26
1 MAPAS CONCEITUAIS E A TRANSFORMAÇAO DE OBJETOS TÉCNICOS EM EQUIPAMENTOS GERADORES: subsídios para a aprendizagem significativa Sandra Mara Elias Gomes da Silva * João Amadeus Pereira Alves ** RESUMO O objetivo deste texto consiste em apresentar à comunidade de professores, em especial para a de Física, um trabalho desenvolvido junto a alunos do segundo ano do Ensino Médio. Este trabalho foi realizado no primeiro semestre do ano de 2008 e esteve atrelado ao Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), proposto pela Secretaria de Educação do Estado do Paraná (SEED-PR). A relevância desse trabalho se deu por investigar como o uso de objetos técnicos transformados em equipamentos geradores e associados ao recurso de mapas conceituais, potencializa uma aprendizagem significativa em Física na temática Termodinâmica. Outro ponto em que se procurou avançar foi o trabalho integrado entre professores, onde cada profissional, em sua área de conhecimento, buscou contribuir para o seu próprio entendimento sobre o tema gerador, a partir do estudo do gás utilizado no funcionamento do objeto técnico (refrigerador) ,foi socializado o conhecimento utilizando-se das relações sócio-ambientais A preocupação durante o desenvolvimento do trabalho se ateve muito à observação sobre o sentido que a Física teria para o aluno, bem como a reação deste quanto a metodologia utilizada. As observações diretas e indiretas registradas em diário de campo e em fotos, as análises e as limitações encontradas nessa pesquisa, mostram a necessidade de novas metodologias, sem descartar a necessidade da fixação. Observou-se também que mesmo se utilizando de uma nova metodologia, há a necessidade de aulas em que o aluno fixe o aprendizado por meio de resolução de problemas, utilizando-se das equações. Palavras – chave: Aprendizagem significativa.Objetos técnicos.Mapas conceituais. Relações sócio-ambientais. 1 *Professora PDE(2007) do Quadro Efetivo do Governo do Estado do Paraná.Graduada em Matemática(UEPG, 1991) E-mail: [email protected] **Professor Orientador da Universidade Estadual de Ponta Grossa.Graduado em Licenciatura em Física

MAPAS CONCEITUAIS E A TRANSFORMAÇAO DE OBJETOS … · equipamentos geradores, bem como no uso do recurso dos mapas conceituais. A tecnologia, presente na sociedade e influente nesta,

  • Upload
    lamminh

  • View
    215

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

1

MAPAS CONCEITUAIS E A TRANSFORMAÇAO DE OBJETOS TÉCNICOS EM

EQUIPAMENTOS GERADORES: subsídios para a aprendizagem significativa

Sandra Mara Elias Gomes da Silva *

João Amadeus Pereira Alves **

RESUMO

O objetivo deste texto consiste em apresentar à comunidade de professores, em especial para a de

Física, um trabalho desenvolvido junto a alunos do segundo ano do Ensino Médio. Este trabalho foi

realizado no primeiro semestre do ano de 2008 e esteve atrelado ao Programa de Desenvolvimento

Educacional (PDE), proposto pela Secretaria de Educação do Estado do Paraná (SEED-PR). A

relevância desse trabalho se deu por investigar como o uso de objetos técnicos transformados em

equipamentos geradores e associados ao recurso de mapas conceituais, potencializa uma

aprendizagem significativa em Física na temática Termodinâmica. Outro ponto em que se procurou

avançar foi o trabalho integrado entre professores, onde cada profissional, em sua área de

conhecimento, buscou contribuir para o seu próprio entendimento sobre o tema gerador, a partir do

estudo do gás utilizado no funcionamento do objeto técnico (refrigerador) ,foi socializado o

conhecimento utilizando-se das relações sócio-ambientais A preocupação durante o

desenvolvimento do trabalho se ateve muito à observação sobre o sentido que a Física teria para o

aluno, bem como a reação deste quanto a metodologia utilizada. As observações diretas e indiretas

registradas em diário de campo e em fotos, as análises e as limitações encontradas nessa

pesquisa, mostram a necessidade de novas metodologias, sem descartar a necessidade da fixação.

Observou-se também que mesmo se utilizando de uma nova metodologia, há a necessidade de

aulas em que o aluno fixe o aprendizado por meio de resolução de problemas, utilizando-se das

equações.

Palavras – chave: Aprendizagem significativa.Objetos técnicos.Mapas conceituais.

Relações sócio-ambientais.

1

*Professora PDE(2007) do Quadro Efetivo do Governo do Estado do Paraná.Graduada em Matemática(UEPG, 1991) E-mail:

[email protected] **Professor Orientador da Universidade Estadual de Ponta Grossa.Graduado em Licenciatura em Física

2

ABSTRACT

The aim of this paper is to present to the teacher’s community, especially for the physics one, a work

developed with high school students. This work was made in the first semester of 2008 and it was

tied to the Educational Development Program (EDP), proposed by the Educational Secretary of the

Parana (SEED-PR). The relevance of this work was given by the investigation of how the use of

technical objects transformed in generator’s equipment and associated to the use of conceptual

maps, enhances a significant learning in physics, in the Thermodynamics Thematic. Another point

that was tried to advance was the integrated work between teachers where each professional in your

area of expertise sought to contribute for their own understanding on the generator theme, from the

study of the used gas in the operation of the technical object (refrigerator), it was socialized the

knowledge using socio-environmental relations. The concern over the development of the work was

related to the observation about the meaning that the Physics would have for the student, as well as

the reaction of the student about the new methodology. The direct and indirect observations

recorded in the daily field and in the photos, the analyzes and the limitations found in the research,

shows the necessity of new methodologies, without dispose the fixation necessity. It was also

observed that, even if use a new methodology, there is a need for classes in which the student sets

the learning through the resolution of problems, using equations

(UEPG, 1998), mestre (UNESP, 2005) e doutorando em Educação para a Ciência (UNESP-FC-Bauru/SP). E-mail: [email protected]

3

INTRODUÇÃO

A experiência profissional dos autores deste trabalho permite-lhes afirmar

que a prática pedagógica dominante em nossas escolas, particularmente na

disciplina de Física, está baseada na memorização de leis e princípios físicos, na

resolução de problemas a partir de equações, fazendo com que o aluno apenas

reproduza aquilo que lhe foi apresentado, não despertando a curiosidade científica

e a criatividade, deixando de lado a formação do aluno como um cidadão crítico.

