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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUÍZ(A) DE DIREITO DA COMARCA DE SÃO DOMINGOS/GO AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA EMENTA: PLEITEIA A CONDENAÇÃO DA SENHORA JOVITA RIBEIRO DA SILVA E DO SENHOR JOÃO DE LÚ GOMES DA SILVA, PELA PRÁTICA DE ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE RESULTARAM NO ENRIQUECIMENTO ILÍCITO, NO DANO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO MUNICIPAL E NA VIOLAÇÃO DE PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS. O ÓRGÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL, pelos Promotores de Justiça signatários, com suporte no art.129, XI, da Constituição Federal; art.25, inciso IV, alínea “a”, da Lei 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público); arts.9º,10,11,17 e seguintes da Lei 8.429/92 (Lei de Improbidade Administrativa) vem, perante V. Exª, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA Em face de Rua São Paulo esquina c/ Rua Ovídio, Quadra 26, Lote 14, Fórum São Domingos/GO Telefone/Fax: (62) 3425-1452/Site: www.mpgo.mp.br Gabinete do Promotor Página 1 de 22. PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE SÃO DOMINGOS/GO

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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUÍZ(A) DE DIREITO DA COMARCA DE SÃO DOMINGOS/GO

AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

EMENTA: PLEITEIA A CONDENAÇÃO DA SENHORA JOVITA RIBEIRO DA SILVA E DO SENHOR JOÃO DE LÚ GOMES DA SILVA, PELA PRÁTICA DE ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE RESULTARAM NO ENRIQUECIMENTO ILÍCITO, NO DANO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO MUNICIPAL E NA VIOLAÇÃO DE PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS.

O ÓRGÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL, pelos Promotores de Justiça signatários, com suporte no art.129, XI, da Constituição Federal; art.25, inciso IV, alínea “a”, da Lei 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público); arts.9º,10,11,17 e seguintes da Lei 8.429/92 (Lei de Improbidade Administrativa) vem, perante V. Exª, propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Em face de

Rua São Paulo esquina c/ Rua Ovídio, Quadra 26, Lote 14, Fórum São Domingos/GO

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JOVITA RIBEIRO DA SILVA, filha de Domingos Gualberto Ribeiro e de Belarmina Maria da Silva, nascida em 14/03/1970, natural de São Domingos/GO, residente e domiciliada na Rua B 1, Quadra-05, Lote-06, Setor Aeroporto, São Domingos/GO, atualmente Prefeita Municipal de São Domingos/GO.

JOÃO DE LÚ GOMES DA SILVA, filho de Raul Gomes de Brito e de Erlinda Fernandes Brito, nascido em 23/06/1961, natural de Posse/GO, residente e domiciliado na Rua Rua das Flores, nº50, São Domingos/GO, atualmente vereador municipal.

I. DO OBJETO DA AÇÃO

01. A presente Ação visa alcançar provimento jurisdicional em defesa do patrimônio público e da moralidade administrativa, a fim de obter a condenação da senhora JOVITA RIBEIRO DA SILVA e do senhor JOÃO DE LÚ GOMES DA SILVA, nas penas previstas no artigo 12, incisos I, II e III da Lei de Improbidade Administrativa (Lei nº 8.429/92), em razão da prática de atos de improbidade administrativa que resultaram em enriquecimento ilícito, dano ao patrimônio público municipal e violação expressa a princípios constitucionais(Arts. 9º, 10 e 11 da Lei nº 8.429/92).

II. DOS FATOS E FUNDAMENTOS JURÍDICOS

2. O Ministério Público do Estado de Goiás instaurou em junho de 2015 o Inquérito Civil Público de nº 06/2015 PJSD,

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que serve de substrato à presente, com o escopo de apurar notícias que aportaram nesta promotoria de Justiça dando conta de que no início do ano de 2015, entre os meses de janeiro e fevereiro, a então presidente da Câmara de vereadores, JOVITA RIBEIRO DA SILVA, emitiu aproximadamente 10(dez) cheques em benefício próprio e do também vereador JOÃO DE LÚ GOMES DA SILVA,como antecipação de subsídio referente ao ano de 2015, tendo este último, por sua vez, “trocado” as cártulas junto a agiota deste município de nome ALDIRAN NERES PIRES.

