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ESPECIAL 13 EDIÇÕES NOVEMBRO O momento seria de algum desafogo, se não estivesse o país a atravessar uma estiagem severa, que afecta mais de um milhão de pessoas em seis das 18 províncias angolanas Autoridades tomaram medidas para que os efeitos da seca não se agravem até ao recomeço das chuvas, em Outubro MUDANÇA DE ESTAÇÃO Cacimbo prolonga a seca no Sul Osvaldo Gonçalves As temperaturas já têm caído, as madrugadas menos quentes, os dias começam a nascer mais tarde e a pôr- se mais cedo. Afinal, hoje, 15 de Maio, começa o Ca- cimbo, a estação seca, que se prolonga até Agosto. O momento seria de algum desafogo, se não estivesse o país a atravessar uma estia- gem severa, que afecta mais de um milhão de pessoas em seis das 18 províncias, sobre- tudo as do Centro Sul. O Fundo das Nações Uni- das para a Infância (UNICEF) revelou que, devido à seca, cerca de 500 mil crianças estavam em risco e 43 mil a precisar de ajuda urgente. Aquela agência fez notar que várias regiões da Huíla, Namibe e Cunene estavam a viver a pior seca de todos os tempos. Nas visitas efectuadas a 3 e 4 do corrente ao Namibe e Cunene, para se inteirar da situação “in loco”, o Pre- sidente da República, João Lourenço, admitiu a neces- sidade de o Governo reforçar o Programa de Emergência de Combate à Seca no Cunene, para acautelar o agravamento do fenómeno, que causou a morte de pes- soas e animais desde Outu- bro de 2018. O maior receio é que a situação se torne mais grave na estação seca. “Estamos preocupados com os próxi- mos meses, sobretudo os próximos quatro ou cinco meses, até Outubro, que é quando começam as chuvas no país. E, até lá, acreditamos que este quadro, que obser- vamos no Namibe e Cunene, vai agravar-se”, afirmou o Chefe de Estado. O Executivo tomou algu- mas medidas com carácter de emergência, para fazer frente à situação e o Presi- dente aprovou, a 2 de Abril, um pacote financeiro de 200 milhões de dólares para solucionar os “problemas estruturantes” ligados aos “efeitos destrutivos” da seca que assola o Cunene. Orien- tou às autoridades locais para que “desencadeiem, de ime- diato, os procedimentos de contratação, por concurso público”, dos serviços para a edificação de um conjunto de obras com aquele fim. Além do Cunene, a seca afecta o Cuando Cubango, Huíla, Namibe, Benguela e Cuanza-Sul, cujas popula- ções registam carência de água e alimentos. Com a entrada do Cacimbo, são também reforçados os alertas para a prevenção das diversas doenças mais O território angolano esta situado na zona climática tropical quente, entre as latitudes 5º e 18º a Sul, um posi- cionamento que, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica (Inamet), confere duas estações climáticas distintas no ano, sendo a época chuvosa e o cacimbo (diferentemente da Primavera, Verão, Outono e Inverno no Hemisfério Norte). A época seca começa de 15 de Maio e vai até a 15 de Agosto, ligada ao sol e isenta de chuvas, tendo as datas fixadas com base em estudos estatísticos das séries climáticas de vários elementos meteorológicos como a temperatura, pressão, atmosférica, vento, precipitação e nebulosidade. Os médicos alertam a população a prevenir as doenças respiratórias e cutâneas, muito propensas à disseminação nesta época do frio, o que pode ser feito melhorando a forma de se agasalhar e evitando a exposição a ambientes muito frios, particularmente as crianças, que são as mais vulneráveis. A nível do sistema respiratório, podem surgir infecções virais como os resfriados ou outras doenças como a faringite, laringite, bronquite, bronco pneumonia e pneu- monia. Estas patologias são mais frequentes nas pessoas que estão mais expostas à variação do clima, saindo de uma zona quente para outra fria. As doenças respiratórias agudas continuam a ser a terceira causa de internamento de crianças menores de cinco anos nos hospitais pediátricos e materno-infantis a nível do país, depois da malária e das doenças diarreicas. kátia ramos frequentes nesta época do ano, com destaque para as de fórum respiratório, como pneumonia, asma, gripe e bronquite. Os maiores cuidados estão virados para as crianças e os