Com essa condução, a aprendizagem “obtida” é fragmentada e, isto gera

entendimentos distorcidos sobre o mundo. Dessa forma, a Física escolar como

disciplina é entendida pelos estudantes como uma decorrente de uma ciência de

difícil compreensão, pois dela se exige um nível de raciocínio elevado, calcado na

abstração tão somente. Desse modo, o entendimento dos seus conceitos é

visualizado (o que não significa que é aprendido) segundo conhecimentos físicos

distantes do mundo vivencial dos estudantes.

Aliado a essa problemática há outra: a baixa carga horária reduzida na

última década (de 3 para 2 horas-aula na maioria das escolas do país), mesmo que

as orientações das instâncias superiores não reorientem os currículos. Permanece

ainda um vasto elenco de conteúdos. Outro fato que corrobora com isso refere-se à

existência de grande parcela da população estudantil que encerra seus estudos

formais no Ensino Médio, pelo desencanto com a escola e/ou pela necessidade de

se iniciar ou imergir ainda mais no mercado de trabalho. Assim, a Física, como

ciência bem articulada com o mundo tecnológico pouco tem contribuído nessa

direção no Ensino Médio.

O projeto de intervenção em foco neste trabalho tinha como objetivo avaliar

uma experiência destinada a contribuir para a mudança do quadro acima descrito.

Ele foi desenvolvido em um colégio da rede pública de ensino do Estado do

Paraná, atrelado ao Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), concebido

pela Secretaria de Educação desse Estado (SEED-PR), com sustentação da

Secretaria de Ciência e Tecnologia (SETI-PR). A proposição desse trabalho

4

aconteceu a partir do professor participante do PDE (1º autor), com orientação de

outro professor (2º autor), este último docente da Universidade Estadual de Ponta

Grossa (UEPG).

No trabalho desenvolvido na escola, do qual originou este texto, a utilização

de objetos técnicos com a perspectiva de transformação desses em equipamentos

geradores de aprendizagem (MION, 2001), se apresentou como a diretriz

metodológica apropriada para viabilizar uma aprendizagem significativa em Física

(MOREIRA, 2006), especificamente na temática Termodinâmica. Para tanto, o

recurso estrutural oriundo dos mapas conceituais se mostrou, a nosso ver, como

potencialmente capaz de orientar o ensino da Física, principalmente quanto à

organização e sistematização dos conceitos físicos pelos alunos.

Sabe-se que para que se tenha uma aprendizagem significativa do novo

conteúdo aprendido é preciso que haja uma relação do desenvolvimento da aula

com o conhecimento prévio do aluno (denominado subsunçor), e particularmente

no ensino da Física é imperativo que haja articulação entre os conceitos físicos e o

mundo vivencial dos envolvidos – alunos e professor.

Muitos trabalhos, realizados no Brasil e no exterior, apresentam a

preocupação, mas, sobretudo, mostram a possibilidade e a viabilidade pedagógicas

de se ensinar Física de modo que ela se torne significativa, mesmo que não

expressem fundamentos nas autoridades da teoria da Aprendizagem Significativa

ou Significante, como David Ausubel (Universidade de Columbia, EUA), Joseph

Novak (Universidade de Cornell, EUA) e Marco Antonio Moreira (UFRGS, Brasil).

Entre as produções/trabalhos que são salientes quanto a uma orientação

que vá ao encontro do que se objetiva para uma aprendizagem significativa, dois

deles são objetos de reflexão e intervenção para o trabalho que culminou com o

presente texto, a saber: o projeto do Grupo de Reelaboração do Ensino de Física

(GREF, integrado pelo Instituto de Física e pela Faculdade de Educação, da

Universidade de São Paulo, com a participação de professores da Secretaria de

Educação do Estado de São Paulo – na década de 1980) e os trabalhos de Glen S.

Aikenhead, no Canadá, nos estudos Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS), os

quais foram utilizados como objetos de reflexão e intervenção.

O desenvolvimento do trabalho utilizando o recurso metodológico dos mapas

conceituais (a partir dos trabalhos de Joseph Novak e Marco Antonio Moreira), bem

como a concepção de trabalho docente na perspectiva de transformação de

5

objetos técnicos na transformação desses em equipamentos geradores [a partir de

trabalhos de De Bastos (1995) e Angotti e Mion (2001)], foi potencializado na sala

de aula na referida intervenção, com o objetivo de gerar uma aprendizagem

significativa da Física, permitindo aos alunos a apreensão de conceitos, leis e

teorias físicas a partir do entendimento e da análise crítica do próprio mundo

vivencial. Além disso, já podemos inferir que os objetos técnicos permitem uma

ampla discussão sobre o impacto da tecnologia na sociedade seus aspectos

construtivos e destrutivos, possibilitando fazer a relação ciência, tecnologia,

sociedade e ambiente.

Como forma de fazer com que os demais professores da referida turma se

envolvessem na intervenção em questão devolveu-se um projeto interdisciplinar,

sobre o qual algumas questões ambientais foram focalizadas em todas as

disciplinas da grade curricular. Neste texto é apresentado o andamento da

pesquisa sobre como os objetos técnicos e os mapas conceituais podem

potencializar uma aprendizagem significativa no ensino da Física. A seção 1 mostra

a fundamentação teórica acerca das ferramentas (objetos técnicos e mapas

conceituais e aprendizagem significativa). A seção 2 mostra a intervenção, ou seja

a ação propositiva, os sujeitos envolvidos, a descrição do trabalho e os seus

alcances. A seção 3 contempla os obstáculos enfrentados e a busca de possíveis

soluções. A seção 4 contém a análise dos dados coletados. A seção 5 contempla

as considerações finais e, finalmente, na seção 6 são apresentadas as referências.

1.INSTRUMENTAIS TEÓRICOS: POTENCIALIZANDO O ENSINO DE FÍSICA

Como já foi citado torna-se urgente atualizar o que e como se ensina nos

estabelecimentos educacionais, de modo que os saberes escolares sejam

pertinentes para a formação do aluno e a consolidação da escola. Para isso

precisamos utilizar elementos potencialmente significativos, que neste trabalho, se

fundamentam na utilização de objetos técnicos na transformação deles em

equipamentos geradores, bem como no uso do recurso dos mapas conceituais.