3. Como é de sabença geral, em março de 2015,a então presidente da Câmara JOVITA RIBEIRO DA SILVA assumiu a chefia do Poder Executivo,por conta de decisão da justiça Eleitoral que cassou o mandato da prefeita ETÉLIA VANJA MOREIRA GONÇALVES. O vereador HERCULANITO ANTÔNIO LIMA assumiu, por consequência, a presidência da Câmara.

4. O atual presidente da Câmara HERCULANITO ANTÔNIO LIMA procurou esta Promotoria de Justiça na data de 11 de junho de 2015, acompanhado dos vereadores GILVANIR CARDOSO, ALZIRO VIEIRA e MARTIR FERREIRA, e narrou fatos extremamente graves,dando conta de que JOVITA RIBEIRO teria fornecido ao vereador JOÃO DE LÚ cártulas de cheque da Câmara municipal a fim de que fossem “trocadas” com agiota da cidade, tudo com o objetivo de satisfazer interesses privados dos mesmos(Termo de Depoimento em anexo).

5. HERCULANITO ANTÔNIO informou ainda que JOVITA RIBEIRO, já na condição de prefeita municipal, ofereceu dinheiro e outras benesses aos vereadores de sorte a que os fatos não viessem ao conhecimento do Ministério Público. Acrescentou que a

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prefeita não se limitou à prática de corrupção ativa,tendo ameaçado os representantes do povo afirmando que se “fosse cassada daria um jeito de cassar todo mundo”.Pela contundência da declaração, segue abaixo excerto do depoimento, in verbis:

“QUE JOVITA RIBEIRO pediu ao depoente e a ALZIRO que não comentassem nada a respeito dos fatos,principalmente com o Promotor de Justiça, e acrescentou que não se arrependeriam em ficarem quietos, que ela ajudaria os vereadores em troca;QUE ao depoente JOVITA RIBEIRO disse que daria uma ajuda financeira em troca do silêncio;QUE como recusou de imediato a indecorosa proposta, JOVITA RIBEIRO o ameaçou dizendo que “se fosse cassada ela daria um jeito de cassar todo mundo”; QUE JOÃO DE LÚ, por sua vez, disse que não “tem medo de justiça e não estava preocupado””

6. Por fim, esclareceu o vereador Presidente da Câmara que os vereadores pretendem iniciar uma investigação para apurar os fatos, porém têm enfrentado dificuldades e obstáculos por parte dos requeridos.

7. O Ministério Público então,inquiriu prontamente o servidor da Câmara responsável pelo controle interno, JONATAS SERRACENA ALMEIDA, o qual prestou inicialmente, no período da manhã do dia 11 de junho, depoimento totalmente falso e mendaz, ocultando e distorcendo a verdade dos acontecimentos(Termo de Depoimento em anexo).

8. No final da tarde do mesmo dia(11/06), contudo, o servidor da Câmara procurou o Ministério Público para se retratar de seu primeiro depoimento, tendo revelado, desta feita, detalhes dos atos de improbidade praticados. Esclareceu o

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envolvimento de JOVITA RIBEIRO, do vereador JOÃO DE LÚ e dele mesmo, JONATAS SERRACENA, conforme pode-se observar do Termo de Depoimento Reinquirição que instrui a presente.

9. Em seu depoimento JONATAS SERRACENA discorreu em detalhes sobre a execução do ato de improbidade administrativa, in verbis:

“QUE no início de 2015, não sabendo precisar se no mês de janeiro ou fevereiro, a então presidente da Câmara, vereadora JOVITA RIBEIRO DA SILVA, disse ao depoente que assinasse em torno de 10(dez) cártulas de cheque da Câmara juntamente com ela, pois tais cheques seriam entregues ao vereador JOÃO DE LÚ GOMES DA SILVA como antecipação de seus subsídios referente a todo o ano de 2015; QUE ainda segundo JOVITA RIBEIRO, os cheques seriam trocados junto a um agiota do município de nome ALDIRAN; QUE alguns dias depois, também por ordem da vereadora JOVITA RIBEIRO, reuniu-se na residência dela acompanhado do vereador JOÃO DE LÚ, ocasião em que os cheques foram assinados e entregues ao vereador;”

