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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC/SP Roberto Meconi Junior Estratégias pedagógicas com uso de tecnologias na formação de professores: matrizes e determinantes Mestrado Profissional em Ensino de Matemática. SÃO PAULO 2010

Estratégias pedagógicas com uso de tecnologias na … Meconi Junior.pdfformação de professores: matrizes e determinantes Mestrado Profissional em Ensino de Matemática. SÃO PAULO

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  • PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

    PUC/SP

    Roberto Meconi Junior

    Estratégias pedagógicas com uso de tecnologias na

    formação de professores: matrizes e determinantes

    Mestrado Profissional em Ensino de Matemática.

    SÃO PAULO

    2010

  • 2

    PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

    PUC/SP

    Roberto Meconi Junior

    Estratégias pedagógicas com uso de tecnologias na

    formação de professores: matrizes e determinantes

    Dissertação apresentada à Banca Examinadora

    da Pontifícia Universidade Católica de São

    Paulo, como exigência parcial para a obtenção

    do título de Mestre Profissional em Ensino de

    Matemática , sob orientação do Professor

    Doutor Gerson Pastre de Oliveira.

    SÃO PAULO

    2010

  • 3

    Banca Examinadora

  • 4

    Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total

    ou parcial desta Dissertação por processos de fotocopiadora ou eletrônicos.

    Assinatura Local e Data

  • 5

    À minha amada esposa Magna

    Aos meus queridos filhos Henrique e Laura

    Aos meus Pais Roberto e Myrian

    As minhas irmãs Samantha e Sarah

  • 6

    Agradecimentos

    Inicialmente a Deus, por ter me dado amparo em todo este trajeto.

    A minha esposa Magna, por ter ajudado e me amparado nos momentos mais difíceis.

    Ao Professor Gerson Pastre de Oliveira, pela orientação, paciência, dedicação e amizade e, acima de tudo, por contribuir para a minha formação.

    Aos Professores Doutores Armando Traldi e Viviane Rezi Dobarro, que gentilmente aceitaram participar da Banca Examinadora, pelas valiosas contribuições oferecidas.

    Aos Professores da rede pública, que participaram das oficinas, pois sem eles este trabalho não existiria.

    Ao meu amigo Ricardo, que esteve comigo desde o início do programa.

    Aos meus colegas de trabalho da Escola Estadual “Profª Rituco Mitani”, que acreditaram e contribuíram para a realização deste trabalho.

    A Secretaria de Estado da Educação, que me proporcionou esta oportunidade

    Finalmente, as minhas amigas Simone e Shirley, pela ajuda na correção e finalização desde trabalho.

    Muito Obrigado!

    O Autor

  • 7

    Resumo

    Este trabalho relata uma experiência investigativa relacionada à formação

    continuada de professores de Matemática do Ensino Médio, mais precisamente

    no que tange ao preparo dos mesmos em relação ao uso de tecnologias como

    mediadoras em suas aulas. Através de uma Oficina Didática de Educação

    Matemática e Tecnologias, oferecida no âmbito das atividades do Programa de

    Estudos Pós-Graduados em Educação Matemática da PUC/SP (grupo

    TecMEM), um grupo de professores da rede pública do Estado de São Paulo

    foi acompanhado na realização de atividades dinâmicas com uso do software

    Winmat, bem como na consecução de tarefas em com mídias tradicionais,

    todas relacionadas ao tema “matrizes e determinantes”. Através de análise

    qualitativa dos dados, foi possível constatar diversas dificuldades por parte dos

    sujeitos da pesquisa, tanto conceituais quanto técnicas, que puderam ser

    minoradas à medida que se alcançava uma articulação entre o

    desenvolvimento do domínio tecnológico da interface e a recuperação dos

    conceitos matemáticos envolvidos. Além disso, os docentes envolvidos nesta

    investigação indicaram perceber a importância das estratégias pedagógicas

    que incluam tecnologias nas aulas de Matemática, muito além da mera

    inserção de softwares e ou artefatos para o uso de seus estudantes.

    Palavras-Chave: Tecnologias, Estratégias Pedagógicas, Formação de

    Professores, Matrizes e Determinantes.

  • 8

    Abstract

    This work describes an investigative experience related to High School Math

    teachers Studies, more precisely about their performance in relation to the use

    of technologies as mediators during their classes. Through a Math Educational

    Didactic and technological work- shop offered in the ambit of activities in the

    Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação Matemática da PUC/SP

    (grupo TecMEM), where a group of teachers from Estado de São Paulo Public

    School were under observation in the realization in dynamic activities using the

    software WinMat as well as in the executions of tasks with traditional medias, all

    of them related to the theme "matrices and determinants". Through qualitative

    analysis of data, it was possible to verify several difficulties by these groups of

    researchers, conceptual and technical, but these difficulties could decrease as

    soon as this articulation was being reached between the interface technological

    domain and the recover of mathematics concepts involved. Besides, the

    teachers who are in this investigation have noticed the importance of

    pedagogical strategies in which mathematics technological classes should be

    included, more than the simple use of software or other artifact to the students

    use.

    Keywords: Technologies, Pedagogical Strategies, Training Teachers, Matrices

    and Determinants

  • 9

    SUMÁRIO

    APRESENTAÇÃO............................................................................................ 14 Trajetória pessoal ......................................................................................... 14 Motivações da pesquisa ............................................................................... 15

    CAPÍTULO UM................................................................................................. 18 PROBLEMATIZAÇÃO DO TEMA..................................................................... 18

    1.1. A formação do professor de Ensino Básico no Brasil.......................... 18 1.2. Formação do professor e TICs............................................................ 27 1.3. Tecnologias como mediadoras: estratégias didático-pedagógicas ..... 32 1.4. As Oficinas Didáticas de Educação Matemática e TICs...................... 35 1.5. Questões relativas à pesquisa ............................................................ 39

    A ABORDAGEM DO TEMA “MATRIZES E DETERMINANTES” ..................... 41 CAPÍTULO TRÊS............................................................................................. 57 APORTES METODOLÓGICOS ....................................................................... 57

    3.1 Pesquisa qualitativa: análise de conteúdo .......................................... 57 3.2 Descrição dos sujeitos ........................................................................ 60 3.2.1 Primeira questão.............................................................................. 61 3.2.2 Segunda questão............................................................................. 61 3.2.3 Terceira questão .............................................................................. 61 3.2.4 Quarta questão ................................................................................ 62 3.2.5 Quinta questão................................................................................. 62 3.2.6 Sexta questão .................................................................................. 64 3.2.7 Sétima questão ................................................................................ 66 3.2.8 Oitava questão................................................................................. 69 3.2.9 Nona questão................................................................................... 71 3.2.10 Décima questão ............................................................................... 73

    CAPÍTULO QUATRO ....................................................................................... 74 CONHECIMENTOS E POSSIBILIDADES DOS PROFESSORES AO ABORDAREM QUESTÕES RELACIONADAS A MATRIZES E DETERMINANTES NOS AMBIENTES ESTÁTICO E DINÂMICO ................... 74

    4.1 As atividades da oficina e os livros didáticos ...................................... 74 4.2 Breves explicações ............................................................................. 74 4.3 Primeira questão ................................................................................. 75 4.4 Segunda questão ................................................................................ 77 4.5 Terceira questão ................................................................................. 78 4.6 Quarta questão ................................................................................... 80 4.7 Ambientação para uso do WinMat; ..................................................... 84 4.8 Atividades com uso do Winmat ........................................................... 84 4.9 Elaboração de aula com uso do WinMat............................................. 93

    CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 97 REFERÊNCIAS.............................................................................................. 101 ANEXO I - Slides utilizados na apresentação das oficinas ............................ 105 ANEXO II – Material para Oficina de Winmat................................................. 107 ANEXO III – Primeiro Instrumento.................................................................. 113 ANEXO IV – Segundo Instrumento ................................................................ 114 ANEXO V – Tabulação das quatro primeiras questões.................................. 115 ANEXO VI - Texto utilizado na oficina........................................................... 121

  • 10

    Lista de Tabelas Tabela 1 – Respostas da primeira questão, segundo instrumento.................. 75 Tabela 2 – Respostas da segunda questão, segundo instrumento................. 77 Tabela 3 – Respostas da terceira questão, segundo instrumento................... 79 Tabela 4 – Respostas da quarta questão, segundo instrumento .................... 80

  • 11

    Lista de Quadros

    Quadro 1 – Primeira questão ................................................................... 60 Quadro 2 – Segunda questão.................................................................... 60 Quadro 3 – Terceira questão..................................................................... 60 Quadro 4 – Quarta questão....................................................................... 61 Quadro 5 – Quinta questão....................................................................... 61 Quadro 6 – Sexta questão......................................................................... 63 Quadro 7 – Sétima questão....................................................................... 64 Quadro 8 – Oitava questão........................................................................ 68 Quadro 9 – Nona questão......................................................................... 69 Quadro 10 – Décima questão.................................................................... 71 Quadro 11 – Primeira questão, segundo instrumento............................... 74 Quadro 12 – Segunda questão, segundo instrumento.............................. 75 Quadro 13 – Terceira questão, segundo instrumento............................... 77 Quadro 14 – Quarta questão, segundo instrumento................................. 79 Quadro 15 – Primeira questão, terceiro instrumento................................. 83 Quadro 16 – Segunda questão, terceiro instrumento................................ 84 Quadro 17 – Terceira questão, terceiro instrumento................................. 84 Quadro 18 – Quarta questão, terceiro instrumento................................... 85 Quadro 19 – Quinta questão, terceiro instrumento................................... 87 Quadro 20 – Sexta questão, terceiro instrumento.................................... 88 Quadro 21 – Sétima questão, terceiro instrumento.................................. 88 Quadro 22 – Situação-Problema 1, terceiro instrumento.......................... 89 Quadro 23 – Situação-Problema 2, terceiro instrumento.......................... 90