A tecnologia, presente na sociedade e influente nesta, possui estreitas

relações com a ciência. Diante disto, ela pode ser entendida como intrinsecamente

envolvida ao processo de pesquisa, desenvolvimento e produção de novos

6

artefatos. Estes, por sua vez permitem melhor o desenvolvimento do conhecimento

científico. Esta relação que forma uma via de duplo sentido entre Ciência e

Tecnologia (C&T) carece de ser tratada didaticamente no ensino de Física, em

favor de uma aprendizagem significativa desta.

Entendemos que o aluno traz para a escola alguns saberes, necessários e

significativos ao desenvolvimento da prática docente em Física. Mas são saberes

que necessitam ser explicitados por eles, na relação dialógica com o professor, de

modo que este os problematize, colocando esses saberes frente a frente com

referentes científicos da Física. Assim, sobre esses saberes se faz a análise e se

reformula o pensar quando isto se faz necessário – o que geralmente necessita

ocorrer. Na verdade, pensado pela teoria da Aprendizagem Significativa, este

trabalho docente diz respeito à busca pelos subsunçores (MOREIRA, 1999), para

que se inicie um trabalho em favor da aprendizagem significante. Segundo Ausubel

(1978, p. 41), “[...] o fator isolado mais importante que influencia a aprendizagem é

aquilo que o aprendiz já sabe [...]”.

Em contraposição a aprendizagem significativa há a aprendizagem

mecânica, que segundo Tavares (2007) é aquela em que as novas informações

são memorizadas de maneira arbitrária, literal, não significativa. Esse tipo de

aprendizagem bastante utilizada nas escolas serve para “passar” nas avaliações,

mas tem pouca retenção, não requer compreensão e não dá conta das situações

novas. Porém, para que o significado seja potencial e, por isso, possa proporcionar

uma aprendizagem significativa, são necessários dois pré-requisitos, conforme

descrição a seguir:

O primeiro refere-se à natureza do próprio material, cuja logicidade “está na

base de relação arbitrária e substantiva entre o material e as idéias

correspondentes significativas que fazem parte do domínio da inteligência humana”

(AUSUBEL et. al., 1980, p. 41). Ou seja, o significado lógico é aquele que pode ser

percebido por qualquer indivíduo/grupo, apesar de ser incorporado de modo

diferente para cada indivíduo/grupo.

O segundo diz respeito à presença de conteúdo significativo na estrutura

cognitiva do aluno, isto é, depende do conhecimento prévio que, estando presente

na estrutura cognitiva do indivíduo, possibilitará a incorporação do novo material

por meio de relações não arbitrárias e substantivas. Esse conhecimento prévio, ao

7

interagir com o novo conteúdo, modifica-se e torna-se mais abrangente, mais

elaborado e passível de “ancorar” novas informações.

Nessa interação, novos significados surgem como resultado de

aprendizagem significativa e, esta acontece graças a existência do significado

preexistente constituindo, assim, um processo cíclico e contínuo.

O professor desempenha um papel importante para uma aprendizagem

significativa segundo David Ausubel, pois é ele que tem as funções de: organizar

os conteúdos a serem ensinados, partindo do todo, para chegar aos conteúdos

específicos; identificar quais os conhecimentos prévios que o aluno deve ter para

que possa aprender o conteúdo de modo significativo e, ainda, verificar o que o

aluno sabe sobre o conteúdo a ser ensinado, mas caso faltem subsunçores aos

alunos, de uma forma ou de outra, ao professor cabe levar o aluno a adquirir esses

subsunçores. Por outro lado, de nada adiante se o aluno não se dispõe a aprender,

pois: se o indivíduo quiser memorizar o conteúdo arbitrária e literalmente, então a

aprendizagem será mecânica.

Após o retorno de David Ausubel à sua origem de formação, afastando-se

do contexto educacional, Joseph Novak (ex-orientado de Ausubel) assumiu o

desenvolvimento da teoria da aprendizagem significativa. Para Joseph Novak, a

educação é um conjunto de experiências (cognitivas, afetivas e psicomotoras);

enquanto que David Ausubel valorizava mais o aspecto cognitivo que faz com que

a pessoa cresça e se desenvolva como um todo.

Segundo Joseph Novak, os seres humanos fazem três coisas: pensam,

sentem e atuam. Logo, uma teoria de educação para esse autor precisa levar em

conta a pessoa como um todo e não apenas o desenvolvimento cognitivo. E, os

elementos sobre os quais a educação se desenvolve são: aprendiz, professor,

matéria de ensino (conhecimento), contexto e avaliação. Assim, para esse autor a

avaliação permeia os demais elementos, uma vez que o processo de ensino

precisa ser avaliado constantemente. Nesse modo de avaliação, os referidos

elementos entram em cena, em que de modo especial ao professor cabe

compreender como está a sua prática e como o material didático está sendo

potencialmente significativo.

Depois de definida a aprendizagem significativa, bem como sua

importância, conclui-se que no ensino da Física ela é de vital importância, pois

8

esse deve apresentar significado e principalmente deve ser relacionado com o

conhecimento prévio que o aluno traz do seu mundo vivencial.

Para que isto seja possível é preciso que o professor compartilhe

inicialmente com o aluno os significados, trazidos por este, na medida em que as

atividades instrucionais se desenrolem. Devido às constantes interações à iniciação

ao diálogo, o aluno passará também a compartilhar os significados do professor, os

quais necessitam estar afinados com a cientificidade, nem por isso

desconsideradas as questões sociais, políticas, econômicas e éticas.

Neste sentido, os objetos técnicos que se apresentam de modo

incontestável atrelados ao mundo vivencial dos alunos e do professor necessitam

ser pensados como potencialmente capazes de subsidiar e mediar os

conhecimentos em Física em sala de aula. Imaginar como seria a vida e a

sociedade de hoje desprovida do refrigerador, do chuveiro, dos motores, do

computador, da internet, do celular, da TV, do forno de microondas, do DVD, do

computador dentre um cem número de outros produtos é um exercício importante

para se posicionar diante de questões controversas ocasionadas a partir de todo

esse instrumental, tais como: a dependência dos produtos da tecnologia; o conforto

gerado por eles; a comunicação rápida; os méis de transporte rápidos; os alimentos

industrializados; a mudança nas relações de trabalho; a mudança nas relações

pessoais; a poluição e os congestionamentos nos centros urbanos maiores,

acometendo a população com doenças ditas da vida moderna. Situações dessa

natureza não podem ser negligenciadas nas práticas docentes nas escolas, mas

são!

