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1 EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO DA 1ª VARA EMPRESARIAL DA COMARCA DE BELO HORIZONTE/MG Autos nº: 0030100-33.2017.8.13.0024 NEMER & GUIMARÃES ADVOGADOS ASSOCIADOS, Administrador Judicial, já qualificado nos autos do processo de Recuperação Judicial da Empresa Mendes Junior Trading e Engenharia S.A. em Recuperação Judicial , devidamente representada pela Dra. Maria Celeste Morais Guimarães, vem, respeitosamente, à presença e em acatamento à intimação feita por Vossa Excelência, informar e requerer o que se segue.

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EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO DA 1ª

VARA EMPRESARIAL DA COMARCA DE BELO HORIZONTE/MG

Autos nº: 0030100-33.2017.8.13.0024

NEMER & GUIMARÃES ADVOGADOS ASSOCIADOS, Administrador

Judicial, já qualificado nos autos do processo de Recuperação Judicial da Empresa

Mendes Junior Trading e Engenharia S.A. em Recuperação Judicial,

devidamente representada pela Dra. Maria Celeste Morais Guimarães, vem,

respeitosamente, à presença e em acatamento à intimação feita por Vossa

Excelência, informar e requerer o que se segue.

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I. DOS AUTOS

I. Os presentes autos têm origem no pedido de esclarecimento solicitado

pela credora Aldenice Maria de Noa Gomes dos Santos (doravante “Credora”),

representada pelo Escritório de Advocacia Alencar Macedo Advogados Associados, ao

Administrador Judicial acerca da condução das atividades no processo de

Recuperação Judicial da Empresa Mendes Junior Trading e Engenharia S.A.

II. A autora é titular de um crédito trabalhista correspondente a

R$979,47 (novecentos e setenta e nove reais e quarenta e sete centavos), crédito

esse reconhecido em Edital publicado em 26/04/2016 e na Relação de Credores

Consolidada pelo Administrador Judicial, que foi publicada em 23/02/2017.

III. Trata-se de processo incidental à referida Recuperação Judicial, cujos

documentos foram desentranhados, para constituírem autos apartados por decisão

da MM. Juíza da 1ª Vara Empresarial da Capital, a fls. 7.756-7.764. Louve-se esta r.

decisão da i. Magistrada, vez que os autos principais já contam com 38 (trinta e oito)

volumes, que eram assolados por discussões diversas as quais, agora, poderão ser

melhor tratadas apartadamente.

IV. O expressivo número de volumes dos autos é reflexo da

complexidade dessa Recuperação Judicial em particular. São aproximadamente 2.173

(dois mil, cento e setenta e três) credores que, dada à abrangência das atividades

realizadas pela Empresa Recuperanda, estão espacialmente descentralizados por

todas as regiões do país. Soma-se a isso o fato de que grande parte dos créditos

apresentados comportam dívidas de baixo valor, relativos a credores trabalhistas e

Micro Empresas e Empresas de Pequeno Porte. Evidente, nesse sentido, a

hipossuficiência em geral demonstrada pelos credores para a compreensão e

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acompanhamento das etapas do processo de recuperação judicial.

V. Para bem responder à complexidade do presente processo, e bem

atender ao perfil hipossuficiente de grande parte dos credores, o Administrador

Judicial estabeleceu Plano de Ação, pautado, para além dos encargos que lhe foram

legalmente atribuídos, em estratégias aptas a promover a participação e facilitar o

acompanhamento dos credores, Plano esse apresentado à MM. Juíza da 1ª Vara

Empresarial. Dentre as estratégias implementadas, destaca-se o desenvolvimento de

ferramentas de fácil comunicação direta com o Administrador Judicial, como o

Espaço do Credor, website e Aplicativo específicos destinados a viabilizar o acesso

instantâneo dos credores às informações processuais e às suas orientações.

VI. A despeito dos instrumentos e ferramentas disponibilizados aos

credores, a Sra. Aldenice Maria de Noa Gomes dos Santos vale-se do presente expediente

para não somente requerer informações ao Administrador Judicial, mas para fazer

graves imputações ao Administrador Judicial e ao Ministério Público.

VII. A argumentação utilizada pela Credora é reveladora de seu

desconhecimento, bem como de seus representantes, acerca dos processos a que faz

menção, bem como da esfera de competência atribuída ao Administrador Judicial.

Preocupando-se mais em atribuir responsabilidades, esquece-se a Credora de, até

mesmo, consultar os autos ou o Espaço do Credor, eis que grande parte dos

esclarecimentos suscitados poderiam ter sido sanados a partir do

acompanhamento processual ou de consultas diretas ao Administrador

Judicial – o que em nenhum momento foi feito, seja por correspondência, email,

ou telefone.

VIII. Não obstante a isso, todos os pedidos de informações serão

analiticamente descritos e respondidos adiante.

4

II. DAS ALEGAÇÕES APRESENTADAS PELA CREDORA

IX. De forma sumária, a Credora solicita esclarecimentos acerca dos

seguintes tópicos: (a) Escândalos de Corrupção; (b) Inidoneidade; (c) Operação

Guido Mantega; (d) Valores Bloqueados; (e) Arena Pantanal; (f) Comissão de

Valores Mobiliários; e (g) Repatriação de Ativos.

X. O presente expediente obedece à mesma estruturação proposta pela

Credora, de forma a facilitar a compreensão dos esclarecimentos ora prestados. Em

cada tópico, descrevem-se, preliminarmente, a argumentação e os pedidos feitos

pela Credora para, de forma conseguinte, o Administrador Judicial tecer

comentários a respeito.

XI. Chama-nos atenção não somente a natureza das informações e dos

esclarecimentos requeridos, mas o tom impresso na petição para apresentar a

solicitação. Em cada um dos tópicos suscitados, a Credora profere disparates contra

a atuação do Administrador Judicial e do Ministério Público, imputando-lhes graves

omissões e inferindo, a todo momento, que essas atribuições fariam parte do rol de

obrigações dos fiscais do processo. Equivoca-se em ambos os pontos por duas

razões principais.

XII. Em primeiro lugar, a Credora, ao relatar omissões do Administrador

Judicial, o faz com base em fatos desprovidos de quaisquer comprovações ou

documentos que possam aferir credibilidade aos seus pleitos. Embora seja a tônica

da petição em geral, cita-se o exemplo das alegações de existência de bens e ativos

da Recuperanda no exterior e a “inércia” do Administrador Judicial para noticiar a

esse respeito sem fundamentar em fatos e informações que constem dos autos.

O simples acompanhamento desse processo de Recuperação Judicial, bem como do

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Espaço do Credor, desenvolvido pelo Administrador Judicial. seria suficiente para

responder a grande parte dos requerimentos trazidos pela Credora.

XIII. Em segundo lugar, a Credora se contradiz ao alegar suposta

omissão sendo que, ela mesma ou qualquer de seus representantes, em

nenhum momento, solicitou informações diretamente ao Administrador

Judicial. Ressalte-se ser uma das grandes preocupações deste Administrador

Judicial a disponibilização de diversos meios para que os credores possam

acompanhar o processo de Recuperação Judicial e interagir com ele de forma

eficiente (sobretudo, a partir do desenvolvimento do Espaço do Credor, tão divulgado

no processo, na Secretaria da 1ª Vara Empresarial da Capital e nas mídias do

Escritório). Surpreende-nos bastante, nesse sentido, vir a Credora nos autos

sustentar a ausência de esclarecimentos quando ela mesma se manteve silente a

despeito dos diversos meios disponíveis para dialogar com o Administrador Judicial.

XIV. Por derradeiro, a Credora relata uma série de supostas omissões ao

fundamento de que o Administrador Judicial teria se furtado às suas atribuições

legalmente definidas. Por se tratar de matéria objetiva e positivada, a Credora e seus

representantes legais nada mais fazem senão demonstrar desconhecimento da Lei.

