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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

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EROTIDES MONTINI DA SILVEIRACOLÉGIO ESTADUAL UNIDADE PÓLO

NÚCLEO REGIONAL DE EDUCAÇÃO DE MARINGÁ

MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICOUNIDADE DIDÁTICA

ARTE INDÍGENA:

ARTE INDÍGENA NO PARANÁ

PDEPROGRAMA DEDESENVOLVIMENTOEDUCACIONALFormação Continuada em Rede

IES – UEM/Universidade Estadual de Maringá

Orientadora:

Prof. Drª. Rosangela Célia FaustinoDTP

MARINGÁ

2010

Capa: Im

agem

Xetá

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03

APRESENTAÇÃOAPRESENTAÇÃO

O presente Material Didático traz uma abordagem sobre a Arte Indígena no Brasil,

focalizando alguns grupos indígenas e suas expressões artísticas. Apresento um pouco da arte

desde a fase marajoara, os primeiros contatos com os europeus até expressões mais recentes.

É necessário esta abordagem, pois há um pensamento equivocado sobre os índios, de

que todos têm as mesmas referências com relação à cultura e a arte. Apesar de ser comum entre os

indígenas algumas expressões artísticas e de ter certas semelhanças com relação à cultura, cada

povo tem suas singularidades que difere e distingue cada etnia.

Mais profundamente trato sobre os índios no Paraná, os Kaingang, Xokleng, Guarani e

Xetá. Suas histórias de contato com o não índio, os problemas sociais acarretados pela sociedade

envolvente, os mitos, os costumes, a subsistência, a cultura material e a arte principalmente.

Ficarão evidentes nas imagens e abordagens as mudanças culturais ocorridas através da

história de contato e de sobrevivências dos povos indígenas no Paraná.

No final de cada capítulo, constam sugestões de pesquisas e atividades.

Bom trabalho!

Erotides M. da Silveira

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05

SUMÁRIO SUMÁRIO

Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07

O que é o índio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07

Algumas definições: cultura material, arqueologia, cultura e arte. . . . . . . . . . . . . . . . . 07

Arqueologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 08

Cultura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 08

Arte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 08

Contribuições da cultura indígena nos nossos costumes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09

Arte Indígena . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

Povos Indígenas no Paraná . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

Arte Rupestre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

Povos agricultores e ceramistas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

Histórico de contato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

Kaingang. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

Xokleng . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

Guarani . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51

Xetá . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67

Site das Imagens . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77

Site de Pesquisa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77

Referências Bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78

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07

INTRODUÇÃOINTRODUÇÃO

O QUE É O ÍNDIO

ALGUMAS DEFINIÇÕES:

CULTURA MATERIAL

mecanismos para garantir o sustento, como

criação de animais, as roças, alguns trabalhos

O termo “índio” foi dado quando os como assalariados e a confecção e venda de

europeus chegaram à costa Atlântica do artesanato nas cidades mais próximas das

Brasil pensando ser a Índia, por isso aldeias.

chamaram de índios os povos em que tiveram Ainda hoje vemos o índio sendo

os primeiros contatos aqui no Brasil. aquele que corresponde a uma imagem

O envolvimento dos índios com os tradicional e idealizada, pela falta de

não índios foi traumático em todos os conhecimento sobre realidade do índio na

sentidos. Os grupos caçadores coletores sociedade. São vistos como gente que precisa

sofreram grande impacto com a perda de seus ser civilizada! Chamados de selvagens, pri-

territórios de origem; com as doenças trazidas mitivos, atrasados, maneiras preconcebidas e

pelos europeus; com as transformações preconceituosas. Porém o avanço das

culturais ocorridas pelas fugas; pelo trabalho sociedades sobre as comunidades indígenas e

e escravidão; e, pelos comportamentos e suas terras não foram e não são consideradas

costumes impostos pelos europeus. Ainda selvagerias.

assim preservam algumas tradições culturais. Os índios, “mostraram sua capacida-

Alguns grupos perderam totalmente de secular de resistência e de reformulação,

a língua que falavam, pois estão em contato ajustamento, adaptação a situações sempre

com a sociedade, há grupos que falam duas novas, causadas pelo fato de serem povos

línguas, a materna e o português, em virtude eternamente perseguidos, desrespeitados,

da situação de sobrevivência e ainda os espoliados” (SILVA, 1987, p.144), apesar de

grupos que vivem isolados e que falam serem cidadãos brasileiros, conforme a

somente a sua língua materna, pois se Constituição Brasileira de 1988.

recusam a manter contato com o não índio.

Estes povos isolados ainda mantêm suas

tradições porque são pouco conhecidos pela

sociedade.

Os índios vivem hoje em aldeias,

territórios demarcados pelos governos, Entende-se por cultura material todo

insuficientes para a sobrevivência do grupo. tipo de vestígios, utensílios, artefatos,

Sendo necessário à busca de outros objetos, instrumentos, ferramentas que o

Para entender a Arte dos índios do Paraná é preciso que voltemos um pouco no tempo e

na história destes povos que foram uns dos primeiros a colonizar o Paraná. É preciso conhecer

alguns de seus costumes, os mitos, a organização social, o artesanato, e assim tentar compreender

o significado da arte na vida destes povos indígenas.

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homem produziu e produz para auxiliar no social, nas atividades compartilhadas, na arte,

seu cotidiano, nas necessidades, no trabalho, na produção material, no trabalho. Pode ser

etc. definida como estilo de vida, as tradições, os

Através da cultura material arqueó- rituais, as festas, tudo que envolve a organiza-

logos conseguem fazer o reconhecimento, ção social e a identificação de determinada

pelas marcas e símbolos deixados no objeto, é sociedade.

possível identificar a sociedade a que Os fatores ambientais também

pertence. exercem influência sobre a cultura de um

povo, como a maneira de se vestir e os hábitos

alimentares, a religião e a forma de produção

econômica.

É a ciência que estuda os vestígios

dos povos antigos e busca construir as

relações sociais culturais por meio da cultura

material produzida, como: ossadas, cerâmica, A arte é uma criação humana.

trilhas abertas na mata, fogueiras, objetos, Compreende conhecimentos, um conjunto de

enfim tudo que era produzido e transformado procedimentos técnicos, as emoções, bem

cotidianamente. como valores estéticos próprios a uma época

ou cultura.

A Arte expressa e movimenta o

desenvolvimento do homem que a cria e, com

ela, estabelece alguma relação. Cria objetos e

A cultura é elaborada pelas situações para satisfazer necessidades e que

sociedades através da história, pelos padrões são meios de expressão e de registro de suas

de comportamento, valores e crenças e idéias, emoções e sentimentos.

envolve toda a prática humana de construir e A Arte é uma das formas de revelar o

de dar significação a coisas. ser social, ela representa a realização que vai

A cultura está presente no meio além das necessidades imediatas.

ARQUEOLOGIA

ARTE

CULTURA

Sonia Mari Shima BarrocoMarta Chaves

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CONTRIBUIÇÕESDA CULTURA INDÍGENA

CONTRIBUIÇÕES DA CULTURA INDÍGENA

Desde os primeiros contatos dos O uso da erva-mate ou chimarrão,

índios com os não índios na história da coloniza- produtos medicinais e cosméticos, redes de

ção portuguesa e espanhola no Brasil, as influen- dormir, as gamelas em cerâmica do litoral

cias de ambos com relação à cultura foram e grande parte de nomes dos maiores rios

inevitáveis. A idéia equivocada que os índios e cidades paranaenses vieram dos indígenas.

não eram civilizados e não tinham cultura ficou No nome do nosso Estado, Paraná

camuflada pela sociedade majoritária e há veio da língua Tupi-Guarani que significa rio

pouco reconhecimento desta contribuição pelo como um mar.

povo brasileiro, por falta de conhecimento.

Temos alimentos básicos como a

mandioca, o milho, as plantas medicinais,

hábitos e costumes, enfeites e artesanato que

usamos no nosso dia a dia, sem falar nos nomes

e expressões indígenas que usamos no nosso Curitiba = muitos pinhões ou pinheiros

vocabulário. Rio Iguaçu = rio grande

No Paraná a grande quantidade de Rio Ivaí = rio das frutas ou rio das flores

pinheiros araucária, palmeiras e árvores que Rio Tibagi = rio do pouso

fornecem frutas, como a pitanga, jabuticaba, Piraquara = esconderijo de peixes

guabiroba e araçá, foi originada pelo manejo Guaíra = cachoeira

ambiental dos índios e ainda existe grande

diversidade de plantas medicinais. Muitas

variedades de milho, feijão, abóbora, man-

dioca e amendoim já eram cultivados pelos

povos nativos. Alimentos como a farinha de Goioerê = água limpa.

milho e mandioca, incluindo bolos e min- Candói = eu tenho a arma

gaus,e a pipoca (milho arrebentado em Tupi) Curitiba = corra, vamos depressa...

fazem parte da alimentação atual dos Fonte: Vida Indígena no Paraná: memória, presença,

paranaenses. horizontes. PROVOPAR, 2006.

Veja outras traduções da língua

Tupi-Guarani:

Da língua kaingang:

09

CONTRIBUIÇÕES DA CULTURA INDÍGENA

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ATIVIDADESATIVIDADES

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MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA

1) Faça uma pesquisa em casa com os pais e avós, amigos e vizinhos, sobre alguns costumes de

origem indígena que conhecem, como: alimentação, remédios, nomes de pessoas e de

cidades.

2) Produza folhetos com receitas de comidas, chás e palavras típicas de origem indígenas. Não

se esqueça das ilustrações.

3) Para aprofundar um pouco mais, pesquise nomes de cidades paranaenses de origem indígena

em site da internet: http://filologia.org.br/vcnl/anais%20v/civ8_10.htm

O ÍNDIO E A NATUREZA

A natureza é reverenciada nos harmonia. Conhecem as plantas, os

rituais indígenas, desta forma, a relação animais e os ciclos da natureza são

dos índios com a natureza vai além da respeitados, como o tempo certo de pescar,

subsistência, ela é fonte de equilíbrio e caçar, plantar e colher.

LEIA O DEPOIMENTO DE AILTON KRENAK

AILTON KRENAK

Alguns anos atrás, quando eu vi o quanto que a ciência dos brancos estava desenvolvida, com seus aviões, máquinas, computadores, mísseis, eu fiquei um pouco assustado. Eu comecei a duvidar que a tradição do meu povo, que a memória ancestral do meu povo, pudesse subsistir num mundo dominado pela tecnologia pesada, concreta. E que talvez a gente fosse um povo como a folha que cai. E que nossa cultura, os nossos valores, fossem muito frágeis para subsistir num mundo preciso, prático, onde os homens organizam seu poder e submetem a natureza, derrubam as montanhas. Onde um homem olha uma montanha e calcula quantos milhões de toneladas de cassiterita, bauxita, ouro ali pode ter. Enquanto meu avô, meus primos, olham aquela montanha e vêem o humor da montanha e vêem se ela está triste, feliz ou ameaçadora, e fazem cerimônia para a montanha, cantam com ela, cantam para o rio... Mas o cientista olha o rio e calcula quantos megawats ele vai produzir construindo uma hidrelétrica, uma barragem. Nós acampamos no mato, e ficamos esperando o vento nas folhas das árvores, para ver se ele ensina uma cantiga nova, um canto cerimonial novo, se ele ensina, e você ouve, você repete muitas vezes esse canto, até você aprender. E depois você mostra esse canto para os seus parentes, para ver se ele é reconhecido, se ele é verdadeiro. Se ele é verdadeiro ele passa a fazer parte do acervo de nossos cantos. Mas um engenheiro florestal olha a floresta e calcula quantos milhares de metros cúbicos de madeira ele pode ter. Ali não tem música, a montanha não tem humor e o rio não tem nome. É tudo coisa.

(Citado por Nelson Tomazi. Tese de Doutorado: “Norte do Paraná: história e fantasmagoria”. UFPR, 1997)

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ARTEINDÍGENA

ARTEINDÍGENA

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EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE

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EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE.

Grupo NhandewaRitual Guarani Nhandewa, Posto Velho - Paraná, 2007. Fotografia acervo PIESP-LAEE/CCH-UEM

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EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE

ARTE INDÍGENAARTE INDÍGENA

COMO DISTINGUIR A ARTE NA

SOCIEDADE INDÍGENA

tradição, tem relação com o grupo, com quem

produz, com outros seres, plantas animais ou

entes sobrenaturais. O aspecto artístico

Em todas as tribos indígenas do Brasil mostra a preocupação em agradar, ultrapassa

existem manifestações de arte que tomam a técnica e atinge padrões de excelência e de

formas e sentidos diversos. É provável que nas expressão de valores simbólicos.

sociedades indígenas sejam poucos os Se levarmos em conta que a pintura

artefatos, os cânticos, as danças, que são corporal indica a metade do clã ou grupo que

elaboradas com o fim único de serem objetos o indivíduo pertence na sociedade, ela

de arte. Geralmente a arte está destinada antes constitui um rito, mesmo assim ela pode ser

de tudo aos rituais. bem acabada e elaborada, o que a caracteriza

Podemos distinguir na produção de como sendo artística. A dança, por exemplo,

objetos os aspectos técnicos, os rituais ou pode ser executada com maior ou menor

simbólicos e talvez seja possível distinguir o habilidade e também pode ser julgado do

artístico. Na produção com relação ao aspecto ponto de vista artístico.

técnico leva-se em conta o material utilizado,

a maneira e o tempo de preparo; o aspecto Fonte: MELATTI, Júlio Cezar. ìndios do Brasil. Brasília.

ritual se caracteriza por ser simbólico, segue a Coordenada - Ed. de Brasilia, 1970.

Podemos encontrar a arte indígena na inserida nos rituais, nas festas e nas atividades

pintura corporal, na cerâmica, nos artefatos, na comuns do dia-a-dia.

arte plumária, nos trançados, na tecelagem, nos As populações indígenas no Brasil

desenhos com estilos geométricos, nos cânticos diferem entre si, apesar de terem certas

e nas danças que estão presentes nas semelhanças com relação à organização do

manifestações sociais. modo de vida. Possuem características

A arte indígena não é vista pelos índios próprias nos costumes, na sociedade, nas

como beleza estética, feito somente para habitações, na religiosidade, na língua e nas

apreciação. A arte faz parte da vida da comuni- artes. Portanto, cada comunidade tem sua

dade e não está separada da realidade do grupo. maneira de ver e perceber a arte dentro do

Todos compartilham da arte, pois ela está seu contexto social.

ONDE ENCONTRAR A ARTE INDÍGENA

VAMOS CONHECER A ARTE INDÍGENA?!

A pintura corporal pode ter diversas corpo a alegria das cores vivas e intensas.

interpretações como o de definir papéis e A pintura corporal aparece em vários

valores sociais, criar noção de pessoa e grupos indígenas como vestimenta para o

exprimir os padrões de identidade étnica, como contato com os seres sobrenaturais em seus

adorno corporal em rituais e para transmitir ao rituais cosmológicos.

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MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA

Os materiais empregados na pintura

corporal entre a maior parte dos povos

indígenas são: o urucu (urucum) para o

vermelho, o calcário e a tabatinga para o

branco, o jenipapo para o azul marinho ou

negro esverdeado que representam as florestas

e o pó do carvão utilizado no corpo sobre uma

camada de suco de pau-de-leite ou gorduras

animais.

Atualmente são usadas tintas

industrializadas, pela escassez de matérias

primas e pela diversidade das cores produzidas

artificialmente.

Os Kadiwéu (MS) são conhecidos por

sua pintura corporal bem elaborada e que

impressionou colonizadores e europeus em

1560. São desenhos minuciosos simétricos

com linhas e pontos, traçados com tinta obtida

com a mistura do suco do jenipapo com o pó de

carvão aplicada com uma fina lasca de madeira

ou taquara. No passado, a pintura corporal

marcava a diferença entre nobres, guerreiros e

cativos.

Urucum. Foto: Erotides M. da Silveira 03/02/10

http://img.socioambiental.org/.../arte_kadiweu_2.jpg

Pintura corporal dos Kadiwéu. Foto: Claude Lévi-Strauss, 1935.

De acordo com Lévi-Strauss, “as

pinturas do rosto conferem, de início, ao

indivíduo, sua dignidade de ser humano;

elas operam a passagem da natureza à

cultura, do animal 'estúpido' ao homem

civilizado. Em seguida, diferentes quanto

ao estilo e à composição segundo as

castas, elas exprimem, numa sociedade

complexa, a

hierarquia

dos 'status'.

Elas possuem

assim uma

função

sociológica”.

Esta tatuagem facial faz parte do segundo ritual de iniciação dos Karajá (MT/ TO), que se dá quando a menina está por volta dos 11 anos.

Fonte: PROENÇA, Graça. História das Arte. Editora Ática, SP. 1990.