idosos, a quem se recomenda o uso de agasalhos, máscaras faciais e óculos de sol, além da ingestão de líquidos, como água, sumos, chás e outros. Pais e encarregados de edu- cação devem redobrar os cuidados com as crianças, incluindo a higiene dos recém-nascidos. Atitudes simples podem prevenir os desconfortos típicos da estação. Médicos e especialistas recomendam que sejam mantidas limpas as roupas de cama, em espe- cial os cobertores, a limpeza dos móveis com panos húmidos para a retirada do pó, o aproveitamento dos dias ensolarados, evitar-se o contacto com o fumo do cigarro, o uso de soro fisio- lógico para a limpeza dos olhos e narinas. É também aconselhável evitar aglomerações em luga- res fechados e pouco areja- dos, a lavagem constante das mãos e que sejam retiradas as carpetes e cortinas dos quartos de pessoas alérgicas. A um nível mais abrangente, chama-se a atenção para a realização de queimadas anárquicas e a exposição à poeira resultante de obras. Com a entrada do Cacimbo, são também reforçados os alertas para a prevenção das diversas doenças mais frequentes nesta época do ano PREVISÕES Temperaturas baixas e doenças prováveis Uma colossal oferta de roupas de fardo (geralmente usadas e provenientes de doações no estrangeiro) domina o comércio de vestuário de Luanda, inviabilizando as transacções das lojas da espe- cialidade que, hesitantes, colocam de forma tímida nas montras o vestuário da época de frio, que hoje inicia. O Jornal de Angola apu- rou, ao percorrer o comércio de vestuário de Luanda, que a opção da imensa maioria das lojas ainda reside nos saldos sobre a oferta do tempo quente, algo explicado pela restrição dos consumi- dores, os quais preferem os fardos pelos preços mais bai- xos, o que já acontece de forma generalizada desde há dois anos. Teresa Neves, funcionária de uma boutique do São Paulo, considera que os preços estão cada vez mais baixos por causa da roupa de fardo que há em abundância e é barata. “Há poucos clientes e, desde há quase dois anos, assiste-se a uma queda nos negócios”, acrescentou. “As roupas de calor ainda têm saída, principalmente para as mulheres, que cons- tituem o maior número de clientes. Por isso, fazemos uma promoção de quase todas as peças de 30 a 50 por cento, com excepção das peças recém-chegadas”, afirma Margareth Vassole, funcionária da boutique “Casa Kima”, para explicar a estra- tégia de vendas adoptada naquela casa comercial. Margareth Vassole também alega que, nesta altura, a clien- tela que procura roupas de Cacimbo ainda é reduzida, com as decisões de compra a surgirem com maior força apenas no início de Junho, quando a loja projecta expor uma oferta mais abundante. “Nesta altura a procura é mais para as meias de vidro, meias altas, casacos, lençóis, cobertas e edredões”, avançou. Henrique Neves, funcio- nário da loja de roupas “Rufa”, na Baixa de Luanda , disse que, nos dias que antecedem o Cacimbo, ganha-se mais dinheiro com a promoção so- bre a oferta do tempo quente. Os comerciantes também se queixam de uma crescente oferta de produtos fabricados na China, muito mais baratos e, tanto quanto o fardo, tam- bém eles “campeões” do mer- cado, absorvendo mais clientes que os importados do Ocidente. “A roupa da China, se por um lado veio resolver os pro- blemas de muitos cidadãos, por outro veio atrapalhar o negócio das boutiques”, disse Teresa Neves. Ao percorrer o comércio de vestuário de Luanda, a nossa reportagem deparou-se com fartas ofertas de camisolas e camisas de mangas compridas, fatos para homem, calças, casacos, meias altas e sapatilhas. Henrique Neves considera que o sucesso do negócio está na venda de roupas de algo- dão, casacos (desde os de napa aos de tricôt), meias para senhora, bem como cal- ças. A maior parte das roupas nas boutiques é oriunda de Portugal, Congo Brazzaville (Ponta Negra), Brasil, China e Estados Unidos. Os preços no mercado for- mal vão dos cinco mil aos 75 mil kwanzas, enquanto no mercado informal vão dos 50 kwanzas a um máximo de oito ou dez mil kwanzas. Madalena José Vendedores de fardo concorrem com as boutiques Quarta-feira 15 de Maio de 2019 Oferta de vestuário para o tempo frio é abundante EDIÇÕES NOVEMBRO