  • 12

    Listas de Figuras

    Figura 1 – Tela do Winmat........................................................................... 37 Figura 2 – O ciclo do uso de tecnologias em Educação Matemática.......... 38 Figura 3 – Abordagem sobre matrizes......................................................... 42 Figura 4 – Abordagem sobre matrizes......................................................... 43 Figura 5 – Abordagem sobre matrizes......................................................... 44 Figura 6 – Abordagem sobre matrizes......................................................... 45 Figura 7 – Abordagem sobre matrizes......................................................... 46 Figura 8 – Abordagem sobre matrizes......................................................... 47 Figura 9 – Abordagem sobre matrizes......................................................... 48 Figura 10 – Abordagem sobre matrizes....................................................... 49 Figura 11 – Abordagem sobre matrizes....................................................... 51 Figura 12 – Abordagem sobre matrizes....................................................... 52 Figura 13 – Abordagem sobre matrizes....................................................... 53 Figura 14 – Abordagem sobre matrizes...................................................... 54

  • 13

    Lista de Gráficos

    Gráfico 1 – Respostas dos professores à primeira questão........................ 61 Gráfico 2 – Resposta dos professores à segunda questão........................ 63 Gráfico 3 – Resposta dos professores à terceira questão .......................... 65 Gráfico 4 – Resposta dos professores à quarta questão ........................... 68 Gráfico 5 – Resposta dos professores à quinta questão ............................ 69 Gráfico 6 – Resposta dos professores à sexta questão ............................. 71

  • 14

    APRESENTAÇÃO

    Trajetória pessoal

    Desde quando cogitei escolher uma carreira profissional, duas

    possibilidades se apresentaram: seguir a mesma de meus pais (comerciantes)

    ou optar pela docência. Logo a carreira na educação tornou-se mais atrativa,

    não pela questão salarial, mas pelo crescimento pessoal como indivíduo, pela

    possibilidade de interação com os colegas e alunos, bem como pela

    oportunidade de continuar, sempre, a minha aprendizagem.

    Minha história como estudante começou em 1983, quando iniciei os

    estudos no antigo 1º grau (1ª a 8ª série do Ensino Fundamental) na escola

    estadual Prof. Domingos Cambiaghi, na cidade de Franco da Rocha. Em 1993

    ocorreu o término do 2º grau (1º ao 3º ano do Ensino Médio), também num

    colégio estadual em Franco da Rocha, a escola E.E. Profª Rituco Mitani. Nessa

    fase da vivência escolar, tomei conhecimento da importância da Matemática na

    educação e de como ela era defrontada pelos alunos. Percebi que esta

    disciplina, na maioria das vezes, não era bem vista pelos jovens.

    O ingresso na educação ocorreu na mesma unidade de conclusão do

    ensino médio, o que me permitiu, além de rever velhos amigos, trabalhar em

    um local cujo ambiente fora referência na adolescência, uma relação de afeto

    muito grande. Iniciei nesta escola como professor em cargo efetivo de

    Matemática para o Ensino Médio.

    Nesta empreitada como educador, em 2008 surgiu à oportunidade de

    participar de um processo seletivo para o curso de Mestrado Profissional em

    Educação Matemática, oferecido pela Pontifícia Universidade Católica de São

    Paulo, oportunidade esta que só foi possível porque o Governo do Estado de

    São Paulo implementou o sistema de Bolsa Mestrado1 para os professores

    efetivos.

    Tendo ingressado no referido programa de Mestrado, pude conhecer os

    estudos mais diversificados sobre Educação Matemática, desde os mais

    1 Decreto Nº 48.298, de 3 de dezembro de 2003 e na Resolução SE 131, de 4-12-2003 e Resolução SE

    105, de 1-12-2004.

  • 15

    recentes até os clássicos, estes últimos muito relevantes, uma vez que, em

    minha opinião, tais assuntos deveriam ser conhecidos por todos os professores

    de Matemática, o que não ocorre em decorrência da má formação nas

    Licenciaturas e afins, por responsabilidade das instituições promotoras ou do

    próprio egresso.

    A partir destas constatações, busquei compreender teorias e práticas

    que me permitiriam colaborar para alterar esta realidade, seja durante a

    formação ou na formação continuada. De minha parte, achei que não podia ter

    conhecimento destes problemas sem estudar possibilidades para alterar essa

    situação.

    Motivações da pesquisa

    Ao ingressar na faculdade de Matemática em 1994, logo após ter

    completado 18 anos, surgiu a oportunidade de trabalhar como professor e, a

    partir desta ocasião, a visão de como os alunos percebiam a Matemática foi

    ficando mais clara, bem como algumas questões sobre o porquê da

    Matemática ser a vilã na vida escolar de muitos alunos foram sendo

    desveladas, já que esta disciplina não é compreendida em sua essência.

    Com a possibilidade de pesquisar sobre os problemas de aprendizagem

    em relação à Matemática surgem diversas questões, sendo que algumas

    devem ser comuns a todos que iniciam seus estudos: O que se deve

    pesquisar? Qual conceito deve ser abordado? Que ferramentas podem-se

    utilizar para alcançar os objetivos propostos? Com que grupo trabalhar em

    educação, professores ou alunos?

    Para tentar responder a esses questionamentos, vem à tona a

    experiência e a vivência no ambiente escolar, tanto como professor como

    aluno, pois ao mudar de função na sala de aula, pude conhecer a maioria das

    dificuldades enfrentadas por ambas as partes desta relação. Claro que maior

    clareza para envidar uma pesquisa que viesse a auxiliar a mudança deste

    cenário só chegou com os estudos na pós-graduação.

    Durante a vivência como aluno, por exemplo, verifiquei, com relação aos

    conteúdos abordados, que o conceito de Matrizes e Determinantes não havia

    sido tratado de maneira satisfatória, pois este conceito fora apresentado de

  • 16

    maneira expositiva e formal, sem problematizações ou momentos nos quais os

    alunos fossem convidados a mobilizar conhecimentos que os ajudassem a

    avançar neste conteúdo.

    De minha parte, como professor, permaneceu o questionamento: o que

    fazer? Tendo consciência desta realidade, sabia que este conteúdo não

    poderia continuar sendo trabalhado da mesma maneira, ou seja, de maneira

    tradicional, expositiva: era necessário buscar uma nova estratégia.

    Nota-se, pelo discurso acima, que algumas das questões anteriormente

    levantadas puderam alcançar algum encaminhamento. O tema desta pesquisa

    foi definido pela minha própria experiência como professor. Os sujeitos,

    também: os professores. Restava uma variável importante para compor o

    cenário esperado: quais ferramentas deveriam ser utilizadas? Surge então,

    como estratégia, a possibilidade de utilizar ferramentas as quais, para alguns

    professores, seriam novas. São ferramentas que, se utilizadas com estratégias

    coerentes e bem elaboradas, possibilitariam abordar as dificuldades suscitadas

    nestas cogitações. Assim, o delineamento da pesquisa que apresento neste

    trabalho foi feito a partir da utilização das tecnologias de informação e

    comunicação (TICs), já que semelhantes interfaces haviam sido apresentadas

    de maneira muito promissora no curso de Mestrado pelo Prof. Dr. Gerson

    Pastre de Oliveira, na disciplina “Autoformação pelo uso das Tecnologias da

    Informação e da Comunicação”, como elementos importantes na estruturação

    de uma estratégia docente que permitisse, por sua vez, trabalhar com questões

    Matemáticas de forma mais dinâmica e eficiente.

    Encerradas neste ponto as questões de caráter pessoal, prossigo, nas

    próximas páginas com o desenvolvimento da pesquisa propriamente dita.

    Deste ponto de vista, a organização do trabalho segue a seguinte lógica:

    • O capítulo 1 traz a problematização relativa ao tema em análise, mais

    especificamente no que trata da formação do professor de

    Matemática de forma geral e para o uso das tecnologias, culminando

    com a questão norteadora desta investigação;

    • O capítulo 2 aborda o tema “matrizes e determinantes” e sua

    utilização em alguns livros didáticos tomados como referência;

  • 17

    • O capítulo 3 alinha os aportes metodológicos da pesquisa, definida

    como um estudo qualitativo;

    • O capítulo 4 traz a análise das atividades realizadas pelos

    professores participantes da oficina didática, relacionando suas

    intervenções com os aportes teóricos antes considerados;

    • Em sua última parte, este trabalho alinha as considerações finais e

    recomendações advindas da pesquisa.

  • 18

    CAPÍTULO UM

    PROBLEMATIZAÇÃO DO TEMA

    1.1. A formação do professor de Ensino Básico no Br asil

    Atualmente, pode-se sugerir que a formação inicial do professor falha,

    entre outros aspectos, no que diz respeito às práticas empregadas em sala de

    aula, já que nem sempre os professores em processo de formação inicial têm

    contato direto com este ambiente. Semelhante descolamento entre a parte

    teórica e a realidade cotidiana da profissão docente causa descompassos

    quando do efetivo exercício dos profissionais no ambiente escolar. (SAVIANI,

    2009)

    Saviani (2009), em artigo sobre a formação do professor, resgata os

    aspectos históricos desta prática. A necessidade da formação docente já fora

    preconizada por Comenius, no século XVII, e o primeiro estabelecimento de

    ensino destinado à formação de professores teria sido instituído por São João

    Batista de La Salle, em 1684, em Reims, com o nome de Seminário dos

    Mestres. Entretanto, a questão da formação de professores exigiu uma

    resposta institucional apenas no século XIX, quando, após a Revolução

    Francesa, foi colocado o problema da instrução popular. É daí que deriva o

    processo de criação de Escolas Normais como instituições encarregadas de

    preparar professores.