10. JONATAS SERRACENA também esclareceu a respeito do planejamento e execução da destruição das provas, por ordem de JOVITA RIBEIRO e JOÃO DE LÚ, in verbis:

“QUE em nova reunião JOVITA RIBEIRO e JOÃO DE LÚ decidiram resgatar os cheques e deram ordens ao depoente que procurasse o agiota ALDIRAN, apanhasse as cártulas e as destruísse, de forma que nenhum dos cheques “entrasse”; QUE foi até a lotérica de ALDIRAN, apanhou os cheques,os levou até sua residência, onde, na presença de JOÃO DE LÚ, os rasgou e colocou fogo; QUE neste dia a vereadora JOVITA também estava na casa acompanhando JOÃO DE LÚ,porém disse que não podia

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permanecer até a completa destruição dos cheques;QUE posteriormente disse ao vereador HERCULANITO que havia destruído os cheques e os canhotos;”11. Este juízo acatou pedido formulado pelo Ministério

Público e decretou o afastamento dos requeridos de seus cargos pelo período de 90(noventa) dias, de sorte a que as investigações pudessem transcorrer sem espúrias intervenções dos investigados, tanto na fase administrativa quanto na judicial.

12. Com o afastamento dos requeridos, o MP ouviu em Termos de Depoimento ALDIRAN NERES PIRES e novamente o servidor da Câmara JONATAS SERRACENA. Pela contundência das declarações, segue extrato do depoimento de ALDIRAN NERES, in verbis:

“é proprietário da lotérica denominada Trevo da Sorte, situada nesta urbe; QUE entre os meses de janeiro e fevereiro deste ano de 2015 foi procurado pela então presidente da Câmara, JOVITA RIBEIRO DA SILVA, e pelo também vereador JOÃO DE LÚ GOMES DA SILVA,em seu estabelecimento comercial, os quais pediram-lhe que trocasse por dinheiro 10(dez) cártulas de cheque emitidas pela Câmara municipal de São Domingos/GO em valores diferentes;QUE até onde recorda-se, um dos cheques estava nominal a JOVITA RIBEIRO e apresentava o valor de R$3.039,00, seis cheques nominais a JOÃO DE LÚ no valor de R$2.100,00 e os demais em nome de JOÃO DE LÚ no valor de R$3.039,00;QUE em todos os cheques havia a assinatura de JOVITA RIBEIRO e do funcionário da Câmara de nome JONATAS SERRACENA;QUE fez a entrega do dinheiro em datas diferentes, já que não tinha o total dos valores em caixa;QUE com relação a dois dos cheques procedeu à custódia dos mesmos junto ao Banco do Brasil;QUE ainda quanto aos cheques custodiados deseja esclarecer que em razão da mudança da

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presidência da Câmara necessitou resgatá-los da custódia e ficou acertado entre o depoente e JOVITA RIBEIRO que posteriormente o dinheiro referente aos mesmos seria entregue por JONATAS;QUE na segunda feira, dia 08 de junho de 2015, começaram a circular comentários pela cidade dando conta da “troca dos cheques” da Câmara, mas não sabe informar a origem dos mesmos; QUE na segunda feira mesmo foi procurado, por telefone e pessoalmente,em sua residência e na lotérica, por JOÃO DE LÚ e por JOVITA RIBEIRO, ambos pretendendo resgatar os cheques que lhe foram anteriormente apresentados; QUE a procura se deu também na terça feira; QUE nas duas ocasiões em que foi procurado esclareceu aos vereadores que a entrega dos cheques esbarrava em um problema, qual seja a necessidade de garantia de pagamento do dinheiro já entregue a ambos;QUE ficou acertado então que os cheques seriam entregues ao servidor JONATAS SERRACENA, e à medida que fossem “vencendo”, ele levaria o dinheiro para o depoente;QUE na quarta pela manhã as dez cártulas de cheque foram entregues pelo depoente a JONATAS;QUE JOVITA RIBEIRO também entregou ao depoente, como garantia, um cheque em branco(apenas assinado e não preenchido) de seu irmão apelidado de “JOAQUIM DE BELA”;QUE teme “ficar no prejuízo” já que não possui mais a garantia dos cheques;”(Termo de Depoimento de ALDIRAN NERES PIRES)