XV. Por esse motivo, antes de o Administrador Judicial adentrar em cada

um dos esclarecimentos suscitados pela Credora, entende-se necessário lembrá-la,

assim como a seus representantes legais, acerca dos encargos atribuídos por Lei ao

Administrador Judicial, nos termos do art. 22, incs. I e II, da Lei n. 11.101/2005.

Todos, sem exceção, vem sendo fielmente cumpridos, como adiante serão

sumarizados seguindo a ordem estabelecida pelo legislador:

6

1) Assinar, na sede do juízo, o termo de compromisso de bem e fielmente

desempenhar o cargo, assumindo todas as responsabilidades a ele inerentes;1

XVI. Conforme dispõe o art. 33 da Lei nº 11.101/2005, o Administrador

Judicial assinou, no dia 14/03/2016, às 15h, junto à 1ª Vara Empresarial da

Comarca de Belo Horizonte, o Termo de Compromisso (ANEXO I) perante a

MM. Juíza Patrícia Santos Firmo, magistrada responsável, à época, pelos Autos de

nº 0024.16.057.905-8.

2) Dar extratos dos livros do devedor, que merecerão fé de ofício, a fim de

servirem de fundamento nas habilitações e impugnações de créditos;2

XVII. Em consonância ao disposto no art. 22, inc. I, c, da Lei nº

11.101/2005, o Administrador Judicial vem regularmente analisando a

documentação contábil apresentada pela Recuperanda nos autos, não somente para

fins de fundamentação das habilitações e impugnações de créditos apresentadas,

mas igualmente para verificação da viabilidade econômica da Empresa em vistas do

Plano de Recuperação Judicial apresentado. Notório, contudo, que a documentação

contábil acostada aos autos pela Recuperanda é insuficiente de acordo com as

normas societárias e contábeis aplicáveis, como reiteradamente o Administrador

Judicial tem ressaltado, entendimento esse, inclusive, endossado pelo I. Promotor de

Justiça.

1Art. 33. O administrador judicial e os membros do Comitê de Credores, logo que nomeados, serão

intimados pessoalmente para, em 48 (quarenta e oito) horas, assinar, na sede do juízo, o termo de

compromisso de bem e fielmente desempenhar o cargo e assumir todas as responsabilidades a ele

inerentes.

2Art. 22. Ao administrador judicial compete, sob a fiscalização do juiz e do Comitê, além de outros

deveres que esta Lei lhe impõe:

(...) c) dar extratos dos livros do devedor, que merecerão fé de ofício, a fim de servirem de fundamento

nas habilitações e impugnações de créditos;

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XVIII. Por esse motivo, o Administrador Judicial já solicitou

formalmente nos autos à Recuperanda que a documentação seja complementada,

tendo, inclusive e às suas próprias expensas, contratado os serviços do

Escritório de Perícia Especializada A.F. Peritos Associados para analisar, por

02 (duas) oportunidades, as contas demonstrativas mensais apresentadas pela

Recuperanda até então. Foram, portanto, apresentados em Juízo 03 (três) pedidos

formais de complementação das contas mensais apresentadas pela Recuperanda, 02

(duas) das quais foram acompanhadas de pareceres técnicos (anexos à presente –

ANEXO II) da referida empresa.

3) Fiscalizar as atividades do devedor e o cumprimento do Plano de Recuperação

Judicial;3

XIX. Em observância ao disposto no art. 22, inc. II, a, c, e caput, da Lei

nº 11.101/2005, o Administrador Judicial tem acompanhado as atividades da

Recuperanda e as reportado ao d. Juízo. A exceção das contas demonstrativas

mensais, acima referenciadas, os esclarecimentos solicitados à Empresa em

Recuperação na fase de verificação de habilitações e divergências de créditos

apresentadas pelos credores foram satisfatoriamente atendidos. Lado outro, em que

pese não ter sido homologado o Plano de Recuperação Judicial em Assembleia

Geral de Credores, o Administrador Judicial já apresentou Petição ao Juízo

informando inconsistências, lacunas e pontos controversos a serem objeto de

revisão, exclusão e esclarecimento pela Empresa Recuperanda (ANEXO III).

3Art. 22. Ao administrador judicial compete, sob a fiscalização do juiz e do Comitê, além de outros

deveres que esta Lei lhe impõe:

(...) II – na recuperação judicial:

a) Fiscalizar as atividades do devedor e o cumprimento do plano de recuperação judicial;

Art. 64. Durante o procedimento de recuperação judicial, o devedor ou seus administradores serão

mantidos na condução da atividade empresarial, sob fiscalização do Comitê, se houver, e do

administrador judicial, salvo se qualquer deles:

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XX. Em complemento, visando a contribuir para a condução das

discussões na Assembleia Geral de Credores, a ser oportunamente marcada, nos

termos dos art. 35 e seguintes da Lei n. 11.101/2005, o Administrador Judicial

elaborou resumo-esquemático consolidando as objeções apresentadas pelos

credores e os fundamentos levantados por cada uma das manifestações em face do

Plano de Recuperação Judicial (ANEXO IV). Espera-se, com isto, facilitar e

otimizar as discussões em Assembleia Geral de Credores para deliberação sobre o

Plano de Recuperação Judicial.

4) Informar por carta em que local se encontra à disposição dos credores e demais

interessados, bem como as informações de que dispõe acerca de seus créditos;4

XXI. Conforme previsto no art. 22, inc. I, a, da Lei nº 11.101/2005, e

tendo em vista, ainda, o disposto no artigo 51, inc. III, do mesmo diploma legal, o

Administrador Judicial encaminhou por correspondência física (ANEXO V) cartas

a todos os credores constantes do Edital publicado em 06/04/2016, e republicado

em 26/04/2016, informando o valor, a classificação e a natureza do crédito, bem

como as informações de contato entre credores e Administrador Judicial. A

correspondência física, encaminhada nos termos da Lei, inaugura o contato com os

credores que, a partir de então, podem acionar o Administrador Judicial para

esclarecer informações relativas a seus créditos e ao processo em si por meio do

telefone, email ou do Espaço do Credor (website e aplicativo).

4Art. 22. Ao administrador judicial compete, sob a fiscalização do juiz e do Comitê, além de outros

deveres que esta Lei lhe impõe:

(...) a) Enviar correspondência aos credores constantes na relação de que trata o inciso III do caput do art.

51, o inciso III do caput do art. 99 ou o inciso II do caput do art. 105 desta Lei, comunicando a data do

pedido de recuperação judicial ou da decretação da falência, a natureza, o valor e a classificação dada ao

crédito;

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5) Fornecer, com presteza, todas as informações pedidas pelos credores

interessados;5

XXII. Seguindo as prescrições do art. 22, inc. I, b, da Lei nº

11.101/2005, o Administrador Judicial vem disponibilizando, com presteza, as

informações solicitadas pelos credores relativas ao presente processo de

Recuperação Judicial. Para tanto, o Administrador Judicial preocupou-se em

oferecer os mais variados canais de acesso aos credores. As solicitações foram, e

são, recebidas por telefone, email, website/APP, correspondência física e, ainda,

presencialmente, de forma a garantir que os credores tenham amplo acesso

informacional ao andamento do processo.