MUDANÇA DE ESTAÇÃO Cacimbo prolonga a seca no Sulimgs.sapo.pt/jornaldeangola/img/1316799773_cacimbo.pdf · seis das 18 províncias, sobre - tudo as do Centro Sul. O Fundo das Nações

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Page 1: MUDANÇA DE ESTAÇÃO Cacimbo prolonga a seca no Sulimgs.sapo.pt/jornaldeangola/img/1316799773_cacimbo.pdf · seis das 18 províncias, sobre - tudo as do Centro Sul. O Fundo das Nações

ESPECIAL 13

EDIÇÕES NOVEMBRO

O momento seria de algum desafogo, se não estivesse o país a atravessar uma estiagemsevera, que afecta mais de um milhão de pessoas em seis das 18 províncias angolanas

Autoridades tomaram medidas para que os efeitos da seca não se agravem até ao recomeço das chuvas, em Outubro

MUDANÇA DE ESTAÇÃO

Cacimbo prolonga a seca no SulOsvaldo Gonçalves

As temperaturas já têmcaído, as madrugadas menosquentes, os dias começama nascer mais tarde e a pôr-se mais cedo. Afinal, hoje,15 de Maio, começa o Ca-cimbo, a estação seca, quese prolonga até Agosto. Omomento seria de algumdesafogo, se não estivesse opaís a atravessar uma estia-gem severa, que afecta maisde um milhão de pessoas emseis das 18 províncias, sobre-tudo as do Centro Sul.

O Fundo das Nações Uni-das para a Infância (UNICEF)revelou que, devido à seca,cerca de 500 mil criançasestavam em risco e 43 mil aprecisar de ajuda urgente.Aquela agência fez notar quevárias regiões da Huíla,Namibe e Cunene estavama viver a pior seca de todosos tempos.

Nas visitas efectuadas a3 e 4 do corrente ao Namibee Cunene, para se inteirarda situação “in loco”, o Pre-sidente da República, JoãoLourenço, admitiu a neces-sidade de o Governo reforçaro Programa de Emergênciade Combate à S e ca noCunene, para acautelar oagravamento do fenómeno,que causou a morte de pes-soas e animais desde Outu-bro de 2018.

O maior receio é que asituação se torne mais grave

na estação seca. “Estamospreocupados com os próxi-mos meses, sobretudo ospróximos quatro ou cincomeses, até Outubro, que équando começam as chuvasno país. E, até lá, acreditamosque este quadro, que obser-vamos no Namibe e Cunene,vai agravar-se”, afirmou oChefe de Estado.

O Executivo tomou algu-mas medidas com carácter

de emergência, para fazerfrente à situação e o Presi-dente aprovou, a 2 de Abril,um pacote financeiro de 200milhões de dólares parasolucionar os “problemasestruturantes” ligados aos“efeitos destrutivos” da secaque assola o Cunene. Orien-tou às autoridades locais paraque “desencadeiem, de ime-diato, os procedimentos decontratação, por concurso

público”, dos serviços paraa edificação de um conjuntode obras com aquele fim.Além do Cunene, a secaafecta o Cuando Cubango,Huíla, Namibe, Benguela eCuanza-Sul, cujas popula-ções registam carência deágua e alimentos.

Com a entrada do Cacimbo,são também reforçados osalertas para a prevençãodas diversas doenças mais

O território angolano esta situado na zona climáticatropical quente, entre as latitudes 5º e 18º a Sul, um posi-cionamento que, de acordo com o Instituto Nacional deMeteorologia e Geofísica (Inamet), confere duas estaçõesclimáticas distintas no ano, sendo a época chuvosa e ocacimbo (diferentemente da Primavera, Verão, Outonoe Inverno no Hemisfério Norte).

A época seca começa de 15 de Maio e vai até a 15 deAgosto, ligada ao sol e isenta de chuvas, tendo as datasfixadas com base em estudos estatísticos das sériesclimáticas de vários elementos meteorológicos como atemperatura, pressão, atmosférica, vento, precipitaçãoe nebulosidade.

Os médicos alertam a população a prevenir as doençasrespiratórias e cutâneas, muito propensas à disseminaçãonesta época do frio, o que pode ser feito melhorando aforma de se agasalhar e evitando a exposição a ambientesmuito frios, particularmente as crianças, que são asmais vulneráveis.

A nível do sistema respiratório, podem surgir infecçõesvirais como os resfriados ou outras doenças como afaringite, laringite, bronquite, bronco pneumonia e pneu-monia. Estas patologias são mais frequentes nas pessoasque estão mais expostas à variação do clima, saindo deuma zona quente para outra fria.

As doenças respiratórias agudas continuam a ser a terceiracausa de internamento de crianças menores de cinco anosnos hospitais pediátricos e materno-infantis a nível dopaís, depois da malária e das doenças diarreicas.

kátia ramos

frequentes nesta época doano, com destaque para asde fórum respiratór io ,como pneumonia, asma,gripe e bronquite.