13. A nova oitiva de JONATAS SERRACENA lançou outras luzes sobre o episódio, tendo o servidor esclarecido acerca da existência de um sistema de empréstimo consignado paralelo na Câmara municipal, sem registro nas folhas de pagamento, e do qual foram desviados valores para cobrir um dos cheques emitidos em favor do requerido JOÃO DE LÚ GOMES DA SILVA como antecipação de subsídio, que havia sido creditado na agência do Banco do Brasil na qual a Câmara mantêm conta bancária, in verbis:

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“QUE no mês de março de 2015 o repasse do banco GERADOR deixou de ser efetuado por ordem da presidente da Câmara JOVITA RIBEIRO DA SILVA; QUE no mês de março mesmo avisou a JOVITA RIBEIRO que um dos cheques emitidos ao vereador JOÃO DE LÚ GOMES DA SILVA como antecipação de subsídio(foram emitidos em torno de 10 cártulas a título de antecipação), e por ele trocado junto ao agiota ALDIRAN, havia sido debitado na conta da Câmara no Banco do Brasil, a qual ficou descoberta; QUE disse à presidente da Câmara que seria preciso fazer o depósito referente a tal cheque o quanto antes(R$3.057,71), no que ela ordenou que o depoente utilizasse o dinheiro arrecadado junto aos funcionários e referente aos consignados do Banco GERADOR para cobrir a conta da Câmara; QUE ainda segundo JOVITA RIBEIRO, posteriormente ela “daria um jeito” de pagar o valor descontando-o de forma parcelada do subsídio de JOÃO DE LÚ GOMES DA SILVA”(Termo de Depoimento de JONATAS SERRACENA)

14. Não bastassem todos os atos de improbidade administrativa até então praticados, surgiram e surgem a cada instante fatos novos agravando ainda mais, como se fosse possível piorar o que já estava ruim, uma situação que por si só é escandalosa,imoral e criminosa.

15. A confusão patrimonialista em São Domingos/GO por parte da alcaide, a má-fé e relaxo no trato da coisa pública, em evidente descaso com as necessidades mais comezinhas da população honesta e trabalhadora do município, assim como o desvio de recursos, tem agravado e malferido o Estado de Direito e o regime democrático.

16. Os requeridos enriqueceram-se ilicitamente às custas dos cofres públicos ao obterem um privilégio inconcebível e inaceitável com a antecipação de seus subsídios. E o prejuízo que restou ao erário se avulta de forma extrema se comparado ao

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mero prejuízo que o agiota disse que suportará com o desvendamento dos fatos imputados.

17. Busca-se nesta ação civil pública, portanto, a responsabilização judicial da alcaide JOVITA RIBEIRO DA SILVA e do vereador JOÃO DE LÚ GOMES DA SILVA, pelos ofensivos e imorais atos praticados nos desvios de recursos públicos, no que se refere aos fatos desnudados no aludido ICP.

III. DO DIREITO

a)- DAS TIPIFICAÇÕES18. A Lei nº 8.429/92 conhece três tipos de atos

ímprobos na administração, a saber:

a) atos que importam em enriquecimento ilícito (artigo 9º); b) atos que causam prejuízo ao erário (artigo 10); e c) atos que atentam contra os princípios da administração pública (artigo 11).