6) Contratar, mediante autorização judicial, profissionais ou empresas

especializadas;6

XXIII. Consoante ao art. 22, inc. I, h, da Lei nº 11.101/2005, cabe ao

Administrador Judicial contratar, a partir de autorização judicial, profissionais e

empresas especializados para atuação no processo de Recuperação Judicial. Tendo-

se em vista a complexidade da presente Recuperação, o Administrador Judicial

contratou os serviços técnicos do Instituto Áquila, sociedade especializada em

consultoria e gestão empresarial, no intuito de analisar as informações

econômicas fornecidas ao longo do processo de Recuperação Judicial da Mendes

5Art. 22. Ao administrador judicial compete, sob a fiscalização do juiz e do Comitê, além de outros

deveres que esta Lei lhe impõe:

I – na recuperação judicial e na falência: (...)

b) fornecer, com presteza, todas as informações pedidas pelos credores interessados;

6Art. 22. Ao administrador judicial compete, sob a fiscalização do juiz e do Comitê, além de outros

deveres que esta Lei lhe impõe:

I – na recuperação judicial e na falência: (...)

h) contratar, mediante autorização judicial, profissionais ou empresas especializadas para, quando

necessário, auxiliá-lo no exercício de suas funções;

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Junior Trading e Engenharia S.A., cujos relatórios e demonstrativos foram juntados aos

autos e estão disponíveis no Espaço do Credor. Os dados relativos ao Plano de

Recuperação da MJTE foram igualmente disponibilizados aos profissionais do

Instituto Áquila que, sob coordenação do Administrador Judicial, compuseram

cenários e gráficos aptos a oferecer uma leitura qualitativa e quantitativa do Plano de

Recuperação Judicial da Mendes Junior Trading e Engenharia S.A., cujo Relatório

também consta dos autos (ANEXO VI).

XXIV. O Administrador Judicial contratou, ainda, os serviços técnicos

especializados da empresa A.F. Peritos Associados, que analisou as contas

demonstrativas mensais apresentadas pela Recuperanda e apresentou 02 (dois)

Laudos Técnicos, igualmente anexos ao presente. Os pareceres técnicos constataram

que a documentação apresentada pela Recuperanda não atende à exigência legal.

Com base nestes Laudos, o Administrador Judicial apresentou, por mais de uma

oportunidade, Impugnação às contas apresentadas pela Recuperanda e aguarda suas

providências a fim de regularizar a situação.

7) Receber dos credores as manifestações de habilitação ou divergências quanto

aos créditos relacionados;7

XXV. A partir do momento em que os Comunicados elaborados pelo

Administrador Judicial contendo o valor, a natureza e a origem do crédito, nos

termos do art. 22, inc. I, a, da Lei n. 11.101/2005, foram encaminhados aos

credores, foram recebidas habilitações e divergências apresentadas pelos credores

em relação aos créditos atribuídos no Edital publicado em 06/04/2016 e

7 Art. 7

o A verificação dos créditos será realizada pelo administrador judicial, com base nos livros

contábeis e documentos comerciais e fiscais do devedor e nos documentos que lhe forem apresentados

pelos credores, podendo contar com o auxílio de profissionais ou empresas especializadas. § 1

o Publicado o edital previsto no art. 52, § 1

o, ou no parágrafo único do art. 99 desta Lei, os credores

terão o prazo de 15 (quinze) dias para apresentar ao administrador judicial suas habilitações ou suas

divergências quanto aos créditos relacionados.

11

republicado em 26/04/2016. Foram examinadas, aproximadamente, 380 (trezentas

e oitenta) divergências e habilitações formuladas pelos credores, envolvendo um

montante total de créditos no valor de R$ 210.175.030,00 (duzentos e dez

milhões, cento e setenta e cinco mil e trinta reais). Nenhuma habilitação ou

divergência deixou de ser examinada pelo Administrador Judicial, resultando em um

esforço hercúleo em face do número expressivo de documentos apresentados. Isso

porque o Administrador Judicial, tanto resguardou o contraditório da

Recuperanda, como fez questão de oferecer aos credores pareceres

individuais acerca de suas manifestações. Frise-se que uma apresentação gráfica

da análise das divergências e habilitações apresentadas perante o Administrador

Judicial, bem como os pareceres individuais que apresentam os argumentos

utilizados como fundamento, foram anexados aos autos, bem como constam do

Espaço do Credor desde 2016.

8) Exigir dos credores, do devedor ou de seus administradores quaisquer

informações necessárias para que possa se inteirar de todas as causas e

situações da Recuperação Judicial;8

XXVI. Nos termos do art. 22, inc. I, d, da Lei nº 11.101/2005, o

Administrador Judicial vem requerendo e diligenciando regularmente informações

acerca da presente Recuperação Judicial a credores, à Recuperanda e ao d. Juízo da

1ª Vara Empresarial. Dentre as situações mais comumente tratadas, destacam-se

esclarecimentos relativos à constituição dos créditos dos credores.

XXVII. Inobstante, o Administrador Judicial vem tratando pessoalmente

8Art. 22. Ao administrador judicial compete, sob a fiscalização do juiz e do Comitê, além de outros

deveres que esta Lei lhe impõe:

I – na recuperação judicial e na falência: (...)

d) exigir dos credores, do devedor ou seus administradores quaisquer informações;

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junto à MM. Magistrada e ao I. Promotor de Justiça questões de evidente relevância

para a condução do processo, como a apresentação das Contas Demonstrativas Mensais

pela Recuperanda, a readequação do Plano de Recuperação Judicial, a consolidação da

Relação de Credores, como a já solucionada Exceção de Incompetência, dentre outros.

XXVIII. A discussão acerca da exceção de competência arguida pela

Procuradoria da Fazenda Nacional, inclusive, foi não somente objeto de

manifestação deste Administrador Judicial, como foi pessoal e diligentemente

discutida pelo Administrador Judicial junto à Desembargadora Relatora responsável

pelo Agravo junto ao TJMG. O trabalho de sensibilização junto a Exma. Relatora

contribuiu para que o julgamento da causa fosse realizado em caráter preferencial

ainda em 2016 – antes, portanto, do recesso forense que se aproximava.

9) Elaborar e consolidar o quadro-geral de credores;9

XXIX. Conforme disposto no art. 22, inc. I, e, da Lei nº 11.101/2005, o

Administrador Judicial já apresentou em juízo a Relação de Credores

Consolidada a partir das habilitações e divergências apresentadas pelos credores.

Esta Relação, em face da exceção de incompetência absoluta, então acolhida pelo

MM. Juízo da 1ª Vara Empresarial, só veio a ser publicada por Edital, nos termos do

art. 7º, § 2º da Lei n. 11.101/2005, no dia 22/02/2017.

XXX. A referida apresentação foi antecedida por um período de

verificação das habilitações e divergências apresentadas pelos credores, por equipe

específica e previamente designada para esse desiderato. Na oportunidade de

verificação dos créditos, foi garantido e oportunizado o contraditório à Recuperanda

9Art. 22. Ao administrador judicial compete, sob a fiscalização do juiz e do Comitê, além de outros

deveres que esta Lei lhe impõe:

I – na recuperação judicial e na falência: (...)

d) exigir dos credores, do devedor ou seus administradores quaisquer informações;

13

acerca das manifestações apresentadas perante o Administrador Judicial, esperando

que se pudesse mitigar questões que seriam eventualmente levadas a Juízo.

XXXI. Durante o período, o Administrador Judicial orientou os credores

nas mais diversas questões por eles apresentadas a partir dos veículos informacionais

disponibilizados para contato instantâneo (notadamente a partir da criação do Espaço

do Credor); bem como reuniu-se com credores, representantes sindicais, advogados e

funcionários da Recuperanda, promovendo, de forma inovadora, a instauração do

contraditório com a verificação in loco das manifestações apresentadas pelos

credores, de forma a igualmente garantir a oportunidade de reconsideração da

Recuperanda sobre a sua posição originalmente manifestada no Edital publicado.

XXXII. A Relação Consolidada foi acompanhada de pareceres

individuais, contendo a posição da Empresa Recuperanda e do Administrador

Judicial sobre cada uma das manifestações de divergência e habilitação de créditos

apresentadas, já anexados à presente. A partir desta publicação, iniciou-se o prazo

para apresentação de Impugnações e Habilitações Retardatárias perante o Juízo da

Recuperação, as quais vêm sendo regularmente analisadas pelo Administrador

Judicial a tempo e modo.

