Principais causas da mortalidade de empresas.....................................................86 Quadro 13 - Objetivos especficos, questes, proposies e variveis...................................110 Quadro 14 - Categorizao das variveis estudadas...............................................................112 Quadro 15 - Decises tomadas e informaes pesquisadas na fase de preparao................133 Quadro 16 - Sntese das recomendaes gerenciais................................................................149

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    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Diferenas culturais nos modelos de comunicao no-verbal...............................50 Tabela 2 - Diferenas culturais nos modelos de comunicao verbal......................................51 Tabela 3 - Participao das MPE na economia brasileira.........................................................86 Tabela 4 - Descrio do processo de seleo dos casos..........................................................107 Tabela 5 - Evoluo do setor mdico-hospitalar e odontolgico............................................120 Tabela 6 - Distribuio da indstria por segmento e regio....................................................121 Tabela 7 - Evoluo do BHP (Brazilian Health Products).....................................................124 Tabela 8 - Distribuio das empresas por porte..125 Tabela 9 - Participao no consrcio de exportao...125 Tabela 10 - Experincia internacional....125 Tabela 11 - Formas de atuao no mercado internacional..126 Tabela 12 - Motivaes para a internacionalizao.127 Tabela 13 - O sucesso nas negociaes internacionais.127 Tabela 14 - Perfil dos responsveis por comrcio exterior.....128 Tabela 15 - Principais dificuldades em relao negociao internacional...129 Tabela 16 - Desenvolvimento das habilidades de negociao129 Tabela 17 - Formas de iniciao de contato internacionais em ordem de preferncia...130 Tabela 18 - Resultados de uma negociao131 Tabela 19 - Preparao e planejamento da negociao internacional.132 Tabela 20 - Planejamento da negociao....132 Tabela 21 - Informaes utilizadas no planejamento da negociao internacional....134 Tabela 22 - Freqncia de utilizao..135 Tabela 23 - Grau de importncia.135 Tabela 24 - Envolvimento de funcionrios na fase de preparao para a negociao....136 Tabela 25 - Decises tomadas antes da rodada de negcios...136 Tabela 26 - Importncia das decises tomadas antes da rodada de negcios.....137 Tabela 27 - Conhecimento e aplicao do conceito de BATNA138 Tabela 28 - Comportamento durante a rodada de negcios137 Tabela 29 - Dificuldades enfrentadas durante a rodada de negcios..138 Tabela 30 - Comportamento ps-acordo....139 Tabela 31 - Distribuio em relao ao sexo..173 Tabela 32 - Formao acadmica...173 Tabela 33 - Experincia no mercado internacional....173 Tabela 34 - Experincia na empresa...174 Tabela 35 - Faixa etria...174 Tabela 36 - Nvel hierrquico na empresa......174 Tabela 37 - Vnculo com a empresa...174

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    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Grade de posicionamento estratgico.......................................................................27 Figura 2 - Os contextos das negociaes internacionais de Phatak e Habib (1996).................63 Figura 3 - Modelo de negociao internacional de Money (1998)...........................................64 Figura 4 - Modelo de negociao de Calantone, Graham e Mintu-Wimsatt (1998).................66 Figura 5 - O papel do afeto em negociaes interculturais.......................................................69 Figura 6 - Influncias culturais em processos de interao de compra e venda.......................71 Figura 7 - Estrutura conceitual de Paik e Tung (1999) para a negociao internacional..........72 Figura 8 - Modelo de negociao intercultural (BRETT, 2000)...............................................73 Figura 9 - Efeitos diretos e indiretos da cultura em negociaes internacionais......................74 Figura 10 - Determinantes da satisfao em exportaes.........................................................75 Figura 11 - Influncia da cultura em estilos de negociao......................................................78 Figura12 - Representao do resultado do levantamento terico.............................................99

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    1 INTRODUO

    1.1 Apresentao

    cada vez maior o fluxo de bens, servios, informao e capital que vem circulando ao redor

    do mundo, entre povos, pases e culturas diferentes. Tal fenmeno recebe o nome de

    globalizao. Trata-se de um processo amplo que envolve pessoas, empresas, pases e

    economias. Pessoas buscam conhecer outras lnguas e culturas para garantir empregabilidade

    em empresas que buscam a internacionalizao como forma de sobrevivncia. Pases

    incentivam exportaes e internacionalizao de empresas, assim como se unem para formar

    blocos comerciais visando aumentar sua participao e competitividade na economia global

    (FLEURY; FLEURY, 2003, MARTINELLI; VENTURA; MACHADO, 2004, SIMINTIRAS;

    THOMAS, 1998, SUEN, 1997, SZAPIRO; ANDRADE, 2001).

    A globalizao um fenmeno de grandes propores, em que se notam, entre outros

    fenmenos, a diminuio das fronteiras e o aumento da interdependncia da economia dos

    pases. muito comum a afirmao de que o processo de globalizao um fenmeno

    diretamente ligado ao progresso da tecnologia da informao (comunicao e informtica),

    assim como da modalidade intercontinental do capital. No entanto, seu significado muito

    mais complexo e dinmico, permitindo que se examine o tema por diferentes dimenses,

    como, por exemplo, econmica, poltica, legal, cultural (SUEN, 1997).

    A literatura da rea relaciona a globalizao com a acelerao das trocas de bens, servios,

    contratos e informaes, das viagens e dos intercmbios culturais. Embora o processo de troca

    entre os povos seja algo muito antigo, detecta-se um aumento na velocidade com que essas

    trocas esto sendo feitas hoje. Essa velocidade seria, portanto, a principal caracterstica do

    processo de globalizao (ZINI; ARANTES, 1996).

    A anlise da globalizao sob o enfoque econmico permite afirmar que, para sobreviver

    neste cenrio, vital para um pas relacionar-se comercialmente com outros pases. Assim

    como para uma empresa ser competitiva necessrio que uma parcela de seus negcios

    ocorra no mercado internacional (MARTINELLI; VENTURA; MACHADO, 2004).

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    Impulsionadas pelo processo de globalizao, as empresas tm buscado uma rpida expanso

    tanto por meio de fuses e aquisies quanto por diferentes formas de cooperao. cada vez

    mais freqente a formao de alianas entre companhias transnacionais, com o objetivo de

    influenciar a seu favor as polticas internas e externas (SANER, 2002).

    Ainda sob esse enfoque, a globalizao tem transformado a vida das empresas, medida que

    permite que a produo e a distribuio de bens de relativa homogeneidade possam ser feitas

    em maiores quantidades, levando a ganhos de economia de escala. Essa tendncia, aliada

    competio que passou a ocorrer em escala mundial, tem levado a uma reestruturao das

    empresas para atender aos requisitos desse novo ambiente global (SUEN, 1997).

    Qualquer que seja o enfoque escolhido para abordar o processo de globalizao, pode-se

    observar que pessoas, empresas, organizaes e pases esto cada vez mais interdependentes,

    dando origem a inmeros conflitos de interesses. Quando se recorre ao senso comum, tem-se

    uma associao do termo conflito a noes negativas como briga, coliso, luta, oposio de

    vontades, estando implcito que apenas um dos lados pode ganhar.

    Como papel da cincia, essa noo foi questionada por vrios autores, uma vez que se

    percebeu que situaes de conflito tambm podem gerar ganhos mtuos e solues criativas.

    Conflito passou a ser visto como resultado da diversidade que caracteriza os pensamentos,

    atitudes, crenas, percepes, bem como o sistema e estrutura social (WEEKS, 1992). Visto

    dessa forma, natural concluir que o conflito inerente s relaes humanas. Sua soluo

    pode ter diferentes caminhos: negociao, sorteio, exame, competio, votao, uso de

    autoridade, uso de normas rgidas e at mesmo luta e guerra.

    Segundo Martinelli e Almeida (1998), a negociao no a nica, mas uma das melhores

    formas de solucionar conflitos quando o objetivo produzir benefcios duradouros para todos

    os participantes. Segundo Hofstede (1991), a negociao ganha relevo como meio de soluo

    de conflitos de interesses entre partes que cada dia esto mais inter-relacionadas, como o

    caso do mercado global.

    Em 1989, Adler e Graham citaram uma estimativa do professor Howard Perlmutter, de 1983,

    segundo a qual mais da metade do tempo dos gerentes internacionais era gasto com

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    negociaes (ADLER; GRAHAM, 1989). Essa citao permite estabelecer um parmetro

    para a importncia da negociao como forma de solucionar conflitos no contexto da

    globalizao.

    Diante dessa importncia, surgiu o interesse em estudar aspectos relacionados negociao

    no cenrio internacional. Para isso, decidiu-se estudar a negociao internacional no contexto

    da pequena empresa. Negociaes internacionais na pequena empresa constituem-se em um

    rico universo para a aplicao dos conceitos de negociao. Primeiramente, porque estudos

    que contribuam para a sobrevivncia da pequena empresa certamente traro benefcios

    econmicos e sociais de grande relevncia (SACHS, 2002). Segundo, porque as principais

    teorias e tcnicas administrativas so desenvolvidas tendo por base grandes estruturas

    organizacionais. Caractersticas especficas da pequena empresa nem sempre so levadas em

    considerao, o que muitas vezes inviabiliza a aplicao dos modelos tericos nesse porte de

    empresa.

    Definiu-se como delimitao geogrfica do estudo a cidade de Ribeiro Preto, que se insere

    em uma regio economicamente importante do pas e se destaca como uma das cidades mais

    desenvolvidas do interior de So Paulo. O potencial econmico da regio de Ribeiro Preto,

    por si s, no indicativo de um desenvolvimento seguro, consistente e efetivo da cidade.

    Ribeiro Preto passa, hoje, por problemas comuns s grandes cidades, como concentrao de

    riquezas, atrao de mo-de-obra no-qualificada, nveis crescentes de desemprego, violncia

    urbana etc. (GARCIA, 1998). A pesquisadora deseja realizar um trabalho que possa gerar

    contribuies ao desenvolvimento local na regio de Ribeiro Preto.

    Para viabilizao deste trabalho, a opo da pesquisadora foi desenvolver um estudo mais

    profundo em um setor relevante, ao invs de um estudo superficial que abrangesse diferentes

    setores. O setor mdico-odontolgico um segmento industrial de grande relevncia na

    cidade de Ribeiro Preto, que se destaca como centro de excelncia no ensino superior na rea

    da sade e na prestao de servios de sade. A existncia dos cursos de sade da

    Universidade de So Paulo, alm de outras faculdades particulares, e de um grande nmero de

    profissionais dessa rea na cidade explica a concentrao de empresas nesse setor (TELLES,

    2002).