19. A primeira classe de atos de improbidade administrativa compreende os seguintes (artigo 9º, caput, e incisos I a XII, da Lei nº 8.429/92):

“Art. 9º. Constitui ato de improbidade administrativa importando enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de cargo, mandato, função, emprego ou atividade nas entidades mencionadas no artigo 1º desta Lei, e notadamente:I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou imóvel, ou qualquer outra vantagem econômica, direta ou indireta, a título de comissão, percentagem, gratificação ou presente de quem tenha interesse,

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direto ou indireto, que possa ser atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente público;II - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem móvel ou imóvel, ou a contratação de serviços pelas entidades referidas no artigo 1º por preço superior ao valor de mercado;III - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a alienação, permuta ou locação de bem público ou o fornecimento de serviço por ente estatal por preço inferior ao valor de mercado;IV - utilizar, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas, equipamentos ou material de qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades mencionadas no artigo 1º desta Lei, bem como o trabalho de servidores públicos, empregados ou terceiros contratados por essas entidades;V - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para tolerar a exploração ou a prática de jogos de azar, de lenocínio, de narcotráfico, de contrabando, de usura ou de qualquer outra atividade ilícita, ou aceitar promessa de tal vantagem;VI - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para fazer declaração falsa sobre medição ou avaliação em obras públicas ou qualquer outro serviço, ou sobre quantidade, peso, medida, qualidade ou característica de mercadorias ou bens fornecidos a qualquer das entidades mencionadas no artigo 1º desta Lei;VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercício de mandato, cargo, emprego ou função pública, bens de qualquer natureza cujo valor seja desproporcional à evolução do patrimônio ou à renda do agente público;VIII - aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de consultoria ou assessoramento para pessoa física ou jurídica que tenha interesse suscetível de ser atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente público, durante a atividade;IX - perceber vantagem econômica para intermediar a liberação ou aplicação de verba pública de qualquer natureza;X - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indiretamente, para omitir ato de ofício, providência ou declaração a que esteja obrigado;

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XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no artigo 1º desta Lei;XII - usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no artigo 1º desta Lei.”

20. O artigo 9º retrocitado envolve 12 (doze) diferentes hipóteses de atos de improbidade que importam enriquecimento ilícito. Não é rol taxativo ou exaustivo, o que fica claro pela utilização, no caput, do advérbio notadamente para enunciar a dúzia de incisos exemplificativos do enunciado.

21. Tanto o caput quanto os incisos do artigo 9º guardam entre si uma característica: o agente público aufere vantagem econômica indevida, para si ou para outrem, em razão do exercício ímprobo de cargo, mandato, função, emprego ou atividade pública.

22. Ainda que não concorra o prejuízo ao erário ou ao patrimônio das entidades referidas no artigo 1º, a percepção, ainda que indireta, de dinheiro, bem móvel ou imóvel, ou qualquer outra vantagem econômica já realiza o “tipo”.

23. Os requeridos, ao se beneficiarem de recursos da Câmara antecipados, auferiram vantagem patrimonial indevida, importando em enriquecimento ilícito, subsumindo-se sua conduta nas disposições do artigo 9º, caput e inciso I, da Lei nº 8.429/92.

24. A segunda classe de atos de improbidade, na conformidade da disposição legal, é a dos que causam lesão ao

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erário, compreendendo as seguintes práticas (artigo 10 da Lei nº 8.429/92):

“Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no artigo 1º desta Lei, e notadamente:I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorporação ao patrimônio particular, de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no artigo 1º desta Lei;II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada utilize bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no artigo 1º desta lei, sem a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;III - doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente despersonalizado, ainda que de fins educativos ou assistenciais, bens, rendas, verbas ou valores do patrimônio de qualquer das entidades mencionadas no artigo 1º desta Lei, sem observância das formalidades legais e regulamentares aplicáveis à espécie;IV - permitir ou facilitar a alienação, permuta ou locação de bem integrante do patrimônio de qualquer das entidades referidas no artigo 1º desta Lei, ou ainda a prestação de serviço por parte delas, por preço inferior ao de mercado;V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem ou serviço por preço superior ao de mercado;VI - realizar operação financeira sem observância das normas legais e regulamentares ou aceitar garantia insuficiente ou inidônea;VII - conceder benefício administrativo ou fiscal sem a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou dispensá-lo indevidamente;IX - ordenar ou permitir a realização de despesas não autorizadas em lei ou regulamento;

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X - agir negligentemente na arrecadação de tributo ou renda, bem como no que diz respeito à conservação do patrimônio público;XI - liberar verba pública sem a estrita observância das normas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação irregular;XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enriqueça ilicitamente;XIII - permitir que se utilize, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas, equipamentos ou material de qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades mencionadas no artigo 1º desta Lei, bem como o trabalho de servidor público, empregados ou terceiros contratados por essas entidades.”