XXXIII. Uma vez delineadas as obrigações e atribuições delegadas ao

Administrador Judicial, vê-se, por todo o exposto, que os encargos legais vêm sendo

fielmente cumpridos, não merecendo guarida as afirmações destemperadas da

Credora. Esforçamo-nos a pensar, em que pese o tom e a gravidade das alegações

por ela formuladas, que ela própria, como os seus representantes, simplesmente

desconhecem a norma posta e, mais precisamente, o escopo de atuação de um

Administrador Judicial.

14

III. DOS ESCLARECIMENTOS PRESTADOS PELO ADMINISTRADOR JUDICIAL

(A) Escândalos de Corrupção:

XXXIV. Pretende a autora obter informações acerca de “envolvimento da

Mendes Jr. com as investigações realizadas na Operação Lava Jato pela Polícia Federal e pelo

Ministério Público Federal”. Alegou ser essa atribuição decorrência natural das

obrigações e providência indispensável ao bom exercício do encargo de

Administração Judicial. Nesse sentido, requereu que o Administrador Judicial

encaminhe ofícios a órgãos públicos e jurisdicionais notificando a apresentação do

Plano de Recuperação Judicial e, ainda, que informe “os impactos diretos e indiretos da

Lei n. 12.846/13 (Lei Anticorrupção) na presente Recuperação Judicial, tendo em vista que a

Mendes Jr. não firmou acordo de leniência com o MPF no âmbito da Operação Lava Jato”.

XXXV. Em evidente desconhecimento da Lei, cabe-nos, com base na

exposição das atribuições do Administrador Judicial, anteriormente delineada,

conforme a Lei 11.101/2005, contestar a afirmação da credora de que deveríamos

notificar e encaminhar ofícios a órgãos públicos e jurisdicionais acerca da

apresentação do Plano de Recuperação Judicial. Por um lado, as notificações acerca do

presente processo de Recuperação Judicial já foram previamente

encaminhadas ao Ministério Público e às Fazendas Públicas Federal dos

Estados e Municípios em que o devedor tem estabelecimento, nos termos do

art. 52, inc. V, da Lei n. 11.101/2005. Por outro, é questionável, inclusive, a

utilidade de se informar do Plano de Recuperação aos órgãos competentes

para averiguar eventual cometimento de infrações à Lei Anticorrupção (Lei n.

12.846/2013), como sugere a credora.

15

XXXVI. Isto porque o questionamento da utilidade da medida se assenta

em fundamentos de ordem material (condutas e atividades encampadas pela Lei

Anticorrupção) e formal (competência para conduzir investigações e para instaurar

processos administrativos e judiciais). A Lei Anticorrupção delimita os assuntos sob

sua alçada, disciplinando, essencialmente, a responsabilização administrativa e civil

de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a Administração Pública (cf. art. 1º).

Para materializar a abrangência de sua atuação, caracteriza, no art. 2º, o que se

entende por “atos lesivos à Administração Pública”. Ainda que, como vimos, referida

diligência não se enquadre no rol de atribuições do Administrador Judicial,

indagamo-nos de que forma a notificação acerca dos termos do Plano de

Recuperação Judicial seria validamente utilizada por aqueles que conduzem

investigações sob os auspícios da Lei Anticorrupção.

XXXVII. Noutra monta, a Lei Anticorrupção aduz qual seria a

competência para instaurar e julgar questões relativas a delitos de corrupção. De

acordo com o art. 8º da referida Lei, a instauração e as investigações em processo

administrativo para apuração de responsabilidade da pessoa jurídica cabem à

autoridade máxima de cada órgão ou entidade dos Poderes Executivo,

Legislativo e Judiciário. Além disso, o art. 10 da Lei Anticorrupção impõe que o

processo administrativo para apuração da responsabilidade de pessoa jurídica seja

conduzido por comissão designada pela autoridade instauradora e composta por 02

(dois) ou mais servidores estáveis e que, ainda, a própria comissão seja responsável

por requerer medidas judiciais necessárias para a investigação e processamento das

infrações. Para complementar o quadro formal de delimitação da competência de

instauração e análise de crimes previstos na Lei Anticorrupção, o art. 19 prevê que

tão somente poderão ajuizar ações judiciais a União, os Estados, o Distrito

Federal e os Municípios, por meio das respectivas Advocacias Públicas ou

órgãos de representação Judicial, ou o Ministério Público.

16

XXXVIII. Vê-se, portanto, não se tratar de “atribuição natural” das

obrigações do Administrador Judicial, não tendo o legislador, seja sob os

auspícios da Lei n. 11.101/205 ou da Lei Anticorrupção, previsto obrigação nesse

sentido ao referido auxiliar do Juízo. Ao contrário, o legislador regulou

expressamente a matéria, indicando com precisão quem estaria apto a

investigar e instaurar delitos de corrupção.

XXXIX. Ainda que por absurdo se vislumbre a competência do

Administrador Judicial para a tomada de qualquer medida para apuração do

“envolvimento da Mendes Jr. com as investigações realizadas na Operação Lava Jato”,

questiona-se, especificamente e nos termos solicitados pela Credora, o valor de se

informar às instâncias competentes pela condução das investigações detalhes sobre

o Plano de Recuperação Judicial apresentado na presente Recuperação Judicial.

(B) Inidoneidade:

XL. Com base em decisão proferida pela Controladoria Geral da União –

CGU, a Credora menciona a Declaração de Inidoneidade imposta à Mendes Jr., que

a impossibilita de licitar e contratar com o Poder Público. Sugere que essa decisão

poderia impactar as atividades da Recuperanda e solicita que o Administrador

Judicial apresente suas “considerações e estudos técnicos” quanto às consequências da

declaração para o soerguimento da empresa. Em específico, requer que o

Administrador Judicial se manifeste acerca da possibilidade de a declaração de

inidoneidade “afetar contratos cuja execução se encontre em andamento [...] e de eventuais

reflexos especificamente na licitação Concorrência nº 41702214”, bem como que notifique a

CGU sobre o presente processo de Recuperação Judicial.

XLI. Novamente se equivoca a Credora acerca das atribuições cabíveis

ao Administrador Judicial e, ainda mais grave, sobre o andamento do processo a que

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faz referência. A título de informação, esclarecemos que o processo que

desencadeou a declaração de inidoneidade da Recuperanda (Processo

Administrativo n. 00190.025826/2014/03|CGU) encontra-se sub judice

(ANEXO VII). Após apresentar Pedido de Reconsideração em 09/05/2016, e o

mesmo ter sido denegado em 08/06/2016, a Recuperanda impetrou Mandado

de Segurança, com pedido liminar (n. 22.692-DF – ANEXO VIII), em

tramitação, que será, oportunamente, analisado pelo Superior Tribunal de Justiça

(STJ). Em fase da denegação do pedido liminar em 30/06/2016, a Recuperanda

interpôs Agravo Regimental, ainda pendente de análise.

XLII. Naturalmente, qualquer manifestação do Administrador

Judicial ou a promoção de estudos aprofundados sobre eventuais impactos a

esse respeito é temerária, porquanto ainda pendente julgamento definitivo.

XLIII. Lado outro, equivoca-se a Credora ao dizer que a referida decisão

teria o condão de impactar “contratos cuja execução se encontre em andamento”. A

Declaração de Inidoneidade, uma vez confirmada, somente pode ser aposta a

novos negócios jurídicos celebrados pela Recuperanda. Até o presente

momento, tão somente a Licitação n. 41702214, que tem por objeto a execução das

obras do Pátio Água Espraiada da Linha 17 – Ouro da Companhia de Transportes

Metropolitanos de São Paulo, encontra-se afeta pela Declaração de Inidoneidade

imposta sobre a Empresa em Recuperação. É o que se afirma e consta do autos,

como deve saber a credora e seus ilustres representantes (fl. 7975):

“Ocorre que, muito antes, a Companhia do Metropolitano de São

Paulo/SP, através do Ofício CT GEO 563, datado de 23/05/2016,

assim declarou: ‘Considerando a confirmação da decisão da

Controladoria Geral da União, que manteve a aplicação da

Declaração de Inidoneidade contra essa empresa e, ainda, a

18

manifestação da Procuradoria Geral do Estado de São Paulo que

recomenda o reconhecimento da abrangência nacional dos efeitos da

referida Declaração, entende-se pelo impedimento de firmarmos

qualquer Instrumento Contratual com essa Empresa’”.