  • 10

    1.2 Justificativa

    A justificativa deste estudo est fundamentada nos seguintes aspectos: atualidade do tema

    (insero do tema no contexto atual), originalidade do trabalho (proporciona maior

    importncia ao assunto), relevncia do tema (importncia social e poltica) e pertinncia do

    tema (contribuio do tema).

    Negociao um tema recente, bastante amplo e de larga aplicao, que vem recebendo a

    ateno de muitos autores, tanto no Brasil como no exterior (WEEKS, 1992, KOZICKI, 1999,

    SHELL, 2001, MARTINELLI, 2002, OSMANI-GANI; TAN, 2002, REYNOLDS;

    SIMINTIRAS; VLACHOU, 2003). Segundo Bazerman e Neale (1998, p. 17), todos

    negociam. Para Robinson (1996) todos podem negociar sempre e se negocia desde o dia em

    que se nasce. Mills (1993) tambm destaca a participao da negociao na vida de todos. No

    mundo empresarial, a negociao tem sido vista como um aspecto central na vida das

    organizaes (KIM; FRAGALE, 2005).

    Martinelli e Almeida (1997) destacam a importncia do assunto negociao no momento

    atual. Segundo os autores, a abrangncia do tema, ainda no totalmente explorado, apresenta-

    se como um desafio aos pesquisadores. Sua interdisciplinaridade permite o estudo sob

    diferentes ngulos, ligado a diferentes reas do pensamento cientfico. Neste trabalho, optou-

    se por estudar a negociao internacional na pequena empresa.

    O aumento na velocidade das trocas de bens, servios, contratos e informaes, viagens e

    intercmbios culturais entre povos, pases e culturas diferentes, fruto da globalizao (ZINI;

    ARANTES, 1996, OSMANI-GANI; TAN, 2002), confere maior atualidade escolha da

    negociao no contexto internacional. A rea vem recebendo ateno considervel de

    pesquisadores, e o volume de trabalhos produzidos apresenta tendncia crescente na dcada

    de 1990-2000 (OSMANI-GANI; TAN, 2002, REYNOLDS; SIMINTIRAS; VLACHOU,

    2003).

    A competncia em negociao internacional uma das habilidades mais importantes e

    indispensveis em se tratando de negcios internacionais. A habilidade para obter benefcios

    mtuos em negociaes interculturais vista por vrios autores como crucial para obter

    sucesso no contexto internacional (COHEN, 1980, NIERENBERG, 1981, FISHER; URY,

  • 11

    1985, ADLER; GRAHAM, 1989, SIMINTIRAS; THOMAS, 1998, CHAISRAKEO;

    SPEECE, 2004).

    A importncia de um trabalho cientfico no est relacionada apenas atualidade do tema

    estudado. Temas originais conferem maior relevncia pesquisa. Nesse sentido, a proposta

    estudar a negociao internacional no contexto da pequena empresa. Reynolds, Simintiras e

    Vlachou (2003) realizaram uma reviso bibliogrfica e uma anlise crtica da literatura

    recente (de 1990 a 2000) em negociao internacional. Foram pesquisados 111 trabalhos.

    Segundo os autores, apenas um trabalho (MONEY, 1998) abordou o impacto do tamanho da

    empresa no resultado da negociao. Ainda assim, o trabalho de Money (1998) apenas cita

    que estudos tm mostrado que: (1) os negociadores que representam empresas maiores e mais

    poderosas tm uma probabilidade maior de assumir posio de destaque em negociaes

    multilaterais do que negociadores de empresas menores; (2) os negociadores de empresas

    maiores tendem a ter maior sucesso que os negociadores de empresas menores.

    A reviso bibliogrfica permitiu localizar outro trabalho que aborda o porte da empresa ao

    estudar os fatores de sucesso em negociaes internacionais (GULBRO; HERBIG,1996). Os

    autores concluram que as pequenas empresas tm apresentado insucesso nas negociaes

    interculturais, em um nvel desproporcionalmente maior do que o das grandes empresas.

    Ainda segundo os autores, grandes empresas tendem a ter mais sucesso do que as pequenas,

    no necessariamente em funo do seu tamanho, mas em funo do que o seu tamanho lhe

    permite fazer: mais tempo para a preparao, maior uso de tradutores, mais acesso s

    diferenas culturais e a especialistas. Esses fatores mostraram-se determinantes do sucesso em

    negociaes interculturais, por isso Gubro e Herbig (1996) sugerem que as pequenas

    empresas imitem o comportamento das grandes. Analisar criticamente essa questo faz parte

    do escopo deste trabalho.

    At o momento da redao desta proposta de trabalho, no foi localizado nenhum outro

    estudo emprico relacionando a negociao internacional pequena empresa. Isso conduz

    possibilidade de uma lacuna cientfica, o que confere maior importncia a este projeto de

    pesquisa.

    Alm da originalidade, a deciso de pesquisar as negociaes internacionais em empresas de

    pequeno porte agrega relevncia social a este trabalho. A importncia que as pequenas

  • 12

    empresas tm para a economia de um pas reforada quando o assunto a exportao.

    Segundo Alaby (2003), para ser parte integrante do desenvolvimento econmico de um pas,

    as pequenas e mdias empresas devem participar efetivamente da atividade exportadora. O

    autor cita que, nos EUA e na Itlia, mais da metade das exportaes realizada por empresas

    com menos de 19 empregados. Diferentemente disso, ainda segundo o autor, no Brasil, o

    modelo exportador foi baseado na concentrao dos grandes conglomerados empresariais, que

    representam 85% da pauta exportadora.

    Muito se tem debatido sobre a eficincia do modelo brasileiro de exportaes. Existe

    consenso sobre a preocupao com a concentrao do mercado na mo de poucas empresas e

    a necessidade de diminuir essa concentrao. Em virtude disso, as atenes se voltam para a

    micro e, sobretudo, para a pequena empresa, como forma de viabilizar a expanso do setor de

    exportao (ASSIS, 2003).

    Estudos que contribuam para a sobrevivncia e o crescimento das pequenas empresas de

    Ribeiro Preto podero ajudar a minimizar problemas de desemprego na regio. A insero da

    pequena empresa de Ribeiro Preto no mercado internacional surge como alternativa para

    promover o desenvolvimento local.

    A proposta bsica deste trabalho trazer contribuies que possam estimular a

    internacionalizao no contexto da pequena empresa, contribuindo para tornar mais eficiente

    o modelo exportador brasileiro, trazendo impactos positivos na gerao de empregos e na

    distribuio de renda, itens necessrios ao desenvolvimento econmico brasileiro.

    1.3 Problema de pesquisa

    Caractersticas como complexidade das negociaes internacionais, aliada a limitaes de

    recursos situao comum s pequenas empresas , trazem relevncia ao estudo da

    negociao nesse contexto.

    O estudo do referencial terico permitiu chegar concluso de que a racionalizao, em

    contraponto negociao intuitiva, tende a melhorar o processo de negociao e seus

  • 13

    resultados. (BAZERMAN; NEALE, 1998).

    A literatura de negociao evidencia a importncia do planejamento para uma negociao

    racional, destacando a busca de informaes no processo de planejamento como algo que

    tenderia a aumentar a probabilidade de sucesso (LITERER, 1985, ACUFF, 1993, MILLS,

    1993, HERBIG, 1996, RAY, 1996, SUEN, 1997, DONALDSON; DONALDSON, 1999,

    GULBRO; LEWICKI; MARTINELLI, 2002, SANER, 2002). Alguns autores chegam a

    afirmar que mais tempo deveria ser despendido na preparao do que na realizao da

    negociao (MILLS, 1993, GULBRO; HERBIG, 1996).

    Dada a importncia do planejamento, o que se pretende estudar como as pequenas empresas

    agem em relao ao planejamento da negociao internacional. Ser que existe uma

    preparao racional, sistematizada para enfrentar esse tipo de negociao? Ou ser que

    prevalece a postura intuitiva e no-reflexiva? Qual o tempo disponvel e o envolvimento dos

    empresrios para lidar com esse tema? Eles buscam conhecer tcnicas e ferramentas de

    negociao?

    Supe-se que a complexidade do cenrio internacional tende a levar as empresas a se

    voltarem para a busca de informaes tcnicas de exportao. Entende-se por questes

    tcnicas de exportao a adequao do produto demanda internacional, o atendimento das

    normas tcnicas e regulamentos internacionais, processos de certificao e aspectos

    mercadolgicos (previso da demanda, precificao, distribuio e logstica). Cabe entender

    como as empresas costumam agir em relao aos aspectos comportamentais relacionados ao

    processo de negociao: abordagens, estratgias e tticas, estilos de negociao e de

    comunicao. Ser que esses aspectos tambm so contemplados na preparao da

    negociao?

    Conhecendo-se as especificidades da negociao internacional na pequena empresa, pode-se

    partir para a criao de uma estrutura conceitual que auxilie o planejamento da negociao

    nesse contexto.

    A partir dessas reflexes, definiu-se o seguinte problema de pesquisa: como planejar a

    negociao internacional na micro e pequena empresa, a fim de contribuir para seu processo e

    resultados?

  • 14

    1.4 Objetivos

    O objetivo geral do trabalho propor uma estrutura conceitual que ajude a sistematizar o

    planejamento da negociao internacional na micro e pequena empresa, a fim de auxiliar os

    administradores dessas empresas a aperfeioar o processo de preparao para a negociao

    internacional, contribuindo, ainda que indiretamente, para a internacionalizao de empresas

    brasileiras.

    Definem-se como objetivos especficos:

    1. conhecer as principais motivaes por trs do comportamento de internacionalizao das micro e pequenas empresas industriais do setor mdico-hospitalar e odontolgico da cidade de

    Ribeiro Preto;

    2. compreender como ocorrem as negociaes internacionais no ambiente das micro e pequenas empresas industriais do setor mdico-hospitalar e odontolgico da cidade de

    Ribeiro Preto;

    3. estudar o ambiente das micro e pequenas empresas pesquisadas, procurando conhecer as especificidades relacionadas internacionalizao;

    4. conhecer as dificuldades enfrentadas pelas micro e pequenas empresas industriais do setor mdico-hospitalar e odontolgico da cidade de Ribeiro Preto em relao s negociaes

    internaciona is;

    5. analisar como as micro e pequenas empresas pesquisadas costumam se preparar para a negociao internacional.

  • 15

    2 REFERENCIAL TERICO

    O objetivo deste captulo apresentar o marco terico do trabalho, identificando, na literatura

    disponvel, os conceitos de negociao e de negociao internacional e as principais teorias e

    tcnicas que envolvem esses conceitos.