25. O artigo 10 retrocitado envolve 13 (treze) diferentes hipóteses de atos de improbidade que importam lesão ao erário. Não é rol taxativo ou exaustivo, o que fica claro pela utilização, no caput, do advérbio notadamente para enunciar a dúzia de incisos exemplificativos do enunciado.

26. Forçoso reconhecer que os atos dos réus

também encontram adequação nas disposições do artigo 10, caput, da Lei de Improbidade Administrativa (Lei nº 8.429/92), posto que causaram prejuízo ao erário municipal.

27. Finalmente, a terceira classe dos atos de improbidade administrativa contempla os atos que atentam contra os princípios da administração pública, violando os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições, e notadamente os seguintes (artigo 11 da Lei nº 8.429/92):

“Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres

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de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições, e notadamente:I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele previsto na regra de competência;II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício;III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das atribuições e que deva permanecer em segredo;IV - negar publicidade aos atos oficiais;V - frustrar a licitude de concurso público;VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo;VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de terceiro, antes da respectiva divulgação oficial, teor de medida política ou econômica capaz de afetar o preço de mercadoria, bem ou serviço.”

28. O artigo 11 retrocitado envolve 07 (sete) diferentes hipóteses de atos de improbidade que atentam contra os princípios da administração pública, violando os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições. Da mesma forma que o artigo 9º e o artigo 10, o rol não é taxativo ou exaustivo, o que fica claro pela utilização, no caput, do advérbio notadamente para enunciar a dúzia de incisos exemplificativos do enunciado.

29. Pois bem, com base nos eventos narrados, tem-se que réus JOVITA RIBEIRO DA SILVA e JOÃO DE LÚ GOMES DA SILVA realizaram comportamentos ilícitos, atentando, assim, contra os princípios da administração pública, violando os deveres de honestidade, moralidade, legalidade, imparcialidade e lealdade às instituições, ferindo, por conseguinte, as disposições contidas no artigo 11, caput, da Lei nº 8.429/92.

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c)- Dos princípios da Legalidade e da Moralidade

30. O princípio da legalidade talvez seja no ordenamento jurídico um dos sustentáculos da concepção de Estado de Direito e do próprio regime jurídico-administrativo. Tal princípio vem definido no inciso II,art. 5º, da Constituição Federal quando nele faz declarar que: “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”.

31. No campo da administração pública, como unanimemente reconhecem os constitucionalistas e os administrativistas, afirma-se de modo peculiar a incidência do princípio da legalidade. Aqui, na dimensão dada pela própria indisponibilidade dos interesses públicos, diz-se que o administrador, em cumprimento ao princípio da legalidade, “só pode e deve atuar nos termos estabelecidos pela lei.”

32. Sobre o tema, cabe trazer a lição do notável CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO:

“Para avaliar corretamente o princípio da legalidade e captar-lhe o sentido profundo cumpre atentar para o fato de que ele é a tradução jurídica de um propósito político: o de submeter os exercentes do poder em concreto-o administrativo- a um quadro normativo que embargue favoritismos, perseguições ou desmandos. Pretende-se através da norma geral, abstrata e por isso mesmo impessoal, a lei, editada pois pelo Poder Legislativo- que é o colégio representativo de todas as tendências(inclusive

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minoritárias) do corpo social- garantir que a atuação do Executivo nada mais seja senão a concretização desta vontade geral.” (MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 7. ed. São Paulo, Malheiros, p.57.)