Então, já que esses aparelhos estão presentes em nossa vida porque não

utilizá-los para despertar a curiosidade científica dos estudantes, buscando

soluções a questionamentos relacionados ao dia a dia dos mesmos: como

funcionam as máquinas? Como a energia elétrica chega às residências? Ou ainda,

como o chuveiro elétrico esquenta a água do banho? São todos exemplos de

questionamentos que decorrem de discussões necessárias para entendimento dos

conceitos físicos.

Dessa forma os conceitos científicos e tecnológicos que fazem parte do

mundo-vida dos envolvidos, quando trazidos para a sala de aula têm um papel

relevante no sentido de tornar o ensino da Física significativo, proporcionando

9

grandes possibilidades de discussão. (WINNER, 1987, apud ANGOTTI e MION,

2001, p. 99) revelam:

Causa decepção a noção razoável que herdamos de tempos antigos e

menos complicados: a que divide a gama de possíveis interesses acerca da

tecnologia em duas categorias básicas: fazer e utilizar. [...] Temos a

tendência de pensar de que esta é uma atração para certas pessoas em

determinadas ocupações, porém nada mais. ‘Como funcionam as coisas’ é

o terreno dos inventores, dos técnicos, dos engenheiros, dos mecânicos,

dos mecânicos de reparações etc., quem prepara os instrumentos artificiais

para a atividade humana e os mantém em bom funcionamento. Se pensa

que aqueles que não estão diretamente envolvidos com nenhuma das

diversas esferas do fazer têm pouco interesse ou necessidade de conhecer

os materiais, os princípios ou os procedimentos que incluem ditas esferas.

Assim a citação ainda nos chama a atenção para a necessidade de se

explorar na escola as íntimas relações entre as diferentes esferas que envolvem o

funcionamento dos objetos de origem e dimensão tecnológicas. Entretanto, essa

percepção pelo professor e conseqüente ação demanda da necessidade de um

esforço reflexivo, bem como de conhecimentos teórico-práticos na direção de uma

educação científico-tecnológica.

Segundo Angotti e Mion (2001) inúmeros objetos técnicos podem ser

utilizados de modo a se chegar em equipamentos geradores: com uma lâmpada

incandescente ou fluorescente pode ser estudado (fonte, propagação, efeito joule);

uma garrafa térmica (paredes adiabáticas, isolamento térmico, trocas de calor);

uma máquina fotográfica (imagens, escalas , óticas), um automóvel ou similares

(mecânica e termodinâmica, balanços de massa e de energia); um disco laser e

muitos outros. É fundamental, para tais autores, que se tenha especial atenção

ainda que estes conceitos físicos sejam investigados para poderem ser

relacionados com objeto técnico, o qual deve ser manuseado reflexivamente,

problematizado e investigado para posteriormente ser transformado em

equipamento gerador.

Outra ferramenta utilizada na intervenção são os mapas conceituais,

conforme definição de Moreira (2007) são diagramas indicando relações entre

conceitos, ou entre palavras que usamos para representar conceitos, tais

diagramas não devem ser confundidos com organogramas ou diagramas de fluxo,

10

pois não implicam seqüência, temporalidade ou direcionalidade, nem hierarquias

organizacionais ou de poder. Mapas conceituais são diagramas de significados, de

relações significativas, de hierarquias conceituais.

Para a sua construção são utilizadas setas, figuras geométricas: elipses,

retângulos, círculos; onde os conceitos mais inclusos estão no topo do mapa e os

mais específicos estão na sua base.

Algumas aplicações dos mapas conceituais identificadas por Novak (1999):

exploração do que os alunos já sabem; traçado de um roteiro de ensino (pelo

professor) e de aprendizagem (pelo aluno); a extração de significados de livros

texto; a extração de significados de trabalhos práticos, de campo ou de

investigação; preparação de trabalhos escritos ou de exposições orais.

Acredita-se que a transformação de objetos técnicos em equipamentos

geradores leva a uma aprendizagem significativa da Física, a qual pode ser

percebida por meios dos mapas conceituais construídos.

2. A INTERVENÇÃO: SUJEITOS, DESCRIÇÃO DO TRABALHO E ALCANCES

2.1 - Os sujeitos envolvidos

Os alunos que participaram desse projeto de intervenção são de classe

média baixa, que cursam o segundo ano do Ensino Médio, com faixa etária entre

quinze e vinte anos. A turma composta por trinta e quatro alunos, sendo quinze do

sexo masculino e dezenove do sexo feminino, caracterizando alunos que vão da

adolescência à fase adulta, fator de relevância na análise da intervenção.

Nessa fase de adolescência, sabe-se que o aluno necessita de algo novo,

de práticas pedagógicas diferentes que gerem motivação no grupo. Tarefa

desafiadora, mas necessária, pois o ensino tradicional faz com que o aluno fique

sentado apenas anotando teorias, princípios e resolvendo problemas nos quais se

aplicam fórmulas. Assim, acreditamos que novos enfoques metodológicos possam

tornar o aprendizado mais atraente e efetivo.

Foram envolvidos também os demais professores da referida turma por

meio de um trabalho interdisciplinar, juntamente com a equipe pedagógica da

escola, com efetivo acompanhamento das atividades.

11

2.2 - Descrição da intervenção desenvolvida

A intervenção descrita foi desenvolvida durante o primeiro semestre do ano

letivo de 2008 pela professora de Física pertencente ao programa PDE do governo

do Estado do Paraná no Colégio Estadual Humberto de Alencar Castelo Branco –

Ensino Fundamental e Médio, do município de Santana do Itararé, estado do

Paraná, sempre no período vespertino.

Essa intervenção ocorreu conforme matriz curricular durante as três aulas

semanais da disciplina em questão, sendo acompanhada pelo orientador da IES,

equipe pedagógica da escola, direção e o Núcleo de Educação de Wenceslau

Brás, os meios utilizados para o registro das ações foram o “diário de campo” e

fotos para possibilitar a análise do processo de investigação.

Na sala de aula, foi realizada primeiramente uma investigação com os

alunos envolvidos para a escolha do objeto técnico. Para isso recorreu-se ao GREF

(2006) , como referência e a partir da problemática: “Em nosso dia-a-dia utilizou-se

calor em diversas situações. Que situações são essas e de que maneira o calor é

obtido?” A partir dessa questão foi construída juntamente com os alunos uma

listagem de objetos e fenômenos e foram estabelecidas algumas relações com

calor ou temperatura.