    Ainda segundo Saviani (2009), no Brasil, a questão do preparo de

    professores emerge de forma explícita após a independência, quando se cogita

    da organização da instrução popular. O autor faz uma crítica contundente a

    respeito da formação dos professores após a nova Lei de Diretrizes e Bases de

    1996. Segundo ele, a lei sinalizou para uma política educacional tendente a

    efetuar um nivelamento por baixo: os institutos superiores de educação

    emergem como instituições de segunda categoria, provendo uma formação

    mais aligeirada, mais barata, por meio de cursos de curta duração.

    Na visão de Saviani (2009), os dois séculos de sucessivas mudanças na

    formação dos professores revelam uma descontinuidade e precariedade das

  • 19

    políticas formativas, as quais não conseguiram manter um padrão consistente

    de preparação docente para dar conta dos problemas enfrentados pela

    educação escolar do país.

    O autor expõe os dois modelos contrapostos de formação docente:

    a) Modelo dos conteúdos culturais-cognitivos: para este modelo, a

    formação do professor se esgota na cultura geral e no domínio

    específico dos conteúdos da área de conhecimento correspondente à

    disciplina que irá lecionar;

    b) Modelo pedagógico-didático: contrapondo-se ao anterior, este modelo

    considera que a formação do professor propriamente dita só se

    completa com o efetivo preparo pedagógico-didático.

    Segundo o mesmo Saviani (1996), o processo de formação do educador

    deve contemplar os saberes relacionados às vivências e as experiências

    vividas por ele, a sua compreensão da realidade sob o foco histórico e social, o

    conhecimento específico de sua área, o conhecimento pedagógico que orienta

    sua prática educativa, o conhecimento sobre as formas de organização e

    realização da atividade educativa, ao ponto que suas ações caracterizem a

    tolerância às diversas formas de apropriação do conhecimento matemático que

    ocorrem no meio educacional.

    Mello (2000), em artigo que trata sobre a formação inicial dos

    professores na educação básica, reconhece que a tal formação é apenas um

    componente de uma estratégia mais ampla de profissionalização do professor,

    indispensável para implementar uma política de melhoria da educação básica.

    A autora relembra a história da educação brasileira, no que diz respeito

    à formação docente, enfocando a divisão entre o professor polivalente e o

    especialista.

    De acordo com a autora, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação

    Brasileira exige que o professor de educação básica construa em seus alunos

    a capacidade de aprender e de relacionar a teoria à prática em cada disciplina

    do currículo. Porém, ela questiona como o professor poderá realizar esta

    proeza, se é preparado num curso de formação docente no qual o

  • 20

    conhecimento de um objeto de ensino, ou seja, o conteúdo, que corresponde à

    teoria, foi desvinculado da prática.

    A autora revela que não há avaliação da qualidade dos resultados

    desses cursos de preparação docente, sejam eles públicos ou privados, porque

    a formação de professores tem sido tratada como qualquer outro curso de nível

    superior, sem considerar seu papel estratégico para todo o sistema

    educacional do país.

    Feiman-Nemser e Floden (apud PONTE, 1992) citam que a formação

    inicial, mesmo executada de forma razoável, pode ser totalmente

    comprometida no processo de adaptação às realidades da prática pedagógica

    que ocorre nos anos iniciais de serviço.

    Ponte (1992) considera, ainda, que a organização adequada de um

    sistema de apoio nas fases iniciais poderá não só permitir que o professor se

    adapte às realidades da prática pedagógica que ocorre nos anos iniciais de

    serviço, mas também auxiliar o docente a ter uma maior continuidade e uma

    transição natural da formação inicial para a formação continuada.

    No Brasil, embora se discuta a importância de uma formação inicial de

    qualidade que proporcione aos futuros professores saberes específicos e

    pedagógicos e, também, a oportunidade de uma formação continuada que lhes

    dê condições para o exercício do magistério, a análise da situação atual tem

    mostrado que as escolas de formação inicial de professores estão caminhando

    muito lentamente para ter condição de formar um profissional competente.

    Ponte (1998) traz a idéia de desenvolvimento profissional, ou seja, a

    noção de que a formação do professor para o exercício da sua atividade

    profissional é um processo que envolve múltiplas etapas e que, em última

    análise, está sempre incompleto. O autor destaca outro importante aspecto,

    qual seja o de que a formação está muito associada à idéia de “frequentar”

    cursos, enquanto o desenvolvimento profissional ocorre por meio de múltiplas

    formas, que incluem cursos, mas também atividades como projetos, trocas de

    experiências, leituras, reflexões, entre outras atividades:

    Na formação o movimento é essencialmente de fora para dentro, cabendo ao professor assimilar os conhecimentos e a informação que

  • 21

    lhe são transmitidos, enquanto que no desenvolvimento profissional temos um movimento de dentro para fora, cabendo ao professor as decisões fundamentais relativamente às questões que quer considerar, aos projetos que quer empreender e ao modo como os quer executar. (PONTE, 1998, p-2)

    Assim, o desenvolvimento profissional ao longo de toda a carreira é, hoje

    em dia, um aspecto marcante da profissão docente, combinando processos

    formais e informais. O professor deixa de ser objeto para passar a ser sujeito

    da formação e seu desenvolvimento profissional é, no essencial, decidido por

    ele.

    Este tipo de reflexão contradiz o que se pensava no passado, ou seja, a

    idéia de que o mais importante era a formação sobre o conteúdo a ser

    ensinado e que essa formação deveria ser suficiente para o professor,

    deixando totalmente de lado as metodologias, os projetos, as dinâmicas e a

    avaliação. Para Ponte (1992), a formação antigamente era vista como tendo de

    ser extremamente sólida em termos de conteúdo de ensino, sendo pouco

    valorizado os componentes pedagógicos. Agora, estes aspectos são tanto ou

    mais valorizados como os temas de Matemática.

    Para Saraiva (2001), não se trata, portanto, de simplesmente rever a

    formação inicial que, por mais qualificada que seja, não consegue e nem pode

    responder a todas as necessidades que o professor encontra ao longo da sua

    vida profissional. As situações profissionais que o professor tem de enfrentar

    são muito variadas e exigem, em muitos casos, respostas inovadoras. Mesmo

    sendo considerada um fator fundamental para o desenvolvimento do professor,

    a experiência é insuficiente para dar respostas aos problemas da prática, pois

    muitas vezes as soluções requerem o conhecimento da teoria.

    O mesmo autor acrescenta que, ao longo de sua carreira profissional, o

    professor de Matemática necessita aprofundar e ampliar os seus

    conhecimentos sobre a matéria que leciona e, também, sobre o currículo, os

    alunos e a sua aprendizagem, a didática, o contexto e sobre si mesmo (idem,

    ibidem).

    Tardif (2000), em um texto em que reflete sobre os saberes dos

    professores e o conhecimento universitário, aponta que uma boa parte do que

    os professores sabem sobre o ensino, sobre os papéis docentes e sobre como

  • 22

    ensinar provém de sua própria história de vida e, sobretudo, de sua história de

    vida escolar. Os professores são trabalhadores que foram mergulhados em seu

    espaço de trabalho durante aproximadamente 16 anos (em torno de 15 mil

    horas), antes mesmo de começarem a trabalhar. Essa imersão se manifesta

    através de toda uma bagagem de conhecimentos anteriores, de crenças, de

    representações e de certezas sobre a prática docente. Esses fenômenos

    permanecem fortes e estáveis ao longo do tempo. Além disso, o autor relata

    que a maioria dos dispositivos de formação inicial dos professores não

    consegue mudá-los nem abalá-los. Ou seja, os alunos passam pelos cursos de

    formação de professores sem modificar suas crenças anteriores sobre o

    ensino. E, quando começam a trabalhar como professores, são principalmente

    essas crenças que eles reativam para solucionar seus problemas profissionais.

    O autor destaca que os primeiros anos de prática profissional são

    decisivos na aquisição do sentimento de competência e no estabelecimento

    das rotinas de trabalho, ou seja, na estruturação da prática profissional. Ainda

    hoje, a maioria dos professores aprendem a trabalhar na prática, às

    apalpadelas, por tentativa, erro e acerto, ou ainda, tendem a repetir modelos e

    práticas já ultrapassadas (TARDIF, 2000).

    Na busca de uma formação inicial e em serviço, Soares e Goulart (2008)

    relatam, em seu estudo, uma experiência de quando foram licenciandos de

    Matemática da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Esta pesquisa

    foi realizada sob a supervisão de um professor de prática de ensino de

    Matemática da mesma universidade, e envolvia uma professora e os alunos de

    uma turma da sétima série do ensino fundamental. Os licenciandos planejaram

    duas aulas de geometria e compartilharam a posição docente com os demais

    professores. O compartilhamento das aulas seguiu uma proposta teórico-

    metodológica, chamada coteaching, difundida na literatura acadêmica, a qual,

    na visão dos autores, contribuiu para a construção de um conhecimento que só

    se realiza na prática. Como resultado, os procedimentos levados a efeito junto

    à sala de aula, que incluíram compartilhamento de experiências entre os

    professores e prática investigativa de aprendizagem para os alunos,

    contribuíram para o enriquecimento das perspectivas de formação e prática dos

    licenciandos.