ENTENDA UM POUCO MAISSOBRE A PINTURA CORPORAL

SAIBA MAIS

A pintura de corpo indígena utiliza como

tintas o vermelho do urucu e o azul escuro

quase negro do genipapo. O urucu é fixado no

corpo com a ajuda de alguma substância

gordurosa, tal como o suco de babaçu. As

sementes do urucu são fervidas em água até que

formem uma pasta, a qual é endurecida e

guardada em forma de pães. O genipapo,

quando aplicado ao corpo, é completamente

transparente e sem cor, tal como água. Vai

escurecendo aos poucos, de modo que, de um

dia para outro, se torna quase negro. Dura

muitos dias e a água não o dissolve. Somente o

suor o ataca. Além do urucu e do genipapo, há o

suco de pau-de-leite, que funciona como

fixador. Após aplicado o carvão sobre o pau-de-

leite, o indivíduo pintado toma um banho de rio,

para retirar aquele pó de carvão que ultrapassou

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http://img.socioambiental.org/gallery/v/publico/karaja/karaja_11.jpg.html

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http://www.museuparanaense.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=20&evento

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EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE

as linhas do desenho, não tendo se fixado no

suco. Para a obtenção da cor branca é utilizado

o calcáreo.

A pintura de corpo pode ser feita com

a ajuda de mãos e dedos; os traços mais finos se

fazem com pequenos estiletes de palha ou

madeira. É comum a utilização de carimbos, tal

como um côco babaçu cortado no meio, o que

produz um círculo que inclui quatro círculos

menores. Este tipo de carimbo é usado pelos

Karajá e os Timbira. Estes últimos também

talham carimbos no talo da palmeira buriti,

obtendo diversos padrões.

Fonte: Mellati, Julio César, 1938. Índios do Brasil. Brasília. Ed. Brasília, 1970.

OS GRAFISMOS

Os grafismos são representados por cação étnica, pois cada etnia indígena tem

desenhos abstratos e geométricos e aparecem suas singularidades culturais representando

na decoração da cerâmica, dos trançados, das grafismos bem diferenciados. É possível

máscaras e na pintura corporal. reconhecer a qual etnia pertence o objeto a

partir da decoração do mesmo.O grafismo dos povos indígenas

ultrapassa a beleza, está relacionado com suas

origens, com a organização social e

cosmologia. Exprime a concepção que um

grupo indígena tem sobre o indivíduo e suas

relações com os outros índios, os rituais, sua

ecologia e economia. É um código de

comunicação complexo que exprime as

concepções do grupo.

Os grafismos para o índio tem a

função de diferenciar-se de outros seres da

natureza e quando pinta seu próprio corpo,

demarca seu lugar no mundo e na sociedade

que pertence. Também servem como identifi-

cesto Wayana-Apalay, com desenho representando o lagarto de duas cabeças

Carimbos cerâmicos guarani. Usados para pintura corporal ou de tecidos, redução Jesuítica do Guairá, Século XVII,

Vale do rio Ivaí. Acervo Museu Paranaense.

Objetos de índios do Xingu, em sentido horário: espátula de madeira usada para preparar alimentos, cerâmica para assar beiju, panela em forma de tartaruga.

http://www.iande.art.br/trancado/cesto/wayanaruto020901.htm

http://www.iande.art.br/boletim010.htm

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MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA

Banco em forma de escorpião (Xepi)Feito por índios: Mehinaku (MT)

Boneca (litxoco)Feito por índios: Karajá

Bordunha (ko)Feito por índios: Kaiapó

A arte plumária está associada à beleza Encontramos também artefatos

do corpo, não são usados cotidianamente, confeccionados e decorados com penas, são

mas apenas em ocasiões especiais como nos flechas, máscaras, colares, pulseiras, cocares,

rituais. diademas e braceletes. As plumas são coladas no corpo como Alguns artefatos são construídos com

ornamento e complemento da pintura plumas em grandes armações trançadas de

corporal, o que é muito comum entre os índios palhas e varetas. Em peças pequenas, as penas

Timbira em cerimônia de iniciação. Colam as são associadas aos tecidos, caracterizando-se

penas menores tiradas dos pássaros, da pela flexibilidade, acabamento e procura de

penugem, que são fixados no corpo da pessoa efeitos de cor.Há tribos que conhecem um processo sobre uma camada de resina de Almécega.

de transformar a cor das penas dos pássaros, Geralmente o tronco, os membros superiores especialmente do papagaio. Tal processo (...) até um pouco acima dos pulsos, os inferiores recebe o nome tapiragem. Arrancam as penas até pouco abaixo dos joelhos, são cobertos de do pássaro vivo e esfregam em sua pele o penas.

Na comunidade Assurini do Xingu elementos simbólicos como Anhynga

os grafismos representam diferentes sistemas Kwasiat (ser mítico que deu origem aos

de significação. Esses desenhos são homens)

estilizações de elementos da natureza ou http://pib.socioambiental.org/pt/povo/asurini-do-xingu/print

A arte em madeira está presente em senta os rostos das máscaras e banquinhos

várias tribos indígenas. Esculpem máscaras, esculpidos em forma de animais; os índios

aves, animais, bonecos e armas. Entre os índios Karajá fazem esculturas de forma humana,

do alto Xingu o trabalho em madeira repre- seguindo o mesmo estilo da cerâmica litxoko.

http://www.iande.art.br/loja/artefigurativa/karajaboneca2333b.htm

http://www.iande.art.br/loja/armas/kayapoborduna1100a.htm

http://www.iande.art.br/loja/bancos/mehinakubancoescorpiao1324.htm

A ARTE EM MADEIRA

A ARTE PLUMÁRIA

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EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE

sangue de certa rã ou a gordura de certos invés de verde, apresenta uma cor amarelo-

peixes. A plumagem torna a nascer, mas, ao alaranjada (MELATTI, 1970, p.151).

Crianças Xikrin preparadas para festa de nominação; fotos de Isabelle Vidal Giannini, do livro "Grafismo Indígena", de Lux Vidal

ARTE PLUMÁRIA

Plumária é um termo que designa artefatos confeccionados a partir de penas de aves

e utilizadas sobretudo como adorno corporal pelos índios brasileiros. Os produtos da

atividade plumária (...) foram os que mais impressionáram os europeus que aqui aportaram

na época do Descobrimento. De fato, a arte plumária é uma das manifestações artísticas

mais expressivas dos índios brasileiros (...) [Existem] trabalhos específicos sobre a arte

plumária referentes aos índios Urubu-Kaapor, Bororo, Tukano, Kayapó, Wayana, Kayabi,

Wai-Wai e do Alto Xingu, que abor-

dam aspectos técnicos, estísticos e

de significados sócio-cultural.

Na confecção de artefatos

plumários, a matéria-prima é basica-

mente a mesma para todos os grupos

tribais brasileiros. Contudo, muitas

tribos desenvolveram estilos pró-

prios, caracterizados por atributos

peculiares como forma, associação

de materiais, combinações de cores,

procedimento técnico, o que nos

permite identificar a sua pro-

SAIBA MAIS

Arte Plumária dos índios Urubu-Kaapor, do alto à esquerda, em sentido horário: cocar Akangatar, colar-apito masculino

Awa-Tukaniwar, labrete masculino Rembé-Pipó e testeira Akang-Putir

www.iande.art.br/boletim/xikrin%20crian%E7as.jpg

http://www.iande.art.br/boletim016.htm

(Fotos do catálogo: Exposição Arte Plumária do Brasil - 17ª Bienal de São Paulo)

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MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA

veniência com bastante precisão (...)

No Brasil indígena verificam-se pelo menos dois grandes estilos plumários. O

primeiro congrega penas longas associados a suporte rígidos que conferem um aspecto

grandioso e monumental ao artefato. Neste grupo estão incluídos os Bororo, Karajá,

Tapirapé, Kayapó, Tiriyó, Aparai e Wai-Wai, entre outros.O segundo caracteriza-se por

diminutas penas dispostas com requinte em suportes flexíveis de aspecto primoroso e

delicado. Seus legítimos representantes são os Munduruku, os Urubu-Kaapor e outros

grupos Tupi. Ainda alguns grupos comporiam um terceiro estilo, como os Tukano, já que

seus adornos são dotados de qualidades das duas grandes divisões.

Os adornos plumários não servem apenas para enfeitar o corpo, e o elemento

plumário aplicado a outras superfícies, como armas, instrumentos musicais, máscaras, não

pode ser visto como atributo meramente decorativo. Eles podem ser considerados

verdadeiros códigos, que transmitem, numa linguagem não verbal, mensagens sobre sexo,

idade, filiação clânica, posição social, importância cerimonial, cargo político e grau de

prestigio de seus portadores. Além de enfeites, portanto, são símbolos e, por isso, usados

nos ritos e cerimônias, campo simbólico por excelência das culturas humanas. Entre os

Kaxináwa, por exemplo, há uma ligação entre liderança política e excelência estética e

entre os Bororo há uma íntima associação entre certos artefatos plumários e a morte: um

tipo de diadema de cabeça e um tipo de instrumento musical de sopro são especialmente

feitos para representar os mortos.

Sonia Dorta e Lúcia van Velthemin Arte Plumária do Brasil, 1982.

CERÂMICA

Dois estilos marcaram a historia da considerados da fase Marajoara chegaram à

cerâmica no Brasil: a cerâmica Marajoara e a ilha por volta do ano 400 da nossa era e a

cerâmica de Santarém. A Marajoara e a produção de cerâmica desses povos era

Santarém foram fabricadas por povos tipicamente antropomorfa, sendo dividida

indígenas que desapareceram antes da em vasos de uso doméstico, vasos

chegada dos europeus no Brasil. cerimoniais e funerários. Os vasos

cerimoniais eram os mais decorados com A ilha de Marajó foi habitada por uma pintura bicromática ou policromática vários povos a 1100 a.C. Os povos

Urna Funerária Marajoara

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Vaso Cariátides Tapajônico Vasilhame decorado com motivos antropomorfos e zoomorfos. Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém, Brasil. Exemplar de cerâmica produzida pelas sociedades complexas do Pará em Santarém. Este vaso Tapajó é denominado “Vaso de Cariátideshttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Vaso-santar%C3%A9m.JPG

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EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE

A cerâmica é importante material confeccionada pelas mulheres. Para produzir

arqueológico, pois trazem gravadas as marcas e pintar as cerâmicas, atualmente algumas

da cultura do povo a que pertence. Panelas de artesãs já utilizam tintas e instrumentos

barro, tigelas, potes para armazenar água, industrializados. Alguns povos indígenas

urnas funerárias e bonecas, representam o não produzem mais a cerâmica por falta de

acervo de objetos utilitários que os índios matéria prima e pelo contato com o não índio.

brasileiros constroem. Entre as sociedades Hoje em algumas comunidades indígenas já

indígenas a cerâmica é geralmente passaram a utilizar as vasilhas de metal.

CERÂMICA KADIWÉU-MSA cerâmica Kadiwéu são produzidas pelas mu-

lheres, vasos de diversos formatos, pratos de diversos

tamanhos e profundidades, animais, enfeites de

paredes, etc. decorados com padrões que lhes são

distintos representam a expressão de sua arte e

identidade.

Para a fabricação da cerâmica utiliza-se barro

vermelho e preto misturado com terra de cerâmica tri-

turada ou cinza, até alcançar a consistência ideal.

A matéria-prima de seu trabalho encontram-na em

barreiros especiais, que contêm o barro da consistência

e tonalidade ideais para a cerâmica durável. Os

pigmentos para sua pintura são conseguidos de areias

dos mais variados tons, alguns dos detalhes sendo

envernizados com a resina do pau-santo.

A decoração das peças com desenhos

minuciosos e simétricos, traçados com tinta obtida da

mistura de suco de jenipapo com carvão em pó é aplicada com uma fina lasca de madeira,

taquara ou linha de caraguatá para demarcar o desenho.

Coleção FFLCH/USP, 1987

de desenhos feitos com incisões na cerâmica figuras de seres humanos ou animais. O que

e de desenhos em relevo. chama mais atenção na cerâmica santarena é

a presença das cariátides (figuras humanas) A cerâmica santarena apresenta que apóiam a parte superior do vaso.uma decoração bastante complexa, pois

além da pintura dos desenhos, as peças

apresentam ornamentos em relevo com

CERÂMICA HOJE

http://pib.socioambiental.org/pt/povo/kadiweu/266

Fonte: PROENÇA, Graça. Historia da Arte, 1990.

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SAIBA MAIS

Boneca

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)

TRANÇADO

A arte dos trançados é uma das categorias artesanais mais diversificadas entre os povos

indígenas. Representada por uma infinidade de utensílios com finalidades domésticas, de transporte

de alimentos, objetos de adorno e

instrumentos musicais, são: cestos,

balaios, bolsas, chapéus, peneiras,

redes, máscaras, cocares, tangas,

pulseiras e abanos.

A elaboração dos trançados

resulta de grande habilidade e técnicas

de entrelaçamento e empregam-se

grande variedade de matérias primas de

origem vegetal, como folhas, palhas,

palmas, cipós, talas e fibras.

A modelagem do barro se faz universalmente, entre os

índios brasileiros, pela superposição de roletes de argila à mão

livres. O tratamento interno e externo requer a ajuda de um

implemento simples – pedaço de cuia, seixo rolado ou noz, para

alisar as paredes. Com essa técnica elementar constroem potes,

panelas, tigelas, urnas, com ou sem apêndices modeladas, de uma

harmonia admirável. (...)

O polimento da superfície ajuda a unir os roletes e dar um

acabamento perfeito. A solidificação da argila exige que a peça

seja submetida à cocção sob alta temperatura. Havendo um bom

controle do fogo obtém-se um esfumaçado que produz um negro

uniforme: ou uma oxidação que confere ao barro cor ocre de

várias tonalidades. (...)

A cerâmica indígena mais conhecida atualmente no Brasil é a das oleiras Karajá,

principalmente suas famosas “bonecas” ou Litxokó, antigamente simples brinquedo de

criança. Modeladas em barro cru representam, principalmente, a figura humana Karajá com

seus atributos culturais típicos: a tatuagem de um círculo de baixo dos olhos, os brincos de

rosetas de plumas, labrete masculino e a tanga embira feminina.

Berta Ribeiro. in Arte Indígena, Linguagem Visual, 1989.(p.387-389).

Fonte: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=11895

Bonecas Carajás (litxokó)http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=1365

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A cestaria indígena pode ser classificada em

dois tipos:

• Tipo espiral - um talo, uma palha ou um feixe de

talos ou palhas vai sendo disposto em forma de

espiral a partir de seu centro, de modo que cada

volta mais externa é ligada, com a ajuda de outro

talo ou palha de menor espessura, à volta mais

interna.

• Tipo teia - uma série de talos ou palhas, colocados

paralelamente, servem de urdidura, enquanto uma

outra série forma a trama.

Estes dois tipos permitem uma série de

variações. As variações tornam-se mais numerosas

quando se lança mão da cor, entremeando palhas

claras e palhas tingidas.

CESTO COM TAMPA

Xavante (MT)

Trançado em espiral

A tecelagem é usada para a

confecção de tecidos para o vestuário,

adornos e redes. Na confecção da

tecelagem, ela pode ser dividida em

trabalhos em malhas e tramas. Nos

trabalhos em malha, é usado um único

fio, feito com agulhas ou com as mãos

como crochê e tricô. Nos trabalhos em

trama se utiliza o tear, que mantém os fios

denso e organizados.

A TECELAGEM

Rede feita com fibra vegetal: a “cama” de boa parte das tribos indígenas do Brasil.

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Para os índios, as máscaras têm um caráter duplo: ao mesmo

tempo em que é um artefato produzido pelo homem comum, são a

figura viva do ser sobrenatural que representam. Elas são feitas com

troncos de árvores, cabaças e palhas de buriti e são usadas

geralmente em danças cerimoniais, como, por exemplo, na dança do

Aruanã, entre os Karajá, quando representam heróis que mantêm a

ordem do Mundo (PROENÇA, 1990, p.194).

AS MÁSCARAS

Fonte: MELATTI, Julio Cezar, 1970, p.153-154.

Máscara de madeira e fibras de buriti feitas por índios Mehinaku, Parque do Xingu-MT.

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http://www.iande.art.br/mascara/madeira/mehinakuquapan060512.htm

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MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA

A música é considerada pelos índios e dançam os pés fixos no chão” (MELATTI,

parte fundamental de sua vida, está associada 1970, p.159).

à dança e aos instrumentos musicais. A Existem grandes variedades de música vocal constitui provavelmente, a instrumentos musicais que inclui os de produção mais comum de música indígena. A percussão e sopro e podem ser feitos com música é uma faceta importante na vida social sementes, madeiras, fibras, pedras, objetos principalmente nos rituais, acreditam que cerâmicos, ossos chifres e cascos de animais. com a música possam se comunicar com os Os instrumentos de sopro são as flautas, seus antepassados e espíritos. apitos e buzinas; os de percussão são os

Os instrumentos musicais são partes bastões, fragmentos de tábuas, os chocalhos

importantes da cultura material e portadores (maracás), guizos, cabaças cheias de

de múltiplos significados, como o Maracá que pedrinhas ou sementes.