Na seqüência passando para a classificação dessa listagem em: medida e

controle de temperatura, fontes e troca de calor, transformações térmicas e

máquinas térmicas e, partindo da classificação foi escolhido o objeto “geladeira”

como objeto de estudo, o qual foi selecionado por ser um objeto do cotidiano dos

envolvidos, além de permitir um maior potencial de utilização nas discussões

relacionadas aos conteúdos programados e passível de se fazer presente nas

aulas.

Percebeu-se de imediato a importância da confecção da lista dos objetos e

fenômenos, desse modo facilitando a escolha de um objeto que realmente tivesse

relação com os conteúdos a serem estudados, já que não podiam escolher um

objeto que estivesse fora da lista.

Iniciando o processo ensino-aprendizagem chamando a atenção do aluno

para um objeto do seu cotidiano, que tem uma importância muitas vezes esquecida

ou até mesmo banalizada, através da exposição do objeto de estudo pelo

12

professor, seguido da discussão com a turma sobre o papel da geladeira no seu

mundo vivencial. A apresentação de uma geladeira real foi utilizada para fortalecer

o vínculo da aula com o cotidiano do aluno.

Ainda nesse momento o professor procurou levantar o grau de intimidade

dos alunos com o objeto de estudo, dialogando sobre os conceitos físicos que

serão estudados, através de questões como: Quem não tem um refrigerador em

casa? Como você acha que seria sua vida sem a geladeira? Por que será que o

congelador fica na parte de cima? O que seria a grade preta existente atrás da

geladeira? O que vocês já sabem a respeito do gás utilizado no funcionamento de

um refrigerador? Por que o refrigerador possui suas prateleiras vazadas? Qual o

problema de se colocar roupa para secar atrás da geladeira? Para essa introdução

foram utilizadas três aulas.

Após tais questões, os alunos realizaram uma pesquisa em grupo referente

ao histórico do refrigerador, socializada em forma de seminário pelos mesmos.

Assim, eles puderam perceber os fatores que levaram à criação da geladeira, para

essa apresentação e discussão. Aqui também foram utilizadas três aulas.

Conscientes da necessidade da geladeira para a sociedade o professor

realizou a explicação do seu funcionamento, a qual foi feita sempre em contato

com o objeto em questão.

A explicação do funcionamento do refrigerador foi feita também com a

presença do aparato tecnológico “panela de pressão” para explicação da

proporcionalidade entre pressão e temperatura, aproveitando também essa

oportunidade para se fazer o levantamento da seguinte problemática: Por que a

porta de um refrigerador ou freezer levam um certo tempo para abrirem depois de

fechadas?

Para a exposição oral do funcionamento do objeto técnico , ou seja,a

geladeira, foi utilizado recursos áudio-visuais(data-show), pois a geladeira, trata-se

de um objeto de difícil locomoção e o ambiente não comportava o número de

alunos, impossibilitando dessa forma o contato direto com o objeto real.

A exposição oral, citado à cima, oportunizou a práxis, propiciando assim, a

reelaboração do conhecimento. Para que os alunos pudessem organizar todo o

conhecimento obtido, foi confeccionado um mapa conceitual do funcionamento do

refrigerador, o qual foi feito pelo professor na lousa com a ajuda dos alunos. Antes

da montagem desse mapa foi apresentado aos alunos o objetivo dessa ferramenta,

13

bem como as regras para sua construção. Nesta situação foram utilizadas três

aulas.

A partir da problemática: Que aparelho utiliza-se para podermos saber que

a temperatura aproximada em que o gás saiu do compressor foi de 41°C? Sem

dúvida a resposta imediata foi o termômetro e a partir desse instrumento foi

explicado o seu funcionamento e utilizado também para estimar a temperatura

interna de um refrigerador.

Para que os alunos percebessem a importância do termômetro foi realizado

o experimento no qual se colocou a mão esquerda num recipiente com água

quente e a direita na água fria e posteriormente as duas na água morna. Ocorreu

que a água foi percebida quente na mão direita e fria na mão esquerda. Como isso,

os alunos puderam perceber como nossos sentidos podem nos enganar e então o

porquê da importância do termômetro. Após a exposição e a realização do

experimento os alunos construíram um mapa conceitual que explicava o

funcionamento do termômetro. Foram necessárias duas aulas para essa atividade.

Com a utilização do termômetro pode-se realizar a abordagem de

conceitos físicos como: dilatação térmica da substância termométrica, pontos de

fusão do gelo e a temperatura de vaporização da água.

Relacionando com o termômetro, iniciou-se a apresentação do conteúdo

escalas termométricas e suas conversões, realizando atividades sobre as quais os

alunos aplicaram a equação de conversão das escalas termométricas, inclusive

utilizando-se da temperatura interna e das temperaturas do gás refrigerante no

processo de funcionamento do refrigerador. Para fixação das equações

termométricas foram feitas varias atividades onde o aluno aplicou essas equações,

por isso a necessidade de um tempo maior – 5 aulas.

Após essa atividade foi feita uma avaliação, de acordo com o sistema da

Escola. Notou-se um desempenho excelente pela turma nessa avaliação. Aqui

foram necessárias duas aulas.

Dando continuidade ao trabalho e observando o refrigerador, manifestou-se

a problemática: Por que o congelador de um refrigerador fica na parte de cima? Por

que nos manuais dos refrigeradores recomenda-se não colocar toalhinhas nas

prateleiras, nem roupa para secar atrás das geladeiras? Após essas reflexões,

resultou a abordagem do novo conteúdo “Os processos de transmissão de calor”, o

qual trouxe também um novo objeto a “garrafa térmica”, pois nela são parcialmente

14

impedidos os de transmissão de calor, opondo-se ao refrigerador, no qual

acontecem os três processos. Foi possível para os alunos, perceberem o objeto

real, com todas as suas partes e; novamente foi feito o contato com o refrigerador

para que pudessem perceber as questões mencionadas. Essas explicações

utilizando-se dos objetos reais levaram três aulas.

Para reforçar o aprendizado dos processos de transmissão de calor foram

demonstrados alguns experimentos práticos, dentro da sala de aula, já que o

laboratório era impossibilitado de ser utilizado, pois a escola se encontrava em

reforma.