33. Desse modo, não há dúvidas de que o comportamento dos requeridos violou o princípio constitucional da legalidade, pois conforme leciona ainda CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO:

“...o princípio da legalidade é o da completa submissão da Administração às leis. Esta deve tão somente obedecê-las, cumpri-las, pô-las em prática. Daí que a atividade de todos os seus agentes, desde o que lhe ocupe a cúspide, isto é, o Presidente da República, até o mais modesto dos servidores, só pode ser a de dóceis, reverentes, obsequiosos cumpridores das disposições gerais fixadas pelo Poder Legislativo, pois esta é a posição que lhes compete no direito brasileiro.” (MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 7. ed. São Paulo, Malheiros, p.48.)

34. Hodiernamente, por força da expressa inclusão do princípio da moralidade no caput do artigo 37 da CRF, a ninguém será dado sustentar, em boa razão, sua não incidência vinculante a todos os atos da Administração Pública.

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35. Ao agente público, por conseguinte, não bastará cumprir os estritos termos da lei. Tem-se por necessário que seus atos estejam verdadeiramente adequados à moralidade administrativa, ou seja, a padrões éticos de conduta que orientem e balizem sua realização. Se assim não for, inexoravelmente, haverão de ser considerados não apenas como imorais, mas também como inválidos para todos os fins de direito.

36. O doutrinador JOSÉ EDUARDO MARTINS CARDOSO fornece uma definição desse princípio, hoje agasalhado na órbita jurídico-constitucional:

“Entende-se por princípio da moralidade, a nosso ver, aquele que determina que os atos da Administração Pública devam estar inteiramente conformados aos padrões éticos dominantes na sociedade para a gestão dos bens e interesses públicos” (CARDOZO, José Eduardo Martins, Princípios Constitucionais da Administração Pública, in MORAES, Alexandre. Os 10 anos da Constituição Federal, São paulo, Atlas, pag.158)

37. Na lição do eminente mestre HELY LOPES MEIRELLES:

“"A moralidade administrativa constitui hoje em dia, pressuposto da validade de todo ato da Administração Pública (Const. Rep., art. 37,caput). Não se trata – diz Hauriou, o sistematizador de tal conceito – da moral comum, mas sim de uma moral jurídica, entendida como "o

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conjunto de regras de conduta tiradas da disciplina interior da Administração". Desenvolvendo a sua doutrina, explica o mesmo autor que o agente administrativo, como ser humano dotado da capacidade de atuar, deve, necessariamente, distinguir o Bem do Mal, o honesto do desonesto. E, ao atuar, não poderá desprezar o elemento ético de sua conduta. Assim, não terá que decidir somente entre o legal e o ilegal, o justo e o injusto, o conveniente e o inconveniente, o oportuno e o inoportuno, mas também entre o honesto e o desonesto. Por considerações de direito e de moral, o ato administrativo não terá que obedecer somente à lei jurídica, mas também à lei ética da própria instituição, porque nem tudo que é legal é honesto, conforme já proclamavam os romanos – 'non omne quod licet honestum est'. A moral comum, remata Hauriou, é imposta ao homem para sua conduta externa; a moral administrativa é imposta ao agente público para a sua conduta interna, segundo as exigências da instituição a que serve, e a finalidade de sua ação: o bem comum.(...) (MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo. Malheiros)

38. A probidade administrativa é uma forma de moralidade administrativa que mereceu consideração especial pela Constituição, que por sua vez pune severamente o agente ímprobo(art.37,§ 4º, CF). Dessa forma, não se limita apenas a exigir a invalidação por via administrativa ou judicial- do ato administrativo violador, mas também a imposição de outras

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consequências sancionatórias rigorosas ao agente público responsável por sua prática.

c)- DAS SANÇÕES

39. A Lei nº 8.429/92 não se preocupa em definir crimes. Os atos tipificados nos artigos 9°, 10 e 11 não constituem crimes no âmbito da referida lei. Muitas das condutas ali descritas são de natureza criminal, assim definidas, porém, em outras leis, a exemplo do Código Penal, do Decreto-Lei 201, da Lei n° 8.666/93 etc.