XLIV. Esclarece-se, uma vez mais, portanto, que a Declaração de

Inidoneidade aposta à Recuperanda afeta apenas os novos negócios jurídicos

firmados pela Empresa e que, no presente momento, tão somente a Licitação n.

41702214, acima referenciada, foi prejudicada. Por óbvio, não poderia a

Recuperanda fundamentar o seu Plano de Recuperação Judicial com base na

estimativa de crédito do referido contrato, o que, de fato, mereceria a atenção

do Administrador Judicial. Este, contudo, não foi o caso a teor do que se

observa do Plano apresentado.

(C) Operação Guido Mantega:

XLV. É mencionada, pela Credora, a 34ª Fase da Operação Lava Jato, a

partir da qual foi citada a Recuperanda e foi preso o Sr. Ruben Costa Val, ex-diretor

de Negócios Industriais da Mendes Junior, sugerindo ter-se mantido inerte o

Administrador Judicial a esse respeito. Requereu, afinal, que fosse intimado o

Administrador Judicial para informar e documentar, no prazo de 48 (quarenta e

oito) horas, todas as implicações desta operação para o presente processo de

recuperação judicial e para o sucesso no pagamento aos credores.

XLVI. A despeito do tom das alegações e imputações feitas pela

Credora, cabe informá-la de que o processo existente contra o Sr. Ruben Costa

Val, no qual é citada a Recuperanda, encontra-se em fase de inquérito. Não

houve, até o presente momento, oferta de denúncia pela I. Procuradoria da

19

República, tampouco manifestação do Ministério Público Federal sobre a

conveniência e necessidade de se indiciar ou arquivar o inquérito, ainda em curso.

Sugere a Credora, portanto, que o Administrador Judicial informe e documente as

implicações de uma operação em fase de inquérito, que pode ser, inclusive,

arquivado, para o presente processo de Recuperação Judicial.

XLVII. Com toda a vênia, entendemos tratar-se de pedido

evidentemente desarrazoado e que não traria, porquanto sequer houve

indiciamento ou manifestação do Ministério Público Federal, qualquer

utilidade concreta para o presente feito. Ao revés, acredita-se que tal iniciativa

estaria mais voltada a tumultuar o processo com informações e dados, repita-se,

ainda sob análise e investigação. Uma vez mais, forçamo-nos pressupor que a

Credora e seus representantes basearam sua petição em fatos jornalísticos, apenas de

mídia e que, de fato, desconhecem o andamento das investigações suscitadas.

(D) Valores Bloqueados:

XLVIII. A autora também entendeu ser necessária a intimação do

Administrador Judicial para que informe sobre o deslinde das retenções cautelares

de recursos da Mendes Jr.. São os casos do bloqueio do valor de R$12,5 milhões,

referentes à duplicação/restauração de trecho da BR/101 no Estado do

Pernambuco e da constrição judicial de valor correspondente a R$137.526.767,64

(cento e trinte e sete milhões, quinhentos e vinte e seis mil, setecentos e sessenta e

sete reais e sessenta e quatro centavos), referentes a bens do grupo Mendes Júnior,

decorrentes da Ação Civil Pública nº 500.95-57.2015.4.04.7000/PR e da Medida

Cautelar nº 5016517-70.2015.4.04.7000/PR. A Credora requereu também

informações do Administrador Judicial sobre as perspectivas de levantamento e

utilização dos recursos bloqueados no soerguimento da empresa devedora. E, ao

20

fim, argumentou a necessidade de que fossem apuradas as informações prestadas

pelo DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), pelas Seções

Judiciárias da Justiça Federal, pelos Ministérios Públicos Estaduais e demais entes

relacionados aos bloqueios. Novamente demonstra a Credora e seus representantes

legais desconhecimento dos processos aludidos e do próprio Plano de Recuperação

Judicial apresentado pela Recuperanda.

XLIX. Primeiramente, quanto à retenção de valores relativos às obras

sobre a Rodovia BR/101, trata-se de Projeto executado por Consórcio liderado

pela OAS Engenharia junto ao Departamento Nacional de Infraestrutura de

Transportes (DNIT). Referido Contrato (n. TT-254/2006-00) foi rescindido por

razões de interesse público e conveniência administrativa; mais precisamente pela

morosidade nas desapropriações de áreas estratégicas, por ocupações do MST e pela

não obtenção de licenciamento ambiental (cf. fl. 225 do Apêndice do Plano de

Recuperação Judicial – ANEXO IX).

L. Em face da rescisão contratual, a Recuperanda busca compensação

financeira pelos investimentos feitos e serviços prestados, até então, junto ao DNIT.

Ela mesma já indicou o crédito atinente à obra no Plano de Recuperação

Judicial, conforme fl. 193 do Apêndice do referido Plano (ANEXO X do

presente).

LI. Soma-se a isso o fato de que a Recuperanda contratou a empresa de

consultoria Farrer Sociedade de Consultores para avaliar a liquidez do crédito para fins de

incorporação do mesmo no Plano de Recuperação Judicial. O Parecer Técnico com

o detalhamento de todas as informações acerca do caso consta, como deveria saber

a Credora e seus representantes legais, no próprio Apêndice do Plano de

Recuperação Judicial (fls. 225-227 – ANEXO IX do presente), concluindo

que:

21

“[...] o ressarcimento dos custos adicionais correspondentes a este

item [BDI e Administração Local] encontra-se devidamente

suportado pela legislação aplicável. [...] Demais itens: estes itens

tratam de acréscimo de recursos da Contratada que não foram

solicitados pela Contratante [...] Portanto, não foi considerado

liquido o seu ressarcimento. Nestes termos, ressalvando que a

presente análise não significa que eventuais negociações

administrativas ou ações judiciais ou arbitrais possam chegar a

diferentes conclusões quanto ao mérito e quanto aos valores devidos,

firmamos o presente documento”.

LII. De forma contrária às informações que constam dos autos e dos

contratos mencionados, alega a Credora que teria havido um bloqueio no valor de

R$ 12,5 milhões em desfavor da Recuperanda. Não traz todavia, qualquer

comprovação de sua inferência. Este Administrador Judicial tomou o cuidado de

validar a informação junto à Recuperanda, a qual respondeu afirmando não

haver qualquer bloqueio relativo ao Contrato celebrado com o DNIT (n. TT-

254/2006-00). Nesse ponto, portanto, cabe à Credora, se for o caso, apresentar

os documentos sobre a suposta existência de eventual bloqueio de valores

atinentes à obra da BR/101.

LIII. No que se refere à Ação Civil Pública nº 500.6695-

57.2015.4.04.7000/PR e à Medida Cautelar nº 5016517-70.2015.4.04.7000/PR,

informados pela Credora, cumpre-nos citar, ainda, a Medida Cautelar de

Arresto, também vinculada à referida Ação Civil Pública. Atualmente, o estágio

atual desses autos é o seguinte:

AÇÃO CIVIL DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA:

Nº: 5006695-57.2015.4.04.7000

22

Última movimentação (ANEXO XI): Vista à ré ante o teor da

certidão de juntada da Petição Protocolada de Alegações Finais.

MEDIDA CAUTELAR DE ARRESTO

Nº 5020163-88.2015.4.04.7000

Originário: Nº 5006695-57.2015.4.04.7000 (Ação Originária acima)

Última movimentação(ANEXO XII): Despacho

suspendendo/sobrestando o feito para aguardar o processamento dos

autos principais.