  • 23

    Em se tratando da formação continuada, Gatti (2008) analisa que, nos

    últimos dez anos, cresceram geometricamente as iniciativas de “educação

    continuada”. Porém, não foi encontrado, nas pesquisas observadas por ela, um

    conceito preciso sobre o termo. A Educação Continuada, segunda a autora, é

    muitas vezes compreendida de modo amplo e genérico, como qualquer tipo de

    atividade que venha a contribuir para o desempenho profissional – horas de

    trabalho coletivo na escola, reuniões pedagógicas, trocas cotidianas com os

    pares, participação na gestão escolar, congressos, seminários, cursos de

    diversas naturezas e formatos, oferecidos pelas Secretarias de Educação ou

    outras instituições para pessoal em exercício nos sistemas de ensino, relações

    profissionais virtuais, processos diversos a distância, grupos de sensibilização

    profissional, enfim, tudo que possa oferecer ocasião de informação, reflexão,

    discussão e trocas que favoreçam o aprimoramento profissional, em qualquer

    de seus ângulos, em qualquer situação. Há, portanto, uma vastidão de

    possibilidades dentro do rótulo de educação continuada.

    Para Candau (1999) o modelo de formação continuada para docentes

    exprime-se no que vem ocorrendo com as iniciativas de renovação pedagógica.

    O destaque é dado na atualização da formação recebida ou numa “reciclagem”.

    Segundo a autora, o termo reciclagem não é atribuído ao processo industrial,

    mas sim de “refazer o ciclo”, diferentemente de outros preocupados com o

    assunto que discordam da expressão.

    Já para Prada (1997), na nomeação dos programas de formação

    continuada, os termos utilizados estão abarcados de uma concepção filosófica

    que norteia o processo, sendo, também influenciados pela região, país e

    instituição envolvida, entre outros. Este autor apresenta em seu trabalho uma

    relação com as diferentes expressões e seus respectivos significados que

    auxiliam essa compreensão, a saber:

    • Capacitação: Proporcionar determinada capacidade a ser

    adquirida pelos professores, mediante um curso; concepção

    mecanicista que considera os docentes incapacitados.

  • 24

    • Qualificação: Não implica a ausência de capacidade, mas

    continua sendo mecanicista, pois visa melhorar apenas algumas

    qualidades já existentes.

    • Aperfeiçoamento: Implica tornar os professores perfeitos. Está

    associado à maioria dos outros termos.

    • Reciclagem: Termo próprio de processos industriais e,

    usualmente, referente à recuperação do lixo.

    • Atualização: Ação similar à do jornalismo; informar aos

    professores para mantê-los atualizados em relação aos

    acontecimentos. Neste caso, o termo recebe críticas semelhantes

    à educação bancária.

    • Formação Continuada: Alcançar níveis mais elevados na

    educação formal ou aprofundar a formação, como continuidade

    dos conhecimentos que os professores já possuem.

    • Formação Permanente: Realizada constantemente, visa à

    formação geral da pessoa sem se preocupar apenas com os

    níveis da educação formal.

    • Especialização: É a realização de um curso superior sobre um

    tema específico.

    • Aprofundamento: Tornar mais profundo alguns dos

    conhecimentos que os professores já têm.

    • Treinamento: Adquirir habilidades por repetição. É um meio

    utilizado para manipulação de máquinas em processos industriais.

    No caso dos professores, estes interagem com pessoas.

    • Re-treinamento: Voltar a treinar o que já havia sido treinado.

    • Aprimoramento: Melhorar a qualidade do conhecimento dos

    professores.

    • Superação: Subir a outros patamares ou níveis, por exemplo, de

    titulação universitária ou pós-graduação.

  • 25

    • Desenvolvimento Profissional: Cursos de curta duração que

    procuram a “eficiência” do professor.

    • Profissionalização: Tornar profissional. Conseguir, para quem não

    tem, um título ou diploma.

    • Compensação: Suprir algo que falta. Atividades que pretendem

    subsidiar conhecimentos que faltaram na formação anterior.

    Gatti (2008) explica que o surgimento de tantos tipos de formação não é

    gratuito. Tem base histórica em condições emergentes na sociedade

    contemporânea, nos desafios colocados aos currículos e ao ensino, nos

    desafios postos aos sistemas pelo acolhimento cada vez maior de crianças e

    jovens, nas dificuldades do dia-a-dia nos sistemas de ensino, anunciadas e

    enfrentadas por gestores e professores e constatadas e analisadas por

    pesquisas. Criaram-se o discurso da atualização e o discurso da necessidade

    de renovação.

    Segundo esta autora, observa-se a precariedade em que se encontram

    os cursos de formação de professores em nível de graduação. Assim,

    problemas concretos das redes inspiraram iniciativas chamadas de educação

    continuada, especialmente na área pública, pela constatação, por vários meios

    (pesquisas, concursos públicos, avaliações), de que os cursos de formação

    básica dos professores não vinham (e não vêm) propiciando adequada base

    para sua atuação profissional. A partir do seu estudo, percebe-se que muitas

    das iniciativas públicas de formação continuada no setor educacional

    adquiriram, então, a feição de programas compensatórios e não propriamente

    de atualização e aprofundamento em avanços do conhecimento, sendo

    realizados com a finalidade de suprir aspectos da má-formação anterior,

    alterando o propósito inicial dessa educação.

    Para exemplificar sua observação, a autora relembra o Programa de

    Educação Continuada (PEC), da Secretaria de Educação do Estado de São

    Paulo para todo o ensino fundamental, que foi desenvolvido entre os anos de

    1996 a 1998 e visava o desenvolvimento profissional dos educadores, foi

    descentralizado regionalmente, tendo atingido dirigentes regionais e técnicos,

    diretores, coordenadores pedagógicos e professores do ensino fundamental (1ª

  • 26

    a 8ª séries), em sistema presencial. As ações do projeto foram desenvolvidas

    com base em necessidades colocadas pela rede em 19 pólos, por

    universidades e agências capacitadoras, cada uma responsável por um ou

    mais pólos regionais.

    Em relação à formação dos professores de Matemática, podem-se

    evidenciar algumas características ligadas tanto à formação inicial ou à

    continuidade desta.

    Nesse contexto, Costa (2005) coloca que as experiências vivenciadas

    pelos professores de Matemática constituem um aspecto importante no seu

    processo pessoal de desenvolvimento profissional ao focalizar sua atenção

    para novas questões presentes na prática educativa. Ao refletir sobre e analisar

    os problemas presentes na prática pedagógica, supõe-se que os professores

    iniciem um processo de mudança, melhorando sua ação educativa.

    Outro aspecto também evidenciado é em relação ao domínio do

    conteúdo a ser ensinado: o professor de Matemática deve ter um conhecimento

    profundo do assunto a ser discutido em sala de aula, mas também possuir

    conhecimento de como esse mesmo conteúdo pode ser abordado. Portanto,

    além dos professores possuírem conhecimento pedagógico e do conteúdo,

    devem relacionar estes conhecimentos a fim de, por meio desta dialética,

    promover a aprendizagem.

    Além dos aspectos mencionados, procura-se aqui um posicionamento

    teórico em relação aos conhecimentos dos professores de Matemática, os

    quais se apresentam de maneira insatisfatória, não proporcionando a dialética

    entre o conhecimento matemático e o conhecimento pedagógico. Lorenzato e

    Fiorentini (2001) afirmam que estudos sobre os saberes dos professores de

    Matemática revelam baixo níveis de compreensão e domínio do conhecimento

    matemático a ser ensinado e, ainda, de como combinar o conhecimento

    matemático com o conhecimento pedagógico.

    E, ainda, Fiorentini (2000) coloca que os professores de Matemática

    mobilizam saberes e se constroem como profissionais utilizando uma tríade de

    entidades, composta pelo professor, sua prática e seus saberes. Estes entes

  • 27

    se “interdependem”, “co-pertencem” e “co-evoluem”, continuamente em

    transformação.

    Em relação ao professor em geral, e o de Matemática, em particular, um

    aspecto importante diz respeito à integração do mesmo e ao preparo em

    relação às tecnologias contemporâneas. A questão extravasa a mera

    manipulação de artefatos e atinge um requisito fundamental: articular o

    emprego de interfaces como mediadoras de um processo de ensino-

    aprendizagem em Matemática em relação ao próprio conteúdo, às condições

    dos estudantes, à disponibilidade de infraestrutura e à convicção de que não

    basta adicionar elementos tecnológicos para que a evolução cognitiva se dê –

    há a necessidade de elaborar estratégias pedagógicas que empreguem

    corretamente as tecnologias (OLIVEIRA, 2009). Discutem-se tais aspectos

    mais adiante.

    1.2. Formação do professor e TICs

    As tecnologias digitais trazem consigo um diferencial em relação às

    tecnologias já existentes. Segundo Kenski (1998), tais meios alteram as

    dinâmicas na sala de aula, fisicamente falando: as atividades são orientadas de

    modo a privilegiar o trabalho em equipe e o professor surge em um novo papel,

    o de participar junto com os outros membros.

    Para propor um trabalho em sala de aula utilizando as tecnologias é

    necessário não só o material físico, mas também o interesse por parte dos

    professores para este fim. E considerando que o fazer escolar está voltado

    para a prática docente, percebe-se o atual modelo de atuação do professor

    ultrapassado, revelando a necessidade de se promover a atualização do

    professor.

    A utilização de tecnologia no ambiente escolar constitui uma área de

    estudos surgida nos Estados Unidos na década de 1940, denominada

    Tecnologia Educacional, que tem como foco, desde a sua gênese, a busca de

    recursos que aperfeiçoem os processos de aprendizagem na escola (PONS,

    1994). A falta de uma estratégia para o uso educativo de novos meios e

  • 28

    tecnologias provoca a perda de seu potencial para os fins que se procuram,

    pois o processo através do qual os educandos e os professores devem

    apropriar-se adequadamente dos novos meios e tecnologias não é um

    processo automático nem autodidata. O trânsito de um determinado uso dos

    meios e tecnologias da diversão e entretenimento para um uso destinado a

    objetivos de aprendizado e análise também não são espontâneos: requer

    capacitação específica e especializada (GOMÉZ, 2002, p. 66).