Os maiores cuidados estãovirados para as crianças e osidosos, a quem se recomendao uso de agasalhos, máscarasfaciais e óculos de sol, alémda ingestão de líquidos, comoágua, sumos, chás e outros.Pais e encarregados de edu-

cação devem redobrar oscuidados com as crianças,incluindo a higiene dosrecém-nascidos.

Atitudes simples podemprevenir os desconfortostípicos da estação. Médicose especialistas recomendamque sejam mantidas limpasas roupas de cama, em espe-cial os cobertores, a limpezados móveis com panoshúmidos para a retirada dopó, o aproveitamento dosdias ensolarados, evitar-seo contacto com o fumo docigarro, o uso de soro fisio-lógico para a limpeza dosolhos e narinas.

É também aconselhávelevitar aglomerações em luga-res fechados e pouco areja-dos, a lavagem constante dasmãos e que sejam retiradasas carpetes e cortinas dosquartos de pessoas alérgicas.A um nível mais abrangente,chama-se a atenção para arealização de queimadasanárquicas e a exposição àpoeira resultante de obras.

Com a entrada do Cacimbo, são tambémreforçados

os alertas para a prevenção das diversas

doenças maisfrequentes nesta

época do ano

PREVISÕES

Temperaturas baixase doenças prováveis

Uma colossaloferta de roupasde fardo (geralmente usadase provenientes de doaçõesno estrangeiro) domina ocomércio de vestuário deLuanda, inviabilizando astransacções das lojas da espe-cialidade que, hesitantes,colocam de forma tímida nasmontras o vestuário da épocade frio, que hoje inicia.

O Jornal de Angola apu-rou, ao percorrer o comérciode vestuário de Luanda, quea opção da imensa maioriadas lojas ainda reside nossaldos sobre a oferta dotempo quente, algo explicadopela restrição dos consumi-dores, os quais preferem osfardos pelos preços mais bai-xos, o que já acontece deforma generalizada desdehá dois anos.

Teresa Neves, funcionáriade uma boutique do SãoPaulo, considera que os preçosestão cada vez mais baixospor causa da roupa de fardoque há em abundância e ébarata. “Há poucos clientese, desde há quase dois anos,assiste-se a uma queda nosnegócios”, acrescentou.

“As roupas de calor aindatêm saída, principalmente

para as mulheres, que cons-tituem o maior número declientes. Por isso, fazemosuma promoção de quasetodas as peças de 30 a 50 porcento, com excepção daspeças recém-chegadas”,afirma Margareth Vassole,funcionária da boutique “CasaKima”, para explicar a estra-tégia de vendas adoptadanaquela casa comercial.

Margareth Vassole tambémalega que, nesta altura, a clien-tela que procura roupas deCacimbo ainda é reduzida,com as decisões de compraa surgirem com maior força

apenas no início de Junho,quando a loja projecta exporuma oferta mais abundante.“Nesta altura a procura é maispara as meias de vidro, meiasaltas, casacos, lençóis, cobertase edredões”, avançou.

Henrique Neves, funcio-nário da loja de roupas “Rufa”,na Baixa de Luanda , disse que,nos dias que antecedem oCacimbo, ganha-se maisdinheiro com a promoção so-bre a oferta do tempo quente.

Os comerciantes tambémse queixam de uma crescenteoferta de produtos fabricadosna China, muito mais baratos

e, tanto quanto o fardo, tam-bém eles “campeões” do mer-cado, absorvendo maisclientes que os importadosdo Ocidente.

“A roupa da China, se porum lado veio resolver os pro-blemas de muitos cidadãos,por outro veio atrapalhar onegócio das boutiques”, disseTeresa Neves. Ao percorrer ocomércio de vestuário deLuanda, a nossa reportagemdeparou-se com fartas ofertasde camisolas e camisas demangas compridas, fatos parahomem, calças, casacos, meiasaltas e sapatilhas.

Henrique Neves consideraque o sucesso do negócio estána venda de roupas de algo-dão, casacos (desde os denapa aos de tricôt), meiaspara senhora, bem como cal-ças. A maior parte das roupasnas boutiques é oriunda dePortugal, Congo Brazzaville(Ponta Negra), Brasil, Chinae Estados Unidos.

Os preços no mercado for-mal vão dos cinco mil aos 75mil kwanzas, enquanto nomercado informal vão dos 50kwanzas a um máximo de oitoou dez mil kwanzas.

Madalena José

Vendedores de fardo concorrem com as boutiques

Quarta-feira15 de Maio de 2019

Oferta de vestuário para o tempo frio é abundante

EDIÇÕES NOVEMBRO