é usado em rituais xamanísticos e cerimônias. A dança é um ritual que envolve a “O maracá entre os Timbira, é usado pelo arte de pintura corporal e de máscaras, cantador para marcar o ritmo, quando puxa o normalmente marcados com passos fortes e cântico junto a um grupo de mulheres. Essas ritmados. A dança pode ter vários mulheres se colocam em fila, ombro a ombro, significados e intenções para os indígenas pés unidos, e balançam os braços para frente e como a dança da chuva, em homenagem aos para trás, os cotovelos como vértices de um ancestrais, para afastar os maus espíritos. Ela ângulo reto, e dobrando e retesando os é também comemorativa ou uma diversão joelhos. As mulheres, por conseguinte cantam para o grupo.

A MÚSICA, A DANÇA E OS INSTRUMENTOS MUSICAIS

http://www.riobranco.org.br/arquivos/sites_2009/1c/Site_Marco/Isa/arteindigena.html

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ATIVIDADESATIVIDADES

1) Observe as imagens dos índios e faça uma comparação, aponte as mudanças e as causas das

mesmas. Escreva e depois discuta com a turma.

“Família de um chefe Camacã se preparando para a festa”, por Jean-Baptiste Debret, 1820-1830.

Foto: Roosewelt Pinheiro, 2007. Brasília. http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/43/Xavante07032007.jpg

HOJEUm grupo de

índios Xavante, impediu os funcionários da Fundação Nacional do

Índio (Funai) de entrar no prédio

para trabalhar. Eles pedem a reabertura do

posto da Funai em Xavantina,

MT.

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MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA

2) Com as mudanças culturais ocorridas desde os primeiros contatos dos índios com os

europeus, ainda há povos que preservam suas tradições. Para entender melhor, em grupo,

pesquise sobre uma etnia indígena. Observem em sua pesquisa alguns fatores que

contribuíram para a mudança de alguns costumes, como alimentação, vestimentas, rituais. É

importante constar em sua pesquisa os seguintes tópicos:

- História de contado

- Mitologia e rituais

- Música e dança

- Arte e cultura material

Apresentem o trabalho para a sala. Para facilitar a apresentação, produzam cartazes e tragam

imagens para melhor compreensão da turma.

3) Pesquise grafismos indígenas, seja na pintura corporal, na cerâmica ou em outro objeto.

- Copie alguns no seu caderno e marque de qual etnia pertence o grafismo.

Observe nos grafismos o ritmo da cores, das linhas e das figuras geométricas repetidas.

- Com base nos grafismos pesquisados, crie faixa-decorativa ou composição trabalhando o

ritmo das cores e formas. Use materiais diversos para o acabamento: lápis 6B, caneta

hidrocor, lápis de cor, etc.

Site de pesquisa:

- Funai – (Fundação Nacional do índio).http:// www.funai.gov.br

- ISA – (Instituto Socioambiental). http://www.pib.socioambiental.org

- Youtube – http://www.youtube.com.br

- Iandé – Casa das Culturas Indígenas. www.iande.art.br

Sugestões de vídeos do Youtube:

- Ritual da imagem: Arte Asurini do Xingu - Pintura corporal

http://www.youtube.com/watch?v=JgmuTQIuGH4&feature=related

- Ritual da imagem: Arte Asurini do Xingu – cerâmica

http://www.youtube.com/watch?v=_RqPlomJF-4&feature=related

- Pajerama

http://www.youtube.com/watch?v=BFzv0UhHcS0&feature=related

- Jorge Bem – Curumim Chama Cunhatã.

http://www.youtube.com/watch?v=y1Hwf3KXKIc&feature=related

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POVOS INDÍGENASNO PARANÁ

POVOS INDÍGENAS NO PARANÁ

Os primeiros povos paleoíndios, rupestres no Paraná foram encontradas em

habitantes do Paraná eram povos nômades abrigos, cavernas e arenitos dos Campos

caçadores-coletores, sendo caracterizados Gerais. As representações são divididas em três

pelos diferentes materiais lascados que categorias, as figuras humanas, as figuras de

produziam, como pontas e projéteis. Supõe- animais e os sinais. As figuras de animais e

se que já estavam nos territórios paranaenses seres humanos são associadas a representações

entre 12.000 a 15.000 anos atrás, vindos das geométricas, em tons vermelhos, marrons e

terras altas do centro e oeste sul-americano: pretos, raramente em amarelo. Em vários

áreas andinas e amazônicas. abrigos existem pinturas geométricas

Há dez mil anos, com o clima tornando- abstratas, os sinais, como pontos, círculos e

se cada vez mais quente e úmido, outros grupos linhas, que sobrepõem figuras de animais,

caçadores e coletores migram para o Paraná, geralmente em vermelho e marrom. Parte

ocupando em momentos diversos tanto o vale dessas pinturas e gravuras rupestres, no Paraná,

de grandes rios, tais como o Iguaçu, o Ivaí, o com datação entre quatro mil e trezentos anos

Tibagi e o Paraná, como nos topos de atrás, parecem estar relacionadas a grupos Jê.

montanhas, inclusive abrigos rochosos, e o As representações rupestres refletem

litoral. aspectos simbólicos e espelham a identidade

As primeiras pinturas e gravuras cultural da sociedade que a produziu.

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CONTRIBUIÇÕES DA CULTURA INDÍGENA

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ARTE RUPESTRE NO PARANÁ

Pintura rupestre no Estado do ParanáFoto: acervo Museu paranaense

Pontas de flechasFoto: acervo Museu Paranaense

Fonte: Arqueóloga Dra.Cláudia Inês Prellada. Museu Paranaense.

http://www.museuparanaense.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=177&evento=10

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MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA

POVOS AGRICULTORES CERAMISTAS

Os primeiros povos agricultores e como por exemplo, os cachimbos com

ceramistas chegaram ao Paraná há 4.000 fornilho redondo e haste cerâmica. Usavam

anos, vindos do planalto central brasileiro, também porongos, frutos ocos, como moldes

ocupando as terras altas do sul brasileiro. Ao internos de pequenas vasilhas. Esses frutos

longo do tempo dispersaram-se por todo o eram queimados com a argila aderida na

território paranaense, sendo ancestrais de superfície, desaparecendo com as altas

índios da família lingüística Jê. temperaturas, mas deixando impressões no

Os Jê meridionais, atualmente interior dos vasilhames.

representados pelos Kaingang e Xokleng, Na cerâmica arqueológica Itararé-

teriam se separado e iniciado a migração em Taquara (Kaingang e Xokleng) usavam os

direção ao Sul, há cerca de 3.000 anos. métodos de manufatura pelo modelado,

Viviam em aldeias, com até 300 pessoas, e os roletado e paleteado.

territórios eram marcados através da Na técnica do roletado, usado tanto por

gravação de símbolos clânicos em abrigos grupos Tupi-Guarani como Jê, os vasos eram

rochosos e em tronco de pinheiro de confeccionados através de roletes ou cordéis

araucária. Cremavam seus mortos, faziam de argila, sucessivamente ligados e apoiados

cemitérios em danceiros (lugares de reuniões uns sobre os outros, secos a sombra, e depois

sociais) ou abrigos rochosos, onde realiza- havia a sucessão de polimento da superfície

vam pinturas e gravuras. Os artefatos em externa através de pequenos seixos arredon-

pedra eram polidos e/ ou lascados. dados, principalmente em silexito (rocha),

A cerâmica relacionada aos ancestrais folhas de palmito ou espátulas de madeira ou

de índios Jê no Paraná caracteriza-se pelo concha.

pequeno volume de espessura fina, com even- No paleteado confeccionava-se o

tual engobo negro ou vermelho, e em alguns vasilhame inicialmente através de um cone

casos marcada com impressão de tecido ou feito de argila apoiado em um seixo arredon-

malha, ou ao mesmo tempo carimbada e dado de pedra, que era batido sucessivamente

incisa, na face externa do vasilhame. com uma paleta de madeira ou outro seixo,

A confecção dos vasilhames era feito fazendo as peças de diferentes formas e

por diferentes técnicas, como o modelado tamanhos.

onde a argila era modelada com as mãos, O engobo é uma fina camada de

pigmentos aplicados na vasilha, antes e

depois da queima; pode modificar ou

aumentar a impermeabilidade da peça. Os

Itararé-Taquara usavam o engobo negro ou

vermelho. O engobo negro consegue-se

através do esfumaramento: na queima do

vasilhame, quando se torna rubro devido a

temperatura, é colocado sobre a palha de

milho seca, e assim ocorre a reação da

combustão, onde o carbono adere intensa-

mente à superfície do vasilhame que fica

com uma película negra assemelhada ao

verniz.

O engobo vermelho, geralmente é

Vasilhame cerâmico da Tradição Arqueológica Itararé.Relacionada aos ancestrais de grupos do Tronco Lingüístico Jê,

e encontrado em roncador –Pr. Acervo: Museu Paranaense.

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inorgânico, como óxido de ferro moído aldeias e a cerâmica era decorada, com

diluído em água e aplicado sobre a superfície pinturas geométricas, vermelhas e pretas

do vasilhame, antes ou depois da queima o sobre engobo branco, ou incisões ou

que diminui a durabilidade da cor e da marcações com as unhas e a polpa dos dedos;

impermeabilidade. eram comuns os cachimbos cerâmicos. As

Os ancestrais dos índios Tupi e Guara- técnicas de manufatura da cerâmica incluem

ni, provavelmente vindos da Amazônia, o roletado e o modelado.

chegaram ao Paraná, há 2.000 anos atrás. Os

Guarani, também agricultores, viviam em

Fonte: PARELLADA, Cláudia Inês. Estética Jê no Paraná: Tradição e Mudança no Acervo do Museu Paranaense. R.cient./FAP, Curitiba, v.3, p. 219-222, jan/dez. 2008.

HISTÓRICO DE CONTATO

No Estado do Paraná temos quatro Foram devastados ricos territórios em

grupos indígenas que lutaram e lutam pela florestas ervais e madeiras, principalmente de

sobrevivência de sua etnia e cultura, os araucárias, territórios de campos de caças e de

Kaingang, Xokleng, Guarani e Xetá. Pode-se coleta de pinhão, fonte de alimento dos

dizer que chegaram ao Paraná à 2000 anos indígenas, para a ocupação e implantação de

atrás, com exceção dos Xetá que ainda não fazendas de criação nos campos de

existe informação a respeito. Os territórios Guarapuava (Koran-bang-rê) e Palmas

localizados entre os rios Paranapanema, (Kreie-bang-rê). Em meados deste século, as

Tibagi e Ivaí, hoje norte e noroeste do Paraná terras roxas do norte no Paraná foram

já eram ocupados pela população indígena. ocupadas com o plantio de café, e as terras do

A história de contato desses povos com sudoeste e oeste transformadas em campos de

os europeus no Estado do Paraná, data do agricultura pelos fazendeiros, expandindo

início do século XVI, com as primeiras seus domínios.

expedições portuguesas e espanholas que No século XX, a guerra de conquista

cruzavam pelo interior do Paraná rumo ao continuou em nome do progresso, pelas

Paraguai e ao Peru, em busca de metais, de companhias de terras que lotearam e

escravos e terras indígenas. venderam os territórios indígenas com o aval

Continuou no século XVII com a institucional do Estado do Paraná.

implantação das Reduções Jesuísticas no A ocupação das últimas matas nativas

Guairá e com as bandeiras Paulistas que das áreas indígenas no vale do rio Tibagi, conti-

invadiram a região capturando os índios. nuou no limiar do século XXI, com a constru-

O século XVIII foi marcado com a ção de barragens para a geração de energia.

descoberta de ouro e diamantes no rio Tibagi, Todos esses territórios, pertencentes às

e com expedições militares que construíram comunidades indígenas Kaingang, Xokleng,

fortificações e transitavam pelo território Xetá e Guarani, foram espaços submetidos à

rumo ao Mato Grosso. conquista e à ocupação. Os índios lutaram

Já no século XIX, as comunidades pela manutenção desses espaços e de seu

indígenas sofreram um acelerado processo modo de vida. Foram séculos de resistência e

para se integrarem à sociedade envolvente. lutas contra a política de integração.

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Travaram inúmeras batalhas contra os atingidos por suas flechas. Apesar dos

invasores de seus territórios, muitos índios conflitos e extermínio as comunidades

foram mortos pelas armas de fogo dos indígenas sobreviventes permaneceram

brancos, mas, muitos conquistadores foram indígenas.

Fonte: MOTA, Lúcio Tadeu.

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Kaingang do PR (desenho de João Henrique Elliot 1809-1888)

KAINGANGKAINGANGVIVIAM LIVRES NAS REGIÕES DE

CAMPOS E FLORESTAS DO SUL DO BRASIL

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OS KAINGANGOS KAINGANG

Os Kaingang fazem parte do tronco pertencentes aos vários grupos indígenas –

Macro-Jê, da família Jê e falam a língua Kaingang, Guarani, Xokleng, Xetá –

Kaingang e ocupam áreas dos Estados da provocando as primeiras tentativas de

região Sul: Paraná, Rio Grande do Sul, Santa ocupação não indígenas nas terras do interior

Catarina e São Paulo. Também conhecidos das províncias do sul.

como Jê do Sul. No início do século XIX, a estrada da

A denominação kaingang só foi Mata foi o eixo inicial de ocupação dos

introduzida no final do século XIX por territórios indígenas do Sul, intensificada com

Telêmaco Borba. Inicialmente , os Kaingang e o comércio de rebanho muares e bovinos

os Xokleng foram classificados como uma só trazidos do Rio Grande do Sul para Sorocaba e etnia com dialetos diferentes, sendo o Xokleng passando pelos Campos Gerais no Paraná, não denominado Aweikoma- Kaingang apenas em direção ao sul, mas também a oeste e

No século XVI teve início a história de a norte. A expansão paulista é a ponta de lança contato dos Kaingang com os colonizadores para a conquista das terras indígenas do Paraná, europeus, quando alguns grupos viviam Santa Catarina e Rio Grande do Sul.próximos ao litoral atlântico. O caminho das tropas é que vai

Nos séculos XVI e XVII grande parte consubstanciar uma frente de ocupação e dos índios foram reduzidos e alguns grupos exploração nacional nas terras indígenas, com ancestrais dos Kaingang foram reduzidos em a implantação de sesmarias a partir dos

Conceição dos Gualachos, às margens do rio Campos Gerais no Paraná.

Piquiri, e em Encarnación , às margens do Apesar de todas as guerras dos Kaingang

Tibagi. Após terem fugido dos ataques dos para expulsar os brancos, os caciques foram

bandeirantes paulistas, os jesuítas fundaram vencidos um a um e aceitaram fixar-se nos

novas reduções na Província de Tape, entre aldeamentos definidos pelo governo, sob pena

1632 e 1636 (atual Rio Grande do Sul). de serem exterminados, como de fato alguns

Muitas populações indígenas reduzidas foram. Simultaneamente ao aldeamento, os

foram atingidas por diversas epidemias e territórios foram sendo ocupados pelas

houve grande prejuízo demográfico. fazendas e a colonização nacional foi se

Como foram poucos que aceitaram viver consolidando nas décadas seguintes. sob o comando dos jesuítas, os Kaingang, No final do século XIX, pode-se dizer viveram livres nas regiões de campos e que todos os grupos t inham sido florestas do sul do país até o século XIX, conquistados, a exceção dos Kaingang da quando foram conquistados. bacia do Tietê-SP e os grupos que viviam nos

Na segunda metade do século XVIII, as territórios entre os rios Laranjinha e Cinzas primeiras tentativas de conquista e ocupação no Paraná que foram conquistados nas efetiva dos campos e florestas pertencentes aos primeiras décadas do século XX. Os de São Kaingang, iniciou-se na província do Paraná Paulo foram conquistados em 1912 e os dos (que incluía a maior parte do Estado de Santa Paraná em 1930.

Catarina). Nesse período as expedições

exploradoras localizaram vários territórios

KAINGANG: HISTÓRIA DE CONTATO

Foto: acervo Museu do índio, década de 1950

Fonte: Kimiye Tommasino.

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A origem dos Kaingang tem ligação sobrevivência, de atividade econômica, de com a Terra-mãe e constitui-se como o produção e reprodução da cultura. “Da Terra princípio da vida, da sociedade e da saíram e a Terra voltarão”.cultura. Na mitologia Kaingang os primeiros

A relação se dá desde o nascimento até humanos saíram de um buraco na terra, são: a morte, com seus umbigos enterrados na Kamé e Kairu, metades que deram origem a terra e a vida que se constitui pelo contato sociedade e que produzem a divisão entre os com a natureza. Rios e matas são espaços de homens e os seres da natureza.