    Ponte (1992) coloca que um dos principais trunfos da formação

    utilizando tecnologias é o interesse que estas geram entre os professores, mas

    umas das grandes dificuldades é que não se apresentam como soluções

    prontas, ou seja, dependem da intervenção dos professores envolvidos.

    O mesmo autor acrescenta que os professores de Matemática devem

    saber usar em sua prática as ferramentas das tecnologias de informação e

    comunicação (TICs), incluindo software educacional próprio para sua disciplina

    e software de uso geral (PONTE,1995).

    Outro aspecto relevante versa sobre a experiência docente, que é muito

    valorizada dentro das escolas pela comunidade de maneira geral, o que

    influencia diretamente a prática pedagógica dos professores mais jovens. Essa

    valorização pode ser uma das razões para o fato de ainda existir uma

    concentração significativa na metodologia expositiva como forma de mediação

    pedagógica e na repetição de tarefas determinadas pelo professor ou seus

    correspondentes tecnológicos, como aponta Vasconcellos (1993).

    Observando a estrutura de funcionamento das metodologias de ensino

    nas escolas, verifica-se que o grande trabalho do professor se concentra na

    exposição, a mais clara e precisa possível, a respeito do objeto de estudos,

    através da qual o docente procura trazer para os alunos os elementos mais

    importantes para a compreensão, recuperando o conhecimento acumulado pela

    humanidade. Nem sempre, no entanto, a aula expositiva apresenta-se de forma

    tão clara, explícita. Muitas vezes, na troca do suporte ou da organização da

    sala, surgem pseudo-superações. Alguns exemplos podem ser vistos através da

    variação das falas (substituição da fala do professor pela fala do aluno, do vídeo

    ou do programa de computador), das aparências (cadeiras em círculo e

    manutenção do monopólio da palavra com o professor) e da introdução de

  • 29

    novidades (utiliza-se uma série de técnicas para “variar a aula”, tornando-a

    “descontraída” e “criativa”, mas sem atenção ao conteúdo) (VASCONCELLOS,

    1993).

    As tecnologias exigem dos professores algo antes não realizado por

    eles: a reflexão sobre sua prática. É necessário, antes de qualquer trabalho

    com tecnologia, um planejamento elaborado e um questionamento sobre as

    estratégias e serem adotadas (OLIVEIRA, 2009).

    Em relação à reflexão, Kenski (1998) assevera que devem ser dadas

    aos professores oportunidades de conhecimento e reflexão sobre sua

    identidade pessoal como profissional docente, seus estilos e seus anseios.

    Atualmente os professores não têm tempo disponível para este

    processo, pois, normalmente, estão sobrecarregados de afazeres que acabam

    não considerando essas reflexões sobre suas práticas. É necessária uma

    reorganização de suas cargas horárias, para que possa incluir estes processos

    no seu tempo que é dedicado a escola em que lecionam.

    A rotina da escola também se modifica. Aos professores é necessária uma reorientação da sua carga horária de trabalho para incluir o tempo em que pesquisam as melhores formas interativas de desenvolver atividades fazendo o uso dos recursos multimidiáticos disponíveis. (KENSKI, 1998, p. 71)

    Demo (2008), em um artigo sobre TICs e educação, afirma que se

    devem considerar como processos formativos quaisquer ambientes nos quais

    se construam potencialidades de autonomia/autoria, conjugando qualidade

    formal e política: na qualidade formal está em jogo a habilidade de lidar com

    informação e conhecimento, saber pesquisar e elaborar, ser capaz de assumir

    postura científica e análise metódica; na qualidade política, está em jogo a

    cidadania que sabe pensar, autora, autônoma. Já os processos educacionais

    devem ser entendidos por ambientes autopoiéticos2, reconstrutivos,

    interpretativos de aprendizagem, marcados pela condição de sujeito envolvido

    por parte do aprendiz.

    2 Ambientes autopoiéticos: “Seus elementos são comunicações que são... produzidas e reproduzidas por uma rede de comunicações e que não podem existir fora dessa rede”.(Niklas Luhmann, 1990)

  • 30

    Segundo Almeida (2004), em entrevista fornecida ao site microsoft.com,

    em relação à proposta inovadora de uso das TICs na educação, o cenário

    nacional não está atrasado. A diferença está na disponibilidade de

    equipamentos e principalmente de profissionais devidamente qualificados para

    preparar os professores. Por exemplo, há 15 anos, seria necessário muito

    esforço para disponibilizar equipamentos para capacitar 50 educadores.

    Atualmente, a maioria das instituições brasileiras de formação dispõe de

    equipamentos para realizar essa preparação. Mas ainda faltam profissionais

    para atuar na formação docente. A adequada preparação de educadores exige

    muito mais recursos e tempo do que a aquisição de equipamentos.

    Para a autora, é necessário promover a interação dos professores com a

    tecnologia, levando-os a apreender suas principais propriedades e

    potencialidades para o uso pedagógico. Isso não significa apenas facilitar a

    compra de computadores, mas trata-se de uma formação continuada que

    integra as dimensões de domínio tecnológico, prática pedagógica com o uso da

    tecnologia, teorias educacionais e gestão de espaços, tempos e recursos. O

    sentido da inclusão digital do aluno está inter-relacionado com o sentido da

    inclusão digital do professor, do gestor escolar e de todos que atuam na escola.

    Já para Demo (2004), a escola continua instrucionista, disciplinar,

    tradicional, voltada para o século passado. O aproveitamento escolar é mínimo

    e está em queda constante (desde pelo menos 1995), indicando que a

    proposta pedagógica atual é inócua. Até mesmo por conta de tamanho

    fracasso, visualiza-se nas TICs alguma esperança, alguma alternativa, ainda

    que confusamente ou como consolo. E, ainda, segundo o autor, as TICs

    continuam sendo algo externo e estranho ao ambiente escolar da

    aprendizagem e formação.

    Um aspecto relevante a ser considerado – e polêmico – refere-se aos

    índices pelos quais se pretende aferir o desenvolvimento da aprendizagem e

    sua qualidade, que poderia ter crescido em função de fatores como uso de

    TICs e elementos correlatos. Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos

    e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), relativos ao resultado

    nacional do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb, 2009), os

  • 31

    indicadores mostram uma evolução na qualidade da educação em todos os

    níveis de ensino - primeira e segunda etapas do ensino fundamental e ensino

    médio.

    Na primeira fase do ensino fundamental, o Ideb passou de 4,2 para 4,6. O

    percentual de 28,9% da evolução se deu em razão da melhora nas taxas de

    aprovação escolar. Nos anos finais do ensino fundamental, o Ideb do País

    evoluiu de 3,8 para 4,0. No caso do ensino médio, o Ideb do Brasil avançou de

    3,5 para 3,6, superando a meta nacional de 2009.

    Os índices contrastam com as proposições defendidas por Demo (2004).

    Além disso, muitos educadores não reconhecem esse índice oficial como uma

    imagem da aprendizagem que ocorre em sala de aula. Esta afirmação pode

    ser encontrada na justificativa apresentada pelo Prof. Dr. José Sérgio de

    Carvalho, professor da Faculdade de Educação da USP e atual presidente do

    conselho gestor da Escola de Aplicação desta Universidade, ao Jornal do

    Campus, asseverando que,

    ...os índices reúnem informações muito distintas num único número, dando um resultado aproximado do rendimento escolar naquele ano, o que é superficial e não indica a qualidade do ensino como um todo. (CARVALHO, 2010, http://www.jornaldocampus.usp.br/ index.php/2009/04/avaliacoes-confundem-educadores/)

    Assim, entende-se que iniciativas de formação continuada e a inserção de

    TICs, tanto em tais procedimentos como na sala de aula, não têm, por si só, o

    efeito de melhorar tanto a formação docente quanto as relações de ensino-

    aprendizagem a serem promovidas por professores. Com respeito aos índices

    oficiais, a melhoria que apontam é alvo de críticas, tanto metodológica quanto

    político-sociais. Nesta investigação, assume-se o ponto de vista de que as

    estratégias pedagógicas, em conjunto com recursos mediadores – entre eles,

    as TICs – podem causar diferenciais positivos na formação e prática docente.

  • 32

    1.3. Tecnologias como mediadoras: estratégias pedag ógicas

    De acordo com o artigo 2º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação

    Nacional – LDB (Brasil, 1996), a educação, dever da família e do Estado,

    inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana,

    tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o

    exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Neste cenário, pode-

    se dizer que a educação constitui hoje a base de toda a formação e

    organização humana. Os educadores têm um compromisso com a formação

    plena do educando, devendo criar condições para que os estudantes

    construam independência intelectual e desenvolvam autonomia na busca de

    conhecimentos. Nesse contexto, as estratégias utilizadas durante todo o

    processo educacional são de extrema importância para a construção do

    conhecimento, para a formação de cidadãos efetivamente participativos e

    estimulados. Partindo desse pressuposto, torna-se necessário repensar o

    modelo atual de ensino, calcado no trabalho individual e no aprendizado

    determinado pelo professor.

    Para D´Ambrósio (2001), é preciso substituir os processos de ensino que

    priorizam a exposição, que levam a um receber passivo do conteúdo através

    de processos que não estimulem os alunos à participação. Finger, Silveira e

    Pinheiro (2008) colocam que os processos educacionais utilizados nas escolas

    não satisfazem mais às condições de aprendizagem da sociedade,

    caracterizadas pela necessidade de rapidez e independência na busca de

    informações e construção do conhecimento oriundo das transformações

    socioculturais e tecnológicas a que está submetido o ser humano

    contemporâneo. Diante desse contexto, o professor precisa perceber que a

    Educação está mudando, que hoje é inevitável a inserção das novas

    tecnologias nas escolas e que as estratégias didáticas também precisam

    mudar.