    O captulo busca, tambm, construir um arcabouo terico para o planejamento da negociao

    internacional, com base na literatura, dando nfase s etapas do processo de negociao, aos

    modelos de negociao e aos modelos para o planejamento da negociao.

    Na primeira seo, discutem-se os fundamentos da teoria da negociao, especificando os

    conceitos centrais e os aspectos relacionados ao planejamento da negociao (etapas do

    processo, modelos e mtodos de planejamento). Na segunda seo, aborda-se o conceito de

    negociao especificamente na esfera internacional, apresentando as principais caractersticas

    desse tipo de negociao, destacando a influncia da cultura e a apresentao das propostas de

    sistematizao do processo de planejamento internacional. A seguir, abordam-se os aspectos

    relacionados negociao na pequena empresa, com nfase na negociao internacional.

    2.1 Fundamentos da teoria da negociao

    A compreenso dos fundamentos da negociao internacional passa por um conhecimento da

    conceituao de negociao. Apesar de a negociao ser algo to antigo quanto a convivncia

    de indivduos na humanidade, sua teorizao recente (BAZERMAN; NEALE, 1998,

    MARTINELLI; ALMEIDA, 1997). A razo pela qual um tema to ant igo, que faz parte da

    vida de todos, s ter recebido ateno por parte de tericos e pesquisadores recentemente

    encontra-se no fato de que se negocia intuitivamente. Durante muito tempo, por ser a

    negociao algo to intuitivo, que se aprende praticando, o tema no mereceu uma

    investigao mais profunda (MARTINELLI; ALMEIDA, 1997).

    O estudo do referencial terico permitiu chegar concluso de que, apesar de a negociao

    poder acontecer de forma intuitiva, sua racionalizao contribui para melhorar o processo e

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    seus resultados. Segundo Bazerman e Neale (1998, p. 6), negociar racionalmente significa

    tomar as melhores decises para maximizar seus interesses. primeira vista, essa afirmao

    pode levar concluso de que os autores defendem uma forma de negociao unilateral, em

    que as partes se preocupam com seus prprios interesses e com as vantagens que podem levar

    em relao ao oponente. Na verdade, no bem assim. Ao aprofundar a leitura da obra citada,

    percebe-se que os autores defendem a posio inversa: a negociao encarada como um

    processo bilateral, baseado em concesses mtuas, buscando o melhor resultado para ambas

    as partes. Nesse sentido, destaca-se a imagem torta fixa mtica, criada pelos autores, para

    defender seu ponto de vista: a negociao deve ser encarada como mais do que uma simples

    luta para ver quem fica com o maior pedao da torta; deve-se encarar a situao competitiva

    alm do ganhar ou perder, a fim de aumentar a probabilidade de se encontrar solues

    criativas para o problema.

    O conceito da torta fixa apresentado por Bazerman e Neale (1998) poderia ser comparado

    ao clssico exemplo da laranja, citado por Martinelli e Almeida (1998), em que duas crianas

    brigam por uma nica laranja, mas cada uma tem objetivos e interesses diferentes e

    complementares. Ao dividirem a laranja ao meio, na tentativa de encontrar a melhor soluo

    para o conflito, caminham em sentido contrrio, uma vez que cada criana estava interessada

    em uma parte diferente da laranja (uma queria a casca e a out ra, a polpa). Se ambas tivessem

    conscincia do que a outra parte desejava, a soluo teria sido melhor para as duas partes.

    Atravs das idias de Bazerman e Neale (1998) e de Martineli e Almeida (1998), transcritas

    acima, pode-se concluir que a razo pela qual a negociao passou a ser vista de forma mais

    ampla, envolvendo os interesses de ambas as partes, reside na perspectiva da realizao de

    novas negociaes com a outra parte. Partindo dessa perspectiva, fica muito claro entender

    por que conhecer os interesses do oponente passa a ser vital: a negociao ganha uma viso

    de longo prazo. Passa a ser importante refletir sobre como as atuais negociaes (presente)

    podero influenciar novas negociaes (futuro).

    Aps uma reviso ampla na literatura sobre negociao, pode-se afirmar que existem diversas

    definies para o termo. Nesse sentido, buscaram-se aqui relatar algumas dessas definies

    com base na viso de diferentes autores. Os resultados esto apresentados em ordem

    cronolgica, no quadro 1. Entre as vrias definies existentes, foram selecionadas trs, que

    sero utilizadas neste trabalho. As definies selecionadas, bem como a razo de sua escolha,

  • 17

    sero apresentadas a seguir.

    A primeira definio escolhida foi proposta por Nierenberg (1981, p. 8): pode afetar

    qualquer tipo de relacionamento humano e produzir benefcios duradouros para todos os

    participantes. Selecionou-se essa definio pois, apesar de se tratar de uma das mais antigas1,

    traz consigo o enfoque atual do conceito, baseado na percepo das necessidades de ambas as

    partes. Alm disso, a definio amplifica o conceito e sua aplicabilidade, uma vez que

    enxerga as relaes humanas como pano de fundo do processo de negociao, o que combina

    com os objetivos deste trabalho.

    A segunda definio adotada foi proposta por Fisher e Ury (1985, p. 30): Negociao um

    processo de comunicao bilateral, com o objetivo de se chegar a uma deciso conjunta. A

    escolha dessa definio reside na importncia que ela d ao processo de comunicao para a

    realizao da negociao e viso bilateral desse processo. Uma vez que negociar implica

    estabelecer uma relao entre duas partes, a comunicao se torna uma situao sine qua non

    para a ocorrncia da negociao. Segundo Pinto (1993, p. 26), a comunicao to

    importante para a negociao quanto o sangue para o corpo humano. ela o instrumento que

    possibilita a ampliao das convergncias reduzindo a esfera das divergncias. Segundo

    Martinelli e Almeida (1997, p. 58 et seq.), a negociao requer comunicao entre as partes,

    independentemente de quo imperfeitos os canais possam ser na realidade [...] A comunicao

    pode ser considerada o corao do processo de negociao [...] Sem a comunicao [...] no

    haveria negociao. Lewicki e Literer (1985) afirmaram que a comunicao o corao do

    processo de negociao. De fato, fica impossvel imaginar uma negociao em que no haja

    qualquer comunicao entre as partes.

    Um problema comum em processos de comunicao a existncia de mal-entendidos, que

    podem dificultar a interpretao do contedo das mensagens pelas partes envolvidas

    (MARTINELLI; VENTURA; MACHADO, 2004). Nesse sentido, importante citar a viso

    de Money (1998) que acrescenta o conceito de multilateralidade negociao. O autor afirma

    que as negociaes que ocorrem no contexto internacional muitas vezes so multilaterais, isto

    , envolvem vrias partes, no apenas duas, que negociam simultaneamente. Temas de grande

    relevncia no contexto mundial, como desarmamento, poluio ambiental, poltica

    1 Essa definio foi apresentada pela primeira vez em 1968, na primeira edio de seu livro de 1981.

  • 18

    econmica, imigrao etc. so alvos de negociaes multilaterais.

    Segundo o autor, a negociao multilateral distingue-se da bilateral em funo (1) das

    alianas inevitavelmente formadas entre algumas partes, (2) da tendncia supersimplificao

    do problema pelos negociadores e (3) dos vrios papis que podem emergir durante o

    processo de negociao (lder, mediador, bode expiatrio, cabea-dura). Ainda segundo o

    autor, isso tende a tornar as negociaes multilaterais um fenmeno extremamente complexo

    (MONEY, 1998).

    Tanto em negociaes bilaterais quanto em multilaterais, a importncia da comunicao

    ganha destaque quando o assunto a negociao internacional, porque aspectos culturais

    podem influenciar na comunicao entre as partes, dificultando a interpretao das

    mensagens, criando barreiras e at inviabilizando o acordo (MARTINELLI; VENTURA;

    MACHADO, 2004). Tais aspectos sero discutidos na segunda seo desta reviso

    bibliogrfica.

    A terceira definio adotada foi proposta por Steele, Murphy e Russill (1995, p. 3):

    Negociao o processo pelo qual as partes se movem de suas posies iniciais divergentes

    at um ponto no qual o acordo pode ser obtido. O principal motivo para a escolha dessa

    ltima definio est no carter dinmico que ela emprega ao termo, sugerindo que as partes

    devem se mover de suas posies iniciais divergentes na direo do acordo. Essa idia

    tambm foi abordada por Bazerman e Neale (1998, p. 5) quando tocaram na questo da

    escalada irracional do compromisso. Segundo os autores, em se tratando de negociao, um

    dos erros mais comuns o de ficar fixo na posio assumida no incio do processo. A

    persistncia irracional pode levar a resultados desastrosos, aumentando prejuzos ou

    inviabilizando acordos. Afirmam ainda que compreender esse conceito fator-chave para

    poder chegar ao melhor acordo, mas salientam a grande dificuldade de sua aplicao: este

    um conceito difcil de ser absorvido. Uma vez dedicado a um curso de ao, executivos

    muitas vezes alocam recursos de maneira a justificar suas escolhas anteriores,

    independentemente de parecerem vlidas (BAZERMAN; NEALE, 1998, p. 27).

  • 19

    Quadro 1 - Definio do termo negociao (ordem cronolgica)

    AUTORES / ANO

    DEFINIO DE NEGOCIAO

    Cohen (1980)

    Negociao o uso da informao e do poder com o fim de influenciar o comportamento dentro de uma "rede de tenso".

    Nierenberg (1981)

    Negociao um processo que pode afetar profundamente qualquer tipo de relacionamento humano e produzir benefcios duradouros para todos os participantes.

    Graham (1985b) (...) processo complexo que significativamente influenciado pela cultura na qual os negociadores esto socializados, educados e reforados.

    Fisher; Ury (1985) Negociao um processo de comunicao bilateral, com o objetivo de se chegar a uma deciso conjunta.

    Sparks (1992) Negociao implica caracteristicamente uma troca de dar e receber entre um negociador e o oponente, que tentam chegar a uma concluso agradvel ou aceitvel no ajuste de um problema ou disputa.

    Acuff (1993)

    Negociao o processo de comunicao com o propsito de atingir um acordo sustentvel sobre diferentes idias e necessidades.

    Kozicki (1995)

    Negociao a arte de se alcanar um acordo, resolvendo as diferenas por meio do uso da criatividade. Envolve dois lados tentando chegar a um acordo, uma soluo que, idealmente, deixar ambas as partes felizes a clssica soluo ganha-ganha.

    Steele; Murphy;

    Russill (1995)

    Negociao um processo no qual as partes se direcionam de suas posies divergentes para um ponto em que se possa alcanar um acordo.

    Hodgson (1996)

    Negociao uma atividade que envolve um elemento de negcio ou barganha, que permite que ambas as partes alcancem um resultado satisfatrio.