Os alunos montaram mapas conceituais a partir dos conhecimentos

adquiridos: processos de transmissão de calor e funcionamento da garrafa térmica.

Foram utilizadas duas aulas para montagem desses mapas.

Quanto à substância termométrica, iniciou-se o estudo da dilatação linear,

superficial e volumétrica dos sólidos. Nele se iniciou voltando ao mapa conceitual

construído, sobre o “termômetro”, pois o seu funcionamento utiliza-se da dilatação

térmica. Foram realizados experimentos e atividades com o uso de equações

específicas. Nessas atividades propostas sempre que possível se relacionou o

objeto de estudo – a geladeira.

Ainda no estudo da dilatação térmica utilizou-se o funcionamento do

termostato do ferro elétrico e do chuveiro elétrico,. Como demonstração prática foi

utilizado um termostato de radiador de automóvel, que quando colocado numa

vasilha com água quente observava-se a abertura da válvula, destacando a

diferença do termostato desses aparelhos com o da geladeira. Para o

desenvolvimento desse conteúdo foram utilizadas três aulas.

Para sistematizar os conhecimentos adquiridos foram construídos mapas

conceituais. Isto serviu como aprofundamento do conteúdo. Foram utilizadas duas

aulas.

Após o entendimento do conteúdo e demonstração das equações, foram

utilizadas cinco aulas para atividades de aplicação das equações de dilatação

térmica linear, superficial e volumétrica. Isto é algo que merece ser revisto numa

continuidade do trabalho.

Pensando numa forma de estabelecer relações entre as áreas do saber em

que estava sendo realizada a intervenção, desenvolveu-se um projeto

interdisciplinar com o título “O mundo está em nossas mãos: faça a sua parte” .

15

Esse projeto surgiu a partir da preocupação com um gás muito utilizado no

refrigerador – o clorofluorcarbono (CFC) – responsável por muitos danos

ambientais. Esse projeto foi construído por recortes das diversas disciplinas num

sentido de complementariedade, além de ocasionar a integração professores-

alunos. Buscou-se estratégias para a utilização responsável dos recursos naturais

e preservação do meio ambiente.

Um trabalho que envolveu as diversas disciplinas, de forma interdisciplinar,

propiciou que relações fossem tecidas, enriquecendo cada área do conhecimento e

conservando as especificidades das seguinte maneiras:

Como forma de mostrar a importância da geladeira abordou-se na Biologia

a questão da conservação dos alimentos (técnicas), contaminação dos alimentos

por microorganismos e realização de experimento onde foi verificada as questões

discutidas.

Na disciplina de Física, foram abordados os seguintes assuntos: utilização

do CFC no funcionamento do refrigerador, no ar condicionado e nos tanques

resfriadores de leite, possibilitando o desenvolvimento dos assuntos inversão

térmica, consumo de energia, destino de pilhas e baterias, culminando com a

discussão sobre a construção de uma casa ecológica.

Em Química, para que o aluno entendesse como os CFCs causam danos

ambientais foi realizado um estudo da composição química de alguns gases que

compõem e também dos que poluem a atmosfera. Como forma alternativa de

preservação do meio ambiente os alunos confeccionaram sabão caseiro utilizando

óleo de cozinha, onde tiveram a oportunidade de visualizarem a reação química

envolvida, relacionado com a utilização de CFCs.

Na disciplina de História fez-se um estudo do protocolo de Kioto.

Os danos ambientais como: aquecimento global, efeito estufa,chuva ácida,

foram estudados na disciplina de Geografia, onde os alunos confeccionaram

maquetes e puderam visualizar os fenômenos. Percebeu-se a importância da

maquete para que pudesse ser visualizado o fenômeno apresentado.

Na disciplina de Educação Física foi estudado sobre os efeitos da poluição

no corpo humano, educação alimentar e a importância das atividades físicas para o

desenvolvimento saudável do ser humano.

16

Como forma do aluno relatar os assuntos discutidos, em Português foram

produzidos textos envolvendo a problemática e na língua inglesa foram

confeccionadas histórias em quadrinhos envolvendo o tema.

Ainda foram realizados vários trabalhos, experimentos, maquetes, visitas,

produção textual, pelas disciplinas envolvidas, culminando com a apresentação dos

trabalhos realizados na Feira Cultural da escola e dessa forma a comunidade teve

oportunidade de conhecer o trabalho realizado pelo professor PDE.

Em todas as situações apresentadas na feira cultural nas diversas

disciplinas, foram construídos mapas conceituais para facilitação da explicação por

parte dos alunos aos visitantes. Esses mapas foram construídos pelos próprios

alunos.

Com a apresentação dos trabalhos na feira cultural da escola, encerrou-se

o projeto de intervenção descrito. Essa amostra oportunizou para a comunidade

local conhecer o trabalho do professor PDE, bem como a integração das diferentes

áreas. O projeto ambiental desde o início até a exposição final utilizou-se de nove

aulas.

2.3 – Alcances pedagógicos

Durante a atividade de problematização inicial, constatou-se que o trabalho

realizado já se fazia satisfatório, porque oportunizou aos alunos troca de idéias,

permitindo ao professor participação dos questionamentos lançados pelos alunos,

e as questões novas surgidas durante as discussões a partir da problematização

inicial foram aproveitadas pelo professor dar continuidade no trabalho.

Quanto à utilização dos mapas conceituais, foi observado que eles tiveram

bastante potencial para sistematizar o conhecimento dos alunos, bem como serviu

de para revisar os conteúdos estudados, a partir da sistematização dos mesmos

via processo de digitalização. Sempre que necessários os mapas também foram

utilizados como suporte ao conteúdo a ser ensinado.

Os alunos não tiveram dificuldade em entender o processo de construção

dos mapas-conceituais. Em pouco tempo já estavam construindo seus próprios

mapas, inclusive utilizando-os como forma de estudar outras disciplinas escolares.

A utilização dos objetos técnicos foi bastante motivador para o processo

ensino-aprendizagem. Percebeu-se o grande interesse dos alunos o estudo e

17

apropriação dos conceitos físicos. Os alunos começaram a sentir e entender a

finalidade do ensino da Física a partir do estudo sistematizado fundamentado em

tais objetos.