MITOLOGIA KAINGANG

Segundo Nimuendajú (1993), na mitologia Kaingang foram os dois irmãos Kairu e

Kamé que criaram todas as coisas:

fizeram todas as plantas e animais, e que povoaram a terra com seus descendentes, não há nada neste mundo fora da terra, dos céus, da água e do fogo, que não pertença ou ao clã de Kañeru ou ao de Kamé. Todos ainda manifestam a sua descendência ou pelo seu temperamento ou pelos traços físicos ou pela pinta. O que pertence ao clã Kañeru é malhado, o que pertence ao clã ao Kamé é riscado. O Kaingang reconhece estas pintas tanto no couro dos animais como nas penas dos passarinhos, como também na casca, nas folhas, ou na madeira das plantas. Das duas qualidades da onça pintada, o acanguçu é Kañerú, o fagnereté é Kamé. A piava é Kañerú, e por isso ela vai também adiante da piracema. O dourado é Kamé. O pinheiro é Kañerú, o cedro é Kamé, etc.

Fonte: Kimiye Tommasino. Novas contribuições aos estudos interdisciplinares dos Kaingang.

Londrina Eduel, 2004. Capítulo 5, p. 146-159.

O relato do velho Xê exemplifica como os mitos e as crenças desse povo estão

regidos profundamente por sua relação com a natureza e o mundo:

“Os primeiros Kaingáng foram Filtón e o “iambrê” (cunhado) dele. Viveram muito, muito tempo antes da grande chuva que provocou a inundação de todo o mundo. Filtón era o chefe dos Kanherú e o outro o dos Kamé. Vieram do interior da terra. O chão tremeu e houve um estouro. Enxergaram a claridade e saíram de dentro da terra. A princípio eram dois grupos sómente, mas ao chegarem à superfície da terra fizeram a subdivisão em Votôro e Venhiky, por causa das festas que iam realizar”.

PEREIRA, Magali Cecili Surjus. Meninas e meninos Kaingang: O processo de socialização.

Londrina. Ed. UEL, 1998. p.40

RITUAL E XAMANISMO mortos, as crenças e o apego às terras onde

estão enterrados seus umbigos, são

O kiki, culto aos mortos, é o ritual que expressões compartilhadas entre os Kaingang

ainda é reconhecido como sistema e de grande valor para a vida religiosa do

cosmológico. Ainda hoje o respeito aos grupo.

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O Kiki, ou o ritual do Kikikoi (comer O terceiro fogo: São seis fogos acesos

kiki), consiste em reunir dois grupos paralelamente ao konkéi, três para cada

formados por pessoas pertencentes a cada metade clânica. Acontece dois meses após a

uma das metades clânicas, Kamé e Kairu. colocação da bebida no Konkéi.

A realização do ritual do Kikikoi Durante a noite os rezadores com ou-

depende do pedido dos parentes de alguém tros integrantes permanecem entoando cantos

que veio a falecer nos anos anteriores e deve e rezas para os mortos da metade oposta.

ter mortos das duas metades. Nesta etapa as mulheres, as péin,

O Kikikoi pode ser definido como o realizam pinturas faciais cuja finalidade é a

esforço da sociedade em ratificar o poder do proteção dos participantes contra os espíritos

mundo dos vivos sobre os perigos associados dos mortos de sua metade.

com a proximidade dos mortos. É um ritual Ao amanhecer os grupos se deslocam

para afastar o morto de seus entes queridos, para a praça de dança, onde os grupos se

que correm perigo de serem levados pelo fundem ao redor dos fogos e o ritual é

morto, pois não conseguem se libertar do concluído com o consumo do kiki.

mundo dos vivos pela falta que sentem da

esposa ou esposo e dos filhos.

Hoje o Kikikoi é realizado apenas pelos

Kaingang da Terra Indígena Xapecó em Santa

Catarina. Os jovens consideram o Kiki como O Kuiã (xamã) se ocupa das curas e tem

sistema dos antigos e associam o Kiki a capacidade de ver o que irá acontecer com

tradição indígena. aqueles que vivem no grupo.

O poder do kuiã é adquirido através de

seu guia animal (jangrê), que será seu

companheiro e guia, e ensina ao kuiã o

tratamento com remédios do mato. O guia

Na realização do Kikikoi, as metades animal pode ser o tigre que é considerado o

clânicas, Kamé e Kairu atuam separada- mais forte dos guias.

mente. O processo ritual é marcado pela O aspirante a kuiã, deverá ir ao mato

reunião dos rezadores em três fogos acesos virgem, cortar folhas de palmeira e

em dias diferentes, no terreno do organizador, confeccionar recipientes com água para atrair

que é chamado de praça da dança ou praça o animal. O animal que beber a água

dos fogos. preparada será seu companheiro e guia.

O ritual deve ser realizado entre os Com seu guia ou companheiro animal,

meses de janeiro e junho, durante a época de o kuiã ocupa posição importante na

milho verde. organização social e política das comuni-

O primeiro fogo: são dois fogos, um dades Kaingang.

para cada metade clânica. Antecede pelo

corte do pinheiro (araucária) para fazer o

cocho onde o “Kiki” (bebida feita de milho) é

colocado.

O segundo fogo: são quatro fogos, dois Os territórios Kaingang compreendiam

para cada metade clânica. Ocorre na noite extensas áreas de campos e florestas do Sul,

seguinte que antecede o início da preparação além das aldeias, onde acampavam em

do Konkei (cocho). períodos de caça, pesca e coleta. O pinhão,

KUIÃ

RITUAL DO KIKIKOI

SUBSISTÊNCIA

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fruto do pinheiro do Paraná (araucária

Angustifólia), era fonte alimentação nos

períodos de inverno. Usavam os pari,

armadilhas de pescas, forma tradicional, que

ainda é utilizada pelos Kaingang dos rios Ivaí

e Tibagi.

Hoje sobrevivem das roças adminis-

tradas pela FUNAI, das vendas de artesanato,

de aposentadorias e alguns empregos

públicos existentes nas aldeias.Araucaria angustifolia (Araucária), o Pinheiro-do-Paraná

ORGANIZAÇÃO SOCIAL

O aspecto da organização social Kaingang é a divisão nas metades exôganicas Kamé e

Kairu que se opõem e se complementam.

KAINRU KAMÉ

Gêmeo ancestral denominado Kainru,

conforme o mito, saiu primeiro do chão;

lua, um ex-sol; noite; corpo fino, peludo,

pés pequenos; frágil, menos forte;

feminino; ligeiro em movimentos e

resoluções; menos persistentes; leste; baixo

(parte de baixo); pintura corporal redonda,

fechada; orvalho, umidade; mudança;

agilidade; lugares altos; seres/objetos

redondos/fechados; seres/objetos

malhados/manchados, leves ou delgados;

sete sangrias (Simplocus parviflora).

Gênero ancestral denominado Kamé;

conforme o mito, saiu depois do chão; sol,

símbolo de força e poder; dia; corpo

grosso, pés grandes; mais forte; masculino;

vagaroso em movimentos e resoluções;

persistentes; temperamento feroz; oeste;

alto (parte de cima); pintura corporal em

faixas, linhas, “abertas”; dureza;

permanência; lugares baixos; seres/objetos

compridos/riscados mais pesados ou

grossos; pinheiro (Araucária angustifólia).

http://www.scielo.br/pdf/ha/v8n18/19062.pdf

Os casamentos devem ser realizados ambos os sexos pertencem à metade do pai,

entre indivíduos das metades opostas. Kamé ou seja, se o pai é Kamé, os filhos de ambos os

não pode casar com Kamé, ou vise e versa, sexos são Kamé, se o pai é Kairu os filhos são

pois são irmãos. Kamé só pode casar com Kairu.

Kairú. Na tradição Kaingang, o Sol é Kamé e a

Os Kamé estão relacionados ao oeste e Lua é Kairú.

a pintura facial é feita de motivos compridos A cosmologia dualista dos Kaingang,

(rá teí) e os Kairu, ao leste, a pintura facial é os mitos Kamé e Kairú não apenas produzem

feita de motivos redondos (rã rôr). a divisão entre os homens, mas também na

A metade Kamé ou Kairu, a filiação, é natureza vegetal e animal: o pinheiro é Kamé

definida patrilateralmente. Os filhos de e o cedro é Kairu, o lagarto é Kamé e o

http://http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=19998

Fonte: Sergio Baptista da Silva

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macaco é Kairu, assim por diante, conforme velhos, seus filhos e filhas solteiras, suas

Telêmaco Borba (1882). filhas casadas, seus genros e netos. Este grupo

Os princípios sociocosmológicos doméstico não ocupa, necessariamente, uma

dualistas tradicionais kaingang operam sobre mesma habitação, mas um mesmo território.

uma estrutura social baseada na articulação de Ser Kaingang na atualidade, significa

unidades sociais territorialmente localizadas, ser filho de pai kaingang. Nas terras indígenas

formadas por famílias entrelaçadas que kaingang há um número significativo de

dividem responsabilidades cerimoniais, indivíduos classificados como mestiços

sociais, educacionais, econômicas e políticas. (filhos de casamentos entre kaingang e

A morfologia social kaingang segue branco), misturados (filhos de pais de duas

princípios complementares e assimétricos etnias indígenas, como de Kaingang com

com relação aos princípios dualistas. A Guarani ou Kaingang com Xokleng), india-

unidade social mínima kaingang é o grupo nos (brancos casados com mulheres kaingang

familiar formado por uma família nuclear que vivem incorporados como membros da

(pais e filhos). Estes grupos familiares fazem comunidade da esposa), ou cruzados (estes,

parte de unidades sociais maiores que segundo os próprios Kaingang, são definidos

podemos chamar de grupos domésticos, como aqueles filhos de mãe índia e pai branco

formados, idealmente, por um casal de e que não falam a língua nativa).

Fonte: http://pib.socioambiental.org/pt/povo/kaingang/288. Kimyie Tommasino.

ARTE E CULTURA MATERIAL KAINGANG

Os kaingang fabricavam armas de instrumento de taquara fina encabada em uma

guerra e de caça, tecidos de fibras de urtiga cabaça furada nas extremidades (õtõrêrê).

brava, talas de caraguatá, cestos de taquara, A dança para os Kaingang está

enfeites e adornos e utensílios de cerâmica e relacionada ao culto aos mortos, que se realiza

porongos (cabaças). A cerâmica era anualmente na época em que o milho está verde

utilizada basicamente para preparar os e o pinhão amadurece. É acompanhada de

alimentos. cantos rituais e sons de chocalhos. Os

As armas de guerra constituíam-se de dançadores se distribuem de acordo com a

arcos, flechas e lanças. As pontas das flechas metade a que pertencem.

eram de osso de macaco bugio e mico. Os arcos Com relação aos grafismos, aparecem

eram feitos de pau d'arco (Tabebuia em uma grande variedade de suportes como

Chrysantha). Tempos depois, as lanças trançados, tecidos, armas, utensílios de cabaça,

passaram a ser de ferro que eram obtidos dos cerâmica, troncos de pinheiro e nos corpos dos

brancos. Atualmente os Kaingang fabricam Kaingang.

arcos e flechas apenas como enfeites. Os trançados revelam formas e

Entre os instrumentos musicais estão grafismos relacionados à cosmologia dualista,

segundo Borba (1908): buzina de chifre de boi evidenciando a organização simbólica dos

ou taquara (oaquire), flauta de taquara (coque), mundos social, natural e sobrenatural em

Maracás (xii: xik-xi), apitos de taquara e outro metades Kamé e Kairu.

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Maria Va-Gánh que diz ter 120 anos de idade.

“Fazia pintura do rosto (redondo)

Com a tinta preta, no balaio

Fazia redondo

Fazia riscado

Lembra de tudo

Só do cipó-kó-mrur

Já existia o balaio

E fazia o desenho, a pintura.

O pai, o bisavô eles aprenderam

Sei faze chapéu, mais precisa de criciúma e é muito

Longe pra busca.

Mais até hoje sabe fazê..

Fazia panela, tigela, prato de barro porque naquele

Tempo, não existia de outro.

Mais pra faze panela, não é quarquê barro que serve.

O nome do barro é go-õr

Fazia tempo que não procura mais

Faiz tempo...

Hoje existe prato do branco

Vou mandar o fio procurar (o barro) e vou faze

Hoje faço peneira também

Tem pintura do rosto (rõr)(...)”

(inverno de 1996)Fonte: OLIVEIRA, Marlene de.

Da taquara ao cesto: a arte gráfica Kaingáng.

UEL, Londrina, 1996. (p.41).

PINTURA CORPORAL

RELATO DE ÍNDIA KAINGANG DO APUCARANINHA

A pintura corporal estava sempre com os colmos de taquara para a metade

presente no Kikikoi (culto dos mortos) e votor. Geralmente a pintura era feita na face

caracterizava o subgrupo ou clã ao qual o do indivíduo, mas, também eram realizadas

indivíduo pertencia. As pinturas corporais em toda a superfície do corpo, e cobertas por

eram pretas, feitas com carvão misturado com penas e plumas.

mel e água ou com a seiva pegajosa de uma A pintura está sempre associada aos

trepadeira. Algumas pinturas eram feitas nomes ou marcas, ror e téj. Ror representa a

através de um carimbo em madeira, inclusive metade Kairú (kanhru), baixo-redondo ou

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grosso-compacto. Téj representa a metade manchas ou pontos é frágil, feminino, ligeiro,

Kamé, alto-comprido ou fino e difuso. A simboliza a Lua, a noite, a agilidade e leveza.

pintura corporal característica dos Kanhru Kamé é marcado pelas linhas retas ou curvas,

seriam manchas e a dos Kamé listras. representando o sol, que é o símbolo da força

Kanhru representado pela marca de e do poder, o dia, o masculino, o feroz.

ARTE E CULTURA MATERIAL KAINGANG – HOJE

Na arte indígena de hoje, já está kaingang confeccionam outros artefatos

incorporada o costume do não-índio, mas como: bolsas, peneiras, chapéus, colares,

ainda existe a tradição da pintura corporal, do pulseiras, arco e flecha e chocalhos. Também

uso de adornos e cocares em festas, como no utilizam na confecção de bolsas, a fibra de

dia do índio; nas festas religiosas como Nossa bananeira.

Senhora Aparecida e outros santos e em No artesanato, o grafismo dos cestos,

eventos e apresentações fora da aldeia. ou seja, o trançado é padronizado, mas o

artista é livre para criar outros motivos, estão

s e m p r e inovando.

A taquara é a matéria-prima utilizada na

confecção da cestaria e é retirado das matas

Além dos cestos de taquara, os longe da aldeia. São cortadas em fitas com

ARTESANATO

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facas bem afiadas e depois tingidas com ornamentados com taquara e penas de galinha

anilina (produto industrializado), antes da que também são tingidas com anilina, como

confecção dos cestos e dos outros artefatos. também os arcos e flechas e cocares. Os

Os chocalhos são feitos de cabaça e colares são feitos de sementes.

A cestaria tornou-se ao longo do tempo atividade produtiva. Envolve principalmente as mulheres e crianças menores que acompanham desde a coleta da taquara no campo até o trabalho de trançar.

O comércio de cestarias é feito, principalmente, na cidade onde montam acampamentos próximos a alguma água ou riacho.

Andam pelas ruas da cidade vendendo ou trocando seus balaios por roupa ou comida.

Trecho do livro: Meninas e meninos Kaingang: O processo de socialização. Londrina Ed. UEL, 1998. Magali Cecili Surjus Pereira.(P.90).

As cestarias Kaingang compõem a indicando a cobra (pyn), chamada de “Ti-rá-

grande riqueza material Kaingáng, pois reroio”.

trazem grande variedades de motivos Os desenhos dos trançados Kaingang

decorativos expressos nos seus trançados e mostram os padrões para a confecção de

que hoje representam a identidade cultural balaios, cestos e peneiras que devem ser

dos kaingáng. seguidos, conforme a estética de cada um. São

Os desenhos geométricos das cestarias três tipos de cestos: Key – os mais altos do que

tem relação com a organização social e amplos (paneiformes); Kre – mais largos do

representam suas metades clânicas. Cestos e que altos (ganeiformes) e Peñera – amplas e

peneiras em seus motivos geométricos, achatadas.

representam a pintura do rosto, as marcas das Hoje, com o processo de mudança por

patrimetades Kairú e Kamé que pertence o motivos de contato com a civilização

artesão, como forma indiscutível de majoritária e a necessidade de arrecadar

afirmação étnica e identidade do indivíduo fundos para a subsistência, muitas vezes as

na estrutura social. Algumas representações mulheres não seguem as regras de trançados

gráficas dos desenhos também tem relação estabelecidas pela tradição, usam diferentes

com animais que pertencem as metades, a motivos geométricos e com cores fortes,

onça (mig) era estampada nos desenhos como roxo, rosa, verde, amarelo e o vermelho,

das cestarias dos antigos Kaingang. pela necessidade de adequar a produção as

Atualmente encontramos alguns desenhos exigências dos consumidores.