40. Não sendo tratados nesta lei como crimes, têm, contudo, uma sanção, de natureza política ou civil, cominada na lei sob comentário, independentemente das sanções penais, civis e administrativas previstas na legislação específica.

41. Assim, os atos de improbidade administrativa praticado pelos Réus JOVITA RIBEIRO DA SILVA e JOÃO DE LÚ GOMES DA SILVA que importaram em enriquecimento ilícito estão sujeitos às seguintes cominações (artigo 9º c/c artigo 12, inciso I, ambos da Lei nº 8.429/92):

a) perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio; b) ressarcimento integral do dano, quando houver; c) perda da função pública; d) suspensão dos direitos políticos de oito a dez anos; e) pagamento de multa civil de até três vezes o valor do acréscimo patrimonial; f) proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou

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creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dez anos.

42. Em relação aos atos de improbidade praticados pelos réus JOVITA RIBEIRO DA SILVA e JOÃO DE LÚ GOMES DA SILVA que causaram prejuízos ao erário, as sanções aplicáveis são (artigo 10 c/c artigo 12, inciso II, ambos da Lei nº 8.429/92):

a) ressarcimento integral do dano, se houver; b) perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância; c) perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos; d) pagamento de multa civil de até duas vezes o valor do dano; e) proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditício, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos

43. Finalmente, a prática dos atos de improbidade levados a efeito pelos réus JOVITA RIBEIRO DA SILVA e JOÃO DE LÚ GOMES DA SILVA, que atentaram contra a moralidade e demais princípios da administração (Fatos Primeiro e Segundo), acarretam como sanção (artigo 11 c/c artigo 12, inciso III, ambos da Lei nº 8.429/92):

a) ressarcimento integral do dano; b) perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos; c) pagamento de multa civil de até cem vezes o valor da remuneração percebida pelo agente; d) proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefício ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos.

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IV. DOS PEDIDOS

44. Em vista do exposto, requer o Parquet:

I- a notificação dos demandados JOVITA RIBEIRO DA SILVA e JOÃO DE LÚ GOMES DA SILVA para, querendo, no prazo legal, oferecer manifestação por escrito(art.17, § 6º, da Lei 8.429/92);

II- a citação dos demandados JOVITA RIBEIRO DA SILVA e JOÃO DE LÚ GOMES DA SILVA para, querendo, no prazo legal, apresentar defesa, sob pena de revelia e confissão quanto à matéria de fato;

III- a procedência do pedido, para o fim de condenar os demandados JOVITA RIBEIRO DA SILVA e JOÃO DE LÚ GOMES DA SILVA, nas sanções previstas no art.12, incisos I, II e III da lei de Improbidade Administrativa(Lei 8.429/92), determinando-se a perda da função pública, a suspensão de seus direitos políticos por dez anos, a condenação ao pagamento de multa civil de no mínimo cinquenta vezes o valor de suas remunerações, a proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual sejam sócios majoritários, pelo prazo de cinco anos.

IV- a condenação dos demandados ao pagamento de todas as custas judiciais e sucumbenciais.

V- a condenação dos demandados ao pagamento de individual de R$50.000,00(cinquenta mil reais), a título de dano

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moral coletivo, em favor do Conselho de Segurança de São Domingos/GO.

VI- a condenação solidária dos demandados ao ressarcimento dos cofres públicos dos valores ilicitamente desviados.

45. Protesta-se desde já a promoção de todos os meios de prova em Direito permitidos, notadamente documental e testemunhal.

Dá-se à causa o valor de R$50.000,00(cinquenta mil reais) em razão do caráter genérico/difuso do proveito a ser por meio dela obtido.

São Domingos/GO, 25 de junho de 2015

Douglas Chegury Paulo de Tharso Brondi Promotor de Justiça Promotor de JustiçaTestemunhas:01-HERCULANITO ANTÔNIO LIMA02-ALZIRO VIEIRA DE SOUSA03-GILVANIR CARDOSO DOS REIS04-ALDIRAN NERES PIRES05-JONATAS SERRACENA06-MARTIR FERREIRA DE MELO07-ECILVONE LOPES MOREIRA DE SOUZA

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