    Por isso, a formação continuada de professores é fundamental para a

    melhoria da qualidade do ensino e é preciso que o professor e a escola

    compreendam as transformações que estão ocorrendo no mundo e

    acompanhem esse processo. Assim, é preciso desmistificar a imagem da

  • 33

    máquina e trabalhar a resistência do professor em aceitá-la como ferramenta

    para utilizá-la com normalidade, aumentando a eficiência da aprendizagem e

    motivando os alunos em relação às novas formas. (FINGER, SILVEIRA e

    PINHEIRO, 2008). De acordo com os PCN’s:

    As novas tecnologias da comunicação e da informação permeiam o cotidiano, independente do espaço físico, e criam necessidades de vida e convivência que precisam ser analisadas no espaço escolar. A televisão, o rádio, a informática, entre outras, fizeram com que os homens se aproximassem por imagens e sons de mundos antes inimagináveis. (...) Os sistemas tecnológicos, na sociedade contemporânea, fazem parte do mundo produtivo e da prática social de todos os cidadãos, exercendo um poder de onipresença, uma vez que criam formas de organização e transformação de processos e procedimentos. (BRASIL, 2000,p.11-12)

    O professor, como peça fundamental nesse processo, precisa ter

    consciência da necessidade de renovar sua metodologia de ensino, buscando

    novos saberes, propiciando oportunidades de construção e conhecimentos por

    parte de seus alunos e reconhecer que a utilização dos recursos tecnológicos

    como estratégia metodológica no ensino são fundamentais na transformação

    do atual cenário da educação.

    A utilização de tecnologias no ambiente escolar deve ser vista como

    uma forma de facilitar a construção do conhecimento. Este recurso, porém,

    como integrante de uma metodologia, precisa ser compreendido como apoio

    para o entendimento dos conteúdos propostos, visto que por si só não garante

    uma aprendizagem significativa, pois a presença do professor é indispensável.

    Kenski (2003) coloca que, para realizar as transformações esperadas na

    educação, é preciso que o professor saiba lidar criticamente com as TICs e

    utilize-as pedagogicamente. Segundo a autora, é necessário, igualmente,

    trabalhar com o conhecimento adquirido e com a busca de novas informações

    ao se capacitar continuamente para acompanhar as mudanças estruturais dos

    saberes. Assim, o docente também deve assumir a postura de questionamento

    e criticidade diante das informações, bem como precisa exercer o papel de

    orientação e cooperação com os discentes, ensinando-os a aprender, bem

    como aprender ensinando.

  • 34

    Oliveira (2008) ressalta a idéia de que o uso de tecnologias digitais não

    tem, por si só, o efeito de produzir melhorias no processo de ensino-

    aprendizagem em Matemática, mas pode ampliar, nas diversas instâncias da

    transposição para o saber a ensinar, as possibilidades que os aprendizes têm

    em alcançar a melhor forma de construir conhecimentos.

    Com a utilização de novas tecnologias em sala de aula, a atuação do

    professor passará da comunicação baseado no monólogo da sala de aula para

    o diálogo interativo. Para Sommerman (2005), neste cenário, o aluno está

    ativo, dá sentido às aprendizagens e não é colocado em posição de se sujeitar

    a um ensino concebido e planificado sem que sejam consideradas as suas

    necessidades reais, o que ele já sabe e aquilo que ele aspira.

    Destacando o aluno como sujeito na construção do conhecimento,

    Papert (1994) utilizou a teoria construtivista de Piaget para repensar a

    educação, influenciado pelas oportunidades oferecidas pelas novas

    tecnologias. De acordo com o autor, o construcionismo postula que o

    aprendizado ocorre especialmente quando o aprendiz está engajado em

    construir um produto de significado pessoal, que possa ser mostrado a outras

    pessoas. Portanto, ao conceito de que se aprende melhor fazendo, o

    construcionismo acrescenta: aprende-se melhor ainda quando se gosta, pensa

    e conversa sobre o que faz.

    As novas tecnologias da informação constituem em instrumentos de

    auxílio no processo de ensino e aprendizagem, servindo para motivar, ilustrar,

    reforçar as aulas, tornando-as mais interessantes para os alunos que passam a

    participar mais do processo, interagindo com o professor de maneira

    significativa, já que o conteúdo trabalhado passa a ter mais significado. No

    entanto, não basta apenas inserir as novas tecnologias no contexto escolar

    para que a aprendizagem se torne inovadora, criativa e consiga dar conta das

    novas demandas do ensinar e aprender, pois, como ressalta Schutz (2003),

    atribuir novos sentidos a uma experiência será possível apenas a posteriori, ou

    seja, após um olhar reflexivo sobre o vivido. Nessa perspectiva, as novas

    ações possuem como pressuposto a reflexão na experiência e o repensar em

    outras possibilidades.

  • 35

    Nesse contexto, de acordo com Almeida (1998), o professor é desafiado

    a assumir uma postura de aprendiz ativo, crítico e criativo, articulador do ensino

    com a pesquisa, constante investigador sobre o aluno, seu nível de

    desenvolvimento cognitivo, social e afetivo, sua forma de linguagem,

    expectativas e necessidades, seu estilo de escrita, seu contexto e cultura.

    Para a autora, o professor que atua nessa perspectiva tem uma

    intencionalidade enquanto responsável pela aprendizagem de seus alunos e

    esta constitui o seu projeto de atuação, elaborado com vistas a respeitar os

    diferentes estilos e ritmos de trabalho dos alunos, além de incentivar o trabalho

    colaborativo em sala de aula no que se refere ao planejamento.

    Ao se inserir na sala de aula a utilização de um novo instrumento, não

    só em relação às TICs, deve se pensar como realizar esta aplicação por meio

    de estratégias bem elaboradas. Desta forma, para Oliveira (2008),

    ...a estratégia didática adotada como proposta para uma trajetória de aprendizagens em Educação Matemática é, em tudo, muito mais relevante do que a mera adoção de um software qualquer. Mais que isto: o uso de TICs no processo de ensino-aprendizagem de Matemática ocorre nas iniciativas de mediação, experimentação, diversificação dos registros, enfim, em uma série de iniciativas justificáveis a partir de uma estratégia que considera o saber a ser ensinado, os estudantes e o professor. (OLIVEIRA, 2008, p. 309)

    Logo, uma das características fundamentais para a utilização das

    tecnologias são as estratégias adotadas pelo professor, ao realizar atividades.

    Este deve repensar suas atitudes, reelaborar seus conceitos e reestruturar

    suas aulas, de modo a se tornar um facilitador no processo de ensino-

    aprendizagem.

    1.4. As Oficinas Didáticas de Educação Matemática e TICs

    A idéia de trabalhar com estratégias pedagógicas com uso de

    tecnologias – TICs, em especial – surgiu da proposição de Oliveira (2008), que

    sugere que o trabalho didático nestas iniciativas pode resultar em ganhos de

    aprendizagem para os alunos e/ou em reflexões importantes sobre a prática

    para os docentes. A materialização desta proposta entre os professores surgiu,

  • 36

    no âmbito desta pesquisa, na forma de uma Oficina Didática de Educação

    Matemática e TICs.

    Do ponto de vista desta pesquisa, as estratégias pedagógicas, segundo

    Oliveira (2008),

    ...contemplam a participação de alunos e professores como figuras principais do processo, a partir da proposta de que o foco deve ser posto nas pessoas, de modo a promover nas mesmas novas possibilidades de interação, de aprendizado compartilhado e colaborativo, com vistas à ampliação da autonomia... . (OLIVEIRA, 2008, p. 298)

    Os objetivos da oficina eram variados. Em caráter inicial e subsidiário

    pretendia-se, além de promover a interação dos professores com as interfaces

    computacionais, também apresentar o software Winmat aos sujeitos, para que

    estes, por sua vez, pudessem utilizá-lo, conhecendo suas operações e suas

    propriedades no trato com matrizes e determinantes, tema central da iniciativa,

    pois além de fazer parte dos conteúdos sugeridos pelos PCNs,

    O currículo do Ensino Médio deve garantir também espaço para que os alunos possam estender e aprofundar seus conhecimentos sobre números e álgebra, mas não isoladamente de outros conceitos, nem em separado dos problemas e da perspectiva sócio-histórica que está na origem desses temas. Estes conteúdos estão diretamente relacionados ao desenvolvimento de habilidades que dizem respeito à resolução de problemas, à apropriação da linguagem simbólica, à validação de argumentos, à descrição de modelos e à capacidade de utilizar a Matemática na interpretação e intervenção no real. (BRASIL, 1999, p.44)

    E, também, em termos práticos, durante a pesquisa sobre trabalhos

    relacionados com o tema, foi verificado que este assunto era pouco discutido, o

    que se constatou pelo escasso número de investigações sobre o tema.

    Quanto ao programa específico utilizado no âmbito deste trabalho, a

    opção foi pelo Winmat, da Peanut Software, escolhido, entre outros motivos,

    por ser de fácil operação, mediante curto treinamento, por ser um software livre

    (não há a necessidade de comprar a licença) e por possuir todas as operações

    necessárias para o trabalho inicial com matrizes e determinantes. O Winmat é

    um software gratuito, que surgiu em 1985. Foi escrito pelo professor Richard

    Parris, do Departamento de Matemática da Philips Exeter Academy, e teve sua

    tradução para o português (do Brasil) realizada pelo professor Adelmo Ribeiro

  • 37

    de Jesus. Este software possui funcionalidades relacionadas às matrizes, como

    posto, traço, determinante, etc., permitindo, assim, realizar operações de soma,

    subtração, produto, determinação da inversa, entre outras, com matrizes, bem

    como resolver sistemas matriciais, sistemas lineares, determinação do

    polinômio característico (assim como determinar suas raízes), etc.