TRANÇADO KAINGANG – CESTARIAS

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EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE

CESTARIAS, ARTEFATOS E COLARES KAINGANG

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MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA

ADORNOS

INSTRUMENTOS MUSICAIS

sementes de milho e feijão; também temos o turú, que é feito da taquara e na ponta usa-se Antigamente, a natureza oferecia uma um porongo ou garrafa plástica. infinidade de matérias primas que os

indígenas coletavam para confeccionar Esses instrumentos musicais antiga-determinados adornos, que eram usados no mente eram usados durante as danças dia a dia e durante as práticas festivas. culturais chamadas Kiki koj, e hoje são usadas

nos grupos de dança das escolas indígenas. Para cada tipo de material extraído da natureza, existe tempo e estação própria. Fonte: NÖTZOLD, Ana, Lúcia Vulfe (org). Cipó Guambé,

Taquaruçú e Anilina: Conhecendo os Artesanatos Kaingáng. Na confecção da pulseira utiliza-se os Caderno de Atividades. Gráfica Agnus. São José – SC, 2009.

seguintes materiais: cipó guambé, taquara mansa, imbira, sementes, casca de guajuvira.

No colar: usa-se sementes de várias espécies, ariticum, uva japão, coquinho, penas de animais silvestres e linha de imbira.

O anel: é feito de coquinho, taquara mansa e cipó guambé.

Palito de cabelo: usa-se uma madeirinha extraída especialmente da guajuvira e como enfeite é inserido penas e casca de cipó guambé.

O cocar: a sua base é feita com o cipó guambé ou taquara mansa e para enfeita-lo é inserido penas coloridas.

Brinco: é feito de sementes, pequenos pedaços de madeira, nó de pinho e tiras de cipó guambé.

Braçadeira: usa-se cipó guambé, taquara mansa, penas e tinta de cipó.

Atualmente, os Kaingáng utilizam materiais artificiais, como tinta, linhas e cola, devido à escassez da matéria prima.

Entre os instrumentos musicais usados pelos Kaingáng, temos os seguintes: a flauta, feita de gomo da taquara mansa e do porongo; o chocalho também é um instrumento feito de porongo contendo em seu interior algumas

MÚSICA

DANÇA

Encontramos músicos Kaingang que tocam violão, acordeão, guitarra elétrica e grupos que tocam em bailes e igrejas que existem dentro das aldeias Kaingang.

Segundo o professor indígena Alcindo Curimba Cordeiro, da aldeia do Ivaí em Manuel Ribas, Paraná, existe o Grupo de Música: OS INDIANOS, onde os músicos tocam gaita, violão guitarra, contra baixo e teclado. As músicas preferidas são as gauchescas, sertanejas entre outros ritmos.

Destaca-se o baile, pois reúne indivíduos de todas as idades. O baile é frequentemente realizado pela comunidade em dias festivos como festas juninas e julinas, dias santos, dia do índio ou quando um grupo está com vontade de dançar.

Dançam todos na mesma direção formando um grande círculo ao redor do salão. Observa-se a formação dos pares assim que a música começa a ser tocada, esses pares se desfazem rapidamente, quando termina a música (PEREIRA,1998).

CONTO INDÍGENA KAINGANG

Depois do dilúvioPovo kaigang (Mito Kaigang)

Os velhos do povo Kaigang contam aos seus netos que, nos tempos criadores, a terra

viveu um grande dilúvio. Choveu tanto, mas tanto, que ficou para fora apenas o pico da

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serra Crinjijimbê. Por isso todos os seres humanos daquela época tentaram alcançar o

topo para sobreviver. Muitos tentaram, mas alguns não conseguiram e morreram

afogados. Seus espíritos, conforme contam os antigos, foram para o centro da terra onde

fizeram sua morada.

As pessoas que sobreviveram eram tantas que o pico da serra não comportava todo

mundo. Alguns, então, tiveram que viver nos galhos das árvores, enquanto outros

viveram na terra.

Passaram-se muitos dias e todos já estavam desanimados com a chuva que não

parava, e a água que não baixava, algumas pessoas já passavam mal de fome, pois nada

mais tinham para comer.

Quando tudo parecia perdido, os homens ouviram bem ao longe um canto

conhecido por eles: era o canto das saracuras que traziam, dentro de seus papos, terra

para aterrar o dilúvio. Imediatamente todos passaram a gritar pedindo socorro às aves

que, compadecidas, atenderam ao pedido dos humanos. Com a ajuda de outras aves, as

saracuras fizeram um grande dique por onde atravessaram os homens. Infelizmente,

como houve demora no atendimento, os homens que estavam sobre as árvores acabaram

virando macacos e saíram pulando de galho em galho.

Contam os antigos que, como as saracuras vinham de onde o sol nasce, as águas

acabaram todas correndo para o poente, indo em direção ao grande rio Paraná.

Com o passar dos dias as águas secaram e os sobreviventes se estabeleceram nas

imediações do pico Crinjijimbê. Aí aconteceu um fato inusitado para todos: os que

haviam morrido e ido morar no centro da serra, começaram a abrir caminho para fora e

chegaram a sair por duas veredas. Os da metade Kaiurucré saíram num lugar plano e

cristalino e por isso tinham os pés bem pequenos; os da metade Kamé saíram por outra

vereda. Esta era pedregosa e cheia de espinhos. Por isso ficaram com pés grandes.

Também saíram em lugar muito árido, sem água para beber. Mais uma vez, tiveram que

pedir aos kaiurucré permissão para beber de sua água. Assim estes dois grupos foram

convivendo até abandonarem a serra. (...)

As duas metades Kaigang continuaram seu caminho até chegarem num local onde

decidiram unir suas forças através do casamento entre os seus jovens. Moços Kaiurucré

casariam com moças Kamé, e moços Kamé casariam com moças Kaiurucré. Assim

aconteceu. Mas foi tudo sem festa porque eles ainda não sabiam cantar ou dançar.

A música e a dança apareceu entre eles quando um grupo de caçadores Kaiurucré

chegou num bosque todo limpinho e percebeu que havia, ali, um pequeno roçado.

Aproximaram-se para observar melhor e notaram duas varinhas com suas folhas

carregando uma pequena cabaça. Acharam estranho e voltaram para a aldeia onde

contaram tudo o que viram.

O chefe da aldeia decidiu que voltaria ao local com toda aldeia para certificar-se

daquilo. Lá chegando ouviram canções belíssimas. Foram decorando cada uma das

canções. Depois pegaram a varinha e levaram para a aldeia onde fizeram cópias delas e

distribuíram entre todos. O Chefe Kaiurucré, que havia presenciado a dança das

varinhas, reproduziu a mesma dança chacoalhando-as. Todo mundo viu e gostou. Foi o

início de uma grande festa. (...)

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MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO - ARTE INDÍGENA

ETNO CONHECIMENTO

A ORIGEM DO MILHO

ntigamente nossos antepassados se alimentavam de frutos e mel,

quando estes faltavam eles passavam fome. Um velho de cabelos

brancos de nome Gâr, ficou com pena deles; um dia disse a seus Afilhos, netos e noras, que pegassem um pedaço de pau e com ele fizessem uma

roçada nos taquarais e queimassem. Feito isso disse aos filhos que os

conduzissem ao meio do roçado. Quando lá chegaram sentou-se e pediu que

trouxessem cipó grosso. Quando já haviam trazido bastante cipó o velho disse:

– Agora vocês amarrem no meu pescoço e arrastem-me pela roça em

diferentes direções. Quando eu estiver morto enterrem-me no centro dela e vão

para a mata pelo espaço de três luas...

...Quando vocês voltarem, passado esse tempo acharão a roça de frutos

que, plantados todos os anos, livrarão vocês da fome. (...)

Fonte: Ana Lúcia Vulfe Nötzold/Ninarosa Mozzato da Silva Manfroi

(organizadoras)

Ouvir Memórias e Lendas. Contar Histórias: Mitos e Lendas Kaingáng.

Ed. Pallotti, Santa Maria – RS, 2006.

Fonte:

Glossário

Kaigang – Povo originário do sul do Brasil. È do tronco lingüístico Macro-Jê e da família lingüística Jê. Está hoje presente nos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Sua população foi estimada em 20.000 pessoas (dados de 1994).

Saracura – Galináceo que habita pântanos, lagoas e rios. Anuncia com o seu cantar, a aproximação das chuvas.

Kaiurucré – Metade familiar entre os Kaigang. Os membros desta metade podem casar-se apenas com a sua metade oposta, os Kamé.

Kamé – Outra metade familiar Kaigang. Os membros deste grupo só podem casar com os Kaiurucré.

Fonte: MUNDURUKU, Daniel. Contos Indígenas Brasileiros. 2ª ed. – São Paulo : Global, 2005, p. 43 – 50.

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ATIVIDADESATIVIDADES

1) Em grupo faça uma pesquisa sobre os Kaingang. É importante seguir os seguintes tópicos na

pesquisa:

- História de contato

- Mitologia e rituais

- Subsistência

- Arte e cultura material

- Artesanato

- Mudanças ocorridas na arte e cultura.

2) Selecione imagens e confeccionem cartazes para facilitar a apresentação do trabalho e

discuta com a classe sobre a importância do artesanato na vida dos Kaingang.

3) Quais os significados da pintura corporal e dos grafismos encontrados nos trançados?

4) Copie em seu caderno alguns grafimos encontrados nas cestarias Kaingang. Procure repetir

os grafismos de maneira que criem ritmos. Use papel A4, utilize a folha inteira e faça

acabamento com lápis de cor, caneta hidrocor, lápis 6B...

5) Recorte tiras de papel cartão de várias cores e faça trançados a partir dos grafismos

indígenas.

6) A partir do conto indígena: Depois do Dilúvio, selecione ou faça uma síntese das partes mais

significativas e depois ilustre cada uma delas, criando um livreto.

7) A partir da lenda “A Origem do Milho”, crie uma história em quadrinhos. Desenhe os

personagens, use recursos gráficos, balões e onomatopéias para melhor expressar as

sensações e emoções.

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XOKLENGXOKLENGSOBREVIVENTES DE UM PROCESSO

BRUTAL DE COLONIZAÇÃO

Mulher Xokleng fotografada por Silvio Coelho dos Santos, 1975.Mulher Xokleng fotografada por Silvio Coelho dos Santos, 1975.

http://img.socioambiental.org/gallery/v/publico/Xokleng/xokleng_1.jpg.html

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OS XOKLENGOS XOKLENG

Os índios Xokleng, pertencentes ao colonização européia no Rio Grande do Sul, os

Tronco Macro-Jê, da Família Jê, Língua Xokleng foram expulsos para Santa Catarina.

Xokleng, também denominados: Bugres, O processo brutal de colonização, os assaltos e

Botocudos, Aweikoma, Xokleng, Xokrén, lutas aos colonos, as mortes epidemias de

Kaingang de Santa Catarina e Aweikoma- gripe, sarampo e febre amarela, quase que

Kaingang. Denominados assim, desde seus levou os Xokleng ao extermínio.

primeiros contatos com os funcionários do No início do século XX o Serviço de

Serviço de Proteção ao Índio (SPI) a partir de Proteção ao índio (SPI), estrutura postos para

1914. Essas denominações se devem á atrair os índios, mas os contatos são sempre

proximidade linguístico-cultural existente conflituosos, às vezes entre os funcionários

entre os Xokleng e os Kaingang. outras entre os brancos. Nesta época deixaram

Hoje a população Xokleng habita em de executar dois rituais importantes: a

territórios no Estado de Santa Catarina e perfuração dos lábios inferiores dos rapazes

algumas famílias vivem no Paraná. para introdução do botoque (ritual de

No século XVIII, mais precisamente iniciação mais importante para os homens,

em 1728 deu-se a abertura da estrada das chave para a sua socialização e construção de

tropas ligando o Rio Grande do Sul a São identidade); e o ritual de cremação.

Paulo, para melhorar o comércio da pecuária Apesar do extermínio de alguns

e da agricultura entre as duas regiões e abrir subgrupos Xokleng no Estado de Santa

novas fronteiras, correspondendo a áreas de Cata r ina , e do conf inamento dos

enormes planaltos, tradicionalmente ocupado sobreviventes em área determinada, em 1914,

pelos índios Kaingang e Xokleng. o que garantiu a paz para os colonos e a

Em 1777 com surgimento de Lages, consequente expansão e processo do vale do

houve a redução dos planaltos de araucária, rio Itajaí, os Xokleng continuaram lutando

diminuindo a coleta e a caça, que eram as fontes para sobreviver mesmo após a extinção quase

de alimento dos Kaingang e dos Xokleng. total dos recursos naturais de sua terra,

Em meados do século XIX, com a agravada pela construção da Barragem Norte.

XOKLENG: HISTÓRIA DE CONTATO

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O território Xokleng se distribui por todo o sul do Brasil, de Curitiba, no Paraná,

passando por toda a encosta de Santa Catarina, até a região de Viamão, no Rio Grande do

Sul. Inicialmente, os Xokleng teriam ocupado o Planalto, mas com a chegada dos

Kaingang, foram empurrados para a encosta, onde ficaram até o final do século XIX,

quando foram praticamente exterminados pelos colonizadores.

Este grupo utilizava a cremação como parte do ritual de sepultamento. Os artefatos

que eles produziam eram de madeira, fibras vegetais, taquaras e pedra. É possível

identificar cestos com tamanhos e funções diferenciados, cochos de madeira, pilão e mão

de pilão em pedra e madeira, tembetás, lanças, arcos e flechas, adornos e manta tecida com

fibra de urtiga brava.

Durante a primavera e o verão, os Xokleng consumiam palmito, cará, diversas frutas

(como goiaba, pitanga e jabuticaba), além de larvas de insetos. Aproveitavam a vegetação

local e, pela quantidade de carne e a relativa densidade da região, caçavam anta, cervídeos,

bugio, jacutinga, porco do mato e diversos tipos de aves. A caça era uma atividade

masculina, realizada em pequenos grupos de até oito homens. No outono e no inverno, os

Xokleng coletavam pinhão, os quais transportavam em grandes cestos cargueiros.

Fonte: Daniela Costa Claudino e Deise Scunderlick Eloy de Farias.Arqueologia e preservação Sambaqui Morro do Peralta. Samec editora. Florianópolis, 2009.

SAIBA MAIS

É provável que os Kaingang e os impelidos para os contraforte da serra

Xokleng tenham chegado primeiro ao Geral, próximos do litoral. A partir do

Paraná, pois em quase todo o Estado os século XVII, quando as populações

sítios Guarani estão próximos ou sobre os Guarani tiveram uma drástica redução, os

sítios arqueológicos dos Kaingang e Kaingang voltaram a se expandir por todo

Xokleng. Com a chegada dos Guarani, e o centro do Paraná. (...) Os ascendentes

na medida em que estes iam conquistando dos Xokleng devem ter sido empurrados

os vales e rios, os Kaingang foram sendo para fora do oeste paranaense na época da

empurrados para o centro-sul do Estado chegada das primeiras expansões

e/ou sendo confinados nos territórios Guarani, ao redor de 2.000 anos atrás

interfluviais e os Xokleng foram sendo (DIAS e GONÇALVES 1999, p.15-16-18).

PRESENÇA XOKLENG NO PARANÁ

COSMOLOGIA E MITOLOGIA grandes. Encontrar os espíritos podia ser

perigoso; ou bom, se oferecessem ajuda na

Os Xokleng acreditavam em espíritos caça.

(ngaiun) e fantasmas (kupleng), que Acreditavam que os animais tem um

habitavam as árvores, montanhas, corren- espírito guia que os controla e protege,

tezas, ventos e todos os animais, pequenos ou permitindo ou não aos homens matá-los.

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No mito Xokleng da criação do homem, comunidade, cantam hinos evangélicos na

vários personagens heróicos surgem de língua Xokleng.

diferentes direções, reúnem-se para festejar e Hoje em dia, por serem crentes, os

criam animais a partir de árvores e troncos. homens Xokleng usam cabelos curtos, calças

Inspiradas nas formas e desenhos presentes e camisas, e as mulheres, cabelos longos,

na pele destes animais, surgiram as diferentes saias compridas e blusas.

"marcas", ou desenhos corporais dos grupos Os Xokleng só se encontram, além dos

exogâmicos. Entre outros mitos ou "lendas" cultos, para a comemoração do Dia do Índio

ainda lembrados, há o do dilúvio, que conta (19 de abril), quando cada aldeia faz sua festa

como uma chuva ininterrupta fez seus com discursos, hino nacional, recitação de

antepassados migrarem sucessivamente para versos em Xokleng e português pelas

o platô, para os cumes das montanhas e crianças.

finalmente para o topo das árvores, onde se

alimentavam de parasitas, folhas, larvas,

insetos e frutas. Passado o dilúvio, os homens

voltaram para as planícies e vales, mas muitos

lá ficaram por terem se acostumado. Por isso, No passado remoto os Xokleng

dizem, hoje existem os macacos, filhos dos praticavam a agricultura e a caça, vivendo em

homens que ficaram nas árvores. vilas permanentes. Entretanto, antes do

contato sistemático com os brancos, os

Xokleng eram nômades, vivendo da caça e da

coleta do pinhão (fruto da Araucaria

angustifolia), não tinham acampamentos

Desde 1950, os Xokleng foram se fixos. Dividiam e organizavam seu tempo em

convertendo à Assembléia de Deus, reformula- dois períodos, verão e inverno. Passavam o

ram suas antigas crenças e práticas religiosas, inverno no planalto, se alimentando do

à luz de uma nova realidade sócio-cultural. pinhão. No verão desciam para o vale e

Os rituais de hoje se resumem consumiam o palmito, cará e frutas como

praticamente aos cultos da Assembléia de goiaba, pitanga e jabuticaba, além de mel,

Deus, que mobilizam grande parte da larvas de insetos e caça.