    Simintiras;Thomas (1998)

    um processo no qual duas ou mais entidades renem-se para discutir interesses comuns e conflitantes a fim de alcanar um acordo e benefcios mtuos apud Harris e Moran, 1987, p. 55.

    Paik; Tung (1999) Negociao uma tarefa especial de comunicao que ganha lugar para alcanar acordos sobre como manejar interesses comuns e contrastantes entre duas ou mais partes; trata-se de um processo dinmico pelo qual duas partes, cada uma com seus objetivos, tentam chegar a um acordo mutuamente aceitvel em relao a um problema ou interesse comum. Ocorre em um perodo de tempo definido e envolve no somente dados e intuio, mas tambm boa vontade das partes para entender o ponto de vista do outro.

    Brett (2000) uma forma de interao social. o processo pelo qual duas ou mais partes tentam resolver objetivos incompatveis percebidos

    Saner (2002) um processo no qual duas ou mais partes buscam um acordo para determinar o que cada uma delas dever dar ou ganhar, ou fazer e receber, numa transao entre elas. Pontos importantes da definio: duas ou mais partes; interesses convergentes e divergentes; relacionamento voluntrio; distribuio ou troca de recursos tangveis ou intangveis; processo seqencial e dinmico; informao incompleta; valores e posies passveis de mudanas se afetados por persuaso ou influncia.

    Fonte : elaborado pela autora com base na reviso bibliogrfica.

  • 20

    A partir do conhecimento do que negociao, surge a pergunta: como negociar? Segundo

    Fisher e Ury (1985), existem alguns princpios que so indispensveis para a eficcia da

    negociao. So eles: (1) separar as pessoas do problema; (2) concentrar-se nos interesses a

    serem buscados e no nas posies pessoais; (3) buscar encontrar o maior nmero possvel de

    alternativas de soluo; (4) identificar critrios objetivos para a soluo do problema.

    O primeiro princpio remete a uma viso racional do problema, evitando que as emoes

    dificultem avaliar os mritos da questo. O segundo tem como objetivo evitar o impasse, pois

    interesses permitem maior flexibilidade que posies. O terceiro princpio exige um

    exerccio de criatividade, no qual da quantidade se extrai a qualidade. E o ltimo princpio

    prope que se evite julgar as propostas de soluo de problema de modo subjetivo. Segundo

    os autores, esses princpios deveriam nortear o processo de negociao desde sua preparao

    at sua concluso (FISHER; URY, 1985).

    Acuff (1993) tambm contribui para a formao de uma atitude favorvel negociao

    racional. Sua proposta mescla alguns princpios defendidos por Fisher e Ury (1985) com

    aspectos de sistematizao do planejamento da negociao: (1) identificar todas as questes

    envolvidas; (2) priorizar as questes; (3) estabelecer o alcance do acordo; (4) desenvolver

    estratgias e tticas. Os dois primeiros itens de sua proposta esto bem prximos da proposta

    de Fisher e Ury (1985). No terceiro item, o autor reala a importncia de se estabelecer limites

    dentro dos quais o acordo possvel. No ltimo item, prope que se desenvolvam estratgias

    e tticas que ajudem a atingir os objetivos das duas partes, indo ao encontro das suas

    necessidades.

    Ainda como parte da reviso da teoria bsica de negociao, devem-se citar as variveis

    bsicas do processo de negociao. Segundo Martinelli e Almeida (1997, p. 65), qualquer

    que seja o objetivo da negociao, sua importncia e oportunidade, haver trs variveis

    bsicas que condicionam esse processo: poder, tempo e informao. Ainda segundo os

    autores, para haver uma negociao efetiva, necessria a presena de pelo menos duas

    dessas variveis, alm de sua correta aplicao. Veja a seguir como os autores definem cada

    uma dessas variveis, bem como sua interferncia no processo de negociao.

    Ao definir a varivel poder, deve-se evitar a conotao negativa do termo e entend- lo como

  • 21

    capaz de permitir a mudana da realidade e o alcance dos objetivos; deve ser empregado

    como poder de fazer algo e no como o poder sobre algum. Deve ser utilizado para

    aumentar a autoconfiana das partes e jamais para prejudicar, massacrar ou humilhar o

    oponente. Os autores subdividem os poderes em:

    a) poderes pessoais so vlidos para qualquer situao, independentemente do papel

    desempenhado, dos conhecimentos e das habilidades para lidar com pessoas. Exemplos: poder

    da moralidade; poder da atitude; poder da persistncia; poder da capacidade persuasiva;

    b) poderes circunstanciais baseiam-se na situao em questo; nas circunstncias em que

    ocorre a negociao. Exemplos: poder do especialista; poder de investimento; poder de

    posio; poder da legitimidade; poder da concorrncia; poder do precedente; poder dos riscos;

    poder do compromisso; poder de conhecer as necessidades; poder de recompensa e de

    punio; poder de identificao; poder de barganha.

    O tempo, segunda varivel da negociao, deve ser cuidadosamente analisado, verificando-se

    como ele afeta o processo e transformando-o em ponto de apoio para projetar o negcio e

    alcanar a satisfao dos envolvidos. Pode ser fator de presso e limitao ao processo de

    negociao. Percebe-se que, conforme os prazos vo se esgotando, maior a presso do

    tempo, podendo gerar concesses para o fechamento do acordo.

    O modo como o tempo utilizado pode influenciar relacionamentos, contribuindo para o

    sucesso ou fracasso de uma negociao. Diferentes conotaes podem ser dadas maneira

    com que o negociador lida com o tempo. Atrasos, por exemplo, podem ser associados tanto

    autoconfiana quanto ao desinteresse/hostilidade. O tempo pode favorecer tanto um quanto o

    outro lado, dependendo das circunstncias e da habilidade do negociador para lidar com essa

    varivel.

    A varivel informao se relaciona varivel poder (poder de conhecer as necessidades,

    poder de especializao). Identificada como conhecimento ou instruo que um indivduo ou

    grupo obtm atravs de diversas fontes, essa varivel importantssima para o sucesso da

    negociao. Quanto mais informaes confiveis as partes tm, mais distante se fica de um

    resultado inesperado.

    Graas sua importncia, deveria haver grande empenho em reunir uma grande quantidade de

    informaes antes mesmo de se sentar mesa de negociao. Essa preocupao deveria

  • 22

    permanecer durante o processo de negociao, desenvolvendo a capacidade de perceber

    informaes passadas indiretamente, atravs de comunicao no-verbal (gestos, expresses

    faciais, tom de voz) ou deixas (mensagem transmitida indiretamente, cujo significado pode

    ser ambguo e requerer interpretao), para, depois, associ-las negociao.

    A teoria a respeito das variveis bsicas do processo de negociao tambm se aplica s

    negociaes internacionais. Todas essas variveis esto presentes em negociaes

    internacionais, porm a varivel informao merece destaque, pois surge como meio de

    promover a an lise do ambiente e da influncia que ele exerce sobre os negociadores,

    transformando-se em fonte de poder para o encaminhamento do acordo (MARTINELLI;

    ALMEIDA, 1997).

    O estudo das variveis bsicas da negociao leva ao conceito de habilidades de negociao.

    Maximiano (2000) define habilidades como competncias para o desempenho de tarefas. O

    estudo das habilidades de negociao baseia-se em um princpio, defendido por muitos

    autores da rea, de que, entre as habilidades gerenciais, existem aquelas que so especficas

    para negociar. Esses autores renem uma srie de caractersticas e competncias que definem

    o perfil do negociador.

    Segundo Martinelli e Almeida (1997) o negociador precisa concentrar-se nas idias, discutir

    proposies, proporcionar alterna tivas outra parte, ter objetividade no equacionamento dos

    problemas, apresentar propostas concretas, saber falar e ouvir, colocar-se no lugar da outra

    parte, saber interpretar o comportamento das pessoas, saber separar os relacionamentos

    pessoais dos interesses.

    Para Fisher e Erthel (1997), um negociador ideal firme, amistoso e criativo. Afirma tambm

    que, para que uma negociao seja eficiente, todo negociador deve ter as seguintes

    habilidades: gerar comunicao eficaz, criar bom relacionamento, descobrir o interesse da

    outra parte, elaborar os diversos acordos possveis, convencer a outra parte de que est sendo

    tratada com justia, definir quais so as opes para o acordo e chegar ao compromisso final.

    Casse (1995) apresenta as habilidades que deve m ser usadas pelo negociador para ser efetivo,

    agrupando-as em dois conjuntos: (1) as habilidades convencionais saber formular questes

    abertas; verificar a compreenso sobre aquilo que a outra parte disse; saber usar o silncio;

  • 23

    fazer resumo de tempos em tempos dos aspectos mais importantes do processo; saber lidar

    com a dimenso humana da negociao (sentimentos e emoes); (2) e as no convencionais

    simular equvocos para forar a outra parte a se explicar melhor; exagerar o que a outra

    parte diz atravs do uso de hiprboles; quebrar a seqncia lgica da discusso atravs de

    afirmaes inesperadas ou mudanas repentinas de assunto; usar sarcasmo para provocar

    reaes assertivas na outra parte; sufocar a outra parte com excesso de questes ou

    informaes, buscando enfraquec- la. Segundo o autor, de acordo com as circunstncias da

    negociao, o negociador pode optar pelo uso de um ou de outro conjunto de habilidades.

    Ao abordar comunicao, percepo e vieses cognitivos, Lewicki, Saunders e Minton (2002)

    apresentam algumas caractersticas e habilidades do bom negociador: capacidade de anlise,

    coragem para fazer concesses e assumir posies impopulares quando necessrio,

    criatividade, persuaso, pacincia, perseverana, capacidade de visualizar o contexto da troca,

    capacidade de manter o equilbrio entre agressividade e concesso, capacidade de administrar

    as aparncias, capacidade para formular e usar perguntas e capacidade para escutar.

    Andrade, Alyrio e Macedo (2004) apresentam as seguintes caractersticas do bom negociador:

    ser cooperativo, ter autenticidade na comunicao, realizar a preparao para a negociao, ter

    percepo ampla, ser observador, saber ouvir, saber concentrar-se no que h por trs das

    posies e interesses, ter capacidade para criar ganhos mtuos, utilizar critrios e padres

    objetivos para criar confiana, ser criativo e flexvel, ser tico, claro, transparente, sincero e

    confivel, preocupar-se com a satisfao da outra parte e ter conscincia dos vieses culturais.