    Para a obtenção deste software, basta ter um computador com acesso à

    Internet. O endereço na rede mundial é

    http://math.exeter.edu/rparris/winmat.html.

    Figura 1 – Tela do Winmat

    Fonte: http://www2.mat.ufrgs.br/edumatec/softwares/ interfaces/winmat.jpg

    Uma vez adquirida alguma fluência sobre a tecnologia em questão,

    seriam propostas atividades que permitissem aos professores empregar os

    conhecimentos recém-adquiridos (ou “recém-ampliados”, no caso de já

    possuírem experiência anterior), de modo a ensejar oportunidades de

    aproximação com a prática em sala de aula. Por último, pretendia-se propor

    situações nas quais os professores pudessem estender o uso das tecnologias

    para o planejamento de suas aulas, de modo a elaborar estratégias didáticas.

    Este esquema segue a proposta teórica de Oliveira (2009), que reconhece a

    questão da formação tecnológica do professor através de um ciclo, como

    exposto na figura seguinte.

  • 38

    Figura 2 – O ciclo do uso de tecnologias em Educaçã o Matemática – Fonte: OLIVEIRA,

    2009

    Desta forma, na visão de Oliveira (2009), os professores se aproximam

    das tecnologias de forma acrítica, em um primeiro momento, de maneira a

    desenvolverem domínio sobre seu uso e conhecimento sobre seus recursos. O

    conhecimento matemático, neste ponto, deve subsidiar o avanço no

    entendimento da interface, de modo a não gerar qualquer dependência do

    artefato. Em um passo seguinte, o professor pode incorporar as tecnologias em

    suas práticas, de modo a utilizar as interfaces como extensões de suas

    possibilidades como docente. Após esta etapa, passa a ser possível explorar e

    desenvolver aplicações, exemplos, contextualizações e cotidianizações das

    tecnologias a partir da Matemática (e vice-versa), para, depois, reconhecer nas

    tecnologias os elementos para a composição de estratégias didáticas que

    permitam a dinamização efetiva das aulas.

    Tomando co mo base tais pressupostos teóricos, a oficina foi elaborada

    no âmbito do grupo de pesquisa TecMEM, do Programa de Estudos Pós-

    Graduados em Educação Matemática da PUC/SP, a partir de proposta do Prof.

    Dr. Gerson Pastre de Oliveira. A oficina em questão trazia, além de quatro

    encontros semanais, com quatro horas de duração cada, realizados durante o

    mês de julho de 2009, a possibilidade de ampliar as interações através do

    ambiente virtual TelEduc, o qual foi importante para a troca de experiências e

  • 39

    de informações entre os participantes sobre vários aspectos, inclusive a

    respeito dos trabalhos e projetos desenvolvidos na oficina.

    Para que a oficina pudesse ser realizada, havia a necessidade de um

    local disponível para receber os professores participantes, convidados pelas

    diretorias regionais de ensino e com inscrição gratuita. As oficinas puderam

    contar com a infraestrutura da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,

    que disponibilizou uma sala de com projetor multimídia e um laboratório com

    computadores novos e os softwares adequados, com acesso à Internet e ao

    ambiente virtual TelEduc instalado na instituição. A oficina serviu, então, de

    contexto, a partir do qual pode emergir a pesquisa aqui relatada, cujo cerne, na

    forma de questões motivadoras, aparece a seguir.

    A oficina em questão foi iniciada com uma apresentação para os

    professores participantes, de modo que os mesmos pudessem entender a

    iniciativa, o seu caráter formativo e de pesquisa e também para que os

    participantes se sentissem motivados em relação aos encontros. A

    apresentação contou com a presença dos pesquisadores envolvidos – o autor

    desta pesquisa, outro mestrando, também realizando sua pesquisa no âmbito

    da oficina, além do professor orientador dos dois trabalhos mencionados. Em

    um primeiro momento, houve a apresentação de todos os envolvidos no

    processo, tanto dos professores participantes como dos professores

    pesquisadores; em um segundo momento, apresentou-se, em forma de slides3,

    os objetivos e os conceitos relativos às oficinas, solicitando-se dos

    participantes a leitura do material elaborado pelos envolvidos no processo de

    formação4, além de dois artigos (OLIVEIRA, 2009; OLIVEIRA, 2007b).

    1.5. Questões relativas à pesquisa

    Tendo em vista as apreciações anteriores, pode-se pensar sobre quais

    características um professor de Matemática da Educação Básica deveria

    3 Ver anexo I

    4 Ver anexo VI

  • 40

    possuir, ou adquirir, para utilizar as interfaces computacionais de modo a

    facilitar a aprendizagem, no papel de orientador.

    Para tentar responder esses problemas, a seguinte questão de pesquisa

    é suscitada: Uma Oficina de Tecnologias e Educação Matemática pode

    oferecer os professores de Matemática em serviço contribuições, visando

    melhorar aspectos matemáticos e tecnológicos de sua formação, tendo como

    mediador o software Winmat e como conteúdo o tema “matrizes e

    determinantes”?

    Nesse contexto, a presente pesquisa tem como dados o processo de

    organização, implantação e avaliação da aplicação de matrizes e

    determinantes fazendo uso das TICs como mediadoras nos processos

    educativos. Embora existam obstáculos, não houve a pretensão de se eliminar

    os problemas identificados nas oficinas didáticas usadas para trabalhar com

    docentes de Matemática da Educação Básica, mas de discuti-los com os

    participantes das mesmas, de modo a torná-los mais autônomos no trato

    dessas dificuldades, encontrando soluções vindas de seus próprios fazeres, o

    que poderá servir de base à construção de uma nova prática (FREIRE, 1970;

    MION e BASTOS, 2001; OLIVEIRA, 2009).

    Outro aspecto relevante em relação ao apresentado refere-se ao que as

    tecnologias podem oferecer a esse professor, por meio do planejamento e de

    elaboração de estratégias, práticas de ensino mais atualizadas, e de que forma

    isto poderia ocorrer.

  • 41

    CAPÍTULO DOIS

    A ABORDAGEM DO TEMA “MATRIZES E DETERMINANTES”

    2.1 Conceitos principais: temas relacionados às mat rizes e

    determinantes nos Livros Didáticos

    Para averiguar como os conceitos relativos aos estudos sobre o tema

    Matrizes e Determinantes são apresentados durante as aulas de Matemática,

    buscou-se as fontes às quais os professores do Ensino Médio recorrem para

    elucidar ou auxiliar suas exposições em sala de aula, no caso, os livros

    didáticos.

    Segundo Razzini (2000), o livro didático torna-se material de pesquisa

    privilegiado, seja como fonte documental na definição de práticas do passado,

    quer seja como representação de tais práticas.

    Já Lajolo (1996) descreve a importância do livro didático em países

    como o Brasil, onde a situação educacional faz com que ele acabe

    determinando conteúdos e, ainda, “condicionando estratégias de ensino,

    marcando, pois, de forma decisiva, o que se ensina e como se ensina o que se

    ensina” (LAJOLO, 1996, p. 4).

    A escolha dos livros a serem analisados ocorreu através da constatação,

    surgida em entrevista informal feita pelo autor da pesquisa com professores de

    Matemática do Ensino Médio, na qual se perguntava quais os livros que os

    docentes utilizavam no planejamento de suas aulas. Esta entrevista foi

    realizada em caráter presencial com três professores que lecionam na E.E.

    “Profª Rituco Mitani” em Franco da Rocha, unidade de trabalho comum dos

    professores entrevistados e do pesquisador. Com base nos relatos destes

    professores, surgiram, assim, três livros, a seguir analisados.

  • 42

    O primeiro livro selecionado foi Matemática para o 2º grau – Volume

    Dois, de Gentil (1998), da editora Ática. O capítulo 7 inicia a apresentação com

    um curto histórico sobre matrizes e, em seguida, é dada a definição formal do

    conceito: “matrizes são tabelas com m linhas e n colunas, são denominadas

    matrizes m x n (sendo m e n números naturais diferentes de zero)” (GENTIL,

    1998, p. 150).

    Figura 3 – Abordagem sobre matrizes – Fonte: GENTIL , 1998, p.150

    Em seguida apresenta a nomenclatura de alguns tipos de matrizes,

    como matriz quadrada, matriz nula, matriz identidade, etc. Adiante, faz alusão a

  • 43

    igualdade entre matrizes para, só então, iniciar com as operações entre

    matrizes.

    Figura 4 – Abordagem sobre matrizes – Fonte: GENTIL , 1998, p.151

    Dentre as operações, inicia-se, com a adição entre matrizes indicando a

    condição para existir a adição, e as propriedades, tais como associativa,

    comutativa, elemento neutro e elemento oposto. E, logo a seguir, apresenta a

    operação de subtração, seguida da multiplicação de um número real por uma

    matriz – nesta operação, apresenta as propriedades associativa, distributiva de

    um número real em relação à adição de matrizes, distributiva de uma matriz em

    relação à soma de dois números reais e elemento neutro.

  • 44

    Complementando as operações, indica a multiplicação de matrizes,

    apresentando que o produto ocorre de forma distinta de outras operações, cita

    alguns exemplos de produto e como decorrência da definição apresenta a

    condição para existência do produto, mencionando propriedades, como a

    associativa, distributiva em relação à adição e do elemento neutro. Antecipa

    propriedades que não são válidas para o produto de matrizes, como a

    comutativa e do elemento nulo. E para concluir o capítulo de matrizes, encerra

    a parte das operações com matrizes apresentando o conceito de matriz

    inversa.