SUBSISTÊNCIA

OS RITUAIS DE HOJE

CULTURA E ARTE DOS XOKLENG

Os Xokleng construíam ranchos, em Os homens como as mulheres Xokleng

semi-círculos, voltado para uma praça central fabricavam panelas e talhas de barro cozido,

onde faziam seus rituais de iniciação, casa- apenas com riscos gravados por impressões

mento, ritos funerários, confraternizavam, digitais, de cor negra ou parda; usavam

caçavam e planejavam ataques aos inimigos. canoas de madeira de lei e jacás para

Os desenhos corporais são um símbolo transporte de mercadorias; faziam balaios

de identidade, os Xokleng os consideram pequenos, para guardar cinzas mortuárias;

"uh", isto é, bonitos, e se pintam em determi- cestos revestidos de cera virgem para

nadas ocasiões por razões estéticas, sem transporte de água; longas lanças de madeira,

tomarem em consideração a correspondência com aguçadas pontas de aço de dois gumes;

entre a pintura corporal e sua "marca". cordas finas de samambaia, para cintos de

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suspensão do pênis; colares de coco e pequena produção de artefatos para o

miçangas; redes de pesca e tangas. Faziam comércio. As mantas de urtiga que as

grandes arcos de madeira de lei e flechas de mulheres teciam não são mais produzidas.

vários tipos, botoques de pedra e de Os únicos instrumentos musicais ainda

madeira, para o lábio inferior dos confeccionados e utilizados são os

homens. chocalhos, usados para cantar canções

Hoje a cultura material dos Xokleng é rituais de conteúdo quase que totalmente

produzida para uso imediato. Tangas e desconhecido para os mesmos.

colares se destinam somente às festas do Dia Fonte: Flavio Braune Wiikdo Índio, sendo jogadas fora após o uso. Há

Site: http:// pib.socioambiental.org/pt/povo/xokleng/print

Acervo Museu Paranaense (Foto:Vladimir Kozák). Fonte: Vida indígena no Paraná. Provopar.Acervo Museu Paranaense (Foto:Vladimir Kozák). Fonte: Vida indígena no Paraná. Provopar.

Índia Xokleng tece manta com fibras de urtiga brava, 1950.

ATIVIDADESATIVIDADES

1) Em grupo faça uma pesquisa sobre os Xokleng. É importante constar em sua pesquisa os

seguintes tópicos:

- História de contato

- Mitologia e rituais

- Subsistência

- Arte e cultura Material

2) Confeccione cartazes contemplando os tópicos da pesquisa e os utilize na apresentação.

3) Use a imaginação e criatividade de faça dois desenhos figurativos. Um representando o

“Dilúvio” na mitologia dos Xokleng e o outro representando os rituais nos dias de hoje.

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GUARANIGUARANIOS MAIS CONHECIDOS

EM TERMOS ARQUEOLÓGICOS,

HISTÓRICOS, ANTROPOLÓGICOS

E LINGUÍSTICOS.

Cerâmica indígena Guarani, Museu Farroupilha, em Triunfo, Rio Grande do Sul.

Fo

to:

Wilm

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R. D

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gelis

http://upload.wikimédia.org/wikipedia/commons/a/aa/triunfo-25.jpg

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OS GUARANIOS GUARANI

Os Guarani, grupo do Tronco Tupi, da que, haviam se formado nas bacias do

Família Tupi-Guarani, língua Guarani, Paranapanema, Tibagi, Ivaí, Piquiri e Iguaçu.

dividem-se em subgrupos Guarani-Ñandeva Entre 1628 e 1632, os jesuítas fundaram

ou (Ava-Chiripa), Guarani-Kaiowa e Guarani- a missão do Itatin, depois de verem destruídas

Mbya. Entre os subgrupos existem diferenças pelos bandeirantes as missões das Províncias

nas formas lingüísticas, costumes, rituais, do Guairá, Paraná e Tapes.

organização social e política. A presença bandeirante provocou um

Com a chegada dos portugueses e rearranjo na ocupação espacial da época,

espanhóis no século XVI e até o XVII a forçando índios e padres a fugas para o Sul,

história dos Guarani foi marcada pelos em lugares longe dos paulistas. A expulsão

Jesuítas que queriam catequizar os índios e dos Jesuítas pelos bandeirantes paulistas, foi

pelos “encomenderos” - espanhóis e importante para a população guarani porque

bandeirantes portugueses que pretendiam mobilizou os índios reduzidos, o que teria

escraviza-los. refletido também naqueles que não haviam

Com os europeus, os territórios guarani estado sob a orientação dos padres, provocan-

tornaram-se palcos de disputas; para os do redimensionamento na realidade colonial.

espanhóis eram via de acesso entre Assunção Em função de seus territórios atuais, os

e Europa; para os portugueses representava Guarani Kaiowa ou pai-tavyterã teriam seus

área de expansão ao interior da colônia e ascendentes nos antigos povos guarani do

acesso a riquezas minerais. A única riqueza Itatin, que na segunda metade do século XVII

nessa região era à força de trabalho trasladam para o sul, cruzando o rio Apa

indígena. (MS), passando a ocupar o atual sul do Mato

Em 1603, o governador do Paraguai Grosso do Sul até os dias de hoje. Os Guarani

solicita que os padres da Companhia de Jesus Ñandeva atuais seriam oriundos dos povos

catequizem os índios e parte da população das Províncias do Paraná e Guairá e vieram a

guarani foi reduzida forçosamente nos assentar-se, a partir do século XVII, no atual

aldeamentos - “reduções” ou “missões”. Ação Mato Grosso do Sul.

pensada pelos colonizadores, para facilitar o Nos séculos XVIII e XIX, os grupos

acesso à força de trabalho indígena pelos Guarani que não se submeteram aos

encomenderos de Assunção. Os padres jesuítas encomenderos espanhóis nem às missões

contrariaram esse modelo econômico, pois jesuíticas, refugiam-se e vivem nos montes e

não permitiram que os seus catecúmenos nas matas subtropicais da região do Guairá

fossem escravizados. paraguaio e dos Sete Povos (aldeamentos

Padres e índios “reduzidos” tentaram em indígenas fundados pelos jesuítas no Rio

vão resistir aos ataques dos bandeirantes que Grande do Sul). Estes índios, os Guarani Mbya,

destruíram vilas paraguaias e atacaram são conhecidos como Caingua, Caaguá,

duramente as “reduções guarani”. Reduções Caaigua, Kaygua provém de Ka'aguygua ( que

GUARANI: HISTÓRIA DE CONTATO

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significa “habitantes das matas), denomina-

ções dadas pela atitude de esconder-se nas

matas, distanciando-se dos brancos, evitando o Os territórios ocupados pelos Guarani

contato e conservando sua autonomia e seus estão situados no Mato Grosso do Sul, Rio

costumes antigos porque se estabeleceram Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, São

num território que permaceneu inacessível Paulo, Argentina, Uruguai e Paraguai.

durante muito tempo. No Brasil , as aldeias Kaiowa

A partir da última década do século XIX concentram-se na região sul do Mato Grosso

e até as duas primeiras do século XX, grande do Sul e algumas famílias próximas às aldeias

parte do território dos Guarani será alvo de Mbya no litoral do Espírito Santo e Rio de

mobilização exploratória, da erva mate, Janeiro. Os Nãndeva vivem em aldeias no

bloqueando a entrada de colonizadores por Mato Grosso do Sul, no interior dos estados de

empresas detentoras do cultivo da erva. São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul e no

Na primeira década do século XX, litoral dos estados de São Paulo e Santa

devido a relações conflituosas entre índios e Catarina. Os Mbya se encontram em aldeias

brancos, há esforços por parte do Estado em situadas no interior e no litoral dos estados do

territorializar os índios, constrangendo-os a sul – Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul

espaços limitados e em fronteiras fixas. A – e em São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito

imposição de regras de acesso e posse Santo em várias aldeias junto à Mata Atlântica.

territorial por parte do estado brasileiro,

alheias às especificidades da territorialidade

dos índios, teve conseqüências significativas

na organização espacial guarani, em suas

elaborações culturais e no gerenciamento das Até a chegada do branco, os índios

políticas de relacionamento interétnico. Guarani viviam com base no próprio

A colonização européia, atingiu costume, respeitava-se e fomentava as regras

profundamente a vida dos Guarani. Sofreram do “teko” (modo de ser guarani).

profundas transformações decorrentes de Como decorrência da presença do

práticas políticas impostas, entre as quais se colonizador, os Guarani passam fixar atenção

destacam a diminuição demográfica, a nas regras do branco e a considerar espaços

circunscrição territorial, o impacto sobre a com superfícies definida, o que é expresso

religião e a religiosidade dos índios. pela categoria tekoha.

A partir de 1920 e mais intensamente a Os Guarani hoje em dia denominam os

partir dos anos de 1960, tem início uma lugares que ocupam de tekoha. O tekoha é

colonização sistemática e efetiva dos assim o lugar físico – terra, mato campo,

territórios Guarani, desencadeando-se um águas, animais, plantas, remédios, etc. – onde

processo de sistemática desapropriação de se realiza o teko, o “modo de ser”, o estado de

suas terras pelos colonos brancos. A vida guarani.

existência Guarani é materializada com a A relação entre os Guarani e a terra

derrubada de matas para a implantação de ganha significado, inscrito na tradição

empresas agropecuária. cosmológica e na historicidade. Enfatizando-

Com todas essas investidas, os Guarani se a noção de tekoha enquanto espaço que

ainda hoje desenvolvem estratégias de garantiria as condições ideais para efetuar

sobrevivência e a permanente recriação de essa relação, os índios procuram reconquistar

sua identidade. e reconstruir espaços territoriais étnica e

LOCALIZAÇÃO

TEKOHA

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religiosamente exclusivos a partir da relação

umbilical que mantêm com a terra.

São assíduas e freqüentes as atividades

religiosas guarani, com práticas de cânticos,

rezas e danças que, dependendo da localida-

de, da situação ou das circunstâncias, são

realizados cotidianamente, iniciando-se ao cair Os ava (homem Guarani) contem- da noite e prolongando-se por várias horas.

porâneos estão como sempre estiveram. Os rituais são conduzidos pelos Assentados em núcleos comunitários ñanduru que são líderes e orientadores constituídos – idealmente – por 3-5 religiosos; contemplam necessidades grupamentos macro familiares que corriqueiras como colheita da roça, ausência conformam divisões autônomas por eles ou excesso de chuva. denominadas, hoje em dia, de tekoha. Há no

Brasil perto de 90 áreas guarani oficialmente

reconhecidas.

Os Guarani têm como base de sua A agricultura é a principal atividade organização social, econômica e política, a econômica guarani, mas apreciam a caça e a família extensa, isto é, grupos macro pesca. Cabe às mulheres a tarefa de pilar o f a m i l i a r e s q u e d e t ê m f o r m a s d e milho e preparar a chicha, fazer a chipa, uma organização da ocupação espacial dentro espécie de bolo de milho. Conhecimentos dos tekoha determinada por relações de tradicionais dotam os Guarani de aguçada afinidade e consangüinidade. É composta sapiência no trato dos espaços disponíveis para pelo casal, filhos, genros, netos, irmãos e plantar. Combinam atividade de caça, pesca, constitui uma unidade de produção e coleta e agricultura de forma interligada e consumo. vinculada, para o descanso da terra.

RITUAIS

ORGANIZAÇÃO SOCIAL

ECONOMIA

Fonte: http:// pib.socioambiental.org/pt/povo/guarani-Nandeva/print

A Terra sem Mal: YVY MARÃ EY e as seus frutos em abundância, Yvy Marã Ey é

Belas Palavras: AYVU PORÃ. também a terra da imortalidade, onde não

Os Guarani dispõem-se a grandes chega a doença nem a morte.

deslocamentos em grupo com o objetivo de A cosmologia Guarani diz que no

buscar Yvy Mara Ey, a mítica Terra Sem Mal. princípio do mundo houve a criação da

Deste a conquista européia tem-se registro primeira terra, onde os homens viviam na

destas migrações onde eles abandonam mesma condição dos deuses. Para que isto

qualquer possível segurança de uma terra acontecesse, regras deveriam ser seguidas.

delimitada, deixando tudo para ir em busca da As leis foram quebradas pelo incesto

visão desta terra prometida por Nhanderu. entre um sobrinho (Karai Jeupié) e sua tia.

Terra ideal, que produz por si mesma os Houve então um grande dilúvio, na qual

A TERRA SEM MAL E A COSMOLOGIA

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poucos se salvaram. das montanhas”.

O dilúvio vem como castigo, estabele- Todo pensamento e prática religiosa dos

cendo o fim da primeira terra e com ele a Guarani está em torno da Terra Sem Mal. “o

separação entre o humano e o divino. Deste dia culto à Yvy Mara Ey, as orações noturnas e a

em diante a grande água, o mar, faz separação língua sagrada.”

entre a Terra sem Mal, terra divina da vida A língua sagrada, as belas palavras

eterna, e a terra imperfeita dos que (AYVU PORÃ), são as palavras verdadeiras

sobreviveram. que só os profetas, os xamãs, sabem proferir, é a

A (...) Terra Sem Mal, morada dos linguagem comum a homens e deuses;

ancestrais, é um local acessível aos vivos, com palavras que o profeta diz aos deuses ou que os

uma localização geográfica precisa: “para além deuses dirigem a quem sabe ouvi-los.

Fonte: SOUZA, Ana Maria Alves de Souza. Orientadora: Prof. Ms. Cleidi M. Albuquerque. BICHINHOS RA'NGÃ i. Uma distribuição ao estudo das

esculturas zoomórficas Guarani Mbyá. Florianópolis, julho de 1999. UDESC. CEART.

(...) Os Guarani possuíam um consecutivamente, com o passar do

padrão para ocupar novas áreas sem, tempo, as áreas banhados por rios cada

no entanto, abandonarem as antigas. vez menores. Por exemplo, após

Os grupos locais se dividiam com o dominar as terras próximas dos rios

crescimento demográfico ou por Ivaí e Pirapó, ocuparam trechos ao

problemas políticos, indo habitar longo de alguns dos ribeirões que

áreas próximas, previamente banham o divisor de águas onde está

preparadas através de manejo situada Maringá. Como havia uma

agroflorestal. Isto é, abriam várias série de entorno das aldeias, para ir às

clareiras para instalar a aldeia e as roças, às áreas de caça, pesca e coleta

plantações, inserindo seus objetos e etc., bem como para ir até as aldeias

plantas nos novos territórios. Assim vizinhas, é provável que a área de

como trouxeram suas casas, vasilhas Maringá fosse local de passagem ou

cerâmicas e outros objetos. contato entre as aldeias do Ivaí e do

Dessa maneira, iam ocupando Pirapó.

as várzeas dos grandes rios e,

PRESENÇA DOS GUARANI NO PARANÁ

Fonte: DIAS e GONÇALVES, 1999, p.13-14.

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ARTE E CULTURA MATERIAL

A cultura material era composta por talhas para prepará-lo eram normalmente

centenas - talvez milhares - de objetos pintados com desenhos geométricos

confeccionados para servirem a diversos vermelhos e pretos sobre fundo branco.

fins, sendo a maioria feita com materiais As vasilhas que iam ao fogo tinham as

perecíveis (ossos, madeiras, penas, palhas, suas superfícies alisadas ou corrugadas.

fibras vegetais, conchas etc.) e, em minoria, Secundariamente, as panelas e talhas

de não-perecíveis (vasilhas cerâmicas, poderiam servir como urna funerária.

ferramentas de pedra, corantes minerais). Dentre as ferramentas de pedra, pode-

As vasilhas (cerâmicas) eram confec- mos mencionar os machados de pedra polida,

cionadas para servirem como panelas de lascas usadas para rasgar, cortar, tornear, bem

cozinha, frigideiras, pratos, copos e talhas como ferramentas para polir, furar, amolar,

para armazenar água ou preparar cauim macerar, moer, pilar e ralar.

(bebida fermentada alcoólica) e para outras

funções. Os copos para beber o cauim e as Fonte: DIAS e GONÇALVES, 1999, p.15

A Cerâmica Guarani é conhecida pela

resistência à decomposição, encontrada em

escavações e material rico para a arqueologia.

É considerada a grande manifestação da arte

Guarani e apresentam diversificada

decoração plástica e pintura, sendo atividade

exclusivamente feminina.