    No existe consenso em relao ao desenvolvimento das habilidades de negociao. Algumas

    pessoas acreditam que as habilidades dos negociadores so inatas. Em contrapartida, muitos

    autores, como, por exemplo, Pollan e Levine (1994), destacam que muitas habilidades dos

    negociadores so aprendidas na prtica. Segundo Mattos, negociar no um atributo inato

    nem meramente tcnico, e sim o resultado de investimento permanente em educao

    gerencial.

    Em 2005, OConnor e Arnold publicaram um artigo em que estudam a importncia da

    experincia passada na construo do perfil do negociador, no desenvolvimento de suas

    habilidades e em seu comportamento em negociaes futuras. Assim, apontam que

    negociadores que enfrentaram impasse na sua primeira experincia em negociao tendem a

  • 24

    ser menos cooperativos em negociaes futuras e apresentam uma probabilidade maior de

    chegar a novos impasses e de alcanar benefcios mtuos mais baixos, quando comparados

    com aqueles que tiveram uma primeira experincia positiva (OCONNOR; ARNOLD, 2005).

    Martinelli e Almeida (1997) afirmam que o conhecimento das habilidades de negociao, da

    sua importncia e das maneiras como se pode desenvolv- las contribui para melhorar o

    processo de negociao.

    Alm de desenvolver as habilidades de negociao, para obter melhores resultados

    necessrio um bom planejamento do processo de negociao. A sistematizao do

    planejamento da negociao torna-se indispensvel para a maximizao dos interesses

    envolvidos (MARTINELLI, 2002). A seguir, sero apresentadas diferentes propostas de

    sistematizao do processo de negociao e de seu planejamento.

    2.1.1 Planejamento da negociao

    Ao enxergar a negociao de maneira racional, no apenas intuitiva, deve-se reconhecer a

    necessidade de empreender um planejamento formal do processo de negociao. Para

    entender o significado de planejamento da negociao, deve-se partir de seu significado geral.

    Drucker (1962 apud MATTAR, 1993) define planejamento como:

    [...] processo contnuo e sistemtico de tomar decises futuras no presente com o melhor conhecimento possvel do que dever acontecer, organizando sistematicamente os esforos necessrios para levar estas decises e medir os resultados em relao ao esperado, atravs de um organizado sistema de controle (DRUCKER,1962 apud MATTAR, 1993, p. 25).

    Analisando-se a definio de Drucker, nota-se a relao que se estabelece, em um processo de

    planejamento, entre o presente e o futuro. Ao planejar, decidem-se antecipadamente, no

    momento presente, aes que sero desenvolvidas no futuro. Deve-se faz- lo de maneira

    sistemtica, minimizando riscos de tomar decises erradas. A busca de informaes que

    permitam conhecer fatos e fenmenos relacionados com o alvo do planejamento e fazer

    previses de como esses fatos ou fenmenos interferiro na situao futura esto no cerne da

    tentativa de minimizar erros na deciso. Isso demonstra a importncia da busca de

    informaes no processo de planejamento.

  • 25

    A literatura de negociao deixa evidente a importncia do planejamento para uma

    negociao racional. A busca de informaes no processo de planejamento tambm

    destacada por vrios autores que afirmam que, para aumentar a probabilidade de sucesso,

    mais tempo deveria ser despendido na estruturao da negociao do que em sua realizao

    (ACUFF, 1993, DONALDSON; DONALDSON, 1999, GULBRO; HERBIG, 1996,

    LEWICKI; LTERER, 1985, MARTINELLI, 2002, MILLS, 1993, RAY, 1996, SANER, 2002,

    SUEN, 1997).

    Alm de ressaltarem que o planejamento a etapa mais importante do processo de

    negociao, os livros costumam ressaltar, tambm, outro aspecto bsico em relao ao

    planejamento: que a maioria dos negociadores no se prepara adequadamente para a

    negociao (ACUFF, 1993, DONALDSON; DONALDSON, 1999, MILLS, 1993).

    Segundo Acuff (1993), muitos negociadores norte-americanos no gostam de colocar no

    papel um plano de negcios. A resistncia em realizar um planejamento formal decorre,

    segundo o autor, do receio de serem responsabilizados pelo plano elaborado em caso de

    insucesso; da idia equivocada de que, uma vez escrito o plano, este no possa ser mudado; e

    da dificuldade em articular e transcrever suas idias.

    Mills (1993) destaca a falta de preparao adequada como uma das principais causas de

    insucesso em negociaes. Apesar disso, Donaldson e Donaldson (1999) assinalam que o

    primeiro item eliminado por grande parte dos negociadores que esto com seu tempo escasso

    o planejamento da negociao. Ao relacionarem os dez erros mais comuns nas negociaes,

    os autores destacam, como sendo o pior deles, comear a negociao sem estar devidamente

    preparado para ela.

    Saner (2002) cita o desastre da Conferncia de Munique, em 1938, como um exemplo claro

    de que a negociao se torna particularmente ineficaz quando o negociador ignora, subestima

    ou simplesmente desconsidera os fatores decisivos do conflito:

    Se ele (o negociador) s toma conhecimento das verdadeiras questes em jogo quando j est sentado mesa de negociaes, suas chances de sucesso so de fato mnimas. Esses erros podem ser evitados com uma preparao mais cuidadosa [...] o planejamento o principal elemento da negociao, por mais modesto que possa parecer quando comparado com o lado mais espetacular do processo de negociao face a face. (SANER, 2002, p. 41).

  • 26

    Antes de se pensar na sistematizao do processo de planejamento, necessrio destacar

    algumas variveis essenciais definidas durante o planejamento. A primeira consiste na

    determinao clara dos limites mnimos, ou o ponto de transio em que voc passa a perder,

    ou quando passa a uma situao pior, e no melhor, com aquele acordo (ANASTASI, 1996,

    p. 31). Ao definir o limite mnimo at onde se pode chegar, deve-se tambm pensar no que

    fazer caso no se chegue ao acordo. o que Fisher e Ury (1985) chamam de BATNA (Best

    Alternative To a Negotiated Agreement ). O BATNA (Fisher; Ury, 1985) , de um modo geral,

    segundo Anastasi (1996, p. 31), o resultado, no caso de no haver nenhuma negociao, isto

    , quando voc suspende as negociaes e no chega a nenhum acordo.

    muito importante, na fase de preparao para a negociao, definir o BATNA e o limite

    mnimo aceitvel, porque nessa fase voc no est envolvido com o calor da discusso e

    ter uma viso mais racional do problema. Quando isso no ocorre, pode acontecer o que

    Bazerman e Neale (1998, p. 25) chamam de escalada irracional do compromisso, em que as

    partes envolvidas em uma negociao podem comportar-se de maneira incoerente at mesmo

    com seus prprios interesses, mantendo-se presas a decises iniciais e caminhando para um

    acordo bem inferior ao seu limite mnimo.

    Em artigo publicado recentemente, Kim e Fragale (2005) fazem uma interessante abordagem

    do poder em negociao relacionando-o ao BATNA. Segundo os autores, estudos sobre o

    poder em negociao costumam se fundamentar na teoria do poder versus dependncia.

    Assim, quanto maior a dependncia, menor o poder. A dependncia, por sua vez, est

    relacionada a duas dimenses: (1) diretamente proporcional ao valor atribudo ao resultado

    do embate e (2) inversamente proporcional disponibilidade de resultados alternativos.

    Nesse sentido, o artigo aponta que negociadores que possurem BATNA mais atrativos sero

    menos dependentes da negociao e, portanto, possuiro maior poder e alcanaro melhores

    resultados que a outra parte (KIM; FRAGALE, 2005).

    Alm dessa constatao, o artigo de Kim e Fragale (2005) analisa a margem de contribuio

    de cada parte para com o resultado da negociao e sua relao com o BATNA no

    desempenho na negociao. Concluem os autores que a importncia relativa do BATNA

    versus margem de contribuio de cada parte e a influncia desses dois fatores no

    desempenho do negociador variam em funo do tamanho da zona de barganha. Os benefcios

  • 27

    provenientes de um BATNA superior diminuem, e os benefcios provenientes de uma

    contribuio superior aumentam com o crescimento da zona de barganha.

    Outra varivel importante a definio das estratgias que sero utilizadas para negociar.

    Alguns autores enxergam as estratgias de negociao como um componente endgeno, que

    pode sofrer alteraes durante o processo de negociao (BRETT, 2000, GRAHAM, 1985b,

    PHATAK; HABIB, 1996, CALANTONE; GRAHAM; MINTU-WIMSATT, 1998). O fato de

    poder ser alterada durante o processo de negociao no impede a adoo de uma estratgia

    inicial, estabelecida na fase de preparao, como resultado da busca de informaes

    (PHATAK; HABIB, 1996).

    Existem diferentes formas de classificao das estratgias de negociao. Para este trabalho,

    optou-se por utilizar a mais comum na literatura de negociao (LEWICKI; HIAM;

    OLANDER, 1996, MARTIN et al., 1999, REYNOLDS; SIMINTIRAS; VLACHOU, 2003,

    SANER, 2002), baseada em dois critrios para a soluo de conflitos: a importncia do

    relacionamento (cooperao) e a relevncia do resultado (assertividade). Com base nesses

    critrios surgem cinco tipos bsicos de estratgia, conforme mostrado na figura 1. Observa-se

    no quadro 2 o significado de cada estratgia.

    Figura 1 - Grade de posicionamento estratgico

    Fonte: adaptado pela autora (LEWICKI; HIAM; OLANDER, 1996, SANER, 2002).

    Competio

    Evitao

    Colaborao

    Acomodao

    conciliao

    Importncia do relacionamento

    Rel

    evn

    cia

    do

    resu

    ltado

  • 28

    Segundo Calantone, Graham e Mintu-Wimsatt (1998), vrios autores afirmam que os

    negociadores costumam ajustar suas estratgias de negociao de acordo com a impresso que

    formam de seus oponentes. Isto , se uma das partes emprega um determinado

    comportamento, provvel que a outra parte responda da mesma maneira. Gouldner (1960

    apud CALANTONE; GRAHAM; MINTU-WIMSATT, 1998) denominou esse fenmeno de

    reciprocidade. Para Francis (1991 apud CALANTONE; GRAHAM; MINTU-WIMSATT,

    1998), em um contexto intercultural esse comportamento faz parte da adaptao cultural das

    partes. Gulbro e Herbig (1996) chegam a recomendar mudanas no comportamento bsico

    como forma de aumentar a probabilidade de sucesso em negociaes internacionais.

    Os conceitos de reciprocidade estratgica e adaptao cultural da estratgia abordados no

    pargrafo anterior remetem concluso de que os negociadores no adotam uma nica

    estratgia de negociao, e sim diferentes estratgias em diferentes situaes, embora possam

    dar preferncia a uma delas, em funo de suas caractersticas individuais.