MEDIDA CAUTELAR INOMINADA

Nº 5016517-70.2015.4.04.7000

Originário: Nº 5006628-92.2015.4.04.7000 (Ação Originária acima)

Última Movimentação (ANEXO XIII): Decurso de prazo para

manifestação da parte Requerida.

LIV. A Credora faz menção à constrição judicial determinada no

processo de Medida Cautelar de Arresto no valor de R$137.526.767,64 e aproveita

para frisar, novamente, que seria dever do Administrador Judicial reportar sobre os

feitos. Esquece-se, contudo, de alguns pontos de suma importância, reveladores, no

mínimo, do desconhecimento técnico de seus patronos.

LV. Em primeira análise, deve ser citada a decisão da 3ª Vara Federal

de Curitiba homologando a satisfação da medida constritiva de urgência

(ANEXO XIV) a partir da indisponibilidade de crédito a ser recebido pela Mendes

Junior Engenharia S.A. (empresa do Grupo Mendes Jr.) nos autos n.

2005.61.0006773-7, em trâmite na 13ª Vara Federal de São Paulo, no valor parcial de

R$ 98.750.944,18 (noventa e oito milhões, setecentos e cinquenta mil, novecentos e

quarenta e quartro reais e dezoito centavos), cujo movimento processual é

igualmente anexado (ANEXO XV).

23

LVI. Soma-se a isso o disposto à fl. 151 do Plano de Recuperação

Judicial (ANEXO XVI), na qual consta que, por meio de cessão realizada no dia

31/05/2008, a Recuperanda se tornou titular de parte do crédito originário da

ação ajuizada pela Mendes Junior Engenharia S.A. contra a Ferrovia Paulista

S.A. (FEPASA) no processo n. 2005.61.0006773-7 em trâmite perante a Justiça

Federal de São Paulo (cf. ANEXO XV).

LVII. Em segunda análise, a própria Recuperanda já teve a oportunidade

de se manifestar expressamente sobre a questão no item 2.4.1 do Plano de

Recuperação Judicial (fl. 13 – ANEXO XVII do presente), como bem deveria

saber a Credora e seus representantes:

“Para garantir eventual condenação na Ação Judicial de

Improbidade Administrativa n. 5006695-57.2015.4.04.7000, em

trâmite perante a 3ª Vara Federal da Seção Judiciária de Curitiba, a

MJTE ofereceu em juízo o ativo jurídico decorrente de ação judicial

(Crédito FEPASA), o qual foi devidamente penhorado e, portanto,

indisponível a outros fins”.

LVIII. Conclui-se, portanto, que o referido ativo encontra-se

penhorado para suportar eventual condenação, não havendo, em princípio,

implicação deste bloqueio na execução do Plano apresentado pela

Recuperanda.

LIX. Esperando ter esclarecido adequadamente a esse d. Juízo as

questões levantadas pela Credora, verifica-se, portanto, que não procedem as

informações por ela trazidas aos autos, bem como descabidas as medidas e

providências por ela requeridas junto ao Administrador Judicial.

24

(E) Arena Pantanal:

LX. Também requereu a Autora esclarecimentos sobre eventuais

impactos/reflexos no patrimônio da Mendes Jr. e em seu Plano de Recuperação

Judicial, decorrentes do relatório financeiro realizado pela SECID/MT (Secretaria

de Estado das Cidades), Controladoria Geral do Estado (CGE), Procuradoria Geral

do Estado (PGE), Tribunal de Contas de Mato Grosso (TCE), Ministérios Públicos

Estadual (MPE) e de Contas (MPC), Conselhos Regionais de Arquitetura e

Urbanismo (CAU/MT) e de Engenharia e Agronomia (CREA/MT). Referido

Relatório teria apontado o dever da Mendes Jr. de ressarcir o Estado do Mato

Grosso em R$17.861.129,55 (dezessete milhões, oitocentos e sessenta e um mil,

cento e vinte e nove reais e cinquenta e cinco centavos), relativos às obras da Arena

Pantanal.

LXI. Mais precisamente, faz referência a Credora sobre a Ação Civil

Pública proposta pelo Ministério Público do Estado de Mato Grosso (n. 22055-

77.2016.811.0041 – ANEXO XVIII) e pelo Estado do Mato Grosso para que a

Recuperanda fosse condenada, no âmbito das obras da Arena Pantanal, à

recuperação, correção, remoção, reconstrução, substituição ou fornecimento, no

todo ou em parte, de todos os itens e objetos em que se verificarem vícios, defeitos,

incorreções ou omissões. O Relatório mencionado pela Credora assenta-se no

parecer técnico-descritivo elaborado por entidades como a SECID, a CGE, a PGE,

o TCE, o MPE, o MPC, o CAU e o CREA do Estado do Mato Grosso apontando

as falhas e vícios encontrados durante as obras do estádio.

LXII. No processo, foi deferida tutela de urgência determinando que a

Recuperanda iniciasse, no prazo de 15 (quinze) dias, as obras restaurativas às suas

próprias expensas, sob pena de bloqueio de valor correspondente, na realidade, a

25

R$28.578.917,89 (vinte e oito milhões, quinhentos e setenta e oito mil, novecentos e

dezessete reais e oitenta e nove centavos).

LXIII. Desconhece a Credora e seus representantes que, dessa decisão,

foi interposto Agravo de Instrumento pela Recuperanda ao Tribunal de

Justiça do Estado do Mato Grosso (n. 100.2395-09.2016.8.11.0000) – ANEXO

XIX), ao qual foi negado efeito suspensivo. Nesse recurso, a Recuperanda

argumentou a necessidade de se chamar ao processo a empresa CONCREMAT

Engenharia e Tecnologia S/A, bem como as demais sociedades que participaram da

entrega provisória da obra Arena Pantanal para verificação e apuração das

responsabilidades. Ato contínuo, após a apresentação do Agravo junto ao d. Juízo a

quo, a decisão da liminar determinando a realização de obras restaurativas foi

revogada, não havendo, até o presente momento, constrição do patrimônio

da Recuperanda no referido processo. Determinou-se, ainda, o aditamento da

exordial para incluir no pólo passivo as empresas que participaram da entrega

provisória das obras da Arena Pantanal e ali prestaram serviços.

LXIV. Recentemente, foi aberta vista ao MP para apresentação de

parecer. Contudo, o processo encontra-se concluso desde 09/02/2017

(conforme ANEXO XVIII). Nesse sentido, esclareça-se que a discussão relativa

às obras da Arena Pantanal encontra-se sub judice, não havendo,

diferentemente do que sugere a Credora, restrição patrimonial sobre bens e

ativos da Recuperanda. Na medida em que inexistente restrição patrimonial,

descabida é a inferência de que essa discussão teria impactado o Plano de

Recuperação Judicial apresentado pela Recuperanda, ou, ainda, seu fluxo de caixa.

26

(F) Comissão de Valores Mobiliários:

LXV. Neste quesito, a Credora entende ser de extrema importância a

intimação da Administração Judicial para se manifestar sobre eventuais informações

prestadas à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Requereu, assim, seja expedido

ofício à entidade solicitando informações sobre eventuais procedimentos

administrativos que envolvam a Mendes Jr., “tendo em vista o histórico de prática de

atos ilícitos na gestão da empresa em recuperação judicial”. A Credora suscitou, a

título de exemplo, a punição imposta pela CVM a diretores da Recuperanda no

Processo Administrativo Sancionador n. 14/2009, que reconheceu o “fechamento

branco de capital” da empresa Mendes Junior Engenharia S.A. e o esvaziamento de

seu potencial de geração de riquezas em favor da coligada, Mendes Junior Trading e

Engenharia S.A. Requereu, finalmente, que a Administradora Judicial fosse intimada

a se manifestar sobre o resultado da avaliação do patrimônio da Recuperanda.