Em relação ao trabalho interdisciplinar percebeu-se a importância de

relacionar as diversas áreas do conhecimento por meio de temas que fornecem

grandes possibilidades de discussões e interações. Nesse trabalho utilizou-se

também maquetes, pois além de oportunizarem uma certa arte-final no trabalho, a

nosso ver oportunizou de forma concreta as explicações dos fenômenos.

Os alunos demonstraram envolvimento participativo nas atividades

propostas relacionadas à melhoria das condições ambientais da Escola e da

Comunidade, como parte integrante da natureza, percebendo os processos

pessoais como elementos fundamentais para uma atuação consciente, criativa,

responsável e respeitosa em relação ao meio ambiente, compreendendo que a

sustentabilidade do planeta é um problema de todos e uma realidade que pode ser

modificada.

Observou-se também que os alunos sentiram a necessidade da leitura dos

manuais dos objetos técnicos, bem como conseguiram entender o porquê de

determinadas recomendações na utilização desses objetos, bem como

apresentaram um olhar diferente se fossem adquirir tais objetos, sobre o que

deram destaque às questões de: necessidade, economia de energia, qualidade,

durabilidade e descarte.

3. OBSTÁCULOS ENFRENTADOS E PROCURANDO POSSÍVEIS SOLUÇÕES

Em relação à utilização dos objetos técnicos, um aspecto importante

observado foi o interesse, a curiosidade dos alunos em relação ao funcionamento

destes, e também a necessidade de sempre buscar paralelamente ao objeto de

estudo outros que tenham também relação aos conteúdos trabalhados. Mesmo

assim, no caso do objeto de estudo escolhido – a geladeira –, a dificuldade

encontrada, foi a inviabilidade de alguns alunos em estarem em todas as aulas em

contato com o objeto real, devido à dificuldade para a locomoção de tal objeto. No

18

caso da escola em que foi desenvolvido o projeto, a geladeira se encontrava na

sala dos professores, sendo que era necessário locomover os alunos até esse

ambiente, o qual era pequeno para o elevado número de alunos da turma. Essa

dificuldade foi amenizada com o uso de vídeos e data-show, e também com a

utilização de outros objetos técnicos, como: a garrafa térmica, lâmpada, panela de

pressão e ferro elétrico.

Havia também sido planejada a explicação do funcionamento do

refrigerador por um técnico especializado, mas devido a estrutura do município que

não conta com um profissional desses, não houve a possibilidade de realização

desse evento.

Outro obstáculo encontrado diz respeito ao planejamento realizado. Ao

elaborar o plano de intervenção foram computadas 56 horas-aulas para serem

implementadas no 1º semestre de 2008. Colocado em ação, foi observado que

devido a causas que não estavam previstas como: a impossibilidade de alunos da

zona rural chegarem à escola devido à chuva; reforma na escola; reuniões

pedagógicas não-previstas e; projetos desenvolvidos pela escola. Assim, 30% da

carga horária prevista não foi contemplada no projeto.

Durante as atividades do projeto interdisciplinar ocorreram certas

dificuldades em relação aos professores, pois nem todos os convidados se

envolveram como se previa. Atrelado a esta, outra dificuldade importante consistiu

na baixa adesão dos professores às reuniões para delineamento do trabalho, pois

as horas-atividades são realizadas por disciplina na escola em que o projeto se

desenvolveu. Em partes, essa dificuldade foi amenizada, com discussões com os

professores durante alguns intervalos.

4. ANÁLISE DOS DADOS

Quanto aos registros das observações, é preciso dizer que na condição de

participante e observador em sala de aula, foi inviável realizá-los durante o tempo

das aulas, propriamente dito. Portanto, elas foram feitas logo após o término de

cada um das aulas.

19

O papel de professor e aprendiz de pesquisador facilitou a obtenção de

muitos dados. Portanto, as observações feitas refletem o processo vivido da forma

mais natural possível – o cotidiano do trabalho realizado.

Em relação ao seminário apresentado, os alunos demonstraram muita

curiosidade na evolução dos modelos de refrigeradores. Os grupos fizeram as

pesquisas com fotos, sobre o que puderam mostrar toda a evolução e os vários

modelos de refrigeradores, bem como discutiram sobre as diferenças entre os

vários modelos de refrigeradores.

Durante a escolha do objeto técnico de estudo verificou-se a necessidade

de seleção conforme sugestão do GREF, pois precisava-se de um objeto que

realmente pudesse fazer com que os conteúdos a serem estudados se

relacionassem com seu funcionamento, e durante todo o trabalho esse objeto foi

realmente o centro das problematizações que deram origem aos conteúdos da

Física.

Durante todo o trabalho era visível o interesse dos alunos pelo

funcionamento dos objetos técnicos mencionados, o porquê das recomendações

dos fabricantes, a importância de saber adquirir esses objetos, sem causar danos

sócio-ambientais. O objeto técnico geladeira foi utilizado até o final do trabalho, o

que fez com que ela sua inserção se tornasse um tanto cansativa. Isto se deve à

esse modo de condução da prática educativa, o qual é algo novo para o 1º autor

deste texto.

Quanto aos mapas conceituais construídos, primeiramente houve a

explicação de como montá-los passo a passo. Em seguida os alunos

confeccionaram-nos juntamente com o professor, o que veio a facilitar o

entendimento dos conceitos envolvidos. Inicialmente eles demonstraram

dificuldade em montar seus mapas conceituais, mas gradativamente e até o final

do trabalho esses alunos já produziam seus mapas de modo mais efetivo.

Foi gratificante, ver o resultado do trabalho feito com os mapas, inclusive

como forma de estudar outras disciplinas, pois eles começaram a utilizá-los como

método de estudo. Esses mapas construídos pelos próprios alunos foram

selecionados e gravados em um disco removível externo (pen-drive) e sempre que

se fez necessária determinada explicação tais mapas foram buscados, utilizando-

os como forma de revisar o conteúdo, mas também como ponto de partida para

conteúdos novos.

20

A seguir destacamos alguns mapas construídos pelos alunos durante o

trabalho de intervenção na escola:

Figura 1: Mapa conceitual sobre o funcionamento da geladeira, elaborado pelo primeiro autor deste texto juntamente com

seus alunos.

Figura 2: Mapa conceitual “funcionamento do termômetro” construído pela aluna Maíra

21

Figura 3: Mapa conceitual “processos de transmissão de calor” construído pela aluna Ellen Cris.