    Quadro 2 - Estratgias de negociao

    ESTRATGIA DE EVITAO Por haver pouca importncia tanto do relacionamento quanto dos resultados, no h interesse em negociar; evita-se a negociao, com a tendncia de levar ao perde-perde.

    ESTRATGIA DE ACOMODAO Por haver alta importncia do relacionamento e baixa importncia dos resultados, abre-se mo dos resultados para preservar o relacionamento; tende a levar ao perde-ganha.

    ESTRATGIA DE COMPETIO Alta preocupao com o resultado, sem muita nfase ao relacionamento; busca-se ganhar a qualquer custo levando para uma negociao ganha-perde. Baseia-se na crena de que os objetivos das partes so mutuamente exclusivos e apenas uma parte pode ganhar; tende a levar ao ganha-perde.

    ESTRATGIA DE COLABORAO Alta importncia para ambos: relacionamento e resultados; leva ao ganha-ganha; procura-se uma soluo que atenda a ambas as partes, mesmo que, de incio, as partes no tenham objetivos compatveis entre si; tambm chamada de estratgia cooperativa.

    ESTRATGIA DE CONCILIAO Importncia mdia a ambos: relacionamento e resultados; tambm chamada de estratgia de satisfao; baseia-se na concesso de ambas as partes para se chegar ao acordo.

    Fonte: Lewicki; Hiam; Olander (1996).

  • 29

    Saner (2002) apresenta um mtodo para determinar a posio estratgica inicial do

    negociador. Prope um questionrio e uma escala para medir a importncia do resultado, a

    posio de poder, os interesses comuns e a qualidade do relacionamento. Cada um desses

    fatores apresenta um nmero como resultado. Os quatro nmeros so ento transferidos para

    uma grade de posicionamento estratgico semelhante apresentada na figura 1, da qual se

    conclui o posicionamento estratgico inicial.

    A fim de caminhar na sistematizao do planejamento da negociao, necessrio conhecer

    as etapas do processo de negociao para, a seguir, avaliar alguns modelos de planejamento

    disponveis na literatura, o que ser apresentado nos dois prximos itens.

    2.1.2 Etapas do processo de negociao

    Um primeiro passo a ser considerado no planejamento da negociao o seu processo, que

    inclui tudo o que antecede e influencia a rodada de negcios, o momento de estar face a face

    com o negociador da outra parte, pondo em prtica o plano traado e, finalmente, o

    fechamento do acordo ou o reincio da negociao.

    Existem diferentes propostas para a subdiviso do processo de negociao, conforme pode ser

    observado no quadro 3 (MATOS, 1989, MILLS, 1993, CASSE, 1995, STEELE; MURPHY;

    RUSSILL, 1995, HODGSON, 1996, KOZICKI, 1999, PAIK; TUNG, 1999, SHELL, 2001,).

    Observa-se que, na maior parte das propostas, a fase de planejamento propriamente dita

    corresponde primeira e, em alguns casos, s duas primeiras etapas. Os autores abordam mais

    a fase interativa do processo, que ocorre quando uma rodada de negociao tem incio, do que

    as etapas que antecedem a interao entre as partes. Exceto no modelo de Saner (2002), no

    h uma separao clara entre o processo prvio de tomada de deciso e a ao propriamente

    dita.

    Paik e Tung (1999) dividem o processo de negociao em trs estgios. O primeiro,

    denominado estgio inicial ou de abertura, aquele em que as partes procuram aprender mais

    sobre a posio da outra parte e caminham em direo ao acordo, por meio da busca de

    informaes e preparao para a negociao. Segundo o autor, os negociadores tambm

    procuram criar impresses favorveis em relao sua prpria posio e desfavorveis em

    relao posio do oponente. No segundo estgio, chamado pelos autores de estgio de

  • 30

    resoluo, enfatiza-se a reduo do espao entre a posio das partes, por meio de concesses

    mtuas, at um ponto em que o acordo se torne possvel. No estgio final, a barganha

    finalizada, e o acordo, fechado. Percebe-se que os autores se atm a dividir o processo a partir

    de quando a negociao (ao) tem incio, no incluindo a sua preparao.

    A proposta de Steele, Murphy e Russill (1995), de seis etapas, mais ampla do que a de Papik

    e Tung (1999). Nela, h uma clara distino entre o que os autores chamam de preparao e o

    que chamam de planejamento. A primeira expresso utilizada para designar a fase inicial do

    processo de negociao, baseado principalmente no levantamento de informaes a respeito

    do que ser negociado: a outra parte, o mercado, os prprios objetivos, o espectro da

    negociao etc. O planejamento, para os autores, implica imaginar a sesso de negociao e

    estabelecer as estratgias que sero utilizadas, tentando imaginar as que sero utilizadas pela

    outra parte. As demais fases so semelhantes s dos outros autores apresentadas no quadro 3.

    Saner (2002) apresenta uma proposta de ciclo da negociao baseada nas fases do processo de

    negociao. Dentre todas as propostas apresentadas, essa a que mais se adapta aos objetivos

    deste trabalho, em funo da nfase dada ao planejamento e do detalhamento das etapas a

    serem seguidas antes que a ao de negociao tenha incio. O autor tambm apresenta uma

    distino entre o planejamento anterior primeira rodada de negociao (preparao) e o

    planejamento que ocorre aps esse momento (avaliao e replanejamento). As rodadas de

    negociao so chamadas pelo autor de fase de ao. Outra diferena entre o modelo de Saner

    (2002) e o dos demais autores estudados (CASSE, 1995, HODGSON, 1996, KOZICKI, 1999,

    MATOS, 1989, MILLS, 1993, PAIK; TUNG, 1999, SHELL, 2001, STEELE MURPHY;

    RUSSILL, 1995) a viso cclica que dada ao processo. De todos os autores estudados,

    Saner (2002) o que deixa mais claro que, aps a avaliao da rodada de negociao, o ciclo

    recomea.

    Por valorizar o planejamento, o autor o subdivide em seis etapas: (1) conscincia do conflito

    refletir em profundidade sobre o problema ou conflito em questo, buscando identificar

    convergncias que possam levar ao acordo; (2) anlise das necessidades conhecer as

    prprias necessidades e tambm as da outra parte; (3) seleo de objetivos estabelecer as

    metas e as possveis concesses; (4) seleo de estratgias estudar o equilbrio de foras

    entre as partes, a importncia da negociao para cada parte, o relacionamento entre as partes

    e os interesses comuns, a fim de definir uma estratgia para a negociao; (5) antecipao das

  • 31

    aes da outra parte buscar informaes sobre o oponente e (6) seleo de tticas

    selecionar os meios para atingir os objetivos definidos (SANER, 2002).

    Simintiras e Thomas (1998), ao estudarem a literatura sobre negociaes interculturais,

    propuseram a subdiviso da parte interativa do processo de negociao (rodada de negcios)

    em dois diferentes estgios: (1) interao no-relacionada tarefa refere-se aos primeiros

    contatos, face a face, para conhecer a equipe de negociao da outra parte; (2) interao

    relacionada tarefa refere-se ao negcio em jogo. Segundo os autores, o primeiro estgio

    influenciado pelo status, pela preciso na formao de impresso sobre a outra parte e pela

    atrao interpessoal. O segundo estgio envolve a troca de informaes sobre as necessidades

    e preferncias dos negociadores; ganham nfase o poder de persuaso, as estratgias de

    barganha e as concesses, que acabam levando ao acordo.

    A proposta de Simintiras e Thomas (1998) remete a uma forma clssica de diviso do

    processo interativo de negociaes interculturais em quatro partes: (1) construo do

    relacionamento no-relacionada tarefa; (2) troca de informaes relacionadas tarefa; (3)

    persuaso e compromisso e (4) concesses e acordo (GULBRO; HERBIG, 1996, MARTIN et

    al., 1999).

    As vrias propostas de segmentao do processo de negociao apresentadas nesta reviso

    fazem uma distino entre a abordagem inicial e o incio da negociao propriamente dita. No

    entanto, o artigo de Simintiras e Thomas tem como foco central estabelecer essa diferena.

    Em funo disso, exploram o assunto mais a fundo, abordando as principais variveis

    envolvidas em cada estgio. O conhecimento dessas variveis pode ser de grande valia no

    planejamento da negociao.

    De um modo geral, as vrias propostas de diviso do processo de negociao apresentam (1) o

    momento que antecede a rodada de negcios, chamado por muitos de preparao, (2) o

    momento das primeiras trocas de informaes entre as partes, que marca o incio da

    negociao, (3) o momento da discusso das propostas, barganhas e concesses e (4) o

    fechamento da negociao, atravs do acordo. Alguns autores enxergam o acordo como o

    final do processo. Outros sinalizam como etapas posteriores a (5) reviso do acordo e a (6)

    avaliao do desempenho no processo de negociao. Saner (2002) enxerga a negociao de

    modo evolutivo, sem um fim determinado.

  • 32

    Parece oportuno agregar a essas propostas a viso da negociao sob um enfoque sistmico.

    Dessa maneira, seu processo seria descrito como um conjunto de entradas (as influncias s

    quais a negociao est sujeita, tambm chamadas de antecedentes do processo), o processo

    em si (a negociao propriamente dita, o processo de transformao das entradas em sadas) e

    as sadas (resultados da negociao acordos, relacionamentos, lucros, benefcios). A grande

    vantagem de analisar o processo de negociao sob um enfoque sistmico justamente a

    possibilidade de identificar, com maior clareza, os possveis elementos que influenciam e

    impactam uma negociao e, com isso, ser mais efetivo em relao aos resultados do processo

    e na consolidao de negociaes futuras (MARTINELLI, 2002). Atravs da reviso

    bibliogrfica realizada, pde-se confirmar a importncia dessa concepo do processo de

    negociao. Os estudos mais recentes publicados nessa rea utilizam modelos multicausais

    para estudar a relao entre variveis dependentes e independentes. Esses modelos se baseiam

    na forma sistmica clssica: antecedentes, processo e resultados. Essa discusso ser

    aprofundada no prximo captulo (item 2.2.3 Planejamento da negociao internacional).