    Figura 5 – Abordagem sobre matrizes – Fonte: GENTIL , 1998, p.164

  • 45

    Este autor inicia o capítulo 8 com o conceito de determinante, sem

    apresentar histórico algum. A seguinte definição é apresentada: ”Determinante

    é um número associado a uma matriz quadrada” (GENTIL, 1998, p.175).

    Apresenta o cálculo do determinante pelo Teorema de Laplace e o cálculo do

    determinante de ordem 3 através da Regra de Sarrus.

    Figura 6 – Abordagem sobre matrizes – Fonte: GENTIL , 1998, p.175

    Para dar continuidade ao estudo de determinantes apresenta a matriz de

    Vandermonte, além da propriedade dos determinantes, como determinante

    nulo, determinante que não se altera e o Teorema de Jacobi, a regra de Chió e

  • 46

    encerra este capítulo dando a inversão de matrizes com o auxílio da teoria dos

    determinantes.

    Percebe-se que a abordagem é meramente conteudista, sem

    preocupação com subsidiar o professor com elementos para discutir conceitos

    ou convidar o aluno a pensar em situações-problema que o auxiliassem a

    ganhar autonomia na compreensão do conceito.

    Em relação ao segundo livro, Matemática no Ensino Médio – Volume 2,

    da editora Scipione, Goulart (1999) apresenta o conceito de matrizes sem

    nenhuma menção sobre seu histórico, sendo exposto como: “Chamamos de

    matriz a tabela formada por m.n números, colocados em m linhas e n colunas”

    (GOULART, 1999, p.102). Após esta exposição indica a classificação de matriz

    quadrada.

  • 47

    Figura 7 – Abordagem sobre matrizes – Fonte: GOULAR T, 1999, p.102

    Para iniciar as operações com matrizes, sugere a igualdade entre

    matrizes e, a seguir, introduz as operações começando pela adição, seguida da

    subtração, da multiplicação de um número por uma matriz e finaliza as

    operações com a multiplicação indicando a condição para sua existência.

    Apresenta em seguida as propriedades relativas à adição e ao produto como a

    associativa e a distributiva.

  • 48

    Figura 8 – Abordagem sobre matrizes – Fonte: GOULAR T, 1999, p.109

    Antes de expor sobre a matriz inversível, apresenta a matriz identidade e

    só então considera a inversível, explicitando como obtê-la não relevando,

    ainda, as condições da existência da inversa.

  • 49

    Figura 9 – Abordagem sobre matrizes – Fonte: GOULAR T, 1999, p.116

    Diferente dos dois outros livros, este não apresenta o determinante de

    uma matriz quadrada em um capítulo, mas insere este conceito no mesmo

    módulo em que apresenta sistemas lineares, descrevendo inicialmente sobre o

    determinante de ordem cuja definição apresentada é: “O que chamamos de

    determinante de uma matriz quadrada é um número associado à matriz,

    mediante uma definição” (GOULART, 1999, p.138). Para o determinante de

    ordem 3, apresenta a Regra de Sarrus; para determinante de ordem n, indica a

    definição de Laplace.

  • 50

    Como complementos deste capítulo sobre sistemas lineares, aparece a

    matriz transposta, seguida dos determinantes de matrizes transpostas,

    propriedades dos determinantes, determinante do produto de matrizes

    quadradas (Teorema de Binet) e, como consequência deste produto, a

    condição para existência da matriz inversa, finalizando, assim, este tema.

    Figura 10 – Abordagem sobre matrizes – Fonte: GOULA RT, 1999, p.116

    Com respeito ao livro de Goulart (1999), pode-se dizer que a análise

    indica a valorização das regras e de exercícios de aplicação. Novamente, não

    surgem propostas para o envolvimento dos estudantes por meio de situações-

  • 51

    problema, nem a sugestão de abordagens pedagógicas que pudessem suscitar

    a reflexão sobre o tema.

    O último livro analisado foi Matemática Aula por Aula – Volume 2 para o

    Ensino Médio, de Barreto (1998), editora FTD. Este autor inicia este capítulo

    com um breve histórico sobre o tema “matrizes” e, a seguir, apresenta a

    definição: “Matriz é uma tabela de números formada por m linhas e n colunas.

    Dizemos que essa matriz tem ordem m X n (lê-se: m por n), sendo m > 1 e n >

    1” (BARRETO, 1998, p.112).

    Figura 11 – Abordagem sobre matrizes – Fonte: BARRE TO, 1998, p.112

  • 52

    Dando sequência ao capítulo, distingue os tipos de matrizes como matriz

    linha, coluna, nula, quadrada e identidade. A seguir, mostra a matriz transposta

    e a igualdade entre matrizes. Após estes aspectos, coloca as operações com

    matrizes, iniciando pela adição, seguida pela subtração, multiplicação de um

    número real por uma matriz, multiplicação de matrizes (com sua condição de

    existência para o produto) e as propriedades distributiva e associativa. Para

    finalizar as operações, considera a matriz inversa.

    Figura 12 – Abordagem sobre matrizes – Fonte: BARRE TO, 1998, p.124

  • 53

    Para dar inicio ao capítulo de determinantes, este autor apresenta um

    histórico sobre o tema e, a seguir, define que “determinante de uma matriz

    quadrada é um número real que associamos a essa matriz segundo algumas

    regras”(BARRETO, 1998, p.138). E, para a determinação deste número,

    considera o cofator de um elemento seguido pelo Teorema de Laplace e pela

    Regra de Sarrus.

    Figura 13 – Abordagem sobre matrizes – Fonte: BARRE TO, 1998, p.129

  • 54

    Após estas apreciações, aborda sobre o determinante de uma matriz

    quadrada de ordem n maior que três e, a seguir, apresenta algumas

    propriedades:

    • Quando o determinante de uma matriz é igual a zero;

    • O determinante de A e de sua transposta são iguais;

    • Quando da multiplicação de uma coluna de uma matriz por um

    número real m, seu determinante fica multiplicado por m;

    • Quando da troca de duas linhas ou duas colunas de uma matriz,

    seu determinante troca de sinal;

    • Teoremas de Jacobi e de Binet; e

    • Na matriz triangular, o determinante é o produto da diagonal

    principal.

  • 55

    Figura 14 – Abordagem sobre matrizes – Fonte: BARRE TO, 1998, p.138

    Este autor finaliza o capítulo destinado aos determinantes com a matriz

    de Vandermonde e o seu determinante e, finalmente, a regra de Chió.

    Assim como nos outros livros analisados, também a obra de Barreto

    (1998) não avança do ponto de vista do envolvimento dos alunos através de

    situações-problema, centralizando toda a lógica sobre o tema nas regras e em

    exercícios de aplicação.

  • 56

    Da análise dos três livros, algumas asserções surgem como importantes:

    • A análise tomou por base livros com mais de dez anos de edição.

    Não obstante existirem livros mais novos, estes foram os

    indicados pelos professores ouvidos na entrevista mencionada

    anteriormente. Esta característica pode sinalizar que os docentes

    não atualizaram suas referências, ainda que não seja possível

    generalizar, pois não há dados para tanto. Além disso, claro,

    deve-se lembrar que este grupo de professores não constituiria,

    estatisticamente, amostra representativa da população de

    professores que lecionam no Ensino Médio no Estado de São

    Paulo;

    • Livros antigos não previram intervenções através de TICs, nem

    consideraram as dinâmicas que daí adviriam;

    • O excesso de formalismo e o rigor exagerado na exposição das

    regras pode ter tido efeito sobre os professores também, de tal

    forma que os mesmos têm dificuldade de usar os pressupostos

    estudados no tema “matrizes e determinantes” em quaisquer

    contextos distintos dos exercícios de aplicação a que estão

    habituados.

    Estas três considerações são levadas em conta nas análises das

    produções dos professores na oficina.

  • 57

    CAPÍTULO TRÊS

    APORTES METODOLÓGICOS

    3.1 Pesquisa qualitativa: análise de conteúdo

    Como a presente pesquisa não consiste em coleta de dados para

    comprovar teorias, hipóteses ou modelos preconcebidos, mas sim, para o

    desenvolvimento de conceitos, idéias e entendimentos a partir de padrões

    encontrados nos dados, segundo Reneker (1993), caracteriza-se a mesma

    como sendo de caráter qualitativo.

    De uma forma geral, Dias (1999) coloca que os métodos qualitativos são

    menos estruturados, proporcionam um relacionamento mais longo e flexível

    entre o pesquisador e os entrevistados, e lidam com informações mais

    subjetivas, amplas e com maior riqueza de detalhes do que os métodos

    quantitativos.

    O pesquisador tem papel fundamental no processo de análise de dados,

    sendo este a figura que faz as anotações, revisa os dados coletados - seja por

    meio de anotações, gravações, filmagens, etc. – atua intimamente no cerne da

    pesquisa e, neste trabalho, o mesmo deve atentar para o contexto da

    observação, pois este deve ser o foco de seu trabalho.

    Bogdan e Bliken (1994) citam o pesquisador como instrumento mais

    relevante na investigação qualitativa, sendo o “ambiente natural” o local de

    onde surgem os dados de interesse e, ainda, o contexto é de importância

    fundamental, pois ele influencia o comportamento dos sujeitos, o que faz com

    que o investigador freqüente-o, com intuito de compreendê-lo em seus

    múltiplos aspectos.

    Para Ludke e André (1986), o estudo qualitativo é rico em dados

    descritivos, possui flexibilidade, sendo mais relevante o processo do que o

    produto, ou seja, o pesquis