LXVI. A esse respeito, cabe-nos, preliminarmente, recordar que a

Mendes Junior Trading e Engenharia S.A., ora Recuperanda, é uma

sociedade anônima de capital fechado (conforme ANEXO XX). Nesse sentido,

naturalmente deveriam estar cientes os representantes da Credora de que a

Recuperanda não se sujeita ao regime regulatório da CVM, porquanto não é apta a

ofertar publicamente títulos e valores mobiliários no mercado de capitais. Isso para

dizer que, em princípio, não cumpre à Recuperanda ou dela exigir a prestação

de declarações perante a agência reguladora.

LXVII. Lado outro, o legislador foi claro ao delimitar o regime de

competência da CVM a partir dos arts. 1º, 2º, 4º e 19 da Lei n. 6.385/1976. A leitura

dos dispositivos normativos citados mostra que a fiscalização da agência reguladora

reserva-se às operações ou aos agentes que conduzam atividades de transferência e

circulação de títulos e valores mobiliários.

27

LXVIII. Esse não é o caso da Recuperanda. Sua natureza jurídica a

impossibilita de promover operações dessa natureza de forma que não lhe cabe

prestar informações à CVM sobre suas atividades e sobre a sua dinâmica financeira.

LXIX. No mérito da questão, a Credora faz alusão ao Processo

Administrativo Sancionador n. 14/2009 (conforme ANEXO XXI), atinente à

“apuração de responsabilidade dos administradores e da controladora da Mendes

Junior Engenharia S.A. (“MJ Engenharia”) por irregularidades cometidas em relação

às operações realizadas junto à Mendes Junior Trading e Engenharia S.A.”

(Recuperanda). Essas irregularidades consistiriam na (i) cessão de tecnologia e de

atividades operacionais da MJ Engenharia para a Recuperanda; (ii) no comodato de

equipamentos entre a MJ Engenharia para a Recuperanda; (iii) na paralisação das

atividades operacionais da MJ Engenharia; (iv) na redução da participação da MJ

Engenharia no capital social da Recuperanda; (v) na constatação de condutas

irregulares por parte da controladora (“Edificadora S.A.”) da MJ Engenharia, que

não teria atendido lealmente os interesses da Companhia; (vi) na ausência de

publicação de fatos relevantes pela MJ Engenharia; e (vii) na ausência de divulgação

de informações financeiras acompanhadas de notas explicativas.

LXX. Em breve síntese, a MJ Engenharia celebrou junto à Recuperanda

Contrato de Cessão de Tecnologia e Assistência Técnica, em 1996, e Contrato de

Comodato Modal de Equipamentos, em 1998. O objetivo, de acordo com a

apuração feita no processo administrativo, era de “dotar as companhias de

engenharia do grupo Mendes Júnior das mesmas qualificações operacionais e

profissionais, capacitando-as para participarem de eventos similares”. O pagamento

referente ao uso da tecnologia seria feito a cada seis meses e teria como base um

percentual a ser definido entre as empresas, projeto a projeto. Já a cessão dos

equipamentos, máquinas e instrumentos seria feita de forma gratuita, cabendo à

28

Recuperanda tão somente zelar por sua preservação.

LXXI. Merece destaque o memorial apresentado pelos advogados

Nelson Eizirik e Norma Parente a respeito da referida operação, sobre a qual

concluíram os ilustres pareceristas que:

i) o objetivo da operação de transferência de tecnologia era permitir

a continuidade das atividades operacionais da MJ Engenharia por

meio de outra sociedade do grupo Mendes Júnior, já que a sua

situação econômico-financeira a impedia de participar de licitações

de obras públicas (fl. 1.202);

ii) a transferência de know-how tecnológico para concorrer com as

demais empresas do ramo possibilitava a sua participação em

licitações, além do fato de que o know-how cedido era a mesma

equipe técnica da MJ Engenharia, cuja capacidade na área de

engenharia seria mundialmente reconhecida, o que representaria um

fator de segurança e credibilidade para a MJ Trading;

iii) a operação, isto é, a transferência de know-how tecnológico para

a MJ Trading, mostrava-se vantajosa para a MJ Engenharia, que se

encontrava com suas operações praticamente paralisadas em virtude

de não possuir os documentos necessários para atender ao requisito

de regularidade fiscal, indispensável para participar de licitações;

iv) a MJ Engenharia teria direito ao recebimento de dividendos

distribuídos pela MJ Trading na proporção de sua participação no

capital social, 13%;

v) a operação analisada não constituiria investimento relevante para

a MJ Engenharia, uma vez que representava apenas 1,4% do seu

patrimônio líquido; e

29

vi) os administradores da MJ Engenharia não teriam se omitido no

cumprimento do seu dever de diligência e defesa dos interesses

sociais, visto que os bens transferidos foram devidamente avaliados

por empresa independente e especializada que aferiu o valor

econômico da tecnologia em serviços de engenharia transferidos à

MJ Trading.

LXXII. A despeito das considerações técnicas dos pareceristas, a

acusação criticou o Laudo Técnico que mensurou o valor econômico do know-how

transacionado, bem como afirmou que, por se tratar de operações entre partes

relacionadas, “era de se esperar dos administradores da MJ Engenharia uma postura

ativamente comprometida com a defesa dos interesses da companhia”, o que não teria

ocorrido.

LXXIII. São acusados no referido processo administrativo o Sr. Alberto

Laborne Valle Mendes; o Sr. Ângelo Marcus de Lima Cota; o Sr. Jefferson

Eustáquio, o Sr. Jésus Murillo Valle Mendes; e a empresa Edificadora S.A.

(controladora da MJ Engenharia e também da Recuperanda).

LXXIV. Em decisão do Colegiado da CVM (cf. Anexo XXI), decidiu-se,

quanto ao Processo Administrativo Sancionador n. 14/2009, o seguinte:

1. No caso da Transferência de Tecnologia:

1.1. Aplicar aos acusados Jésus Murillo Valle Mendes e Alberto

Laborne Valle Mendes , na qualidade de membros do conselho de

administração da MJ Engenharia, a pena de inabilitação por três

anos, para CAD a um, para o exercício de cargo de administração em

companhia aberta, por infração ao art. 155, caput e inciso II, da Lei

nº 6.404/76, por sua responsabilidade na aprovação, na AGE, de

30

Laudo contratado;

1.2. Aplicar à Edificadora S.A. , na qualidade de controla dora da MJ

Engenharia, a pena de multa no valor de R$300.000,00 por infração

ao art. 116, parágrafo único, da Lei nº 6.404/76, por sua

responsabilidade ao aprovar o Laudo na AGE da MJ Trading;

1.3. Aplicar aos acusados Jésus Murillo Valle Mendes e Ângelo

Marcus de Lima Cota, na qualidade de diretores da MJ Engenharia, a

pena de multa individual no valor de R$500.000,000, por infração ao

art. 154, caput, e §2º, alínea “a”, da Lei nº 6.404/76, por ato de

liberalidade ao firmar o Contrato de Comodato em nome da

Companhia;

1.4. Aplicar aos acusados Jésus Murillo Valle Mendes , Ângelo

Marcus de Lima Cota e Jefferson Eustáquio, a pena de multa

individual no valor de R$200.000,000, por infração ao art. 177, §3º,

da Lei nº 6.404, de 1976, c/c a Deliberação CVM nº 26, de 1986, pela

não divulgação do Contrato de Comodato nas notas explicativas das

demonstrações financeiras referentes ao exercício social em que o

contrato foi firmado; e

1.5. Aplicar ao acusado Ângelo Marcus de Lima Cota, na qualidade

de diretor de relações com o mercado, a pena de multa no valor de

R$200.000,00 por infração ao art. 2º, §1º, da Instrução CVM nº 31,

de 1984, pela não divulgação de fato relevante informando a

Transferência de Tecnologia e a celebração do Contrato de

Comodato.