Observa-se nos mapas conceituais construídos a relação entre o objeto

técnico com os conteúdos físicos. Por meio dessa construção oportunizou-se a

iniciação a uma aprendizagem significativa.

No que se refere ao trabalho interdisciplinar, notou-se a dificuldade dos

professores para o trabalho em grupo, primeiramente pela indisponibilidade de

horário para esses encontros, e em segundo lugar pela visão de fragmentação do

conhecimento, fazendo com que os alunos também tivesse dificuldade de

globalizar, isto é, de reunir os conhecimentos adquiridos.Outra dificuldade foi a

rotatividade de professores da turma, devido a licenças e desistências, o que

contribuiu para tal fragmentação, bem como para a geração de dificuldade em

relacionar o conteúdo programado com as questões sócio-ambientais.

Apesar de todas as dificuldades descritas, os alunos tiveram uma grande

dedicação ao trabalho, a qual foi observada por toda a comunidade escolar durante

a apresentação na feira cultural. Nela, observou-se que até mesmo os alunos mais

desinteressados apresentaram seus trabalhos com muito esmero.

22

A seguir são apresentadas algumas fotos que mostram a exposição do

trabalho interdisciplinar, sobre o que toda a comunidade escolar pode conhecer o

trabalho realizado pelo professor PDE.

Figura 4: Slogan do projeto interdisciplinar desenvolvido

Figura 6: Explicação do funcionamento do refrigerador Figura 7: Mapas conceituais utilizados para explicação do

funcionamento do refrigerador e da garrafa térmica.

Figura 5: Experimento de Biologia

23

Figura 8: Mapa conceiutual utilizado para explicação do

fenômeno “chuva ácida

Figura 9: Maquete utilizada para explicação do fenômeno “chuva ácida”.

Figura 10: Maquete utilizada para explicação do fenômeno ”

“efeito estufa”.

24

Figura 11: Explicação do fenômeno “aquecimento global”

Esse trabalho teve como foco o refrigerador; isto é, a partir do seu

funcionamento, problematizando-se a presença do CFC, gerando com isso uma

reflexão sobre danos sócio-ambientais envolvendo tal gás.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A preocupação durante o desenvolvimento do trabalho se ateve muito à

observação, quanto ao significado que a Física teria para os alunos, bem como a

reação desses quanto à metodologia utilizada.

Figura 12: Sabão caseiro feito com gordura já utilizada

25

De acordo com descrição apresentada neste artigo, o ensino de Física

constitui um importante campo de estudo para os próprio educadores do Ensino

Médio. Uma situação de ensino deve promover alterações positivas, pois não são

gerados significados no ato de memorização de fórmulas, leis e princípios.

Para que realmente ocorra a aprendizagem significativa, é preciso perceber

antes a necessidade de modificações na prática pedagógica, no conteúdo dos

livros didáticos e na formação do professor.

No caso da metodologia aplicada nesse trabalho, envolvendo “objetos

técnicos” e “mapas conceituais” se pode constatar a importância dessa alternativa

para a mudança do processo ensino-aprendizagem no ensino da Física, pois por

meio dela os alunos são capazes de sentirem estímulos e motivações no processo

ensino-aprendizagem.

Verificou-se que os objetos técnicos utilizados são potencialmente capazes

de gerar todo o aprendizado do conteúdo em questão, por isso a importância da

escolha correta do objeto de estudo e a necessidade desse objeto se fazer

presente nas aulas de Física.

Para que o professor consiga utilizar esses objetos técnicos em suas aulas,

de modo a se trabalhar sobre “como as coisas funcionam” ou sobre a fabricação

desses objetos, há a necessidade de um conhecimento técnico da Física. Portanto,

se nota importância de parceiros técnicos e/ou especializados de modo que os

conhecimentos sejam transformados em conhecimento educacional em Física.

Em relação aos mapas conceituais, esses se mostraram como um grande

aliado ao processo ensino-aprendizagem, pois eles fizeram com que os alunos

sistematizem todo o conhecimento adquirido por meio do estudo dos objetos

técnicos de uma forma hierarquizada, podendo a partir desses mapas realmente se

efetivar concretamente uma aprendizagem significativa.

Percebeu-se ainda que recursos didáticos, tais como: livro-texto, vídeos,e

lousa e giz juntamente com as atividades práticas e teórico-experimentais,

resolução de problemas são também de fundamental importância e, portanto, não

podem ser deixados de lado, como se fossem recursos e métodos ultrapassados.

Este trabalho teve como pretensão ser o início de um processo de reflexão

no que se diz respeito ao ensino da disciplina de Física, mostrando a necessidade

de que, permanentemente, sejam discutidas e avaliadas os recursos metodológicos

26

utilizados e adaptados à realidade dos envolvidos. O trabalho mostrou ainda que os

professores, são formadores de pessoas que desenvolverão papel fundamental na

sociedade em que estão inseridos. Independente da profissão que escolherem, os

alunos atuais atuarão numa sociedade que está em constante transformação

principalmente no que se diz respeito a tecnologia, o que precisa ser observado

atentamente na prática educacional.

6. REFERÊNCIAS

ANGOTTI, J. A. P.; MION, R. A. Equipamentos geradores e a formação de

professores de física. In: ANGOTTI, J.A.P. e REZENDE JUNIOR, M.F.(Orgs).

Florianópolis: Laboratório de Ensino de Física a distância, 2001.

AUSUBEL, D. P. Psicologia educacional. Rio de Janeiro: Interamericana, 1980.

BORGES, E. L. Teorias e Práticas Pedagógicas. Disponível em:

<http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2003/tcc/tetxt2.htm> Acesso em: 20

junho 2007.

FREIRE, P. Educação como prática de liberdade. São Paulo: Paz e Terra, 1966.

GREF: Grupo de Reelaboração do Ensino de Física. Física 1: Mecânica. São

Paulo: Edusp, 2006.

_____ Grupo de Reelaboração do Ensino de Física. Física 2: Física térmica:

Óptica.São Paulo: Edusp, 2006.

MOREIRA, M. A. Mapas Conceituais e Aprendizagem Significativa. Disponível

em: <http://www.if.ufrgs.br/~moreira>. Acesso em 18 junho 2007.

______; MASINI, E. F. S. Aprendizagem Significativa. A Teoria de Ausubel. São

Paulo: Editora Moraes, 1982.