  • 33 Quadro 3 - Propostas para o processo de negociao

    AUTORES

    ETAPAS Matos (1989) Mills (1993) Casse (1995)

    Steele, Murphy e Russill (1995)

    Hodgson (1996) Kozicki (1999) Paik e Tung (1999)

    Shell (2001) Saner (2002)

    1 abordagem

    (R) preparar-se pr-formulao

    preparao e planejamento

    preparao fase investigativa Estgio inicial (abertura)

    preparao da estratgia

    Planejamento conscincia do conflito anlise das necessidades

    2 argumentao

    (E) explorar formulao

    abordagem discusso fase da apresentao

    Estgio de resoluo

    troca de informaes

    Ao (rodada de negociao) aquecimento apresentao das posies abordagem

    3 superao de objees

    (S) sinalizar a movimentao

    tempestade

    teste propostas fase da negociao Estgio final propostas e concesses

    Avaliao fechamento do acordo ou nova rodada

    4 acordo

    (P) testar Padronizao movimentao/ fazer concesses

    barganha fase do acordo fechamento do acordo e compromissos

    Planejamento (o ciclo recomea)

    5 reforo (E) trocar concesses

    execuo concluso e acordo acordo

    6 reabordagem (C) fechar o acordo controle do desempenho

    avaliao do resultado

    7 (T) amarrar as pontas

    Fonte: elaborado pela autora com base na reviso bibliogrfica.

  • 34

    2.1.3 Modelos para o planejamento da negociao

    Ray (1996) afirma que muitos tericos e prticos da negociao concordam com a idia de

    que a base para o sucesso em negociao est no planejamento que ocorre antes da rodada

    de negcios. Entretanto, a forma como deve se dar esse planejamento no consenso,

    segundo o autor. Muitos dos conselhos escritos sobre a preparao e o planejamento da

    negociao so prescritivos (receitas). Isso atrativo para uma audincia que busca

    solues garantidas apresentadas de forma simples. Em contraste com essas receitas, a

    pesquisa acadmica sobre o assunto, na opinio do autor, tem sido conduzida de maneira

    fragmentada e descritiva, ainda no conseguindo apresentar um entendimento completo do

    papel crtico desempenhado pelo planejamento no processo de negociao.

    Os resultados desta reviso bibliogrfica apontam na mesma direo das concluses de Ray

    (1996). A maior parte dos trabalhos encontrados sobre o tema apresenta carter descritivo e

    no converge para a mensurao do impacto do planejamento no sucesso da negociao. A

    dificuldade para isolar variveis intervenientes talvez seja um dos motivos para explicar

    essa lacuna. Apesar da importncia de medir o impacto do planejamento no resultado da

    negociao, a ausncia dessa medida no descaracteriza sua importncia. Por isso, sero

    apresentadas, a seguir, propostas para o planejamento da negociao encontradas na

    literatura. Deve-se lembrar que o objetivo central desta tese no medir o impacto do

    planejamento, mas propor uma estrutura conceitual que auxilie os administradores da

    pequena empresa a se preparar para as negociaes internacionais.

    Corroborando as idias de Ray (1996) sobre a importncia do planejamento, Saner (2002)

    apresenta um modelo de plane jamento bastante sinttico baseado em estabelecer

    divergncias e convergncias entre as partes na fase de preparao. Comea por estabelecer

    os nossos desejos e necessidades. Uma vez identificadas, as necessidades devem ser

    traduzidas em objetivos especficos. A seguir, esses objetivos so traduzidos em

    reivindicaes especficas apresentadas durante a negociao. Completa-se o planejamento

    com o que se pode oferecer outra parte (vantagens tangveis e intangveis), organizando

    essas concesses em ordem crescente de custo e esforo.

  • 35

    Segundo o autor, deve-se pensar tambm no outro lado, nas intenes da outra parte. E aqui

    Saner (2002) prope um exerccio contrrio: parte-se das provveis reivindicaes da outra

    parte, procura-se interpretar os objetivos por trs dessas reivindicaes e, com base na

    teoria das necessidades, chega-se aos desejos e s necessidades mais profundas que esto

    por trs dos objetivos. A idia tentar montar um quebra-cabea a fim de construir um

    quadro cada vez mais completo da situao.

    Segundo Robinson (1996), para planejar a negociao necessrio seguir as seguintes

    etapas: (1) estabelecimento de todos os objetivos; (2) coleta e anlise das informaes; (3)

    definio da estratgia a ser adotada; (4) seleo das tticas que sero empregadas; (5)

    identificao das habilidades necessrias. Percebe-se uma preocupao em determinar os

    objetivos da negociao e as maneiras de atingi-los, antes que a ao de negociao tenha

    incio.

    Quadro 4 - Variveis para diagnstico da situao a ser negociada (KOZICKI, 1999) I. AMBIENTE INTERNO

    1. Estrutura formal (hierarquia, nvel de autonomia nas decises etc.)

    2. Estrutura informal (poder, cultura organizacional)

    3. Objetivos da empresa (avaliar a negociao luz do objetivo da empresa)

    4. Relacionamentos interdepartamentais

    5. Relacionamentos pessoais

    6. Sindicatos (checar implicaes da negociao sobre os membros do sindicato)

    II. AMBIENTE EXTERNO

    1. Mercado internacional

    2. Orientao poltica e polticas econmicas

    3. Localizao geogrfica

    4. Era da informao (preparao contnua)

    Fonte: elaborado pela autora com base em KOZICKI, 1999.

    Kozicki (1999) apresenta um mtodo de planejamento da negociao em que sugere um

    checklist com os itens que devem ser investigados para o diagnstico da situao a ser

    negociada, antes de se definir objetivos e limites da negociao (quadro 4). Quando fala de

    objetivos, estabelece trs perspectivas: otimista, realista e pessimista. A seguir, sugere que

    se determinem estilo e estratgia e se revisem todas as etapas. O modelo de planejamento

  • 36

    de Kozicki est voltado para negociaes comerciais empresariais.

    Quadro 5 - Plano de negociao baseado em conhecimento (SHELL, 2001). I. PROBLEMA

    Defina o problema que se est tentando solucionar.

    II. SUAS METAS ESPECFICAS

    Qual sua meta especfica e otimista?

    Qual a sua condio bsica?

    Pessoa responsvel pelas decises.

    O estilo de negociao da pessoa responsvel pelas decises (se conhecido).

    Histrico do relacionamento.

    III. OS INTERESSES DA OUTRA PARTE

    Como os interesses da outra parte seriam aplicados para ajud-lo a atingir sua meta (i.e. interesses

    compartilhados)?

    O que o levaria a dizer no (i.e. interesses conflitantes e secundrios)?

    IV. PROPOSTAS VIVEIS

    Baseie-se nos interesses m tuos/solucione os interesses conflitantes.

    V. PODER DE INFLUNCIA

    At o momento, o que eles perderiam, caso o acordo no se realizasse?

    O que voc perderia?

    Voc pode afetar as alternativas da outra parte?

    Como voc pode melhorar as suas prprias alternativas?

    VI. PADRES E NORMAS DOMINANTES

    Meus

    Deles

    Meus contra -argumentos

    VII. ANLISE DA SITUAO E DA ESTRATGIA

    A situao sob meu ponto de vista (transao, relacionamento, preocupaes balanceadas, coordenao tcita)

    Meu estilo bsico _____________ ______ ento preciso ser mais _______________ nessa situao.

    A situao sob o ponto de vista deles (transao, relacionamento, preocupaes balanceadas, coordenao

    tcita)

    A estratgia esperada deles (competitiva, solucionadora de problemas, transigente, que evita conflitos,

    flexvel)

    Fonte: adaptado de Shell (2001), p. 309.

    Shell (2001) tambm traz uma contribuio ao planejamento da negociao atravs de sua

    abordagem: negociao baseada em conhecimento. Destaca-se no trabalho do autor a

  • 37

    formalizao do processo de planejamento atravs da apresentao de um modelo de plano

    de negociao baseado em conhecimento (quadro 5). Deve-se entender o plano como

    resultado do processo de planejamento, a consubstanciao do exerccio de planejamento

    formal (CAMPOMAR, 1983).

    Um retorno s idias de Ray (1996) necessrio para aprofundar a discusso sobre a forma

    como a preparao pode ser segmentada. Do mesmo modo que se pode classificar a

    negociao, de acordo com sua abordagem, em distributivo-competitiva e integrativa, a

    abordagem da preparao tambm pode variar. Segundo o autor, ela pode (1) estar voltada

    para estabelecer posies para iniciar a negociao ou pode (2) dar nfase ao

    estabelecimento de princpios contra os quais os resultados possam ser julgados. Alguns

    autores sugerem incorporar as duas abordagens na negociao, mas, na opinio do autor,

    trata-se de abordagens contrastantes e importante explorar o balano dessas nfases na

    atividade de preparao dos negociadores (RAY, 1996).

    Em seu estudo (simulao com 99 respondentes), Ray (1996) observou que os negociadores

    tendiam a dar maior ateno aos resultados pretendidos do que ao modo como deviam obter

    os resultados (processo). A maioria dos entrevistados se preparou para a negociao

    estabelecendo uma posio baseada em pelo menos um dos seguintes elementos: um limite

    mnimo aceitvel para o acordo e um objetivo pretendido. Um aspecto interessante do

    estudo de Ray (1996) que os negociadores afirmaram que possuir ambos, limite mnimo e

    objetivo desejado, auxiliou-os durante o processo de negociao. Dentre os dois, o limite

    mnimo foi considerado o mais importante para decidir os avanos durante a rodada de

    negcios, uma vez que conferiu aos participantes um conforto psicolgico e uma certeza

    de que no fariam um acordo desfavorvel.

    Em relao preparao para o processo de negociao, os resultados so bem diferentes.

    Os poucos que se preocuparam com o modo como os objetivos seriam negociados (cerca de

    29% dos respondentes) apenas estabelec eram alguns princpios gerais como ser o iniciador

    ou permitir que a outra parte inicie o processo, sem planejar o que aconteceria depois disso.

    Contrariamente a essa constatao, os resultados apontaram que uma maior ateno

  • 38

    preparao do processo tornaria a negociao mais efetiva (RAY, 1996).

    2.2 Negociaes internacionais

    A partir da compreenso dos conceitos gerais de negociao, pode-se aprofundar o estudo

    das especificidades da negociao internacional. Esse tipo de negociao vem ganhando

    importncia no cenrio atual em funo da globalizao da economia, do aumento dos

    investimentos no exterior e da ampliao de acordos de negcios em nvel mundial

    (GULBRO; HERBIG, 1996, VIDA, 1999, MARTINELLI, 2002, OSMAN-GANI; TAN,

    2002).

    A globalizao da economia criou novas oportunidades, mas tambm desafios, que levaram

    as empresas a desenvolver esforos na adoo de estratgias de internacionalizao como

    forma de sobrevivncia. Pases incentivam exportaes e internacionalizao de empresas,

    assim como se unem formando blocos comerciais com vistas a aumentar sua participao e

    competitividade na economia global (GULBRO; HERBIG, 1996, SUEN, 1997, VIDA,

    1999, OSMAN-GANI; TAN, 2002, MARTINELLI; VENTURA; MACHADO, 2004).