2. No caso da Diluição de Participação:

2.1. Absolver o acusado Jésus Murillo Valle Mendes da acusação de

infração ao art. 155, caput, e inciso II, da Lei nº 6.404/76; e

31

2.2. Absolver a Edificadora S.A. da acusação de infração ao art. 116,

parágrafo único, da Lei nº 6.404/76.

LXXV. Embora nos pareça uma conclusão óbvia, cabe salientar que o

processo administrativo em comento não é afeto às atividades desenvolvidas

ou a irregularidades praticadas pela Recuperanda no mercado de capitais –

mesmo porque, reitere-se, sua natureza não lhe permitiria atuar nesse segmento. A

própria CVM reconheceu a sua incompetência para apurar irregularidades

eventualmente cometidas pela Recuperanda (fls. 14 do Processo

Administrativo – cf. ANEXO XXI). Foram condenados, na realidade, empresas

que atuam no mercado de capitais (são, naturalmente, companhias abertas) e seus

administradores (pessoas físicas). Em verdade, a Recuperanda é terceira

interessada no processo, na medida em que teria sido beneficiada pela

transferência de tecnologia, de atividades operacionais, e de equipamentos de

propriedade da MJ Engenharia.

LXXVI. Isto posto, entende o Administrador Judicial que não compete

à Recuperanda prestar informações perante a CVM, tampouco que se deva

expedir ofício à agência reguladora “solicitando informações sobre procedimentos

administrativos que envolvam a Mendes Jr.”. Incabível se pensar de outra forma

quando se tem ciência do regime e da natureza jurídica da Recuperanda.

LXXVII. Finalmente, quanto ao requerimento da Credora no sentido de

ser o Administrador Judicial intimado a se manifestar sobre o resultado da avaliação

do patrimônio “prévio” da Recuperanda em comparação com o “atual”, valem aqui

as ressalvas já feitas nos autos e nesta petição a respeito das Contas Demonstrativas

Mensais. Entende o Administrador Judicial que a documentação contábil

acostada aos autos pela Recuperanda é insuficiente de acordo com as

32

normas societárias e contábeis aplicáveis, entendimento endossado pelo I.

Promotor de Justiça. Por esse motivo, o Administrador Judicial já solicitou

formalmente nos autos à Recuperanda que a documentação seja complementada,

tendo, inclusive e às suas próprias expensas, contratado os serviços do Escritório de

Perícia Especializada A.F. Peritos Associados para analisar, por 02 (duas)

oportunidades, as contas demonstrativas mensais apresentadas pela Recuperanda até

então.

(G) Repatriação de Ativos:

LXXVIII. A Credora sugere a existência de ativos da Recuperanda no

exterior e a possibilidade de adesão da empresa ao Regime Especial de Regularização

Cambial e Tributária de bens mantidos no exterior. Critica, então, a suposta inércia do

Administrador Judicial a esse respeito, dizendo se tratar de obrigação prevista no art.

22, I, “b” e II, “a” da Lei 11.101/2005. Requereu, ao final, a intimação do

Administrador Judicial e do Ministério Público Estadual e Federal para informar e

documentar as implicações da repatriação desses bens e ativos para o processo de

Recuperação Judicial.

LXXIX. Embora a Credora e seus representantes tenham se valido de

um tom notadamente genérico para apresentar seus argumentos e requerimentos em

toda a petição, este ponto em específico causa-nos particular estranhamento. A

Credora afirma e pressupõe a existência de bens da Recuperanda no exterior,

mas se furta de qualquer detalhamento mínimo a esse respeito. E, com base

em assertivas levianas, alega e sustenta a suposta passividade do Administrador

Judicial e do Ministério Público.

LXXX. Não se sabe se por leviandade ou por desconhecimento, a

33

Credora ainda postula que as informações sobre a existência de bens no exterior são

abrangidas no rol de atribuições do Administrador Judicial definidas no art. 22, I,

“b” e II, “a” da Lei 11.101/2005, o qual é expressamente transcrito abaixo:

Art. 22. Ao administrador judicial compete, sob a fiscalização

do juiz e do Comitê, além de outros deveres que esta Lei lhe

impõe:

I – na recuperação judicial e na falência:

b) fornecer, com presteza, todas as informações pedidas pelos

credores interessados;

II – na recuperação judicial:

a) fiscalizar as atividades do devedor e o cumprimento do plano

de recuperação judicial;

LXXXI. Não é demais lembrar que a Credora em nenhum momento

ao longo do iter processual se manifestou ou solicitou qualquer

esclarecimento perante o Administrador Judicial. Não obstante, utiliza o

presente expediente para criticar a fiscalização e o acompanhamento até então feitos

pelo Administrador Judicial e pelo Ministério Público.

LXXXII. Para bem apurar a eventual existência de bens no exterior e a

possibilidade de adesão da empresa ao Regime Especial de Regularização Cambial e

Tributária, necessária é a análise das Contas Demonstrativas Mensais e demais

documentos contábeis apresentados pela Recuperanda. Contudo, ressalte-se uma

vez mais, foram apresentados apenas balanços e balancetes sintéticos nos autos,

sobre os quais o Administrador Judicial e o próprio Ministério Público já se

manifestaram contrariamente. Como já reiterado no presente expediente, o

Administrador Judicial já teve a oportunidade de alertar a insuficiência da

documentação apresentada, sustentando a necessidade de sua complementação pela

Recuperanda.

LXXXIII. Nas análises conduzidas pelo Administrador Judicial sobre a

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documentação que consta dos autos, as quais foram acompanhadas de pareceres

técnicos da empresa A.F. Peritos, não se verificou a existência de bens ou ativos

no exterior em nome da Recuperanda, tampouco de obras ou atividades

promovidas pela Recuperanda em outros países. Portanto, não se entende

justificável, com base na documentação contábil a que teve acesso o Administrador

Judicial, até o presente momento, a adesão da Recuperanda ao Regime Especial de

Regularização Cambial e Tributária.

LXXXIV. Por óbvio, outra situação seria se tivéssemos acesso às Contas

Demonstrativas Mensais detalhadas da Recuperanda ou, ainda, se tivéssemos notícia

da existência de bens e ativos da Recuperanda no exterior. Nesse ínterim, e tendo

em vista as assertivas feitas nos autos pela Credora, sugere-se com toda a vênia que

faz merecer esse d. Juízo reiterar a determinação à Recuperanda para adequar

as Contas apresentadas até então de forma a propiciar a apuração de mais

informações pelo Administrador Judicial.

IV. CONSIDERAÇÕES FINAIS

LXXXV. Visando bem cumprir os encargos que lhe foram atribuídos a

partir da sua nomeação pelo d. Juízo da 1ª Vara Empresarial da Capital nos autos da

Recuperação Judicial da Mendes Junior Trading e Engenharia S.A., espera este

Administrador Judicial ter atendido aos questionamentos suscitados e, em assim

tendo, requerer-se o arquivamento do feito.

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LXXXVI. Naturalmente, o Administrador Judicial mantém todos os seus

contatos (incluindo o Espaço do Credor website e app) disponíveis, como sempre

estiveram, para que a Credora possa deles se valer para se dirigir pessoalmente ou

apresentar quaisquer indagações.

LXXXVII. A presente petição visou bem esclarecer todos os pontos

aludidos pela Credora e seus representantes legais, mas, sobretudo, demonstrar que

o trabalho que vem sendo desenvolvido pelo Administrador Judicial ao longo de

toda a Recuperação Judicial é sério e digno da confiança dessa i. Magistrada.

Neste termos, pede deferimento.

Belo Horizonte, 30 de março de 2017.

___________________________________________ NEMER & GUIMARÃES ADVOGADOS ASSOCIADOS

MARIA CELESTE MORAIS GUIMARÃES OAB/MG 37.745

Administrador Judicial da Mendes Junior Trading e Engenharia S.A.