A decoração da cerâmica depende da

sua finalidade. Na cerâmica utilizada nas

cerimônias e ritos são as pintadas com

desenhos geométricos, em preto e vermelho

sobre um fundo branco (engobo), ou em

vermelho diretamente sobre a superfície dos sabugo de milho seco, marcando a superfície recipientes. São curvas sinuosas, linhas de recipientes com uma série de estrias paralelas, motivos geométricos que se paralelas. Outra técnica decorativa plástica repetem harmoniosamente.manipula a argila ainda fresca alisando-a até o Nos recipientes cerâmicos para o polimento ou decorando-a com as unhas ou cotidiano, a decoração era essencialmente com pequenos artefatos ponteagudos. plástica. Uma das técnicas utilizadas era o

CERÂMICA GUARANI

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Os cantos e as danças guarani são percorrer o caminho de encontro aos deuses,

executados nos rituais xamanísticos. São embelezar o corpo e protege-los das doenças.

caminhos através dos quais os humanos vão As canções mais lentas têm um caráter de

ao encontro dos ancestrais criadores e outros invocação ou lamento (Nhandeva).

seres divinos. O canto e a dança são as Nimuendaju (1883-1945), antropólogo

linguagens com as quais os deuses se Alemão que veio para o Brasil estudar os

comunicam com os guarani. Nos rituais há índios, narrou um ritual apapocuva no qual se

uma sequência de canções, correspondentes a aguardava a morte de um moribundo,

cada noite de ritual, havendo dois gêneros cantavam vários pajés acompanhados das

musicais, um ligado à invocação, e outro ao mulheres. Em alguns momentos cantavam

combate. Os objetivos do ritual são de vários ao mesmo tempo, um perto do doente,

A MÚSICA

Fragmento de cerâmica ungulada. Após receber tratamento que deixa a

cerâmica lisa, era decorada com incisões feitas a unha pela artesã.

Fragmento de cerâmica corrugadaFragmento de vaso cerâmico produzido por técnica de

roletes sobrepostos um ao outro.

Fragmento de cerâmica escovado. Usa se sabugo de milho para

escovar a cerâmica

Fragmento de cerâmica lisa

Fragmento de cerâmica pintada(engobo branco) com desenho

geométrico em vermelho.

Fot

os: A

luíz

io A

. Car

sten

TIPOLOGIAS DE CERÂMICA GUARANI EXISTENTES NO LABORATÓRIO DE ARQUEOLOGIA, ETNOLOGIA

E ETNO-HISTÓRIA DA UEM.

Fotos: Aluizio A. Carsten, Acervo do LAB-LAEE/CCH-UEM

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e outros distante. “Assim que o pajé, sentado acelerada e com forte marcação rítmica, para

face ao doente, constata que a morte o solene ñeengarai”, que soa solene e

sobreveio, muda o canto da melodia yvyraija, melodiosa.

Fonte: MONTARDO, Deise Lucy Oliveira. Amúsica como “caminho” no repertório do xamanismo guarani. Revista ANTHROPOLÓGICAS, ano 10,

voluma 17(1):115-134 (2006). http://pt.wikipedia.org/wiki/musica_indígena-brasileira-

MBARAKA

Mbaraka: instrumento musical feito

de cabaça ou purunga, encabado com um

pau e enfeitado com penas de galinha

colorida. Os Nhandewa usam o maracá

até hoje para a dança indígena.

O mbaraka (maracá) além de ser

usado nas danças é instrumento

importante nos rituais xamanísticos.Foto: Wilmar R. D'AngelisFoto: Wilmar R. D'Angelis

Um maracá,(...) é um instrumento de ritmo; ganha além disso, uma significação

musical que pode simbolizar o centro do extra, sobreposta à primeira: este instrumento

universo e seu som, além de música, pode ser musical, usado neste contexto ritual e por

entendido, em uma dada sociedade indígena, pessoas com saberes e habilidades especiais

como a representação simbólica das vozes de comunicação com os deuses, passa a

das substâncias dos espíritos e divindades que significar, simbolicamente, a visita, a

chegam à aldeia em momentos especiais; as chegada dos espíritos ao mundo dos vivos.

cerimônias em que os pajés (e só eles) tocam o Seu som sacraliza o momento e o lugar onde

maracá. O uso do instrumento significa, esta experiência é vivida. (SILVA, 1995,

literalmente, um ato de produção de música, p.380-381)

MÚSICA GUARANI – HOJE

A música Guarani hoje está represen- do mundo de sua etnia e mantêm viva a sua

tada por vários grupos pertencentes às aldeias cultura através dos cânticos e das danças,

indígenas do Paraná, que conservam a visão chegando a produzir alguns Cds.

Fonte: NIMBOPYRUÁ, Catarina Delfina dos Santos Kunhã...[et al.]. NHANDEWA-rupi nhande aywu ãgwa: para falarmos nossa língua: livro de leitura nhandewa – guarani. Brasília:MEC, SEF, 2002.

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As esculturas zoormóficas Guarani, Usam a técnica da pirogravura para

também conhecidas como “BICHINHOS decorar as esculturas. A pirogravura é

RA'NGÃi”, podem ser feitas em cedro ou considerada uma pintura permanente, feita

curticeira (como é conhecida no Rio Grande com diferentes pontas de ferro: achatadas,

do Sul) ou caxeta (como é denominada no estreitas e largas.

Paraná). Madeira mole e branca. Os elementos gráficos estampados nas

O formato da escultura é feito primeiro esculturas são elaborados seguindo o ritmo e

no facão, e depois com uma faquinha bem a simetria nos desenhos. Tais elementos

afiada para fazer pequenos detalhes. visuais estabelecem o estilo do artista, da à

As formas esculpidas são represen- identificação do bicho, e o reconhecimentos

tações de animais existentes na floresta (Mata do grupo indígena a que pertence o trabalho

Atlântica), alguns hoje ameaçados de artístico.

extinção. São esculpidas

formas de onça, jaguati-

rica, jacaré, tamanduá,

tatu, macaco, cobra,

tucano, entre outros

bichos e pássaros.

ESCULTURAS ZOOMÓRFICAS GUARANI M’BYÁ

GRUPO TAPE VY'A

LETRA:

NHANDERUETE

Nhanderuete nhandexy ete ambá'ire

Nhanema`endu` a mavy jaje` oi opy` ire

Nharoporandu nhaderete`i (bis)

Jaguata ma vy tape miri re Nhavae água

jaexa

Aguã para rovai yvy ku`iju re Javy` a água

(bis)

Yvy ku`iju

Yvy ku`iju

Aldeia OcoíSão Miguel do Iguaçu/PR

TRADUÇÃO

Nosso Deus, nossa Mãe eterna

Quando lembramos do nosso altar sagrado

Vamos para nossa casa de reza

Para fortalecer o nosso espírito (bis)

Quando caminhamos pela estrada infinito

Para chegar a outro lado do oceano

E na terra sem mal seremos felizes (bis)

Terra sem mal

Terra sem mal

Fonte: CD- Provopar

MBORA'i MARAE'? GUARANI

CÂNTICOS ETERNOS GUARANI

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Nome popular: Macaco Nome Guarani: KA i Nome popular: Cobra Nome Guarani: MBOI

Nome popular: Gato-do-mato-pequenoNome Guarani: TCHIVI

Nome popular: Tamanduá-mirimNome Guarani: KAGUARÉ

Nome popular: Tucano Nome Guarani: TUCAN Nome popular: Jacaré Nome Guarani: PA i

Nome popular: Coruja Nome Guarani: URUKURE'Á

Nome popular: TatuNome Guarani: TAMBEJU'Á

Fotos: Acervo do CCH-UEM, Prof. Drª. Rosangela Célia Faustino.

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TRANÇADO

Os trançados Guarani são representa- A confecção dos cestos Guarani é

dos por cestos de taquara decorados com função exclusivamente das mulheres, deste a

tramas geométricas mais escuras em cipó coleta da taquara na mata, o preparo da tiras,

imbé. Ainda são confeccionados, mas até o trabalho final na construção do cesto.

algumas mudanças aconteceram, agora são

coloridos com anilina.

Livro: Varai Para×i Régua, de Lídia krexu Rete Veríssimo

Fotos: Kathie Dooley, 200l

CONTO INDÍGENA GUARANI

O ROUBO DO FOGOPovo guarani (mito Guarani)

m tempos antigos o povo Guarani não sabiam acender o fogo.(...) pois

o fofo estava em poder dos urubus.

O fogo estava com estas aves porque foram elas que primeiro

descobriram um jeito de se apossar das brasas da grande fogueira do

sol. Numa ocasião, quando o sol estava bem fraquinho e o dia não estava muito claro,

os urubus foram até lá e retiraram algumas brasas as quais tomavam conta com muito

cuidado e zelo. (...).

E

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Todos queriam roubar o fogo dos urubus, mas ninguém se atrevia a desafiá-los.

Um dia o grande herói Apopocúva retornou de uma longa viagem que fizera. Seu

nome era Nhanderequeí. Guerreiro respeitado por todo o povo, decidiu que iria roubar o

fogo dos urubus. Reuniu todos os animais, aves e homens da floresta e contou o plano

que tinha para enfrentar os temidos urubus, guardiões do fogo. Até mesmo o pequeno

curucu, que não fora convidado, compareceu dizendo que também ele tinha muito

interesse no fogo.

Todos já reunidos, Nhanderequeí expôs seu plano:

- Todos vocês sabem que os urubus usam fogo para cozinhar. (...). Por isso vou me

fingir de morto bem debaixo do ninho deles. Todos vocês devem ficar escondidos e quando

eu der uma ordem, avancem para cima deles e os espantem daqui. Dessa forma,

poderemos pegar o fogo para nós. (...).

(...) Nhanderequeí deitou-se. Permaneceu imóvel por um dia inteiro.

Os urubus, lá do alto das árvores, observavam com desconfiança. (...).

O herói permaneceu o segundo dia do mesmo jeito. Sequer respirava direito para não

criar desconfianças nos urubus que continuavam rodeando seu corpo. Foi no fim do

terceiro dia, no entanto, que as aves baixaram as guardas. Ficavam imaginando que não

era possível uma pessoa fingir-se de morta por tanto tempo. Ficavam confabulando

entre si:

- Olhem, meus parentes urubus – dizia o chefe urubu – nenhum homem pode fingir-

se de morto assim. Já decidi: vamos comê-lo. Podem trazer as brasas para fazer-mos a

fogueira. (...).

Eles colocaram Nhanderequeí sobre o fogo, mas graças a uma resina que Le passara

pelo corpo, o fogo não o queimava. Num certo momento, o herói se levantou do meio das

brasas dando um grande susto nos urubus que, atônitos, voaram todos. Nhanderequeí

aproveitou-se da surpresa e gritou a todos os amigos que estavam escondidos para que

atacassem os urubus e salvassem alguma daquelas brasas ardentes. (...)

Quando tudo se acalmou, Nhanderequeí chamou a todos e perguntou quantas brasas

haviam conseguido. Uns olhavam para outros na tentativa de saber quem havia salvado

uma pedrinha sequer.(...).

Acontece que, por trás de todos, saiu o pequeno cururu, dizendo:

- Durante a luta os urubus se preocuparam apenas com os animais grandes e não

notaram que eu peguei uma brasinha e coloquei na minha boca. Espero que ainda esteja

acesa.(...)

Dê-me esta brasa imediatamente – disse Nhanderequeí, tomando a brasa em suas

mãos e a assoprando levemente. (...)

Pegou-o na mão e colocou um pouquinho de palha e o assoprou novamente. Com

isso ele conseguiu um pequeno riozinho de fumaça. (...)

Nhanderequeí soprou de novo. Ele o fazia com todo cuidado, aconteceu um cheiro de

queimado. Isso foi o bastante para que as aves se incomodassem e dissessem:

- Nós não gostamos desse cheiro que sai do fogo. Isso não é bom para as aves. Fiquem

vocês com este fogo. (...).

Enquanto isso, Nhanderequeí soprou ainda mais forte e, finalmente, as

chamas apareceram no meio da palha e do carvão que sustentaram o fogo acesso

para sempre.

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Glossário

Apopocúiva-Guarani – O grande povo guarani está localizado em oito estados brasileiros. Sua língua, subdividida em Nhandeva, M'Bia e Kaiowá, pertence ao tronco lingüístico Tupi. Sua população é a segunda maior do Brasil. Segundo dados oficiais, chega a 35.000 pessoas. Os Guarani estão presentes ainda em diversos países que fazem fronteira com o Brasil.

Nhanderequeí – Herói civilizador entre os Guarani. Aquele que cria e ensina este povo a manipular seus bens culturais. Nesta história, ele é o herói que ajuda o povo a roubar o fogo e ensina a conservá-lo.

Cururu – Nome genérico dos sapos, em Tupi.

Fonte: Munduruku, Daniel. Contos Indígenas Brasileiros. 2ª ed. – São Paulo : Global, 2005, p. 13 – 19.

ATIVIDADESATIVIDADES

1) Em grupo, pesquisem sobre os índios Guarani no Paraná, contemplando os seguintes

tópicos:

- História de Contato

- Como chegaram ao Paraná

- Mitologia

- Arte e cultura material

2) Confeccionem cartazes enfocando a pesquisa, para facilitar a apresentação e discussão com

a turma.

3) A partir da letra e da audição da música NHANDERUETE, crie uma ilustração. Use lápis de

cor e canetas coloridas para pintar.

4) Vamos fazer esculturas com pedra de sabão? Que tal inspirar-se nos bichinhos RAN'CÃi.

5) Faça a leitura do conto indígena Guarani: “O roubo do fogo”, de Daniel Munduruku.

Selecione tópicos mais importantes e produza um livreto com ilustrações criadas por você?

6) Vamos fazer teatro?

Transforme o conto “O roubo do fogo” de Daniel Munduruku em texto teatral, com os

personagens e suas falas, depois é só dramatizar.

7) Vamos confeccionar objetos usando argila, seguindo a técnica do roletado da

cerâmica Guarani. Para o acabamento do objeto, observe os fragmentos cerâmicos, pode ser

roletado, ungulado, pintada e decorada com linhas geométricas, lisa, escovada e corrugada.

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SIGAM OS PASSOS DA TÉCNICA DO ROLETADO:

1º Faça rolinho de argila na grossura do seu dedo.

2º Com o rolinho de argila, faça um espiral para o fundo.

3º A partir do fundo vá colocando camadas de rolinhos de argila até conseguir a altura que

deseja para o objeto. Conforme for chegando à borda, diminua o comprimento do

rolinho se quiser fechar um pouco a abertura do objeto.

4º Usando o dedo indicador una os rolinhos por dentro da peça e deixe a superfície lisa.

5º Por último, faça o acabamento da peça seguindo uma das técnicas apresentadas nos

fragmentos de cerâmica Guarani.

8) Confeccione carimbos usando batatinha a partir dos motivos gráficos dos carimbos

Guarani. Crie composições com as impressões dos carimbos usando tinta guache de várias

cores e folha do tamanho A4. Repita as impressões, intercale os diferentes motivos, para

obter ritmos de formas e cores.

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XETÁ

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XETÁMemória dos índios Xetá:

ARTE E CULTURA

Homem usando tembetá de resina

Foto: Vladimir Kozák http://www.museuparanaense.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=117&evento=9

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EXPRESSÃO DE VIDA EM COMUNIDADE

OS XETÁOS XETÁ

Os índios Xetá pertencente à família fugas e frentes de colonização que

lingüística Tupi-Guarani, do tronco Tupi, avançavam sobre o seu território desde o final

língua Xetá. da década de 40 reduzindo-o drasticamente,

Em 1840 foram feitos os primeiros fez contato com o administrador da fazenda

contatos com os índios Xetá por Joaquim Santa Rosa e seus familiares, que havia se

Francisco Lopes e John H. Elliot, empre- instalado no local de caça e coleta do grupo

gados do Barão de Antonina, nas imediações desde 1952.

da foz do rio Corumbataí no Ivaí, onde estão Com a expansão da cafeicultura, a

hoje os municípios de São Pedro do Ivaí, criação de gado e agricultura; a colonização e

Fênix e São Jorge do Ivaí. Contatos estes o contato com o homem branco; os surtos de

esporádicos. gripe e sarampo, o povo Xetá foi quase

Em 1872, um pequeno grupo Xetá, foi extinto enquanto grupo étnico. Hoje são oito

capturado nas proximidades do Salto Ariranha sobreviventes: três mulheres e cinco homens,

no rio Ivaí, hoje Ivaiporã e Grandes Rios, pelo vivendo dispersos nos estados do Paraná,

engenheiro inglês Thomas Bigg-Whiter. Santa Catarina e São Paulo. Os descendentes

O Território tradicional dos Xetá é dos Xetá casaram-se com Kaingang, Guarani

conhecido como Serra dos Dourados, ao longo e não-índios. De caçadores e coletores, vivem

da margem esquerda do rio Ivaí e seus afluentes, hoje na condição de assalariados, servidores

o rio Indoivaí, o córrego Duzentos e Quinze, o públicos, empregados domésticos e bóias

rio das Antas, o do Veado, o Tiradentes e o frias. De herdeiros de um território de

córrego Maravilha; espaços onde hoje estão ocupação tradicional, vivem como agregados

localizados os municípios de Umuarama, Cru- em terras Kaingang, Guarani, ou como

zeiro do Oeste, Icaraíma, Douradina e outros. inquilinos no meio urbano-rural.