    O conceito de internacionalizao de empresa pode ser descrito como a participao da

    empresa no mercado internacional. Segundo Szapiro e Andrade (2001), a

    internacionalizao pode ser definida como o conjunto de atividades que a empresa

    desenvolve fora dos mercados que constituem seu ento rno geogrfico natural. A Fundao

    Dom Cabral (2002, p. 5) prope uma definio mais precisa: internacionalizao o

    processo de obteno de parte ou totalidade do faturamento a partir de operaes

    internacionais, seja por meio de exportao, licenciamento, alianas estratgicas, aquisio

    de empresas em outros pases ou construo de subsidirias prprias.

    Segundo Lemaire, Petit e Desgardins (1997), dentre os fatores desencadeantes da insero

    de empresas no mercado internacional, destacam-se o inevitvel processo de abertura

    internacional e a tendncia globalizante das economias e mercados, que se firmou depois de

  • 39

    uma ou duas dcadas dentro de um cenrio em que as trocas de bens, servios e capitais

    tornaram-se mais complexas.

    Para se internacionalizarem, as empresas precisam adotar estratgias competitivas

    adequadas a esse processo, como atitude competitiva, concentrao geogrfica,

    mecanismos de gesto e de coordenao de atividades, desenvolvimento interno de

    competncias dinmicas, absoro e integrao de conhecimento, relao com outras

    empresas (concorrentes, clientes, fornecedores) e capacidade de adaptao e articulao das

    diferentes condies locais especificidades culturais, econmicas, regulamentares e

    lingsticas dos pases ou regies (CALDEIRA, 2002).

    Segundo Rezende (2002), processos de internacionalizao de empresas tm atrado a

    ateno de pesquisadores, tornando-se alvo de debates acadmicos por mais de quarenta

    anos. Os estudos nessa rea esto bastante adiantados e complexos. Um dos alvos desse

    debate acadmico a idia de gradualismo e continuidade em processos de

    internacionalizao. Segundo o modelo proposto por Johanson e Wiedersheim-Paul (1975

    apud JOHANSON; VAHLNE, 1977), a internacionalizao vista como um processo de

    aprendizagem em que a empresa investe recursos de modo gradual e adquire

    conhecimentos sobre o mercado internacional de modo evolutivo. Atravs de estudo

    realizado com empresas suecas, os autores desenvolveram um modelo para

    internacionalizao de empresas, baseado em quatro etapas. Esse modelo apresenta grau

    crescente, em cada etapa ou estratgia subseqente, do potencial de comprometimento,

    risco, controle e lucro, pressupondo uma entrada gradual e seqencial em mercados

    internacionais. A seguir, as etapas do modelo: (1) atividades de exportao inconstantes; (2)

    exportao por meio de representantes independentes (agentes); (3) estabelecimento de uma

    ou mais filiais de vendas e (4) estabelecimento de instalaes de produo no exterior.

    Um outro pressuposto do modelo de Johanson e Wiedersheim-Paul (1975 apud

    JOHANSON; VAHLNE, 1977) consiste na afirmao de que a distncia psquica entre

    pases um fator de deciso para a internacionalizao. Os autores definem distncia

    psquica como as diferenas percebidas entre valores, prticas gerenciais e educao de

  • 40

    dois pases. Ainda, segundo eles, existem evidncias de que a empresa comea seu processo

    de internacionalizao em pases considerados culturalmente prximos, a fim de diminuir o

    grau de incerteza do processo.

    A partir desses resultados, Johanson e Vahlne (1977) apresentaram outro modelo, que ficou

    conhecido como modelo de Uppsala, baseado em trs pressupostos: (1) a falta de

    conhecimento o maior obstculo em processos de internacionalizao; (2) o

    conhecimento necessrio internacionalizao principalmente adquirido atravs das

    experincias atuais da empresa em determinado mercado-alvo e (3) a empresa

    internacionaliza suas operaes investindo recursos de modo gradual.

    Baseados nesses pressupostos, Johanson e Vahlne (1977) introduziram o modelo em que

    so identificados dois estados: conhecimento e comprometimento. O primeiro refere-se ao

    conhecimento do mercado-alvo, e o segundo, ao montante de recursos investidos em

    determinado mercado internacional e ao grau de especificidade desses recursos. Alm

    desses estados, o modelo apresenta dois aspectos transitrios que esto relacionados aos

    estados: as decises de investimento e as operaes atuais. Existe uma relao direta entre

    estados e aspectos transitrios: enquanto as decises de investimento definem o

    comprometimento da empresa em determinado mercado, as operaes atuais constituem-se

    na principal fonte de conhecimento da empresa sobre esse mercado. Mas o modelo tambm

    sugere uma interao dinmica entre estados e aspectos transitrios: quanto maior o

    investimento em determinado mercado internacional, maior o grau de conhecimento sobre

    esse mercado, maior o seu grau de aptido para efetuar novos investimentos e assim

    sucessivamente. Os aspectos transitrios possuem duplo papel no processo de

    internacionalizao: resultam de conhecimento e comprometimento efetuados no passado;

    determinam os nveis de conhecimento e comprometimento futuros.

    Vrios outros autores tm confirmado o pressuposto de que a insero de empresas em

    mercados internacionais se d de modo gradual e seqencial (CAMINO; CARZOLA, 1998,

    CALOF, 1995, CHANG, 1995). No entanto, outras pesquisas tm sugerido que a

    internacionalizao de empresas pode ocorrer de maneira descontnua (BENITO; WELCH,

  • 41

    1997; REZENDE, 2002). Alguns autores justificam a inadequao do modelo de Uppsala

    para representar a realidade atual, com base na alterao do cenrio. Afirmam que um

    modelo formulado no final da dcada de 1970, poca em que o ambiente de negcio era

    menos ligado internacionalmente, no pode mais explicar a realidade com a consolidao

    da globalizao e o aumento da interdependncia no mercado internacional (REZENDE,

    2002).

    Forsgren (2000) afirma que a relao entre conhecimento de mercado e comportamento

    incremental negativa, e no positiva, como prega o modelo de Uppsala. Segundo o autor,

    medida que aumenta o conhecimento sobre determinado mercado internacional, a

    empresa passa a ter uma atitude mais ousada e menos incremental, pois diminui sua

    necessidade de desenvolver-se gradualmente para minimizar a incerteza.

    Andersen (1997) acredita que a idia de gradualismo do modelo de Uppsala

    demasiadamente determinista, pois a empresa pode seguir diferentes seqncias no modo

    de entrada em mercados internacionais. Segundo Rezende (2002), algumas empresas suecas

    com operaes no mercado japons no passaram pelos estgios iniciais da cadeia de

    estabelecimento (modelo de Johanson e Wiedersheim-Paul, 1975). Para Kobrin (1992), em

    funo do ambiente mais interdependente em nvel global, as empresas evoluem de maneira

    mais rpida em mercados internacionais para obter economia de escala, escopo e

    aprendizagem por meio da integrao de suas operaes.

    Alguns autores (BENITO; WELCH, 1997, FLETCHER, 2001, REZENDE, 2002) mostram

    que empresas podem seguir uma trajetria inversa do modelo de Uppsala, diminuindo

    investimentos em mercados internacionais.

    Entre tantas crticas ao modelo de Uppsala, surgem propostas alternativas baseadas na

    teoria de redes industriais, que sugerem analisar processos de internacionalizao como

    resultados de relacionamentos intra- e interorganizacionais ( JOHANSON; VAHLNE, 1990,

    BIRKINSHAW, 1996, REZENDE, 2002, FLEURY; FLEURY, 2003, LIMA;

    CARVALHO; GARCIA; MARTINELLI, 2006).

  • 42

    Verifica-se que uma das principais caractersticas da nova economia a transio da

    eficincia individual para a eficincia coletiva. A competitividade , e ser cada vez mais,

    relacionada ao desempenho de redes interorganizacionais e no de empresas isoladas

    (FLEURY; FLEURY, 2003; GARCIA; LIMA, 2005; LIMA; CARVALHO; GARCIA;

    MARTINELLI, 2006a, 2006b). De acordo com Amato Neto (2000), uma das principais

    tendncias que vm se intensificando na economia moderna a que diz respeito s formas

    de relaes intra- e interempresariais, particularmente aquelas que envolvem pequenas

    organizaes. Essa constatao torna -se ainda mais importante no que tange

    internacionalizao das pequenas empresas.

    A competncia de negociao ganha relevncia num quadro de globalizao e

    interconectividade cada vez maiores (GULBRO; HERBIG, 1996). Em funo desses dois

    aspectos, empresrios, funcionrios de empresas pblicas e privadas, alm de governantes e

    polticos precisam dominar uma multiplicidade de habilidades, das quais uma das mais

    importantes a capacidade de negociar num contexto que ultrapassa fronteiras culturais e

    profissionais (SANER, 2002).

    Partindo-se da esfera internacional para a nacional, o estudo da internacionalizao das

    empresas brasileiras vem despertando o interesse de muitos pesquisadores (LOUREIRO;

    SANTOS, 1991, CARVALHO; ROCHA, 1998, CAMPANHOL; SMITH, 2002,

    FUNDAO DOM CABRAL, 2002, MARKWALD; PESSOA, 2002, FLEURY;

    FLEURY, 2003).

    Segundo Loureiro e Santos (1991), a maior parte das empresas brasileiras no possui

    tradio de investimentos em negcios no exterior. Essa falta de experincia leva ao

    desconhecimento de instrumentos, procedimentos e estratgias comumente utilizados nos

    processos de internacionalizao.

    A insero do Brasil no mercado in ternacional ainda pouco expressiva quando comparada

    com a de pases desenvolvidos. O Brasil ocupa a 47 posio entre os 49 pases pesquisados

  • 43

    com relao ao volume do comrcio internacional. O pas tem conseguido criar uma forte

    atrao para o capital internacional, com forte impacto dos investimentos estrangeiros, na

    internacionalizao conhecida como de fora para dentro. Mas ainda existe um esforo

    tmido no sentido contrrio, de dentro para fora (FUNDAO DOM CABRAL, 2002).

    A partir da compreenso do conceito de internacionalizao, pode-se entender o conceito

    de negociao internacional como aquela que ocorre no contexto da internacionalizao.

    Em outras palavras, negociao internacional todo tipo de negociao em que partes,

    provenientes de diferentes pases, sentam-se face a face, para negociar um acordo de

    negcios envolvendo qualquer tipo de transao internacional, como a venda de produtos

    para um comprador estrangeiro, formao de joint venture entre empresas de diferentes

    nacionalidades para dividir canais de distribuio em um terceiro pas, fuses, aquisies e

    licenciamentos