Os Xetá foram à última etnia do Estado A língua Xetá nunca chegou a ser

do Paraná a entrar em contato com a grafada, escrita ou estudada em sua gramá-

sociedade nacional, na década de 50, através tica: praticamente desapareceu junto com o

do Serviço de Proteção aos Índios (SPI), atual seu povo.

FUNAI. Em 1954, um grupo de seis pessoas Fonte: DIAS e GONÇALVES (org), 1999, p. 19.do sexo masculino, cansadas das constantes

ISA - SILVA, Carmem Lúcia, 1999.

XETÁ: HISTÓRIA DE CONTATO

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SUBSISTÊNCIA para servir de vasilhas e comiam as suas

sementes, comiam também o coquinho

Os Xetá eram nômades e tinham a base (jerivá). Alimentavam-se ainda de algumas

da subsistência a caça e a coleta (a pesca em larvas das palmeiras e aves. Caçavam anta,

menor escala). Não praticavam a agri- gambá, coelho, paca, gato do mato e rato

cultura, comiam frutos, tubérculos, insetos silvestre. As frutas apreciadas era a

(alguns), mel e o mate “Kukuay”, bebida do jabuticaba, jaracutiá, banana-de-mico,

dia-a-dia. Cultivavam somente o porungo gavirova, etc.

A LUTA DO POVO XETÁ PELA REORGANIZAÇÃO CULTURAL

Em agosto de 1997, o Instituto Socio- Por iniciativa da SEED – Departamento

ambiental (ISA) promoveu em Curitiba o da Diversidade e Coordenação da Educação

“Encontro Xetá: sobreviventes do extermínio”, Escolar Indígena, a UEM – Universidade

reunindo os Xetá que vivem dispersos, como Estadual de Maringá, em parceria com a UNB

inquilinos em diferentes aldeias, longe de seu – Universidade de Brasília, UFMT – Univer-

território e impedidos de compartilhar os sidade de Mato Grosso, Museu Paranaense,

códigos de sua cultura, língua e organização Povo Xetá e instituições parceiras, encami-

sociocultural. nhou projeto interinstitucional ao Ministério

Atualmente, só na Terra Indígena São da Cultura e CAPES tendo recebido financia-

Jerônimo, município de São Jerônimo da mento para reunir e publicar informações

Serra-PR, são 35 famílias Xetá, com mais de sobre os Xetá, bem como, material didático

cem pessoas. Eles iniciam processo judicial sobre língua e cultura deste povo.

para recuperar parte do território de onde O projeto compreende a realização de

foram excluídos, e poder viver em paz em sua

apoeng (casa grande). Além do território,

reivindicam o direito a uma escola diferenciada

e intercultural que lhes possibilite revitalizar

sua língua, ameaçada de extinção e

continuarem sendo Xetá.

Oficina pedagógica – Produção de vocabulário ilustrado - realizada na Terra Indígena São Jerônimo, entre os dias 13 a 16/04/10.

Fotografia acervo LAB-LAEE/UEM

Oficina pedagógica realizada no dia 04/05/10 no Museu Paranaense em Curitiba.Confecção dos bichinhos “Mows” em argila.

Fotografia acervo LAB-LAEE/UEM

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diversas oficinas pedagógicas. No Museu técnica da modelagem em argila. Estas

Paranaense em Curitiba os Xetá confecciona- oficinas foram realizadas com a finalidade de

ram os mows, (animais que anteriormente revitalizar aspectos da tradição Xetá a partir

eram feitos de cera de abelhas) utilizando a da memória dos sobreviventes.

ARTE E CULTURA MATERIAL XETÁ

A cultura material dos Xetá está ACAMPAMENTOS (Oka'-kã, oka=

relacionado com a vida na aldeia, são lugar, kã=pequena): acampamentos temporá-

instrumentos, armadilhas, abrigos, objetos de rios, onde instalavam os tapuy-kã.

uso domésticos e adornos inseridos no

cotidiano e nos seus rituais.

Os Xetá, povo que era caçadores e

coletores atribuíam algumas atividades como

a construção de habitações, armadilhas e

alguns instrumentos aos homens e às

mulheres ficavam as funções do preparo e a

distribuição dos alimentos. A coleta, a

tecelagem e a cestaria é tarefa de ambos os

sexos.

A arte do povo Xetá, como em outros

grupos indígenas, estava presente no dia-a-CASA PEQUENA (Tapuy-kã ,

dia da comunidade: nos rituais, na música, tapuy=casa, kã=pequeno): primeiro eram

nas histórias narradas, no cuidado com a construídas em época de caçadas, depois por

beleza e acabamento das peças criadas, nos causa das fugas dos brancos.

enfeites usados para adornar o corpo e os

instrumentos. Tudo isso revela a sensibilidade

e a expressividade desse povo com relação à

vida e a arte.

ALDEIA GRANDE (Oka-Waualchu, ARCO E FLECHA: confeccionavam oka=lugar, wauatchu= grande): onde os

os arcos com o cerne de ipê duro (araraúte) e grupos familiares habitavam (famílias polido com folhas de embaúba. As hastes das nucleares).flechas eram confeccionadas com bambu e a

ponta entalhada com madeira de alecrim, com CASA GRANDE (Tapuy-apoeng): vários tipos de pontas, como virote, servilha, residência ocupada pela família extensa, unilateral e lanceolada. Tanto o arco quanto a construída na aldeia grande. Lugar onde flecha recebiam polimento com uma mistura realizavam os rituais, inclusive o de iniciação de ipê, cinza e água, dando uma coloração masculina.

COMO CULTURA MATERIAL

PRODUZIAM:

Colocação Transversal dos galhos no tapuy

Foto: Vladimir KozákFoto: Vladimir Kozák

Tapuy com cobertura do teto ao solo

Foto: Vladimir KozákFoto: Vladimir Kozák

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ferrugem. A corda era confeccionada pelas Os colares eram confeccionados com

mulheres com fibras de caraguatá. sementes, varetas e pequenos dentes de

animais e os brincos com plumas de pequenos

pássaros. Eram usados por crianças e adultos.

PILÕES: confeccionados com grandes

troncos de árvores, como a madeira de jerivá,

para processar alimentos, cocos, frutas,

carne. Outro pilão menor (aguakán) era

utilizado para a moagem de folhas de

erva-mate, para o preparo da bebida kukuay.

MACHADO de pedra com cabo de

madeira: utilizado nas atividades cotidianas,

como quebrar coco e lascar ossos de animais.

ARTEFATOS E ADORNOS: utilizavam

ossos e dentes de animais. Alguns artefatos

eram feitos de ossos da perna da onça

entalhados e afiados com uma pedra de amolar,

transformando-se em formão. Os objetos eram

alisados e polidos, os de madeira eram

coloridos com jatobá. A mandíbula de roedores

para perfurar e escavar madeiras, couros etc.

Homem (Eirakã) com arco e flecha adornada

Foto: Vladimir KozákFoto: Vladimir Kozák

Machado com cabo de madeira.

Foto: Vladimir KozákFoto: Vladimir Kozák

Foto: Vladimir KozákFoto: Vladimir Kozák

Adornos confeccionados com ossos de animais.

Pilão Vertical.

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Pilão horizontal

Foto: Vladimir KozákFoto: Vladimir Kozák

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MAÇA: confeccionada com madeira PENEIRAS: confeccionadas com a

de alecrim no formato de remo. Utilizada taquara.

como arma e como meio de comunicação,

pois quando batido contra o tronco de uma

árvore produzia som claro que podia ser

ouvido de longe, usado no ritual da chuva.

CESTOS E ESTEIRAS: confeccio-

nados com folhas de palmeiras.

TEMBETÁ (botoque labial): feito com

ossos, sílex, madeira e resina de jerivá.

Importante na identificação do indivíduo, na

iniciação masculina.

TECELAGEM: teciam suas tangas

(hami'a) de fibra de caraguatá, confeccionadas

em teares e usados pelos homens. O fio e o

cordão de fibra tecida eram colocados na

cintura dos meninos. Faixas de caraguatá eram

usados pelas mulheres nas pernas e nos pulsos.

ESPÁTULAS DE PALMEIRAS:

usavam como recipientes.

VASILHAS DE PORUNGO: usadas

para transportar e guardar mel, água e servir

bebida durante os rituais.

Foto: Vladimir KozákFoto: Vladimir Kozák

Início do trançado da cestaria

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Inicio da confecção da maça com o machado

Foto: Vladimir KozákFoto: Vladimir Kozák

Tembetás com labretes

Foto: Vladimir KozákFoto: Vladimir Kozák

Foto: Vladimir KozákFoto: Vladimir Kozák

Textura da tanga com o auxílio da agulha

Foto: Vladimir KozákFoto: Vladimir Kozák

Mulher tecendo peneira

Foto: Vladimir KozákFoto: Vladimir Kozák

Cestos produzidos pelas mulheres

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ARTE XETÁ

A arte Xetá está presente no artesanato cantavam quando se queria chamar a chuva,

com as cestarias e esteiras, na tecelagem, na em época de festa e períodos de frutas quando

escultura de bichinhos de cera, na música, na era realizado o ritual da beberagem. A bebida

pintura e nos adornos corporais. era consumida acompanhada pelos cantos,

respeitando-se os horários para a exibição.

No ritual de iniciação masculina, os homens

no interior da casa entoavam o canto da

jacutinga ao alvorecer; o canto do surucuá,

A pintura facial era feita por uma quando já era dia; e o canto do urubu, que era

mulher (parente) com fruta do jatobá no ritual cantado durante todo o dia. Os instrumentos

de iniciação masculina e a pintura corporal musicais eram apenas usados para a produção

também em ocasiões de rituais. de sons como apitar, alertar, assobiar: um

caramujo, o tembetá, a flauta, a flauta de Pã,

feita de três pedaços de bambu de diferentes

comprimentos.

Esculpiam bichinhos (Mows), figuras

negras zoomórfas de cera de abelhas

As narrativas na sociedade Xetá estão

relacionadas com a “arte de contar histórias”,

de maneira expressiva através da entonação da

voz, dos gestos, dos sons de barulhos emitidos

pelo contador. E, com a participação da platéia

que sugere temas e participa com perguntas

sobre as histórias narradas.As narrativas eram feitas a partir de

acontecimentos ou necessidades sobre

determinado assunto, com temas variados:

uma caminhada de algum grupo ou

antepassado, as façanhas e confrontos, as representando a fauna local, eram: cobras, grandes caçadas, o mundo dos animais, a veados, tatus, tamanduás, capivaras, etc. gênese do mundo, etc. Temas importantes Algumas tinham característica antropomórfas para a socialização entre os grupos, parentes e (cabeça de animal e corpo humano). Eram amigos. produzidas pelos adultos para as crianças

brincarem.

As narrativas acontecem somente à O que se sabe sobre a música Xeta é que noite na aldeia. Existe o narrador principal e o

eram cantos que normalmente representavam narrador secundário, os dois se completam e sons e movimentos dos animais. Os Xetá ambos devem ter domínio da história e do seu

PINTURA FACIAL E CORPORAL

ESCULTURAS

NARRATIVAS

A ARTE E O ATO DE NARRARMÚSICA

MOWS, BICHINHOS DE CERA DE ABELHA.

Foto: Vladimir Kozák

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contexto. Ao narrador principal cabia a O narrador principal faz uso de recursos

responsabilidade dos relatos e do desenvolvi- da onomatopéia e da prosopopéia, reproduz

mento dos temas. O narrador secundário acom- movimentos do corpo combinados com a voz:

panha o primeiro, dando a pauta a ser seguida, sussurra, arfa imitando o animal e muda o tom da

entra em cena de modo sutil no caso de pausa voz, enquanto o narrador secundário observa

ou de esquecimento, assume a fala rapidamente silencioso.

e que em seguida é retomada pelo narrador princi-

pal, partindo do ponto em que foi interrompido.

Os narradores: Tuca, Kuein contando histórias Posto Indígena Rio das Cobras/PR. Março 2003

Foto: Carmen Lucia da Silva

A narrativa Xetá com seus diferentes temas, constitui um lugar de memória por excelência da extinta sociedade. É como se esta se recusasse a desaparecer, impondo

sua presença espectral aos seus sobreviventes (SILVA, 2003, P.52).

HISTÓRIA DO POVO XETÁ

MACACO ERA GENTE NO TEMPO DO SOL E DA LUA

ntão o macaco, diz que vivia junto com os índios também, os bicho que

iam virar tudo macaco né. Mas diz que eles eram morto de fome, mas Ediz que não tinha comida que chegasse. O bicho era arteiro mesmo

sabe.

Ai diz que um dia, o Sol e o Lua irmão dele andavam aqui na terra, daí o Sol

Narradores: Tuca e Tikuein

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ATIVIDADESATIVIDADES

1) Em grupo faça uma pesquisa sobre os Xetá. Siga o roteiro para realizar o trabalho:

- História de contato

- Mitologia e rituais

- Subsistência

- Arte e cultura material

- Onde vivem os renascentes Xetá.

2) A partir da pesquisa confeccione cartazes com imagens e apresente o trabalho para a sala.

3) Pesquise sobre os animais que os Xetá modelavam com cera de abelha. Escolha um animal e

faça uma modelagem usando argila.

4) Com base na narrativa: “Macaco era gente no tempo do Sol e da Lua”, em grupo transforme

a narrativa em diálogos e vamos dramatizar.

5) Utilize os recursos dos Quadrinhos: recursos gráficos, balões e onomatopéias, e transforme

a narrativa “Macaco era gente no tempo do Sol e da Lua” em história em quadrinhos.

Sites de pesquisa e imagens:

ISA – (Instituto Socioambiental). http://www.pib.socioambiental.org

MUSEU PARANAENSE. http://www.museupr.pr.gov.br

mandou eles, esses índios, buscar fruta para ele. Só que não era para ele comer

nenhuma, (...). Ele voltou e estava comendo. O sol achou que ele estava

demorando demais, o sol acalmou e foi lá. (...) Aí diz que ele, o Sol pegou e calcou

a flecha [atirou a flecha] diz que ele errou a flechada. Só que o índio sumiu, (...).

Desapareceu. Aí diz que em outro dia, passados três dias, aí viu aquela macacada,

que virou tudo bicho, virou tudo bicho, virou tudo bicho. Por isso que nossa gente

dizia que macaco era gente também. (Tikuein e Tuca, 20/06/200l).

Fonte: SILVA, Carmen Lucia. Em busca de uma sociedade perdida: O trabalho da memória Xetá. Tese de Doutorado. Universidade de Brasília. Brasília, 2003. (p.127).

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SITE DE PESQUISA:

http://img.socioambiental.org/v/publico/bakairi/bakairi_7.jpg.html Acesso em 29/06/2010.

http://www.scielo.br/pdf/ha/v8n18/19062.pdf - Acesso em 09/05/2010

http://pib.socioambiental.org/pt/povo/assurini-do-xingu/prin - Acesso em 17/01/2010

http://pib.socioambiental.org/pt/povo/kadiweu/266 - Acesso em 05/02/2010

http://pib.socioambiental.org/pt/povo/kaingang/print - Acesso em 05/07/2009

http://pib.socioambiental.org/pt/povo/guarani-Nandeva/print - Acesso em 15/07/2009

http://pib.socioambiental.org/pt/povoxokleng/print - Acesso em 05/07/2009

SITE DAS IMAGENS:

http://img.socioambiental.org/.../arte_kadiweu_2.jpg - Acesso em 10/01/2010.

http://img.socioambiental.org/gallery/v/publico/karaja/karaja_11.jpg.html - Acesso em 04/06/2010.

http://img.socioambiental.org/gallery/v/publico/kadiweu/kadiweu_6.jpg.html - Acesso 11/01/2010.

http://img.socioambiental.org/gallery/v/publico/pibmirim/antes-de-cabral/Urna+funer__ria+Marajoara.jpg.html - Acesso em 09/06/2010.

http://img.socioambiental.org/gallery/v/publico/Xokleng/xokleng_1.jpg.html - Acesso em 23/02/2010.

http://www.iande.art.br/trancado/cesto/wayanaruto020901.htm - Acesso em 15/03/2010

http://www.iande.art.br/boletim010.htm - Acesso em 15/03/2010.

http://www.iande.art.br/boletim016.htm - Acesso 10/01/2010.

http://www.iande.art.br/loja/artefigurativa/karajaboneca2333b.htm - Acesso em 10/01/2010.

http://www.iande.art.br/loja/armas/kayapoborduna1100a.htm - Acesso em 10/01/2010.

http://www.iande.art.br/loja/bancos/mehinakubancoescorpiao1324.htm - Acesso em 10/01/2010.

http://www.iande.art.br/mascara/madeira/mehinakuquapan060512.htm - Acesso em 10/01/2010.

www.iande.art.br/boletim/xikrin%20crian%E7as.jpg – Acesso em 11/02/2010.

http://www.museuparanaense.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=20&evento -

Acesso em 04/03/2010

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